Sermão 17 – Referência: João 8.12-59 [1].
INTRODUÇÃO. Jesus estava ensinando no templo, quando foi interrompido pelos escribas e fariseus que traziam uma mulher apanhada em adultério.
Depois que Jesus frustrou os desígnios dos acusadores da mulher e a despediu com a recomendação de que não pecasse mais.
Depois voltou a falar aos que estavam no templo. Jesus apresenta-se aqui como a luz do mundo, o libertador dos cativos, o Filho de Deus, que tem vida em si mesmo, o único que pode dar vida eterna.
Os judeus não conseguem compreender a fala de Jesus, pois não discernem sua natureza divina nem sua obra salvadora. Do alto de sua arrogância espiritual, consideram-se livres e seguros por ter o sangue de Abraão correndo em suas veias.
Jesus, porém, reduz a nada essa pretensa segurança dos judeus, mostrando a eles que, por quererem matá-lo, não praticavam as obras de Abraão; por isso, não eram filhos de Abraão, mas filhos do diabo, a quem imitavam em suas obras.
Vamos destacar a seguir alguns pontos importantes.
- A LUZ DO MUNDO (8.12-20)
Jesus já havia se apresentado como o pão da vida para os famintos e a água viva para os sedentos. Agora, faz mais uma declaração solene: Eu sou a luz do mundo para aqueles que estão em trevas.
A metáfora da luz está impregnada de alusões ao Antigo Testamento. A glória da própria presença de Deus na nuvem conduziu o povo para a terra prometida (Êx 13.2122) e o protegeu daqueles que o destruiriam (Êx 14.19-25).
Os israelitas foram treinados para cantar: O Senhor é a minha luz e a minha salvação (Si 27.1). A Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho (SI 119.105), A luz de Deus é irradiada nas outras nações em revelação (Ez 1.4) e salvação (Hc 3,3,4).
A luz é o próprio Deus em ação (Sl 44.3). Alguns pontos devem ser aqui observados.
- Uma afirmação gloriosa (8.12a). No Antigo Testamento[2], Deus é a luz do seu povo (SI 27.1); na luz da sua presença, eles encontram graça e paz (Nm 6.24-26).
O servo do Senhor é nomeado luz das nações, para que a salvação de Deus alcance até os limites da terra (Is 49.6).
Esdras chamou a Palavra ou lei de Deus, também de luz que orienta o caminho dos obedientes:
(Sl 119.105) “Lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos é tua Palavra”. A palavra de Deus é uma espécie de farol baixo e farol alto.
Jesus personifica essa linguagem do Antigo Testamento. Ele é a luz do mundo. Sem Jesus, o mundo está mergulhado em densas trevas.
Sem Jesus, prevalece a ignorância espiritual. Sem Jesus, as pessoas estão cegas e não sabem para onde vão.
Sem Jesus, as pessoas estão perdidas, confusas e sem rumo, Sem Jesus, as pessoas caminham para as trevas eternas.
Jesus[3] é a luz do mundo, o que significa que, para os ignorantes, ele proclama sabedoria; para o impuro, santidade; e para os dominados pela tristeza, alegria.
Jesus[4] traz salvação a este mundo amaldiçoado pelo pecado. Para as trevas da falsidade, ele é a luz da verdade; para as trevas da ignorância.
Ele é a luz da sabedoria; para as trevas do pecado, ele é a luz da santidade; para as trevas do sofrimento, ele é a luz da alegria; e para as trevas da morte, ele é a luz da vida.
- Uma promessa bendita (8.12b). Jesus é categórico em afirmar que aqueles que o “seguem” não andarão em trevas, mas terão a luz da vida.
A vida com Jesus é uma jornada na luz da verdade, na luz da santidade e na luz da mais completa felicidade.
A palavra grega[5] akolouthein, traduzida aqui por “seguir”, tem cinco significados:
1) É usado frequentemente para referir-se a um soldado que segue a seu capitão e líder.
O soldado segue a seu capitão nas longas marchas pelas estradas, na batalha, nas campanhas a terras estranhas, segue-o em qualquer lugar que o leve. O cristão é o soldado cujo líder é Cristo
2) É usado com frequência com relação ao escravo que acompanha a seu amo. Em qualquer lugar que vá o amo o escravo está a seu lado para atendê-lo.
