Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 20 – Divirta-se, já é mais tarde do que você imagina! Eclesiastes 9:7-10. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 05/08/2020.
INTRODUÇÃO
As pessoas podem não cantá-la com a mesma frequência, mas esta canção fez sucesso na década de 1950. A letra diz:
Você trabalha e trabalha por anos e anos, está sempre em movimento
Você nunca tira um minuto, muito ocupado fazendo dinheiro
Algum dia, você diz que se divertirá quando for um milionário
Imagine toda a diversão que você terá na sua velha cadeira de balanço
E depois o refrão:
Divirta-se, já é mais tarde do que você imagina!
Divirta-se, enquanto sua pele ainda estiver rosada!
Os anos passam num piscar de olhos,
Divirta-se, divirta-se, já é mais tarde do que você imagina
Você fará aquela viagem de navio, aconteça o que acontecer;
Suas reservas estão feitas, mas você simplesmente não consegue partir:
No próximo ano, com certeza, você verá o mundo e realmente viajará;
Mas até onde pode ir se estiver dois metros debaixo da terra?
E novamente o refrão:
Divirta-se, já é mais tarde do que você imagina!
Divirta-se, enquanto sua pele ainda estiver rosada!
Os anos passam num piscar de olhos,
Divirta-se, divirta-se, já é mais tarde do que você imagina.
A música “Enjoy Yourself?” foi escrita na década de 1930 e se tornou Popular na década de 1950. A sua perspectiva sobre a vida é tão antiga quanto Eclesiastes.
Nosso tempo na terra é curto, portanto, é melhor aproveitá-lo ao máximo e encontrar alegria em seus muitos prazeres que Deus providenciou para seu povo se alegrar. Vejamos:
- APROVEITE O MÁXIMO DA VIDA.
Pode parecer surpreendente que o pregador assuma essa perspectiva. Desde as primeiras palavras de Eclesiastes, ele tem nos falado principalmente sobre os problemas da vida.
Nossa existência debaixo do sol tudo é vaidade e correr atrás do vento. No entanto, este não é o único tema do Pregador.
Ele fala não só sobre a dor, mas também sobre os prazeres, especialmente nas chamadas “passagens de alegria” de Eclesiastes.
No final do capítulo 2, falou sobre comer e beber (v. 24-26).
Na metade do capítulo 3, falou sobre fazer o bem com alegria enquanto vivermos (v. 12-13).
No capítulo 5, explicou como é bom e adequado encontrar alegria no nosso trabalho, porque esta é a nossa porção na vida (v. 18).
No capítulo 8, foi ainda além e recomendou a alegria como estilo de vida (v. 15).
Essas passagens representam um grande desafio para a interpretação do livro de Eclesiastes, porque parecem contradizer o que o Pregador diz sobre a frustração da vida sob o sol.
Por isso, alguns comentaristas as veem como irônicas: quando o Pregador nos instrui a aproveitar a vida, como se ele estivesse sendo cínico ou sarcástico.
Segundo essa interpretação, a postura do Pregador estaria contida na antiga expressão latina carpe diem: “Aproveite o dia!”.
Já que a vida não tem nada melhor a oferecer do que prazer, então podemos muito bem tentar obter o máximo de prazer possível. “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Co 15.32).
Isso é o melhor que um homem (ou uma mulher) pode esperar da vida. Alguns comentaristas comparam essa passagem com passagens semelhantes em outros escritos antigos.
Como exemplo, veja estas palavras da Epopeia de Gilgamesh, um poema acadiano do tempo de Abraão ou mais antigo ainda:
Gilgamesh, enche a sua barriga —
Celebra dia e noite
Que os teus dias sejam repletos de alegria,
Dança e faz música dia e noite.
E veste roupas novas,
E lava a tua cabeça e toma banho.
Olha a criança que segura a tua mão,
E alegra a tua esposa com o teu abraço.
Apenas estas coisas devem importar aos homens.
O que esses estudiosos querem dizer não é que Eclesiastes se baseia em Gilgamesh, como se isso fosse um caso de dependência literária, mas que, o pregador assume a mesma postura diante da vida.
Encontramos algo semelhante nos escritos do antigo Egito: “Siga seu desejo enquanto viver. Coloque mirra em sua cabeça, vista tecidos finos e unge-te… e não restrinja o seu coração — até o dia da lamentação o visitar”.
