Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 14 – Vivendo cada vez melhor. Eclesiastes 7:1-12. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 24/06/2020.
INTRODUÇÃO
Um desenho animado em um jornal de Nova York mostrava uma jovem com vestido de formatura e de boné, e com um diploma na mão.
Com a cabeça erguida, ela olha pelo Sr. Mundo. “Bem, o que temos aqui?” O Sr. Mundo pergunta da sua maneira fria, cruel e cínica.
“Certamente você sabe quem eu sou. Cecilia Shakespeare Doaks, graduada na em uma das universidades mais conceituadas. Eu tenho o meu diploma” “Que triste”, responde o Sr. Mundo. “Venha comigo e eu vou te ensinar o resto do alfabeto.”
Não depreciaríamos os formandos por aprender, nem subestimaríamos o desejo de buscar uma educação.
Mas quatro ou cinco anos de instrução em sala de aula, mesmo com os professores mais competentes, não tornam o aluno sábio.
A “escola das pancadas fortes da vida” geralmente contribui mais para a sabedoria do que a “universidade dos fatos concretos”.
Obter uma educação? Sim! Mais importante, porém, busque a sabedoria que vem de cima. As Escrituras nos dizem: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv. 9:10).
Conhecimento é a aquisição de fatos; a sabedoria é o uso correto desses fatos. Mesmo com a melhor educação e a mais ampla experiência prática, um homem ou uma mulher nada sabem, se não conhecer a Deus.
A Bíblia diz: “Se algum de vocês não tem sabedoria, peça a Deus, que dá a todos liberalmente. (Tg 1: 5). Esse tipo de sabedoria nunca leva à arrogância.
É esse tipo de sabedoria “MAIOR E MELHOR”, que Eclesiastes está nos ensinando para viver uma vida CADA VEZ MELHOR.
O Pregador de Eclesiastes nos ensina o caminho da sabedoria para a vida neste mundo onde “tudo é vaidade”.
No final do capítulo 6, o Pregador se perguntou como podemos viver bem durante os poucos e passageiros dias na terra.
Ele responde a essa pergunta no capitulo 7, fazendo uma série de comparações do tipo “melhor do que”.
O Pregador está nos aconselhando a como usar o discernimento ao escolher o modo como vivemos.
Como viver cada vez melhor? Vejamos os comandos do pregador para as nossas vidas.
- CUIDE DE SUA INTEGRIDADE (V.1)
O Pregador começa oferecendo-nos sabedoria para entender as grandes questões da vida e da morte.
Ele começa com uma comparação dupla: “Melhor é a boa fama do que o unguento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento” (Ec 7.1).
Vejamos essas duas comparações que resumem nossa existência.
(a) O melhor caráter (v.1a).
A primeira parte desse provérbio é semelhante ao que Salomão disse em outra passagem: “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas” (Pv 22.1).
Aqui em Eclesiastes o Pregador compara a boa reputação ao melhor aroma de uma fragrância exótica (Ct 1.3).
Ele o faz com um jogo de palavras em hebraico que é difícil traduzir para o português, mas talvez essa paráfrase chegue perto:
“Boa fama é melhor do que perfume refinado”.’ E possível que esse provérbio tenha sido um dito popular naqueles dias.
Nas comunidades empoeiradas dos tempos bíblicos, óleos perfumados e outras fragrâncias eram bens valiosos.
Mas ter um nome cuja INTEGRIDADE as pessoas admiram é ainda mais valioso.
Em cada comentário que fazemos e em cada decisão que tomamos, construímos ou destruímos a nossa reputação.
O pregador nos chama para usar o perfume do bom caráter. Considere, portanto, o tipo de nome que você está criando para si mesmo.
Quando as pessoas pensam em você, quais os traços de seu caráter que lhes vêm à mente? Trata-se de qualidades de Cristo? Para dar alguns exemplos:
Você é mais conhecido por ser uma pessoa alegre ou por ter um espírito crítico e amargurado?
Você é conhecido por sempre falar a verdade absoluta ou por inventar histórias difíceis de acreditar?
Você é generoso com o que tem ou você tende a ser pão duro, e avarento, que vive questionando os investimentos no reio de Deus?
Caráter é como você vive, e mais cedo ou mais tarde você será conhecido pelo caráter que você cultiva.
