Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 137  –  O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 114).  Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 64). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 18/09/2024.

Acesse todos os sermões das quartas-feiras na categoria: Sermões Expositivos.

__________________________________________________

INTRODUÇÃO

A bíblia construiu o mundo ocidental que conhecemos. Sem ela estaríamos em densas trevas.

Ela produziu todo tipo de material literário que enriqueceu o conhecimento humano. Sem as Escrituras tudo isso não seria possível, pois os povos que não têm a bíblia, não tem nada para oferecer.

Um dos autores que mais influenciou a Inglaterra e as 13 colônias, na produção de cultura, educação, literatura e religião foram os poemas escritos por um cristão.

John Milton (1608-1674), nascido em Londres, foi um poeta, panfletário e historiador inglês, considerado o autor inglês mais significativo junto com William Shakespeare.

Milton mais velho, e cego, ditou a sua obra mais conhecida “O Paraiso perdido”, amplamente considerado o maior poema épico em inglês.

Junto com Paraiso recuperado e “Sansão Agonista”, ele confirma a reputação de Milton como um dos maiores poetas ingleses.

Em suas obras em prosa, Milton defendeu a independência da Igreja da Inglaterra  do poder estatal.

Suas obras influenciaram as revoluções americanas e francesas, valorizando a liberdade de consciência, a importância primordial das Escrituras como um guia em questões de fé e a tolerância religiosa para com os dissidentes.

Seu avo era católico, e expulsou de casa, seu filho, pai do poeta, por ler um bíblia protestante e se converter. Sua Mãe Sara, uma mulher piedosa que ensinou a bíblia e poesia ao filho.

John Milton foi educado pelo Dr Thomas Young, um erudito e pastor presbiterianos que foi integrante da Assembleia de Westiminster. Foi educado em Latim, grego, Hebraico e italiano.

Em 1625 Milton iniciou seus estudos incialmente para ser pastor Anglicano, e em 1632 conclui seu mestrado em Cambridge destacando em seus estudos.

Milton exibia um talento notável como linguista e tradutor e extraordinária versatilidade como poeta. Já com 14 anos ele escrevia salmos poéticos e ao longo de sua vida editou várias obras literárias.

Ele escreveu 1629, a Sexta elegia (“Elegia sexta”), uma carta em versos em latim fornecendo uma visão valiosa sobre sua concepção de “Na manhã da Natividade de Cristo” (Natal):

“cantando o Rei que desceu do céu, o portador da paz, e os tempos abençoados prometidos nos livros sagrados — os gritos infantis do nosso Deus e seu estábulo sob um teto vil que, com seu Pai, governa os reinos acima”.

Ele diz que o advento do menino Jesus, resulta na “destruição dos deuses pagãos em seus próprios santuários”.

Milton compara Cristo à fonte de luz que, ao dissipar a escuridão do paganismo, inicia o início do cristianismo e silencia os oráculos pagãos.

Ele disse que a descida e a humilhação da Divindade são cruciais para o triunfo do menino Jesus. Por meio desse exercício de humildade, a Divindade em nome da humanidade se torna vitoriosa sobre os poderes da morte e da escuridão.

Milton se casou com sua primeira esposa Mary Powell, e que logo o abandona sem consolidar o ato conjugal, e depois de três anos volta para casa e tiveram quatro filhos.

Mary Powell morreu em 5 de maio de 1652 devido a complicações após o nascimento do da última filha de Deborah. As filhas de Milton sobreviveram até a idade adulta, e ele as educou.

Em 1656, Milton se casou com Katherine Woodcock. Ela morre em 1658, menos de quatro meses após dar à luz sua filha Katherine, que também morreu.

Milton se casou pela terceira vez com Elizabeth Minshull, apesar da diferença de idade de 31 anos, eles vivem felizes por 12 anos até sua morte.

Diferente de muitos poetas românticos, que viveram na vida promiscua, traindo suas esposas, com prostitutas e bebedeiras, como foi Karl Max, Goethe, Rousseau e outros.

  1. John Milton o poeta da reforma

Na Academia Francesa, o Sinédrio nacional de sábios e literatos, o costume era que cada membro recém-eleito sinalize sua admissão na companhia dos imortais fazendo um elogio ao acadêmico que morreu por último e cujo lugar ele foi escolhido para preencher.

