Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 58–  O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 36).  Gn 1:26-28: Os cristãos que defendiam a escravidão 2 (George Whitefield). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 09/02/2022.

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INTRODUÇÃO

 A escravidão africana nasceu da expansão da primeira rede imperial com o surgimento da navegação.

Os europeus negociando com os africanos, conheceram o sistema de escravidão entre os próprios africanos. O modelo de engenho e plantação foi trazido da África, e foram os próprios africanos que ofereceram a mão de obra escrava.

Esse comercio precisava do aval do Sacro Império Romano-Germânico comando por Carlos V, que viu no comercio uma forma de expansão do seu domínio.

Desde então impérios mercantilistas transplantaram pelo atlântico mais de 12 milhões de escravos, que tinha uma vida curta, devido aos maus tratos e as péssimas condições de vida e trabalho.

O comercio sangrento e desumano de escravos, tornou comerciantes, banqueiros, proprietários de terras, advogados e clérigos, ricos e poderosos como nunca houve desde então.

O mundo ainda não havia conhecido tanta riqueza. A prosperidade da sociedade moderna foi construída sobre os escombros da escravidão.

Alguns enriqueceram tanto que comprarem seus lugares no Parlamento, abrindo espaço com suas carruagens pelas ruas de Londres em meio aos duques e nobres[1].

A economia mundial tornou-se dependente da mão de obra escrava, principalmente dos negros, considerados uma sub-raça pelos caucasianos[2](pele branca).

Na convenção de Filadélfia de 1787 um escravo valia 3/5 (0,6) de uma pessoa livre, para se definir o numero de deputados de cada uma das 13 colônias.

Depois de tantas atrocidades e maldades sem limites contra os negros, e devido basicamente a influência da pregação do livre-arbítrio no século 17, levaram os cristãos a entender que não podiam mais defender a escravidão.

A abolição da escravidão é uma perspectiva, do arminianismo, coisa que era até então impensável na visão “determinista da aristocracia” no século 17.

A escravidão foi fruto da inconsistência e da hipocrisia dos cristãos que deveriam se opor desde o inicio em 1517 com o “santo Império romano”.

Os cristãos que defenderam a Escravidão foram inconsistentes com o verdadeiro cristianismo das escrituras.

A escravidão já havia sido condenada por muitos Pais piedosos ao longa da história da igreja. A escravidão foi condenada desde o seu início no século 16, só que ninguém queria ouvir essa pregação.

Jesus denunciou a inconsistência e a hipocrisia dos fariseus, Mateus 23:1–3 registra:

‘Então Jesus disse às multidões e aos seus discípulos: “Os escribas e os fariseus estão sentados na cadeira de Moisés, portanto, pratiquem e observem tudo o que eles lhes disserem — mas não o que eles fizerem. Pois eles pregam, mas não praticam.’

Assim, a acusação de hipocrisia não era um ataque à moralidade que eles pregavam, mas ao fracasso em cumpri-la.

A inconsistência dos cristãos professos seguidores da Palavra, mesmo os mais vocais, sempre estará conosco.

Como o falecido filósofo evangélico Francis Schaeffer lembrou àqueles que apontavam as falhas cristãs; quando aqueles que professam o nome de Cristo fazem coisas vis, estão sendo inconsistentes com os ensinamentos e padrões de Jesus, que permanecem bons, puros, nobres e valiosos.

Assim como a inconsistência e hipocrisia das visões raciais de George Whitefield e Jonathas Edwards, representam um enigma para os historiadores, pois eles foram intimamente identificados tanto com a ascensão dos ideais humanitários quanto com a defesa da escravidão.

Em meados do século XVIII, enquanto viajava para cima e para baixo na costa americana, eletrizando os colonos ingleses com sua pregação, Whitefield mostrou uma preocupação especial com a situação dos escravos na América.

Apesar dessa preocupação, e um medo insistente da insurgência dos negros por serem muitos; e a necessidade de financeira; tomou conta dele e moldou suas reflexões sobre a instituição da escravidão.

Em geral, Whitefield ensinava que os afro-americanos eram iguais espiritualmente aos brancos e que os senhores não deveriam abusar de seus escravos.

Mas ele também ensinou que a conversão ao cristianismo não levaria à liberdade dos escravos. Em vez disso, a conversão os ajudaria a ser melhores escravos.

No entanto, no final do dia, Whitefield optou por um compromisso moral e teológico com a escravidão, porque sentiu que a economia e do seu orfanato na Geórgia precisava da mão de obra dos escravos negros para sustentá-la.

  1. A campanha escravagista de George Whitfield (1714-1770).

O ano de 2005 em 16 de dezembro foi comemorado o aniversário de 300 anos de George Whitefield a primeira personalidade da américa.

