Sermão Nº 4 – Na mira da graça. Referência: Jonas 1:5-6. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 03/02/2019

INTRODUÇÃO

No romance O homem com a máscara de ferro, de Alexandre Dumas, o príncipe Felipe sofre na prisão enquanto seu irmão gêmeo, Luís XIV, ocupa o trono da França. Felipe é obrigado a usar uma máscara de ferro que esconde sua identidade. O livro de Jonas também nos fala de um homem que perdeu sua identidade, mas por razões diferentes. Jonas, o profeta, foge da presença do Senhor para evitar a ordem de Deus para pregar na odiada cidade de Nínive. Ao embarcar num navio para a distante cidade de Társis, Jonas espera poder se esconder no porão. Na história de Dumas, o príncipe Felipe é descoberto e levado ao trono da França pelos três mosqueteiros; no caso de Jonas, é a mão soberana de Deus que revela a identidade do profeta, desafiando-o a retomar seu chamado como profeta do Senhor.

I – QUANDO O MUNDO SE DESESPERA.

Fugindo do Senhor, Jonas comprou sua passagem para a viagem a Társis. Quando o navio se afastou do porto, seu plano de escapar de Deus parecia ser um sucesso. Mas Jonas ignorou a persistência soberana do Senhor. Jonas 1.4 nos diz: “Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar“.

  1. Orando sob circunstâncias extremas

É normal um passageiro ficar com medo diante de uma tempestade no mar, mas marinheiros estão acostumados a ventos violentos e ondas grandes. A preocupação dos marinheiros mostra que essa tempestade era terrível e que representava uma ameaça séria ao navio e às suas vidas: “Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus” (Jn 1.5). Esses marinheiros são um exemplo da tendência natural do homem de se lembrar de Deus apenas sob circunstâncias extremas. Podem não existir ateus nas trincheiras, mas, no fim da batalha, a maioria desses convertidos “sob o fogo cerrado do inimigo” retorna para a descrença. Isso explica muitas das provações desse mundo: em sua misericórdia, Deus tenta chamar a atenção dos homens. Calvino observa: “É difícil uma religião surgir no mundo quando Deus nos deixa em condições tranquilas. O medo nos compele, mesmo contra a nossa vontade, a vir a Deus”. Essa tendência aponta para um dos aspectos em que os cristãos verdadeiros se distinguem do restante da humanidade. O cristão possui uma fé que resiste a todos os temporais. O espírito de oração verdadeiro não é invocado apenas no meio do terror, mas surge diariamente de nosso relacionamento amoroso com o Deus que viemos a conhecer e no qual confiamos.

  1. Perdendo tudo para ganhar a vida.

Os marinheiros fizeram mais do que apenas orar. Devemos sempre combinar nossas orações com o trabalho que nos foi dado, e nesse sentido os marinheiros devem nos servir como exemplo: “… lançavam ao mar a carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela” (Jn 1.5). Era, provavelmente, muita carga que eles lançaram ao mar. O propósito desses navios era transportar bens de um lugár para outro; portanto, os marinheiros estavam jogando fora não só suas posses, mas também seu lucro. Isso revela o relacionamento entre nossa vida e nossos bens, uma diferença que tendemos a esquecer com facilidade. A carga representava o sucesso de muito trabalho e esperanças de riquezas futuras. Mas, com sua vida em risco, os marinheiros não hesitaram e jogaram fora suas posses para aumentar um pouco a sua chance de se salvar. Isso vale igualmente para aqueles que possuem muito, quanto para aqueles que têm pouco. O rei Ricardo III da Inglaterra exclamou em meio à sua derrota na batalha: “Meu reino por um cavalo!”. Qualquer um de nós também abriria mão de posse ou dinheiro para salvar a vida. E, mais do que isso, as posses não definem nem mesmo a qualidade de nossa vida. Jesus disse: “… a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Inúmeras pessoas têm refletido sobre essa verdade após a ocorrência de uma tragédia. Uma certa pessoa contou seu retorno para sua casa demolida após ser atingida pelo mar de lama da quebra da Barragem de Brumadinho em MG. Olhando para a casa demolida e os móveis esmagados e para as fotografias espalhadas, ele percebeu que eram apenas objetos; o que importava era sua vida. Como é grande a tolice com que acumulamos abundância material, em busca do prazer passageiro de roupas, móveis e brinquedos novos, enquanto dedicamos tão pouco esforço às questões da alma.