Há pelo menos duas boas razões pelas quais devemos ser cautelosos para não menosprezar o que o Pregador diz sobre a alegria e para levá-lo a sério como parte da verdade sobre a vida.
- Eclesiastes oferece uma perspectiva equilibrada sobre o prazer.
É verdade que Eclesiastes tem muito a dizer sobre a vaidade e o correr atrás do vento.
No entanto, não devemos nos surpreender com o fato de que ele também tem algo a nos ensinar sobre a alegria, pois é assim que a vida realmente é.
A despeito de todas as dificuldades e de todo o desespero, existem também muitas coisas que podemos desfrutar.
A vida é amarga e doce, triste e alegre, e se não percebermos ambos os gostos deixaremos de experimentar a vida como realmente deve ser vivida.
O Pregador viu a vida em toda a sua complexidade, e ele quer que nós a vejamos também.
Contemplamos com a seriedade devida todos os problemas que ele enfrentava na vida debaixo do sol.
Mas se quisermos adquirir a sabedoria desse homem, precisamos considerar não só seu OTIMISMO, mas também o seu PESSIMISMO.
O mesmo Pregador que disse que “tudo é vaidade” também veio a crer que a vida oferece alegria, e isso faz parte de uma visão equilibrada.
Martinho Lutero, pregando esse texto, diz que Eclesiastes não está incentivando uma vida de prazer e luxúria, típica daqueles que vivem nos deleites carnais e mundanos.
Ele não está aprovando essa conduta ímpia. Segundo Lutero, a Escritura está falando de homens santos, que percebem o vexame dos prazeres mundanos, e que podem se privar de aproveitar os prazeres lícitos e santos.
São para esses corações deprimidos e intimidados, que ele pretende encorajar. Muitos ascetas e monges, cometeram esse equívoco de tentar negar e desprezar os prazeres, até mesmo os lícitos, para alcançar a espiritualidade.
- Eclesiastes coloca Deus no centro dos prazeres.
Outra razão pela qual precisamos ouvir o chamado do Pregador para a alegria é porque todas as passagens em que ele faz esse chamado têm Deus como seu centro.
Isso diferencia Eclesiastes imediatamente de escritos antigos como a Epopeia de Gilgamesh. Por que devemos nos alegrar comendo, bebendo e trabalhando?
No capítulo 2 é porque essas atividades provêm “da mão de Deus” (v. 24).
No capítulo 3 é porque essas atividades são “a dádiva de Deus para o homem” (v. 13).
O mesmo vale para o capítulo 5, que diz também que Deus nos mantém “ocupados com alegria” em nosso coração(v. 20).
O Pregador pode estar frustrado com a vida neste mundo caído, mas ele ainda reconhece as dádivas que vêm da mão de Deus.
Vemos isso talvez de forma mais clara em Eclesiastes 9, em que o Pregador nos instrui a desfrutar dos alimentos e das celebrações porque “Deus já de antemão se agrada das tuas obras” (v. 7).
Isso não é um CHEQUE EM BRANCO para tudo o que as pessoas fazem, como se Deus alguma vez viesse a aprovar a sua perversão.
Também não é uma declaração plena da doutrina da justificação — que somos aceitos pela justiça de Deus.
O que o Pregador está dizendo é, primariamente, que o nosso comer e beber e festejar têm a bênção de Deus.
As alegrias da vida não são os “prazeres culposos”, mas prazeres santos — ou pelo menos deveriam ser. Tudo o que Deus criou é bom e santo.
Um coração alegre tem a aprovação de Deus. Isso faz parte de sua graciosa vontade para a nossa vida.
- APROVEITE O MÁXIMO DOS PRAZERES
Que tipo de prazeres Deus deu para que o seu povo os desfrutasse? O Pregador menciona tipos de prazeres específicos que envolvem: satisfação, conforto e companheirismo.
Que contraste com a formula de felicidade proposta pela sociedade moderna, comer só fast-food e manter agendas lotas, buscar desesperadamente as ultimas novidades, viver junto em vez de se casar e criar atalhes para trabalhar menos e enriquecer rapidamente.
O resultado disso é frustração e adoecimento físico emocional. Cansados da futilidade de viver a base de substitutos, as pessoas estão descobrindo que a verdadeira alegria está nas coisas mais simples que Eclesiastes ordena.
- Desfrute das refeições.
Ele começa com os prazeres básicos de comer e beber: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho” (Ec 9.7).
A palavra “vai” transmite um senso de urgência. Não se trata de uma declaração descritiva, mas de um imperativo, uma ordem, uma necessidade.
