Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 01 – Nada tem sentido: Eclesiastes 1:1-2. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 25/03/2020.

INTRODUÇÃO

Um sociólogo conheceu uma senhora que vivia com seu filho, em um local para desabrigados, em um quarto, com três cadeados de aço na porta. A senhora estava morrendo, e a cada vez que o sociólogo vinha visitá-la, ela estava visivelmente mais fraca. Ela contava histórias do mundo suburbano da América sobre pobreza e injustiça, drogas, violência e estupro! A senhora contou histórias de crianças vizinhas que nasceram com AIDS e sobre o garoto de 12 anos de idade no ponto de ônibus, vítima de uma bala perdida que o paralisou. Ela lhe contou sobre o abuso físico que ela havia sofrido por parte do seu marido e sobre todas as dificuldades que pessoas pobres enfrentam para conseguir assistência médica na cidade.

A mulher e seu filho Davi, havia conversado sobre questões espirituais. E ele perguntou, então se Deus é tão poderoso e sábio, para criar animais, arvores e o homem, e lhe dá um cérebro capaz de construir maquinas complexas, mas não é poderoso para banir o mal da terra, e transformar os corações das pessoas.Então o sociólogo conversando com essa Senhora viu que tinha do seu lado uma bíblia, ele perguntou, que parte da Bíblia a senhora gosta de ler? “Eclesiastes”, ela respondeu. “Se você quiser saber respostas do que está acontecendo nestes dias, está tudo nesse livro”.

1. A mensagem sombria. Nem todos concordariam com essa senhora. Pois Eclesiastes parece assumir uma visão tão sombria da vida que algumas pessoas duvidam do valor espiritual de ler esse livro e chegam até a questionar se ele deveria ser incluído na Bíblia. Quando um dos rabinos antigos leu Eclesiastes, ele disse: “Ah!, Salomão, onde está a sua sabedoria? Suas palavras contradizem não só as palavras do seu pai, Davi; elas contradizem até a si mesmas!”. E em tempos mais recentes, estudiosos têm descrito o livro como “ponto fraco dos judeus tementes a Deus em tempos pré-cristãos”. Alguns chegaram até a duvidar se o seu autor tinha um relacionamento pessoal com Deus, já que sua “postura sombria sub-cristã” parece “tão distante da piedade do Antigo Testamento”.

O que, então, Eclesiastes está fazendo na Bíblia e por que deveríamos nos dar ao trabalho de estudá-lo? Por que devemos ouvir esses sermões? Essa senhora estava certa: Se quisermos saber o que está acontecendo hoje em dia, principalmente neste tempo da pandemia do Coronavírus. Se tivermos dificuldades de entender por que um Criador poderoso permite a presença do mal na terra como esse? Se tivermos dificuldades de encontrar uma solução para outras inconsistências da vida, encontraremos todas as respostas bem aqui nesse livro. Então por que precisamos ouvir Eclesiastes?

(a) Porque ele é honesto sobre as dificuldades da vida.O livro é tão honesto que até os grandes novelistas poderiam chamá-lo de “o mais verdadeiro de todos os livros”. Melhor do que outra parte da Bíblia, Eclesiastes representa a futilidade e frustração de um mundo sem Deus.  É honesto sobre a dureza do trabalho, sobre a injustiça do governo, sobre a insatisfação do prazer tolo e sobre o tédio entorpecedor da vida cotidiana — “a esteira da nossa existência”. Tente ver Eclesiastes como o único livro da Bíblia escrito na manhã de uma segunda-feira. Sua leitura nos ajuda a ser honestos com Deus sobre os problemas da vida — até mesmo para aqueles de nós que confiam na bondade de Deus.

Na verdade, um dos estudiosos descreve Eclesiastes como “um tipo de porta dos fundos”, permitindo ao cristão ter pensamentos tristes e céticos, que normalmente não permitimos entrar pela porta da frente da nossa fé”. Deveríamos estudar Eclesiastes também para aprender o que acontecerá conosco se escolhermos aquilo que o mundo tenta nos oferecer no lugar daquilo que Deus nos dá.

