Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 13 –  Hoje aqui, amanhã coroados. Eclesiastes 6:1-12. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 17/06/2020.

INTRODUÇÃO [i]:

Não é fácil andar na terra e encontrar paz. Parece que dentro de nós há algo que saiu do ritmo com as coisas, por isso estamos sempre inquietos, insatisfeitos, frustrados e sofridos. Sentimos um desejo tão forte que é difícil encontrar descanso.

O DESEJO é sempre mais forte do que a SATISFAÇÃO. Enquanto andarmos nesta terra inquieta, cheia de desejos, nunca estaremos completamente satisfeitos.

Jonathan Clements chegou a uma conclusão semelhante nas páginas do Wall Street Journal quando escreveu.

“Podemos ter vida e liberdade, mas a busca pela felicidade não está indo muito bem… Queremos constantemente carros mais chiques e folhas de pagamento mais gordas — e, no início, essas coisas aumentam a felicidade.

Mas o brilho da satisfação rapidamente se dissipa e logo passamos a desejar outra coisa”.

Isso acontece todos os anos após abrirmos nossos presentes de Natal. Recebemos o que achávamos que queríamos e o curtimos por um tempinho. Mas logo aparece algo diferente que queríamos ter recebido.

Nossos desejos nunca desaparecem por muito tempo; eles sempre voltam. Aqui nossos desejos não podem ser satisfeitos, pois fomos criados para um outro mundo.

  1. Aqui não há garantia de satisfação

A decepção de um desejo insatisfeito é tão velha quanto Eclesiastes. O pregador disse: “Quem ama o dinheiro jamais dele se farta” (Ec 5.10).

Após contemplar a vaidade da prosperidade, o Rei-Pregador concluiu que a única maneira de encontrar qualquer satisfação verdadeira na vida é confiar no Deus da alegria (veja Ec 5.18-20).

Mas ele não permaneceu satisfeito por muito tempo. Logo, voltou a lamentar os muitos problemas da vida debaixo do sol.

Eclesiastes 6 é um dos capítulos mais sombrios da Bíblia. Quando ouvimos oque o Pregador tem a dizer, lemos o que o poeta russo Alexandre Pushkin chamou de “intimações gélidas da razão e relatos de um coração em dor”.

O autor apresenta uma lista de decepções que o deixaram profundamente insatisfeito, seguida por várias perguntas que só Deus consegue responder.

Muitas pessoas veem a vida de forma semelhante: como longa lista de decepções que suscita perguntas sérias sobre Deus.

A primeira decepção do Pregador dizia respeito aos bens das pessoas. Ele viu que a satisfação não era garantida:

“Há um mal que vi debaixo do sol e que pesa sobre os homens: o homem a quem Deus conferiu riquezas, bens e honra(fama), e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, mas Deus não lhe concede que disso coma; antes, o estranho o come; também isto é vaidade e grave aflição” (Ec 6.1-2).

O homem desses versículos parecia ter tudo. Ele não só valia uma fortuna como era também famoso, coisa que algumas pessoas prezam ainda mais do que dinheiro.

No entanto, por alguma razão não especificada, ele era incapaz de se alegrar com o que tinha.

MARTINHO LUTERO chamou esses versículos de “uma descrição de um homem rico ao qual não falta nada para uma vida boa e feliz, mas mesmo assim não a tem”.

Ao contrário do homem descrito no final de Eclesiastes 5, o homem do capítulo 6 tinha riqueza sem a satisfação.

No fim, perdeu tudo e assim nunca teve a oportunidade de usufruir tudo aquilo que adquiriu durante a vida por meio de muito trabalho.

Talvez tenha perdido seus bens em tempos de guerra ou por causa de um roubo, ou talvez ele tenha colocado tudo a perder num investimento arriscado (veja Ec 5.13-14).

Talvez ele estivesse doente demais para fazer bom uso de seu dinheiro ou morreu antes de se aposentar (veja Ec 2,18), como acontece com muitos.

Mas por alguma razão providencial, alguém que parecia ter tudo o que poderia querer nunca teve a oportunidade de desfrutá-lo.

Estava aqui hoje, mas amanhã não mais, e quando sumiu, passou tudo para outra pessoa — para alguém que o homem nem conhecia.