É um fato curioso que o primeiro poema publicado de John Milton tenha sido seu “Epitáfio sobre o Admirável Poeta Dramático, W. Shakespeare”.

O menino de seis anos com cachos ruivos, que brincava diante da porta da loja de seu pai, pode ter atraído a atenção de William Shakespeare, quando ele fez sua última visita à cidade de Londres em 1614.

Sabemos, de qualquer forma, que, seja no teatro ou através da página impressa, Milton ouviu muito cedo, Shakespeare.

Ele pegou a tocha, por assim dizer, das mãos de Shakespeare, e a passou para tempos posteriores. Não é de se espantar que um dos primeiros usos que Milton dá à tocha é iluminar o retrato de seu grande predecessor.

Ele nos diz que Shakespeare não requer nenhum monumento de pedras empilhadas:

Querido filho da memória, grande herdeiro da fama,

Por que precisas de um testemunho tão fraco do teu nome?

 

O espanto arrebatado e mudo da humanidade é em si uma espécie de monumento de pedra para consagrá-lo:

Então tu, nossa fantasia de si mesma enlutada.

Fazes-nos mármore com muita concepção;

E, tão sepultado, em tal pompa jazes,

Que reis, por tal tumba, desejariam morrer.

 

Neste epitáfio ao maior dos poetas, cujo sol havia se posto tão recentemente, já percebemos os sinais de que outro sol havia nascido no firmamento literário.

A nova luz não era mera reprodução da antiga — tinha uma qualidade própria. O mundo concordou em chamá-la de “Miltonic”, em sinal de sua força, grandeza e sublimidades únicas.

Mas a sublimidade de Milton é uma sublimidade sua. Você não pode explicá-la como um composto de elementos encontrados separadamente em quaisquer escritos passados, sejam seculares ou sagrados.

A sublimidade de Milton é uma nova majestade combinada com uma nova harmonia. Nele você pode discernir um boom de independência elevada, de idealidade moral, de livre relacionamento o mundo invisível.

Há uma “doçura ligada longamente prolongada”, mas há também o “magna soniturum”[1],  é a sustentada declaração de alguém que parece ser profeta e também poeta, e repetir em nossos ouvidos, com lábios não desacostumados, os sussurros do Infinito.

Não pode haver dúvida, no entanto, de que o dom do pensamento e da expressão sublimes era, neste caso, um dom dado por Deus.

Das primeiras as últimas produções do poeta, revelam sua fé nas Escrituras, e o quanto ele a amava.

Ele lia todos os dias as Escrituras antes do café. Ele citou mais de 10.000 versos da bíblia, e tudo o que ele escreveu estava baseado nela.

Na sua adolescência e juventude ele podia descrever em “Acordes, poesias e meditações de causar admiração a todos.

E ele tinha apenas vinte e um anos quando escreveu sua ode[2](Poema lírico), “At a Solemn Musick” (Uma Música Solene), que fez o grande sucesso.

Ele não usou a moda da música clássica, dominante na época, mas sim usando uma linguagem retirada dos tesouros das Sagradas Escrituras e no espírito de Isaías, Ezequiel ou do apostolo João no Apocalipse, ele apresenta “à nossa elevada fantasia”:

Abençoado par de sereias, promessas da alegria do Céu[3],

Irmãs harmoniosas nascidas da esfera, Voz e verso,

Casai-vos com vossos sons divinos e poder misto, empregai

coisas mortas com sentido inspirado capaz de penetrar,

E à nossa fantasia elevada apresentai

Aquela canção imperturbável de puro conteúdo,

Cantada diante daquele trono cor de safira[4]

Para Aquele que se senta ali

Com grito santo e jubileu solene,

Onde os brilhantes serafins em fileira ardente

Sopravam suas trombetas de anjos erguidas,

E a hoste querubínica em mil coros

Tocava suas harpas imortais de fios dourados,

Com aqueles justos espíritos que usam palmas vitoriosas,

Hinos devotos e salmos sagrados

Cantando eternamente;

Para que nós na Terra com voz inconfundível

Possamos responder corretamente a esse ruído melodioso;

Como fizemos uma vez, até que o pecado desproporcional

Chocou contra o carrilhão da Natureza, e com estrondo áspero

Quebrou a bela música que todas as criaturas faziam

Para seu grande Senhor, cujo amor seus movimentos balançavam

Em primeira obediência, e seu estado de bem.

