Série de sermões expositivos sobre o livro de Ester. Sermão Nº 04– O cão que não latiu. Ester 4:1-17. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 14/10/2020.
INTRODUÇÃO
Minhas crianças amam cachorros, e ganhamos dois cachorrinhos, eles correm e latem. Porque os cachorros latem alto e repetidamente?
A pesquisadora em comportamento animal e professora assistente da Hampshire College, nos Estados Unidos, Kathryn Lord fala sobre os principais sinais que os cães dão aos seus donos – através do latido.
Ser barulhento ou silencioso são comportamentos determinados pela genética da raça ou pelos hábitos da casa que o pet vive?
Na verdade, todo comportamento é resultado de uma interação entre os genes e o ambiente que o cachorro está. Porém, é possível ver algumas diferenças entre as raças.
Algumas latem em poucas situações, como os basenji, que é uma raça que tende a não latir muito. Essa característica é muito ligada à intensidade do estímulo que o animal está recebendo para latir, mas mesmo isso pode ter um forte componente genético.
O LATIDO É UMA RESPOSTA A UM CONFLITO. É um sinal que o cachorro emite quando ele não sabe o que fazer. Por exemplo, quando um estranho se aproxima do portão e o cachorro está com medo, porque não pode se afastar, então ele late.
Ou, se quem se aproxima é uma pessoa que o cachorro conhece, e ele quer chegar mais perto e não consegue, late. Quanto maior for o número de situações em que o cachorro é impedido de fazer o que ele deseja, mais latidos.
Os donos ensinam seus cachorros a latir o tempo todo. Se um cachorro treinado precisa fazer xixi, mas ele não pode ir para fora porque a porta está fechada, gera um conflito e o cachorro late.
O dono, então, vem e abre a porta. A conexão que o animal faz é: latido, porta aberta. Ele pode latir até mesmo quando não precisar ir ao banheiro, mas simplesmente quiser ir para fora. Se ensinarmos o cachorro a latir, claro que ele vai latir muito mais.
Se o cachorro não era barulhento e começa a latir sem motivo aparente, pode ser devido a uma mudança do ambiente em que vive ou pode estar relacionado à saúde.
Uma situação traumática pode ter influenciado. Os donos precisam ficar atentos a qualquer mudança repentina do animal. Os cachorros mais velhos, porém, tem a energia reduzida, podem diminuir a audição, e isso reflete em latidos mais raros.
Na conclusão do conto: The adventure of tlhe silver blaze (1892), o famoso detetive Sherlock Holmes explicou como ele havia resolvido o desaparecimento do cavalo campeão de Hipismo; dias antes da corrida: O Estrela de prata; e o assassinato do treinador do cavalo, morto com uma pancada na cabeça.
O detetive de polícia já estava encerrando o caso e já tinha preso o suposto assassino e ladrão do cavalo; o Sr Simpson. Não satisfeito, pois cavalo não foi encontrado. O dono do Estrela de Prata; Coronel Ross, contratou Holmes e seu amigo Dr Watison.
Holmes então concluiu o caso, em um diálogo com o Detetive:
O detetive de polícia pergunta a Holmes: Existe algum outro ponto ao qual gostaria de chamar a minha atenção? Que não eu não tenha percebido.
Holmes responde: O curioso incidente do cão na noite.
Gregory: O cão não fez nada na noite.
Holmes: Esse foi o curioso incidente.
A referência de Holmes ao cão intrigou o inspetor já que, observou ele, o cão não havia feito nada durante a noite. Mas esse foi precisamente o incidente curioso que Holmes havia percebido.
O caso foi solucionado ao se observar que o cão não latiu, embora fosse de se esperar que o fizesse.
O cão não fez nenhum barulho, porque nenhum estranho estava lá. O silêncio do cão, sugere que a pessoa era alguém que o cão conhecia muito bem.
Num sentido, todo o livro de Ester também é acerca de um personagem que nunca aparece no palco, nunca fala, e de fato nunca é mencionado: Deus.
Em nenhum outro ponto isso é mais evidente do que no capitulo 4, em que Ester precisa depositar sua vida nas mãos do Deus; não visto, não ouvido e não reconhecido nesse livro.
O destino de toda a comunidade está em jogo, algo terrível está acontecendo. Veja como eles reagiram! Mas observe que algo está faltando:
“Em todas as províncias aonde chegava a palavra do rei e a sua lei, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza” (Et 4.3).
O capítulo anterior terminou com a cidade de Susã perplexa por causa da Conspiração de Hamã.
Notícia ruim chegava logo, especialmente quando era espalhada pelo sistema postal oficial persa.
Não demorou muito para que toda a comunidade judaica por todo o império soubesse de toda a história.
Eles reagiram cobrindo-se com pano de saco e de cinza como sinal de aflição, lamentação, jejum e pranto.
Mais uma vez, contudo, O CÃO NÃO LATIU e temos de estar atentos tanto ao que o narrador nos diz quanto ao que ele não diz.
O que normalmente acompanha tal jejum, lamentação, pano de saco e cinzas? É a ORAÇÃO e o ARREPENDIMENTO.
Até mesmo os pagãos de Nínive sabiam como se arrepender adequadamente: quando Jonas pregou entre eles, eles imediatamente se cobriram com pano de saco e de cinzas, começaram a jejuar e invocar fortemente a Deus (veja Jn 3.5-8).
Nesse caso, porém, o cachorro não latiu. Apesar do pano de saco, das cinzas e da lamentação, nesse caso não há menção de ORAÇÃO e nem de ARREPENDIMENTO, como acontece em todas as outras ocorrências na Escritura.
- SEM LATIDOS: SÓ LAMURIAS.