George Whitefield, foi um dos evangelistas mais importante do Grande Despertar do século 18, e foi uma figura completamente problemática nas questões de raça e escravidão.

Whitefield iniciou o clube santo com os irmãos Wesley em 1732. E juntos se tornaram os grandes avivalistas do seu tempo.

Ele tinha um temperamento forte e isso gerou muito oposição. Ele dizia que: “Quanto mais me oponho, mais alegria eu sinto”[3].

Ele teve problemas com os as autoridades anglicanas.  Teve desavenças com os Irmãos Wesley que durou por anos.

Teve desavenças com Jonathas Edwards, não aceitando sua repreensão já que era mais novo 11 anos, e Whitfield o tratou asperamente. Edwards por sua vez também fez críticas velas da Whitfield[4].

Mark Galli escreveu sobre o legado de Whitefield:

George Whitefield foi provavelmente a figura religiosa mais famosa do século XVIII. Os jornais o chamavam de a ‘maravilha da época’.

Whitefield era um pregador capaz de comandar milhares em dois continentes através do poder absoluto de sua oratória. Em sua vida, ele pregou pelo menos 18.000 vezes para talvez 10 milhões de ouvintes. (Galli 2010, p.63)

Whitefield podia encantar grandes audiências através de uma potente combinação de drama, retórica religiosa e patriotismo, ele atraiu a atenção de figuras importantes como Benjamim Franklin por isso.

Inicialmente ele e Jonathas Edwards eram amigos. Whitefield pregou nas13 colônias onde era recebido como um verdadeiro herói[5], por ser a personalidade muito famosa na nova Inglaterra.

Whitefield pregou na igreja, mas prospera daquele tempo pastoreada por Edwards em Massachusetts. Edwards não continham suas lagrimas aos ser tocado pelos sermões poderosos de Whitfield.

Whitfield aconselhou os filhos de Edwards a pedido dele. Mas tarde eles tiveram desavenças e desgostos um com o outro.

Whitefiel, trabalhou arduamente para levantar recursos para a construção de um orfanato na Georgia, para crianças órfãos.

Whitfield queria que o orfanato fosse um lugar de forte influência evangélica, com uma atmosfera saudável e forte disciplina[6].

Whitefield aceitou a doutrina do calvinismo e discordava das opiniões arminianos dos irmãos Wesley sobre a doutrina da expiação.

Wesley e Whitefield tiveram desavenças[7] sobre a doutrina da predestinação e acabaram ficando inimigos por um bom tempo. Depois de muitas tentativas de pacificar os dois, eles se acertaram. E prometeram pregar no funeral de quem morresse primeiro.

No entanto, no final – Whitefield finalmente fez o que seus amigos jamais esperavam que ele fizesse – entregar todo o ministério a John Wesley[8]. Ele o fez por reconhecer a Maturidade espiritual e a pureza doutrinaria de Wesley.

  1. Seu amor pelos escravos.

As grandes reformas sociais do século XIX foram subprodutos do Evangelho que ele [Whitefield] pregou”[9].

A contribuição de Whitefield para o bem-estar temporal e espiritual do escravo foi rica e duradoura, e podemos muito bem concordar que ele foi, como um autor moderno o chamou, ‘o primeiro grande amigo do negro americano’”[10].

Um biógrafo recente caracteriza a relação do evangelista com os negros como “calorosa e familiar”[11]

Para sermos justos, podemos elogiar Whitefield, pois quando viu uma grande multidão de negros que se convertiam por meio de sua pregação.

Ele estava impregnado de um sonho de construir escolas[12] em várias colônias, como a Carolina do sul e Pensilvânia para os filhos dos escravos[13].

No final do verão de 1740, Whitefield poderia ter sido legitimamente visto como o principal defensor dos direitos dos afro-americanos[14].

Então ele falou então contra o maltrato excessivo de escravos[15] em seu tempo e promover a crença de que os escravos negros também tinham almas de valor e, portanto, deveriam ser evangelizados e até educados e essa era uma visão progressiva na Geórgia.

Withifield escreveu, em seu diário[16]:

“Cerca de cinqüenta negros vieram dar graças pelo que Deus havia feito às suas almas …. Muitos deles começaram a ler.

“Uma, que estava livre, disse que me daria seus dois filhos, para ajudar na minha escola. Acredito que senhores e senhoras logo verão que o cristianismo não tornará seus negros piores escravos”.

Mais do que isso, Whitefield aqui revela seu plano de organizar uma congregação negra na Filadélfia.

