Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 60 – O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 38). Gn 1:26-28: Os cristãos que defendiam a escravidão 4. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 02/03/2022.
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INTRODUÇÃO[1]
Porque tantos cristãos apoiaram a escravidão? A resposta pode ser uma pergunta: porque muitos cristãos sãos mundanos?
A escravidão dos negros africanos, começam em 1519, com o aval do Sacro Império Romano, governado por Carlos V. A motivação foi a ganancia humana, por lucros altos e fácil.
A humanidade nunca havia conhecido tanta prosperidade material, como no tempo da escravidão negreira para trabalhar nas plantações nas colônias.
A motivação mundana, foi a busca de lucros e isso influenciou completamente os cristãos principalmente “calvinistas”; que eram a aristocracia dominante da época.
Os cristãos usaram sua “teologia determinista” para lidar com a maldade da escravidão sem serem incomodados por suas consciências.
A nova Inglaterra, chamada de “Nova Jerusalém”, fundada sobre os princípios puritanos, que inicialmente queriam construir uma nação livre, acabou produzindo a pior escravidão que já se vil debaixo do sol, como disse John Wesley.
Mas toda essa impiedade, foi acalentada por uma teologia aristocrática, que amenizava os crimes hediondos da escravidão. Nas palavras de um ministro batista, a escravidão “é uma instituição de Deus”.
- A Holanda reformada e o comercio de escravos.
A Holanda que era um país calvinista desde 1540[2], inicialmente se opôs a escravidão e esse debate durou por muito tempo, principalmente pelo lado Armíniano que sempre se opôs a escravidão humana, devido a sua doutrina do livre arbítrio.
Quando um navio transportando mais de cem africanos escravizados chegou a Middelburg em 1596, ele não teve permissão para ficar.
Em 1619, acontece na Holanda o controverso e desmano; Sínodo de Dort, que define os 5 pontos da doutrina calvinista, condenando e matando arminianos proeminentes e tomado terras e títulos de outros e os expulsando da Holanda.
Sobre o Sínodo de Dort, o rei Tiago I, da Inglaterra, (que pediu uma versão da bíblia que leva seu nome {versão King James}); que inicialmente aprovara a realização do conclave, enviando uma representação britânica, diria também, um ano após aquela decisão:
“Essa doutrina [definida nos Cânones de Dort] é tão horrível que eu estou persuadido de que se houvesse um concílio de espíritos imundos reunidos no inferno, e seu príncipe, o Diabo, fosse colocar a questão a todos eles em geral, ou a cada um em particular, para obter sua opinião sobre o meio mais provável de incitar o ódio dos homens contra Deus, seu Criador”.
“Nada poderia ser inventado por eles que seria mais eficaz para este propósito, ou que poderia colocar uma afronta maior sobre o amor de Deus pela humanidade, do que esse infame decreto do recente Sínodo [de Dort]”[3].
Logo após esses atos ímpios foi ainda mais fácil ceder a tentação do mundanismo de enriquecer ilicitamente com o tráfico de escravos, ao ponto da Holanda fundar sua própria companhia holandesa das Índias ocidentais em 1621, dois anos depois do sínodo de Dort.
Quando a Companhia (WIC) [4] foi fundada em 1621, alguns acionistas já viam propondo participação no tráfico transatlântico de escravos, mas tinham a oposição de arminianos importantes, como o Advogado dos Estados Gerais da Holanda.
Historicamente, a escravidão na Europa era mínima devido ao entendimento de que os cristãos não podiam escravizar outros cristãos[5].
Inicialmente, após discussões com vários teólogos, os curadores decidiram que o comércio de seres humanos não era moralmente justificado[6].
Mesmo encontrando resistência, após o Sínodo de Dort[7], a igreja reformada holandesa, conseguiu textos bíblicos para justificar a participação lucrativa no comercio transatlântico de escravos, dizendo que os negros são filhos de Cão. E que a escravidão era um meio de evangeliza-los.
A companhia holandesa, se tornou uma das maiores traficantes de escravos transatlântico. As colônias holandesas se tornaram a mais cruéis no trato dos escravos em suas plantações, principalmente no Suriname.