O que vemos incialmente neste capitulo são as lamurias de todos: Mordecai também lamentou o decreto:
Quando soube Mordecai tudo quanto se havia passado, rasgou as suas vestes, e se cobriu de pano de saco e de cinza, e, saindo pela cidade, clamou com grande e amargo clamor, e chegou até à porta do rei; porque ninguém vestido de pano de saco podia entrar pelas portas do rei (Et 4.1-2).
As pessoas expressam sua tristeza e lamentação de maneiras diferentes. Em nossa cultura ocidental, nossa expressão de pesar é frequentemente contida.
Quando o presidente John Kennedy foi assassinado, sua jovem viúva usava um véu escuro como expressão de luto, escondendo as lágrimas por trás dele.
No oriente, porém, a dor sempre foi expressa de forma dramática, visível e vocal, eles se vestem de pano de saco (luto e desespero), jogam pó e cinza na cabeça, (demonstrando humildade, pois viemos do pó da terra), choram alto, lamentam e jejuam.
Mordecai gritava com grande amargura, dando todas as demonstrações da dor mais pungente.
Ele também não escondeu isso da cidade; e o grego (da Septuaginta adiciona palavras não encontradas no texto hebraico) diz que ele pronunciou em voz alta: [Airetai ethnos meden edikekos] ;”Um povo que não fez o mal será destruído”.
Também deve ser notado que esses mesmos tipos de reações emocionais eram bem conhecidos entre os persas, Heródoto relatou que eles rasgaram suas roupas, choraram alto e choraram amargamente ao saber da derrota de Xerxes em Salamina.
Assim, Heródoto escreve, eles fazem isso culpando Mardônio; não foi tanto por tristeza pelos seus navios que o fizeram, mas porque eles temiam pelo próprio Xerxes, que não tolerava esse tipo de luto. (Heródoto, The Histories 8.99).
Embora o império tivesse se voltado contra ele, Mordecai ainda obedecia cuidadosamente a lei em tudo (exceto se curvar diante de Hamã).
Ele não entrou pelas portas do rei vestido com saco porque isso era proibido pela lei persa.
Isso lembra o medo Neemias, quando o rei Artaxerxes, viu que seu rosto estava triste. Xerxes era considerado um deus-rei e deveria ser escondido da realidade do sofrimento humano.
Ninguém podia se achegar diante do rei, sem expressar uma alegria radiante, não importa quão vazio fosse isso.
No entanto, o CÃO NÃO LATIU, em vez de CLAMAR A DEUS, a primeira atitude de Mordecai foi apenas lamuriar e apelar ao rei por meio de Ester.
- ISOLADA DA COMUNHÃO.
Isolada como Ester estava da comunhão do povo de Deus, ele não podia lhe falar diretamente, então foi à entrada da porta do rei coberto com saco e cinzas, sabendo que Ester seria informada a respeito da condição dele. (Et 4.4-5).
O medo tomou conta das servas e os eunucos de Ester lhe trouxeram a notícia de que Mordecai estava em aflição e ela ficou muito desesperada, pois isso poderia trazer um fim trágico para Mordecai.
Ela vivia ALIENADA de tudo, o palácio era uma prisão, então não compreendeu imediatamente a seriedade da situação em que o seu povo estava.
A primeira reação dela foi enviar roupas festivas para que Mordecai usasse em lugar do pano de saco.
Como se a sua única preocupação fosse impedir que o parente dela fizesse uma CENA DE VEXAME, em vez de lidar com o motivo da angústia dele, qualquer que fosse ele.
Ester Somente depois de Mordecai ter recusado as roupas é que Ester enviou suas servas para descobrir a razão da aflição dele.
Observe quanto Ester havia se tornado isolada do restante da comunidade da aliança. Alguns afirmam que havia em torno de 15 milhões de Judeus em todo o império.
Veja como o sofrimento une as pessoas. A materialismo, a busca de riqueza, havia separado os Judeus, mas o sofrimento os uniu.
O sofrimento, empurra todos para o mesmo nível com o mesmo objetivo: a SOBREVIVÊNCIA. E então não estamos surpresos de encontrar esses judeus chorando, lamentando e jejuando juntos.
Estavam todos debaixo de uma sentença de morte, cheios de tristeza e amargura, mas não estavam quebrantados e arrependidos, por terem escolhido o conforto e as riquezas, e não obedeceram a Palavra do Senhor que deveriam voltar para Jerusalém.
Todos esses milhões de judeus, espalhados desde a Índia até a Etiópia que compreendia: países do norte da África, Europa, Ásia, hoje essa região é composta por 14 países, estavam pranteando e lamentando o edito de Hamã, mas Ester não fazia ideia disso, ELA ESTAVA SEPARADA COMUNIDADE DA ALIANÇA.
Ela aparentemente era a única pessoa, em todo o império persa, que não havia ouvido as noticias. A cidade de Susã estava toda perturbada e confusa e não se falava de outra coisa, mas ela não sabia de nada.
Talvez não sobrasse tempo em meio à sua rotina de manicures, pedicuros e outros tratamentos de beleza para se informar do destino do seu próprio povo.
Além disso, uma vez que ela havia sido tão bem-sucedida em ocultar sua identidade, por que alguém pensaria em informá-la da ameaça a esse povo em particular?
Do mesmo modo, quando nos comprometemos com o mundo, facilmente ficamos isolados e distantes do povo de Deus e desatualizados com relação aos interesses de Deus no mundo, como Ester ficou.
- A INTERNET: UM LATIDO TECNOLÓGICO.
Ester não conseguiu permanecer confortavelmente na ignorância por muito tempo. Ela precisava de um modo de estabelecer uma comunicação com Mordecai.
Como não podiam enviar uma MENSAGEM DE TEXTO. Ester por meio de um mensageiro; Hatá (em persa: bom), ele estabelece o diálogo.