Ele continuou:

“Eu pretendia, se o tempo permitisse, estabelecer uma Sociedade para homens e mulheres negros, mas isso deve ser adiado até que agrade a Deus me trazer para Filadélfia.

Na maior parte, porém, os sermões de Whitefield evitavam falar sobre os deveres dos senhores para com os escravos, embora não o contrário:

“Embora [Deus] tenha agora chamado vocês [escravos] para sua própria família … vossos senhores segundo a carne”.[17]

Mas surpreendentemente em uma mensagem aos senhores ele diz: “Deus tem uma briga com você por seu abuso e crueldade com os pobres negros”.

  1. sua defesa da escravidão

Apesar de seu inegável amor e preocupação pelos afro-americanos, e que eles obviamente devolveram a ele, o registro de Whitefield sobre questões raciais está longe de ser impecável e levou a considerável discussão e confusão.

Inconsistentemente, Whitefield se tornou dono de plantação e teve escravos, e via o trabalho dos escravos como essencial para financiar as operações de seu orfanato.

E ele mesmo comprou mais de 20 escravos ao longo de sua vida. Ele até adquiriu uma plantação de escravos em meados da década de 1740, “através da generosidade de seus bons amigos . . . na Carolina do Sul”

Withifield se torna notoriamente inconsistente com sua acusação anterior contra os proprietários de escravos. Se este for o caso, Whitefield mudou de opinião logo após 1740.

A primeira indicação de que Whitefield estava pessoalmente interessado em possuir escravos realmente aparece já em dezembro de 1741, no ano em que ele teve suas desavenças teológicas com os irmãos Wesley, que por certo também incluía a questão da escravidão.

  1. Seu orfanato Bethesda (casa de misericórdia)[18].

O grande sonho de Whitefield era construir um orfanato, ele falava sobre isso por toda Europa e América, pedindo contribuição.

E ele fez uma construção extraordinária; algo que era seu orgulho; ele dizia: “uma coisa nunca antes feita desde que a província foi colonizada”[19]. Incialmente 40 crianças viviam lá[20], e depois chegando a 100 em 1741[21].

Ele escreve:

“Deus colocou no coração de meus amigos da Carolina do Sul [Hugh e Jonathan Bryan], para contribuir liberalmente para a compra, [Carolina do Sul] de uma plantação e de escravos, que pretendo dedicar ao sustento de Bethesda. Bendito seja Deus!”

A compra é feita no dia 15 e em 17 de dezembro de 1748, Whitefield não se contentava mais em manter seus escravos em um local separado de seu orfanato.

Por esta altura Whitefield, já havia se tornado objeto de controvérsia e muitas acusações até de outros ministros que não concordava com a escravidão, e ele havia descido ao mesmo nível de seus vários adversários.

Entre as acusações mais prejudiciais era que ele havia sido desonesto no uso da quantia considerável de dinheiro que havia coletado para seu orfanato.

Alguns diziam que o regime era muito severo e que as crianças tinham que ficar orando e chorando toda as noites.

A coisa mais impressionante é que que Whitefield, escrevendo do mesmo orfanato em que havia escrito sua Carta aos Habitantes de Maryland, Virgínia, Norte e Sul Carolina contra os senhores de escravo…

Agora menciona o uso de trabalho escravo sem oferecer qualquer nota de justificativa para sua mudança de posição.

A razão parece bastante clara: o orfanato Bethesda[22] não podia funcionar sem trabalho escravo e ele estava financeiramente quebrado.

Os historiadores Stein e Henry[23], o acusam, de mudar sua posição de oposição veemente à instituição da escravidão por causa de sua própria conveniência?

Henry escreve com incredulidade,

“…um ano depois, o homem que havia feito um ataque aberto aos colonos escravistas e escreveu-lhes grave admoestação sobre os abusos de que a instituição estava sujeita;

Henry mostra a mudança de Whitfield.

Agora “estava usando toda a sua influência para persuadir os curadores da Geórgia a permitir a escravidão legal na colônia. A razão era bastante clara: o orfanato Bethesda não podia sustentar sem trabalho escravo”

  1. A luta pela volta da escravidão na Georgia.

A Georgia havia abolido a escravidão em 1735. John Wesley disse que o tipo de escravidão que ele viu na Georgia, era a mais cruel que já se viu debaixo de sol. 

Mas a lógica cega e inconsistente de Whitefield quer fazer voltar a escravidão a todo custo.

A biografia de Whitefield escrita Luke Tyerman[24] inclui uma carta inteira em que Whitefield ameaçou retirar o orfanato da Geórgia se a escravidão não fosse permitida.

