Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 146 – O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 122). Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 73). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 29/01/2025.
INTRODUÇÃO
Não somente nos seus romances como O Paraíso Perdido e outros poemas importantes de Milton como Sansão Agonista, e o Paraíso Recuperado que dramatizam histórias da Bíblia.
Mas há referências à Bíblia e muito mais penetrantes em todas as obras de Milton do que apenas naquelas obras cujo enredo obviamente vem da Bíblia. Frases e imagens da Bíblia estão por toda parte, tanto em sua poesia quanto em sua prosa.
Se você realmente quer entender referências e alusões na literatura inglesa, não apenas em Milton, a Bíblia é uma das fontes mais importantes para conhecer (outra é a mitologia grega e romana).
A Bíblia não é relevante apenas para Milton como uma fonte “literária”. Como vimos sobre o contexto religioso de Milton, no século XVII. A Bíblia era usada em todos os tipos de contextos diferentes.
Em particular, era frequentemente usada para respaldar pontos de vista sobre questões controversas, já que a Bíblia era aceita pela maioria das pessoas como uma fonte autoritativa.
Milton cita muito a Bíblia em seus panfletos contra bispos que governavam a Igreja, seus panfletos a favor do divórcio e seus escritos defendendo a execução do rei.
O enredo da Bíblia pode ser resumido de muitas maneiras. Uma maneira útil de vê-lo para o propósito de estudar Milton é vê-lo como uma progressão da Criação, através da Queda e da Redenção, e finalmente em direção à Consumação.
1. A doutrina da origem da alma.
Sobre a doutrina da origem da alma, parece que Milton era de certa forma traducionista. Isto em oposição à ortodoxia atual de seu tempo, que era federalista e criacionista, ele sustentava que a alma, como o corpo, vem até nós, por herança.
Milton não está ensinando que a alma não pode ser separada do corpo, nem afirmando uma certa corporeidade da alma. A alma e o pensamento estão enraizados no organismo corpóreo, mas pode existir sem o corpo.
A alma foi inspirada por Deus, quando o homem foi formado. O sopro (respiração) divina nas narinas do homem foi o impulso acelerado para dar vida consciente à matéria.
Hoje, Deus não cria almas todos os dias. O homem é um corpo e alma, ou um corpo-alma, e ele se transmite como tal, a cada descendente.
A criação especial é de fato ensinada no livro sete do “Paraíso Perdido”, tanto com referência aos animais inferiores quanto ao homem. Lá lemos:
Os torrões de grama agora pariam; agora meio apareciam
O leão fulvo, arranhando para se libertar
Suas partes posteriores então saltam como se estivessem livres das amarras
E agitam desenfreadamente sua juba trançada;
a onça, o leopardo e o tigre, como a toupeira
Erguendo-se, a terra esfarelada acima deles se transformou
em montes: o veloz veado do subsolo
Ergueu sua cabeça ramificada.
Mas devemos interpretar isso não apenas pictórico, mas real, pois Milton não sugere a moderna filosofia da evolução, como alguns já disseram, uma vez que interpretaram erroneamente suas palavras.
Milton fala da dos vários graus e formas da “única matéria primeira”, que alguns equivocadamente ensinam que Milton não cria na “criação do nada”, (ex-nihilo).
O que Milton estava dizendo, é que o universo não é uma obra do nada, sem propósito e desmesurável. Para Milton, o universo estava na mente de Deus, assim como a poesia está na mente do poeta.
Proporcionado a cada espécie. Assim, da raiz
brota mais claro o caule verde, de lá as folhas
mais arejadas, por último a flor consumada brilhante
respira: flores e seus frutos,
nutrição do homem, por escala gradual sublimada
Aspiram aos espíritos vitais, aos animais,
Ao intelectual; dão vida e sentido,
Fantasia e entendimento; de onde a alma
A razão recebe, e a razão é seu ser,
Discursivo ou intuitivo; o discurso
É frequentemente seu, o último é mais nosso,
Diferindo apenas em grau, de espécie o mesmo.
2. Milton e sua crença na doutrina da salvação.
A Antropologia e a Soteriologia de Milton são tão fortemente ortodoxas que excitam apenas pouca curiosidade. Ele é um crente na pecaminosidade universal da raça humana e na culpa comum.