O que vale dessa vida é ver como você vai aproveitá-la da melhor forma possível!
Então ele nos ordena a comer o nosso pão e a beber o nosso vinho, vinho aqui é uma metáfora bíblica para se referir a“corações alegres”.
Não é tanto o comer e o beber que o Pregador tem em mente, mas o coração cheio de alegria durante as refeições que fazemos principalmente com a família e amigos.
Quando compartilhamos a mesa uns com os outros — quando desfrutamos sentados a mesa de uma deliciosa refeição, bebemos um bom suco, um delicioso refrigerante, de todas as outras boas comidas e bebidas que Deus provê — somos desafiados a receber cada prazer com uma alegria no coração, centrada em Deus.
Os especialistas tem observado que existe “algo de extraordinário”, neste tipo de celebração capaz de provê satisfação e saúde emocional.
Se você não tem uma mesa para todos os membros de sua família, então compre ou faça uma.
Não aceite em hipótese alguma, as pessoas fazerem suas refeições no sofá, assistindo televisão ou vendo o celular.
Lutero tinha uma mesa muito grande, em sua casa, onde fazia refeições com sua família e convidados, e isto influenciou todas as famílias da Alemanha. A igreja primitiva tinha uma espécie de ajunta prato, chamada de festa do amor.
- Celebre sempre.
A celebração continua no versículo 8: “Em todo tempo sejam alvas a tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça.”
No antigo Oriente Próximo roupas brancas eram as “roupas de festa”. Muitas ocasiões festivas eram adornadas com mantos brancos.
Eles eram vestidos por heróis de guerra em procissão triunfal, pelos escravos no dia em que ganhavam sua liberdade e pelos sacerdotes nos dias de festa de Israel (p. ex., 2Cr 5.12).
Jesus disse a igreja de Sardes, que aqueles que não se corrompem, andarão de vestes brancas com Ele (Ap 3.4-5). E diz que vencer será vestido de branco (Ap 19.8).
Num contexto contemporâneo, o Pregador estaria nos instruindo a usar a nossa melhor roupa, e nos alegrar, celebrar e festejar com a família de Deus.
Eclesiastes nos instrui também a usar um doce perfume. Ungir a cabeça de alguém com óleo (veja o SI 23.5) significava derramar algo muito cheiroso, como colônia – aquilo que a Bíblia chama de “óleo de alegria” (S1 45.7).
Isso é uma parte importante de se preparar para uma celebração – não ter apenas uma aparência boa, mas também cheirar bem, especialmente num clima quente.
Visto que as vestes brancas e o perfume eram coisas caras e nobres, as pessoas só usavam em ocasião muito especial de muita celebração e alegria.
O evangelho nos prepara para um clima de festa, para a diversão sadia, para o bom humor, para o prazer completo e santo.
Ele está nos dizendo para fazer de todo o momento uma “ocasião especial”, mesmo que seja algo rotineiro.
Vestes brancas também fala da nossa pureza moral, com a qual devemos manter nossas motivações puras no gozo desses prazeres.
O negócio do evangelho é o prazer, não o prazer fugaz que o mundo oferece, mais o prazer superior criado por Deus.
- Desfrute de seu casamento.
O Pregador nos convida também a “gozar a vida com a esposa que amas” (Ec 9.9). Literalmente, ele diz: “com a mulher que amas“, mas ele não está dizendo apenas: “Ame aquela com que você está”.
O pregador está argumentando convincentemente neste texto que a mulher em vista é a esposa amada do homem.
O Pregador está falando dos prazeres diários do casamento e da vida em família. O casamento foi criado para ser um ambiente de constante comunhão e prazer.
Aqui parece ser indicado uma palavra de exortação prática para casais casados. O compromisso do casamento é a base para qualquer relação amorosa autentica.
Embora o amor entre um homem e sua esposa não seja o único prazer que podemos experimentar na amizade humana.
Mas aqui a Bíblia está dando uma ordem específica aos maridos, que precisam prestar atenção ao que, exatamente, o Pregador diz.
Cada marido é chamado para alegrar e se divertir com a sua esposa. Isso significa passar um tempo juntos como amigos para brincar e sorrir.
Em meio a todas as exigências da vida, separem algum tempo para fazerem coisas juntos que ambos gostem de fazer.
Significa prezar um ao outro como amantes. Expressem palavras de afeto e apreciação, devoção e respeito mútuo.
