Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 19–  Enquanto houver vida, há esperança. Eclesiastes 8:16-9:6. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 29/07/2020.

INTRODUÇÃO

Foi dito por alguém que: “A vida é uma comédia para quem pensa, e uma tragédia para quem sente”. Isso pode parecer brilhante, mas não é verdadeiro.

Todos aqueles que refletiram sobre a vida em todas as épocas, foram oprimidos pela solenidade dos fatos da vida e pela insolubilidade dos problemas da vida.

Alguns homens são despertados para a investigação e são atormentados por perplexidades quando problemas e adversidades acontecem.

Outros experimentam dúvidas e angústias ao contemplar os fatos amplos e óbvios da vida humana, conforme ela se desenrola diante da observação deles.

Poucos homens que pensam e sentem escaparam da provação da dúvida; a maioria se esforçou, e muitos se esforçaram em vão, tentando explicar a providência eterna e justificar os caminhos de Deus para os homens.

O pregador de Eclesiastes foi o mais cuidadoso na busca para descobrir o sentido da vida. A busca do pregador não terminou da forma como esperaríamos.

Normalmente, quando as pessoas tentam descobrir do que trata a vida, elas esperam encontrar uma resposta simples e inequívoca — algo notável o bastante para imprimir num cartaz e pendurar sobre a cama.

Mas o Pregador parecia nunca chegar à resposta final. Quanto mais analisava as coisas, mais dificuldades encontrava de compreender este mundo.

Sem dúvida alguma, o pregador teria se simpatizado com a frustração que Samuel Johnson sentiu quando finalmente publicou o seu famoso dicionário em 1755.

Quando encerrou os trabalhos em sua obra-prima lexical, o Dr. Johnson tinha uma definição para praticamente todas as palavras da língua inglesa.

No entanto, não acreditou nem por um momento que ele conhecia todas as respostas. O que ele escreveu em seu prefácio foi isto:

“Vi que uma pesquisa apenas gerava outra, que livro se referia a livro, que procurar nem sempre significa encontrar e que encontrar nem sempre significava conhecer; e que, portanto, a busca da perfeição era… correr atrás do sol”.

O mesmo aconteceu com o Pregador. Procurar o sentido da vida era como correr atrás do sol. Isso nos ajuda a entender Eclesiastes.

Não é o tipo de livro que lemos até o final, no qual encontramos a resposta, como num romance policial.

Trata-se antes de um livro em que continuamos lutando com os problemas da vida e enquanto lutamos, aprendemos a confiar a Deus as perguntas, mesmo quando não temos todas as respostas.

É assim que funciona a vida cristã: não se trata apenas daquilo que compreendemos no final, mas também daquilo em que nos transformamos ao longo do caminho. O discipulado é uma viagem e não apenas um destino.

Esse texto é um antídoto para o desanimo, quando estamos lidando com o destino inexorável.

Para viver com esperança, precisamos aprender a lidar com o desapontamento, com nossas muitas frustrações, expectativas e sonhos destruídos.

O pregador nos diz pelo menos sete verdades sobre a maneira de viver corretamente e com esperança.

O que precisamos saber e fazer para vivermos cheios de esperança, num mundo cético e pessimista? Vejamos:

  1. Não temos todas as respostas (Ec 8.16,17).

No final de Eclesiastes 8, encontramos o Pregador lutando ainda com muitas das mesmas perguntas. O conselho que deu no versículo 15 serviu até certo ponto, mas não pôde lhe dar todas as respostas que esperava encontrar.

Assim, nos oferece o testemunho de um filósofo frustrado:

Aplicando-me a conhecer a sabedoria e a ver o trabalho que há sobre a terra — pois nem de dia nem de noite vê o homem sono nos seus olhos —,

então, contemplei toda a obra de Deus e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; e, ainda que diga o sábio que virá conhecer, nem por isso a poderá achar (Ec 8.16-17).

Na base de tudo que lemos até agora (Ec 1.13), sabemos que o Pregador está compartilhando conosco a verdade sincera de sua busca espiritual.

Ele tem tentado aprender o máximo possível sobre a vida. Por meio de experiências pessoais e observações meticulosas, ele tem tentado descobrir a verdade sobre todas as coisas como elas realmente são.

