Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 148 – O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 123). Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 75). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 19/02/2025.
INTRODUÇÃO
C.S Lewis foi um dos gigantes intelectuais do século XX e provavelmente o escritor mais influente do seu tempo, escrevendo mais de 30 obras. Era professor e tutor de literatura inglesa na Universidade de Oxford até 1954, quando ocupou a cadeira de inglês medieval e renascentista na universidade de Cambridge, posição que manteve sua aposentadoria.
No início da década de 1960, quase tudo estava sendo questionado, e não foi diferente da com a chamada “crítica literária”. C.S Lewis, disse “ao ler bons livros, tornei-me mil homens, sem deixar de ser eu mesmo”. E um dos autores que mais influenciou C.S. Lewis, foi John Milton, o prefácio do Paraíso Perdido[1], considerada uma das obras mais influentes da crítica das obras de Milton.
- A nova crítica de Milton.
Tem surgido um debate moderno sobre a crítica às obras de Milton e principalmente ao “Paraíso Perdido de Milton”. O debate recente é sobre a interpretação do poema épico de John Milton, Paradise Lost[2] (1667). Curiosamente Lewis inicia o capítulo 12 de seu livro com esse versículo;
“Depuseram contra mim coisas que eu não sabia.” Salmos 35:11
Assim, ele mostra como a crítica feita a Milton por alguns acadêmicos é injusta e feira a partir da concepção do leitor e não da intenção original do autor. Os críticos que se opuseram violentamente a C.S. Lewis e Milton, na obra o Prefácio do Paraiso Perdido;
William Empson (Milton’s God [1961]) se opôs a Lewis e se tornou o porta-voz moderno de uma tradição interpretativa rival que remonta aos poetas românticos (especialmente William Blake). Na interpretação de Empson, Milton retrata Deus como um vilão e deu a Satanás todas as virtudes adequadas de um herói épico clássico. Empson se opôs ao que viu como uma tendência “cristianizadora” nos estudos literários em Lewis e outros.
No Livro O Casamento do Céu e do Inferno (The Marriage of Heaven and Hell (1790-93), William Blake[3] declarou que Milton era “um verdadeiro poeta e do partido do diabo sem saber”. Ecoando Blake, Empson afirmou: “a razão pela qual o poema [ou seja, Paradise Lost] é tão bom é que ele torna Deus tão mal”.
Stanley Fish (Surprised by Sin: The Reader in Paradise Lost [1967][4]) é o maior miltonista do final do século XX. Com base nas observações de Lewis, Fish argumentou que Milton torna Satanás atraente para que reconheçamos seus vícios em nós mesmos. Por exemplo, se aplaudimos a afirmação ousada de Satanás de que é “melhor reinar no Inferno do que servir no Céu”, então é porque nós também somos criaturas caídas e orgulhosas. Como Satanás, precisamos de correção moral.
A nova crítica a Milton (NMC (The New Milton Criticism [2011]) fica do lado equivocado de Empson e se opõe a Lewis (e Fish) porque eles acreditam que Lewis deliberadamente (e imoralmente) ignorou as heresias de Milton para fazer Milton passar por um grande poeta cristão, como Dante.
Eles argumentam que, ao contrário, Milton desafiou as normas político-religiosas da Inglaterra renascentista.
Além disso, eles afirmam que o poema de Milton convida a ser lido por suas contradições, incertezas e inconsistências, que refletem as hesitações pessoais de Milton sobre as escrituras, religião e Deus[5].
David Urban (“Speaking for the Dead” [2011]) trabalhou em um projeto de livro que mapeia o legado expansivo de C. S. Lewis nos estudos de Milton.
Ele defende Fish e se opõe ao NMC (Nova Crítica de Milton) não apenas por sua suposta má interpretação do poema de Milton, mas por sua (imoral) deturpação de Lewis e eles fazem isso por puro medo da teologia moral de Milton, acusar suas consciências.