  1. Perdendo tudo, mas não abrindo mão do pecado.

As ações dos marinheiros aterrorizados revelam também a superficialidade com que a maioria das pessoas vê seus problemas. Eles revelam como frequentemente e superficialmente tratamos nossos pecados. A raiz do problema aqui não era o peso da carga, nem mesmo a violência da tempestade. Homens pensam nesses termos, focando sua atenção em circunstâncias e suas soluções mais evidentes, mesmo que sejam custosas, mas não tem a mesma disposição para fazer o que realmente deve ser feito. O problema do navio a caminho de Társis era o pecado que se escondia em seu porão. Nossos verdadeiros problemas estão escondidos nos baús lacrados, dos porões do nosso coração. Semelhantemente, os problemas da humanidade resultam da culpa e da miséria provocadas pelo pecado. Assim como os marinheiros na tempestade, ESTAMOS INTEIRAMENTE DISPOSTOS a procurar a ajuda de Deus para afastar o perigo. MAS RARAMENTE TEMOS A MESMA DISPOSIÇÃO para buscá-lo para que nossos pecados sejam removidos. Lançamos ao mar os bens e a carga, mas a tempestade continua a nos castigar, porque o pecado continua a dominar o coração daqueles que se encontram a bordo do navio da vida. Nada pesa tanto quanto o fardo do pecado. O problema é que amamos mais o pecado, do que a nossa própria vida.

Quando se vive no pecado, estamos dispostos a ter todo tipo de perda, menos lidar com os nossos pecados. Um alcoólatra, ou qualquer outro viciado; é capaz de jogar no mar, o emprego, os bens, a família, mas não quer lidar com a idolatria do vício. Uma pessoa amargurada, tenta aliviar a carga jogando no mar, o peso do relacionamento que causou a dor, para evitar o confronto e o perdão. Tem ouvido as pessoas dizerem tenho vontade de sumir, de acabar com minha vida, menos a disposição de mudar de vida, de se humilhar e ser transformada. Estamos dispostos a fazer qualquer coisa, menos tratar o pecado escondido no porão do nosso coração.

 

 II – QUANDO MUNDO ORA.

O exemplo dos marinheiros na tempestade nos serve como lição sobre a religião natural. Mostra que homens não regenerados estão cientes de Deus.

  1. A universalidade da oração.

A natureza manifesta Deus claramente, especialmente no poder de grandes fenômenos como furacões e tempestades violentas. Os marinheiros, a maioria deles devia ser fenícia, entenderam instintivamente que um poder divino pessoal estava por trás da tempestade. A razão pela qual essa natureza revela a existência de Deus é que Deus a criou para este propósito. Paulo diz: “… o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou” (Rm 1.19). Além do mais, a “UNIVERSALIDADE DA ORAÇÃO” no meio de tempestades mostra que o homem sabe que Deus é capaz de ajudar e que, solicitado de modo apropriado, ele também está disposto a ajudar. Mas a religião natural possui um limite fatal, demonstrado também pelos marinheiros. Apesar de saberem que Deus existe, eles não conhecem Deus. “… clamavam cada um ao seu deus” (Jn 1.5) é outra maneira de dizer que cada marinheiro clamou para qualquer deus que acreditava poder ajudar. Eram como os atenienses do tempo de Paulo que não só produziram ídolos para cada deus de sua imaginação, mas também tentaram se garantir com um ídolo “para o deus desconhecido” (At 17.23). Sua atitude se revela no pedido do capitão do navio a Jonas: “Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos” (Jn 1.6). O que ele quis dizer era, em outras palavras: “Talvez você conheça um deus que pode nos ajudar. Então, tente!”. Isso mostra que a multidão de deuses falsos adorados no nosso mundo existe por causa da ignorância do único Deus verdadeiro. O núcleo da idolatria é o problema trágico de que, apesar de saber que Deus existe, o homem não o conhece.

