Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 145 – O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 121). Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 72). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 08/01/2025.
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INTRODUÇÃO
Quando o poeta inglês cego John Milton estava velho e obscuro (longe da fama e esquecido), ele foi visitado um dia por Charles II, filho do rei Charles I, que fora decapitado pelos puritanos, quando estes comandavam o Parlamento da Inglaterra (1642- 1662).
Charles II, cheio de rancor, diz: “Sua cegueira é um julgamento de Deus pela parte que você tomou contra meu pai”, disse o rei.
Milton respondeu: “Se eu perdi minha visão pelo julgamento de Deus, o que você pode dizer de seu pai que perdeu a cabeça?”
O que diferencia a resposta de John Milton e o Rei Charles II da Inglaterra? A forma como os dois interpretam os fatos está relacionada ao conhecimento que cada um tinha sobre Deus.
Milton via a bondosa mão de Deus conduzindo seu caráter, tratando-o por meio da cegueira, para que pudesse ver a luz da verdade. Mas o Rei Charles via apenas um Deus vingativo e déspota.
O entendimento que aprendemos sobre quem Deus é vai determinar nossos construtos existenciais, pessoais, sociais, culturais e emocionais.
Milton usou sua capacidade poética como um dom dado por Deus, para descrever as verdades da criação divina, fossem estas espirituais e materiais e para isso, ele precisava estar cego para o mundo e aberto para a luz divina.
Goethe enxergou bem até a morte, mas não conseguiu enxergar absolutamente nada da realidade existencial.
O Fausto de Goethe, termina confuso e perdido. No fim, não se sabe se Mefisto (diabo) era na verdade o alter ego (o outro eu) do próprio Goethe, queremos dominar sua existência e determinar seu próprio fim eterno, sem prestar contas a ninguém.
O conhecimento de Goethe sobre as doutrinas cristãs e, principalmente, sobre Jesus Cristo, a verdade, o levou a ver coisas que nenhum mortal da poesia pode ver e escrever.
1. A Cristologia da pessoa de Cristo.
Em terceiro lugar a visão de Milton sobre a pessoa de Cristo.
Milton era um trinitário ortodoxo, não um ariano como muitos o denigrem. Milton não comungava com a visão radical dos puritanos de comemorar o Natal.
Em 1629, em sua maravilhosa “Ode (composição poética) na Manhã da Natividade de Cristo” (natal), ele havia escrito sobre “o Filho do Rei eterno do céu”:
Aquela forma gloriosa, aquela luz insuportável,
E aquele clarão de majestade que irradia longe,
Com o qual ele costumava sentar-se na mesa do alto conselho do céu
No meio da unidade trinitária,
Ele deixou de lado; e, para estar aqui conosco,
Abandonou as cortes do dia eterno,
E escolheu conosco uma casa escura de barro mortal.
Em 1641, ele encerrou seu primeiro panfleto em prosa, “Da Reforma”, com uma oração à “Divindade Tripessoal”, pois no mesmo panfleto ele havia chamado os arianos de “nenhum verdadeiro amigo de Cristo”.
Muitos acreditam equivocadamente que Milton no quinto livro de “Paraíso Perdido”, passou a ter uma opinião diferente; como se ele quisesse atribuir o início da existência ao Filho.
Assim, na visão poética de Milton, o pecado dos anjos rebeldes consistiu na recusa deles em reconhecer o Senhorio daquele a quem Deus, deseja dar toda a honra e glória.
Ouvi, todos os anjos, progênie da luz,
Tronos, dominações, principados, virtudes, poderes;
Ouça meu decreto, que permanecerá inalterado.
Hoje eu tenho a quem eu declaro
Meu único Filho, e neste monte santo
Aquele que agora vedes ungido
À minha direita: a tua cabeça eu o constituí;
E por mim mesmo jurei, a ele me curvarei
Todos os joelhos no céu, e o confessarão Senhor.
Aqui o decreto eterno de Deus, corresponde uma Filiação eterna, nunca deve ser interpretado como se fosse um decreto temporal ao qual corresponderia uma Filiação começando no tempo.
No terceiro livro do Paraíso Perdido, Milton, toma emprestado a ideia paulina, onde Jesus é retratado como o “primogênito da criação”, aquele que tem a proeminência em tudo.
A ti, em seguida, eles cantaram, de toda a criação o primeiro,
Filho Unigênito, semelhança divina,
Em cujo semblante conspícuo, sem nuvens
Tornado visível, o Pai Todo-Poderoso brilha,
A quem nenhuma outra criatura pode contemplar; em ti
Impresso permanece o esplendor de sua glória,
Transfundido em ti repousa seu amplo espírito.