Tudo o que acontece agora, está na fidelidade da mensagem entregue por esse eunuco.
Hatá tem uma biografia, curta e simples. No entanto, as melhores pessoas não têm as biografias mais longas.
Na verdade, as pessoas mais nobres não terão suas virtudes registradas pelo historiador ou celebradas pelo poeta. A bondade modesta floresce na sombra e morre sem um grande discurso fúnebre.
Hatá, vai ser o instrumento, o mecanismo de busca e pesquisa, pelo qual Ester poderá saber a verdade sobre o sofrimento do seu povo.
Hatá será algo com a internet, o WhatsApp; o meio que Deus vai usar para que Ester e Mordecai tenham um diálogo longo e confrontador.
Ester enviou Hatá para descobrir a causa e motivo daquele comportamento.
Aqui está um modelo de usar os “Hatás” tecnológico modernos, para que o mundo ouça nosso latido.
Para que digamos as pessoas que há algo sério acontecendo, há uma sentença de morte irrevogável, sobre todos as pessoas, e elas precisam saber a causa e motivo.
Que nós não estamos indiferentes ao sofrimento eterno delas. Que sentimento as pessoas que você conhece nutrirão sobre você no inferno, ao descobrir que você não se importou o bastante com elas para livrar a alma delas.
Por meio do mensageiro dela, Mordecai a informou dos detalhes da conspiração (Et 4.6-8). Mordecai tinha ligações poderosas. No capítulo 2, suas fontes de informação são impecáveis.
Agora ele sabe exatamente tudo o que estava acontecendo, até mesmo a quantia exata da propina que Hamã ofereceu pela permissão para destruir os judeus e fornece a Ester uma cópia do texto escrito do decreto.
Porém, diferente do capítulo 2, Mordecai nesse momento era incapaz de intervir para impedir a conspiração.
O propósito dele ao passar a informação para Ester era para que ela pudesse ir ao rei e pedir a ele por misericórdia, bem como pleitear em favor do seu povo.
- UM CÃO QUE NÃO SABE LATIR.
A linguagem que ele adota que “pedisse” e “suplicasse” é precisamente a linguagem que normalmente só acompanharia a ORAÇÃO e o ARREPENDIMENTO, como as orações, o jejum e o pano de saco que é feito por Daniel:
“E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza. (Dn 9:3). Aqui está exatamente o motivo DO CÃO QUE NÃO LATIU.
Em vez de buscar o favor de Deus e implorar a ele por livramento por meio da ORAÇÃO, parece que Mordecai estava colocando suas esperanças numa intervenção no nível humano, com o rei Assuero.
Em todo o livro de Ester, não feito nenhuma oração. Não atividade piedosa está sendo feita, parece que o escritor considera essas questões de arrependimento e oração como algo secundário.
A CULTURA do império tinha ASSIMILADO os Judeus da Pérsia, que parece que eles não tinham uma vida de devoção em oração e jejum, como os judeus de Jerusalém.
Isso explica um dos motivos porque o nome de Deus não é citado nesse enredo, ninguém está orando, ninguém está precisando dele.
Por causa da TEOLOGIA FRÁGIL dos personagens desse livro. Os Judeus alexandrino do Sec. I a.C, tentaram latir por Ester e Mordecai; então deram uma versão diferente aos fatos e por isso fizeram os acréscimos apócrifos no livro de Ester.
Eles acrescentam a oração de Ester e a de Mordecai. Uma simples leitura desses acréscimos apócrifos, mostra que foi uma tentativa de salvar a honra dos personagens.
Esses acréscimos não constam no texto hebraico dos massoretas. Quando Jeronimo traduziu a VULGATA LATINA, ele colocou uma observação no final da tradução, dizendo que ele traduziu tudo o que estava nos pergaminhos, mas que essa parte não era um texto inspirado e não consta nos manuscritos hebraicos.
5.O MEDO DE LATIR:
A resposta de Ester tem esse PONTO E CONTRAPONTO. Ao primeiro pedido de Mordecai foi neutra. Ester não disse se iria ou não ao rei.
No entanto, ela destacou o risco pessoal que essa estratégia envolvia para ela, (Et 4.9-11).
Por causa da segurança da vida do próprio rei. Ninguém podia entra no salão do trono sem que fosse esperado ou anunciado.
O historiador grego Heródoto escreveu que os reis persas tinham essa lei a respeito do cetro.
Se ele imediatamente não levantasse o cetro em prol de alguém, ele seria sumariamente morto pelos guardas. Somente os sete conselheiros podiam entrar sem ser esperado.
Ester lembra a Mordecai que todos sabiam disso, até mesmo as pessoas de outras províncias (veja Et 4.11), e Ester temia isso, por isso hesitou.
Ester faz referência a esta severa lei: “Você, Mordecai, como um funcionário público, deveria muito bem saber a seriedade do que está pedindo”.
Mais do que isso, Ester já não era mais a queridinha do império, seu prestigio já não era o mesmo de seis anos atrás.
Já fazia mais de 30 dias que não havia sido chamada à presença do rei, e nem havia previsão para isso.
Mesmo estando casada a seis anos, as coisas não iam bem, já que sem dúvida o rei não estava dormindo sozinho.
O sonho de Cinderela, casando-se com um ímpio, não era uma parceria de iguais ou um ROMANCE ETERNO. Ester existe simplesmente para os caprichos de sua sensualidade do marido.
Sua primeira resposta não é uma recusa total, mas está mais ligada ao temor do homem em vez de Deus. O medo deveria levar a latir, mas eis a questão.
O rei provou com Vashti que ele é um homem caprichoso e implacável com sua protagonista por violações de etiquetas e formalidades.