O Pregador chamou isso de “grave mal”. Também o descreveu como algo que “pesa sobre os homens” (Ec 6.1).

Essa expressão pode se referir à gravidade da situação, mas é mais provável que se refira à sua frequência.

Acontece o tempo todo: uma pessoa perde tudo pelo qual trabalhou tanto, e então vem alguém para usufruir aquilo. Como Davi escreveu em um de seus salmos: “amontoa tesouros e não sabe quem os levará” (Si 39.6).

Se houver algo de bom nessa situação infeliz, é o reconhecimento de que nossos bens jamais podem nos trazer alegria duradoura.

As dádivas que Deus nos dá e o poder para desfrutar dessas dádivas vêm separadamente.

E por isso que ter mais dinheiro jamais pode garantir qualquer alegria. Sem Deus, continuaremos insatisfeitos.

É somente quando o mantemos no centro de nossa existência que experimentamos uma alegria verdadeira com as dádivas que ele nos dá.

O temor do Senhor não é apenas o início da sabedoria; é também a fonte de satisfação.

  1. Aqui a morte seria melhor

Se a satisfação não é garantida, então talvez seria melhor estarmos mortos. E essa possibilidade sombria que o Pregador contempla a seguir:

Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele; pois debalde vem o aborto e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome; não viu o sol, nada conhece.

Todavia, tem mais descanso do que o outro, ainda que aquele vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem. Porventura, não vão todos para o mesmo lugar? (Ec 6.3-6)

Aqui o Pregador faz uma afirmação do tipo “melhor do que”, em que ele compara uma coisa com outra.

Nesse caso, ele compara um homem cuja vida é repleta de bênçãos com uma criança que nunca viu a luz do dia. Ele chega a duas conclusões:

(a) Bençãos e privilégios não satisfazem.

Dada a vaidade da vida neste mundo Caído. O pregador chega à amarga conclusão de que uma criança NATIMORTA leva o melhor fim nesse negócio.

O homem descrito nesses versículos tinha a melhor vida que qualquer um pudesse imaginar nos tempos do Antigo Testamento.

Eclesiastes não nos diz quão rico ele era, mas numa cultura que via filhos como benção do Senhor, ele havia gerado cem filhos e filhas.

Viveu também uma longa vida de dois mil anos. Ele viveu o dobro da idade de Matusalém (veja Gn 5.27). Ele é o ser mais privilegiado do mundo.

Mesmo assim, o homem não estava satisfeito, provavelmente porque não tinha Deus em sua vida.

Observe que era especificamente a sua alma que estava insatisfeita. Algo estava faltando em sua vida espiritual. Havia um buraco em seu coração.

Infelizmente, quando o homem morreu, ele não recebeu nem mesmo a honra de um enterro decente.

A Bíblia não nos diz por que o seu corpo não foi enterrado. Talvez tenha morrido numa batalha, ou talvez tenha sido desdenhado pela família.

Mas qualquer que tenha sido a razão, o fato de não ter sido enterrado teria levado muitas pessoas a concluir que ele se encontrava sob uma maldição de Deus.

Tudo isso serve para mostrar que uma pessoa pode ter as coisas das quais o homem sonha — o que, em termos do Antigo Testamento, significava muitos filhos e milhares de anos de vida — e mesmo assim partir despercebido, insatisfeito e sem ninguém para lamentar a morte.

Ao contemplar essa situação hipotética, o Pregador chega a cogitar o pensamento da não existência.

Uma pessoa pode ter tudo o que a vida tem a oferecer e mesmo assim sentir-se miserável.

Mas se estivermos tão infelizes com a vida, então talvez fosse melhor nunca ter vivido.

(b) A não existência seria a opção.

Assim, o Pregador chega a contemplar a estranha bênção do natimorto. A criança “vem em vaidade”, porque o seu nascimento é infrutífero (Ec 6.4). “Em trevas se vai”, porque morre sem jamais ter visto a luz do dia (cf. Jó 3.16).

Até o seu nome se cobre de trevas — não porque a criança não chega a receber um nome dos seus pais, mas porque a morte encobre a sua IDENTIDADE E PERSONALIDADE.

Ninguém jamais conhecerá o caráter ou as habilidades da criança. Tampouco a criança conhecerá este mundo: “não viu o sol, nada conhece” (Ec 6.5).