- C.S Lewis e a teologia do Paraíso perdido;
Na medida em que o Paraíso perdido é agostiniano[6] e hierárquico, ele é igualmente católico (universal) no sentido de que sua poesia é baseada em concepções defendidas “sempre e em toda parte e por todos os cristãos”.[7]
Esta qualidade universal é tão predominante que é a primeira impressão que qualquer leitor não enviesado não conseguiria ter, como muitos críticos nunca conseguiriam entender Milton.
Existem elementos aparentemente heréticos na obra, discerníveis, contudo, apenas se os procurarmos preconceituosamente.
Lewis afirma:
“Qualquer crítica que forçosamente os coloca em primeiro plano está equivocada e ignora o fato de que este poema foi aceito como ortodoxo por muitas gerações de leitores perspicazes bem versados em teologia”.
Os estudos sobre Milton possuem uma grande dívida com o Prof. Denis Saurat,[8] mas creio que, movido pelo entusiasmo característico de um pioneiro, ele levou sua leitura longe demais.
Como agnóstico ele nos diz que “o Deus de Milton está distante do Deus da crença popular ou mesmo da teologia ortodoxa. Ele confunde a teologia de Milton com o panteísmo.
Na concepção do Prof Denis Saurat – Ele não é um Criador externo à Sua criação, mas um Ser completo e perfeito que abarca em Si mesmo todo o espaço e todo o tempo” (p. 113); “[…] a matéria é uma parte de Deus” (p. 114); “Paraíso perdido identifica Deus com o abismo primitivo e infinito” (p. 115).
Ele “não se manifesta de forma alguma: assim que a ação tem lugar no mundo, Milton fala do Filho e não mais de Deus” (p. 117); sua “unidade é incompatível […] com a Trindade” (p. 116); a “criação do Filho ocorreu em um único dia específico” (p. 119); e ele é “a manifestação exclusiva do Pai” (p. 120), que permanece “absolutamente incognoscível” (p. 121).
O Prof Saurat diz que: Por meio da criação, Deus “intensificou Sua própria existência, alçando à glória Suas partes boas, deitando fora […] suas partes más […] a fim de expulsar o mal latente no Infinito[9]” (p. 133).
Quando diz que Deus é luz, Milton está pensando nas ideias ocultistas e alquimistas da época.[10] Isso beira a blasfêmia.
Está claro para nós cristãos, do quanto essas ideias do Prof. Saurat estão afastadas da “crença popular” ou da “teologia ortodoxa”. As heresias que ele acusa a Milton, são suas próprias heresias.
Lewis faz uma relação das heresias mencionadas pelo prof. Denis Saurat.
(1) aquelas que realmente aparecem no Paraíso perdido, mas que, longe de serem heréticas, são as questões comuns da teologia cristã;
(2) aquelas que são heréticas, mas não aparecem em Milton;
(3) aquelas que ele considera, heréticas e aparecem em De Doctrina,[11] de Milton, mas não no Paraíso perdido;
(4) aquelas que parecem heréticas e que aparecem no Paraíso perdido.
- As antigas e novas críticas à teologia de Milton.
3.1. Aquelas que aparecem no Paraíso perdido, mas não são heréticas.
Em primeiro lugar que que o Pai, incognoscível, não se manifeste, sendo o Filho a manifestação exclusiva dele.
Isto certamente se encontra no poema (no livro 3, v. 384[12]) em diante, onde ficamos sabendo que o Pai “que a vista ofusca a outras criaturas” se torna “visível” no Filho.
Isto apenas prova que Milton leu o Apóstolo Paulo que Cristo “é a imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15), que Deus é “aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Timóteo 6:16).
Em segundo lugar – “Assim que a ação tem lugar no mundo, Milton fala do Filho e não mais de Deus.” Na medida em que é verdade, isso quer dizer que o Filho é o agente da criação.