Os homens, mulheres e crianças[8] comprados na África Ocidental tinham que trabalhar nas plantações e nas casas das colônias holandesas no Caribe[9]
Estima-se que 600.000 africanos escravizados foram comercializados pelos holandeses[10]. Quase oitenta por cento do comércio privado de escravos era de propriedade de comerciantes de escravos da Holanda.
Nos séculos XVII e XVIII, um navio negreiro embarcava em média 350 pessoas escravizadas da África Ocidental para as colônias do Ocidente[11].
Os navios da companhia holandesa (WIC) transportavam regularmente mais pessoas escravizadas, em média cerca de seiscentas pessoas e cerca de ¼ morriam durante as viagens[12].
A interrogação que fica no ar. Porque um país que é capaz que condena o ARMINIANISMO com todo o ódio e vingança, e estabelece a teologia CALVINISTA no sínodo de Dort, logo em seguida se torna um dos principais agentes da maldade no seu tempo para traficar milhares de escravos negros, sem nenhum escrúpulo.
E porque esse mesma Holanda apoiou os nazistas e entregou seus próprios irmãos para os campos de concentração.
O cristianismo já não existe na Holanda, que se tornou um país ateístas, liderando racismo, o divórcio, o casamento do mesmo sexo, o aborto, a eutanásia, eugenia e o suicídio assistido.
Os resultados de uma pesquisa realizada na Vrije Universiteit Amsterdam em 2016 mostraram um declínio constante no número de cristãos ou crentes na Holanda.
Isso levou a Holanda a não mais ser vista como uma nação cristã. A verdade é que o país foi o primeiro a não ser considerado cristão um há muito tempo, embora siga muitos dos princípios ensinados por João Calvino.
Uma pesquisa forneceu evidências para o fato de que mais de 82% dos holandeses não frequentam mais a igreja ou acreditam em Deus. Também afirmou que havia mais ateus (25%) do que teístas (17%) na Holanda[13].
Quando Wesley discutia com os calvinistas, e falando do problema do NOMINALISMO que essa teologia produz, ele apontava para Holanda, e mostrava no que ela se tornou.
- A bíblia dos escravos da companhia das índias ocidentais.
A Bíblia dos escravos publicada pela companhia das indicas ocidentais e que foi usada para catequisar os negros, omitiu passagens importantes que poderiam incitar a rebelião ou libertação.
Os escravos convertidos, usavam passagem como a de Êxodo sobre a libertação do povo de Israel do Egito, para se consolarem na esperança de um dia serem libertos e clamavam a Deus por sua abolição.
A versão resumida intitulada Partes da Bíblia Sagrada, selecionada para o uso dos escravos negros, nas ilhas britânicas das Índias Ocidentais, foi publicada em 1807.
“Cerca de 90 por cento do Antigo Testamento está faltando [e] 50 por cento do Novo Testamento está faltando”. “Em outras palavras, há 1.189 capítulos em uma Bíblia protestante padrão. Esta Bíblia contém apenas 232[14].
Passagens que poderiam ter motivado a rebelião foram removidas, por exemplo:
“Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:28
E versos que reforçavam a instituição da escravidão, incluindo “o mais famoso verso pró-escravidão que muitos pró-escravidão teriam citado”, foram mantidos.
“Servos, obedecei aos vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na singeleza de vosso coração, como a Cristo.” Efésios 6:5
- Os batistas escravagistas.
Os descendentes de batistas que se estabeleceram nas colônias americanas no século 17, os batistas do sul formaram sua própria denominação em 1845, Augusta, Geórgia, após uma ruptura com seus colegas do norte sobre a escravidão.
A Convenção Batista do Sul, a maior denominação protestante dos Estados Unidos, surgiu em 1845 como a igreja dos proprietários de escravos do sul.
Agora, 173 anos depois, os líderes batistas do Sul não estão apenas reconhecendo sua história sombria; eles a estão documentando, como se, ao contar a história em detalhes dolorosos, pudessem finalmente se livrar de sua mácula.
O Seminário Teológico Batista do Sul, a principal instituição da denominação, divulgou um relatório de 71 páginas sobre o papel que o racismo e o apoio à escravidão desempenharam em sua origem e crescimento.
“Os fundadores desta escola – todos os quatro – estavam profundamente envolvidos na escravidão e profundamente cúmplices na defesa da escravidão”, escreve o presidente da escola, R. Albert Mohler Jr., em uma carta que acompanha o relatório[15].
