Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 160 – O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 134). Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 87). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 28/05/2025.
INTRODUÇÃO
Deus criou a linguagem humana para possibilitar a comunicação entre as pessoas. Acredita-se que a língua de Adão seja a base do hebraico bíblico. O grego koinê do Novo Testamento consolidou a língua grega clássica e os estudos dos autores gregos. A tradução da vulgata latina consolidou o latim como a língua do Direito e da erudição até o século 17. A tradução da bíblia King James influenciou o inglês moderno. A tradução da bíblia de Martinho Lutero, usando um alemão mais acessível a todo o povo, formatou a língua alemã moderna.
A obra de Dante não é escrita no latim imponente e sonoro com sua elegância e frieza clássicas, mas no humilde italiano da fala comum, o produto emergente de uma nova civilização, a linguagem do comércio, do lar, em vez da língua das universidades. E, no entanto, não é exagero dizer que essa língua não era consolidada antes de Dante escrever seu poema. Dante, na verdade, é considerado o pai da língua italiana, com toda a sua doçura, pureza e beleza, a língua do amor, da poesia, da filosofia, brotou completa do cérebro de Dante. Há algo quase inspirador de admiração no súbito aparecimento de uma obra como a sua, tão nova em seu veículo literário quanto em sua concepção e tema. Fez mais para fixar a língua da Itália do que a Academia Francesa jamais fez para fixar o francês, ou a Bíblia em inglês para fixar a língua inglesa.
Seiscentos anos atrás, falava-se na França uma língua que nenhum francês comum consegue entender hoje. Seiscentos anos atrás, falava-se na Inglaterra uma língua que nenhum inglês comum consegue entender hoje. Já o italiano de Dante é o italiano da fala moderna. Quem lê o italiano percebe melhor a severidade dos versos de Dante, que nunca desperdiça uma palavra, para descrever a realidade da punição eterna e a doçura das bem-aventuranças eternas. Isso ajudou seu romance a ser entendido no sentido mais original, e seus leitores terem uma compreensão mais clara e com isso foram profundamente impactados, somente a Bíblia teve esses impactos sobre nações, e depois a obra de Dante. Isso ajudou a ver a seriedade e o propósito de sua obra.
- O desespero dantesco do inferno.
Dificilmente há um exemplo mais marcante da adequação de como uma língua pode ser eternizada como uma “música solene” que registra a inscrição sobre o portão do inferno. O verso a seguir faz parte da obra “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, especificamente no canto III do Inferno.
“Por mim vocês entram na morada da desgraça[1];
Por meu intermédio sois levados à tristeza sem fim (eterno pranto)[2];
por meu intermédio caminhais em meio às almas amaldiçoadas[3] (entre gente perdida).
A justiça foi a primeira a mover meu sublime Criador[4];
pelo Poder Todo-Poderoso foi feita minha estrutura[5],
Pela Sabedoria Suprema[6] e pelo Amor Primordial[7].
Antes que eu fosse formado, nada havia sido criado[8],
Salve aqueles eternos — eu, eterno, o último[9]:
Abandone[10] toda a esperança — vocês que entram aqui[11]!”
Ele está inscrito no portal que marca a entrada do Inferno, uma poderosa e solene advertência às almas que ali ingressam. Na versão original em italiano, o trecho é: “Per me si va nella città dolente[12]”.Neste verso, Dante está se referindo as famosas “Palavras do portal”, como são conhecidas, que “fala” àqueles que cruzam suas fronteiras.
O portal anuncia que, ao passar por ele, os viajantes deixam para trás todas as esperanças e entram em um mundo de total sofrimento e desgraça. É uma introdução ao horror e à punição eterna que aguardam as almas condenadas, dos que não creram no Evangelho de Jesus Cristo. A inscrição no portão do inferno é uma das passagens mais reconhecidas e marcantes da obra, pois encapsula a severidade da justiça divina e o destino final das almas que rejeitaram Deus.
A inscrição tem um tom solene e definitivo, simbolizando que o Inferno é um lugar eterno, criado pela justiça divina e impossível de ser revertido. Este momento é fundamental na narrativa de Dante, pois estabelece o tom sombrio e a complexidade do julgamento que define os círculos infernais.O portão do Inferno “não está fechado para ninguém, estando desprovido de todas as suas fechaduras, desde o dia em que o Conquistador da Morte, recém-saído da cruz, forçou sua passagem irresistível”. Assim, Dante, seguindo Virgílio como seu guia, segue o caminho profundo e selvagem e entra no Inferno. Entremos com ele.