Ester não se recusou a ir, mas ao lembrar Mordecai das prováveis consequências, implicitamente pedia-lhe para reconsiderar o pedido. Mordecai não foi tão facilmente dissuadido.
O seu segundo pedido a Ester foi ainda mais forte (Et 4.12-14). Em outras palavras, Ester não deveria fiar-se na sua posição confortavelmente isolada no palácio real.
Ela também fazia parte da comunidade judaica e o destino dela estava entrelaçado com o deles. Se eles morressem, ela provavelmente morreria também.
Mas a comunidade judaica, na verdade, não morreria. Mesmo se Ester ficasse em silêncio, ajuda e livramento viriam de outro lugar.
Se não agisse para ajudar sua comunidade, porém, ela seria julgada por ter deixado de fazer a parte dela e sofreria as consequências.
Mas se ela interviesse, talvez as coisas pudessem acabar bem no final das contas. Como disse Mordecai: “e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?”.
Como sabemos o fim da história, a resposta para nós é óbvia. Ester teria chegado à posição de realeza se não fosse por Deus?
A pergunta faz sentido, no entanto, quando se leva em conta que Ester subiu na vida por meio de um casamento éticamente duvidoso com um pagão e de um estilo de vida em que, nos seis anos anteriores, havia escondido tudo o que fosse distintamente judaico nela.
É como se alguém que tivesse atingido o topo de uma empresa por meio da manipulação dos registros, ocultação de informações sobre sua família e qualquer LIGAÇÃO COM A IGREJA, fosse convidado a defender sua fé numa questão crucial em meio a uma reunião da diretoria.
A resposta dessa pessoa bem poderia ser: “Será que Deus realmente usaria alguém como eu depois de tudo o que eu fiz — ou deixei de fazer?”. Deus usa ou não usa? Eis a questão.
A resposta surpreendente no caso de Ester é sim. A PROVIDÊNCIA DE DEUS opera por meio de todos os tipos de pecador (afinal de contas, é o único material que ele tem disponível).
Na sua fala, contudo, Mordecai realizou uma façanha extraordinária: ele fez a Ester um pedido totalmente baseado na realidade e necessidade da intervenção de Deus, mas no processo ele evitou completamente mencionar o fato.
Pense bem, de onde mais viria a ajuda se Ester não tomasse uma iniciativa? Mordecai não tinha nenhum plano B. Ninguém mais tinha. Não havia outros judeus de alta posição que pudessem intervir.
No plano secular, ninguém teria interesse e comprometimento infalível com a preservação do povo judeu.
Se não houvesse Deus, o que impediria a vitória final dos amalequitas por meio de Hamã, o agagita?
Não havia garantia de um final feliz num mundo sem sentido. Só havia certeza de um futuro para o povo de Mordecai se o Deus cujo nome havia sido estreitamente associado ao seu povo na antiga aliança; desse libertação a eles por amor ao seu nome.
Contudo, em vez de afirmar esse fato como base da confiança, Mordecai disse VAGAMENTE: “De outra parte se levantará para os judeus socorro e livramentos”.
Além do mais, se Ester permanecesse em silêncio e os judeus não fossem livrados, quem iria trazer sobre Ester as consequências letais mencionadas no versículo 14?
Estaria Mordecai a ameaçando com represálias da comunidade judaica? É possível que essa fosse a intenção, como acreditava JOSEFO.
Mas o mais provável com certeza é que também o juízo viria diretamente de Deus. Mais uma vez, porém, o nome divino não foi invocado.
Quando Mordecai disse: “Quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?“.
Ele estava argumentando que há um PROPÓSITO NO CURSO DA HISTÓRIA. Mas quem pode fornecer esse propósito, a não ser o próprio Deus?
Mordecai estava dizendo essencialmente o que José disse a seus irmãos em Gênesis 45.5: “porque, para conservação da vida. Deus me enviou adiante de vós” — no entanto, mais UMA VEZ MORDECAI NÃO MENCIONOU DEUS.
Em cada pensamento de Mordecai, DEUS É PRESSUPOSTO, MAS NÃO EXPRESSO — mas não perca de vista o significado dessa NEGLIGÊNCIA CANINA de expressar isso verbalmente.
O PRESSUPOSTO TEOLÓGICO continua constantemente oculto, uma estratégia retórica que podia fazer sentido se Mordecai estivesse numa PEÇA TEATRAL; onde o ator está intencionalmente ocultando suas crenças, a um público pagão que não compartilhava das perspectivas religiosas dele.
Todavia, ele estava falando para Ester, uma filha do povo da aliança, que deveria compartilhar desses PRESSUPOSTOS. Ele estava pedindo que ela arriscasse a própria vida em resposta ao pedido dele.
Se é que havia uma hora certa para mencionar o nome de Deus, com certeza era essa. Mesmo assim O CÃO AINDA NÃO LATIU, por razões que exploraremos logo mais à frente.
- LATIR OU NÃO LATIR; EIS A QUESTÃO
A frase “Ser ou não ser, eis a questão” vem da peça de William Shakespeare: A tragédia de Hamlet (1564-1616).
Ela é usada como um fundo filosófico profundo. Sem dúvida alguma, é uma das mais famosas frases da literatura mundial.
Ester enfrenta esse sentimento existencialista ela está diante de uma questão angustiante, com uma crise de consciência, julgamento as consequências de suas atitudes. Eis a questão, morrer ou viver?
Ester tinha então de tomar uma decisão clara e que mudaria sua vida. Ela não poderia mais viver nas SOMBRAS OBSCURAS DE DOIS MUNDOS. Até esse momento, ela vinha vivendo como uma crente secreta.
Interiormente, ela ainda se considerava parte da COMUNIDADE DA ALIANÇA, mas exteriormente ela havia se tornado inteiramente separada dela. Continuar a fazer isso já não era mais possível.