O autor desse livro tinha mais dinheiro, gozava de mais prazeres e possuía mais sabedoria humana do que qualquer outra pessoa no mundo, mesmo assim, tudo terminou em FRUSTRAÇÃO. O mesmo acontecerá conosco se vivermos para nós mesmos e não para Deus. “Por que cometer seus próprios erros”, pergunta o autor, “quando vocês podem aprender com um expert como eu?”‘

(b)Porque faz as perguntas maiores e mais difíceis que as pessoas fazem. Embora existem debates sobre a data em que esse livro foi escrito. Mas não importa se ele foi escrito durante os dias de glória do império dourado de Salomão ou mais tarde, quando Israel estava no exílio. Ele trata de perguntas que as pessoas sempre fazem:

Qual é o sentido da vida?

Por que estou tão infeliz?

Deus realmente se importa?

Por que existe tanto sofrimento e tanta injustiça no mundo?

Vale a pena viver a vida?

Este é o tipo de perguntas intelectuais e práticas que o livro levanta. Nele a sabedoria é seu acampamento base. O autor do livro é um explorador. Ele se preocupa com as fronteiras da vida e, sobretudo, com as perguntas que a maioria de nós teria medo de levar até às últimas consequências”. Ele também não se contenta com o tipo de respostas fáceis que as crianças costumam ouvir na escola dominical. Na verdade, parte de seu conflito espiritual se volta justamente contra as próprias respostas que ele sempre deu. Ele era como um aluno que sempre diz: “Sim, mas que questiona tudo…”.

(c) Porque ele nos ajudará a viver do modo que agrada a Deus e que nos faz completamente felizes. E aqui está outra razão para ouvir a exposição de Eclesiastes: o livro nos ajudará a adorar o único Deus verdadeiro.

Apesar de todas as decepções tristes e dúvidas céticas, esse livro nos ensina muitas grandes verdades sobre Deus. Ele o apresenta como Criador Poderoso e Senhor Soberano, o rei transcendente e Todo-poderoso do universo. Portanto, a leitura de Eclesiastes nos ajudará a crescer no conhecimento de Deus. Ao mesmo tempo, esse livro nos ensina como viver para Deus e não apenas para nós mesmos. Ele nos oferece alguns dos princípios básicos que necessitamos para construir uma visão do mundo centrada em Deus, como a bondade da criação e a nossa dependência absoluta do Criador.  Então, na base desses princípios, Eclesiastes dá muitas instruções específicas sobre questões do dia a dia como dinheiro, sexo e poder.Também tem muito a dizer sobre a MORTE, que pode ser a questão mais prática de todas.

Resumindo: há muitas razões boas para ouvir Eclesiastes. Isso vale especialmente para todos aqueles que ainda estejam tentando decidir em quê acreditar e no que não acreditar. É um livro para CÉTICOS e AGNÓSTICOS, para pessoas em busca do sentido da vida, para pessoas que estão abertas para Deus, mas não sabem se podem confiar na Bíblia. Se Eclesiastes serve como PORTA DOS FUNDOS para cristãos que, às vezes, têm dúvidas sobre essas questões da existência. O livro serve também como PORTÃO DE ENTRADA para algumas pessoas que desejam entrar em um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, que leva à vida eterna, razão pela qual, para algumas pessoas, ele acaba sendo o livro mais importante que já leram.

2. A autobiografia do pregador. Uma vez que começamos a ler Eclesiastes para nós mesmos, a primeira pergunta que precisamos ponderar é quanto à sua autoria. Quem escreveu esse livro? O primeiro versículo parece nos dar a resposta, mas ele suscita também uma série de perguntas. Diz: “Palavra do Pregador” (Ec 1.1). Isso parece bastante claro, só que “Pregador” não é a única possibilidade de traduzir o nome hebraico Kohelet. Alguns tradutores se referem ao autor como o Mestre, o Filósofo, o Porta-voz. Outros preferem não traduzir seu nome e simplesmente o chamam de Kohelet. Então, que tradução deveríamos escolher?

Kohelet é um hebraico perfeitamente adequado, mesmo que ninguém saiba exatamente como traduzir a palavra para o português. “Mestre” também é apropriado, em vista daquilo que é dito no final do livro, isto é, que ele “ensinou ao povo o conhecimento” (Ec 12.9).Kohelet era um professor público. No entanto, “Pregador” pode, mesmo assim, ser a melhor tradução de todas. Deixe-me explicar. A raiz hebraica da palavra kohelet significa literalmente “colecionar, reunir”. Alguns estudiosos entendem isso como referência ao modo como o autor colecionou vários provérbios e outros ditos sábios, reunindo-os em um livro.