  1. A abordagem da oração.

Uma segunda limitação se mostra em sua abordagem à oração. Assim como não sabem a quem devem orar, os homens naturais também não sabem sob quais termos suas orações podem ser respondidas. “Eles não sabem se seus gritos suscitarão qualquer resposta; eles repetem suas orações, mas não sabem se elas se perdem no ar ou se realmente chegam a Deus”. São esses os dois grandes problemas da humanidade que apenas o cristianismo pode resolver. A revelação natural, por meio da manifestação de que existe um Deus, não nos diz quem ele é. É por isso que Deus nos deu sua revelação especial por meio da Bíblia. Deus, tendo se revelado por meio dos profetas e dos apóstolos, nos deu sua revelação última por meio de seu Filho, Jesus Cristo (veja Hb 1.2). Quando aprendemos sobre Jesus na Bíblia e quando o Espírito Santo imprime sua verdade em nosso coração, recebemos um conhecimento pessoal de Deus. Jesus disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). Paulo escreve que Jesus “… é a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15). Aquele que crê em Cristo conhece, portanto, o Deus ao qual ora, pois sua salvação envolve um relacionamento pessoal com o Pai celestial. E mais: o cristão conhece os termos sob os quais ele espera que suas orações sejam ouvidas. Visto que o Filho de Deus morreu por nossos pecados, o cristão que ora em nome de Jesus sabe que, reconciliando-se com Deus Pai, suas orações são recebidas por Deus como orações de um filho amado. Orando em nome de Cristo, dizemos: “Pai nosso, que estás no céu” (Mt 6.9).

III. QUANDO A IGREJA DORME.

Foi precisamente para transmitir esse conhecimento aos pecadores que Deus chamou Jonas para pregar na grande e má cidade de Nínive. Agora, no navio a caminho de Társis, Jonas era o único que podia dizer aos marinheiros o que eles precisavam saber. O problema é que, enquanto os pagãos estavam ORANDO, Jonas estava DORMINDO: “Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente” (Jn 1.5).

Uma situação surpreendente, em vista da violência da tempestade. É difícil explicar como, em meio a essa tempestade, Jonas conseguia dormir no porão. Mas, vejamos: 

  1. Uma falsa segurança.

Talvez o estresse e a ansiedade de sua fuga de Deus haviam deixado o profeta exausto. Lá no porão do navio, ele, de alguma forma, conseguiu continuar dormindo a despeito da tempestade violenta. Não importa como o expliquemos, o sono de Jonas é notável naquilo que diz sobre seu estado espiritual. Acreditando que havia escapado da presença de Deus, Jonas não estava ciente do perigo que se aproximava. Ele dormia o sono daquele que se convenceu de que estava seguro, quando, na verdade, se encontrava em grande perigo. Quantos de nós iguais a ele existem? Quantos crentes acreditam estar a salvo em sua rebelião ou seus pecados. A vida parece boa, seus negócios parecem seguros e tudo parece prosperar. Mas, enquanto isso, a tempestade se aproxima. Na verdade, os cristãos podem ser os mais presunçosos nesse sentido, pois conhecem a bondade de Deus. Apesar de estarem alimentando pecados ou negligenciando obrigações espirituais essenciais, eles continuam complacentes consigo mesmos. “Deus me perdoará”, pensam, “porque é isso que Deus faz”. É verdade que a Bíblia revela um Deus paciente e perdoador. Mas a experiência de Jonas nos lembra de que a santidade de Deus exige que os incrédulos PRESTEM CONTAS de seus pecados e que seu povo se ARREPENDA de seus pecados. O escritor de Hebreus afirma: “… o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quein recebe” (Hb 12.6).

  1. Uma falsa sensação de paz.

O fato de que podemos desfrutar um estado espiritual de paz nada diz sobre a nossa situação verdadeira diante de Deus. Jonas tinha muita paz. Ele estava dormindo feito um bebê. Ao mesmo tempo em que ele estava fugindo de Deus, ele estava em paz. Mas, no momento escolhido por Deus, a terrível tempestade atacou seu navio. Assim como Jonas em seu navio, muitas pessoas hoje em dia — cristãos e não cristãos — acreditam estar a salvo da jurisdição de Deus simplesmente porque se mantêm afastadas da igreja. Mas Deus age tanto no mundo como na igreja, tanto no mar como em terra firme.

IV – QUANDO A IGREJA PÕE EM PERIGO O MUNDO.

