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OCÉU167: A Bíblia versus o Secularismo – PARTE 94

Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 167  –  O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 141).  Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 94). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 06/08/2025.

INTRODUÇÃO:

O mundo vive o foco no cansaço e numa corrida sem fim. Aquele sentimento de estar correndo numa esteira, esforçando-se ao máximo, suando, mas sem sair do lugar. A sensação de que, não importa o quanto você trabalhe para juntar ou o quanto você gaste para se sentir feliz, no fim do mês o sentimento é o mesmo: um vazio, uma ansiedade, e a esteira recomeça na segunda-feira. Vive o foco na ansiedade da comparação e do consumo. E com um simples deslizar de dedo na tela, entramos em um mundo. Um mundo de férias perfeitas, de casas lindamente decoradas, do último lançamento de um produto que promete nos fazer felizes. E ao vermos tudo isso, dois sentimentos nascem em nós, quase sempre juntos: o desejo de ter e a ansiedade por não ter.  A cada postagem, um lado nos diz ‘guarde tudo’, o outro nos diz ‘compre tudo’. Uns tem medo de gastar, outros gastam tudo.

Jesus disse do perigo de servir a Mamon. Mamom não é um ídolo de ouro num templo antigo. Mamom é a ansiedade sobre a inflação que nos tira o sono à noite. Mamom é a pressão implacável para “bater as metas” no trabalho, mesmo que isso custe nossa saúde, nossa paz e o tempo com nossa família. Mamom é a voz em nosso celular que sussurra que nossa felicidade está na próxima compra parcelada, na próxima viagem postada, no próximo status a ser alcançado. Mamom é a falsa segurança que buscamos em nossos investimentos e o pânico que sentimos quando eles vacilam.

E este senhor, Mamom, nos escraviza de duas formas que parecem opostas, mas são correntes do mesmo metal. A primeira é a escravidão pelo medo: ela prende aqueles que, apavorados com o futuro, acumulam tudo. Vivem na prisão do “e se faltar?”, sacrificando a alegria, a generosidade e a confiança no altar da segurança terrena. A segunda forma é a escravidão pelo desejo: ela prende aqueles que, ansiosos por preencher um vazio, consomem tudo. Vivem na prisão do “eu preciso ter agora!”, sacrificando sua paz e seu futuro no altar da satisfação instantânea.

O que é espantoso, irmãos, é que séculos antes de nós, um poeta e teólogo chamado Dante Alighieri fez uma jornada imaginária pela alma humana e, quando chegou ao círculo dos escravos de Mamom, ele descreveu exatamente esta cena. Ele viu os dois grupos de servos – os escravos do medo e os escravos do desejo – presos no mesmo castigo eterno, confirmando a lei de Cristo de que, no fim, ambos serviam ao mesmo senhor. Dante nos levará ao Quarto Ciclo do inferno, conhecido com o ciclo da pedra, local onde são punidos os avarentos e os pródigos. O Canto VII, do seu livro a Divina Comédia, será nossa parada.

  1. O primeiro pai da ganância.

O Canto VII da Divina Comédia, que descreve o quarto ciclo (ciclo da avareza e da prodigalidade), é aberto com uma das frases mais enigmáticas e aterradoras de toda a literatura: “Pape Satã, pape Satã aleppe![1]” Estas são as palavras incompreensíveis, que saem da boca de Plutus[2], o guardião monstruoso deste círculo. Plutus, na mitologia, era o deus da riqueza e da abundância.  Aqui no Quarto Ciclo ele é um demônio raivoso, um lobo amaldiçoado. O lobo em Dante é símbolo da ganância.

A primeira menção no quarto ciclo é ao primeiro pai ganância que foi Lúcifer. Ele aparece com uma forma para aterrorizar Dante e tentar impedir sua passagem pelo quarto ciclo, mas Virgílio (razão) interfere:

…E aquele gentil sábio, com segurança disse:

 Para tranquilizar-me! “Não dê atenção a ele.

E não tenha medo, por mais poder que ele tenha

Nossa passagem por este penhasco não será barrada”.

 

Então voltando-se para aquele rosto inflamado,

Ele ordenou: “Cala-te, lobo amaldiçoado.

Consome dentro de ti mesmo a tua raiva!

 

Não descemos em vão até estas profundezas:

Isso foi ordenado lá nas alturas, onde Miguel

Teve usa vingança sobre a orgulhosa rebelião.”

 

E, assim como as velhas infladas pelo vento

Desabam e a tudo arrastam, ao se quebrar o mastro.

Tal foi o modo que aquela besta feroz caiu no chão[3].