Talvez seja melhor assim. “É melhor abortar durante o parto”, diz um comentarista, “do que abortar durante toda a vida”.

A criança natimorta jamais precisa suportar dor ou ver sofrimento, ou lutar com a culpa de um pecado consciente.

E o melhor de tudo: a criança é a primeira a morrer e portanto, a primeira a encontrar o descanso eterno.

Esse pensamento tem dado pelo menos um pouco de conforto a muitos pais que sofreram a insuportável perda de um recém-nascido.

Ao contemplar esse pensamento aqui, o Pregador quase se sente tentado a invejar:

  • “Se essa vida é tudo, e se ela oferece as pessoas frustração em vez de satisfação,
  • sem nada que possam deixar para aqueles que delas dependem;
  • se, além disso, todos estão esperando a sua vez de serem apagados, então alguns realmente podem invejar os natimortos, por serem os primeiros na fila”.

Até mesmo alguém que vive dois milênios tem exatamente o mesmo fim do natimorto. A morte é o grande igualador. Não importa quanto vivemos, todos nós morremos em algum momento.

O famoso teólogo neo-ortodoxo Karl Barth aplicou essa dura verdade de forma muito pessoal.

Ele disse: “Algum dia, um grupo de homens fará uma procissão em direção ao cemitério e baixará um caixão na terra, e todos voltarão para casa; mas uma pessoa não voltará, e essa pessoa serei eu”.

Mas se no final todos nós morrermos, então qual é a vantagem de continuar a viver, especialmente quando a vida não é particularmente agradável?

Lembre-se de que, quando o Pregador diz tudo isso, ele está excluindo Deus por ora.

Está pensando, essencialmente, sob a perspectiva da vida sob o sol, não em termos da vida após a morte e de todas as promessas que Deus fez sobre a vinda do seu reino.

Esta vida não é tudo o que existe. Jesus provou isso quando morreu e ressuscitou, trazendo da escuridão do túmulo a luz da ressurreição.

Quando cristãos são enterrados — e quando enterram seus filhos pequenos — eles o fazem sempre na esperança certa e segura da ressurreição dos mortos.

Mas o pregador ainda não está pronto para nos dar esse evangelho. Em vez disso, está escrevendo para nos mostrar a nossa necessidade de Deus.

Ele o faz contando-nos que, não importa quanto tempo vivemos ou quanto dinheiro temos, ou quantas dadivas recebemos; tudo é sem sentido, a menos que possamos desfrutar disso, e nunca seremos capazes de desfrutar sem o poder e a presença de Deus.

  1. Aqui o apetite é insaciável

A insatisfação do Pregador ressurge nos versículos a seguir. Nos versículos 1-2 ele falou sobre um homem que tinha tudo o que queria na vida, exceto a chance de usufruir tudo isso.

Nos versículos 3-6 ele usa uma comparação para argumentar que, se não gozarmos a vida, melhor seria estarmos mortos.

Agora, ele questiona se algum dia estaremos satisfeitos:

Todo trabalho do homem é para a sua boca; e contudo, nunca se satisfaz seu apetite.

Pois que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Ou o pobre que sabe andar perante os vivos? Melhor é a vista dos olhos do que o andar ocioso da cobiça; também isto é vaidade e correr atrás do vento’. (Ec 6.7-9).

Se as pessoas têm dificuldades de se deleitar com a vida — se a satisfação não é garantida, independentemente de quanto tempo vivemos então talvez devamos evitar o desapontamento,exigindo menos dela.

O pregador ensina duas verdades sobre nossos desejos.

(a)O desejo alimenta frustrações.

O problema é que sempre temos apetite para mais. No versículo 7, o Pregador nos diz o que acontece quando alimentamos esse apetite: ficamos com fome de novo; os mesmos desejos voltam dia após dia.

Nós nos alimentamos para ter forças para o trabalho, para ganhar o nosso pão de cada dia, que então comemos para ter forças para voltar ao trabalho no dia seguinte, e assim continua, dia após dia.

Tampouco importa quão sábios somos ou quanto dinheiro temos – todos temos desejos insatisfeitos.

É melhor ser sábio do que tolo, é claro, mas até mesmo as pessoas sábias têm desejos que a vida não satisfaz plenamente.