Jonas também fornece uma imagem do relacionamento entre a igreja e o mundo. Por que os marinheiros estavam em tamanho perigo? Não foi por causa de seus pecados, mas por causa do pecado do profeta! Semelhantemente, a condição do mundo em qualquer era pode ser remetida à condição da igreja.

  1. Quando a igreja obedece, o mundo vai bem.

Quando a igreja está desperta e ativa, exercendo suas obrigações de santidade, oração e testemunho do evangelho, as coisas vão bem para o mundo. Dessa forma, podemos REMETER OS AVANÇOS do mundo na qualidade de vida — por meio da ciência, da medicina, da literatura, do direito ou da ciência política — à influência do povo de Deus. Um exemplo é o Grande Reavivamento no século 18 na Inglaterra e na América do Norte, durante o qual grande parte da sociedade se converteu a Cristo. Muitos historiadores atribuem esse reavivamento à estabilidade da Inglaterra numa era de revoluções e os valores cívicos, que viabilizou a democracia norte-americana que influenciou muitos outros países. Pela graça comum de Deus, algumas sociedades floresceram durante algum tempo independentemente da religião verdadeira (veja o Egito, a China ou os maias). Mas sempre que as pegadas dos discípulos cristãos marcaram a terra, isso causou uma melhora em termos de paz, prosperidade e bem-estar.

  1. Quando a igreja desobedece, o mundo está em perigo.

Quando a igreja negligência a Deus, a oração e a Palavra, principalmente o abandono da lealdade a Cristo, prenuncia nuvens de escuridão e tempestade sobre o mundo. Um exemplo é a Alemanha dos séculos 19 e 20. No século 19, a erudição alemã atacou os FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA FÉ CRISTÃ. Isso gerou uma igreja altamente nacionalista, quase totalmente despida do evangelho. Nesse vácuo espiritual, Adolf Hitler foi capaz de instituir o padrão nazista e mergulhar o mundo numa guerra.  O nazismo foi gerado no porão da frieza da igreja.Tragicamente, as décadas recentes demonstram um estado de declínio semelhante na Europa e na América do Norte, e no Brasil, cujos resultados devemos aguardar com grande temor. Em todos esses casos, a situação pode em geral ser remetida aos fracassos da igreja cristã. Assim como a fuga de Jonas, esse processo começa com a rejeição da Palavra de Deus. E assim como Jonas no navio com rumo a Társis, cristãos que se desviam da “sã doutrina” também procuram se refugiar nas descobertas da ciência, nas modas do mundo acadêmico secular e nas ondas da cultura em voga, em vez de se firmarem na rocha sólida da Bíblia. O resultado são problemas não só para a igreja, mas para toda a sociedade.  Isso acontece também num nível individual. Invariavelmente você trará problemas para a vida de outros e para a sua própria vida se você caminhar na direção oposta à vontade de Deus. Um Evangelista cristão observou que aqueles que exercem ministério em prisões descobriram que o livro de Jonas provoca fortes reações entre os prisioneiros. “Eles sabem que estão fugindo de Deus. Eles sabem o que significa machucar outras pessoas, especialmente aqueles que eles amam, quando vão contra a vontade de Deus.”‘

COMPARE JONAS AO APÓSTOLO PAULO NUMA SITUAÇÃO SEMELHANTE. Atos 27 relata que o navio de Paulo foi assaltado por uma tempestade tão violenta que a tripulação jogou toda a carga no mar (v. 13-20). Mas, enquanto Jonas negligenciou sua obrigação de se levantar, orar e pregar aos outros, Paulo se apressou para cumprir todas essas tarefas. O apóstolo se posicionou diante dos marinheiros e lhes transmitiu o conselho de Deus. Em decorrência disso, os marinheiros alcançaram a praia com segurança, apesar da destruição de sua embarcação (At 27.21-44). Tanto no caso de Jonas como no caso de Paulo, foi a conduta de fiéis que determinou o destino de toda a tripulação do navio. Isso lança luz sobre a tragédia do nosso próprio tempo, pois — como Jonas no porão do navio — grande parte da igreja se encontra adormecida no mundo. Vemos isso na negligência da oração, na falta de interesse pela verdadeira teologia bíblica, pela falta de modéstia e da disciplina bíblica. Vemos isso na superficialidade com que tantos cristãos praticam a adoração e na falta de preocupação com o testemunho do evangelho para o mundo a nossa volta.  Podemos resumir a condição do sono com quatro observações.