A genialidade de Dante trabalha o Nível Literal (ação imediata): Plutus cai no chão quando Virgílio fala. A ação principal que Dante descreve com a símile[4] (figura) das velas com a queda física e imediata de Plutus. A fera estava “inchada” de raiva e, ao ouvir as palavras de Virgílio, ela desaba, derrotada, ali mesmo, na frente de Dante e seu guia. Essa é a ação que acontece na cena.

Em relação ao Nível Simbólico (Paralelo Histórico), a queda de Plutus é um eco da queda de Lúcifer. Dante faz uma conexão com a rebelião de Lúcifer. Virgílio invoca essa memória de propósito ao dizer: “…assim se quer no alto, lá onde Miguel teve sua vingança sobre a orgulhosa rebelião“. Ele está fazendo um paralelo direto: Lúcifer, inchado de ganância, orgulho e soberba, rebelou-se contra Deus. Plutus, inchado de raiva e avareza, rebela-se contra a passagem de Dante. A queda de Plutus, portanto, torna-se uma reencenação em miniatura daquela primeira e maior derrota do mal. A mesma autoridade divina que derrubou Lúcifer no céu é a que agora derruba este demônio menor no inferno.

Quanto ao Nível Teológico, que é o tema central, Dante mostra o poder da Palavra de Deus sobre os demônios. Esta é a mensagem fundamental da cena, e sua observação final está perfeita. O ponto de Dante é mostrar que a força do mal é apenas aparente. Virgílio não luta fisicamente com Plutus. Ele usa a palavra carregada de autoridade divina. A menção à vontade do Céu (“vuolsi ne l’alto”) é suficiente para quebrar a resistência demoníaca. É uma demonstração teológica de que o mal, por mais assustador, barulhento e “inchado” que se apresente, é fundamentalmente impotente e vazio diante do poder da Palavra e da vontade de Deus.

  1. A natureza soberba da avareza e da prodigalidade.

A cena inicial da derrota de Plutus não é apenas um obstáculo no caminho. Ela é a chave teológica que nos permite entender a verdadeira natureza do pecado castigado no Círculo de Pedra. A queda de Plutus se conecta ao círculo da avareza e da prodigalidade de quatro maneiras principais:

  1. a) A riqueza como um ídolo vazio e impotente.

Plutus é a personificação divina da riqueza. Ele é o “deus” que tanto os avarentos (que o adoram pela posse) quanto os pródigos (que o adoram pelo uso) serviram durante a vida. Ao mostrá-lo como uma criatura “inchada” (inflada) de raiva, que desaba em um monte patético com uma única palavra de autoridade divina, Dante está fazendo uma declaração poderosa: o poder da riqueza, quando idolatrado, é uma farsa. A segurança que o avarento busca em seu dinheiro, ouro, e a felicidade que o pródigo busca em seus gastos são ilusões. Parecem poderosas, mas não têm substância real diante de questões espirituais. A queda de Plutus simboliza o colapso de todo sistema de valores do mundo baseado no materialismo.

  1. b) A raiz do pecado: a soberba (Superbia)

Virgílio não derrota Plutus apenas o mandando se calar. Ele o derrota ao invocar a derrota da “soberba rebelião” de Lúcifer. Dante, com isso, nos diz que o pecado da avareza e da prodigalidade não é apenas um erro de gestão financeira – a sua raiz é a soberba gananciosa. O avarento comete o pecado da soberba ao acreditar que pode garantir sua própria existência e segurança através do acúmulo. Ele confia em seu cofre, não em Deus. Ele se torna seu próprio provedor. O pródigo (gastador) comete o pecado da soberba ao acreditar que o universo existe para satisfazer seus desejos, esbanjando recursos como se fosse o centro de tudo, sem medida e sem responsabilidade.A derrota de Plutus é a derrota dessa soberba fundamental que coloca o “eu” e o materialismo no lugar de Deus.

  1. c) A queda como prenúncio do castigo.

Esta é talvez a conexão mais genial. Plutus é descrito como “inchado”, cheio de ar, uma bolha de aparente poder. Quando a palavra de Virgílio o atinge, essa ilusão se desfaz e ele se torna um peso morto no chão. Isso prenuncia perfeitamente o castigo dos pecadores. Em vida, eles estavam “inchados” por sua relação com o dinheiro (seja pelo orgulho de possuir ou pelo prazer de gastar). No inferno, essa ilusão de leveza e poder se desfaz, e eles são forçados a lidar com a verdadeira natureza da riqueza terrena quando desprovida de propósito espiritual: um peso morto, uma pedra estéril. O castigo de rolar pedras incessantemente é a consequência lógica da queda de Plutus. O que era “inflado” se torna um “peso de pedra”.

