Série de sermões expositivos sobre o livro de Jonas. Sermão Nº 13 – Aboboreiros ou teólogos. Referência: Jonas 4:5-11. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 04/04/2019.
Introdução
Por que Deus faz perguntas? Alguns teólogos equivocadamente argumentam que as perguntas de Deus na Bíblia indicam uma deficiência em seu conhecimento. Deus simplesmente não sabe, por isso pergunta. Mas essa visão contraria os ensinamentos da Bíblia sobre Deus. Jó, por exemplo, nos conta que Deus “… perscruta até as extremidades da terra, vê tudo o que há debaixo dos céus” (Jó 28.24). Essa abordagem não corretamente os textos em que Deus está fazendo perguntas.
Quando Deus pergunta ao Adão recém-caído: “Onde estás? […] Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gn 3.9,11), ele não pergunta porque não sabe onde Adão está ou o que fez. Seu propósito era mostrar a Adão o tamanho de seu pecado. Semelhantemente, quando Deus perguntou a Caim: “Onde está Abel, teu irmão?” (Gn 4.9), ele não fez a pergunta porque não tinha conhecimento do primeiro assassinato da raça humana. Ele fez a pergunta para exigir um relato das ações de Caim em suas próprias palavras.
As perguntas de Deus tem a pretensão de ensinar-nos algo ou expor a nós o nosso íntimo quando somos culpados de pecado ou desobediência. Assim, toda vez que lermos a Bíblia e nos depararmos com uma pergunta feita por Deus, devemos nos perguntar: Deus está fazendo essa pergunta a mim, e o que devo aprender com ela? Esse livro termina com Deus fazendo uma pergunta, que exige uma resposta que todos nós, precisamos responder.
I. UMA TEOLOGIA DEPLORÁVEL.
Essa é uma boa maneira para abordar as três perguntas que Deus faz a Jonas no fim desse livro. Jonas está furioso porque Deus poupou a cidade mais perversa do mundo. Ele está tão furioso com Deus e quer morrer. Por quê?
1. Uma ortodoxia soberba.
Então, Deus lhe perguntou: “É razoável essa tua ira?” (Jn 4.4). Jonas acha sinceramente que sim, por isso montou uma cabana ao leste da cidade, esperando no calor do dia para assistir ao espetáculo. Deus confronta a atitude de Jonas fazendo com que uma planta crescesse e refrescasse sua cabeça. Na manhã seguinte, Deus enviou um verme para atacar e matar a planta. Novamente, Jonas ficou tão insatisfeito que disse: “Melhor me é morrer do que viver!” (Jn 4.8). Então, Deus fez sua segunda pergunta: “É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu cheio de CONVICÇÃO e AUTOAFIRMAÇÃO: É razoável a minha ira até à morte” (Jn 4.9). Ele está tão convicto, que está disposto a morrer por ela.
Esse é o problema da ORTODOXIA SOBERBA, quando ela não abre mais espaço para a dialogo, nem mesmo para Deus. Esse tipo de atitude não se alegra com nada. O propósito dessas perguntas de Deus era, acima de tudo, expor a atitude egoísta e amargurada de Jonas. Vemos isso, primeiramente, naquilo que deixa Jonas feliz. Em meio a todas as queixas de Jonas que enchem esse livro, HÁ APENAS UMA OCASIÃO EM QUE JONAS SE MOSTRA FELIZ. Ele não se alegrou quando Deus abençoou sua pregação com o arrependimento de toda a cidade de Nínive. Em vez disso, sentiu-se MISERAVELMENTE AMARGURADO, já que a população de Nínive não satisfazia suas exigências teológicas e morais para a salvação. Embora o argumento teológico de Jonas era profundamente ortodoxo. Todas as práticas dos ninivitas violavam frontalmente as Escrituras, e um Deus santo, deve punir o pecado na vida dos que transgridam a sua lei. O problema é que ele exigia isso da justiça divina, mas motivado pela amargura.