(a) A igreja adormecida não está ciente de sua condição. Pessoas adormecidas recuperam sua consciência apenas quando acordam. O sono é um estado de inconsciência. Enquanto dormimos não temos noção de nada que acontece a nossa volta.

(b) A igreja adormecida é extravagante. As pessoas adormecidas muitas vezes fazem coisas em seus sonhos que elas jamais fariam no estado acordado. As pessoas dizem: “Eu tive esse sonho totalmente selvagem na noite passada”. A igreja adormecida também se entrega a condutas completamente extravagantes e incompatíveis com a santidade exigida pela Bíblia.

(c) A igreja adormecida não gosta de ser acordada. Pessoas adormecidas não gostam de despertador. É por isso que aqueles que tentam despertar a igreja são tantas vezes desdenhados e desprezados, assim como os profetas eram apedrejados no Israel da Antiguidade. Ninguém gosta de ser acordado pelo toque do despertador. Os crentes indolentes não gostam de ser confrontados.

(d) A igreja adormecida não está vigilante na oração. Como mostra Jonas, uma pessoa adormecida não ora nem prega a Palavra de Deus.  A falta de oração é um sinal específico de uma igreja adormecida. A vida de oração da igreja e sua respiração. Como Jonas no navio, esses cristãos se sentem desconfortáveis quando alguém se aproxima e pede uma oração. É por isso que uma tempestade enviada por Deus para nos despertar a orar é sempre uma grande misericórdia. Foi a graça que enviou a tempestade de Jonas. Deus poderia ter deixado Jonas dormir até Társis, para assim encerrar sua rebelião de forma bem-sucedida, mas em sua graça Deus não o deixou escapar. Semelhantemente, a Bíblia revela que fomes, guerras, depressões econômicas e perseguições resultam não só do estado adormecido da igreja no mundo. Mas servem muitas vezes também como remédio de Deus para acordar seu povo. É por isso que, enquanto o mundo e a igreja se concentra em jogar sua carga no mar ou em encontrar outra maneira de sobreviver, os cristãos deveriam responder à tempestade de Deus sondando seu próprio pecado. É o pecado que incapacita nosso testemunho e nosso trabalho. É o pecado que provoca a mão repreendedora de Deus.  Portanto, sejamos rápidos no arrependimento e procuremos a misericórdia do nosso Deus gracioso. Apenas assim a igreja pode ser uma fonte de salvação para o mundo.

 

V – QUANDO O MUNDO PREGA PARA A IGREJA.

O livro de Jonas é repleto de ironias, e uma delas é o capitão pagão do navio gritando para acordar o profeta. Alguém já disse que no século passado a igreja apontava o dedo para o mundo e clamava: arrepende-se de seus pecados e mude de vida. Agora o mundo aponta o dedo para a igreja e clama: arrepende-se e viva conforme você prega. Afinal de contas, Jonas estava ali porque ele havia recusado o chamado de Deus de ir e clamar ao povo pagão de Nínive. Agora, em sua rebelião, é a voz de um incrédulo que clama para acordá-lo: “Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos” (Jn 1.6). Vamos ver o que acontece quando o mundo prega para a Igreja.

1 – Uma repreensão merecida. Aos olhos do capitão, Jonas representava um caso notável de sacrilégio, dormindo numa hora em que todos deviam estar clamando a Deus! Jonas representava um ESPETÁCULO CHOCANTE DE FALTA DE PIEDADE, apesar de ser, na verdade, um santo profeta do Senhor. O mundo não aceita o pecado na vida da igreja. O mundo acredita que o cristão de ser aquilo que ele apresenta ser. Cristãos tendem a acreditar que REPREENSÕES DO MUNDO são motivadas por malícia, quando o “mundo se assusta e com todo direito” diante da conduta pecaminosa daqueles que alegam conhecer Deus. Muitos cristãos de hoje merecem ser repreendidos de forma semelhante pelo mundo. A nossa presença incentiva a paz e o bem-estar? Aqueles que se chamam pelo nome de Cristo estão vivendo de forma consistente com o nosso credo? O mundo tem todo direito de esperar isso de nós. Estamos permitindo muitas vezes que uma oportunidade valiosa passe sem a aproveitarmos? Nós estamos tendo o cuidado, irmãos, em tempos de provação, adversidade, pobreza, ansiedade ou luto, DE MOSTRAR AO MUNDO como a graça de Deus, como a fé em Jesus, como a comunhão com o Espírito podem bastar para manter sua alma em perfeita paz e perfeita paciência?