O escravo sempre está disposto a ir a serviço de seu amo e a cumprir as tarefas que este o encomenda. O cristão é o escravo cuja alegria consiste em servir sempre a Cristo
3) É usado frequentemente com referência à aceitação da opinião, veredicto ou juízo de um conselheiro sábio.
Quando um homem tem uma dúvida, dirige-se ao homem sábio e experiente, ao que tem conhecimento, ao perito, e, se for prudente, aceita o juízo e a opinião que recebe.
O cristão é o homem cujo conselheiro e perito é Cristo. O cristão é aquele que dirige sua vida e sua conduta segundo o conselho de Cristo
4) Costuma-se empregar a respeito da obediência às leis de uma cidade ou de um Estado.
Se um homem tiver que converter-se em um membro aceitável e útil de qualquer sociedade ou em um cidadão de alguma comunidade, deve aceitar as leis dessa sociedade ou comunidade e deve obedecê-las.
O cristão é o cidadão do Reino dos céus, e aceitou a lei do Reino e a lei de Cristo como lei que regerá sua vida.
5) Costuma-se empregar a respeito de alguém que segure a linha argumentativa de um professor ou o tema principal de um discurso.
O cristão é o homem que compreendeu o significado do ensino de Cristo. Não ouviu com uma incompreensão tola; não ouviu sem prestar maior atenção; não ouviu de maneira tal que a mensagem entra por um ouvido e sai pelo outro.
Ele escuta, leva a mensagem à sua mente e compreende, recebe as palavras em sua memória e as recorda, esconde-as em seu coração e Escuta.
Então leva a mensagem à sua mente e compreende, recebe as palavras em sua memória e as recorda, esconde-as em seu coração e obedece.
Portanto, necessitamos de sabedoria do céu para seguir o caminho na terra. A pessoa que tem um guia seguro e um mapa correto chegará, sem dúvida, a seu destino sã e salva.
Jesus Cristo é esse guia; ele é o único que possui o mapa da vida. Segui-lo significa transitar a salvo pela vida e depois entrar na glória.
- Uma explicação irrefutável (8.13-18). Os fariseus acusam Jesus de falar de si mesmo. E que este testemunho não tinha nenhum valor.
A acusação dos judeus se baseava em que não se podia aceitar a afirmação de Jesus porque não era sustentada por nenhuma testemunha fora dele próprio.
A resposta que Jesus dá é dupla.
Em primeiro lugar, responde que seu testemunho é suficiente. Era tão consciente de sua própria autoridade, de sua estreita relação com Deus, que não necessitava nenhum outra testemunha.
Não se trata de orgulho ou confiança em si mesmo. Não é mais que a instância suprema do que acontece todos os dias na vida cotidiana.
Um grande cirurgião ou médico confia em sua opinião; não necessita que ninguém o apóie, seu testemunho é sua própria habilidade.
Um advogado importante ou um juiz de renome está seguro de sua própria interpretação e aplicação da lei. Não quer dizer que está orgulhoso de seu conhecimento; é consciente de que sabe.
Jesus estava tão seguro e era tão consciente de sua estreita relação com Deus que não necessitava nenhuma outra autoridade para apoiar suas afirmações fora dessa relação com Deus.
Mas, em segundo lugar, Jesus diz que em realidade tem uma segunda testemunha, e essa testemunha é Deus.
Como podemos afirmar que Deus dá testemunho da autoridade suprema de Jesus?
(a) O testemunho de Deus está nas palavras de Jesus. Ninguém podia falar com tal sabedoria a menos que Deus lhe tivesse dado o conhecimento.
(b) O testemunho de Deus está nas ações de Jesus. Ninguém podia fazer essas coisas a menos que Deus estivesse com ele e agisse através dele.
(c) O testemunho de Deus está no efeito de Jesus sobre os homens. Cristo produz mudanças nos homens que estão claramente muito além do poder de qualquer ser humano.
Nenhum poder humano pode fazer com que o homem mau se converta em alguém bom; portanto, o poder de Jesus é divino.
O próprio fato de que Jesus pode fazer pelos homens o que os homens jamais podem fazer por si mesmos é a prova definitiva de que seu poder não é meramente o poder de um homem. É o poder de Deus.
(d) O testemunho de Deus está na reação dos homens para com Jesus. Em qualquer lugar e quando quer que Jesus se apresentou aos homens em todo seu esplendor.
E em qualquer lugar que se pregou a cruz em toda sua grandeza e em todo seu esplendor, houve uma resposta imediata e assustadora no coração dos homens.