Uma opção teria sido dar mais um passo em relação à sua FÉ PRIVATIZADA e negar completamente sua ligação com o povo judaico, confiando que o império a protegeria de si mesmo.
A alternativa restante era se identificar publicamente com a comunidade da aliança em sua hora de necessidade, e arriscar a própria vida numa tentativa de salvar seu povo.
Não havia muita esperança em nenhuma das opções. Se ela aparecesse sem ser convidada diante do rei, havia uma grande chance de acabar enforcada (como Bigtã e Teres, os dois eunucos que conspiraram contra Assuero).
Por outro lado, se ela confiasse no império e sobrevivesse sozinha, isso significaria separação total e final de sua comunidade, e de qualquer fonte de significado na vida dela, um tipo diferente de morte lenta e demorada.
Confrontada com essas alternativas desagradáveis, Ester tomou sua decisão (Et 4.15-17).
E assim Ester concordou em demonstrar solidariedade com a comunidade judaica.
Um sinal dessa NOVA CONEXÃO foi que ela pediu a Mordecai que reunisse os judeus em Susã para jejuarem por ela por três dias (Et 4.16).
Novamente o cão não latiu. Ela toma uma decisão precipitada e equivocada, demostra pouco conhecimento da lei de Deus.
Ela declara um jejum; num festival, tempo de banquete e jubilo. Aquele dia era 14 de nisã, a comemoração da PASCOA e início da FESTA DOS PÃES ÁZIMOS, que duravam 7 dias.
John Gill comentando o versículo 17 que diz: “Então Mordecai foi… ou “seguiu seu caminho” … A palavra usada para se referir ao caminho ou negocio que ele fez, tem muitas vezes o significado de “passar por cima” ou “transgredir”.
Então Mordecai, estaria transgredindo a lei da Pascoa: Jejuando num festival. Esse nunca seria um tempo de pranto, saco de cinza, e muito menos de jejum.
O cordeiro pascal era comido no décimo quarto dia ( Êxodo 12: 6), pouco antes do pôr do sol que introduzia o dia quinze.
De acordo com o targum e o Midrash (comentário dos textos hebraicos) eles jejuaram no décimo terceiro, décimo quarto e décimo quinto dia de nisã. Então Jejuaram do domingo a terça feira da festa dos pães ázimos.,
A TEOLOGIA de Mordecai desconsiderou a obediência a lei de Deus reuniu os judeus de Susan e fez jejum de três dias e noites.
Ele estava desposto a fazer tudo o que Ester ordenou. Mas não se voltou para Deus em quebrantamento, arrependimento buscando a vontade de Deus.
Ester e suas servas persas; que eram pagãs; e não prosélitas, como alguns ensinam, pois Ester ocultou totalmente sua fé dos pagãos; então elas também jejuariam, pois os persas também faziam este tipo de luto.
Então depois, ela iria ver o rei. Do ponto de vista da prudência humana isso era, no mínimo, CONTRA INTUITIVO. O rei gostava de suas mulheres bem nutridas (Et. 2.9) e em sua melhor aparência.
Três dias de jejum dificilmente tomariam Ester mais atraente. Uma vez que ela não tinha permissão para falar com o rei a não ser que ele escolhesse recebê-la, tudo o que ela tinha a oferecer a ele era somente a sua aparência.
Contudo, pelo menos agora, toda a comunidade de Susan estaria envolvida nesse apelo, torcendo silenciosamente para que Ester tivesse sucesso.
- LAMENTO RESIGNADO AO INEVITÁVEL.
Os sons de lamento de cães são vocalizações agudas, geralmente produzidas nasalmente e com a boca fechada, expressando que eles querem algo.
O jejum de Ester só faria sentido se fosse um apelo comunitário para que Deus realizasse o milagre de fazer com que ela conseguisse obter o favor do rei Assuero.
Na Bíblia, o jejum é um meio de expressar tristeza pelo pecado e dependência de Deus.
A solidariedade da comunidade não faria bem algum a Ester sem a intervenção divina em favor dela.
Dadas as circunstâncias, portanto, era de se esperar que ela fizesse uma oração como a de Neemias, com jejum e choro, pedindo para ser bem-sucedida aos olhos do rei (Ne 1.4-11).
Se alguma vez existiu uma ocasião certa para esse tipo de oração, era essa. Entretanto, mais uma vez, O CÃO PERMANECEU EM SILÊNCIO.
As únicas palavras de Ester que ficaram registradas foram “irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci” (Et 4.16).
No entanto, a construção no hebraico deixa claro que ela não está falando a respeito de morte simplesmente como um possível resultado da obediência dela a Mordecai, mas como um RESULTADO QUASE INEVITÁVEL DE ESCOLHER ESSE CURSO DE AÇÃO.
Como diz o comentarista Lewis Paton, essa é a “expressão desesperada da submissão ao inevitável […] ela vai como quem iria se submeter a uma cirurgia, porque há uma chance de escapar da morte dessa maneira.
A mesma ATITUDE DE RESIGNAÇÃO desesperada fica evidente num lamento semelhante de Jacó: “Quanto a mim, se eu perder os filhos, sem filhos ficarei” (Gn 43.14).
Naquela ocasião, Jacó estava enviando Benjamin para o Egito sob os cuidados de seus Irmãos achando que nunca mais o veria, mas sabendo que não tinha alternativa a não ser deixá-lo ir.
Se Benjamim fosse com seus irmãos, havia pouca chance de que ele retornasse, mas se eles ficassem em Canaã, todos eles certamente morreriam.
Assim também o discurso de Ester é uma afirmação de RESIGNAÇÃO AO INEVITÁVEL, não de uma fé resoluta, é uma lamúria e não um latido.