Whitefield, foi profundamente dedicado a tantas outras causas humanitárias, como ajudar os órfãos e mineiros na Inglaterra, ele era incansável na ajuda aos necessitados, ele demonstrou uma profunda compaixão pelos que sofrem.

No entanto, no final do dia, Whitefield optou por um compromisso moral e teológico, porque sentiu que a economia da Geórgia precisava da mão de obra dos escravos negros para sustentá-la.

Whitefield se conectou com senhores de escravos que se converteram sob seu ministério e, embora nunca tenha se retratado publicamente de suas críticas à instituição, ele aceitou as ofertas de seus amigos ricos de lhe dar escravos e uma plantação na Carolina do Sul[25].

Por um olhar mais superficial; o ministério de Whitefield como o também o de Jonathas Edwards; foram inclusivos, abraçando a oportunidade de evangelizar os negros africanos.

Em 1740, Whitfield publicou uma “carta aberta”[26] aos “habitantes de Maryland, Virgínia, Carolina do Norte e do Sul sobre os negros” no “Pennsylvania Gazette”, condenando os escravizadores por maltratar seus trabalhadores escravos[27].

Mas um olhar mais atento à carta revela que ele nunca condenou a própria instituição, concentrando-se em converter pessoas escravizadas ao cristianismo.

Nesse mesmo ano, ele fundou “Bethesda”, um orfanato na Geórgia, onde o trabalho escravo havia sido proibido 5 anos antes.

Depois de adquirir sua própria plantação e comprar numerosos escravos, Whitefield tornou-se um dos proponentes mais ativos para reintroduzir a escravidão na Geórgia depois que foi banida.

Na época em que uma crescente onda de conscientização moral começou a questionar a moral da escravidão, Whitfield realmente viajou por toda a Geórgia defendendo a escravidão por sua continuação.

  1. Sua conivência injusta.

Em 1741, ao perceber as dificuldades de manter a instituição e suas terras, Whitefield escreveu: An Account of the Orphan House (Um relato da Casa dos Órfãos[28]) na Georgia expressando seu desejo de recorrer ao trabalho escravo.

“Quanto a adubar mais terra do que os empregados contratados e os meninos maiores podem até fazer”, mas ele admitiu, “é impraticável sem alguns negros”.

Seu novo interesse pela escravidão tornou-se mais aparente em uma carta de 1747 a “um generoso benfeitor desconhecido” na qual ele afirmava:

“Deus colocou no coração de meus amigos da Carolina do Sul, para contribuir liberalmente para a compra de uma plantação e escravos nesta província que Eu pretendo me dedicar ao apoio de Bethesda… Um negro me foi dado. Alguns mais pretendo comprar esta semana”.

“Quanto a adubar mais terra do que os empregados contratados e os grandes meninos podem administrar, “é impraticável sem alguns negros”.

‘Deus colocou no coração dos meus amigos da Carolina do Sul, para contribuir liberalmente para a compra de uma plantação e escravos nesta província que pretendo dedicar ao sustento de Betesda… Um negro me foi dado. E desejo comprar outro esta semana”.

Como o orfanato entrou em crise financeira. A dívida contra o Bethesda colocou Whitefield em risco de ser preso[29]. Parece que ele foi mesmo forçado por essas circunstâncias a vender alguns móveis domésticos para pagar as despesas em Bethesda[30].

Whitefield foi levado por circunstancias pessoais a pensar que o trabalho escravo poderia ser o remédio para seus problemas financeiros.

Em 1747, ele começou a fazer um lobby sério para legalizar a escravidão na colônia da Geórgia, alegando que a escravidão beneficiaria não apenas o orfanato de Bethesda, mas toda a colônia.

Ele escreveu aos administradores da colônia reclamando:

“A constituição daquela colônia [Geórgia] é muito ruim, e é impossível para os habitantes subsistirem sem o uso de escravos”.

“Se os negros fossem permitidos”, “eu teria agora o suficiente para sustentar um grande número de órfãos”[31].

Ele alegou que tanto seu orfanato quanto a Geórgia fracassariam sem a instituição da escravidão.

“…A Geórgia nunca pode ser uma província próspera, a menos que os negros sejam empregados”.

Ele deu um ultimato aos curadores, ameaçando: “Não posso prometer… cultivar a plantação de forma alguma” se as leis que proíbem a escravidão não forem derrubadas”.

  1. Sua superioridade racial.

Essas coletâneas de cartas que Whitefield escreveu a um associado é um exemplo surpreendente de como um grande homem pode se tornar tão enganado ao usar sentimentos espirituais para justificar a falência moral da intolerância e da escravidão

Veja a inconsistência da lógica de Whitefield.

“Embora a liberdade seja uma coisa doce para aqueles que nascem livres, ainda para aqueles que nunca conheceram o sabor disso, a escravidão talvez não seja tão penosa.