O que foi que despertou esta resposta? Essa resposta é o Espírito Santo de Deus que opera e dá testemunho nos corações dos homens. É o Deus que está em nossos corações que nos permite ver a Deus em Jesus.
Assim foi como Jesus enfrentou o argumento dos escribas e fariseus no sentido de que não se podiam aceitar suas palavras porque o testemunho que o apoiava não era adequado.
Suas palavras estavam baseadas em um testemunho duplo: o testemunho de sua própria consciência de autoridade e o testemunho de Deus.
Em segundo lugar, Jesus, refere-se a seu direito de julgar. Sua vinda ao mundo não propõe como primeira missão emitir um juízo; sua vinda ao mundo propõe o Amor.
Foi porque Deus amou tanto o mundo que Jesus veio. Entretanto, ao mesmo tempo, a reação do homem para com Jesus é um juízo em si mesmo.
Se não ver nenhuma beleza em Jesus, mediante essa mesma reação se condenou. Aqui Jesus estabelece um contraste entre dois tipos de juízo.
(a) Existe o juízo que se baseia sobre o conhecimento e os padrões humanos, o juízo que nunca vê além da superfície.
Esse era o juízo dos escribas e fariseus. E, em última instância esse é o juízo humano porque os homens não podem ver além da superfície das coisas.
(b) Existe o juízo que se baseia no conhecimento, não no conhecimento superficial, e sim naquele que conhece todos os fatos, inclusive os mais recônditos, e esse juízo só pode corresponder a Deus, porque Ele é o único que tem esse conhecimento.
Agora, Jesus afirma que qualquer juízo que Ele emite, não é um juízo humano; é o juízo de Deus; porque Ele é em tal medida um com Deus.
Ali se encontra tanto nosso consolo como nossa advertência. Jesus é o único que conhece todos os fatos.
Isso o faz misericordioso como ninguém pode sê-lo jamais; mas ao mesmo tempo lhe permite ver pecados que estão escondidos aos olhos dos homens.
O juízo de Jesus é perfeito porque está baseado no conhecimento que pertence a Deus.
(3) Por último, Jesus disse com toda franqueza aos escribas e fariseus que eles não tinham um conhecimento real de Deus.
O fato de que não reconheciam quem e o que era Jesus demonstrava que em realidade não conheciam a Deus.
A tragédia era que toda a história de Israel estava criada para que os judeus reconhecessem o Filho de Deus quando este chegasse: toda sua História apontava a essa vinda.
Mas se comprometeram tanto com suas próprias ideias, estavam tão envoltos em seu próprio caminho, tão seguros de sua idéia do que era a religião que se haviam feito cegos para com Deus, a tragédia dos judeus era que criam que sabiam mais que Deus.
III. O DISCÍPULO AUTÊNTICO (8:31-32)
Há poucas passagens do Novo Testamento que descrevam em forma tão completa as características do discípulo como estes dois versículos.
- Para ser um discípulo, em primeiro lugar deve-se crer. A gente começa a ser um discípulo quando aceita como verdadeiro o que Jesus diz.
Quando o homem aceita tudo o que Jesus diz sobre o amor de Deus, tudo o que afirma sobre o terror do pecado, quando aceita tudo o que diz sobre o verdadeiro significado da vida, nesse momento o homem começa a ser um discípulo de Jesus.
- Ser um discípulo significa permanecer constantemente na palavra de Jesus.
O que significa permanecer na palavra de Jesus?
Implica quatro coisas.
(a) Ouvir em forma constante a palavra de Jesus. Conta-se que John Brown de Haddington costumava deter-se de vez em quando enquanto pregava como se ouvisse uma voz.
O cristão é o homem que ouve a voz de Jesus durante toda sua vida. É o homem que não toma nenhuma decisão sem ouvir antes o que Jesus diz a respeito.
(b) Implica aprender constantemente de Jesus, Em seu sentido literal, o discípulo (mathetes) é aquele que aprende, porque isso é o que a palavra grega significa.
O cristão deve aprender durante toda sua vida mais e mais a respeito de Jesus. A mente que se fecha põe fim ao discípulo.
(c) Implica penetrar constantemente na verdade com que estão carregadas as palavras de Jesus.
Ninguém pode ouvir as palavras de Jesus de uma vez para sempre, ninguém as pode ler uma só vez, e dizer que entende todo seu sentido.