No entanto, não é assim que essa forma da palavra é usada em outras partes da Bíblia ou na literatura hebraica. Em vez disso, o verbo kohelet se refere à reunião ou a uma assembleia, uma comunidade de pessoas, principalmente para adorar a Deus. Então, Kohelet não é tanto um mestre numa sala de aula, todavia mais como um pastor em uma igreja. Ele está pregando sabedoria a um ajuntamento do povo de Deus. Esse contexto se reflete claramente no título que costuma ser dado a esse livro em português.

“ECLESIASTES” é uma forma derivada da palavra grega EKKLESIA, que é a palavra que o Novo Testamento costuma usar para “igreja”. Uma EKKLESIA não é o prédio de uma igreja, mas uma congregação — uma reunião ou assembleia de pessoas para a adoração de Deus. A palavra “eclesiastes” é a tradução grega da palavra hebraica kohelet. Ela significa literalmente “ALGUÉM QUE FALA NA EKKLESIA— ou seja, na assembleia ou congregação. Kohelet é, então, o título ou apelido de alguém que fala na igreja. Em uma palavra: ele é o “Pregador“.

Nesse caso, podemos ser até mais específicos ainda, pois o Pregador é identificado também como “filho de Davi, rei de Jerusalém” (Ec 1.1). Naturalmente, pensamos primeiro no rei Salomão, pois apesar de muitos reis terem vindo da linhagem de Davi, Salomão é o único filho imediato do rei Davi que reinou depois dele em Jerusalém. Além do mais, muitas coisas que o pregador nos conta sobre a sua vida soam exatamente como a vida do rei Salomão.

Quem mais diria: “eis que me engrandeci e sobrepujei em sabedoria a todos os que antes de mim existiram em Jerusalém” (Ec 1.16; cf. 2.9)? Salomão, é claro, pois Deus lhe prometeu um “coração sábio e inteligente”, de maneira que antes dele não houve igual, e riquezas sem igual (veja 1Rs 3.12-13). E então, quando o Pregador procede descrevendo as casas que construiu, os jardins que plantou e as mulheres que teve como concubinas, somos lembrados do poder e do luxo do rei Salomão. A descrição do Pregador no fim do livro, dizendo quem, “atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios” (Ec 12.9; cf. 1 Rs 4.32), também corresponde exatamente a Salomão, que se encaixa no contexto de Eclesiastes muito melhor do que qualquer outro rei de Israel.

Desde os primórdios da igreja, muitos mestres têm identificado o Pregador com Salomão. Após afastar-se de Deus e cair em pecado trágico, Salomão se arrependeu de seus caminhos pecaminosos e retornou para o temor certo e apropriado de Deus. Eclesiastes é o conjunto de suas memórias— um relato AUTOBIOGRÁFICO daquilo que aprendeu em sua tentativa fútil de viver sem Deus. Na verdade, o livro é seu último testamento, escrito talvez para levar seu filho ROBOÃO para a direção espiritual certa.

Em tempos mais recentes, alguns estudiosos bíblicos têm questionado Salomão como autor de Eclesiastes. Pois o livro não cita seu nome. Ele faz criticas aos reis que oprimi os pobres, como ele fez quando se desviou. O livro é escrito na primeira pessoa. “Foi isto que eu vi”, diz o Pregador, “foi isto que eu disse em meu coração”. No entanto, no fim do livro, ele é mencionado na terceira pessoa: “O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento”, etc. (Ec 12.9ss.).

Por isso, muitos estudiosos concluem que, em algum momento, Eclesiastes teve um redator, e alguns acreditam que o livro foi escrito após os dias de Salomão, possivelmente durante o exílio de Israel na Babilônia ou ainda mais tarde. Na antiguidade era comum as pessoas escreverem autobiográfica fictícias que se baseava em alguma figura histórica.Mesmo se isto for considerado, não podemos negar que TODOS NÓS VESTIMOS O MANTO DE UM SALOMÃO. Pois não existe uma figura melhor do que o rei Salomão PARA ILUSTRAR A FUTILIDADE DE UMA VIDA SEM DEUS? O homem possuía tudo o que uma pessoa pudesse desejar. MAS O MUNDO NÃO BASTA.  Se ele não pôde satisfazer o rei mais rico e mais sábio do mundo, o mundo jamais satisfará qualquer outra pessoa.