“Sendo assim, é uma clara demonstração, que países quentes não podem ser cultivados sem negros. Que província prospera poderia ter sido a Geórgia, se o uso deles fosse permitido há anos?

“Quantas pessoas brancas foram destruídas por falta deles, e quantos milhares de libras gastaram para nada?

Se o Sr. Henry estivesse na América, eu acredito que ele teria visto a legalidade e a necessidade de ter negros lá”.

“E, embora isso seja verdade, eles são trazidos de um jeito errado do seu próprio país, isso é um comércio que não deve ser aprovado, ainda que ocorra se quisermos ou não”.

“Eu deveria me achar altamente favorecido se eu pudesse comprar um bom número deles, para fazer suas vidas confortáveis, e estabelecer as bases para criar sua posteridade nos cuidados e admoestação do Senhor”[32].

Primeiro, veja a falha logica do argumento de Whitefield é a mesma de Jonathas Edwards, quando defendem a escravidão humana.

Ele diz:

“E, embora isso seja verdade, eles são trazidos de um jeito errado do seu próprio país, isso é um comércio que não deve ser aprovado, ainda que ocorra se quisermos ou não”.

O argumento é confuso e inconsistente, pois a utilização dos escravos domésticos dependia do pecado do “tráfico negreiro”, que foi, “o mais infame comércio que os homens já conheceu; o comercio de seus semelhantes”.

Segundo; o que é mais surpreendente é a lógica injusta de sua teologia de superioridade racial, quando lamenta o fato de que os escravos não foram colocados nas terras quente e agrícolas da Georgia anteriormente, dizendo:

“Que província prospera poderia ter sido a Geórgia, se o uso deles fosse permitido há anos? Quantas pessoas brancas foram destruídas por falta deles…”

A crença subjacente de Whitefield é que os africanos são uma sub-raça, que podia trabalhar injustamente e ter uma vida curta, isso pouparia a “raça branca superior” que vivia o dobro do tempo.

Em contraste com Whitefield, John Wesley, que também morava na Geórgia na época, sempre se opôs à escravidão e chamou a escravidão dos negros dos Estados Unidos, “essa soma execrável de todos os vilões”.

  1. Sua defesa da injustiça

Curiosamente, depois de descrever sua ira, no tratamento abusivo e violento que a maioria dos escravos recebiam, Whitefield passou a sugerir que tal tratamento realmente poderia servir a um bom propósito.

Ele cegamente e inconsistentemente afirmou:

“Seu mau uso presente e passado deles, por mais mal planejados que sejam, pode até agora fazê-los o bem, como quebrar suas vontades, aumentar o senso de sua miséria natural e, consequentemente, dispor melhor suas mentes para aceitar a redenção operada neles por meio da morte e obediência de Jesus Cristo”[33].

Entre 1735 e 1750, a Geórgia foi a única colônia americana britânica a tentar proibir a escravidão negra como uma questão de princípios morais e política pública[34].

Muitos colonos se opuseram a abolição escrevendo carta aos curadores argumentando que nunca mais ganhariam tanto dinheiro; a menos que fossem autorizados a empregar africanos escravizado[35].

Os curadores desejavam garantir aos primeiros colonos uma vida confortável, em vez da perspectiva da enorme riqueza pessoal associada às economias das plantações em outras partes da América britânica com a mão de obra escrava[36].

Mas Whitefield viu isso como algo tolo, e um absurdo econômico e intencionalmente, usou todo seu prestigio, e fez campanha para que ela fosse legalizada oficialmente mais uma vez!

O problema era que os curadores da Geórgia haviam banido a escravidão da colônia pela fama dela ser considerada a mais injusta e desumana das 13 colônias.

Wesley disse que o tipo de escravidão que ele viu na Georgia nunca era pior que já existiu debaixo do sol.

Mas egoisticamente, Whitefield achou que a proibição era tola e destinada a ser derrubada, e assim ele se tornou indiscutivelmente um dos principais defensores da legalização da escravidão na colônia.

Os historiadores concordam que as campanhas da Whitefield em favor da escravidão e os argumentos escritos aos curadores de Geórgia que defendiam a necessidade da escravidão foram fundamentais para reverter a lei de 1735, resultando na reintrodução da escravização dos negros na Geórgia[37] em 1751.

A Geórgia acabou permitindo a escravidão[38], então voltou o tratamento desumano dados aos negros. Como diz a Escritura, o segundo estado é pior que o primeiro.

As evidências sugerem que Whitefield ilegalmente; já vinha permitido que escravos trabalhassem em sua propriedade na Geórgia antes que a proibição fosse suspensa.