A diferença entre um grande livro e um livro frívolo radica justamente em que ao segundo lemos uma vez e nunca voltamos a sentir desejos de relê-lo; enquanto que o livro transcendente o lemos várias vezes e voltamos a abri-lo de vez em quando.
Permanecer na palavra de Jesus significa estudar e pensar continuamente no que disse e no que nos continua dizendo, até que cada vez fazemos mais nosso o significado de suas palavras.
(d) Implica obedecer em forma constante a palavra de Jesus. Não estudamos a palavra de Jesus para obter uma satisfação acadêmica ou uma estima intelectual, mas para descobrir o que Deus quer de nós.
O discípulo é aquele que aprende para poder agir. A verdade que trouxe Jesus aponta rumo à ação.
- Do ser discípulo surge o conhecimento da verdade. Aprender de Jesus é aprender a verdade. “Conhecereis a verdade”, disse Jesus. E qual é a verdade que conheceremos?
Essa pergunta tem muitas respostas possíveis, mas a forma mais sintética de expressá-lo quer dizer que a verdade que nos traz Jesus nos mostra os verdadeiros valores da vida.
Há uma pergunta fundamental a que todo homem deve responder já seja em forma consciente ou inconsciente:
“A que dedicarei minha vida?” “Vou dedicá-la a uma carreira? Vou dedicá-la a acumular posses materiais?
Vou dedicá-la ao prazer? Vou dedicá-la à obediência e ao serviço a Deus?” A verdade que nos traz Jesus permite estabelecer corretamente nossa escala de valores. É em sua verdade onde vemos quais são as coisas que têm importância e quais carecem dela.
(4) O ser discípulo proporciona a liberdade. “A verdade vos libertará.” “No serviço a Deus está a liberdade perfeita.”
O fato de ser discípulos nos outorga quatro liberdades.
(a) Liberta-nos do temor. O homem que é discípulo jamais volta a caminhar sozinho. Caminha para sempre em companhia de Jesus, e, com Ele, o temor desaparece.
(b) Liberta-nos de nosso eu. Muitos homens reconhecem que seu maior obstáculo e seu inimigo mais acérrimo é seu próprio eu.
E são muitos os que exclamam se desesperados: “Não posso trocar. tratei, mas é impossível.” O poder e a presença de Jesus podem recriar ao homem até que se converte em alguém novo.
(c) Liberta-nos de outros. A vida de muita gente está dominada pelo que podem pensar e dizer outros. H. G. Wells disse em uma oportunidade que a voz de nosso próximo soa com maior vigor em nossos ouvidos que a de Deus.
O discípulo é aquele homem que já não se preocupa com o que os outros dirão porque só pensa no que diz Deus.
(d) Liberta-nos do pecado. São muitos os homens que chegaram ao ponto em que não pecam porque querem fazê-lo mas sim porque não podem evitá-lo.
Seus pecados, seus hábitos, suas debilidades, sua irritabilidade chegaram a dominá-los de tal forma que já não podem livrar-se deles.
O “ser discípulo” rompe as cadeias que atam a nossos pecados e nos permitem ser a pessoa que deveríamos ser.
Que surja em mim um homem
Para deixar de ser quem sou.
Essa é a oração cuja resposta receberá o discípulo de Cristo.
IV O AUTOENGANO RELIGIOSO (8.37-47)
Jesus mostrará, com cores fortes, a triste possibilidade de existirem filhos do diabo entre a semente de Abraão.
Chamo a atenção para três pontos a seguir.
(a) Os filhos imitam os pais. (8.37-40). Jesus define o verdadeiro conceito de filiação. Não basta simplesmente ser filho biológico, a filiação é definida pela correta imitação dos pais.
Os judeus são filhos de Abraão, por causa da descendência. E mesmo apesar de terem o sangue de Abraão correndo em suas veias, eles não imitam em nada o exemplo de Abraão.
Quem é verdadeiramente filho de Abraão vai imitar e praticar as mesmas obras de Abraão. E eles queriam matar a Jesus, a quem Abrão sempre amou e desejou (8.56). As obras deles são opostas as obras de Abraão.
Jesus, como Filho de Deus, falava e fazia o que via no seu Pai; os judeus também estavam falando e fazendo o que viam em seu pai.
Mas, como os judeus queriam matá-lo e se recusavam terminantemente a recebê-lo como o enviado de Deus, provavam que esse pai não era Abraão.