Ele é o céu dos céus e todos os poderes nele contidos
Por ti criado;
Jesus está sendo na visão de Milton, o primogênito da criação, pois ele será o criador de tudo o que existe.
O Filho de Deus, que existiu desde toda a eternidade, coessencial e coigual com o Pai, será glorificado na divindade. Foi a vontade de Deus que a divindade fosse glorificada em seu Filho amado.
O Logos, ou a Palavra, através da qual toda a criação deveria ter seus começos. Deus comunicou ao Filho a glória de toda a natureza divina. Ele que já participava da própria substância divina, e nunca foi inferior ao pai.
Milton nunca foi ariano, e ele os considerava inimigos de Cristo. Ele lembra do destino de Bartholomew Legate, um homem de Essex, ariano, que foi queimado vivo em Smithfield, em 13 de março de 1613. O rei James I perguntou-lhe se ele não orava a Cristo.
A resposta de Legate foi que “de fato ele orou a Cristo nos dias de sua ignorância, mas não nestes últimos sete anos; “o que chocou tanto o rei que ele o rejeitou com o pé”. Na fogueira, Legate ainda se recusou a se retratar, e então foi queimado até as cinzas em meio a uma vasta confusão de pessoas.
2. A doutrina da Criação de Milton ,
Milton não era um monista, como Goethe. Milton enfatiza a independência e a liberdade da vontade humana. Ele não é um monista idealista, e nem um materialista.
Deus criou todas as coisas e deu forma à matéria, pois ela era sem forma e vazia no início das eras.
Mas essa matéria não é algo sem vida ou autossuficiente como na teoria da “geração espontânea” (abiogênese, é a ideia de que os seres vivos surgem de matéria inanimada, sem vida).
E matéria criada por Deus, não pode deixar de existir e nem ser destruída. Milton diz: “Nenhuma coisa criada”, portanto, “pode ser finalmente aniquilada”?
‘ Rafael, o arcanjo, explica:
Ó Adão! Um Todo-Poderoso é, de quem
Todas as coisas procedem^ e a ele retornam,
Se não depravado do bem, criou tudo
Tal para a perfeição, uma primeira matéria tudo,
Dotado de várias formas, vários graus
De substância e, nas coisas que vivem, de vida,
Mas mais refinado, mais espiritual e puro,
Quanto mais próximo dele colocado.
Mas veja quão cuidadosamente o poeta se guarda de conclusões panteístas, que Goethe, vai chegar mais tarde.
A matéria original da qual todas as coisas são feitas, sendo uma parte da própria substância de Deus, que não é má, mas boa.
Na criação do homem, parte material, parte imaterial, o sopro divino dotou-o primordialmente de moralidade e liberdade.
O livre-arbítrio é dado por Deus para que possa originar ações independentes, não moralmente controladas por Deus. A liberdade e a responsabilidade humana é uma condição dada por Deus.
Ouça Rafael mais uma vez, enquanto ele fala com Adão:
Filho do céu e da terra, Atende! Que tu és feliz, deves a Deus; \
Que tu continuas assim, deves a ti mesmo,?
Isto é, à tua obediência; nisso permanece.
Esta foi a precaução que te foi dada; fica avisado,
Deus te fez perfeito, não imutável:
E bom te fez; mas para perseverar,
Ele deixou isso em teu poder; ordenou tua vontade
Por natureza livre, não anulada pelo destino
Inextricável, ou necessidade estrita:
Nosso serviço voluntário ele requer, (…)
Não encontra aceitação, nem pode encontrar: pois como
Podem corações, não livres, ser testados para ver se servem
Quem deseja senão o que deve
Pelo destino, e ninguém pode escolher?
CONCLUSÃO: Deus criou seres morais e livres, e não seres robotizados. O mundo moderno tem tentado robotizar as pessoas, por meio da tecnologia e da ditadura da linguagem tentando uniformizar a forma de pensar.
As Escrituras desenvolvem a criatividade e sabedoria para uma vida que agrada a Deus e produz a verdadeira felicidade. O propósito das Escrituras é encher nossa vida de fé e esperança.
Isso nos faz ver a vida da perspectiva de Deus, mostrando o propósito da vida temporal, comparando a verdade vida que não acaba, a vida eterna.
Para isso o pecado tem que ser erradicado, e somente como a ressurreição dos mortos e no novo céu e na nova terra, poderemos viver completamente felizes e cheio de paz.
2 Pedro 3:13-14
“Mas, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça. Portanto, amados, enquanto esperam estas coisas, empenhem‑se para que Deus os encontre imaculados, inculpáveis e em paz com ele”.