“Muitos de seus sucessores nesta faculdade, durante todo o período da Reconstrução e até o século 20, defenderam a inferioridade dos afro-americanos e abraçaram abertamente a ideologia da Causa Perdida da escravidão do sul”.
Mohler, escreve na carta introdutória:
“Fomos culpados de uma falta pecaminosa de curiosidade histórica. “Sabíamos, e não podíamos deixar de saber, que a escravidão e o racismo profundo estavam na história”.
“Nos confortamos por saber disso, mas como esses eventos estavam tão longe de nós, poderíamos seguir em frente sem investigações embaraçosas e assuntos complicados.”
- Albert Mohler Jr, continua:
O “relatório reconhece que a única razão pela qual uma denominação batista do sul separada foi formada; foi porque os batistas do norte se recusaram a nomear proprietários de escravos como missionários”.
alguns deles argumentavam que a escravidão era do interesse dos próprios escravos, enquanto outros insistiam que era “uma instituição ordenada por Deus”.
Os líderes do seminário se opuseram à eleição de Abraham Lincoln e argumentaram vigorosamente às vésperas da Guerra Civil em favor da secessão, vendo-a “como a única esperança de preservar a escravidão”[16].
- Albert Mohler Jr, fala do racismo dos batistas do sul.
“Durante o período de reconstrução do pós-guerra, os líderes do seminário se opuseram à representação política dos afro-americanos e defenderam explicitamente a supremacia branca”.
“Durante grande parte do século 20, os líderes do seminário defenderam a segregação racial e se recusaram a admitir estudantes negros. As salas de aula do seminário não foram integradas até 1951”.
“É uma história muito difícil”, disse Mohler… “Mas precisava ser contado. Precisava ser documentado e precisava ser feito agora.”
A Convenção Batista do Sul pediu desculpas formalmente aos afro-americanos em 1995 pelo passado pró-escravidão da denominação e, em 2017, a convenção adotou uma resolução condenando a supremacia branca.
O relatório do seminário, no entanto, abre novos caminhos. A seção “história” do site do SBTS não revelava que seus fundadores eram proprietários de escravos e defensores ardentes da instituição da escravidão.
“Uma das primeiras coisas que vai acontecer é que nossa história institucional será revisada”, disse Mohler[17].
- Richard Fuller e outros teólogos escravagistas.
O calvinista, Richard Fuller, um dos principais fundadores da Convenção Batista do Sul em 1845 que apoiava fortemente a escravidão, se separaram da convenção batista do Norte, que não aceitavam a escravidão.
Fuller em um sermão; ele pergunta inconsistentemente:
“É … um crime para os homens manter homens em uma condição em que eles trabalham para outro sem o seu consentimento ou contrato?”
Fuller enfaticamente argumenta com um não, afirmando, “o crime não é a escravidão, mas a crueldade”.
Fuller então continua surpreendentemente declarando que nada no NT (em relação à inauguração do Reino de Deus) argumenta contra a retenção de um ser humano em servidão contra sua vontade, porque a escravidão não é o direito de abusar cruelmente de outra pessoa.
Em vez disso, a escravidão é servidão e nada mais … apenas um direito ao seu serviço sem consentimento… “[3]
Como aluguem pode escravizar o outro sem cometer uma crueldade. Impondo limites, castigando-o pela fuja, ou desobediência.
Aparentemente, nem Edwards, George Whitefield, nem Fuller viram qualquer motivo para pensar que manter o próximo ou outro irmão em cristão na escravidão humana[18] era por sua própria “natureza antitética”[19] ao Reino de Deus estabelecido nas palavras de Cristo:
“Eu venho proclamar liberdade aos cativos … para libertar os oprimidos “(Lc 4:18)
Outra coisa que realmente nos surpreende é que os líderes calvinistas da Convenção Batista do Sul defendessem a escravidão – e o fizeram em bases teológicas calvinistas, com notáveis defesas de títulos de sermões como “Escravidão Ordenada por Deus[20]”; “A providencia misericordiosa”.
Veja um texto de Robert E. Lee no tempo da guerra civil:
“Os negros estão incomensuravelmente melhores aqui do que na África, moral, física e socialmente”.