- Inferno, o total abandono.
O Inferno, como vimos, é um poço dentro da terra, um cone oco invertido, que se estreita à medida que desce, e à medida que o espaço se contrai, o tormento se intensifica. As bordas externas do poço constituem um ante-inferno, esse inferno é lugar dos mortos à espera do julgamento. Na teologia católica de Dante, é a morada dos Neutros, aqueles que não são bons o suficiente para o céu e que não têm caráter suficiente para o inferno. Na visão protestante, são aqueles que não tiveram acesso à pregação do evangelho, e serão julgados segundo a lei de Deus, escrita em seus corações e suas consciências, como o Apóstolo Paulo ensina em Romanos 2.12-16.
No poço do Abismo estão confinados os anjos que na primeira grande rebelião no mundo espiritual seguiram a Satanás. E estão presos até o Juízo do Grande Dia (Judas 1.6). Na borda externa do poço, segundo Dante, está confinada grande parte da raça humana, assim como o circuito desta região superior do Inferno é o mais amplo. Almas frágeis e covardes[13] (tímidos; Apocalipse 21.8), picadas por moscas e vespas, a imagem de uma consciência reprovadora, perseguem um estandarte apressado, enquanto vermes na poeira sob seus pés absorvem seu sangue e lágrimas. Assim, Dante pune as almas dos que consciente ou inconscientemente, ignoraram Deus, mas não têm força suficiente para se rebelar contra ele. São governados pelo “medo e pela timidez (covardia)”.
Ao prosseguir, Dante observa que no Inferno as almas não sofrem apenas pela ausência de Deus, mas pela constante picada de sua própria miséria e culpa interior.E é neste ambiente de tormento e desespero que ele começa a entender como cada estágio do Inferno reflete uma “gradação” de afastamento da verdade divina, que corresponde ao castigo recebido.
Com Virgílio ao seu lado, Dante avança para o limiar do verdadeiro Inferno, onde o tumulto aumenta e a densidade de trevas parece palpável. Antes de entrar na próxima região, ele depara-se com um cenário imponente: o portão do Inferno, marcado pelas palavras sombrias que alertam os visitantes a abandonarem toda esperança. A monumentalidade do portão e a força das palavras gravadas nele marcam o início da descida aos círculos mais profundos e revelam o impacto psicológico que tais condenados devem enfrentar.
- O rio infernal da Inevitabilidade da Condenação:
Ele cruza o “rio Aqueronte[14]”, o rio sem alegria, com “Caronte”, um velho barqueiro de pelos brancos e olhos de fogo, e que impiedosamente expulsa uma multidão de almas relutantes de seu barco com os golpes de seu remo. A alegoria do barqueiro Caronte e do rio Aqueronte é tirada da mitologia grega, muito conhecida por todos na Idade Média.
Na tradição mitológica grega, Caronte é o barqueiro dos mortos, responsável por transportar as almas dos recém-falecidos através do rio Aqueronte, conhecido como “rio da dor ou lamento”, um dos principais rios do Hades, para o mundo inferior. O Aqueronte, o rio infernal, é retratado como um dos principais rios do submundo infernal, que separa o mundo dos vivos e dos mortos, carregado de simbolismo relacionado ao sofrimento e à transição. O nome “Aqueronte” deriva do grego “akhos”, que significa dor ou lamento. Na obra de Dante, o rio é descrito como “turvo, escuro” e suas margens ressoam com os gritos e lamentos das almas condenadas. Isso simboliza a natureza intrínseca da dor e do sofrimento que aguardam os condenados no Inferno.
As águas do Aqueronte refletem a miséria e o desespero das almas que as atravessam, um presságio da eternidade de punição.Ele representa a divisão clara e intransponível entre aqueles que foram salvos e foram para o Paraíso e aqueles que estão irremediavelmente condenados.
Aqueles que não podiam pagar o óbolo (moeda) exigido por Caronte eram condenados a vagar pelas margens do rio, incapazes de entrar no reino dos mortos.