Cultive um bom nome — não para si mesmo, mas para Jesus.O melhor caráter é o de Cristo. Viva não para si, mas para a gloria de Deus.
(b) O melhor dia (1b).
A comparação da primeira parte do versículo 1 prepara a comparação seguinte, sobre aniversários e funerais.
Aqui está como o versículo deve ser lido: “Assim como o nome é melhor do que perfume, assim o dia da morte é melhor do que o dia de nascimento“.
A segunda parte dessa comparação é tão aberta que ela tem sido interpretada de muitas formas diferentes.
Mas temos boas razões para ver essa comparação de modo positivo, pois a primeira parte versículo é muito otimista.
É maravilhoso possuir tanto uma boa reputação quanto um perfume precioso.
Semelhantemente, tanto o primeiro quanto o último dia da vida têm algo bom a oferecer, especialmente para alguém que possui um bom nome nos tribunais do céu por meio da fé salvífica em Jesus Cristo.
Quando Dídimo, o Cego, no Sec IV estudou esse versículo, ele comentou que o dia de morte de um cristão é melhor porque é “o fim e o término do mal”.
O apóstolo Paulo expressou um pensamento semelhante em sua carta aos (Fp 1.21-23). Ao comparar a vida com a morte, Paulo achou difícil decidir qual era melhor: “Já não sei o que hei de escolher”, ele disse. “De um e outro lado, estou constrangido.”
Por um lado, quanto mais vivia mais oportunidades tinha de realizar a obra do reino.
No entanto, assim que morresse, entraria na presença de Cristo, o que seria muito melhor. “Para mim, o viver é Cristo”, “e o morrer é lucro“.
É POR ISSO QUE O DIA DA MORTE DE UM CRISTÃO É O MELHOR DIA DE TODOS.
O Pastor da igreja da Escócia no século XVIII; Thomas Boston escreveu, “No dia de seu nascimento, nasceu para morrer”, mas “no dia de sua morte, ele morre para viver”.
Boston descreveu o nosso dia da morte como o dia em que entramos para um mundo melhor, mais perfeito, mais puro, com descanso mais profundo, com companhia melhores e emprego melhor do que o mundo em que entramos no dia em que nascemos.
A morte é a nossa entrada para a glória — aquilo que Charles Spurgeon descreveu como o dia em que cristãos “alcançam e, todo perigo passou e entram em seu porto desejado”.
Para entender como o nosso último dia pode ser o nosso melhor dia precisamos voltar para o dia em que Cristo nasceu, e para o dia ainda melhor em que ele morreu pelos nossos pecados.
O dia em que Jesus nasceu foi um dos melhores dias — a vinda do nosso Deus e Rei.
A alegria daquele dia é lindamente expressada numa antiga música de natal escrita no Sec. XVIII pelo poeta inglês John Byrom para sua filha.
Cristãos, despertai, saudai a manhã feliz
Em que o Salvador do mundo nasceu.
Levantai para adorar o mistério do amor
Proclamado por exércitos de anjos no céu,
Com eles boas novas se iniciaram
Do Deus encarnado e do filho da virgem.
Mas nem mesmo aquele dia abençoado é o melhor dos dias. Olhamos além de Belém para o Calvário, onde o Salvador na manjedoura morreu em uma cruz.
Não é o nascimento de Jesus que nos salva — evidentemente, ele teve de nascer antes de morrer —, é antes a morte de Jesus que liberta o derramamento do seu sangue pela expiação dos nossos pecados.
Apenas porque o dia da sua morte foi tão perfeito — Sexta-feira Santa, como normalmente chamamos — é que agora podemos ter alguma esperança de uma vida após a nossa morte.
Alguns dos melhores hinos de Natal falam dessa grande verdade. Ao celebrarem o nascimento de Cristo, louvam também sua morte salvífica.
“Que criança é esta que, deitada, dorme no colo de Maria?”. E o hino responde: pregos, lança o atravessará, a cruz suportou por mim, por você.”
“Dentro um berço meu Salvador dormia, uma manjedoura de madeira cheia de feno.” “Numa cruz meu Salvador morreu, para crucificado, resgatar os pecadores”.”