- 8. (RE) APRENDENDO A LATIR
Essa imagem de Mordecai, Ester e da comunidade judaica; como cães que se esqueceram de como latir, pois, mostra que tem algo errado com eles.
Ester, Mordecai são pessoas; cuja vida toda é construída ao redor de pressupostos teológicos cuja existência e implicações eles deliberadamente ignoram — contraria a maneira como muitos leem o livro.
Em seu desejo de resgatar Ester dela mesma, alguns “latem” por ela, explicando a teologia implícita do capítulo como Deus trabalhando na História e transformando-a numa heroína destemida, ansiosa por aproveitar uma oportunidade para Deus.
Outros neutralizam o cão por completo, tornando o livro um CONTO SECULAR no qual os judeus sobrevivem por meio de sua força interior e potencial para AUTOAJUDA.
Nenhuma dessas abordagens faz justiça à habilidade LITERÁRIA DO AUTOR, que de fato ressalta um enigma muito real com o qual os pastores se debatem semanalmente.
Colocando de modo simples: “Como as pessoas que confessam uma fé ortodoxa, semana após semana, podem tão completa e facilmente perder de vista as implicações dessa teologia sempre que surgem problemas na vida diária?”.
A COSMOVISÃO DE MORDECAI podia ser baseada numa TEOLOGIA SÓLIDA, mas ele tinha dificuldade em conectar essa teologia com as questões do dia a dia.
Se conhecemos as pessoas, e o que move o nosso próprio coração, não teremos de voltar à Susã antiga para encontrar exemplos desse fenômeno.
Em tempos de crise, apesar de toda a nossa TEOLOGIA ORTODOXA, nossa primeira resposta muitas vezes é lamuriar em resignação ou traçar estratégias humanas em vez de “latir” com fé resoluta em Deus.
Cremos em Deus, mas na prática reagimos às crises da vida como se fossemos ATEUS VIRTUAIS. Cremos numa coisa e fazemos outra. A nossa fé não produz confiança autentica em Deus.
- O CONFLITO DO LATIDO: O PONTO DE CONTATO:
O ponto de contato entre o mundo de Mordecai e o nosso acontece no momento em que a natureza hostil deste mundo fica evidente. Assim como o cão quando em conflito inevitavelmente ele vai latir.
Este é um mundo em inimizade com Deus e em inimizade com o povo dele, como Jesus nos lembrou:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.
Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou (Jo 15.18-21).
Nossa experiência desse tipo de OPOSIÇÃO às vezes assume a forma de um ataque pessoal, zombaria verbal ou físico — como ocorreu com a comunidade judaica no império persa.
Num mundo caído, todavia, essa experiência também inclui a incidência da doença e do desastre, em todas as suas formas horrendas.
As vezes inclui o desemprego, o câncer, os furacões, o aborto, o divórcio, a infidelidade e a morte. Este mundo não é um lar seguro, mas uma terra hostil.
Em tempos como este, os TONS TRANQUILIZADORES DE CINZA ao nosso redor se decompõem em contornos desconcertantemente nítidos de PRETO E BRANCO.
Quando a doença que ameaça a vida ataca, ou quando somos confrontados com a escolha entre nos corromper ou perder o emprego, ou quando alguém que amamos nos abandona, conseguimos viver de acordo com a teologia que proclamamos?
Lembramos a nós mesmos que Deus está no controle de todas as coisas e que prometeu fazer com que todas as coisas cooperem para sua glória e para o nosso bem?
Em tempos como esses já não podemos fingir que servimos a Deus e a nossos ídolos. Agora temos de escolher onde vamos nos refugiar em meio à tempestade.
Esses são os momentos definidores que revelam e moldam quem somos nos níveis mais profundos.
Sem eles, podemos ser capazes de persistir em nossos caminhos confortavelmente comprometedores, assim como Ester pôde ter tido a esperança de viver sua vida ocultando confortavelmente sua verdadeira identidade.
Sob a intensa luz das tribulações, contudo, precisamos escolher a quem serviremos — e a natureza dessa escolha só pode ser pública.
Em meio à tempestade, todos irão ver onde estamos buscando refúgio. Como reagimos então quando a realidade se impõe a nós?
Como Mordecai e a comunidade judaica de Susã, precisamos nos ajoelhar e jejuar, nos unir e nos identificar como parte da comunidade do povo de Deus.
E temos de acrescentar o “latido” da ORAÇÃO e do ARREPENDIMENTO que faltou.
Precisamos invocar diretamente o nome de Deus para que ele manifeste sua presença e do poder do seu Espírito na nossa situação de necessidade.
- ASSIMILADOS: SEM JEJUM E ORAÇÃO
Nos tempos bíblicos, o jejum era uma maneira normal de expressar contrição pelo pecado e dependência de Deus em face da dificuldade, fosse pessoal ou nacional.
Era também uma afirmação de que há mais nesta vida do que a mera existência física. O jejum também era um repúdio público à filosofia “comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.
O jejum continua a ser uma maneira apropriada de o povo de Deus reagir aos problemas pessoais ou corporativos.
Quando encaramos dificuldades esmagadoras na nossa vida, ou na nossa igreja, o correto é jejuar e buscar a face do Senhor (Dt 9.18; Ed 10.6; Ne 1.4).
Às vezes, é bom jejuar individualmente (2 Sm 12.16-23; Sl 35.13) e, às vezes, como comunidade do povo de Deus (At 13.2).
Ao jejuar, devemos lembrar a nós mesmos que nosso estado natural neste mundo não é fartura, mas a FOME DE DEUS.
Devemos apelar a Deus que nos garanta aquilo de que tão desesperadamente necessitamos.