O que ele aprendeu até agora? Apenas isto: a vida é uma coisa desgastante, e é impossível saber com certeza oque Deus está fazendo no mundo.

Se alguém quiser nos convencer do contrário — se alguém alegar que descobriu o sentido da vida ou que desvendou os planos secretos de Deus — estará mentindo.

Quando o Pregador fala sobre dias e noites sem sono, ele pode estar talando sobre sua própria insônia.

Quanto mais tentava entender o sentidoda vida, mais ansioso ficava; passava as noites em claro, tentando compreender os caminhos de Deus e do homem.

No entanto, é mais provável que ele esteja compartilhando conosco a verdade sobre os nossos próprios dias inquietos e noites sem sono.

Estamos sempre tão ocupados que parece que nunca conseguimos ter o descanso que precisamos.

Às vezes, eu sonho em conseguir um dia a mais na semana – 24 horas a mais entre a quarta e a quinta-feira.

Esse dia seria um dia para por tudo em ordem, ninguém teria permissão de me telefonar ou marcar compromissos. Contudo, a triste realidade é que nem mesmo esse dia extra nos ajudaria.

Dê-nos oito dias de semana, e nós os preenchemos com nove dias de trabalho. Parece que nunca conseguimos descansar o bastante.

Há também esta questão exaustiva de tentar entender a obra de Deus. Nós vemos a obra de Deus, mas não a compreendemos.

Não importa quão sábios sejamos e não importa quanto “trabalhemos para descobrir(Ec 8.17) não conseguimos entender seus santos caminhos.

Aqui, Eclesiastes nos confronta com os limites do conhecimento humano.

Em 2006 os pesquisadores estimavam que o mundo gerava quase 200 bilhões de gigabytes de informação digital a cada ano, hoje estima-se que estamos em torno de 40 trilhões de gigabytes.

O mundo levou 1.500 anos para dobrar a conhecimento humano, hoje o mundo dobra o conhecimento humano em menos de 90 dias.

Mas nem mesmo todos esses dados conseguem começar a explicar os mistérios da soberania de Deus. Muitas coisas na administração divina do universo estão simplesmente além da nossa capacidade intelectual.

Qual é a melhor forma de reagir a essa limitação? Algumas pessoas olham para toda a confusão do mundo e concluem que Deus não existe.

Para eles a vida é apenas “um conto narrado por um idiota, cheio de barulho e fúria, mas sem qualquer sentido”.

Outros acham que, mesmo havendo um Deus ele não tem ideia do que está fazendo, pois o mundo é muito complexo.

O pregador não se rende a esse tipo de pensamento. Por mais cético que seja em relação à sua capacidade de conhecer a mente de Deus, ele mesmo assim acredita que aquilo que acontece no mundo seja “a obra de Deus” (Ec 8.17).

Se formos sábios, também reconheceremos que existem muitos mistérios da vida que não podemos compreender, mas reconheceremos isso sem duvidar da existência de Deus e sem acreditar que sua compreensão seja limitada.

Algumas pessoas esperam ter todas as respostas, e quando não conseguem encontrá-las, irritam-se com Deus por causa daquilo que está acontecendo (ou não) em suas vidas.

É mais sábio reconhecermos humildemente que somos seres finitos com mentes caídas, portanto, incapazes de compreender tudo que acontece.

Francis Bacon estava certo quando nos alertou a “não rebaixar ou submeter os mistérios de Deus à nossa razão”.

Devemos antes elevar nossos corações para o louvor de Deus, como Paulo fez ao confessar a sua fé nos grandes mistérios da mente de Deus:

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” (Rm 11.33-34).

Em vez de nos frustrarmos com todas as coisas que não sabemos sobre o mundo ou não compreendemos sobre os caminhos de Deus, somos convidados a nos contentar com nossas próprias limitações e a adorar a Deus por sua elevada sabedoria.

Um dos muitos hinos de Isaac Watts diz”Onde falha a razão com todos os seus poderes, “lá prevalece a fé e o amor”?