Viajem — apenas os dois — para alimentar o fogo do amor romântico. Alegrar-se com sua esposa significa também valorizá-la como pessoa.
Ouça atentamente ao que ela diz, sem apontar imediatamente onde ela está errada ou tentar resolver problemas que ela nem pede que você resolva antes de compreendê-la.
Essas são apenas algumas das muitas maneiras em que os homens são chamados a se alegrar com suas esposas.
A essa altura, alguns maridos (e também muitas esposas) se sentirão tentados a reclamar que suas esposas (ou maridos) não são fáceis de serem apreciadas.
O romance e o dialogo no casamento se foram há muito tempo, e, às vezes até mesmo a amizade parece ter acabado.
Se esse for o caso, então precisamos observar exatamente como o Pregador formula sua ordem: a esposa que devemos “GOZAR” é também a esposa que devemos “AMAR”.
Talvez seja difícil se deleitar com a sua esposa ou seu marido nesse exato momento, mas será que você consegue obedecer pelo menos a ordem de Deus de amar?
Para os maridos, isso significa amar as suas esposas com o mesmo amor custoso e sacrificial que Jesus demonstrou quando morreu na cruz por nossos pecados (veja Ef 5.25-30).
É difícil imaginar como um homem pode desfrutar sua esposa (ou como ela pode se alegrar com ele) se ele não estiver dedicado a amá-la como Cristo amou.
Amor e alegria andam juntos. Se vocês amarem um ao outro, façam um esforço consciente para terem prazer também.
Mas se vocês tiverem dificuldades para amar um ao outro, peçam que Deus lhes dê mais uma vez a graça para amar como vocês costumavam se amar ou, talvez, como nunca se amaram, mas sabem que deveriam fazê-lo.
Aqui o Pregador diz o que a Bíblia diz muitas vezes aos maridos e o que, francamente, os maridos precisam ouvir o tempo todo: AMEM AS SUAS ESPOSAS (Ef 5.25,28,33).
Surpreendentemente, o chamado para o amor conjugal é apenas um chamado de curto prazo; ele vale apenas para esta vida, não para a eternidade.
Assim, o Pregador instrui os maridos a se alegrar com suas esposas “‘todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol: esta é a tua porção nesta vida” (Ec 9.9).
Essa é a porção de felicidade dada por Deus. Se um casal não conseguir encontrar alegria em seu relacionamento conjugal, não vão conseguir encontrar alegria em mais nada.
Isso dificilmente é o tipo de declaração que uma mulher espera encontrar em seu cartão de aniversário de casamento.
O Pregador é tão pouco sentimental em relação ao casamento quanto o é em relação a qualquer outro aspecto da vida. Mas isso não faz dele um cínico.
Pelo contrário, ele está nos oferecendo uma visão séria da vida que abre espaço para a alegria, mas que também encara as realidades sóbrias da vida num mundo caído e a realidade inevitável da morte.
Quando o pregador diz que a vida é “vã”, ele usa a mesma palavra para vaidade (hebel) que ele tem usado ao longo de todo o livro de Eclesiastes.
Nesse contexto específico, ele não está dizendo que a vida não tem sentido, mas que a vida é curta.
Nossa existência terrena passa rapidamente, como fumaça dissipada pelo vento. Portanto, devemos nos dedicar ao amor e aproveita-la ao máximo, enquanto ainda temos tempo.
- Desfrute do Trabalho
O último prazer que o Pregador menciona é o trabalho, que faz parte da nossa porção nesta vida: “Goza… o trabalho com que te afadigaste debaixo do sol” (Ec 9.9).
A expressão –“debaixo do sol” não se refere a um trabalho exaustivo no calor do dia, mas ao chamado regular da nossa existência terrena – qualquer coisa que Deus tenha nos chamado para fazer.
Não importa se trabalhamos na área jurídica, científica, educacional, na construção ou medicina ou no ministério ou até mesmo nas artes (ou por meio do alto chamado para cuidar e construir um lar), Deus nos deu um bom trabalho a fazer.
Como o Pregador já disse, esse trabalho é uma dádiva de Deus que devemos desfrutar enquanto temos oportunidade.
Os rabinos diziam que aquele que não ensina o filho a trabalhar, o ensina a roubar. Nas palavras do apostolo, quem não quer trabalhar, também não coma.
No versículo 10, ele reforça o que diz sobre o trabalho dando uma ordem poderosa: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças” (Ec 9.10).
- O que devemos fazer.