Os judeus estavam enganados acerca de sua filiação. Julgavam ser quem não eram, uma vez que o importante não é ter o sangue de Abraão correndo nas veias, mas ter a fé de Abraão habitando no coração.
(b) Os filhos amam os pais (8.41-43). Quando Jesus falou aos judeus que eles não eram filhos de Abraão, porque a obra que faziam não eram as mesmas de Abraão, replicaram de imediato:
[…] Não somos filhos de prostituição. Temos um Pai, que é Deus (8.41).
Jesus argumenta que, se de fato Deus fosse pai deles, haveriam de amá-lo, pois havia vindo da parte de Deus (8.42).
Por causa da filiação, eles teriam uma incapacidade irremediável de compreender sua linguagem e ouvir sua Palavra (8.43).
Os Judeus não podiam entender as verdades das Escrituras, e por isso estavam aplicando-as equivocadamente.
E Jesus denuncia essa hermenêutica. Eles estavam cometendo a Heresia da aplicação. Eles citavam um texto e aplicavam erroneamente.
Um coração errado, produzirá uma interpretação errada da Escritura. João diz que a unção que habita em vós, vos ensinarás todas as coisas.
A comunhão com Deus é o um caminho seguro para a interpretação das Escrituras. Todo interprete que não tem vida de oração vai ter prejuízos na sua hermenêutica.
O verdadeiro sentido de ser filho de Abraão é a filiação espiritual, e não a biológica, somente os filhos da fé, são verdadeiramente filhos de Abraão.
E essa filiação é comprovada pela SEMELHANÇA e pela CONDUTA idêntica à de Abraão. Quem imita Abraão vai inevitavelmente amar e obedecer a Deus.
(c) Os filhos ouvem os pais (8.44-47). Jesus chega ao auge de sua acusação aos judeus dizendo que eles não eram filhos de Abraão nem consequentemente filhos de Deus, como pensavam.
Jesus é categórico vocês são filhos do diabo. Vocês estão fazendo a vontade do diabo. Eles rejeitavam a verdade como o diabo.
Eles viviam agarrados à mentira como o diabo; e estavam cheios de inveja e ódio a ponto de quererem matá-lo, tal qual o diabo é assassino (8.44).
Fisicamente, esses judeus certamente eram filhos de Abraão, mas, moral e espiritualmente, eram filhos do diabo. Porque eram filhos do pai da mentira, não criam em Jesus, que lhes falava a verdade (8.45).
A mentira do diabo não é somente que ela engana a si mesmo e aos outros, mas, sobretudo, que ele não sustenta a verdade real.
Veja por exemplo a teoria da evolução; a ideologia de gênero elas não sustenta a verdade real dos fatos.
Veja como muitos crentes, que acreditam que são salvos e não o são, pois não apresentam os frutos de uma nova vida como está em Gálatas 5.22.
Não obstante, esses crentes dizem crer em Jesus, e embora até pregue esta verdade, mas não evidenciam obediência absoluta a Deus.
Jesus deixa claro que só “ouve” as palavras de Deus aqueles que são de Deus. Se os judeus não o ouvem, logo não são de Deus (8.47).
Ouvir é obedecer, reorientar sua vida de acordo com a Palavra de Deus.
- A DIVINDADE DE JESUS (8.48-59)
Quanto mais luz era lançada sobre os judeus, mais cegos e prisioneiros da escuridão eles ficavam.
Em vez de ver as evidências, aceitar a verdade e crer em Jesus, os judeus lançam contra Jesus pesadas acusações.
Vejamos:
- a) As falsas acusações (8.48,52). Os judeus levantaram contra Jesus duas acusações levianas.
A primeira nasce de uma visão preconceituosa. Chamaram-no de SAMARITANO (8.48). Estão xingando a Jesus como um homem mestiço, híbrido, sincrético, abominável, desprezível.
A segunda acusação é uma blasfêmia. Disseram que Jesus tinha demônio. O rotularam de possesso e endemoninhado. Afirmaram que Jesus, em vez de ser o enviado do Pai, era enviado por Satanás.
Jesus então faz a sua defesa (8.49-59). Que de vocês me convence do pecado (8.46). Agora, diz com todas as letras:
“Eu não tenho demônio” e contra-ataca: Eu não busco glória para mim mesmo […] Se eu glorificar a mim mesmo, a minha glória não tem valor Quem me glorifica é meu Pai, do qual dizeis ser o vosso Deus (8.50,54).