  1. Tudo está nas mãos de Deus (Ec 9.1)

Enquanto o pregador está relutando com os caminhos de Deus, tentando entender o que Deus está fazendo no mundo, sua fé em Deus, vai ajudá-lo a não sucumbir ao desespero.

Ele vai afirmar a sua fé na soberania de Deus e então lutar com algumas das implicações práticas dessa doutrina.

Podem ter existido muitas coisas que o Pregador não conseguia compreender, mas ele nunca desistiu de sua fé, de que Deus estava no controle:

“Deveras me apliquei a todas estas coisas para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e os seus feitos estão nas mãos de Deus” (Ec 9.1).

Com essas palavras, o Pregador entrega o povo de Deus às mãos de Deus. A Bíblia usa a imagem da “mão de Deus” para expressar o poder, amor, a supervisão e o controle de Deus.

Aqui, a metáfora expressa a sua supervisão soberana sobre o seu povo e as suas ações. Deus realmente tem o mundo inteiro em suas mãos.

Os homens e seus assuntos não estão nas mãos do acaso ou nas mãos do destino cego, mas nas mãos de Deus.

Cada um de nós, independentemente daquilo que possamos ter na vida ou dequem somos conhecidos ou do lugar que possamos ocupar na sociedade – cada um de nós está nas “mãos de Deus”, e ele decide para cada um o que será de nós ao longo da nossa vida.

Para o fiel que acredita em Jesus Cristo, a mão de Deus é uma imagem de consolo e segurança. Sabemos que a mão de Deus é a mão do amor.

Sabemos disso porque sabemos que as mãos de Jesus foram perfuradas por causa das nossas transgressões quando foi pregado no madeiro.

Isso nos dá a esperança e a fé de entregar tudo nas mãos de Deus – todos os nossos fardos, todas as nossas privações e todas as nossas preocupações. O Salvador que nos ama e que morreu por nós também cuidará de nós.

Essa, porém, não é a perspectiva do Pregador. Ele está escrevendo antes da cruz, é claro, mas está escrevendo também por base em sua luta de compreender o que Deus está fazendo no mundo.

  1. A incerteza das emoções.

Quando falamos de esperança, precisamos compreender as variações emocionais do nosso coração caído.

A incerteza se evidencia claramente na segunda parte de Eclesiastes 9.1: “se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem”.

O significado desse versículo é sujeito a debates. O Pregador pode estar falando sobre o amor e o ódio como emoções humanas, como aparece no versículo 6, em que faz referência ao “seu amor e seu ódio”.

O amor e ódio é o fundamento de todas as emoções do homem. As emoções movem nossa existência nos mínimos detalhes.

Não temos o controle dos eventos que vão promover emoções boas ou ruins. Se vamos viver com saúde ou com doenças, se seremos aceitos ou reprovados.

A grande questão do amor e do ódio é a nossa AUTOACEITAÇÃO. Tudo parece um jogo, se vamos ser aceitos ou rejeitados em algum momento da nossa existência.

Lidar com isso é um fardo pesado demais, que adoece a humanidade na busca de AUTOAFIRMAÇÃO e AUTOCEITAÇÃO.

Então,o pregador pode estar nos dizendo no versículo 1 que os seres humanos têm dificuldades de discernir a diferença entre amor e ódio.

Isso é melhor entendido quando vemos “amor e ódio” como atributos de Deus. Quando a Bíblia aplica esses termos a Deus, “amor” se refere à sua ACEITAÇÃO; e o “ódio” à sua REJEIÇÃO.

Por exemplo, quando o Senhor diz: “Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Rm 9.13), ele está dizendo que Jacó foi aceito pela fé, mas Esaú foi rejeitado em sua descrença.

O nosso problema de AUTOACEITAÇÃO é uma questão de sermos ou não aceitos por Deus.

O problema é que é difícil sabermos se Deus nos ama ou nos odeia, se ele nos aceitará ou nos rejeitará.

O pregador está lidando aqui com a questão muito real de onde nos encontramos diante de Deus: “se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem.

Eclesiastes sabe que tudo está nas “mãos de Deus”, logo ele sabeque o nosso destino está nas mãos de Deus. O que, porém, ele não sabe é se a mão de Deus é por nós ou contra nós.