No entanto, não deveríamos apenas apelar a Deus implicitamente, por meio da abstinência de alimento, como se o jejum fosse simplesmente outra TÉCNICA DE REALIZAR NOSSOS DESEJOS.
Antes, deveríamos apelar ao grande Rei explicitamente por meio de oração humilde e persistente.
Devemos buscar, muito mais fervorosamente, o favor dele do que uma simples solução humana para os problemas da vida.
Novamente, O JEJUM pode ser um auxílio para isso. Se acharmos que estamos esquecidos de orar por uma necessidade em particular, a fome provocada pelo jejum vai insistir em nos lembrar.
Se estivermos sem tempo para orar, o jejum cria um espaço para orarmos na hora em que de outro modo estaríamos comendo.
Então, por que não jejuamos? Talvez seja porque tenhamos nos isolado confortavelmente das realidades horríveis do mundo que nos cerca. Estamos muito ocupados com tantas superficialidades sem sentido.
A comunidade judaica também não estava jejuando até o Inicio do capitulo 4. Eles não viam necessidade de jejuar enquanto a vida estava indo bem para a maioria deles.
Estar ASSIMILADO ao império, em maior ou menor grau, era aparentemente uma estratégia bem-sucedida, pois parece que não havia problemas.
Porém, num instante, o mundo deles foi virado de cabeça para baixo. Ou, mais exatamente, a percepção de mundo deles foi subitamente realinhada com a realidade.
O império não se tornou um local hostil naquele ponto. Antes, a hostilidade latente que sempre esteve à espreita logo abaixo da superfície se voltou contra eles, e por isso eles jejuaram.
No entanto, mesmo quando a maioria dos seus compatriotas havia começado a jejuar, Ester ainda não estava consciente da necessidade deles e do perigo que corriam.
Vivendo no palácio do rei, ela estava confortavelmente isolada da sua comunidade e ainda não sabia do que estava acontecendo com o seu povo, ou não se importava.
Ela só deixou de lado as gordas porções fornecidas pelo império quando Mordecai trouxe a realidade da ameaça para dentro dos aposentos dela. Só então ela juntou as suas irmãs e irmãos num jejum comunitário.
As ações de Ester fazem perguntas muito sérias que cada um de nós deve responder.
Eu ainda estou cego à verdadeira natureza do mundo e da situação difícil de muitas pessoas do povo de Deus ao meu redor?
Eu tenho consciência do que está acontecendo no mundo a ponto de lamentar e chorar a situação do povo de Deus perseguido?
Geralmente, ou não conhecemos bem os fardos de nossos irmãos e irmãs na igreja, ou não nos importamos a ponto de jejuar e orar.
Não conhecemos suficientemente nem mesmo o que ocorre no nosso próprio coração para lamentar e chorar por causa dos nossos pecados.
Nossa vida confortável nos cega a tal ponto que não vemos e nem ouvimos os lamentos do povo de Deus.
Se nossos olhos estiverem abertos à verdadeira natureza do nosso mundo, então com certeza acharemos muitas razões para jejuar e clamar a Deus.
De fato, nossas ações irão revelar quem consideramos ser nossa VERDADEIRA COMUNIDADE.
Quando as pessoas com quem convivemos na escola ou no trabalho zombam do cristianismo; nós permanecemos em silêncio?
Então negamos que somos parte do povo de Deus com nosso silencio, declarando, em vez disso, que o mundo é nossa verdadeira comunidade.
Quando julgamos a nós mesmos e os outros de acordo com os valores do mundo, do que está na moda ou é desejável.
Então estamos declaramos que o mundo, e não o povo de Deus, é nossa verdadeira comunidade.
O que o nosso DISCURSO e o nosso SILÊNCIO dizem acerca de qual é o nosso povo? Será que estamos LATINDO, diante do grande conflito: mundo versus Deus.
- LATINDO: CORRENDO RISCOS.
Alguém já disse que “Trabalhar sem orar é farisaísmo e presunção. Orar sem trabalhar é falta de sinceridade e hipocrisia”.
Todo o jejum do mundo por si só, no entanto, nada realizaria para o povo da aliança na Pérsia. O que eles precisavam era de um mediador.
Eles precisavam de alguém que estivesse disposto e fosse capaz de ir aonde eles não podiam, à presença do rei, e suplicar em favor deles.
Eles não podiam aparecer na presença do rei para pedir misericórdia. Alguém tinha de fazer isso por eles.
Portanto, Ester tinha tanto de agir quanto jejuar. Ela precisava assumir o controle da própria vida, arriscando tudo por seu povo.
Não podemos ignorar a atitude de Ester, assim como ela precisamos nos dispor a correr riscos. Os riscos não devem ser desprezados.
As dificuldades não devem ser desprezadas; mas se não houvesse ninguém para correr grandes riscos, para empreender em face de grandes adversidades, os profetas e apóstolos seriam poucos.
Não havia Elias ou Daniel, nenhum João Batista ou Paulo o apóstolo, nenhum Lutero ou Knox.
Ela fez isso sem nenhuma promessa explícita de que Deus a protegeria, ou que faria com que a missão dela fosse bem-sucedida.
A pergunta: “quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?”, poderia ter uma resposta tanto negativa quanto positiva.
Não havia nenhuma voz do céu mandando Ester agir, nenhuma sarça ardente para convencê-la do chamado de Deus, nenhum sinal miraculoso que ela pudesse realizar para persuadir o rei a deixar o povo de Deus ir.
Talvez Deus fosse continuar escondido e deixar muitos do seu povo morrer, incluindo a própria Ester, como ele fez em outras ocasiões na História.
Não há garantias de sucesso quando nos posicionamos por Deus, se o sucesso significa conseguir o que queremos.
Ainda assim, em outro plano, o sucesso de Ester estava garantido. Deus tinha se comprometido a manter o seu povo para si mesmo, não para o conforto deles, mas para que eles promovessem a glória dele.