Tal doutrina Milton aprendeu do Apóstolo João (“[Cristo] estava no mundo, e o mundo foi feito por ele” – João 1:10); e com o Apóstolo Paulo (“porque nele foram criadas todas as coisas […] visíveis e invisíveis”, Colossenses 1:16); e do Credo Niceno (concílio de Nicéia em 325 d.C).[13]
E em terceiro lugar o fato de “Deus é luz” (PP., liv. 3, v. 3). Ele não está citando nenhuma ideia ocultista e cabalística. O fato é que até as crianças instruídas da época de Milton teriam reconhecido a citação da primeira epístola de São João (1 João 1:5), de que Deus é luz.
3.2. Aquelas que são heréticas, mas não aparecem em Milton.
Em primeiro lugar: A doutrina do mal latente em Deus. A única base para isso é PP., liv. 5, v. 117-9, no qual Adão diz a Eva que o mal “na mente de Deus ou do homem” pode “ir e vir” sem aprovação e “sem deixar marca ou culpa”.
Uma vez que todo o propósito da observação de Adão é de que apenas a aprovação da vontade torna a mente má e que a presença do mal como um objeto de reflexão não o faz.
E uma vez que nosso próprio senso comum nos diz que não nos tornamos mais maus por pensar na maldade do que nos tornamos triangulares por pensar em triângulos.
Esta passagem é de todo inadequada para reforçar a espantosa doutrina atribuída a Milton. Milton jamais ensinou isso, em qualquer uma de suas grandes obras.
Não é nem mesmo certo de que, quando ele usa os termos “Deus”, ele queria dizer mais do que “um deus” (pois os anjos são chamados deuses, com letra maiúscula, no liv. 3, v. 341).[14]
Assim como o Senhor Jesus no discussão com os Judeus em João 10.22-42[15], argumenta que se “aqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus” podiam ser considerados como exercendo funções divinas na Terra, então muito mais Ele, que era funcional e essencialmente Deus, podia reivindicar para Si todas as prerrogativas divinas.
As obras que Cristo fazia “em nome” do Pai, testificavam de Sua unidade essencial com Ele (Jo 10:25, 32, 37, 38). Essa unidade não é compartilhada por nenhuma criatura em todo o vasto Universo (Cl 2:9; Hb 1:1-14).
Em segundo lugar: O caráter sexual dos atos “no seio da Divindade”. Não vejo evidência alguma de que Milton acreditava em qualquer coisa do tipo, que alguns equivocadamente acusam Milton.
A doutrina do Prof. Saurat se baseia em conferir uma conotação sexual ao termo play [brincar] em PP., liv. 7, v. 10 e em uma passagem do “Tetrachordon”(quatro cordas) argumentando a favor do Divórcio, dois meses depois de casado, que sua esposa vai embora de casa.
Sem dúvida, Milton pode ter pensado – embora talvez fale menos sobre isso do que qualquer outro poeta cristão – que o amor sexual fornecia uma analogia, ou mesmo um verdadeiro antítipo, para o amor divino e celeste.
Ele está seguindo o que diz o Apóstolo Paulo sobre o matrimônio (Efésios 5:23 em diante), e o Apóstolo João sobre a noiva de Cristo em (Apocalipse 21:2), e diversas passagens do Antigo Testamento que comparam (figurativamente) o amor divino as nossas relações mais íntima de relacionamentos sexuais.
Em terceiro lugar “Deus é […] Ser completo que abarca em Si mesmo todo o tempo.”
Como reforço, o Prof. Saurat cita o trecho de De Doctrina onde Milton diz que Deus “sabe de antemão os pensamentos e ações dos agentes livres […] a presciência de Deus não é nada senão a sabedoria de Deus ou aquela ideia que ele tinha de tudo antes de ordenar qualquer coisa”.