Essa moeda era colocada na boca e no olho quando a pessoa era enterrada, e servia como pagamento do barqueiro, para que a alma fosse levada ao seu destino. Ela representa a última tentativa fútil e enganosa de comprar um descanso seguro. A Bíblia disse que não fomos comprados, nem por prata e nem por ouro, mas pelo precioso, imaculado e incontaminado sangue de Jesus (1 Pedro 1.18,19). Essa imagem foi adotada por Dante Alighieri em sua obra “A Divina Comédia” para descrever o desespero da travessia das almas para o inferno.
Dante combina elementos cristãos e clássicos para criar um universo rico em simbolismo e significado, uma combinação de elementos literários, filosóficos e teológicos. O rio Aqueronte (rio da dor) representa a fronteira entre o ante-inferno e o verdadeiro Inferno, onde o sofrimento das almas condenadas começa de forma tangível e inevitável.
Caronte, por sua vez, é o encarregado de transportar essas almas, agindo de maneira implacável e impessoal, como se fosse uma força inevitável do destino, que não pode mais ser mudado. O barqueiro Caronte e o rio Aqueronte não são apenas adaptações decorativas da mitologia grega, mas se integram profundamente à visão moral e teológica de Dante.
No Inferno de Dante, Caronte não é apenas um barqueiro mitológico, mas um ministro da justiça divina. Sua função é transportar as almas dos condenados, aqueles que já foram julgados e destinados ao sofrimento eterno. Ele não julga, apenas executa a vontade divina. Ele representa o braço da justiça divina. Ele representa o total desespero das almas condenadas: da sua boca sai as palavras, a frase que Caronte profere:
Ai de vós, almas depravadas!
“Não esperem jamais ver o céu:
eu venho para vos conduzir ao outro lado,
às trevas eternas, ao fogo e ao gelo[15]“,
Suas palavras ecoam a inscrição no Portão do Inferno (“Abandonai toda a esperança, vós que entrais”). Caronte personifica a perda completa da esperança para as almas que ele transporta. Ele representa a barreira final entre o mundo dos vivos e a punição eterna. Essa primeira fala é direcionada às almas, um aviso terrível do destino que as espera.
- Um passageiro indigno no inferno.
Dante chega ao portão do Inferno, exatamente na Sexta-feira Santa, que antecede o domingo de Páscoa, mostrando a morte e a ressureição de Jesus e sua vitória sobre a morte. Mas Caronte então se volta especificamente para Dante, com uma repreensão direta, muito irritado, pois sua presença ali é uma afronta à ordem do Inferno. Ele rejeita levar Dante em seu barco: “E tu que estás aqui, alma viva, afasta-te destes que estão mortos!”
Ele não quer um ser vivo em sua barca. Caronte é um ministro da justiça divina, e sua função é transportar apenas os que já foram condenados. O barqueiro sabe fazer distinção dos perdidos e dos salvos. Percebendo que Dante não pertence àquele lugar, ele tenta afastá-lo, como um guarda de fronteira que barra um intruso. Dante, assustado, encolhe-se, mas é Virgílio, seu guia, quem intervém. Virgílio explica a Caronte que a jornada de Dante é permitida por uma vontade divina. Virgílio diz: “Caronte, não te irrites: assim o quer Aquele que pode fazer o que quer; e não peças mais nada.”
Dante não precisa pagar a moeda. Caronte, embora relutante e com seus olhos flamejantes cheios de indignação, precisa ceder diante da autoridade do Céu. No entanto, ele ainda lança uma última e enigmática advertência a Dante: “Por outra via, por outros portos, tu chegarás à praia, não por aqui: barca mais leve deve te levar.”
Com isso, Caronte dá a entender que Dante, como vivo e escolhido por Deus, não será transportado em sua barca dos condenados, mas por algum outro meio, mais “leve”, que o levará ao seu destino diferente. Essa fala prefigura a maneira misteriosa como Dante acabará atravessando o rio. A cena é um poderoso marco da transição do Ante-Inferno (Sheol) para o Inferno propriamente dito, simbolizando a inevitabilidade da condenação para os pecadores e a intervenção divina na jornada do poeta.
O barqueiro torna-se uma figura de transição, guiando as almas ao seu destino eterno, enquanto o rio simboliza a separação entre a vida terrena e a eternidade do castigo, entre Deus e o inferno.Sua aparição e a reação de terror das almas diante dele reforçam a inevitabilidade da condenação para aqueles que cruzaram a linha da graça divina. Essa adaptação permite que Dante explore a gravidade do pecado e a justiça divina de maneira visual e emocionalmente impactante.