Nem mesmo a pobreza nobre consegue nos livrar do desejo. O homem pobre descrito no versículo 8 é sábio o bastante para conhecer a maneira certa de viver.

Então, talvez ele consiga evitar todas as decepções das pessoas ricas, quando estas esperam que o dinheiro lhes dê sentido e propósito na vida.

No entanto, quando se trata de satisfazer o desejo, o pobre se decepcionará tanto quanto qualquer outro. Nem sabedoria nem pobreza garantem uma vantagem.

(b)O desejo é um vagabundo.

Normalmente, acreditamos poder encontrar satisfação em tudo o que a vida tem a oferecer — comida e bebida, música e beleza, família e amigos.

MAS O DESEJO É UM VAGABUNDO. Jamais satisfeito em ficar em casa, ele sempre sai para vagar pelo mundo. O desejo é um andarilho.

Essa é a imagem vívida do Pregador no versículo 9, em que ele fala “que é melhor se contentar com aquilo que os olhos veem”; do que “O ANDAR OCIOSO DA COBIÇA”.

Nossos desejos estão sempre a caminho, mas nunca alcançam o destino. Este é o desejo da alma humana: vagar, se aventurar cegamente.

Muitos mortos na tragédia do World Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001; teriam sobrevividos, se não tivessem voltado para buscar, seus pertences, como bolsas, celulares etc…

Um exemplo notável da insatisfação perpétua foi encontrado nas escavações da cidade de Pompeia.

Quando o vulcão Vesúvio irrompeu e Pompeia foi soterrada, muitas pessoas morreram, e as formas de seus corpos, suas posturas e, em alguns casos, suas expressões faciais foram preservadas pelas cinzas vulcânicas.

Os pés de uma mulher apontavam na direção do portão da cidade, em busca de segurança. Mas seu rosto estava voltado para trás, olhando para algo que se encontrava fora do alcance de seus braços estendidos.

Ela estava tentando agarrar uma bolsa de lindas pérolas.

Talvez ela tenha se lembrado subitamente que havia deixado as pérolas para trás ou visto que outra pessoa as deixara cair, tentando salvar sua vida a mulher ficou congelada numa postura de desejo inalcançável.

Todos nós sentimos esta tentação: a de perder a vida estendendo os traços para a morte tentando agarrar-nos em algo que acreditamos poder nos satisfazer — um colar de pérolas, talvez, ou algum outro tipo de joia.

Algumas pessoas se agarram em comida e bebida ou alguma outra substância que possam injetar em seus corpos, mesmo que isso cause a morte.

Outros deixam se seduzir pelo prazer sexual e nunca se sentem satisfeitos em seus casamentos, mesmo que isso os destrua moralmente.

Outros se voltam para seus brinquedos e jogos ou algum outro passatempo fútil como o futebol, mesmo que isso os torne insensíveis com as pessoas.

Ou talvez passem seu tempo simplesmente assistindo Netflix ou jogando no computador sem nenhum controle.

Mas não importa o que seja, nossos apetites vagantes estão sempre procurando algo para nos satisfazer.

A verdade é que apenas Deus consegue nos satisfazer plenamente — por meio de sua palavra, por meio de sua adoração e por meio da ajuda que vem do Espírito Santo quando o procuramos na oração.

É importante lembrar-se disso sempre que nos frustramos com algo na vida. Deus reservou um tipo de “PRAZER SUPREMO” especificamente para os exercícios espirituais.

Precisamos perguntar a nós mesmos;do que realmente precisamos? E lembrar-nos daquilo que realmente Deus quer nos dar.

Antes de comprar algo ou de comer alguma coisa, ou de iniciar qualquer coisa, é melhor conversar sobre tudo com o nosso Pai no céu dizendo algo como:

“Senhor, sabes como me sinto vazio neste momento.Ajuda-me a não fugir dos meus problemas, mas a entregá-los a ti.

Ensina-me que somente tu me bastas. E por meio de tua graça, dá-me a paz e a alegria que tens para mim em Jesus”.

  1. Aqui é sempre a mesma história.

Infelizmente, o autor de Eclesiastes ainda não estava pronto para orar sobre suas decepções com a vida. Em vez de se voltar para o Senhor, ele continuou com sua lista de queixas.

Ele já disse que a satisfação não é garantida. Ele se perguntou se não seria melhor estar morto e reconheceu a vida vagante de seu apetite insaciável.