A humanidade, quando vem ao mundo, é exatamente como Adão, possuindo uma natureza transgressora. E não importa o que o homem faça ele está condenado à morte por seu pecado.
Morrerá ele, ou a justiça terá de morrer; a menos que por ele
Algum outro capaz e igualmente disposto pague
A rígida satisfação, morte por morte.
Mas, em seu grande amor, Cristo se encarnou para nossa salvação. Tendo tomado nossa natureza humana sendo nascido de uma virgem, ele tinha sobre si todas as nossas culpas e responsabilidades.
“Ele se submeteu voluntariamente à justiça divina”, e sofreu a morte, a penalidade devida ao pecado humano.
Então ele fez expiação e redimiu todos os crentes ao preço de seu próprio sangue; como Miguel ensina a Adão, no seu poema “O Paraíso Perdido”.
Morto por trazer vida;
Mas na cruz ele
prega teus inimigos,
A lei que é contra ti, e os pecados
De toda a humanidade, com ele ali crucificado,
Para nunca mais ferir aqueles que confiam corretamente
Nesta sua satisfação.
3. Milton e sua crença na vida após a morte.
Agora vamos considerar a crença de Milton na imortalidade da alma.
Milton não tinha uma mente dualista. Mas uma é inseparável, então na morte o homem inteiro morre, alma e corpo juntos; e não até a ressurreição, quando o corpo é revivido, a alma vive novamente no corpo.
“Os milhões que morreram desde Adão” estão todos adormecidos, espessos e serenos como as folhas do “tumnal em Vallombrosa”; eles não acordarão até que a última trombeta agite suas multidões”
Para os mortos, Milton não está ensinando que, o “estado intermediário” (entre a vida e a morte) é aniquilado, como pensam o que crêem no “sono da alma”.
Salomão diz que na morte não há lembranças (Eclesiastes 9.5, Salmo 6.5). Isso quer dizer que os mortos não sabem mais nada dessa vida. Quem dorme é o corpo, mas a alma vive, com Deus ou no Hades.
As pessoas morrem no corpo, mas não no que diz respeito à sua consciência, pois suas almas são levadas pelos anjos, ao paraíso ou ao Hades.
Isto fica claro na parábola do Rico e do Lázaro (Lucas 16: 19-31). As almas dos mártires que clamavam por vingança em Apocalipse 6:9-10..
Paulo diz em Filipenses 1.23, que a morte é o partir e estar com Cristo, e isto é uma experiência extraordinária que os Santos viveram na morte.
Os santos, serão ressuscitados num instante, num abrir e fechar de olhos, para estarem vivos com Cristo para sempre, em corpo e alma. O nosso corpo precisa da ressurreição ou da glorificação para nunca mais morrer.
Milton mostrou isso em sua obra II Penseroso, a desintegração na morte do corpo, e da alma.
O espírito de Platão, para revelar
Quais mundos ou quais regiões guardam
A mente imortal que abandonou
Sua mansão neste recanto carnal.
Quando, ele escreve seu poema “Lycidas“, umas das mais lindas elegias, que ele escreveu para o amigo piedoso de sua juventude que se afogou no Mar da Irlanda e denunciou a corrupção da igreja de seu tempo.
Não chorem mais, pastores tristes, não chorem mais;
Para Lycidas, sua tristeza não está morta,
Embora ele esteja afundado sob o fundo aquoso;
Assim afunda a estrela do dia no leito do oceano,
E ainda assim ele conserta sua cabeça caída,
E engana seus raios, e com minério novo e brilhante
Chamas na testa do céu da manhã;
Então Lycidas afundou, mas subiu alto,
Através do querido poder daquele que andou sobre as ondas,
Onde outros bosques e outros riachos ao longo,
Com néctar puro ele lava seus cabelos pegajosos,
E ouve o inexpressivo canto nupcial,
Nos reinos abençoados, mansos de alegria e amor.
Lá o entretém todos os santos acima,
Em tropas solenes e sociedades doces,
Que cantam, e, cantando, em sua glória se movem,
E enxugar para sempre as lágrimas dos seus olhos.