“A dolorosa disciplina pela qual estão passando é necessária para sua instrução como raça, e irá prepará-los, espero, para coisas melhores. Quanto tempo sua servidão pode ser necessária é conhecido e ordenado por uma Providência misericordiosa”[21].
Em 27 de janeiro de 1861, diante de uma casa cheia Ebenezer W. Warren, pastor da Primeira Igreja Batista de Macon, Geórgia, deu uma mensagem emocionante em defesa da ordenação divina da escravidão intitulada “Vindicação escriturística da Escravidão”.
Ele é citado como declarando:
“Tanto o cristianismo como a escravidão são do céu; ambos são bênçãos para a humanidade; ambos devem ser perpetuados até o fim dos tempos …
“…porque seu Criador decretou sua servidão, e deu-lhes, como uma raça, capacidades e aspirações adequadas somente a essa condição de vida[22]…”.
Outro puritano, Cotton Mather, disse sobre os escravos que desejasse sua liberdade:
“E isso é orgulho que escravos busquem desejar a liberdade que Deus não ordenou para eles”
- A soberania autodestrutiva de Isaque Taylor Tichenor
Em 21 de agosto de 1863, Isaque Taylor Tichenor, um dos ministros Batistas calvinistas mais influentes de seu tempo, e que também lutou na sangrenta batalha de Shiloh(1962) {( Guerra civil americana)}, foi convidado a preparar o sermão que seria entregue antes da Assembleia Geral do Estado do Alabama.
Ele invocou a visão calvinista da soberania divina meticulosa em todo o seu sermão para exortar seus ouvintes a ter em mente que Deus estava governando a guerra contra os iníquos inimigos do Sul que procuravam subverter sua liberdade e remover sua instituição (escravidão).
Note as seguintes observações semeadas em todo o seu sermão:
“A continuação desta guerra não depende do resultado das batalhas, da habilidade de nossos generais … mas da vontade de nosso Deus …
“Se Deus não é o soberano governante do universo, então o sacrifício de Seu Filho teria sido quase em vão … ali está grandiosamente entronado de forma inescrutável o poder que move e controla o mundo, e esse poder é de Deus …
“Se Deus governa o mundo, então Sua mão está neste mundo em que nós estamos envolvidos. Não importa que a iniquidade do homem trouxe isso sobre nós…
“… privar-nos de nossos direitos e instituições [escravidão] … Deus, à sua maneira, salvará a nossa terra do sul … chegou o dia em que ele reivindicará os seus contínuos direitos ignorados como Soberano do mundo[23].
Isaque Taylor Tichenor não só estava errado em sua teologia, como também a sua confiança tola em uma soberania inventada pela teologia, e que foi destruída pelos eventos seguintes.
A guerra da Secessão oficialmente terminou em maio de 1865, com a derrota dos sulistas, sua reintegração à União e com a abolição definitiva da escravidão no país.
Isaque Taylor Tichenor acreditava que uma razão pela qual Deus estava soberanamente retardando a vitória do Sul era que o Sul tinha muito orgulho “nas fortalezas da autoconfiança” e não demonstrava confiança suficiente na oração e na “dependência de Deus”.
Ele viu isto em parte como o Sul ignorando os direitos de Deus como Soberano em todo o mundo. Alguém poderia imaginar o que isso significa?
Isaque Taylor Tichenor tropeçou no absurdo perene da teologia da soberania calvinista.
Se Deus é soberano no sentido de que ele está controlando todas as coisas, necessariamente incluirá as disposições que os homens têm para orar ou não orar, confiar em Deus ou confiar no poder humano.
Se Deus controla soberanamente todos os acontecimentos humanos, como essa soberania pode ser ignorada por essas pessoas – a menos que, é claro, Deus decida soberanamente que tais pessoas ignorem sua soberania?
Em que sentido o “Soberano do mundo” de Isaque Taylor Tichenor perde seus direitos como “Soberano do mundo” que reivindica para si?
Toda a construção da soberania divina calvinista é autodestrutiva, não importa a retórica em que está envolvido ou o século em que aparece.
- A escravidão e a guerra civil americana (1861-1865)
A chamada guerra civil americana: foi uma guerra entre os estados do sul e do norte por causa da escravidão. Embora alguns considerem esse motivo simplório, mas o fato é inegável.