Agora, ele diz que a vida é sempre a mesma e velha história até morrermos, e quem sabe o que acontece depois disso?

O pregador o formulou da seguinte maneira:

A tudo quanto há de vir já se lhe deu o nome, e sabe-se o que é o homem, e que não pode contender com quem é mais forte do que ele. E certo que há muitas coisas que só aumentam a vaidade, mas que aproveita isto ao homem?

Pois quem sabe o que é bom para o homem durante os poucos dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem pode declarar ao homem o que será depois dele debaixo do sol?(Ecl 6.10-12)

Esses versículos se encontram praticamente no centro de Eclesiastes, mas o Pregador continua dizendo as mesmas coisas que já disse no início do livro.

Ele o disse uma vez e o disse uma dúzia de vezes: não há nada de novo debaixo do sol. Por mais que o tempo passa, a coisas permanecem as mesmas.

Os nomes já foram atribuídos; tudo foi rotulado e categorizado. Além do mais, a condição humana é a mesma que foi desde a queda de Adão e Eva: é tudo vaidade; é correr atrás do vento; é aflição de espirito.

Esse lamento lembrou Martinho Lutero de um antigo provérbio alemão: “Assim como foram, as coisas continuam sendo; e como são, serão”.

Se estivermos infelizes com a situação atual, não faz sentido discutir com Deus sobre isso.

Parece ser isso que o Pregador queria dizer quando falou sobre discutir com alguém que é mais forte do que nós. O “mais forte” é o Deus Todo-poderoso.

Às vezes, as pessoas tentam discutir com Deus — como Jó, por exemplo — mas normalmente se arrependem disso mais tarde.

Após Deus lhe responder, Jó teve de confessar: “Na verdade, falei do que não entendia… Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.3,6).

Precisamos conhecer os nossos limites, e um dos nossos limites é que não possuímos sabedoria para ganhar de Deus numa discussão.

Não importa o que se diga, dizendo a Deus que ele deveria fazer isso ou aquilo, nossas palavras nunca conseguirão mudar o seu sábio plano para governar o universo.

Nas palavras de Derek Kidner: “Não importa quão sábias sejam as palavras que multipliquemos sobre o homem ou contra o seu Criador, os versículos 10 e 11 nos lembram que não podemos alterar a forma como nós e o nosso mundo foi feito”.”

Na verdade, quanto mais falamos, mais vazias as nossas palavras se tornam. Para nos manter em nosso devido lugar, o apóstolo Paulo perguntou: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!” (Rm 9.20).

Para não encerrar essa parte de seu livro com uma discussão, o Pregador termina com algumas perguntas retóricas:

Pois quem sabe o que é bom para o homem durante os poucos dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra?

Quem pode declarar ao homem o que será depois dele debaixo do sol?” (Ec 6.12). Essas são perguntas básicas sobre o sentido da vida e da morte. A primeira pergunta é sobre nossa existência atual.

O Pregador sabe que a vida é curta, como a sombra de uma nuvem que desliza pelo céu. Sabe também que a vida é vaidade, especialmente sem Deus. Ele tem dito isso repetidas vezes desde o início de Eclesiastes.

Mesmo assim, deseja saber como viver uma vida boa. Quer saber também o que acontece depois.

Por isso, sua segunda pergunta é sobre a vida vindoura. Quem sabe o que acontecerá depois, seja na terra ou no céu?

  1. Amanhã seremos coroados.

Com essas palavras no final do verso 12 desse capitulo; retornamos para onde Eclesiastes começou, com perguntas impossíveis sobre o sentido da vida.

O Pregador ainda não tem todas as respostas, razão pela qual algumas pessoas vêem esse capítulo como muito pessimista.

Para responder a essa perspectiva, ajuda lembrar onde nos encontramos Eclesiastes e onde nos encontramos na Bíblia como um todo.

O Pregador começou esse capítulo falando sobre o mal que havia visto “debaixo do sol.

Embora ele mencione o nome de Deus uma vez ou outra, ele tem contemplado a vida principalmente a partir de um ponto de vista humano, que é correto dentro de seus limites. Sim, sofremos muitas decepções na vida.

Temos também perguntas que nunca são respondidas satisfatoriamente. Mas entenda o propósito do Pregador:

ao falar abertamente sobre as nossas decepções com a vida, ele está tentando despertar o nosso desejo de Deus.