2. Um Fundamentalismo férreo.
A ortodoxia de Jonas tinha uma compreensão da doutrina profundamente deficiente. Jonas reagiu como um FUNDAMENTALISTA FÉRREO: ele não se associa aos ninivitas recém-convertidos. Ele não permaneceu naquela cidade; ele não participa de sua adoração ele não se envolve no ministério dos ninivitas salvos. Como Pedro, ele não come e nem se mistura com os gentios. Ele está ali para mostrar que é fiel a doutrina da santidade divina. Ele age como juiz, ele dá a sentença de morte e quer assistir à execução, para ver se Deus vai cumprir juízo que ele profetizou. A teologia de Jonas, colocou Deus no banco dos réus. Apesar de todas as evidências claras de que Deus havia aceitado o arrependimento da cidade, mas a teologia de Jonas não aceitou. Em vez disso, montou sua cabana ao leste de Nínive, aceitando o isolamento e sofrimento desnecessários, que, para ele, eram sinais de sua SANTIDADE EXCEPCIONAL.
3. Um egoísmo regozijante.
Se a salvação de Nínive não deixou Jonas feliz, o que então provocou sua felicidade? Encontramos a resposta no versículo 6: “Fez o Senhor Deus nascer uma planta, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu desconforto. Jonas, pois, se alegrou em extremo por causa da planta. Talvez o exemplo mais maravilhoso de graça no livro de Jonas seja a provisão dessa planta para proteger Jonas do sol escaldante da Mesopotâmia. Os materiais que Jonas deve ter encontrado para construir sua cabana não devem ter oferecido muita proteção do sol. Assim, Deus forneceu uma planta de crescimento milagroso, os estudiosos acreditam que tenha se tratado de uma planta de abóbora, que cresce rapidamente e apresenta folhas grandes e largas; para dar sombra a Jonas. Diante disso, o profeta “se alegrou em extremo”. Mais literalmente, o profeta que se “irritou com grande irritação” com a salvação de Nínive (Jn 4.1) agora “regozijou-se com grande alegria” diante da aboboreira.
Se fossemos Jonas, poderíamos pensar: Como as coisas estavam indo bem para mim. Como Deus é comigo no que eu faço. Como Deus tem aprovado a minha conduta, me abençoando tudo. Nem sempre o fato de Deus está nos abençoando, quer dizer que ele esteja aprovando nossa conduta. Então no conforto da benção da sombra fornecida pela graça maravilhosa de Deus, ele podia esperar e assistir de camarote a terrível ira de Deus aniquilando a cidade de Nínive. Mais o que para Jonas era sinal de prosperidade, benção e aprovação divina da sua conduta, era na verdade uma disciplina de Deus. Com isso, Deus estava expondo a atitude egocêntrica de Jonas em relação à graça de Deus, juntamente com o espírito amargurado e deplorável que isso produziu. Esse espírito é muito comum no meio do povo de Deus. O que fascinou Jonas em relação à graça era apenas aquilo que ela significava para ele mesmo. E como essa graça se manifestou na forma de um grande peixe ou de uma pequena planta, e talvez para um pequeno círculo de pessoas que lhe eram queridas, como sua família e seu povo. O que o evangelho poderia significar para outros pouco lhe importava, exceto suas razões pessoais de não querer a graça para os seus desafetos ninivitas. Assim, sentou-se ali em sua miséria, ardendo fora da cidade, enquanto o sol e o vento castigavam seu corpo e sua mente.
4. Um expectador miserável.
A atitude egocêntrica de Jonas em relação à graça de Deus o deixou miserável e fez dele um inútil. Deus pode julgar os outros sem a nossa ajuda! Mais o que ele quer que seu povo faça é juntar-se a ele em sua obra de salvação. Jonas deveria ter se misturado aos ninivitas, encorajando sua nova fé, gentilmente corrigindo seus muitos equívocos e ensinando-lhes com amor o evangelho e discipulando-os. Jonas não foi chamado para ser um espectador, assim como os cristãos de hoje também não são chamados para serem espectadores dos infortúnios e das misérias do mundo. Ele foi chamado para se identificar com essas pessoas e para ajudar-lhes da melhor forma possível pela graça de Deus. Como as outras perguntas na Bíblia, as perguntas de Deus a Jonas nos convidam para refletirmos sobre nós mesmos.