Mas a julgar pelo testemunho interno do texto, Eclesiastes foi escrito pelo próprio Salomão; esta é a maneira mais natural de ler o texto bíblico. Nunca podemos perder de foco a autoria divina de Eclesiastes são as palavras inspiradas pelo Espírito Santo. O final do livro nos diz que, qualquer que seja a sabedoria que encontrarmos nesse livro, esta foi dada “pelo único Pastor” (Ec 12.11), ou seja, por Deus. Além do mais, a vida de Salomão é claramente apresentada como contexto bíblico daquilo que lemos em Eclesiastes.

O pano de fundo do livro — e precisamos vê-lo deste ponto de vista — é a história que lemos sobre Salomão em 1Reis e outros textos. Quando lemos essa história com cuidado, descobrimos — com certa surpresa — que “Pregador” é um título muito apropriado para Salomão. Ele era o rei, é claro, por isso, não costumamos imaginá-lo como um pregador.

No entanto, quando Salomão consagrou o templo em 1 Reis 8, a Bíblia diz que ele “CONGREGOU” Israel (v. 1), e então repete várias vezes que os israelitas formaram uma “ASSEMBLEIA” (p. ex., v. 14 NVI). Assim, a terminologia em 1Reis 8 é intimamente relacionada à terminologia de Eclesiastes 1, em que lemos as palavras de Kohelet (pregador) — da pessoa que se dirige à assembleia.  Eclesiastes é o SERMÃO de Salomão dirigido ao povo que se reuniu para a adoração de Deus. Os PURITANOS, não diziam que iam ao culto, mas ao Sermão, pois se reuniam para ouvir o pregador.

3.Qual a mensagem do pregador. O que, então, diz o Pregador? Suas palavras iniciais dificilmente podem ser consideradas encorajadoras: “Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2). Com esses superlativos concisos, o pregador resume toda a soma da existência humana e declara que tudo é sem sentido. Ele usa os próximos 12 capítulos para provar essa declaração, de maneira detalhada, para então retornar para a mesma afirmação: “Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade” (Ec 12.8).

Assim como o nome Kohelet, a palavra “vaidade” é notoriamente difícil de definir. Mas já que ela aparece dezenas de vezes no livro de Eclesiastes, é importante que entendamos essa “METÁFORA DE MÚLTIPLOS PROPÓSITOS”. Em seu sentido literal, a palavra hebraica hevel se refere a um respiro ou vapor, como uma baforada de fumaça que se levanta de um fogo ou corno a nuvem de vapor que sai de um hálito quente numa manhã fria.

A vida é assim. Ela é elusiva, efêmera e enigmática. Uma bolha de sabão. A vida possui tão pouca substância que, quando tentamos agarrá-la, ela escapa por entre os dedos. A VIDA TAMBÉM É TRANSITÓRIA. Ela desaparece tão repentinamente quanto surge. Agora você a vê, no momento seguinte, já não a vê mais. Estamos aqui hoje, e amanhã desaparecemos. Por isso, a Bíblia compara muitas vezes a nossa existência mortal com um vapor. De acordo com o salmista, somos “UM SOPRO” (Si 39.5 NVI); nossos dias “se dissipam num sopro” (S1 78.33; cf. Jó 7.7).

O apóstolo Tiago disse algo semelhante quando descreveu a vida como “neblina que aparece por instante e logo se dissipa”(Tg 4.14). Então, quando o Pregador diz “vaidade de vaidades”, ele também está fazendo um comentário sobre a TRANSITORIEDADE DA VIDA. Inspire; agora, expire. A vida passa rápido assim. Assim somos um sopro. Algumas versões traduzem essa palavra literalmente e usam termos como “vapor” ou “fumaça” para a palavra hebraica hevel. A Bíblia “A MENSAGEM” que é uma paráfrase diz 1.2: “Fumaça, nada além de fumaça. Não há nada em qualquer coisa — tudo é fumaça”.