Isto não é uma heresia, dizer que Deus conhece tudo antes de acontecer. Se tal doutrina de presciência implicava que Deus contém em si todo o tempo (a despeito do que isso possa significar), a implicação não seria, portanto, herética, mas comum a todos os teístas.
O problema é que um crítico agnóstico, que não entende nada da teologia cristã, se aventura a ser um biógrafo de um puritano ortodoxo e piedoso.
O Prof. Saurat também cita PP., livro 7, v. 154-5 (“em um instante criarei/ Outro Mundo”) e v. 176 (“Contíguos são de Deus os atos” etc.).
Estas passagens querem dizer que os atos divinos tocam o mundo real, mas Deus mesmo, não se encontra de fato no tempo (Ele é atemporal), embora sejamos compelidos a imaginá-los como se estivessem.[16]
Como isso deveria implicar que Deus “abarca todo o tempo”, a mente humana não pode fazer qualquer ideia, pois ela é limitada. As Escrituras apenas dizem que Deus é eterno e infinitude.
- Aquelas que parecem ser heréticas e aparecem em De Doctrina[17], mas não no Paraíso perdido.
Somente uma doutrina cabe nesta classificação. Se Milton fosse um ariano confesso, coisa que não é verdade
Milton acreditava na co-eternidade e igual divindade das três pessoas da trindade, ele é um grande defensor da trindade. Milton fala da pessoa do Espírito Santo, como divino.
Após despender os capítulos 2 a 4 do livro primeiro de De Doctrina acerca de Deus, ele começa o capítulo 5 “acerca do Filho” com observações preliminares que parece que ele diz algo heterodoxo, com a implicação de que estivera até aquele momento asseverando crenças comuns.
Seu pretenso arianismo, parece ser asseverado (declarado) pelas palavras: “Todas estas passagens provam a existência do Filho antes da criação do mundo, mas nada concluem acerca de Sua geração por toda a eternidade”.
Os críticos sugerem que esta heresia aparece em Paraíso, Perdido no liv. 5, v. 603-4, quando o Pai anuncia aos anjos: “Hoje gerei quem eu declaro ser/ Meu unigênito”.
Ora, se tomados literalmente, os versos parecem dizer que o Filho foi criado depois dos anjos. Isto, porém, é impossível.
No Poema (PP) no livro 3, v. 390, diz que Deus criou os anjos pela ação do Filho, e Abdiel[18] refuta Satã ao fazer a mesma asserção (afirmação) no livro 5, v. 835 – ao que a melhor resposta que Satã conseguiu dar foi “lá não estávamos para ver sua feitura”.
O próprio Milton explica, em seu tratado, “De Doctrina”, vol. 1, cap. 5, onde diz que aquele “gerou”, quando usado para o Pai em relação ao Filho, possui dois sentidos, “um literal, referente à produção do Filho, e outro metafórico, referente à exaltação Dele” (Bohn, Prose Works, vol. 4, p. 80).
E é óbvio que “Hoje gerei” deve significar “Hoje exaltei”, pois do contrário seria inconsistente com o resto do poema.
Se assim for, devemos admitir que o arianismo de Milton não é afirmado no Paraíso perdido e em nenhuma de suas obras, como seus críticos afirmam.
O lugar (liv. 2, v. 678-9) onde ficamos sabendo que Satã não temia qualquer coisa criada, exceto Deus e seu Filho, apenas ilustra a mesma linguagem ilógica que faz de Eva uma de suas próprias filhas (liv. 4, v. 324).
Se o verso fosse lido de qualquer outra forma, ele faria do Pai, assim como do Filho, uma “coisa criada”.
A expressão “da Criação primogênito” aplicada ao Filho no livro 3, v. 383, é uma tradução do que diz São Paulo, πρωτότοκος πάσης κτίσεως (Colossenses 1:15).[19]
Um escritor ávido por evitar a heresia ariana poderia de fato ter evitado a tradução de Milton; mas não teríamos, a partir desta passagem, ou de qualquer outra no poema inteiro, descoberto o pretenso arianismo do poeta sem o auxílio de interpretações enviesadas.