A essa altura, Jesus faz uma afirmação gloriosa: Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém obedecer à minha palavra, nunca verá a morte (8.51).
Jesus está dizendo que ele pode dar a vida eterna. Embora a morte física possa atingir os que guardam a sua palavra, jamais impedirá que estes desfrutem a vida eterna.
Os judeus compreenderam o discurso de Jesus e atacaram-no novamente. Reafirmaram que ele tinha demônio, pois julgaram muita petulância querer ser maior do que o Pai Abraão e os profetas que morreram.
Como Jesus poderia prometer que aqueles que guardassem sua palavra não veriam a morte eternamente (8.52,53)?
Então Jesus, é ainda mais categórico com os judeus, dizendo-lhes que Abraão viu o seu dia e se alegrou (8.54).
Acredito, no entanto, que houve aplicação histórica nesse texto. Há muito tempo que estou convencido de que o aparecimento de Melquisedeque foi uma das Christofanias mais importantes do Antigo Testamento.
Ele é descrito como “Rei da justiça, rei da paz”. Ele encontrou Abraão retornando do massacre dos reis e o abençoou; e o menor foi abençoado pelo maior.
Historicamente, o momento que Abraão ficou cara a cara com Cristo, na minha opinião foi, quando Melquisedeque o encontra. Esse argumento é reforçado pela epistola aos Hebreus capitulo 7.
Irritados e cegos de entendimento, questionaram: você ainda não tem cinquenta anos e viu Abraão? (8.57).
Jesus, então, da cartada final: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, Eu sou (8.58).
A existência de Jesus transcende o tempo. Ele é, portanto, exaltado infinitamente acima de Abraão.
Jesus não é somente um homem que viveu e morreu. Ele é o Deus eteno, que foi o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, que era antes do tempo, que será depois do tempo, que sempre é.
Em Jesus, o Deus eterno se manifestou aos seres humanos.
Aqui só restavam duas possibilidades: ou os judeus estavam diante do maior embusteiro e blasfemo, ou diante do Filho de Deus.
- A REJEIÇÃO DA PALAVRA DE DEUS.
Os judeus era o povo que mais conhecia as Escrituras. Eles eram os guardiões dos oráculos divinos. Eles observavam os mínimos detalhes da lei. Estavam ali os doutores da Lei, os escribas, que eram os grandes teólogos daqueles dias.
Então porque rejeitaram a Palavra de Deus, mesmo conhecendo-a profundamente. Porque não creram em Jesus Cristo, mesmo aguardando o messias.
Aqui neste texto há pelo menos cinco[6] razões pelas quais as pessoas rejeitam a Palavra de Deus:
- a) Falta de entendimento (8.14). Eles tinham a cabeça cheia de conhecimento, mas o coração vazio. Aquele conhecimento trazia arrogância espiritual, por serem filhos de Abrão e herdeiro da verdadeira religião.
Eles não se aproximavam da Escritura para aprender, mas para satisfazer o simples desejo de conhecer.
Eles não praticaram a Palavra de Deus. Jesus disse (v.31) “Se vós permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos”.
A motivação deles estava errada. O conhecimento deles não produzia frutos dignos de arrependimento. O conhecimento deles não produzia vida piedosa.
A ignorância espiritual não é um pecado comum dos que sabem menos, mas as trevas do que acham que sabem mais.
Quanto mais simples é um crente mais aberto à aprendizagem ele está, mas facilmente ele vai tentar praticar o que está aprendendo.
O problema não é a mente mais o coração. Normalmente quem mais acha que sabe OBEDECE MENOS, e quem reconhece que não sabe OBEDECE MAIS.
Conheci um Pastor há uns 30 anos atrás, que tinha dúvida de quem estava realmente obedecendo a Deus e com quem realmente podia contar. Então em domingo à noite, Deus deu a ele um teste: peça para cada um trazer para o próximo culto de ensino que seria na terça feira, uma varinha.
Muitos ficaram questionando a validade e a coerência daquele pedido. Na terça feira, havia alguns obreiros no púlpito com varinha e outros não, do mesmo jeito, no coral, no grupo de Jovens, daqueles que estudavam teologia, quase ninguém, senão uns poucos.
Então o Espirito disse ao seu coração: veja os que obedeceram; e os que não obedeceram. Se não conseguem obedecer a você; como poderão obedecer a mim.
Naquele dia o Pastor soube quem ele deveria preparar para ser seu substituto, oque aconteceu 20 anos depois. (Curiosamente; meu pai levou a maior varinha, inclusive levou outras para dar a outros irmãos que haviam esquecido).