Independentemente de que caminhos pecaminosos levaram Ester à posição que ela ocupava, ela estava agora, inegavelmente, numa posição de dar glória a Deus.
Isso ela faria ao se identificar publicamente com o povo dela e, se necessário, ao perder a própria vida por meio dessa IDENTIFICAÇÃO.
Ela poderia glorificar a Deus tanto perecendo como convencendo o rei. Cabia a Deus decidir como glorificar a si mesmo por meio da obediência de Ester.
Fosse pelo livramento do povo por meio dela ou fosse pela permissão do MARTÍRIO dela no serviço a ele, ele seria glorificado de uma maneira ou de outra.
O mesmo acontece conosco, quando damos um passo de fé, ainda que com FRAQUEZA E TREMOR. Não sabemos com antecedência como Deus vai nos usar.
Ele pode curar nossa doença, transformar nosso casamento falido e estabelecer ministérios bem-sucedidos por nosso intermédio.
Ou ele pode nos sustentar em submissão obediente a ele à medida que nossas esperanças terrenas são frustradas e nossa vida é derramada, aparentemente sem propósito.
De qualquer modo, porém, temos a garantia de que ele vai usar até mesmo a nossa TÍMIDA FÉ como meio de trazer glória para si mesmo.
Com essa certeza podemos acrescentar ao choro de Ester: “Se perecer, pereço simplesmente deixe-me perecer de uma maneira que traga glória a Deus”.
- UM LATIDO MELHOR: O MEDIADOR PERFEITO.
Assim como os judeus precisavam de um mediador para interceder junto ao rei Assuero, muito mais nós precisamos de um mediador para interceder por nós diante de Deus, o grande Rei.
O Senhor é totalmente diferente de Assuero em quase todos os aspectos, pois ele é governante fiel, sábio, justo e bom. Além do mais, ele é o grande Rei dos reis, o governante soberano do universo, contra quem nos rebelamos.
Pessoas caídas e pecadoras não podem, portanto, simplesmente aparecer diante dele sem serem anunciadas ou convidadas.
Pelo contrário, o edito dele foi proclamado contra nós, declarando que somos dignos de morte por causa de nosso pecado.
A verdade disseminada por todo o império é que “a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.4).
O decreto dele está estabelecido e determinado, ainda mais porque não foi formulado em ignorância e apressadamente, mas pela perfeita sabedoria antes da fundação do mundo.
Quem então vai defender nossa causa? Quem nos trará alívio e libertação?
A resposta é JESUS CRISTO, o verdadeiro mediador entre Deus e o homem, que na plenitude do tempo se fez carne e veio a este mundo.
Longe de ficar confortavelmente isolado de sua comunidade, como fez Ester, Jesus se identificou totalmente conosco.
Ele vestiu a nossa pele. Ele assumiu a forma de um servo e viveu como um de nós neste mundo caído e enfermo pelo pecado.
Então, depois de ter completado sua vida de PERFEITA OBEDIÊNCIA, ele entrou na presença do Pai, sabendo que não estava apenas arriscando sua vida, mas entregando-a.
Para ele, “SE PERECER, PERECI” significava não apenas uma potencial probabilidade de morte; mas a absoluta certeza da cruz.
Não foi um rápido golpe de machado que ele enfrentou, mas o tormento total do INFERNO.
Não foi um fardo leve. O suor caiu de sua fronte como gotas de chuva no Getsêmani quando ele se preparava para seu grande encontro com a morte.
Em agonia, ele buscou alguma outra maneira: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!” (Mt 26.39).
Porém, não havia outra maneira pela qual nossos pecados poderiam ser julgados e nós poderíamos ser salvos.
Ele então bebeu do cálice da ira de Deus até a última gota por você e por mim. Por meio de sua morte, nós recebemos vida.
Ressuscitado de entre os mortos, Jesus Cristo mais uma vez apareceu diante do Pai, onde ele continua a interceder por nós.
“Pai”, diz ele, “sustenta esta mulher em meio à sua batalha contra o câncer. Dá a este homem força para defender o que ele crê e pagar o preço”.
Agora, no entanto, ele já não está sozinho, mas acompanhado, ao redor do trono, por uma multidão de santos glorificados.
Estes são povo seu, aos quais ele trouxe em segurança em meio a todas as provações deste mundo hostil.
Alguns trazem as marcas da tortura por Cristo, outros as cicatrizes interiores de incontáveis batalhas espirituais, mas todos são agora triunfantes nele, redimidos pelo sangue dele.
CONCLUSÃO
Este Jesus já não está mais sofrendo. O seu tempo de privação e abstinência acabou.
Agora no céu, Jesus já está começando a GLORIOSA FESTA preparada para todos os que têm o nome escrito no livro da vida do Cordeiro.
Nós, porém, ainda somos chamados a jejuar, pois Jesus não está fisicamente presente conosco neste momento.
Nosso tempo de sofrimento continua. Lembre-se do que Jesus disse aos discípulos de João quando eles perguntaram por que os discípulos dele não estavam jejuando.
Ele disse: “Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar” (Mt 9.15).
Por isso no presente jejuamos, já que Jesus não está conosco fisicamente.
Agora vivenciamos a dor e a condição caída deste mundo em toda a plenitude e clamamos a Deus em meio à nossa dor e dúvida.
Porém, este mundo não é a REALIDADE FINAL. Vem o dia quando não mais jejuaremos. Quando Jesus voltar, não haverá mais jejum, nem mais lágrimas, nem choro e nem dor.
Haverá celebração para sempre na presença do rei por todo o povo redimido do rei. Finalmente, então, compartilharemos de sua glória e provaremos da totalidade de sua bondade.
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