As Escrituras dizem que a direita de Deus “está cheia de justiça” (SI 48.10 ), que somos ovelhas de sua mão” (SI 95.7), e que nada pode nos separar do amor de Deus, nem mesmo a morte.

Entretanto, se vivermos na pratica do pecado as Escrituras também dizem: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo”(Hb 10.31). Portanto, não basta saber que estamos nas mãos de Deus.

Todos estão nas mãos de Deus. A pergunta é se a mão de Deus, é por nós ou contra nós. Ele é nosso amigo ou inimigo? 

  1. O mesmo destino acontece a todos (Ec 9.2-3)

Enquanto o pregador relutava com a questão da autoaceitação, e se Deus é por nós ou contra nós?

Ele descobriu que é praticamente impossível responder a essa pergunta simplesmente observando a vida das pessoas e as circunstâncias.

Muitas pessoas supõem que, se ele existir, Deus recompensará seus seguidores com prosperidade terrena. Se quisermos saber se Deus é por ou contra alguém, bastaria então contar suas bênçãos terrenas.

No entanto, não é assim que Deus opera. Deus não age de acordo com os méritos e deméritos da humanidade.Esta é a imparcialidade da Providência.

Pelo que o Pregador conseguia ver, Deus parece tratar todos de forma mais ou menos igual, o que torna difícil determinar se ele nos “ama” ou “odeia”:

Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso: ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica: ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.

Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo: também o coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos (Ec 9.2-3).

Mais acima, o Pregador nos garantiu que tudo ficaria bem para os justos, mas não para os perversos (Ec 8.12-13). Isso vale absolutamente para o dia do juízo.

Mas, entrementes, o Pregador lutava para entender por que os justos não eram abençoados e por que os perversos não eram amaldiçoados.

Em Eclesiastes 8.14, ele falou sobre uma inversão do destino, em que as pessoas boas recebem o que as pessoas más merecem, e vice-versa.

Em Eclesiastes 9.2-3, ele destaca outro aspecto – não que haja uma inversão de DESTINO, mas que todos sofrem o mesmo INFORTÚNIO.

Uma das razões pelas quais é tão difícil saber se Deus é por nós ou contra nós é que as mesmas coisas acontecem a todos.

Ao dizer que “a todos sucede o mesmo“, o Pregador cuidadosamente distingue entre dois tipos de pessoa. Um grupo é descrito como “justo”, “bom” e “puro”; este oferece sacrifícios a Deus.

O outro grupo é descrito como “perverso”, “mau” e “impuro”. Não surpreende que essas pessoas não ofereçam sacrifícios santos a Deus. Há também um contraste entre os juramentos(promessas) que essas pessoas fazem.

Ele está dizendo que as pessoas justas assumem um compromisso sagrado com Deus (Dt 6.13), enquanto as Pessoas Perversas se recusam a entrar em uma aliança com ele.

Em todo caso, a comparação geral é clara: algumas pessoas honram a Deus, mas outras não.

No entanto, curiosamente ambos os grupos sofrem o mesmo destino. “Tudo sucede igualmente a todos”, diz o Pregador, e “a todos sucede o mesmo” (Ec 9.2-3).

Todos estão sujeitos às mesmas doenças, luto, decepções, todos vão para a sepultura da mesma forma.

Tanto os ímpios, quanto os Justos, estão pegando o Corona vírus. E morrem tanto um quanto o outro. Os crentes não tem uma imunidade especial.

Quando ocorre uma tempestade, tanto o justo quanto o perverso é levado pelas águas.

Quando ocorre um terremoto, as casas de ambos caem, e quando ocorre uma crise econômica, ambos acabam falidos.

Em termos mais otimistas, quando os tempos são bons, a maré sustenta todos os barcos.

Portanto, jamais seremos capazes de separar o justo do perverso por base naquilo que acontece no mundo.

Já que Deus faz “vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.45), é impossível saber quem tem e quem não tem o favor eterno de Deus.

Embora o justo encara as dificuldades de modo diferentes dos ímpios e podem orar pedindo socorro divino. Aqui o pregador não considera a oração.

Isso frustrou o Pregador infinitamente. Na verdade, ele começa o versículo 3 dizendo que isso é um grande mal debaixo do céu.