Aqui a Bíblia nos diz o QUE DEVEMOS FAZER, isto é, tudo o que estiver ao nosso alcance. Ela não está dizendo que devemos trabalhar aleatoriamente ou fazer o que bem quisermos, mas o que vier a nossa mão.
Antes, no decurso da PROVIDÊNCIA DIVINA, existem algumas coisas que encontramos no CAMINHO DA NOSSA OBRIGAÇÃO — coisas que agradam a Deus.
Mas só podemos fazer o que Deus nos deu para fazer, não as coisas que ele colocou além do nosso alcance.
Tudo a quilo que está diante de nós e que precisa ser feito, seja em casa, na igreja ou no trabalho. As pessoas perguntam o que posso fazer? Eu respondo tudo o que precisa ser feito.
Não podemos escolher, ou não querer fazer, tudo o que precisa ser feito e que tenho capacidade para fazer devo fazer. A oportunidade é guiada pela necessidade.
Em seu sermão sobre esse versículo, Charles Spurgeon descreveu um jovem homem que sonhava ficar aos pés de uma figueira e fazer sermões eloquentes ao povo na índia: “Meu caro amigo”, disse Spurgeon, “por que não tenta primeiro as ruas de Londres e veja se consegue ser eloquente primeiro aqui!”.
Cada um de nós deveria fazer o trabalho que Deus nos deu, não o trabalho que ele deu a outra pessoa. Há pessoas infelizes em seus trabalhos, porque querem fazer o que os outros fazem.
- Como devemos fazer.
O Pregador nos diz também como devemos fazer esse trabalho — não só o que, mas também como: conforme as tuas forças (cf. Rm 12.11; Cl 3.23).
Paulo diz que tudo que fazemos, devemos fazer de todo o coração. Muitas pessoas fazem o trabalho, mas sem pôr o coração naquilo.
Tudo aquilo que vale a pena fazer, vale a pena fazer bem, então faça o melhor.
Quando tivermos uma oportunidade, devemos trabalhar com todas as nossas forças e capacidades e com a condições que temos. Não desperdice sua vida.
Como é fácil deixar as horas passar, sem focar nas coisas que Deus quer que façamos, desperdiçando nosso tempo com inúmeras e pequenas distrações.
Você está dando a Deus 100 % de seu tempo de trabalho, ou você está dando a ele menos do que o seu melhor?
Se você não pode fazer como deveria, então faça o que puder, mas faça logo.
O puritano William Perkins disse: “Devemos estar atentos a dois pecados condenáveis… O primeiro é o ÓCIO, quando negligenciamos ou omitimos… as obrigações do nosso chamado. O segundo é o DESLEIXO, quando elas são realizadas de forma desleixada ou descuidada”.
Eclesiastes 9.10 é a solução perfeita para ambos os pecados, pois nos diz o que fazer e como fazê-lo: não importa qual seja o nosso chamado, devemos realizá-lo com todas as nossas forças.
Que quando partirmos que as pessoas não pensem de nós, que fomos antes que o nosso trabalho fosse totalmente realizado. (George Whitefield e a senhora negra). Todos nós temos muito trabalho a fazer e pouco tempo.
III. APROVEITE O MÁXIMO DO SEU RELACIONAMENTO COM DEUS.
O espírito daquilo que o Pregador diz sobre os prazeres de comidas, Esposa e trabalho, é representado na Bíblia em forma de paráfrase “a Mensagem” de Eugene Peterson.
Aproveite a vida! Coma do bom e do melhor
Aprenda a apreciar uma boa bebida.
Ah!.Sim – Deus se agrada com a sua satisfação!
Vista-se cada manhã, como se fosse para uma festa.
Não economize nas cores, nem nos detalhes.
Curta a vida com a esposa que você ama
Todos os dias dessa vida sem sentido.
Cada dia é um presente de Deus. É tudo que você pode receber em troca
Pelo duro trabalho de se manter vivo.
Tire o máximo que puder de cada dia!
Não importa o que apareça, aproveite e faça! Com toda a vontade! É sua única chance! (Ec 9.7-10)
Há milhões de maneiras de aplicar essa passagem, com seu chamado a uma busca de prazer cristã.
Este é um mundo lindo e rico, e fomos criados para aproveitar seus prazeres. Portanto, aproveite ao máximo cada dia.
Semanas atrás, provei algumas das pequenas alegrias da vida (a maioria delas era de graça): no sitio do meu cunhado, a beira do riacho, cachoeiras e da mata.