  1. d) A desumanização pela ganância

Plutus é chamado de “lobo amaldiçoado” e sua voz é um “grasnar”. Ele é mais animal do que espírito. Isso estabelece o tema de que a obsessão com a riqueza desumaniza. Ela reduz o homem a seus instintos mais básicos: o instinto predatório de acumular (lobo) ou a necessidade irracional de consumir. Os pecadores no círculo, que se chocam sem se reconhecer, também perderam sua identidade humana, tornando-se apenas forças de uma paixão bestial.

Portanto, a cena da queda de Plutus é o argumento teológico em forma de ação. Dante está nos dizendo: “Vejam este demônio da riqueza. Ele parece poderoso, mas é só ar. Sua queda patética é o destino de toda alma que constrói sua vida sobre a pedra da riqueza material, em vez da Rocha da fé. O que era inflado se torna apenas um peso morto.”  Essa é uma introdução perfeita ao trabalho estéril e esmagador do Círculo de Pedra. Aqui, Plutus não é um ser de esplendor, mas uma besta inflada de ira, cuja linguagem é o puro som da cólera desarticulada.

O primeiro simbolismo é este: a obsessão pelas riquezas materiais desumaniza e destrói a própria linguagem, a razão. Quando o ter se torna o eixo da existência, a comunicação se corrompe. A alma, criada para o Logos Divino, para a Palavra que cria e ama, regride a um balbucio animalesco de ganância e medo. Não é esta a linguagem de nosso tempo? Os gritos incompreensíveis do mercado financeiro, a retórica vazia da publicidade que nos promete a felicidade em objetos, a ansiedade inarticulada de quem teme perder o que acumulou e a inveja silenciosa de quem cobiça o que não tem. A linguagem de Plutus é a linguagem de um mundo que esqueceu como falar de virtude, de propósito e de amor, e só sabe grunhir sobre lucros, perdas e posses.

  1. O inferno, a servidão da paixão.

Dante e seu guia, Virgílio, passam por esta criatura. E o que eles veem é o castigo, a pena que se encaixa perfeitamente ao pecado, o contrapasso. “Vi ali gente mais numerosa que em qualquer outra parte, e de um lado e de outro, com grandes urros, rolando pesos com a força do peito[5].” Eles estão divididos em dois grupos: os avarentos, que acumularam em excesso; e os pródigos, que esbanjaram sem medida.  O castigo deles é rolar enormes e esmagadores pesos, um contra o outro, em um choque eterno e inútil. Quando se chocam, eles se insultam: “Perche  tieni?” e “Perch E  burli?” Por que guardas?” gritam os pródigos. “Por que esbanjas?” gritam os avarentos.

Aqui reside a profundidade filosófica e a ênfase prática central. Avarentos e pródigos, em vida, pareciam opostos. Um era o “pão-duro”, o outro o “mão-aberta”. Mas Dante, com sua genialidade teológica, os coloca no mesmo círculo, sofrendo a mesma pena. Por quê? Porque ambos cometeram o mesmo pecado fundamental: a falta de medida. Ambos permitiram que os bens materiais, que deveriam ser um meio, fossem o fim absoluto de suas vidas.

O avarento idolatra a matéria pela sua posse. O pródigo idolatra a matéria pelo seu gozo momentâneo. Ambos estão acorrentados ao material. Nenhum dos dois é livre.  O peso que rolam é o símbolo da riqueza terrena, das posses e das preocupações que foram o fardo de suas almas na Terra e agora se tornam o instrumento literal de sua tortura.  Eles empurram com o peito, não com as mãos. As mãos são para criar, para dar, para servir, para trabalhar.  O peito é o lugar do coração, das paixões. O simbolismo é claro: eles não usaram a riqueza com a razão (discernimento) e as mãos, mas foram escravizados por ela com o coração insensato, pela paixão desordenada.

  1. O inferno da insatisfação perpétua.

O choque eterno deles é a imagem da futilidade. Eles não produzem nada. Não constroem nada. Não chegam a lugar algum. Apenas se chocam, acusam-se e recomeçam seu esforço estéril.  Pensemos em nossa sociedade: a “cultura do hustle[6]” (hiperprodutividade), da acumulação incessante, que nos leva ao burnout (esgotamento), chocando-se contra a cultura do consumo desenfreado, do prazer imediato, que nos leva ao vazio e à dívida. São duas faces da mesma moeda sem valor espiritual, uma dança macabra de insatisfação perpétua.