A verdade que encontramos em Eclesiastes 7.1 é expressa mais perfeitamente na fragrância do caráter, no alegre nascimento e na morte expiatória de Jesus Cristo.
- VIVA SERIAMENTE (v.2-4)
Existem, portanto, várias maneiras de interpretar o que o Pregador diz sobre os dias do nascimento e da morte.
Mas nós o compreendemos com maior clareza quando contemplamos as suas palavras dentro do contexto. Há três verdades aqui; Vejamos:
- A morte é professora da vida (v 2-4).
A principal razão pela qual o dia da morte é melhor do que o dia do nascimento é porque, paradoxalmente, a morte tem mais a nos ensinar sobre a vida:
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. “O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria” (Ec 7.2-4).
O pregador está dizendo que é mais proveitoso irmos a um funeral do que a uma festa. Isso não significa que não devemos sorrir e nem irmos as festas.
A comparação do Pregador supõe que é bom celebrar, especialmente quando o fazemos para a GLÓRIA DE DEUS.
Sabemos que o próprio Jesus gostava de festejar, e o banquete é urna das imagens mais positivas da Bíblia para a bênção divina ( Ct 2.4; Lc 15.22-23).
Jesus fez o seu primeiro milagre numa festa de casamento e o ultimo milagre no funeral de lazaro
No entanto, até as celebrações mais alegres tendem a ser superficiais. Em um nascimento, como em todas as ocasiões festivas e alegres, a atmosfera geral é animada e expansiva.
Não é o momento para contemplar a brevidade da vida ou as limitações humanas: deixamos correr soltas as nossas alegrias e esperanças.
Na casa de luto, porém, o humor é pensativo, ficamos mais quebrantados, e os fatos são simples. Não podemos dispensar esses sentimentos pois não teremos chance melhor de encará-los.
Ir a um funeral é melhor neste sentido: ele nos ensina a sermos sábios na forma como vivemos e assim nos preparamos para morrer.A morte nos ensina a viver.
Quando o Pregador menciona a “casa do luto”, ele está falando sobre visitar a casa em que alguém morreu. Naqueles dias, era comum que as pessoas prestassem as suas últimas honras na casa do falecido.
Jesus fez isso quando Lázaro morreu; ele foi consolar Maria e Marta. Hoje nós nos despedimos na igreja ou num velório, mas, qualquer que seja o costume, é bom ter um encontro direto com a morte.
Isso contraria a atitude prevalecente da nossa CULTURA, que faz de tudo para negar a realidade da nossa mortalidade.
Na sociedade secular, a morte se tornou um mistério obsceno, a afronta final, a coisa que não pode ser controlada, então ela só pode ser negada.
E é o que nós fazemos. As pessoas cada vez mais evitam se deparem com corpos mortos ou ver caixões serem descidos a sepultura na terra ou até mesmo que mencionem a palavra morte.
Os chamados “falecidos” partem, ou não estão mais conosco, ou vão para um lugar melhor — tudo menos aquilo que realmente fizeram, ou seja, morrer.
É melhor lidarmos diretamente e seriamente com a morte, saber que este é o caminho de toda carne.
Segundo MARTINHO LUTERO, é bom “convidarmos a morte para a nossa presença quando ainda está distante e não batendo à porta”.
Spurgeon dizia que ela está muito mais próxima do que imaginamos. Quanto mais vivemos mais perto estamos dela.
Para os mais novos ela não está longe, pois o tempo voa mais rápido agora que nunca. A coisas importantes que precisamos fazer devemos fazê-las agora.
Assistir a um bom funeral nos ajuda a refletir sabiamente sobre a morte. Ela nos ajuda a chorar, o que nos capacita a receber o consolo que Jesus prometeu àqueles que choram (Mt 5.4).
Assistir a um funeral incentiva uma contemplação sóbria da nossa própria mortalidade, e isso, por sua vez, nos ensina a viver sabiamente.
A oração de Moisés é útil para todos nós: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Si 90.12).
Um lugar onde podemos obter esse coração sábio é em um bom funeral, onde nos lembramos que os nossos próprios dias estão contados e assumimos um compromisso renovado de fazer com que cada dia conte para a eternidade.
- Viver bem é morrer bem.