Tivemos o prazer da aventura de descer um túnel dentro da caverna no meio da cachoeira, e se divertir muito com minha esposa filhos e minha mãe, irmãos e sobrinhos.Ter essas alegrias significa conhecer a graça do meu Pai.
No entanto, existe também um perigo mortal na busca desses prazeres. Podemos nos distrair tanto com os prazeres terrenos que perdemos a nossa paixão por Deus. Como é tentador adorar o presente e esquecer o Presenteador!
Algumas pessoas vivem em função da comida. Elas transformam sua barriga em deus (Fp 3.19), e assim se tornam culpadas da gula (que tem pouco ou nada a ver com o peso de uma pessoa, mas tudo com a nossa postura em relação à comida).
Algumas pessoas são viciadas em bebidas e chocolates. Outras são culpadas de desperdício (Lc 21.34). Outras vivem em função de um relacionamento, e amizades que causa dependência emocional.
As vezes o romance torna tão intenso, que não há mais espaço ou tempo para o serviço aos outros. Ou talvez seja o relacionamento que você não tem, que acabou se tornando uma das maiores frustrações de sua vida.
Há, então, as pessoas que vivem em função do seu trabalho, quando, na verdade, estão vivendo em função do dinheiro que seu trabalho produz, ou em função do prestígio e da aprovação ou para fugir dos problemas em casa.
Os prazeres que as pessoas buscam costumam ser bons em si mesmos. O perigo surge quando eles assumem o lugar de Deus e isso tira a nossa paz e nos enche de SENTIMENTO DE CULPA.
Pecado não é só coisas ruins, mas fazer das coisas boas as coisas mais fundamentais da vida.
É tentar estabelecer uma identidade própria, tornando qualquer coisa mais central para o seu significado, propósito e felicidade do que o seu RELACIONAMENTO COM DEUS.
A lista de coisas boas que podem obstruir o caminho de Deus é infinita. Para algumas pessoas, podem ser, carros, roupas novas, videogame, celular.
Para outras, são tantas ocupações, música, esportes, ou o mundo acadêmico, que não sobra um tempo diário para oração e a leitura devocional das Escrituras.
Ou o passatempo e o lazer que ocupa todo o seu fim de semana, que o impede de adorar ao Senhor nos cultos públicos.
O mundo está cheio de coisas boas que trazem prazer à vida, mas que nunca foram criadas para satisfazer a alma.
Quando buscamos essas coisas separadas de um relacionamento com Deus, acabamos perdendo a alegria que elas deveriam nos dar e perdemos a paz.
- APROVEITE O MÁXIMO A GRAÇA DA GRATIDÃO
Alguns cristãos lidam com esse perigo recorrendo à abnegação. Em vez de permitir que certos prazeres os afastem de Deus, eles os negam a si mesmos.
Alguns ascetas seguem as regras fanáticas que os colossenses costumavam estabelecer: “não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro (Cl 2.21)”.
Sem dúvida, pode haver alguns prazeres que algumas pessoas deveriam negar a si mesmas — não como regra absoluta para todos os cristãos em todos os lugares, mas como questão de sabedoria pessoal.
“Todas as coisas são lícitas”, dizem as Escrituras, “mas nem todas convém(1Co 10.23).
Por exemplo, talvez seja prudente para alguém com histórico de abuso de álcool comprometer-se a nunca mais tomar um gole de vinho.
Ou talvez seja prudente para outra pessoa, que assiste TV em excesso, trancar a TV num armário por um ano.
Muitas coisas que não são erradas em si podem, mesmo assim, ser erradas para uma pessoa especifica ou em determinado momento.
Em geral, porém, esta não é a abordagem que a Bíblia nos ensina em relação as coisas boas da vida.
O que ela nos instrui a fazer é receber com gratidão, devolvendo as nossas ações de graças a Deus. Quem não tem gratidão, nunca poderá aproveitar a vida.
Uma das melhores maneiras de mantermos as coisas boas da vida pela perspectiva adequada é louvar ao Doador por todas as suas dádivas.
“Tudo que Deus Criou é bom”, dizem as Escrituras, e, recebido com ações de graças, nada é recusável”(1Tm 4.4).
Isso serve como um bom teste que podemos aplicar a todos os nossos prazeres terrenos.
Podemos perguntar a nós mesmos: Quando eu oro, isso é algo que faria eu me sentir bem se o incluísse em minhas ações de graça, ou eu me sentiria envergonhado de mencioná-lo?