Biblicamente, isso ecoa a advertência de Cristo em Mateus 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom“.  Mamom, a riqueza personificada, é exatamente o deus que tanto avarentos quanto pródigos serviram.  O resultado é este inferno: um trabalho sem propósito, um conflito sem resolução. Uma busca de satisfação perpétua. Se a oração do “Pai Nosso” é o mapa para a alma que busca a Deus, o estado espiritual dos pecadores no Quarto Círculo é a imagem espelhada e invertida desse mapa, um roteiro para a escravidão de Mamom.

5. A anti-oração do “Pai Nosso”. Dante faz um contraponto profundamente bíblico e teológico, na abertura do Quarto Ciclo, uma espécie de anti-oração do Pai Nosso. “Pape Satan, Pape Satan aleppe”. Jesus inicia a oração: “Pai Nosso que estás nos céus”. (Mateus 6.9-13). A oração nos ensina verdades fundamentais da nossa relação com Deus:

6. a) “Pai“: Uma relação de amor, intimidade e dependência filial. “Nosso“: Uma realidade comunitária. Somos parte de uma família, irmãos e irmãs. “que estais nos céus”: Reconhece a transcendência de Deus. Nosso foco e nosso destino final não são deste mundo.

Isso é diferente do que ocorre no Círculo de Pedra: o pai deles não é o Pai celestial. É Plutus/Mamom, como vimos. A relação não é de amor, mas de ansiedade (para o avarento) e desejo insaciável (para o pródigo). O grito “Pape Satán” é a invocação a este falso pai.

Não existe “Nosso”. O pecado deles é o auge do individualismo. O avarento acumula para si, tirando da comunidade. O pródigo gasta consigo, ignorando a comunidade. É por isso que no inferno eles se chocam eternamente como adversários, incapazes de qualquer união. Seu foco não está “nos céus”. Essa anti-oração é feita no inferno. Está inteiramente fixado na terra, na matéria, na pedra. Eles rejeitaram o tesouro celestial e, por isso, seus corações estão presos ao lodo e ao peso do mundo material.

b). “Santificado seja o vosso nome…”: A oração ensina: É o desejo de que o nome de Deus, Seu caráter e Sua santidade sejam honrados e colocados acima de tudo. A negação no Círculo de Pedra: Eles fazem o oposto. Eles profanam o nome de Deus ao substituí-lo pelo valor do dinheiro. A santidade que eles buscam não é a de Deus, mas a do status que a riqueza confere. Eles querem que o seu próprio nome seja glorificado, seja pelo poder de sua fortuna (avareza) ou pela ostentação de seus gastos (prodigalidade). A presença de “papas e cardeais”, como Dante aponta, é a forma mais chocante dessa profanação.

c). “Venha a nós o vosso reino…” O que a oração ensina: É a súplica para que o governo de Deus, com seus valores de justiça, amor, paz e generosidade, estabeleça-se no mundo. A negação no Círculo de Pedra: Eles não querem o Reino de Deus; eles passaram a vida tentando construir seus próprios reinos. O avarento constrói um pequeno reino fortificado de segurança material. O pródigo tenta viver em um reino de prazer e gratificação instantânea. Ambos os reinos são baseados na autossuficiência e no egoísmo, os princípios contrários aos do Reino de Deus.

d). “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu…” A oração ensina: É o clímax da entrega. É a submissão da nossa vontade à vontade soberana e amorosa de Deus, confiando em Seu plano. A negação no Círculo de Pedra: Esta é a raiz de sua rebelião. A vida deles foi um grito constante de “Seja feita a minha vontade!”. A vontade do avarento é controlar, segurar, dominar seu futuro. A vontade do pródigo é satisfazer cada impulso e desejo.  O discurso de Virgílio sobre a Fortuna é a resposta direta a isso: existe uma Vontade Divina que governa a distribuição dos bens, e o sofrimento deles vem de terem lutado furiosamente contra ela.

e). “O pão nosso de cada dia nos dá hoje…”. A oração nos ensina a dependência na providência divina, estabelece uma confiança diária e estimula uma vida de moderação e sabedoria. A negação no Círculo de Pedra: Eles rejeitam completamente este princípio. O avarento quer o pão de todos os amanhãs, hoje, para trancá-lo. A avareza acumula riqueza para não precisar depender do amanhã.  O prodigo, quer a providência de amanhã, para gastar hoje, pois o prazer é seu deus. O pródigo quer o pão de todos os amanhãs, hoje, para consumi-lo. Ambos vivem em um estado de ansiedade e impaciência que torna impossível a paz da confiança diária.