Os estados do sul tinham uma economia vinda das grandes plantações que usavam mão de obra escrava. E o Norte era mais industrializado e tendiam a usar mão de obra livre, embora também tivessem escravos.
A prática da escravidão nos Estados Unidos foi uma das principais questões políticas do século XIX. Décadas de agitação política sobre a escravidão levaram à Guerra Civil.
Essa guerra foi a primeira guerra da história a usar armas mais avançadas e destrutivas e nunca antes usadas, como metralhadores, navios mais modernos e apoio aéreo de balões.
Alguém disse que o número total de mortos foi de 752.000 e indicou que poderia chegar a 851.000[24] e juntamente com um número indeterminado de baixas civis.
No final da guerra, grande parte da infraestrutura do Sul foi destruída, especialmente suas ferrovias. A Confederação entrou em colapso, a escravidão foi abolida e mais de quatro milhões de negros escravizados foram libertados.
A nação devastada pela guerra entrou na era da Reconstrução em uma tentativa parcialmente bem-sucedida de reconstruir o país e conceder direitos civis aos escravos libertos.
- A bíblia e a guerra civil americana.
Bíblia não causou a Guerra Civil Americana. Mas a Bíblia moldou como as pessoas navegaram na guerra e as questões que as cercavam.
Os abolicionistas citaram o singular poder libertador de Deus como uma constante: do êxodo dos israelitas à revolução americana longe da Grã-Bretanha e à luta pela liberdade dos negros.
Enquanto isso, os donos de escravos se apegavam a Filemom e, entre outros, passagens paulinas (Ef 6:5, Col 3:22), que eles entendiam como ilustrativos da escravidão como um fato da vida ou mesmo ordenado pelo plano de Deus.
Tal ambivalência hermenêutica confundiam pastores, teólogos e missionários e as sociedades bíblicas americanas, que achavam uma coisa boa evangelizar os negros e ensina-los a ler a bíblia.
A noção pós-Reforma Protestante de que todos eram livres para interpretar o texto não se estendia àqueles incapazes de valer-se de seus direitos humanos inalienáveis que eram os negros.
E, no entanto, os negros responderam a essa crise existencial com uma abordagem dinâmica de interpretação bíblica. Mostrando a libertação dos Israelitas do Egito.
E cantavam músicas com declarações proféticas e com profundas emoções; conhecidas na época “Go Down, Moses!” (comumente reconhecido por seu refrão, “Deixe meu povo ir.”)
Tais manifestações comunicavam o desejo negro de emancipação, codificavam instruções para fugir da escravidão e reuniam escravizados para irem para o norte e lutar pelo exército da União. A mensagem da Bíblia era um veículo poderoso para levar as aspirações negras.
Soldados de ambos os lados carregavam Bíblias de bolso como devocionais e amuletos de proteção com eles no campo de batalha. E faziam de tudo para se conseguir um exemplar da bíblia.
- A teologia Arminiana e a guerra civil americana.
O que pouca gente sabe é que a guerra Civil, foi mais religiosa do que se pensa.
A filiação religiosa dos políticos e a composição religiosa dos eleitorados estão muito nas notícias nos dias de hoje.
Assim foi também nos anos anteriores à eclosão da Guerra Civil. Em ambos os casos, os cristãos evangélicos foram especialmente influentes ao pressionar suas questões morais para a arena pública[25].
Crescendo a partir do Grande Despertar, os protestantes da Nova Inglaterra, foram deixando de lado a melancolia da teologia calvinista e começaram a se inspirar nos conceitos de melhoria da condição humana, por meio da graça de Deus e seu dom do livre arbítrio.
Desta nova doutrina religiosa, chamada Arminianismo, cresceu um movimento que incluiu o apelo pela liberdade de todas as criaturas humanas de Deus, especialmente os escravos do sul.
Eventualmente, a causa antiescravagista com seu forte apoio religioso ajudou a criar o Partido Republicano na década de 1850. Esse desenvolvimento levou diretamente à crise seccional de 1860 e à guerra que se seguiu.
(a) A abolição Arminiana.
A emancipação abolicionista não foi produto dos ideais iluministas de Thomas Jefferson: Todos os homens são criados iguais”. Isso não influenciou aquela sociedade escravagista, que continuou tanto no Sul como no Norte[26].