- b) Falta de discernimento (8.15,23): eles estavam julgando segundo a aparência. Eles não conseguiam ver o que estava por traz da realidade.
A tragédia era que toda a história de Israel estava criada para que os judeus reconhecessem o Filho de Deus quando este chegasse.
Toda sua História apontava para essa vinda. Todo ritual, toda lei, todo culto, toda música; tudo apontava para Cristo. Eles falavam disso o tempo todo.
Mas se comprometeram tanto com suas próprias ideias, estavam tão envoltos em seu próprio caminho, tão seguros de sua ideia do que era a religião que se haviam feito cegos para com Deus, a tragédia dos judeus era que criam que sabiam mais que Deus.
- c) Falta de apropriação (8.37,43); Jesus diz vocês são descendência de Abraão; vocês são filhos da promessa; “mas a minha palavra não entra em vós”.
Vocês não tomam possa daquilo que eu falo. Vocês põe em dúvida tudo que falo. Vocês não estão dispostos a ouvir o que eu prego.
Jesus ainda pergunta? Por que vocês não entendem a minha linguagem? E ele responde: Por que vocês não podem ouvir a minha Palavra.
Os judeus haviam rejeitado a pessoa de Jesus, e por isso não aceitavam a pregação e o ensino de Jesus.
- d) Falta de desejo (8.44). Jesus diz vocês querem satisfazer o desejo do vosso pai que é o diabo.
Seguir a Jesus implica em satisfazer a vontade de Deus. E fazer a vontade de Deus, implica em abrir mão da nossa própria vontade.
Normalmente a vontade do diabo, anda de mãos dadas com a vontade da nossa carne. O nosso coração caído gosta das coisas pecaminosas.
Aceitar a pregão e o ensino de Jesus implica em fazer uma decisão. E as pessoas não estão desejosas de tomar as decisões que realmente precisam tomar.
Elas querem tomar as decisões que elas acham que precisam tomar, mas não as que elas realmente precisam mudar.
5) falta de humildade (8.47,51). Aceitar a pregação de Jesus, implica em guardar a sua palavra. Implica em obedecer a sua palavra.
Jesus vai dizer: quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não são sois de Deus.
Toda a pessoa que tem problema com humildade, tudo o que ela pensa e faz está fora de foco.
Uma pessoa que não é humilde jamais terá uma piedade verdadeira e não poderá ser salva. Jesus disse que o reino de Deus, pertence aos pobres de Espirito.
CONCLUSÃO: Veja a majestade da declaração final (v.59) “Jesus se escondeu e saiu do templo.”
Essas palavras de Jesus foram proferidas no lugar do tesouro, onde ficava grandes arcas ou gazofilácios que ficavam iluminados durante a festa dos tabernáculos.
Esse local era o pátio das mulheres e devido as ofertas e os tesouros que eram depositados naquelas arcas esta era a área de segurança máxima do templo.
Mas eles desprezaram a verdadeira riqueza, e a hostilidade foi tanta que João nos informa que Jesus só não foi preso ali, porque ainda não havia chegado a sua hora (8.20).
Eles desprezaram a verdadeira luz que ilumina. Eles não queriam a verdadeira riqueza.
Li esta semana um trecho de um livro de como as pessoas não mais estão preocupadas com as riquezas espirituais.
O livro fala sobre oração ele diz: a oração desesperada e apaixonada está definitivamente fora de moda hoje.
Talvez essa seja a razão pela qual experimentamos tão pouca benção divina sobre a igreja como um todo e em seus membros individuais.
Com frequência, parecemos satisfeitos com o status quo em vez de buscar mais de Deus. Devido a isso, parece que temos pouco efeito sobre o mundo ao nosso redor.
Os judeus, passaram a vida inteira esperando o messias, mas quando ele veio, eles estavam acostumados com o seu status quo, que não deixaram o messias fazer nenhum efeito sobre suas vidas.
Então clamamos a Deus em oração, pedindo a Ele que envie a luz de um reavivamento para nós, para nossa igreja e para nossa comunidade, para que a luz do evangelho resplandeça.
[1] Sermão adaptado do comentário de João. Editora Hagnos: Hernandes Dias Lopes.
[2] F. F Bruce
[3] William Hendriksen
[4] MacArthur
[5] William Barclay
[6] Charles Swindoll