f). “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendidoO que a oração ensina: Estabelece uma economia da graça. Recebemos o perdão na medida em que o oferecemos. Requer um coração que sabe perdoar dívidas e deixar ir. A negação no Círculo de Pedra: A mentalidade deles é o oposto da economia da graça. É a economia da posse e da acusação.  O avarento é, por definição, alguém que não consegue “perdoar uma dívida” ou abrir mão do que considera seu.  No inferno, eles estão presos em um ciclo eterno de acusação mútua (“Por que guardas?”, “Por que esbanjas?”), incapazes de qualquer forma de perdão ou reconciliação.

g). “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” O que a oração ensina: É um reconhecimento humilde da nossa fraqueza e um pedido de proteção contra a tentação e contra o Maligno. A negação no Círculo de Pedra: Eles não pediram para ser livrados da tentação; eles mergulharam nela. Fizeram do materialismo o seu lar.  E, como vimos, o seu grito inicial, “Pape Satàn…”, invoca o próprio Mal do qual deveriam pedir livramento.  Seu castigo é, portanto, serem eternamente “entregues” ao mal que escolheram, presos na consequência de sua própria tentação abraçada.

CONCLUSÃO: Jesus aconselhou seus discípulos Mateus 6:19-21

¹⁹ Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;

²⁰ Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.

²¹ Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.

Dante demonstrou perfeitamente esse texto no Canto VII do seu poema, mostrando os perigos do nosso coração ser enganado pela sedução das riquezas. Esse é um perigo que precisamos estar atentos.

[1] Alguns veem corruptelas de palavras. “Pape” poderia ser do latim pater (pai) ou do grego papai (uma exclamação de raiva), e “aleppe” poderia vir de aleph, a primeira letra hebraica. Seria uma espécie de “Oh, Pai Satã!” ou “Primeiro Pai, Satã!”.

[2] Na mitologia grega, Plutus (em grego: Πλοῦτος, Ploutos) era a personificação divina da riqueza e da abundância, especialmente a riqueza que provém da terra, como as colheitas fartas. A Cegueira: A característica mais famosa de Plutus, imortalizada na comédia “Plutus” do dramaturgo Aristófanes, é sua cegueira. Segundo o mito, Zeus o teria cegado para que ele não pudesse distinguir entre pessoas boas e más ao distribuir suas riquezas. Cego, Plutus distribuía a fortuna de forma aleatória e, muitas vezes, injusta, beneficiando os maus e ignorando os virtuosos. A peça de Aristófanes gira em torno da tentativa de curar sua cegueira para que a riqueza passe a ser distribuída com justiça.

Simbolismo: Plutus simboliza a natureza da riqueza material. Sua cegueira representa a ideia de que a fortuna é caprichosa e não necessariamente recompensa o mérito ou a virtude. Ele também é descrito como sendo “coxo”, pois a riqueza demora a chegar, mas “alado”, pois pode ir embora muito rapidamente. Representação: Ele era frequentemente representado como uma criança ou um jovem carregando uma cornucópia, o “chifre da abundância”, de onde jorravam grãos, frutos e riquezas de toda sorte. A imagem de uma criança simbolizava que a riqueza, como uma criança, precisa de cuidado e pode ser imatura. Em resumo, Plutus era a divindade que representava a riqueza em si, uma força poderosa, porém cega e caprichosa, que todos os mortais desejavam, mas que raramente era distribuída com critério ou justiça. Essa complexidade o tornou uma figura ideal para Dante Alighieri usar como guardião do círculo dos avarentos e pródigos, transformando-o de uma figura ambivalente em um monstro bestial, consumido pela própria força que representa.

[3] Canto VII frases 2 a 15, do quarto ciclo do inferno de Dante.

[4] Comparação figurada, Símile significa uma comparação não literal (figurada) feita entre coisas diferentes usando as palavras “como”, “como” ou “do que”. 

[5] “Qui vidi gente piuˋ

  ch’altrove troppa,

 e d’una parte e d’altra, con grand’urli,

 voltando pesi per forza di poppa.

[6] A cultura do “hustle (agitação)” refere-se a uma mentalidade que valoriza a produtividade incessante e a busca incessante por sucesso, muitas vezes em detrimento da saúde mental e do bem-estar. Essa mentalidade promove a ideia de que estar constantemente ocupado e trabalhando arduamente é a chave para o sucesso, e que o descanso e o lazer são vistos como fraqueza ou falta de ambição.

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