Algumas das nossas perguntas serão respondidas até o final do livro. Outras permanecerão em aberto por ora, mas são respondidas no EVANGELHO.

Isso vale, sobretudo, para a última pergunta do Pregador: Existe uma vida vindoura? Algumas pessoas negam isso, apesar de nunca poderem provar a sua posição.

Segundo a Associação Humanista Britânica, “a vida leva a nada, e cada pretensão contrária é uma ilusão”.

Mas como podemos saber que o céu é uma ilusão, que a vida eterna ‘uma mentira?

Alguns céticos são mais cautelosos. Podem não acreditar em um reino vindouro, mas sabem que não podem negar a possibilidade.

Assim, morrem na incerteza, como Rabelais, que disse: “Estou partindo à procura de um grande talvez”, ou Thomas Hobbes, que, com sua célebre frase, descreveu sua morte como “a última viagem, um grande salto no escuro”.

As Pessoas que acreditam na Bíblia sabem que não é assim. Se excluirmos Deus da equação se contemplarmos as coisas “debaixo do sol“, jamais teremos certeza daquilo que acontecerá quando morrermos.

Mas quando levamos a sério a Palavra de Deus e acreditamos nas promessas que fez na Bíblia, sabemos que existe uma vida após a morte. Após morrer por nossos pecados e ressuscitar, Jesus ascendeu ao céu.

Ele está lá para preparar um lugar para nós com ele na presença de Deus. O caminho para este lugar abençoado é simplesmente confiar em Jesus.

Se não houver céu, não há como escapar da vaidade da nossa existência. Nada importa. Nossos desejos jamais serão satisfeitos. Nossos apetites continuarão vagando para sempre.

Em decorrência disso, seremos tentados de vez em quando a pensar que melhor seria se estivéssemos mortos, e nenhuma queixa ou discussão mudará isso.

Mas se a vida for uma curta preparação para uma longa eternidade, então tudo importa, e haverá alegria para nós à direita de Deus.

A plena satisfação é a coroa da vida, que receberemos, ela representa tudo aquilo que Deus nos dará na vida eterna.

CONCLUSÃO:

Penso nessa alegria quando assisto com minha família os filmes sobre Nárnia: “O Príncipe Caspian e O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa — dois filmes baseados nos famosos livros infantis de C. S. Lewis.

O filme mostra a linda sala do trono em Cair Paravel, o lindo castelo de Nárnia. Quando vejo essa cena, penso nos meus filhos, passando por uma guarda de honra de anjos e criaturas magnificas; e se aproximaram do trono real.

Lá, diante deles, estão as coroas de ouro – acessórios gloriosos cinematográficos para os reis e as rainhas de Nárnia — com os nomes de Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia inscritos nelas.

Então ouvimos uma voz vinda do trono. Era a voz de Aslam, o grande leão que reina sobre a terra de Nárnia, dizendo: “Uma vez rei ou rainha em Nárnia, sempre rei ou rainha em Nárnia”.

Enquanto admiramos essas coroas, pensando no reino eterno, então eu brinco com minhas crianças: “Vocês gostariam de usar uma coroa?”. Vocês querem ser rei e rainhas? Elas sonham e brincam com isso…

E isso é muito mais que um sonho, isso é uma realidade próxima, e inevitável: e assim será pela fé em Cristo, pois nos garantiu isso!!

Bem ali, na corte de Cair Paravel, ou seja, podemos vê-las na sala do trono de Deus, prontas para receber as coroas eternas que nos foram prometidas em Cristo (veja 2Tm 4.8; 1 Pe 5.4; Ap 2.10).

Pudemos ver os nomes inscritos nelas: Eva Maria, a Pura; Efraim, o Justo; Ada Moriá, a destemida, Jaciana, a preciosa…

Há um rei no trono principal – o Leão da tribo de Judá – e em voz alta ele diz: “Eis que faço novas todas as coisas!” (Ap 21.5).

Assim será, pela graça de Deus, no último de todos os dias. Estamos aqui hoje, mas seremos coroados amanhã!

[i] Sermão adaptado do comentário de Eclesiastes, da Editora Cultura Cristã.

Acesse os sermões na categoria: Sermões Expositivos.