Para Milton tudo isso não era fantasia, mas a realidade da sua fé. Seu amigo morto não estava inconsciente, mas sua alma, aguardava consciente até a manhã da ressurreição a recompensa por sua obra fiel.
4. Milton e sua crença no Pré-milenismo.
Com a tradução da bíblia de Genebra em 1560 e a King James em 1611, os puritanos despertaram um interesse muito grande pelo antigo testamento.
A erudição puritana começou a entender que Deus tinha um plano para o Israel nacional, e que não se podia espiritualizar essas profecias. E que essas profecias estavam relacionadas com tempo do fim.
Alguns grupos como a “Quinta-monarquia” (quinto império), começaram a pregar a crença num milênio real, algo que estava adormecido desde do Século IV, com a doutrina de Agostinho do milênio espiritual – Amilenismo.
Desde então a igreja oficial declarou a crença no milênio de heresia judaizante.
Milton e muitos Eruditos, foram influenciados por essa crença apostólica. Para Milton a manhã da ressurreição seria o advento pré-milenar da volta de Cristo.
Diferente da maioria dos teólogos que se reunia na assembleia de Westminster, que eram amilenistas ou pós-milenistas, apesar de não formularem nenhum documento escatológico.
O dia do julgamento com o qual a vinda de Cristo está tão intimamente conectado nas Escrituras, ele acreditava não ser um único dia, marcado pelo nascer e o pôr do sol, mas um período de mil anos de duração.
O julgamento para ele era tanto um ato quanto um longo processo, continuando através da volta e do reinado milenar de Cristo na terra, e finalmente encerrado por uma nova revolta de Satanás, sua derrota final, a sentença de demônios e homens maus; o juízo final.
A destruição do mundo pelo fogo, o banimento dos maus para o inferno e a exaltação dos santos para um novo céu e uma nova terra criados para seu desfrute.
CONCLUSÃO:
Milton e todos os crentes creem que a vitória que Cristo conquistou ainda não é totalmente visível. Os cristãos acreditam que um dia, Cristo retornará para impor sua vitória e destruir os poderes do mal.
No meio tempo, Deus está moldando um povo, a Igreja, para ser um sinal e um antegosto disso. Milton, como os cristãos ainda fazem hoje, viveu neste período de expectativa.
Muitos protestantes nos séculos XVI e XVII argumentaram que a instituição da Igreja havia se tornado corrupta, e que a Igreja Verdadeira não era a Igreja “visível” que tem sua presença neste mundo, mas uma igreja “invisível”, composta de todos os verdadeiros crentes e conhecida apenas por Deus.
Como muitos outros protestantes fizeram na época, Milton identificou o Papa e a Igreja Católica como sendo o foco dos poderes das trevas descritos no livro do Apocalipse (por exemplo, o dragão e a cidade da Babilônia).
Alguns dos parlamentares e puritanos viam os bispos da Igreja da Inglaterra como também estando do lado do mal.
Milton viu a queda do mundo e a perda do Éden descritas em Paraíso Perdido como levando a uma fragmentação em nossas vidas, nossos relacionamentos e nossa compreensão.
Em Areopagitica, o livro de Milton em defesa da liberdade de imprensa, Milton expressa isso metaforicamente ao descrever a Verdade como uma bela virgem que foi cortada em pedaços por enganadores.
Neste período intermediário da história, precisamos tentar juntar esses pedaços novamente, e isso, na visão de Milton, era o principal propósito da educação cristã.
No entanto, temos que esperar até a segunda vinda de Cristo para ver esses fragmentos da Verdade reunidos novamente em um belo corpo inteiro:
Milton disse:
“Ainda não os encontramos a todos, nem jamais os encontraremos, até a segunda vinda de seu Mestre; ele reunirá cada membro e junta, e os moldará em uma característica imortal de beleza e perfeição”.
Milton nos diz que é nossa responsabilidade buscar a verdade, mas que não a veremos em sua totalidade até que a vitória final de Deus reverta a perda do paraíso.
Mateus 24: 11-14 – Jesus disse:
E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.
12 E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.
13 Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.
14 E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.