Um bom funeral nos ajuda também a nos preparar para a morte. Muitas pessoas não estão preparadas para a morte, para sua própria desvantagem.
Em seu romance The Second Coming [A segunda vinda], Walker Percy escreve:
…O infiel dos dias modernos é louco porque nasce num mundo de maravilhas infinitas, sem noção de como chegou aqui, num mundo em que come, dorme… trabalha, envelhece, adoece e morre… se agrada e curte, acompanha o jogo, assiste TV, toma seu drinque, ri…
…para todo mundo como se sua próstata não estivesse ficando cancerígena, como se suas artérias não estivessem se transformando em cálcio, como se as células de seu cérebro não estivessem morrendo aos milhões, como se os vermes não estivessem de olho nele…
O cristão, por sua vez, está preparado para morrer. Uma das obrigações solenes de cada cristão é viver bem para morrer bem, e isso exige uma vida de preparo:
Pense em alguém pendurado na beira de um precipício, cercado de terror, não é esse e o momento ou o lugar para aprender sobre os procedimentos de escalada de emergência; você precisa aprendê-los antes de iniciar a expedição.
Semelhantemente, precisamos começar a estudar sobre a morte agora, enquanto ainda estivermos saudáveis… antes de a negação nos cegar ou antes de lutarmos valentemente por esperança.
Uma das melhores maneiras de estudar sobre a morte, enquanto ainda tivermos tempo, é ajudar as pessoas a enterrarem os seus mortos, especialmente quando o fazemos com a fé no poder de ressurreição de Jesus Cristo.
- A morte nos torna melhores (v.3)
O Pregador está certo: é melhor ir para uma casa de luto do que a uma casa de alegria.
Adquirimos mais sabedoria ao assistir a um funeral do que participar durante um ano todo de festas de aniversário.
Isso é um bom remédio. Lidar com a morte faz bem ao coração. A palavra coração é mencionada 4 vezes nos versículos 2-7.
O coração é o centro daquilo que somos — o núcleo dos pensamentos, das emoções e da vontade do nosso ser.
O versículo 3 diz que “melhor é a mágoa do que o riso“, pois ela deixa o coração feliz. Mais literalmente, a tristeza “melhora” o coração.
O que importa aqui não é tanto a felicidade, mas a sanidade do coração.
Lidar com a morte e com toda a sua tristeza faz de nós pessoas melhores. Principalmente se essa tristeza nos conduz ao arrependimento.
Essas verdades bíblicas me levam a refletir sobre o que eu aprendi do funeral do meu pai.
Ele foi uma das pessoas mais bondosas e piedosas que eu já conheci. Ficamos muto tristes quando meu pai morreu, devido ao câncer que tomou o seu pulmão.
Mas o velório e o funeral foram cenas de alegria surpreendente, toda a família da igreja — pessoas de todas as idades — chorava, sorria, cantava e se abraçava em amor cristão. Muitos ficaram até o final, quando o caixão foi enterrado em um cemitério público.
Essa experiência me ensinou a dor da perda de um familiar e a paixão do amor da igreja, com a alegria do luto no poder da ressurreição de Jesus Cristo.
Na casa do luto, eu entendi isso, e isso deixou o meu coração melhor do que era antes e essa experiencia contribuiu para o meu retorno ao evangelho.
Hoje, conto as histórias de fé que vi com meu pai para os meus filhos e como a vida dele influenciou tanta gente.
Pela graça de Deus e por meio da fé em Jesus Cristo, até mesmo a morte pode ser usada pelo Espírito Santo para trazer-nos vida e alegria.
III. AME A REPREENSÃO (V.5-7)
Ao falar sobre as casas de alegria e luto (Ec 7.4), o Pregador estabeleceu um contraste entre corações sábios e tolos.
O mesmo contraste reaparece quando o pregador introduz um novo tema com outra comparação;
“Melhor é ouvir a REPREENSÃO DO SÁBIO do que ouvir a canção do insensato. Pois, qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é a risada do insensato; também isto é vaidade” (Ec 7.5-6).
A mensagem desses versículos é, em termos bem simples, que a repreensão é melhor do que a risada da tolice. Aqui tem duas lições
- Nenhum de nós está acima da necessidade de repreensão (v.5,6)
Uma das melhores formas para aprender a viver bem neste “mundo de vaidade” é aceitar a CORREÇÃO de pessoas mais sábias do que nós mesmos.