Vemos o evangelho como um produto de consumo para o nosso beneficio pessoal? Será que também construímos nossas pequenas cabanas fora da cidade, fora da cultura, satisfeitos em desfrutar a graça de Deus para conosco, alegrando-nos ao mesmo tempo com os infortúnios de um mundo alienado de Deus? Nas palavras de Jonas: o que nos alegra? Somos gratos pela graça de Deus para conosco e também felizes com qualquer sinal da graça na vida de outros? Ou nos amarguramos quando Deus abençoa a outros. Nós nos alegramos quando estamos certos e os outros, errados, ou nos alegramos quando os outros estão certos e nós errados? Nós nos alegramos quando exortamos os outros, ou quando somos exortados?
II. OS ATOS GRACIOSOS DE DEUS.
Deus foi gracioso ao providenciar uma planta para Jonas, mas seu propósito verdadeiro revelou sua intenção graciosa, paciente e sábia para com o profeta miserável.
1. Uma graça soberana.
Deus tinha um plano para a planta de Jonas, um verme que chegou na manhã seguinte: “Deus, no dia seguinte, ao subir da alva, enviou um verme, o qual feriu a planta, e esta se secou” (Jn 4.7). E Deus não tinha acabado ainda: “Em nascendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental; o sol bateu na cabeça de Jonas, de maneira que desfalecia, pelo que pediu para si a morte, dizendo: Melhor me é morrer do que viver!” (Jn 4.8). Isso levou Deus a fazer a segunda pergunta: “Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte” (Jn 4.9). Todo esse episódio demonstra a soberania de Deus ao lidar com seu povo. A expressão “Deus enviou”/”Deus preparou” ocorre muitas vezes em Jonas. No capítulo 1, Deus soberanamente “lançou […] um forte vento” contra o navio de Jonas (Jn 1.4) e então “preparou o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas” (1.17). Agora, no capítulo 4, Deus fez nascer uma planta para dar sombra a Jonas (4.6), depois “enviou um verme, o qual feriu a planta” (4.7) e “mandou um vento calmoso oriental” (4.8). As circunstâncias externas da experiência de Jonas foram milagrosamente criadas por Deus. O mesmo vale para as nossas circunstâncias: é Deus que envia o grande peixe que nos liberta, a sombra que nos refresca e o verme e os ventos orientais que tentam nossa alma. A lição é que sempre estamos lidando com Deus, pois é ele quem soberanamente aponta até os menores detalhes da nossa vida.
2. Uma graça paciente.
Esse episódio demonstra também a paciência graciosa de Deus ao lidar com seus servos. Quanto o Senhor teve que suportar Jonas! Mas ele ainda estava pacientemente podando, pacientemente desafiando o pensamento de Jonas, pacientemente corrigindo a atitude do coração de Jonas. É nessa graça paciente de Deus que cada um de nós encontra a esperança de perseverar na fé, pois todos nós somos muito parecidos com Jonas em nosso pecado.
Quantas vezes Deus poderia ter desistido de nós. Mas ele não desiste. Em condescendência maravilhosa — mais paciente do que o maior amor de uma mãe de crianças pequenas ou do que a perseverança de um pai de adolescentes —, Deus suporta nossas fraquezas e nosso pecado e nunca desiste da nossa salvação. Ele vê o fim a partir do início e sabe da glória que ele conquistará para si mesmo por meio de sua graça perseverante e paciente. Em uma ocasião, Jesus expressou sua frustração diante de seus discípulos, exclamando: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei?” (Lc 9.41). Vemos a resposta no ministério de Jesus. Por quanto tempo ele suportaria os erros de seus discípulos com sua paciência amorosa? Até a cruz, onde ele morreu por seus pecados, para então abrir o túmulo, pelo qual ele garantiu o ministério do Espírito Santo para santificar a nossa alma.