A cena do Aqueronte e Caronte é um dos primeiros momentos em que Dante, o personagem, é dominado pelo terror e desmaia, sendo acordado já do outro lado do rio (sem saber como atravessou). Isso pode ser interpretado como o limite da razão humana (Virgílio) para compreender e suportar a visão do Inferno. A experiência da condenação é tão avassaladora que a mente mortal não consegue processá-la conscientemente. A utilização de barqueiro Caronte e do rio Aqueronte por Dante é um exemplo magistral de como a mitologia clássica pode ser reinterpretada para servir a uma nova visão de mundo, mostrando como o Cristianismo pode ressignificar, redimir, ou reformar a cultura.
Esses elementos enriquecem a narrativa, conferindo-lhe profundidade cultural e simbólica, enquanto reforçam as mensagens morais e espirituais que permeiam A Divina Comédia. A fusão de mitologia e cristianismo demonstra a genialidade de Dante em integrar tradições e criar uma obra que transcende o tempo e o espaço.
CONCLUSÃO:
A moeda que o barqueiro exige na verdade é a culpa. Ele precisa levar as pessoas que estão condenadas. O bilhete, que será exigido por aqueles que estão do outro lado da margem, será o Sangue de Jesus.
1 Pedro 1:18,19
¹⁸ Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais,
¹⁹ Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado.
Outra cena aparece no céu: Apocalipse 7:9-17
⁹ Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos;
¹⁰ E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.
¹¹ E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus,
¹² Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém.
¹³ E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram?
¹⁴ E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.
¹⁵ Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra.
¹⁶ Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calor algum cairá sobre eles.
¹⁷ Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes vivas das águas; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima.
[1] “città dolente”: Mantido como “cidade dolente” (ou “sofredora”), um nome poético para o Inferno.
[2] “etterno dolore”: Traduzido diretamente como “eterno pranto” ou “eterna dor”. “Pranto” é mais poético e evoca o lamento dos condenados.
[3] “perduta gente”: “Perdida gente” ou “gente perdida”, referindo-se às almas condenadas que perderam a salvação.
[4] “alto fattore”: “Alto criador”, referindo-se a Deus como o criador supremo.
[5] divina podestate”: “Divina Onipotência” ou “divino Poder”. A palavra “Onipotência” capta melhor a ideia de poder absoluto.
[6] “somma sapïenza”: “Sabedoria suma” ou “Suprema Sabedoria”.
[7] “primo amore”: “Amor primeiro” ou “Amor primordial”, referindo-se ao Espírito Santo, que é o amor de Deus.
[8] “non fuor cose create / se non etterne”: “Não foram coisas criadas / senão as eternas”. Refere-se à pré-existência do Inferno em relação a tudo o que não é eterno (como a criação do mundo material, que veio depois).
[9] io etterno duro”: “Eu eterno duro”, significando que o Inferno é eterno.
[10] “Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate”: A frase mais famosa, traduzida fielmente como “Abandonai toda a esperança, vós que entrais”, ou “Deixai toda a esperança, vós que entrais”. “Abandonai” é mais formal e enfático.
[11] Per me si va ne la città dolente, / per me si va ne l’etterno dolore,/ per me si va tra la perduta gente./
Giustizia mosse il mio alto fattore;/ fecemi la divina podestate,/ la somma sapïenza e ‘l primo amore./
Dinanzi a me non fuor cose create/ se non etterne, e io etterno duro./ Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate./
[12] “Por mim vocês entram na morada (cidade) da desgraça”.
[13] Em Apocalipse 21:8, “tímidos” não se refere à timidez como traço de personalidade, mas a aqueles que temem declarar Cristo ou se posicionar contra o pecado por medo de perseguição ou rejeição. A passagem enfatiza a importância da coragem na fé, alertando que quem nega Cristo por medo não herda o Reino de Deus.
[14] Rio da dor e do lamento. O Aqueronte (ou Acheron), na mitologia grega, é um dos rios do submundo, frequentemente associado à dor e ao lamento. Muitas vezes é confundido com o Estige (o rio do ódio e da intocabilidade), mas em algumas tradições, o Aqueronte era o rio principal que as almas deveriam cruzar.
[15] Todas essas falas de Caronte estão situadas no Canto III do Inferno da Divina Comédia, que descreve a passagem de Dante e Virgílio pelo Ante-Inferno e a travessia do rio Aqueronte.