É naturalmente intragável. E muitas vezes é difícil recebê-la de outro, mesmo “quando nosso coração nos condena”. Não é o que a maioria das pessoas querem ouvir.
Não é o que elas aceitam ouvir, e dificilmente conseguem lidar com os sentimentos de REVOLTA E AUTOJUSTIÇA que nascem em seus corações por causa das repreensões que ouvem.
As pessoas preferem e querem ouvir somente aquilo que o Pregador chama de “canção do insensato” (Ec 7.5). Elas querem ouvir palavras que soam como música aos seus ouvidos.
O apostolo Paulo diz que essas pessoas escolheriam pastores que pregam aquilo que agradam os seus ouvidos.
A Escritura diz que o nosso coração é insensato por natureza, e a única forma de disciplina-lo é ouvindo a repreensão.
O pregador compara isso as coisas tolas e inúteis que algumas pessoas cantam quando estão bêbadas, ou aquilo que hoje chamaria de “conversa de bar”.
“Canção do insensato” pode também se referir as letras fúteis e impuras que as pessoas costumam cantar sobre amor, violência, sexo e adoração numa cultura mundana.
Ao descrever esse tipo de insensatez, o Pregador estabelece uma ANALOGIA VÍVIDA, na qual ele compara a “risada dos insensatos” com o “crepitar dos espinhos debaixo duma panela” (Ec 7.6).
Esse versículo é, em parte, um jogo de palavras, pois os termos hebraicos para “espinhos” e “panela” são muito parecidos.'”
Podemos chegar perto disso em português dizendo que a risada do insensato é como “o crepitar da espinheira dentro de uma lareira”.
Sempre que encontramos uma metáfora desse tipo, precisamos procurar o ponto de comparação.
De que forma uma risada tola é como um fogo aberto alimentado por galhos de um espinheiro?
Em primeiro lugar, produzem um som muito parecido. O barulho produzido pelo crepitar do fogo é como o BARULHO FÚTIL das risadas dos tolos.
E o que seja talvez mais importante ainda, um fogo feito de espinhos é de curta duração. Apesar de produzir chama rapidamente ela não arderá por muito tempo, diferentemente de um fogo de lenha ou carvão.
Em consequência disso, uma chama de espinhos não fornecerá muito calor, pois ele tem “mais chama do que fogo”.
A insensatez está disposta a rir sobre qualquer coisa, é uma alegria irresponsável e injusta. É um sorriso que encobre a culpa, que anestesia a mente e que insensibiliza o coração.
Ele está comparando o sábio, que aceita a repreensão e o tolo, que vive cheio de AUTOJUSTIÇA, e por isso quer ouvir o que o agrada e não confronta o seu modo de vida pecaminoso.
Isso vale para o estilo vida insensato de muitos crentes. Sua risada não fornece muito calor. Possui toda a frivolidade sem alegria.
Mesmo que o insensato possa rir com facilidade, sua risada não dura. Aquele que ri mais alto não é necessariamente aquele que mais ri. O riso não é sinônimo verdadeiro de felicidade.
O pregador está mostrando que a repreensão, produz quebrantamento, reflexão e humildade. Mas o entretenimento insensato é soberbo, irreverente e bajulador e rebelde e irresponsável.
Não é uma alegria que nasce da obediência aos mandamentos divinos.Na verdade, Jesus disse: “Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar” (Lc 6.25).
Nosso Salvador estava pensando nas chamas do juízo final, quando esses insensatos que riem perecerão para sempre.
Isso se encaixa bem na POSTURA SÉRIA que Eclesiastes nos ensina a assumir diante da vida e da morte. Algumas pessoas irresponsavelmente; simplesmente riem no decorrer de suas vidas.
Quando o filósofo espanhol George SantaYana contemplou os seus dias de nascimento e morte, ele disse: “Não há outra cura para o nascimento e para a morte senão curtir o intervalo”.
Assim, algumas pessoas tentam rir a vida toda, até a morte. Veja este epitáfio famoso do poeta inglês John Gay: “A vida é um gracejo, e todas as coisas mostram isso. / Assim pensava, e agora o sei”. Quem fala assim é o insensato.