CONCLUSÃO
Milton, foi um cristão piedoso, que permaneceu firme na fé até o final dos dias. Milton viveu no tempo da Assembleia de Westminster, onde ele falou a todos os 123 teólogos do seu tempo, e de onde saiu a confissão de fé mais famosa dos puritanos.
Isso por si só deveria fechar a boca do leão. Veja o Salmo 35 que C.S Lewis citou no início.
1 Pleiteia, Senhor, com aqueles que pleiteiam comigo; peleja contra os que pelejam contra mim.
2 Pega do escudo e da rodela, e levanta-te em minha ajuda.
3 Tira da lança e obstrui o caminho aos que me perseguem; dize à minha alma: Eu sou a tua salvação.
4 Sejam confundidos e envergonhados os que buscam a minha vida; voltem atrás e envergonhem-se os que contra mim tentam mal.
5 Sejam como a moinha perante o vento; o anjo do Senhor os faça fugir.
6 Seja o seu caminho tenebroso e escorregadio, e o anjo do Senhor os persiga.
7 Porque sem causa encobriram de mim a rede na cova, a qual sem razão cavaram para a minha alma.
8 Sobrevenha-lhe destruição sem o saber, e prenda-o a rede que ocultou; caia ele nessa mesma destruição.
9 E a minha alma se alegrará no Senhor; alegrar-se-á na sua salvação.
10 Todos os meus ossos dirão: Senhor, quem é como tu, que livras o pobre daquele que é mais forte do que ele? Sim, o pobre e o necessitado daquele que o rouba.
11 Falsas testemunhas se levantaram; depuseram contra mim coisas que eu não sabia.
12 Tornaram-me o mal pelo bem, roubando a minha alma.
13 Mas, quanto a mim, quando estavam enfermos, as minhas vestes eram o saco; humilhava a minha alma com o jejum, e a minha oração voltava para o meu seio.
14 Portava-me como se ele fora meu irmão ou amigo; andava lamentando e muito encurvado, como quem chora por sua mãe.
15 Mas eles com a minha adversidade se alegravam e se congregavam; os abjetos se congregavam contra mim, e eu não o sabia; rasgavam-me, e não cessavam.
16 Com hipócritas zombadores nas festas, rangiam os dentes contra mim.
17 Senhor, até quando verás isto? Resgata a minha alma das suas assolações, e a minha predileta dos leões.
18 Louvar-te-ei na grande congregação; entre muitíssimo povo te celebrarei.
19 Não se alegrem os meus inimigos de mim sem razão, nem acenem com os olhos aqueles que me odeiam sem causa.
20 Pois não falam de paz; antes projetam enganar os quietos da terra.
21 Abrem a boca de par em par contra mim, e dizem: Ah! Ah! Os nossos olhos o viram.
22 Tu, Senhor, o tens visto, não te cales; Senhor, não te alongues de mim:
23 Desperta e acorda para o meu julgamento, para a minha causa, Deus meu e Senhor meu.
24 Julga-me segundo a tua justiça, Senhor Deus meu, e não deixes que se alegrem de mim.
25 Não digam em seus corações: Ah! Alma nossa! Não digam: Nós o havemos devorado.
26 Envergonhem-se e confundam-se à uma os que se alegram com o meu mal; vistam-se de vergonha e de confusão os que se engrandecem contra mim.
27 Cantem e alegrem-se os que amam a minha justiça, e digam continuamente: O Senhor seja engrandecido, o qual ama a prosperidade do seu servo.
28 E assim a minha língua falará da tua justiça e do teu louvor todo o dia.
[1] O livro: O prefácio do Paraíso Perdido, está disponível em português.