Os curadores estavam convencidos e em 1752, quando a Geórgia se tornou uma colônia real, a escravidão tornou-se a lei da terra[39].

Whitefield não libertou seus escravos de Bethesda em seu testamento.Após sua morte em 1770, Whitefield deixou 4.000 acres de terra na Geórgia e 50 escravos para a Condessa de Huntingdon, continuou seu trabalho e comprando mais escravos.

Seu corpo foi enterrado sob o púlpito da casa de reuniões a seu pedido, na Primeira Igreja Presbiteriana (Newburyport, Massachusetts fundada em 1746), que tornou uma igreja progressista na doutrina e ordena mulheres e comunidade LGBT como anciãs e ministras[40].

Em 1919, uma estátua de George Whitefield foi dedicada na Universidade da Pensilvânia.

  1. Sua inconsistência determinista[41].

Como Edwards, o pensamento de Whitfield estava contaminado de inconsistências moralmente entrelaçadas que não poderiam ser desvendadas ou justificadas.

Whitefield viu seu papel de Senhor para com os escravos; uma oportunidade de ser seu evangelista também. Mas os fins não devem justificar os meios.

Mas tais sentimentos não podem desculpar o fato de que as ações de Whitefield em defender que uma “província quente” como a Geórgia precisava de escravos para ser “uma província prospera”.

Ajudando a entregar milhares de negros a uma futura escravidão em que muitos sofreram sob senhores cruéis que não compartilhavam a perspectiva de Whitefield em “fazer suas vidas confortáveis, e estabelecer as bases para criação de sua prosperidade nos cuidados e admoestação do Senhor”.

Aqui está um homem que foi o mais incansável pregador do evangelho de sua época e que parecia se importar muito com órfãos e afro-americanos convertidos.

Mas ele também se tornou um dos maiores defensores da expansão da escravidão na América colonial.

Podemos admirar tal homem, apesar de seus pontos cegos gritantes? (A questão dificilmente se limita a Whitefield: podemos perguntar o mesmo sobre figuras históricas escravistas de Jonathas Edwards, George Washington, Stonewall Jackson e outros.)

Admiramos Whitefield por causa de seu compromisso apaixonado com o evangelho, mas sua relação com a escravidão representa o maior problema ético de sua carreira.

Representa uma história duradoura de devoção de muitos cristãos a Deus, mas frequente incapacidade (ou falta de vontade) de perceber e agir contra a injustiça social.

Mesmo os cristãos mais sinceros correm o risco de serem moldados mais pela sociedade decaída do que pelo evangelho.

Por mais importante que seja a posição do indivíduo diante de Deus, ela não deve cegar os cristãos para as injustiças sociais ao nosso redor.

Sua preocupação com a salvação dos escravos era uma indicação de sua convicção de que a doutrina da regeneração era a mais importante de todas as doutrinas do cristianismo.

Seu desejo de ganhar tratamento justo para eles e depois educá-los é um reflexo de sua própria visão vagamente otimista da escatologia PÓS-MILENISTA.

As incoerências lógicas da teologia determinista de Witifield deixou ele cego para notar suas próprias contradições ou ele escolheu ignorá-las, enquanto vigorosamente denunciava e condenava as contradições que ele pensava ver no Arminianismo[42].

Mas esse foco singular ajudou a cegar Whitefield para o pecado inerente ao sistema escravista atlântico, desde o roubo e venda em massa de cativos africanos até os abusos generalizados de escravos nas Américas.

Uma realidade que Whitefield (que cria na predestinação) e John Wesley (livre-arbítrio) haviam visto, mas reagiram diferente por causa de suas teologias.

Por mais acadêmica e logica e ortodoxa que uma teologia pareça ser, se ela nos faz fechar os olhos para as injustiças sociais ao nosso redor, alguma inconsistência logica nela nos torna hipócritas.

CONCLUSÃO:

O interessante foi que Jonathan Bryan[43], Hugh Bryan e seu irmão[44] que era dono de plantações[45] e que foram uns dos principais ajudantes de Whitefield, que lutaram pela conversão de negros e permaneceram forte ao longo de sua vida.

Em 1772 dois anos depois da morte de Whitfield ele escreveu o seguinte a John Wesley[46]:

“Mas, caro senhor, o que me preocupa mais do que tudo é a condição infeliz de nossos negros, que são mantidos em escravidão pior do que a egípcia. A comida que comemos, as roupas que vestimos e todos os supérfluos que possuímos são o produto de seus trabalhos; e o que eles recebem em troca?

Nada equivalente; pelo contrário, guardamos deles a chave do conhecimento; para que seus corpos e almas pereçam juntos em nosso serviço!