Esse impulso surgiu de duas fontes principais: a teologia pietista e a prática do quakerismo[27] (arminianos) e o surgimento de um evangelicalismo agressivo e interdenominacional.
A pregação Arminiana do livre arbítrio e que todos os seres humanos são iguais perante Deus, independente de cor, sexo ou posição social, foi minando a instituição da escravidão.
O trabalho de William Wilberforce e seus amigos para aprovar a lei que proibia o tráfico em 1087. Vários folhetos, obras literárias e sermões passaram a ser publicados condenando a escravidão.
Os metodistas e a pregação de John Wesley passaram a influenciar as denominações batistas, que se voltavam para o arminianismo.
E o grande despertar de 1800-35, com grandes massas se convertendo com as pregações de Charles Finney (1792-1875).
Finney, o principal revivalista do Segundo Grande Despertar (1800-1835), foi convidado para chefiar a faculdade antiescravagista em sua recém-fundação: a faculdade de Ohio, Oberlin. Dessa universidade saíram vários missionários.
De uma forma ou de outra, temos a escravidão está delineando um sistema de crenças, que envolve a predestinação ou o livre arbítrio.
Pouca gente sabe que o sistema DETERMINISTA, foi usado para consolidar a pratica imoral da escravidão no mundo.
E que a visão do LIVRE ARBÍTRIO foi pela graça de Deus; a redentora da humanidade da pior de todas as vilanias: a escravidão humana
(b) O determinismo e a escravidão.
Surge uma pergunta: a teologia determinista foi a responsável pela escravidão. Não. Eu diria que realmente não. A teologia foi usada para fins maléficos, e ela em si não é mal.
Mas quer se admita ou não, o fato é que existe muito pouco espaço lógico em que o calvinismo possa oferecer por meio de motivação e incentivo para corrigir os erros do mundo.
Se houvesse o que eles poderiam fazer? Pois no calvinismo nada pode ser realmente condenável porque todas as coisas – incluindo os males da escravidão – foram decretadas por Deus para a sua glória. O mundo é da forma que é, pois, Deus o predestinou.
Deus predestinou que os brancos seriam os senhores dos negros. Consequentemente, se Deus não quisesse que um negro fosse submetido à escravidão antes da Guerra Civil, ele teria decretado soberanamente para serem brancos.
Dada a crença na predestinação divina de todas as coisas, que outra conclusão logicamente consistente pode ser retirada se você fosse um calvinista naquele dia?
O arminianismo se tornou desde o final do século VII a teologia predominante, pois ela se mostrou mais piedosa e uma leitura mais natural das escrituras, acessível principalmente para os leigos.
Depois do Sínodo de Dort, vários calvinistas se tornaram arminianos, pois viram a desumanidade dos que defendiam os cânones. Muitos batistas do sul, aderiram a teologia Arminiana, por não achar socialmente justo a defesa da escravidão pelos seus pares.
CONCLUSÃO:
Os holandeses e os batistas do sul; tiveram escravos, apoiaram e defenderam a escravidão dos negros dos Estados Unidos e foram totalmente cegos como esse apoio era inconsistente e diametralmente oposto ao caráter de Deus, como revelado através de Cristo.
John Wesley e Jonathan Edwards nasceram no mesmo ano, 1703, e Wesley em particular não era um “produto de seu tempo” e apaixonadamente falou contra os males da escravidão colonial britânica e americana em tratados e discurso.
Além disso, acho preocupante que os contemporâneos de Wesley, do outro lado do espectro teológico, Edwards e Whitefield, não só possuíam muitos escravos, mas defendiam a escravidão para continuar em um momento em que muitos estavam questionando a moralidade de manter seus semelhantes na destruição da escravidão desumana.
Mas a questão mais ampla que eu estou considerando é se isso realmente é tão surpreendente para nós que esses principais líderes arminianos como Wesley, Asbury, Wilberforce e Finney se opuseram à escravidão
E fizeram isso com argumentos teológicos Arminianos de que todos os homens são iguais e podem desde que creiam em Jesus serem salvos. E não somente uma classe de eleitos e predestinados.