  1. As pessoas não são essencialmente boas (Ec 9.3).

E termina o versículo dizendo, mais uma vez, que os seres humanos são desesperadamente perversos:

“também o coração dos homens está cheio de maldade. nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos” (Ec 9.3: cf. 7.29: 8.11).

Isso é tão frustrante quanto qualquer outra coisa que temos visto em Eclesiastes. Tudo parece tão fútil. Algo realmente importa?

O Pregador encerrou o capitulo 8 negando que qualquer um possa compreender a obra que Deus faz no mundo.

Por um momento, ele nos deu a esperança de que a nossa vida está nas mãos de um Deus soberano, mas então diz que era impossível sabermos se Deus é por nós ou contra nós e o mesmo destino aguarda a todos.

Aqui ele nos diz quanto nós somos pecadores desesperados e desencorajados.

O coração humano é cheio de tanto mal que isso quase nos leva a perder a cabeça. O coração do homem desesperadamente enganoso e corrupto.

Há uma loucura pior do que a mental. Muitos homens intelectualmente sãos são maníacos morais, são moralmente insanos.

A “loucura” que o Pregador menciona pode ser definida como “um deserto moral, que é impetuoso e irracional”.

As pessoas cometem Atos de violência, elas são assassinas,traiçoeiras, falsas, mentirosas. Elas se entregam a vícios autodestruitivos, como sexo e drogas.

Elas machucam as pessoas que mais amam e das quais mais precisam, incluindo os membros de suas próprias famílias e igrejas.

Estamos vivendo em um mundo louco. Absolutamente louco, onde o homem inconverso; piora moralmente, cada vez mais.

E o pior de tudo: todos morremos no fim. “Depois”, diz o Pregador. “rumo aos mortos” (Ec 9.3). A morte e o grande igualador.

Não importa quem somos ou quão bem vivemos, nosso tempo na terra terminará em morte.

Nas palavras de um adesivo de carro: “COMA BEM, MANTENHA SUA FORMA FÍSICA E MORRA MESMO ASSIM.”

  1. Melhor é viver do que morrer(Ec 9.4-6).

Mais uma vez o Pregador nos confronta com a nossa mortalidade. A maioria das pessoas tenta nem pensar na morte, mas Eclesiastes falou sobre ela sempre que pôde.

Aqui ele nos apresenta outro “memento more” ou lembrete da morte, da expressão latina que significa: “Lembre-se de que você precisa morrer”.

O que o Pregador diz sobre a morte aqui é que é melhor estar vivo do que morto. Mais cedo ou mais tarde, a morte levará cada um de nós.

Mas: “Para aquele que está entre os vivos há esperança: porque mais vale um cão vivo do que um leão morto. Porque os vivos sabem que hão de morrer.

Mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento.

Seu amor, ódio e inveja pereceram para sempre;eles não tem parte em coisa alguma que se faz debaixo do sol”( Ec 9.4-6).

A fim de comparar a vida e a morte, o Pregador repete um notável provérbio, que contrasta um cachorro vivo com um leão morto. O leão é um animal nobre, majestoso e destemido.

Isso valia principalmente para os tempos bíblicos, quando o leão servia como brasão real da casa de Davi – o emblema do nosso Messias (Gn49.9).

Poucos animais, por sua vez, eram tão desprezados como os cachorros. Algumas pessoas gostam de cachorros, mas naqueles dias eram considerados animais selvagens e sujos e se alimentavam de lixo.

O tipo de cachorro que Eclesiastes tem em mente não era um animal doméstico, mas um vira-lata detestável que percorria as ruas como um carniceiro.

Para ter uma ideia de como as pessoas viam os cachorros naqueles dias, pense em como Golias zombou do garoto Davi: “Sou eu algum cão, para vires a mim com paus?” (1Sm 17.43).

Até mesmo o mais fervoroso entre os amantes de cachorros teria de reconhecer que cachorros não se comparam a leões. Quando as pessoas vão ao zoológico, por exemplo, elas não vão ver as hienas (se é que o zoológico tem estes animais).