Se, portanto, você não está muito avançado em anos, eu lhe digo, em nome de Deus, venha e nos ajude; o que fazer. O qual você irá agradar muito a muitos milhares, e, entre os demais, seu amigo e irmão[47],

Um dos escravos de Bryan tornou-se ministro batista, pregando em sua plantação em Brampton. Depois de ser libertado por Bryan, ele se tornou “o fundador da primeira igreja Arminiana de cor em Savannah”[48].

A Enciclopédia do estado da Georgia dia que As noções de liberdades, ensinadas pelo Arminiano, fortaleceram o apelo à “escolha humana” e ao “princípio voluntário”, que se tornaram características proeminentes da vida americana[49].

[1] BLACKBURN, Robin. The Making of New World Slavery: From the Baroque to the Modern, 1492-

  1. London: Verso, 1997.

[2] Caucasiano consiste no termo usado para definir uma divisão étnica de indivíduos de pele clara (branca), com origem essencialmente do continente europeu.

[3] http://commonplace.online/article/reconsidering-george-whitefield-at-300/

[4] Jonathan Edwards entrou em conflito com Whitefield quando lhe disse que “ele deveria ser mais cauteloso ao ‘julgar outras pessoas como não convertidas’” (128-129), uma advertência de que discordâncias teológicas não deveriam ser expressas em termos de ataques pessoais. . Whitefield não gostou do conselho de Edwards. “Esta foi uma questão delicada”, admite Kidd, “uma que Whitefield não tratou delicadamente”

[5] https://www.georgiaencyclopedia.org/articles/arts-culture/george-whitefield-1714-1770/

[6]

https://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1701-1800/whitefields-bethesda-orphanage-11630233.html

[7] https://christianhistoryinstitute.org/magazine/article/war-of-words

[8] Wiersbe, Warren W. (2009). 50 pessoas que todo cristão deveria conhecer: aprendendo com gigantes espirituais da fé Livros do padeiro. ISBN 978-1-4412-0400-4.

[9] Christianity Today , 15 ( 10. 9, 1970 ), p. 31 Google Acadêmico

[10] Dallimore , Arnold A. , George Whitefield: Life and Times of the Great Evangelist of the Eighteenth-Century Revival( Londres , 1970 ), 1 , pp. 501 , 509 . Google Scholar

[11] https://www.cambridge.org/core/journals/church-history/article/abs/george-whitefield-on-slavery-some-new-evidence/3C33A8CF6568D6983966E320A16E3673

[12] George Whitefield’s Journals (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1960), 444. Hereafter

cited as Journals.

[13] For an examination of the interaction between the Bryans and Whitefield and the social implications of their efforts to evangelize the African-American slave population in South Carolina see Harvey H. Jackson, “Hugh Bryan and the Evangelical Movement in Colonial South Carolina,” William and Mary Quarterly, 3d ser., XXXXIII (1986), 594-614.

[14] George Whitefield’s Journals (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1960), 444. Hereafter

cited as Journals.

[15]The Works of the Rev. George Whitefield, M.A. (London, 1771), IV, 31-5. Hereafter

cited as Works.

[16] Gary B. Nash, Forging Freedom: The Formation of Philadelphia’s Black Community, 1720-1840 (Cam https://www.christianitytoday.com/history/issues/issue-38/slaveholding-evangelist.htmlbridge: Harvard University Press, 1988), 18

[17]

[18] https://heald.nga.gov/mediawiki/index.php/Bethesda_Orphan_House

[19] https://heald.nga.gov/mediawiki/index.php/Bethesda_Orphan_House

[20]https://www.thegospelcoalition.org/article/history-today-george-whitefield-founds-an-orphanage/

[21] https://www.thegospelcoalition.org/article/history-today-george-whitefield-founds-an-orphanage/

[22] https://heald.nga.gov/mediawiki/index.php/Bethesda_Orphan_House

[23] Henry, 273. This comment comes at the end of a letter of March 22, 1751, in which Whitefield reflects on the legalization of slavery in Georgia by saying that “some were bought with Abraham’s money” and that “some of the servants mentioned by the apostles, in their epistles, were or had been slaves. Henry, 116-7.

[24] Luke Tyerman, The Life of the Rev. George Whitefield (London: Hodder and Stoughton), II, 169.

[25] https://www.christiancentury.org/blogs/archive/2015-01/george-whitefield-s-troubled-relationship-race-and-slavery

[26] O texto da carta dizia: “Eu sei que a pretensão geral para essa negligência de suas almas é que ensinar-lhes o cristianismo os tornaria orgulhosos e, consequentemente, não dispostos a se submeter à escravidão; mas que terrível reflexão é essa sobre sua santa religião?”