Estou agradecendo a Deus por esse prazer, ou tenho usufruído esse prazer sem jamais pensar em Deus’?
Quando desfrutamos os prazeres legítimos de uma forma que honra a Deus, parece algo natural incluí-los em nossas orações.
Mas quando buscamos esses prazeres por seu próprio “benefício imediato”, então não costumamos mencioná-los em nossas orações (ou sobre qualquer coisa, nesse sentido).
Apenas Deus é “a fonte de todas as dádivas da vida terrena: seu pão e bebida, festas e trabalho, casamento e amor”.
Cada prazer vem do Deus de todos os prazeres, e por isso deveria ser recebido com ações de graça e louvor. A gratidão nos mostra que a vida é um presente.
Elizabeth Barrett Browning escreveu: “A terra está repleta de céu, / e cada arbusto comum arde com Deus; / mas apenas aquele que vê tira as suas sandálias. / O resto se senta e cata as amoras”.
Veja as dádivas que Deus lhe deu, e então responda a cada uma com santo louvor e muita gratidão. A bíblia nos ensina a crescer em ações de graças.
É por isso que oramos antes de comer (e talvez também depois, como sempre fizeram muitos santos do passado). Estamos dando graças a Deus porque colocou o pão em nossa mesa e bebida em nosso copo.
Deveríamos ver o casamento da mesma forma — como algo bom que deve nos apontar para Deus. Todo casal casado, deveria dar graças a Deus, por uma noite de prazer e intimidade.
Você tem dado ações de graças por sua intimidade. Você sai do leito conjugal mais santo e mais apaixonado por Deus? ou só impressionado ou frustrado com seu parceiro.
A puritana Caroline Perthes deu este conselho à sua filha casada: “Seu amor mútuo pode ser um meio de bênção e felicidade somente enquanto aumenta o seu amor por Deus”.
Nosso trabalho pode nos trazer o mesmo tipo de bênção, se o recebermos como dádiva de Deus e, em troca, lhe oferecermos um serviço alegre. O trabalho nunca deve ser visto como um fardo.
Para pessoas que desfrutam de tantas bênçãos como nós, as palavras “Obrigado, Pai” nunca deveriam estar longe de nossos lábios agradecidos.
Isso vale especialmente para todo aquele que conhece a graça de Deus por meio da obra salvífica de Jesus Cristo — sua morte na cruz pelos nossos pecados e sua volta do túmulo com a dádiva gratuita da vida eterna.
Temos mais a celebrar do que o Pregador de Eclesiastes, pois conhecemos “a boa-nova de grande alegria” que Deus anunciou por meio da vinda de Cristo ( Lc 2.10).
É, sobretudo,por isso que podemos comer nosso pão com alegria, encher o nosso coração de alegria, desfrutar a vida com as pessoas que amamos e encontrar alegria no trabalho árduo do nosso chamado diário, tudo isso porque conhecemos o Salvador.
Os prazeres em Eclesiastes são todos prazeres que Jesus desfrutou durante o seu ministério terreno ou desfruta agora, em seu reino eterno.
Quando Jesus partiu o pão para seus discípulos (veja Jo 6.11) e quando ele levantou o pão e cálice de sua salvação na última ceia (Lc 22.19-20), ele agradeceu ao seu Pai no céu.
Toda obra que Jesus fez por nossa salvação, ele a fez com todas as suas forças. “A minha comida“, disse ele, “consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (.lo 4.34).
Agora Jesus está aguardando sua noiva eterna, que é uma das metáforas mais comuns que a Bíblia usa para o povo de Deus (p. ex., 5.31-32). Jesus quer desfrutar a vida conosco, com o povo que ele ama.
Uma das melhores maneiras de desfrutar a vida com Jesus é compartilhar os seus prazeres. Todas as coisas boas mencionadas em Eclesiastes 9 simbolizam as dádivas de sua graça.
Jesus nos dá o pão de cada dia (veja Lc 11.3). Ele alegra o nosso coração com o pão e o vinho da Ceia do Senhor.
Ele ungiu as nossas cabeças com óleo — com o óleo do Espírito Santo.
Ele nos convidou para o banquete de núpcias no céu, onde ele será o nosso noivo digno e nós seremos a sua linda noiva (veja Ap 19.7,9).
Ele prometeu nos dar uma roupa branca imaculada para usarmos em seu reino eterno, onde participaremos da celebração sem fim (veja Ap 7.9,14).