Elas querem ver os leões, é claro. No entanto, a situação muda se o leão estiver morto. Então o cachorro supera o leão, pois ele pelo menos está vivo.

A mensagem simples é que viver é melhor do que morrer. Por pior que seja a situação; viver é melhor do que morrer.

É melhor ter vida mesmo na forma mais humilde do que ter o aparato mais perfeito ou a forma mais requintada sem ela.

Uma igreja pequena e pobre, vale mais do que uma comunidade que não tem vida espiritual. Cachorro ou leão eis a questão!

Algumas pessoas veneram certos ícones por suas conquistas no passado. Mas do que valem esses heróis, se estão mortos. Os vivos ainda podem fazer algo digno de ser lembrado.

Muito de nós admiramos nossos reformadores, mas eles estão mortos. Enquanto estamos vivos devemos escrever nossa história.

Mesmo que não façamos algo de “cheio de grandeza”; o simples fato de estar vivo, já é melhor do que morrer.

Aqui, o pregador menciona o porquê viver é melhor, e mostra alguns problemas relacionados à morte.

A morte traz ignorância, pois os mortos não sabem nada — pelo menos nada daquilo que esteja acontecendo na terra.

O final do versículo 6 deixa claro que o Pregador não nega uma vida após a morte, antes descreve o fim permanente que a morte traz para a nossa existência terrena.

Assim que morrermos, perderemos para sempre a nossa “parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol” (Ec 9.6).

A morte traz também uma perda irreparável, pois os mortos não recebem nenhuma recompensa terrena (nem celestial, se morrerem fora de Cristo, pois “em Cristo o morrer é lucro”).

A morte traz também esquecimento; ninguém se lembrará dos mortos quando não estiverem mais aqui. Não serão convidados para nenhum evento.

Até mesmo as emoções terrenas, que nos passam a impressão de estarmos vivos — os sentimentos como amor, ódio e a ambição que o Pregador menciona no versículo 6 —, desaparecerão quando morrermos.

Quando refletimos sobre todas as coisas que perdemos por meio da morte — as pessoas que amamos e todas as pequenas alegrias da vida neste lindo planeta — chegamos a apreciar o fato de que ainda estamos vivos e respirando.

Por mais difícil que a vida seja, ela ainda é melhor do que a outra opção. Onde há vida, há esperança. Somente os mortos não tem esperança nenhuma.

Esperança de preparação para encontrar-se com Deus, esperança de viver significativamente.

Esperança de fazer algo para a gloria de Deus antes que todos os homens compareçam pessoalmente diante dele, onde teremos que prestar constas de tudo a Deus.

  1. Há vida após a morte(Ec 9.5).

Mas qual é a esperança que a vida realmente nos dá? No versículo 4; o Pregador se refere a essa esperança em termos gerais, mas no versículo 5 ele é mais específico: “os vivos sabem que hão de morrer”.

Isso pode parecer um conforto fraco. Em termos relativos a vida é melhor do que a morte, mas a vantagem principal de viver acaba sendo o conhecimento da sua morte.

Quão esperançoso é isso? Segundo alguns estudiosos da Bíblia isso é apenas uma “preferência sarcástica ou amarga”.’ A vida pode ser melhor do que nada, mas não muito.

No entanto, as palavras do Pregador podem ser vistas por uma luz mais positiva. E melhor ser consciente do que inconsciente, portanto, o que o Pregador diz é verdade: é melhor estar vivo do que morto.

Além do mais é bom sabermos que morreremos, pois isso nos dá tempo para nos prepararmos para a morte e também para a eternidade.

Mesmo assim, precisamos reconhecer que essa é uma das passagens mais pessimistas em Eclesiastes.

Essa seção de Eclesiastes nos confronta com o pouco que sabemos, depois, com a vasta extensão daquilo com o que não sabemos lidar: especificamente com a morte.

Ele o faz sem nos dar qualquer indicação clara de uma vida vindoura. Mas se a vida termina na morte, que esperança há em tudo?

O pregador e evangelista inglês David Watson nos conta sobre um estudante de medicina que veio falar com ele após dissecar seu primeiro cadáver.