[2] Começou com Peter Herman e Elizabeth Sauer em sua “Introdução” ao The New Milton Criticism (Cambridge, 2012), ao qual David Urban respondeu com seu ensaio “Speaking for the Dead” no Milton Quarterly. Herman então respondeu a Urban em uma edição especial do Milton Quarterly com “C. S. Lewis and the New Milton Criticism”, que foi seguido pela resposta de Urban “The Acolyte’s Rejoinder”.
[3] https://en.wikipedia.org/wiki/William_Blake Escritor e poeta ingles da era romântica.
[4] Surpreendido pelo Pecado: O Leitor no Paraíso Perdido.
[5] David Urban (“Speaking for the Dead” [2011]) – falando pelos Mortos.
[6] Lewis argumenta que o relato de Milton coincide amplamente com o da Cidade de Deus de Agostinho ).
[7]*Sobre este assunto, o leitor deve consultar o admirável estudo do Prof. Sewell, Study in Milton’s Christian Doctrine [Estudo sobre a doutrina cristã de Milton]. Registrar todas as concordâncias e discordâncias menores entre a visão do Prof. Sewell e a minha demandaria mais notas de rodapé do que o modesto escopo do presente capítulo permite
Alusão ao critério doutrinário “quod semper, quod ubique, quod ab omnibus” formulado por São Vicente de Lérins (século 5) em seu tratado “Commonitorium” [Memento] (c. 434).
[8] Foi um acadêmico francês e biógrafo crítico de John Milton, sua visão agnóstica o fez interpretar Milton equivocadamente.
[9] Saurat disse que a Urânia de Milton é um ser chamado no Zohar (uma compilação judaica do século 13) de a Terceira Sefirá, e Milton atribui “um caráter sexual” (acompanhado, ao que parece, por incesto) a “atos dentro do seio da divindade” (p. 291).
[10] Robert Fludd (1574-1637): destacado médico, astrólogo, matemático e cosmólogo inglês com interesses tanto científicos quanto ocultistas, além de autor, entre outros, de De Macrocosmi História [A história do macrocosmo] (1618).
[11] De Doctrina Christiana [Sobre a doutrina cristã]: tratado teológico em escrito em latim descoberto apenas em 1823 em meio a um conjunto de documentos estatais da época em que Milton integrou o governo de Oliver Cromwell, sendo publicado em 1825.
O descompasso (herético para alguns) entre certas ideias do tratado e outros escritos de Milton levantou suspeitas sobre sua autoria que hoje parecem estar em grande medida apaziguadas.
[12] Citado por C.S lews, no seu prefacio do paraíso perdido
[13] Profissão de fé adotada no Primeiro Concílio Ecumênico ocorrido em Nicéia, Bitínia, no ano 325. O nome também se refere ao Credo Niceno-Constantinopolitano, visto como uma espécie de revisão daquele feito 381 e que integra a liturgia das Igrejas católica e ortodoxa e em boa parte das protestantes. Lewis possivelmente pensa aqui na passagem que diz “pelo qual [Jesus Cristo] todas as coisas foram feitas”.
[14] Não parece ser o caso das edições atuais consultadas, mas sim o da edição utilizada por Lewis (que não indica qual é), que tende a usar letras maiúsculas em vários substantivos.
“Tetrachordon”, Prose Works. Bohn, vol. 3, p. 331. O Prof. Saurat considera que a doutrina da sexualidade na vida divina provê o “sentido” desta passagem “terrível”. Curiosamente, Milton está de fato argumentando em defesa do elemento não sexual no matrimônio humano! Seu argumento é que Santo Agostinho estava errado em pensar que o único propósito de Deus ao dar a Adão uma companhia feminina, e não masculina, era a cópula.
Pois (b) há um “conforto particular” na associação de homem e mulher “além (i.e., em acréscimo, afora) do leito marital”; e (c) sabemos por meio das Escrituras que algo análogo ao “brincar” ou “afrouxar as cordas” ocorre mesmo em Deus. Eis o motivo pelo qual o “Cântico dos Cânticos” descreve “êxtases mil […] imersos no júbilo carnal do lado de cá”.