E mantenha-se em sintonia com o Céu, até que Deus em breve

À Sua consorte celestial nos unamos,

Para viver com Ele, e cantar em infinitas manhãs[5] de luz.

Esta “At A Solemn Musick” (Uma Música solene) é um poema que explora temas de harmonia, música celestial e o desejo de retornar a um estado de graça.

Ele descreve a música harmoniosa do céu, onde anjos cantam para Deus, e contrasta isso com a desarmonia causada pelo pecado na Terra.

A linguagem do poema é elevada e rica, empregando imagens de música e luz para criar uma sensação do reino celestial. Ele se baseia em imagens bíblicas, como o “trono cor de safira” e “Serafim”, para transmitir a grandeza e a santidade da música celestial.

Este poema difere de outras obras de Milton, como “Paraiso perdido” e “Paraiso recuperado”, em seu foco no poder da música para transcender as limitações terrenas e se conectar com o divino.

O poema reflete as sensibilidades religiosas e musicais do século XVII, quando a Inglaterra experimentou um florescimento da música sacra e um interesse renovado em temas bíblicos.

  1. Milton e seus dons para comover e impressionar.

Há certos elementos constituintes da poesia miltoniana um tanto menos óbvio, e que vão longe para explicar seu poder de comover e impressionar.

Um deles é sua personalidade puritana intensa. O poema e o homem são inseparáveis; o poeta coloca sua própria vida e história em seus versos.

O contraste entre Shakespeare e Dante neste assunto é particularmente instrutivo.

A poesia shakespeariana é objetiva — o autor está perdido em sua obra. Requer muita sutileza e percepção para reunir qualquer coisa com relação às características pessoais do poeta a partir das peças ou dos poemas; e, quando tiramos nossas inferências, temos que reconhecer que elas são desagradavelmente precárias.

A poesia de Dante, ao contrário, está cheia de si mesmo; “A Divina Comédia” é o drama de sua vida; inferno, purgatório e o próprio céu são apenas o palco triplo no qual o patriota exilado representa seus pensamentos e tristezas.

De maneira semelhante, a personalidade entusiástica de John Milton brilha em todas as suas obras. Suas afeições cristãs, faziam de sua vida um livro aberto.

A partir de sua prosa e poesia, podemos reconstruir todo o tecido de sua vida, tão perfeitamente como se seu propósito principal tivesse sido escrever para uma autobiografia.

Ele foi um cristão verdadeiro, ele viveu como escreveu. Nele a arte imita vida, e não a vida imita a arte. Ele cumpriu a ordem bíblica, sede santos em toda a vossa maneira de viver.

  1. Milton e sua pureza austera[6].

Outra nota da poesia de Milton é sua pureza austera, característica do movimento puritano na Inglaterra no século XVI[7].

Diferente das poesias de Goethe, onde ele simula o personagem, para tirar vantagem do seu dom poético.

A personalidade de Milton é uma personalidade pura e, portanto, o poeta pode, não, como cristão ele deve, colocá-la em seus versos.

Ele não explora a impureza, não fomenta a iniquidade, não valoriza os pecados sexuais, com o adultério, a pornografia, a pedofilia, a bebedeiras. Pelo contrario ele as denunciam em seus poemas.

Por toda a sua escrita corre uma tensão de nobreza, humildade e autoafirmação. Não foi à toa que Deus o fez o que ele era. Ele sabia que havia recebido graciosamente a cota completa de dez talentos.

Ele não desperdiçaria sua presentes em tumulto ou autoindulgência, mas os pouparia e os aumentaria, por estudos prolongados e pela abertura de seu coração para influências que vinha do alto.

“Aquele que não frustraria sua esperança de escrever bem”, ele mesmo diz, “deveria ser um verdadeiro poema.”

A vida e a obra de John Milton são uma grande lição objetiva para toda a escola de pensadores que sustentam que o verdadeiro artista deve ser um espelho incolor para refletir quaisquer imagens que o mundo puro ou impuro possa imprimir em sua superfície.