No entanto, quando analisamos como a palavra é usada no livro, ela assume um significado mais amplo. A palavra hevel vem a expressar o absurdo e a futilidade da vida num mundo caído. Assim, na NVI o Pregador diz: “Que grande inutilidade! Sem sentido! Sem sentido! Totalmente sem sentido! Nada faz sentido”. Mas, talvez, a antiga versão King James e traduções mais recentes expressam da melhor forma que a nossa língua nos permite: “Vaidade de vaidades”. Quando empregamos a palavra “vaidade” desse modo, dizemos que as nossas vidas curtas são marcadas de FUTILIDADE VAZIA, que é o que pregador diz em todo seu livro.

Observe o amplo escopo de sua reivindicação: “tudo é vaidade” (Ec 1.2). Não existe um único aspecto da existência humana que não seja frustrado pela futilidade. TUDO É VAZIO, SEM SENTIDO, INÚTIL E ABSURDO. Para demonstrar essa verdade, o Pregador analisará tudo que as pessoas costumam usar para dar sentido ou encontrar satisfação na vida e então demonstrará como tudo isso é vazio. Ao fazê-lo, ele falará de experiência própria, pois ele tentou tudo — dinheiro, prazer, sexo, conhecimento, status e poder.

Algumas pessoas tentam encontrar sentido naquilo que conseguem SABER e aprender sobre a vida, mas quando o Pregador tentou adquirir conhecimento, ele descobriu que “na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza” (Ec 1.18). Algumas pessoas acreditam que se contentarão com todos os prazeres que o DINHEIRO pode comprar.

O Pregador era rico o bastante para realizar um experimento minucioso também nessa área, mas no fim teve de reconhecerque “tudo era vaidade é correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (Ec 2.11). Ele mergulhou no TRABALHO, tentando fazer algo significativo com sua vida ou construir uma reputação para si mesmo, mas isso também acabou aborrecendo a sua alma; ele nada tinha para apresentar como fruto de seu trabalho pesado. Mais cedo ou mais tarde, todos nós fazemos a mesma experiência. Tentamos encontrar o sentido da vida, mas, no fim, nossas mãos estão vazias.

Nós nos entregamos a determinados prazeres apenas para ficar ainda mais insatisfeitos. Ou nos sentimos infelizes porque acreditamos que jamais conseguiremos fazer algo importante ou ser alguém especial.E então há a maior vaidade de todas as mais vazias das futilidades — a morte, em toda sua terrível finalidade. A MORTE É A VAIDADE DE TODAS AS VAIDADES. O que agrava as coisas ainda mais para o Pregador é que, de alguma forma, Deus está por trás de tudo isso.

O pregador não é um cético, ele jamais abre mão de sua fé no poder e na soberania de Deus. Mas em vez de fazê-lo sentir-se melhor, a verdade da existência de Deus parece piorar tudo, pois haverá um ajuste de contas no final. Quaisquer frustrações que ele tem com o mundo são também frustrações com a criação de Deus, que também não o satisfaz. Que esperança, então, pode ele ter de que a vida em algum momento possa passar a fazer sentido? Todos que já sentiram que não vale a pena viver a vida — que nada jamais transcorre como desejamos ou esperamos deve saber que nesse momento só Deus consegue fazer a diferença — sabem exatamente do que o Pregador estava falando.

  1. A SUMA DE TUDO

Em vista de tudo que Eclesiastes diz sobre a vaidade da vida, poderíamos achar que o livro é deprimente. Algumas pessoas diriam que o Pregador é pessimista demais, mas o pessimismo mediano é, na verdade, realista. Sem dúvida, as experiências da vida lhe ensinaram a adotar uma visão mais sombria.  Ele ainda crê em Deus, portanto, não é ATEU, nem mesmo AGNÓSTICO. Mas há momentos em que ele parece assumir uma POSTURA CÍNICA OU ATÉ FATALISTA.

Alguns chegam a descrever o pregador como CÉTICO AMARGURADO. Caindo no abismo do desespero. Nada restando senão sucumbir a uma profunda e resignação existência trágica. Será que realmente podemos confiar que alguém assim por nos ensinar alguma sabedoria para a vida? Parece que não há progresso espiritual e intelectual, ele é cíclico; pois o livro termina exatamente onde começou e falando que nada faz sentido.

Ele aparenta levantar questões das quais não tem respostas satisfatórias. Parece desorganizado, diz uma coisa e depois parece contradizê-la. Uma pessoa começou a escrever e parece que outra terminou, uma era cética e outra era ortodoxa; pois somente nos últimos seis versículos ele fala do que realmente vale a pena. Mas é exatamente isso que o pregador tinha em mente desde o início.Apesar do pregador assumir uma postura cética e complexa da vida.