3. Uma graça que ensina.
Os atos de Deus para com Jonas demonstram a sabedoria da interação de Deus com seu povo. Ao fornecer e depois destruir a planta tão querida de Jonas, Deus tinha um plano de dois passos para seu crescimento na graça. O primeiro passo consistia em mostrar a Jonas que ele precisava abandonar seu egoísmo. Jonas estava dominado por seus próprios problemas mesquinhos; sua visão estava dominada por suas opiniões limitadas e seu conforto pessoal. Na verdade, Jonas mostra que uma pessoa egocêntrica se torna cada vez mais mesquinha e ridícula. No início do capítulo, ele queria morrer porque Deus não correspondera à sua visão limitada da salvação; agora, Jonas está furioso o bastante para querer morrer porque o seu bichinho de estimação, a sua planta preciosa secou. Ele nos mostra que, quando somos tomados por nossos próprios problemas, a nossa vida espiritual seca. O espírito amargurado de Jonas havia sido reduzido ao nível de uma planta, que seca facilmente diante de qualquer ataque. Ele estava preocupado com abóboras. As aboboras valiam mais que as pessoas. Ele teve compaixão da aboboreira, ele a defendeu, ele a amou, mais foi incapaz de amar as pessoas de Nínive.
Muitos cristãos são assim: o que mais os preocupa são as coisas insignificantes da vida da igreja; a cor do tapete, seu status na hierarquia da igreja, detalhes na apresentação musical, questões teológicas secundarias; mas nunca se preocupam e nem se envolvem com as questões maiores do evangelho. Até mesmo os maiores fiéis — como o profeta Jonas — podem reduzir-se a ANÕES ESPIRITUAIS, a não ser que elevem sua perspectiva acima das pequenas preocupações do ego. A experiência mostra que pessoas egocêntricas são as mais infelizes: elas reclamam o tempo todo, nunca estão satisfeitas, não sentem alegria na vida, não geram alegria em outros e pouco prezam a glória de Deus. A não ser que nosso coração se preocupe com causas e glórias muito maiores do que as nossas próprias, desperdiçamos os dons e o chamado e ficamos sentados miseravelmente sob o calor do sol das provações do mundo, querendo morrer. Por trás de tudo isso, estava a amargura de Jonas contra os ninivitas. O caminho de Jonas para odiar a vida começou com seu ódio contra Nínive. Ele começou: “Como posso viver se os ninivitas forem salvos?”. Esse era o verme que roía sua alma: a graça de Deus para os seus desafetos. Agora, Jonas reclama: “Como posso viver num mundo que permite que minha pequena e preciosa planta morra?”.
III. EM NOME DA COMPAIXÃO.
Esse é o ponto da terceira pergunta de Deus, e o segundo ponto da mensagem de Deus a Jonas: “Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4.10-11).
1. A compaixão se envolve.
O que Deus está querendo dizer é que a solução para a nossa miséria egocêntrica é envolver nosso coração na grande obra da salvação de Deus, adotando sua preocupação em compaixão pelos perdidos. Os cristãos mais alegres e mais úteis são aqueles que tem paixão pelo evangelho. São também aqueles que estão envolvidos com a obra de Deus, que crescem na graça, cuja alma é preenchida com o entusiasmo da misericórdia de Deus no mundo. Deus discute isso cuidadosamente com Jonas, argumentando do menor para o maior. Jonas amou sua pequena planta, que crescera sem esforço dele em uma única noite. Ela era um nada pequeno e frágil. Mas diante dele estava uma cidade grande, repleta de pessoas com almas. “… não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas?” (Jn 4.11). Até mesmo os animais e outras posses eram muito mais importantes do que a planta de Jonas. O bem-estar temporal e eterno de milhares não interessa a Jonas, assim como interessa a Deus?
Jonas precisava aprender um hino muito antigo, que não mais cantamos: “Irmão, você sabe o valor que tem uma alma? / Nem todos recursos humanos poderiam pagar! O dinheiro, a prata e o ouro do mundo inteiro. É pouco demais pro valor de uma alma poder comparar”. Jonas deveria perceber não somente o valor de tantas almas, numa cidade tão grande, mas também ter compaixão pela situação delas. Deus descreve Nínive como uma cidade “… em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda” (Jn 4.11). Essa expressão se refere à ignorância moral e espiritual de toda a população de Nínive. Deus demonstra sua misericórdia a uma cidade pecaminosa, presa em sua ignorância e corrupção. A escravidão espiritual do homem é culpa do homem, mas Deus mesmo assim tem compaixão dos pecadores.