O estudante estava profundamente abalado pela experiência, pois ao cortar o tecido muscular e outros tecidos para expor os órgãos internos do corpo, ele disse a si mesmo:

“Se isso é tudo que será de nós após a morte, qual é o sentido de qualquer coisa?”.

Para responder a essa pergunta, precisamos olhar para além desse capítulo. para o final do livro, em que as Escrituras dizem que esta vida não é a única que existe.

Eclesiastes 9 nos fala sobre a vida “debaixo do sol”, o que levanta a possibilidade de algum outro tipo de vida, em algum outro lugar.

Quando chegarmos ao capítulo 12, descobriremos que existe também uma vida no alto, onde “o espírito volte a Deus, que o deu” (v. 7), e uma vida vindoura, quando “Deus há de trazer a juízo todas as obras” (v. 14).

Precisamos olhar também para além do livro de Eclesiastes, para o EVANGELHO de Jesus Cristo e a promessa da ressurreição. Eclesiastes não tem todas as respostas, tampouco alega tê-las.

Lembre-se, este não é o tipo de livro que continuamos a ler até recebermos todas as respostas, mas o tipo de livro que nos ajuda a saber como servir a Deus mesmo quando não temos todas as respostas.

Faz também parte de um livro maior que dá respostas mais completas a muitas das mesmas perguntas que Eclesiastes apenas começa a levantar.

Esse livro, nos empurra em direção a uma síntese que se encontra além de suas próprias páginas; nesse caso, para a perspectiva de recompensa e castigo no mundo vindouro.

Portanto, precisamos ler Eclesiastes sempre no contexto de toda a Bíblia.

O que o restante da Bíblia nos ensina sobre vida vindoura? Ele nos ensina que Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos antecedeu na gloria.

Primeiro, Jesus deu sua vida pelos nossos pecados ao morrer na cruz. Depois, ele foi sepultado; ele estava tão morto quanto qualquer outro morto.

Mas ao terceiro dia ele ressuscitou para a imortalidade, trazendo vida eterna do túmulo mortal.

Agora, a promessa de Deus para cada pessoa que crê em Cristo é que nós também viveremos. “Nossa fé em Cristo nos eleva para o céu e promete eternidade para as nossas almas”.

Isso significa que a nossa vida não terminará em esquecimento e ignorância. Jamais sofreremos uma perda sem fim.

Pelo contrario, a morte será a nossa passagem para a glória. “Bem-aventurados os mortos“, diz a bíblia, “que morrem no Senhor” (Ap 14.13). Descansaremos de todo o nosso trabalho.

Entraremos na presença de Deus e conheceremos a plenitude da alegria. Nossos corpos se levantarão para nunca mais morrerem.

Pela misericórdia de Deus, nós seremos regenerados “para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus.

Tudo isso é só o começo, pois “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9).

Que esperança essas promessas trazem para a vida, e que confiança elas nos dão para o dia da morte.

Veja as últimas palavras do infame Giacomo Casanova. Como o Salomão de Eclesiastes, Casanova havia experimentado quase tudo que a vida tem a oferecer, incluindo muitos prazeres pecaminosos.

Sabemos de seus escritos que nenhuma dessas experiências conseguiu satisfazer sua alma.

No entanto, sabemos também, por meio do testemunho de muitas testemunhas, que suas últimas palavras expressaram a sua esperança na vida da ressurreição. “Eu vivi como filósofo”, Casanova disse, “e morro como cristão”.

Ao ler Eclesiastes podemos aprender algo sobre o que significa viver como filósofo.

Com o Pregador como nosso guia, experimentamos quase tudo que a vida tem a oferecer e lutamos para encontrar as respostas para as perguntas da vida.

Muitos de nós aprenderam as mesmas lições pelos próprios experimentos com a vida e as próprias experiências de sofrimento. Como Casanova, “vivemos como filósofos”.

Mas será que morreremos como cristãos? Essa é a pergunta mais importante de todas. Se formos sábios, estaremos prontos para morrer agora.

Pedindo a Jesus para perdoar os nossos pecados e confiando nele para ressuscitar nossos corpos para a vida eterna.

Então, quando chegarmos ao último dos nossos dias, estaremos prontos para morrer com a plena confiança em Cristo. Isso nos enche de esperança.

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