[1][1] https://www.christianitytoday.com/history/issues/issue-33/why-christians-supported-slavery.html
[2] https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_religion_in_the_Netherlands#:~:text=The%20third%20wave%20of%20the,in%20Flanders%2C%20adopted%20this%20influence.
[3] NICHOLS, James, The Works of James Arminius, volume 1, 1825, Londres, Longman, Hurst, Rees, Orme, Brown and Green, p. 213
[4] https://www.the-low-countries.com/article/approved-by-the-bible-the-slave-trade-of-the-dutch-west-india-company
[5] https://www.montclair.edu/anthropology/research/slavery-in-nj/part-1/
[6] https://www.the-low-countries.com/article/approved-by-the-bible-the-slave-trade-of-the-dutch-west-india-company
[7] https://www.montclair.edu/anthropology/research/slavery-in-nj/part-1/
[8] Ramona Negrón, As Crianças Escravizadas do Mundo Holandês. Comércio, plantações e famílias no século XVIII, (tese ResMA) Universiteit Leiden, 2021
[9] Johannes Postma, The Dutch in the Atlantic Slave Trade, 1600-1815 , Cambridge University Press, 1990
[10] Henk den Heijer, Goud, marfim e escravo. Scheepvaart en handel van de Tweede Westindische Compagnie op Afrika, 1674-1740 , Walburg Pers, Zutphen, 1997
[11] https://www.the-low-countries.com/article/approved-by-the-bible-the-slave-trade-of-the-dutch-west-india-company
[12] A Middelburgsche Commercie Compagnie (“MCC”, 1720-1889) foi a maior empresa privada de comércio de escravos da República. Entre 1740 e 1803, a MCC embarcou mais de 30.000 africanos para o Atlântico. Mas empresas e comerciantes menores também equipavam navios para o tráfico de escravos. Um exemplo é a empresa de Roterdã Coopstad & Rochussen. No entanto, era o povo da Zelândia que dominava o comércio de escravos. Quase oitenta por cento do comércio privado de escravos era de propriedade de comerciantes de escravos da Zelândia (Holanda).
[13] https://dutchreview.com/culture/society/calvinism-netherlands-dutch-calvinist-nature/#:~:text=How%20does%20Calvinism%20relate%20to%20the%20Dutch%3F&text=It%20is%20no%20secret%20that,very%20popular%20among%20the%20Dutch.
[14] https://www.npr.org/2018/12/09/674995075/slave-bible-from-the-1800s-omitted-key-passages-that-could-incite-rebellion
[15] https://www.npr.org/2018/12/13/676333342/southern-baptist-seminary-confronts-history-of-slaveholding-and-deep-racism
[16] https://www.npr.org/2018/12/13/676333342/southern-baptist-seminary-confronts-history-of-slaveholding-and-deep-racism
[17] https://www.npr.org/2018/12/13/676333342/southern-baptist-seminary-confronts-history-of-slaveholding-and-deep-racism
[18] https://archive.org/search.php?query=subject%3A%22Slavery%20and%20the%20church%22
[19] contrário; em direção contrária, no sentido oposto, antagônico.
[20] https://archive.org/details/slaveryordained01rossgoog
[21] Lee, Robert E. “Opinião de Robert E. Lee sobre a escravidão”. Casa da espingarda da guerra civil americana. Recuperado em 24 de outubro de 2007.
[22] Rev. A. Ross, Fred. Slavery Ordained by God, 1857. See: https://archive.org/details/slaveryordained01rossgoog
[23] https://archive.org/details/isaactaylortic00dill p. 89-101
[24] https://www.britannica.com/event/American-Civil-War/The-cost-and-significance-of-the-Civil-War
[25] Bertram Wyatt-Brown, Lewis Tappan a Guerra Evangélica contra a Escravidão (1997). O autor trata de uma figura importante na cruzada antiescravagista, mas mostra a importância da religião no desenvolvimento da causa.
[26] http://nationalhumanitiescenter.org/tserve/nineteen/nkeyinfo/amabrel.htm
[27] Mesmo antes da Revolução Americana, os mais famosos reformadores Quakers de meados e final do século XVIII, John Woolman, Anthony Benezet, Benjamin Lay e mais tarde Benjamin Lundy começaram a publicar suas opiniões e levantar a questão da escravidão humana em reuniões Quaker, principalmente na Pensilvânia