2. A compaixão motiva.
Isso não é glorioso? Jonas achava certo ter compaixão de uma pequena planta sem valor, da mesma forma que nós mesmos deixamos nos dominar por nossos pequenos problemas. Mas será que conseguimos enxergar a glória da compaixão salvífica de Deus por um mundo perdido em pecado? Será que conseguimos reconhecer a glória nas palavras de Jesus Cristo, sofrendo nas mãos de homens cruéis: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34)? A raça humana pecaminosa, assim como a antiga Nínive, é perversa e má, culpada por seus próprios pecados e corrupta em decorrência de suas próprias escolhas egocêntricas. Mesmo assim, Deus tem misericórdia do mundo! Não deveríamos juntar-nos também à sua compaixão salvífica, abrindo nosso coração para aqueles presos em sua ignorância e escuridão? Se o fizermos, derrubaremos nossas “pequenas cabanas”, entraremos no mundo com amor sagrado e propagaremos a graça do nosso Deus, fazendo de sua causa da graça a nossa própria e expandindo a nossa alma.
3. A compaixão excede.
A última pergunta de Deus a Jonas revela não só o motivo glorioso da graça salvífica de Deus, mas também sua extensão. Deus tem misericórdia não só daqueles que estão dentro, mas também daqueles que estão do lado de fora. Deus estende sua compaixão salvífica aos mais corruptos e perversos. E a salvação de Deus se refere não só ao aspecto espiritual, mas também ao bem-estar físico e moral da vida, assim como ele se compadece não só dos ninivitas, mas também de seus animais. Davi cantou: “Tu, Senhor, preservas os homens e os animais” (Sl 36.6). Que causa maior poderia existir para preencher nosso coração? Mas será que nosso coração está voltado para a graça salvadora de Deus para o mundo? Nós nos maravilhamos com a compaixão que Deus tem pelos perdidos? E será que nos regozijamos na vasta extensão da salvação de Deus? Que redime pecadores de todos os tipos e que transforma não só seu destino eterno, mas também sua vida temporal?
4. A compaixão exige.
Certamente é importante o fato de o livro de Jonas terminar com a última pergunta de Deus. Na verdade, o versículo mais importante do livro de Jonas pode ser o versículo que nem existe: Jonas 4.12. Nada sabemos da resposta de Jonas. Mais importante é como nós respondemos ao chamado da graça misericordiosa de Deus, não só para nós, mas também para o mundo. A melhor e única resposta adequada é oferecermos tudo que temos para a causa do evangelho. Alguém disse: “Quando contemplo a cruz milagrosa, na qual morreu o Príncipe da glória. Meu maior lucro é apenas perda, e eu derramo desprezo sobre todo o meu orgulho… Se todo o domínio da natureza fosse meu, esse seria um presente pequeno demais. Amor tão maravilhoso, tão divino exige minha alma, minha vida, meu tudo”.
IV – O DEUS DO LIVRO DE JONAS
Com isso em mente, a melhor maneira de concluir nosso estudo sobre o livro de Jonas é lembrar sua manifestação de Deus e de seus atributos gloriosos.
1. O livro de Jonas nos apresenta o Deus soberano.
As ordens de Deus foram dadas soberanamente ao seu profeta e soberanamente supervisionadas pela mão de Deus. Jonas podia se recusar ao chamado de Deus de pregar em Nínive, mas ele não pôde se esquivar do propósito de Deus por meio dele. Jonas podia fugir para Társis, mas não pôde afastar a tempestade enviada pelo Senhor. Mas justamente quando a soberania de Deus parecia significar algo ruim para Jonas, ele aprendeu que era exatamente disso que ele precisava, pois soberanamente Deus enviou o grande peixe que engoliu e libertou o profeta. Até mesmo nos detalhes da vida de Jonas, Deus lhe ajudou e o disciplinou de forma soberana para que ele crescesse na graça. E foi pela graça soberana de Deus que toda uma cidade perversa se arrependeu ao ouvir a palavra do profeta. Deus disse por meio de Isaías: “o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade […]. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei” (Is 46.10-11). Se alguma história na Bíblia comprova a verdade da soberania de Deus, é a história de Jonas. E se reconhecermos a mão soberana de Deus em todas as coisas, então aceitaremos as ordens de sua Palavra como chamados soberanos para a obediência humilde.