2 – Uma repreensão necessária. Em meio às tempestades da vida, o mundo precisa muito das orações do povo de Deus. Quando funcionários de uma empresa perdem seus empregos, os cristãos deveriam estar ativos no ministério de oração pelos demitidos. Em tempos de guerra, os cristãos deveriam orar por paz. Quando uma família sofre uma tragédia, os vizinhos cristãos deveriam estar ali para ajudar e orar. O mundo espera e precisa disso com todo direito. O mundo não sabe como orar, mas sabe que nós sabemos! Como profeta, Jonas sabia como conseguir a ajuda de Deus, por isso o capitão o repreendeu: “Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus!”. O mundo repreende ou deveria repreender os cristãos de hoje da mesma forma. O mundo é capaz de alcançar muito por conta própria. Ele consegue acumular riquezas terrenas e adquirir estilos de vida agradáveis.

Pela graça comum de Deus, o mundo consegue resolver problemas econômicos e esboçar planos políticos. Mesmo nestes assuntos o mundo precisa da “oração da igreja” para assuntos seculares. Mas existem coisas para as quais o mundo precisa urgentemente do testemunho adequado da igreja. O mundo não conhece Deus. O mundo não conhece a verdade dos caminhos de Deus. O mundo não sabe como encontrar a salvação do céu. É para isso que a igreja existe no mundo. Como é grande a lamentação quando a igreja adormecida se torna igual ao mundo! Ouçamos então esse chamado urgente e, da mesma forma que Jonas foi repreendido, levantemo-nos diante do mundo. Falemos ao mundo sobre Deus. Oremos a Deus em nome do mundo e ensinemos o mundo a orar. Proclamemos o evangelho de Cristo, o único caminho pelo qual o mundo pecaminoso pode encontrar a bênção do Deus celestial.

VI – O SENHOR DA TEMPESTADE

Ao concluirmos esta exposição sobre o Jonas adormecido no navio, devemos nos lembrar de outro profeta — na verdade, do Senhor dos profetas —que também dormia num barco castigado pelos ventos de uma tempestade. Os Evangelhos nos contam que Jesus estava no barco com seus discípulos, atravessando o Mar da Galileia. Os discípulos o acordaram, gritando: “Senhor, salva-nos! Perecemos!” (Mt 8.25). Jesus estava dormindo não em rebelião contra Deus, mas na profunda paz de seu poder soberano. Então, diferentemente de Jonas, que não parece ter se levantado nem orado, Jesus se levantou. Marcos 4.39 diz: “E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança”. Jesus fez o que ninguém podia fazer, nem mesmo um profeta como Jonas. Jesus pôde acalmar a tempestade por causa de seu poder divino e soberano. Jesus pode acalmar também a tempestade da ira de Deus causa-da pelos nossos pecados.  O pecado de Jonas havia causado a tempestade de Jonas, e é de forma semelhante que nosso pecado causa a ira de Deus. Foi por isso que Jesus morreu na cruz, pagando a penalidade merecida pelos nossos pecados e conquistando para nós a paz eterna com Deus. Você quer saber o que os marinheiros não entendiam? Você quer saber como orar para conseguir a ajuda e a salvação de Deus? A resposta é orar em nome de Jesus, por meio da fé no derramamento de seu sangue por nossos pecados. Deus fez de Jesus o caminho para a salvação. João escreve: “… a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12). Como filhos de Deus por meio da fé em Jesus, o Senhor das tempestades, podemos saber que nossas orações são ouvidas e que Deus está do nosso lado.

CONCLUSÃO

Se entendermos isso e viermos a Deus por meio da fé em Cristo, então devemos atender ao CLAMOR DO MUNDO E DA BÍBLIA À IGREJA. Sejamos ativos na adoração, na oração, no serviço e no testemunho do evangelho. Paulo exorta: “… andai como filhos da luz […] provando sempre o que é agradável ao Senhor […]: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5.8,10,14).