Mas a morte, ou o inferno que vem depois dela para todos que morrem sem Cristo, não tem nada e engraçado, a não ser “choro e ranger de dentes”.
- A repreensão sabia (v.5)
A repreensão aqui é do sábio. Então o Pregador diz que é muito melhor ouvirmos a REPREENSÃO DA PREGAÇÃO, que é o sábio do texto, ou alguém piedoso.
Alguém que se importa o bastante para nos confrontar nos dirá que precisamos levar a sério a vida e a morte.
Ouvir a “crítica dura e edificante” de um amigo piedoso pode salvar a nossa alma. Pessoas sábias dirão todas as coisas que Eclesiastes nos ensina.
Elas nos dirão que viver pelo prazer e pelo trabalho por lucro egoísta é correr atrás do vento.
Elas nos dirão que Deus tem um tempo para tudo, inclusive um tempo para nascer e para morrer.
Elas nos dirão que é melhor serem dois do que um para enfrentar todas as fadigas e provações da vida.
Elas nos dirão que, já que Deus está no céu e nós estamos na terra, devemos ter cuidado com o que dizemos.
Elas nos dirão que dinheiro jamais satisfará a nossa alma. Ou seja, elas nos ensinarão a viver não para o dia de hoje, mas para a eternidade.
Elas não vão incentivar nosso consumismo. As pessoas quando prosperam, normalmente mudam para lugares onde elas não serão confrontadas por viver mais futilmente, por causa de suas conquistas.
Portanto, seja sábio e esteja em lugares em que você possa receber uma repreensão sábia e edificante.
Leia a Bíblia confrontando você mesmo. Ouça pregações cristocêntricas e cheias do Espírito que confronte seu estilo de vida, pois isso será vital para sua piedade.
Gaste mais tempo com pessoas que já avançaram mais em sua peregrinação espiritual do que você. Quando você ouvir algo sério sobre coisas espirituais, não ria, mas o leve a sério.
- OLHE PARA FRENTE (V. 8-12)
A última comparação nesses versículos nos ensina a adquirir uma perspectiva santa sobre o que acontece no mundo. O Pregador já nos instruiu sobre o nascimento e a morte, sobre sabedoria e insensatez.
Agora, após uma breve advertência sobre o perigo do poder (“Verdadeiramente, a opressão faz endoidecer até o sábio, e o suborno corrompe o coração”; Ec 7.7);
Ele nos diz que devemos OLHAR PARA FRENTE e assumir uma visão de longo prazo ele nos ensina quatro passos aqui:
- O melhor está por vir (v.8)
“Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio; melhor é o paciente do que o arrogante” (Ec 7.8).
Vejam que no início do versículo 8 fica claro que o pregador ele está querendo transmitir algo positivo.
Quando se refere ao “FIM” de algo, ele está falando sobre o seu resultado ou consequência o produto final.
Muitas coisas que parecem não ser muito promissoras no início acabam dando certo no final.
Isso vale para tudo que tem a benção de Deus. Tudo fica bem quando termina bem em seu gracioso plano que “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28).
A história de Israel nos fornece um exemplo notável. Quando o povo de Deus voltou para Jerusalém após seu longo exílio na Babilônia, construiu um novo templo.
Quando a construção começou, algumas pessoas duvidaram abertamente se ele seria muito impressionante.
Entretanto, o profeta Zacarias profetizou que “quem despreza o dia dos humildes começos, esse alegar-se-á.”(Zc 4.10).
Mesmo que o templo novo começasse pequeno, o seu fim seria melhor do que o início pela graça de Deus.
Vemos esse princípio se manifestar muitas vezes em nossa vida. Alguns poucos passos de “simples obediência”, por fim, levam a uma vida de oração mais forte ou a uma generosidade maior diante das ofertas ao reino.
Vemos isso em nossas famílias, nas quais filhos e filhas, que têm tanto a aprender na vida, aos poucos amadurecem até finalmente serem capazes de oferecer um serviço útil ao reino de Deus.
Vemos isso na fundação de igrejas, em que a visão e as orações de uns poucos crentes podem, por fim, produzir uma congregação de centenas de membros. O fim das coisas é melhor do que seu início.