Se o “caráter sexual” dos atos divinos proposto pelo Prof. Saurat for tomado literalmente, a passagem no “Tetrachordon” me parece estar antes contra ele do que a favor dele; se ela quer dizer simplesmente “sexual” no sentido de que qualquer relação entre os sexos, capaz de prover um “afrouxamento” ou “esvaziamento” das tensões da sociedade masculina, é sexual, então a “terrível” passagem vem a ser algo que não espantaria nenhum vicariato do século 19.
[15] O diálogo entre Jesus e os judeus narrado em João 10:22-42 ocorreu em Jerusalém por ocasião da Festa de Dedicação, instituída no período intertestamentário por Judas Macabeus (1 Macabeus 4:36-59). Indagado a respeito de quem Ele era, Jesus confirmou Sua messianidade, Sua capacidade de conceder “vida eterna” e Sua unidade essencial com o Pai (Jo 10:24-30).
Mas os judeus, além de não aceitarem as prerrogativas de Cristo, planejavam apedrejá-Lo por blasfêmia (cf. Lv 24:16), pois para eles Jesus era um mero ser humano que alegava ser Deus (Jo 10:33). Em Sua defesa, Jesus declarou que se até mesmo “aqueles a quem foi dirigida a Palavra de Deus” no Antigo Testamento foram chamados de “deuses”, muito mais tinha Ele o direito de Se considerar “Filho de Deus” (Jo 10:34-38).
“Eu disse: sois deuses” (Jo 10:34) são as palavras iniciais do Salmo 82:6, onde lemos: “Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.” No Antigo Testamento, o substantivo hebraico elohim é usado para designar tanto o verdadeiro “Deus” (Gn 1:1, 26, 27) como os falsos “deuses” (Êx 12:12; 18:11; Sl 97:7). Mas no Salmo 82:6 o termo “deuses” refere-se aos “filhos do Altíssimo”, não podendo, portanto, designar falsos deuses ou ser considerado simplesmente uma expressão irônica.
[16] Uma doutrina que o leitor pode estudar em Boécio (De Consolatione Philosophiae, livro 5, prosa 6), Santo Agostinho (De Civ. Dei, liv. 11, cap. 6, 21) ou Thomas Browne (Religio Medici, parte 1, seção 11).
[17] De Doctrina Christiana ( trad. Sobre a Doutrina Cristã ) é um tratado teológico do poeta e pensador inglês John Milton (1608–1674), contendo uma exposição sistemática de suas visões religiosas . O manuscrito latino “De Doctrina” foi encontrado em 1823 e publicado em 1825.
[18] Segundo Jonh Milton em “Paradise Lost”(Paraíso Perdido), Abdiel era um Serafim que estava nas Legiões de Lúcifer, mas apesar da guerra permaneceu fiel à Deus, tentando convencer Lúcifer e seus anjos a não começarem a rebelião. Culminou por contestar publicamente a bandeira ostentada por Satanás, abandonando os anjos rebeldes e aliando forças na guerra ocorrida no céu para a expulsão dos mesmos.
[19] “De acordo com a Almeida Corrigida e Fiel: “o primogênito de toda a criação”.
*A verdadeira questão entre o Prof. Saurat e Sir Herbert Grierson sobre este ponto é se um sentido que contradiz o restante da estória do poeta é mais, ou menos, provável do que outro que com ela concorde.
**Nada digo no texto sobre o fato de o PP ter tão poucas referências ao Espírito Santo porque suponho que leitor algum do poema o notaria sem que isso lhe fosse apontado, ou, se o tivesse, até que fizesse quaisquer inferências teológicas. O Espírito Santo é mencionado na invocação do livro primeiro, e sua atuação na Igreja é abordada de forma bastante completa no livro segundo (v.