2. O livro de Jonas nos apresenta o Deus santo.
Foi a ira santa de Deus diante do pecado de Nínive que pôs Jonas em seu caminho: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim” (Jn 1.2). E foi por causa dessa mesma santidade divina que Deus não aceitou a rebelião de Jonas. A grande tempestade que Deus lançou contra o navio de Jonas é apenas uma imagem do julgamento maior que espera todos aqueles que se desviam de seus caminhos. A mensagem que Deus queria que Jonas pregas-se em Nínive é uma advertência para o mundo inteiro: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4). Deus é um Deus santo, por isso os perversos não continuarão para sempre, e sua liberdade no pecado tem um fim divinamente previsto num julgamento temeroso. Deus é um Deus santo, por isso aqueles que são poupados do julgamento por sua misericórdia são chamados para uma vida igual à de Deus. Deus nos diz: “Sede santos, por-que eu sou santo” (1Pe 1.16).
3. O livro Jonas nos apresenta o Deus todo poderoso.
Jonas não conseguiu escapar do alcance de Deus nem do poder de Deus. “Temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra“, Jonas confessou aos marinheiros pagãos (Jn 1.9), e o poder que Deus demonstrou sobre o domínio da criação comprovou suas palavras. Além do mais, Deus tem o poder de transformar o coração de homens e animais. Ele chamou o grande peixe, e este obedeceu ao chamado; Deus fez com que sua palavra fosse pregada ao mais perverso dos reis, e o rei de Nínive “… levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre cinza”, chamando toda a cidade para o arrependimento (Jn 3.6). Se Deus é tão poderoso assim, e se Deus quer a nossa salvação, então certamente podemos viver sem medo do mundo. Especialmente em nosso testemunho a uma geração má, o poder revelado de Deus nos chama para entrar nas cidades de Nínive em nossa volta, proclamando sua justiça e misericórdia com ousadia sagrada.
4. O livro de Jonas nos apresenta o Deus da misericórdia.
Por qual outro motivo o apelo de Deus pela compaixão pelos pecadores ignorantes de Ninive seria a última palavra? Há um hino que declara: “Existe uma vastidão na misericórdia de Deus semelhante à vastidão do mar”. Jonas aprendeu que a misericórdia de Deus é mais vasta do que as fronteiras de seu Israel, vasta o bastante para incluir pessoas de todas as terras e línguas, vasta o bastante para incluir os piores pecadores, como o rei tirano de Nínive e o profeta egocêntrico Jonas. Quão vasta é a misericórdia de Deus? Sua extensão verdadeira são os braços estendidos de Jesus Cristo, único Filho de Deus, na cruz do Calvário para morrer por nossos pecados. Se alguém vier ao Senhor em sua cruz, implorando pela misericórdia de Deus, esse pecador descobrirá que a misericórdia de Deus é vasta o bastante para dar-lhe a vida eterna. Na mesma cruz, Deus nos chama para elevarmos nossos olhos acima dos nossos egos mesquinhos e para vermos a glória de sua graça revelada em sua compaixão pelo mundo. Olhando para os olhos do Filho de Deus na cruz, como podemos não olhar para os perdidos com a mesma compaixão? Pelo bem da compaixão, amemos o mundo em seu nome, oferecendo a todo e qualquer pecador a graça e misericórdia que recebemos de Deus.
CONCLUSÃO
Precisamos avaliar nossas motivações por mais bíblicas ou ortodoxas. Se estamos lutando e defendo um arrazoado, de aboboreiros ou teólogos. Nossas ideias são bíblicas ou abobrinhas egoístas.