Vemos isso da forma mais clara no plano de salvação de Deus. Vá para Belém, e o que você verá?
Uma cidade pequena e insignificante. Uma esposa jovem com seu marido mais velho, um estábulo humilde, alguns pobres pastores e um bebê numa manjedoura.
Quem imaginaria que isso seria o início de um império, que o bebê se tornaria o rei de reis; e que, ao oferecer-se como sacrifício, ele conquistaria o perdão dos pecados de pessoas de todas as nações?
No entanto, o fim será muito melhor do que o início. Aquilo que começou com a vinda do menino Cristo terminará com a consumação de seu reino eterno.
2) Não viva do passado (v.10)
Reconhecer todo o escopo do plano de Deus nos ajuda também a evitar outro erro que o Pregador nos adverte dele no versículo 10:
“Jamais digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois não é perguntar a sábio assim” (Ec 7.10).
Se no versículo 8 a tentação era o pessimismo em relação ao futuro, a tentação aqui é a nostalgia em relação ao passado. Algumas pessoas gostam de falar sobre os “bons e velhos tempos”.
Querem que as coisas voltem a ser como eram (provavelmente, porque se esqueceram de como algumas coisas eram ruins naqueles tempos).
Em vez de olhar para frente, elas parecem olhar sempre para trás.
Alguns israelitas cometeram esse erro quando o templo estava sendo reconstruído nos dias de Esdras e Neemias.
Os nostálgicos diziam que o segundo templo não chegava nem perto da beleza do templo construído por Salomão (veja Ed 3.12-13; Ag 2.3).
Mas o Salomão que escreveu Eclesiastes teria lhes dito que deveriam deixar o PASSADO NO PASSADO.
Em vez de ficarmos na ilusão e desejando simplesmente dias melhores, deveríamos olhar para o futuro.
Deus ainda está trabalhando em seu plano, Deus ainda está trabalhando em nós; portanto o melhor ainda está por vir.
Isso pode não tem nada a ver com as nossas conquistas ou com a nossa prosperidade.
Muitos de nós gostaríamos, estar ganhando mais dinheiro, ou morando melhor. Mas nem sempre isso é o melhor.
Isso se aplicava perfeitamente ao povo de Deus nos dias do segundo templo, enquanto aguardavam a vinda de Cristo — o templo vivo (veja Jo 1.14; 2.19-22).
Isso se aplica perfeitamente a nós enquanto esperamos que Jesus volte e faça novas todas as coisas.
Deveríamos estar olhando para frente, não para trás, pois nossa “salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos” (Rm 13.11).
Assuma uma “PERSPECTIVA SANTA” em relação ao que está acontecendo no mundo. Espere que Deus realize o seu plano, acreditando que o melhor ainda está por vir.
- Seja paciente (v.8,9)
Contemplar a vida dessa forma exige a postura da qual o Pregador fala no versículo 8 “melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito”.A paciência é melhor do que o orgulho.
Em vez de arrogância, assumindo que sabemos o que é melhor, devemos submeter-nos humildemente a Deus enquanto esperamos que ele resolva tudo.
Isso se aplica à nossa SANTIFICAÇÃO em todas as áreas em que ainda precisamos crescer.
Isso se aplica ao casamento e aos problemas familiares nos quais somos tentados a desistir em vez de continuar lutando.
Isso se aplica ao ministério na igreja sempre que desejamos que outras pessoas tenham a mesma visão daquilo que Deus pode fazer.
Isso se aplica a qualquer área da vida em que pensamos saber o que é melhor e desejamos que Deus se apresse e faça algo, quando, na verdade, ele quer que nós nos apressemos e esperemos.
Uma das maneiras mais fáceis de reconhecer se realmente confiamos nos planos de Deus é ver quanto nos irritamos quando as coisas não acontecem como nós queremos e isso é O PECADO DA EXASPERAÇÃO.
O Pregador nos dá a seguinte ordem: “Não te apresses em irar-te, porque a ira se abriga no íntimo dos insensatos” (Ec 7.9). O vínculo entre a ira e a insensatez é conhecido.
Salomão deu um conselho semelhante em seu livro de Provérbios: “O ansioso se ira faz loucuras” (Pv 14.17) e “o de ânimo precipitado exalta a loucura” (Pv 14.29).