Ele também é uma lição objetiva igualmente para aquela outra escola que considera a imoralidade e a sensualidade selvagem na juventude meramente como a obtenção de uma experiência valiosa.

Nosso poeta nunca se esqueceu de que era um homem santo e um servo do Altíssimo, a quem ele devia toda honra.

Sobre suas viagens pela Itália, ao contrário da vida devassa de Goethe na Itália, elevando imoralidade dos falsos deuses gregos, e recebendo visita amorosas de mulheres casadas.

Ao contrário dessa vida impura de Goethe, Milton diz de sua viagem:

“Tomo novamente Deus como testemunha de que, em todos aqueles lugares onde tantas coisas são consideradas lícitas, vivi são e intocado por toda devassidão e vício, tendo este pensamento perpetuamente comigo, que, embora eu pudesse escapar dos olhos dos homens, certamente não poderia escapar dos olhos de Deus.”

E assim, durante todos os seus dias, não houve uma linha escrita que, no que diz respeito ao seu tom moral, ele ou qualquer outra alma pura desejaria depois apagar.

As palavras finais de obra “Comus[8],[9]” são o testemunho consistente tanto de sua poesia quanto de sua vida[10]:

Mortais que me seguirem,

Amem a Virtude; somente ela é livre:

Ela pode ensinar-vos como subir

Mais alto que o sino da esfera;

Ou, se a Virtude fosse fraca,

O próprio Céu se curvaria a ela.

 

CONCLUSÃO:

O secularismo não influenciou as obras de Milton. Sua mente e consciência foram conservadas puras. Milton defendia que cada um pudesse julgar por conta própria o que é bom ou ruim. “Todo homem maduro pode e deve exercer seu próprio critério”, ele escreveu. Ele diz ainda: “O conhecimento não pode corromper, nem, por conseguinte, os livros, se a vontade e a consciência não se corromperem”

Ele se manteve puro e sincero até o final e por isso ele foi muito perseguido e ainda muito criticado nos nossos dias. Mas ele brilhou como um sol diante de todos. Paulo diz em Filipenses 2.15,16

“Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo;

Retendo a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão.”

Que nós e nossos filhos possam aprender a grande verdade, de manterem cativa sua consciência a palavra de Deus.

2 coríntios 10.5 “Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo!

 

[1] Alguém digno (grande) de ser elogiado por um grande feito, ou feito único.

[2] Ode: entre os antigos gregos, poema lírico destinado ao canto. É um poema lírico composto de estrofes de versos com medida igual, sempre de tom alegre e entusiástico.

[3] https://allpoetry.com/At-A-Solemn-Musick

[4] Aludindo a Ezequiel I. 26. “E acima do firmamento que estava sobre suas cabeças, havia a semelhança de um trono, como a aparência de uma pedra de safira.”

[5] (última linha): No Manuscrito, a última linha é assim:

“Viver e cantar com ele em uma manhã de luz sem fim.”

[6] Que demonstra sua inflexibilidade em opiniões e comportamentos; que não faz concessões; inflexível, rígido. Que é rígido nos princípios, hábitos ou opiniões. Que não é flexível, severo ou rigoroso. Que revela circunspeção ou formalidade, sendo sério ou grave.

[7] O puritanismo surgiu como uma consequência da implantação do protestantismo em Inglaterra, após a rutura com a Igreja Católica causada pelo divórcio de Henrique VIII com Catarina de Aragão, em 1532. Eles eram os cristãos que desejavam uma Igreja da Inglaterra isenta de qualquer liturgia, cerimônia ou práticas que não estivessem absolutamente com base bíblica. A Bíblia era sua única autoridade, e eles defendiam que deveria ser usada em todos os níveis e áreas da vida. Foram chamados de puritanos, devido a sua ênfase a pureza cristã em todas as áreas da vida.

[8] Comus ( Uma Máscara Presenteada no Castelo de Ludlow, 1634 ) é uma máscara em honra à castidade escrita por John Milton. Comus , um personagem inspirado pelo deus da folia ( grego antigo : Κῶμος , Kōmos ). Essa obra se tornou famosa na Inglaterra no seu tempo.

[9] https://books.google.co.ao/books?id=IjaYDQAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_book_other_versions_r&cad=4#v=onepage&q&f=false

[10] https://www.gradesaver.com/comus/wikipedia/introduction