~ George Whitefield, ‘Carta aos habitantes de Maryland, Virgínia, Carolina do Norte e do Sul sobre seus negros’

[27] https://pennandslaveryproject.org/exhibits/show/campus/earlycampus/georgewhitefield

[28] https://heald.nga.gov/mediawiki/index.php/Bethesda_Orphan_House

[29] https://christianhistoryinstitute.org/magazine/article/house-of-mercy-prison-of-debt

[30] Sobre os problemas do orfanato, ver O’Connell , Neil J. , “George Whitefield e Bethesda Orphan-House ,” Georgia Historical Quarterly , 54 ( 1970 ), pp. 41 – 62 . Google Scholar

[31] https://pennandslaveryproject.org/exhibits/show/campus/earlycampus/georgewhitefield

[32] Whitefield, George. Works, volume 2, letter DCCCLXXXVII

[33] The Works of the Rev. George Whitefield, M.A. (London, 1771), IV, 31-5. Hereafter

cited as Works.

[34] https://www.jstor.org/stable/3163671

[35] A escravidão trouxe um enriquecimento para sociedade daquele tempo, jamais conhecida pela humanidade. A sociedade moderna, foi construída sobre os escombros da escravidão humana.

[36] https://www.georgiaencyclopedia.org/articles/history-archaeology/slavery-in-colonial-georgia/#:~:text=They%20banned%20slavery%20in%20Georgia,their%20social%20and%20economic%20intentions.&text=The%20Trustees%20believed%20that%20the,be%20easily%20produced%20by%20Europeans.

[37] https://www.georgiaencyclopedia.org/articles/history-archaeology/slavery-in-colonial-georgia/

[38] Devem ser lembrados especialmente o puritano Richard Baxter (1615-1691) e o fundador

dos quacres, George Fox (1624-1691). Bénézet (1766, p. 37 e 38; 1772, p. 83-84) lembra

dos dois. George Keith (1639[?] 1716) outro quacre, porém expulso em 1694, é autor de

outro panfleto contra a escravidão (KEITH, 1693; apud TORPY, 2008, p. 6)

[39] Quando a escravidão foi legalizada, seus partidários providenciaram para que ainda mais escravos fossem para Betesda. Um comprador de escravos disse a Whitefield que a competição no mercado estava acirrada para obter os melhores escravos. Mas ele conseguiu ao evangelista nove novos escravos africanos de qualquer maneira, incluindo oito homens e uma “jovem moça”. https://www.thegospelcoalition.org/article/history-today-george-whitefield-founds-an-orphanage/

[40] A Igreja Presbiteriana (EUA) , abreviada PC (EUA) , é uma denominação protestante principal nos Estados Unidos, com 1,3 bilhão de membros, “Serviços de Pesquisa PC (EUA) – Tendências da Igreja” . Serviços de Pesquisa, Agência da Missão Presbiteriana. PC (EUA)

[41] Devem ser lembrados especialmente o puritano Richard Baxter (1615-1691) e o fundador dos quacres, George Fox (1624-1691). Bénézet (1766, p. 37 e 38; 1772, p. 83-84) lembra dos dois. George Keith (1639[?] 1716) outro quacre, porém expulso em 1694, é autor de outro panfleto contra a escravidão (KEITH, 1693; apud TORPY, 2008, p. 6)

[42] https://www.patheos.com/blogs/rogereolson/2012/07/why-is-jonathan-edwards-considered-so-great/

[43] Gallay, Alan. “O Grande Despertar no Sul Profundo: George Whitefield, a Família Bryan e as Origens do Paternalismo dos Donos de Escravos.” Journal of Southern History 53 (agosto de 1987): 369-94.

[44] https://www.scencyclopedia.org/sce/entries/bryan-hugh/

[45] Jackson, Harvey H. “Hugh Bryan e o Movimento Evangélico na Carolina do Sul Colonial”. William and Mary Quarterly, 3d ser., 43 (outubro de 1986): 594-614.

[46] Tyerman , Lucas, A Vida e os Tempos do Rev. John Wesley . 3 vol. ( 2ª edição , Londres , 1872 ), 3, p. 117 . Google Scholar

[47] Tyerman , Lucas, A Vida e os Tempos do Rev. John Wesley . 3 vol. ( 2ª edição , Londres , 1872 ), 3, p. 117 . Google Scholar

[48] Redding , Vida e Tempos ,p. 33 Google Acadêmico; a Bryan Baptist Church. Ibid., pp. 43–44.

[49] https://www.georgiaencyclopedia.org/articles/arts-culture/george-whitefield-1714-1770/