Aqui, o Rei-Pregador está pensando em um tipo especifico de ira — a raiva precipitada que se manifesta e “as vezes ocultamente”; sempre que achamos que algo não está acontecendo com tanta presteza como deveria.
A ira é um sentimento volátil e precitado. Grande parte das decisões e mudanças que fazemos na vida são motivadas por esse sentimento de insatisfação e incomodo que a ira provoca.
Mudança de emprego, lugar, igreja, amizades, divorcio, conceitos, abandono de algum ministério que exercemos na igreja.
Normalmente, dizemos que temos o direito de ficar com raiva. Mas Eclesiastes vê a raiva como aquilo que ela é — uma tolice pecaminosa, imaturidade espiritual e uma desconfiança subjacente da soberania de Deus.
Assim que começarmos a ficar impacientes, precisamos pedir que o Espírito Santo nos impeça de cometer “as tolices” da raiva precipitada.
- Mantenha sua vitalidade (v.11,12).
Em todas essas exortações, variadas sobre a vida e a morte, sobre a sabedoria e a tolice, sobre a paciência de esperar para ver o que Deus fará, o pregador está nos ensinando a forma correta de viver e ver a vida.
Ele encerra essas exortações reafirmando o valor da sabedoria, que, segundo ele, é boa “havendo herança, e de proveito, para os que veem o sol. A sabedoria protege como protege o dinheiro; mas o proveito da sabedoria é que ela dá vida ao seu possuidor” (Ec 7.11-12).
O vínculo que o Pregador estabelece aqui é muito surpreendente. Após tudo que disse sobre dinheiro e como ele é incapaz de satisfazer a nossa alma, dificilmente esperaríamos que ele diria que a sabedoria é como dinheiro.
Se conhecermos o livro de Provérbios, ficamos ainda mais surpresos, pois aqui Salomão diz que a sabedoria não tem preço (p. ex. 8.11).
Mas aqui a Bíblia diz apenas que a sabedoria é “boa como herança“, que é outra maneira de traduzir o versículo 11, e que a segurança que ela fornece é como a proteção do dinheiro.
O Pregador sabe muito bem que o dinheiro não dura para sempre. Mas enquanto tivermos dinheiro, ele será útil fornecendo alguma proteção contra as dificuldades práticas do dia a dia.
Semelhantemente, a sabedoria serve como proteção para a alma. Ela nos ajuda a lidar com a realidade da morte. Ela nos protege contra a tolice da raiva insubmissa e precipitada.
Ela nos ajuda a adotar uma visão de longo prazo daquilo que Deus está fazendo no mundo.
A sabedoria pode até salvar a nossa alma, pois o Pregador alega que ela “DÁ VIDA AO SEU POSSUIDOR” (EC 7.12).
A verdadeira sabedoria espiritual nos dá uma vitalidade espiritual enquanto vivermos, e quando vier a hora da nossa morte, ela nos levará à vida eterna.
CONCLUSÃO
Charles Ward tinha esse tipo de sabedoria. Ward serviu no exército, no tempo da guerra da sucessão (1861-1865) como sargento da 32ª companhia de voluntários de Massachusetts.
Em uma de suas últimas cartas à família, escreveu: “Espero poder voltar para casa outra vez, mas a vida aqui é incerta”.
O sargento estava certo sobre as incertezas da vida e da morte, porque alguns dias depois ele foi fatalmente ferido no sangrento campo de trigo em Gettysburg.
Após sobreviver por algum tempo, o sargento morreu dentro de uma semana. Em sua última carta à família, ele escreveu: “Querida mãe, posso não vê-la de novo, mas não tema pelo seu soldado cansado.
A morte não representa um medo para mim. Minha esperança continua firme em Jesus. Encontre-me no céu com o Pai, com todos os meus queridos amigos.
Não tenho nada especial a lhe dizer senão despedir-me alegremente de todos vocês. Seu afetuoso, filho e soldado, Charles Ward”.
Se formos sábios, seguiremos o exemplo de Ward. Cuidaremos da nossa integridade, viveremos seriamente, amaremos a correção.
Ao aceitar a morte e olhar para frente, para aquilo que Deus planejou para nós em Cristo, viveremos com sabedoria… e morreremos bem.
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