Daqui até a eternidade, todo o prazer que experimentamos é uma dádiva do nosso Salvador eterno.
- APROVEITE, O TEMPO ESTÁ ACABANDO.
Entrementes, Jesus nos deu um bom trabalho a fazer — a obra de seu reino. Devemos fazer esse trabalho da melhor forma possível, pois — como sempre — o Pregador termina lembrando-nos de que os nossos dias estão contados.
Aqui está a sua sóbria motivação para trabalhar com todas as nossas forças: “porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10).
A palavra Sheol [“além”] não é sinônimo de inferno, antes se refere simplesmente ao lugar dos mortos, sejam eles bons ou maus.
Martinho Lutero o disse bem: Sheol é “o lugar de descanso oculto…fora da vida presente, onde a alma parte para o seu lugar”.
Quando o Pregador diz que não há trabalho ou sabedoria ali, ele pode passar a impressão de que esteja negando a vida no além.
Mas o Pregador não está tentando responder as nossas perguntas sobre o que acontece ou não quando morremos; para encontrar a resposta a essas perguntas precisamos procurar em outros textos das Escrituras.
Ele está apenas dizendo que todos nós morreremos e que quando isso acontecer será o fim do nosso trabalho na terra, o fim de tudo o que sabemos sobre o que está acontecendo no mundo e o fim de todos os nossos prazeres terrenos.
Se é verdade que o tempo do nosso trabalho é limitado, então precisamos ter certeza de que realizamos o trabalho mais importante da alma, que é o arrependimento dos nossos pecados e a fé em Jesus Cristo para a nossa salvação.
Se fizermos isso, poderemos desfrutar a “boa vida” que Deus nos deu enquanto trabalharmos duro vivendo para Jesus.
Compartilhando o evangelho, amando o nosso próximo e fazendo todas as outras coisas para o reino que Deus nos chamou a fazer.
Jesus disse algo semelhante: “E necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (.10 9.4).
O tempo é curto. Isso leva alguns cristãos a pensar que não temos tempo para as atividades prazerosas descritas em Eclesiastes 9, como celebrar ou até mesmo nos casar, e então temos que nos apressar, Não.
Cada uma dessas coisas tem o tempo e o modo certo para acontecer. Na verdade, o “tipo certo” e “modo certo” de prazer irá provar ser um dos melhores preparos para a eternidade.
Nossos prazeres terrenos estão nos dizendo que nós fomos feitos para outro mundo. Cada dia de trabalho honesto nos aproxima um dia do nosso descanso eterno.
Cada refeição boa é um lembrete de que fomos convidados para o último e melhor dos banquetes.
Cada festa centrada em Deus antecipa a “celebração celestial” que não terá fim.
CONCLUSÃO
O CASAMENTO TAMBÉM NOS PREPARA PARA A GLÓRIA. Em seu livro sobre o casamento, o bispo Jeremy Taylor reconheceu que certo dia tudo que nos agrada no casamento chegará ao fim.
“Na ressurreição”, ele disse, “não haverá relação de marido e esposa, e nenhum casamento será celebrado senão o casamento do Cordeiro”.
Mesmo assim, disse Taylor, todos nós lembraremos que na terra houve essa coisa chamada casamento, e nós reconheceremos que ele fazia parte do nosso preparo para a eternidade.
Sempre que vemos um noivo ansioso e uma noiva vestida de branco vislumbramos um pouco do amor eterno que Jesus tem por seu povo.
Certo dia, entraremos na alegria plena desse amor. Taylor descreveu como será esse dia para os casais cristãos: apesar de não estarem mais casados, eles mesmo assim “passarão para o espiritual e eterno, em que o amor será a sua porção, e alegrias coroarão as suas cabeças, e eles descansarão no seio de Jesus e no coração de Deus para todo o sempre”.
Essas alegrias não são apenas para os maridos e esposas, mas para todos os filhos de Deus. O que o bispo Taylor disse sobre casamento vale para cada coisa boa na vida.
Certo dia, o amor será a nossa porção, a alegria coroará nossa cabeça e descansaremos com Jesus no coração de Deus para sempre.
Quando recebermos esses prazeres do céu, entenderemos que os experimentamos primeiro aqui na terra.
Cada alegria terrena é uma antecipação de uma vida melhor por vir, no paraíso onde Deus nos prometeu prazeres perfeitos para sempre (S1 16.11).
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