Ele demonstra uma única esperança sólida na bondade de Deus e uma alegria duradoura diante da beleza de suas muitas dádivas. É exatamente por isso que ele nos apresentou a futilidade de todas as coisas terrenas: para que depositássemos nossa esperança no Deus eterno. O Pregador alude a seu PROPÓSITO EVANGELÍSTICO usando uma expressão importante quase 30 vezes ao longo de seu discurso: “DEBAIXO DO SOL”.

Ao descrever o absurdo e a futilidade do trabalho e da sabedoria, do prazer e de todo o resto, ele diz repetidas vezes que é assim que as coisas são “debaixo do sol” (p. ex., Ec 1.3). É assim que a vida é quando a contemplamos de um ponto de vista meramente humano, quando limitamos nosso olhar nas dadivas da criação, sem nunca ter um relacionamento pessoal com o Criador.

Se isso for tudo que vemos, então a vida nos deixará vazios e infelizes. Mas se olharmos para Deus com referência e temor, somos capazes de ver o sentido da vida, a beleza de seus prazeres e o significado eterno de tudo o que fazemos, incluindo as pequenas coisas do dia a dia. Apenas assim podemos descobrir por que tudo importa. Vislumbramos essa perspectiva eterna ao longo de todo o livro de Eclesiastes, mas ela se evidencia de forma ainda mais clara no final.

A VAIDADE NÃO TEM A ÚLTIMA PALAVRA. O autor diz: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem” (Ec 12.13). Semelhantemente, o livro de Provérbios diz: “O temor do SENHOR é o princípio do saber” (1.7). Aqui, em Eclesiastes, Salomão diz que O TEMOR DE DEUS É NÃO SÓ O INÍCIO, MAS TAMBÉM O FIM — o propósito de nossa existência. Mas a fim de conhecer e se apreciar Deus adequadamente, precisamos primeiro reconhecer que a vida é vazia sem ele, perdendo qualquer ilusão referente a tudo que o mundo tem a oferecer.

Com isso em mente, Eclesiastes nos apresenta uma avaliação verdadeira de como é a vida longe da GRAÇA DE DEUS. Isso faz dele um livro esperançoso, e não deprimente; no fim das contas, sua visão do mundo é positiva, não negativa.  Como um bom pastor, o pregador nos mostra a vaidade absoluta de uma vida sem Deus, de forma que finalmente desistimos de esperar que coisas terrenas nos deem uma satisfação duradoura e aprendamos a viver para Deus e não mais para nós mesmos.

CONCLUSÃO

Certa vez, o grande pregador inglês John Wesley fez sermões sobre este grande livro da Bíblia. Em seu diário pessoal, ele descreveu como foi dar início a essa série de sermões. “Comecei a expor o livro de Eclesiastes”, ele escreveu. “Nunca tive uma visão tão clara de seu significado e de suas belezas. Tampouco imaginei que suas diversas partes eram conectadas de forma tão requintada, todas elas com o propósito de demonstrar a grande verdade de que não existe felicidade sem Deus.”

O que Wesley descobriu foi uma verdade transformadora, e podemos orar para que Eclesiastes ensine também a nós.Jamais encontraremos qualquer sentido verdadeiro ou felicidade duradoura a não ser que a encontremos em Deus. Se aprendermos bem essa lição, ela nos aproximará de Jesus, o Filho de Deus. A Bíblia diz que, por causa do nosso pecado, a criação “ESTÁ SUJEITA À VAIDADE”(Rm 8.20). Quando a bíblia diz “vaidade”, ela usa a tradução padrão para a palavra que encontramos em Eclesiastes – o termo hebraico para vapor ou vaidade (hevel). É por isso que a vida sempre é tão frustrante, às vezes parece tão sem sentido: é tudo por causa do pecado. Mas Jesus sofreu a maldição do pecado em toda sua futilidade quando morreu na cruz (veja Gl 3.13).

Agora, pelo poder da sua ressurreição, o vazio da vida debaixo do sol será revertido: “a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.21). Assim, Eclesiastes nos ajuda a reconhecer a nossa necessidade do evangelho de Jesus, que é a razão mais importante de todas para estudá-lo.

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