Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 10 –  Melhor serem dois do que um. Eclesiastes 4:4-16. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 27/05/2020.

INTRODUÇÃO [1]

As pessoas adoram fazer comparações: “Este é melhor do que aquele”. “O filme original foi melhor do que a sequência.” “Aqueles equipamentos são mais caros, porque são de qualidade superior.”

Qual o melhor celular do mercado?”“Qual a melhor marca de tal produto?” Esses são os tipos de comparação que as pessoas fazem todos os dias.

Os autores do Antigo Testamento gostavam de usar uma estratégia semelhante. A fim de mostrar o caminho para a sabedoria ou o caminho da obediência, eles comparavam uma coisa com a outra.

Por exemplo, quando Samuel queria dizer que amar a Deus é mais importante do que simplesmente praticar todos os gestos religiosos, ele disse: “O obedecer é melhor do que o sacrificar” (l Sm 15.22).

Ou, quando Salomão quis louvar a harmonia de um lar amoroso, ele disse: “Melhor é um prato de hortaliças onde há amor do que o boi cevado e, com ele, o ódio” (Pv 15.17).

O Pregador de Eclesiastes usou a mesma estratégia. Em vista de todos os problemas que existem no mundo, ele era às vezes tentado a pensar que seria melhor não viver, foi o que ele disse no início do capítulo 4.

Então, fez várias outras comparações que se baseavam naquilo que ele via acontecendo ao seu redor e que oferecem uma sabedoria prática para viver uma vida melhor, neste mundo passageiro.

A graça de Deus no ensina o melhor: é melhor vivermos com contentamento (Ec 4.4-6), é melhor viver com um espírito receptivo ao ensino (Ec 4.13-16) e é melhor trabalhar em parceria com outras pessoas (Ec 4.7-12).

Eclesiastes nos ensina o porque é melhor serem dois do que um. Vejamos como viver melhor.

  1. VIVER COM CONTENTAMENTO.

A primeira comparação tratava do CONTENTAMENTO, e tudo começou com uma observação sobre o mundo do trabalho:

“Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 4.4). É aflição de Espirito (ACF).

Eclesiastes já nos disse que o trabalho é uma dádiva de Deus (p. ex., Ec 2.24). Mas assim como todas as bênçãos de Deus, o trabalho pode ser distorcido pelo pecado.

Três lições importantes de como viver contente com o trabalho.

1.Cobiça invejosa.

Aqui, o Pregador ressalta que grande parte do nosso trabalho é motivada pela inveja, pelo desejo pecaminoso de subir na vida passando por cima das outras pessoas.

As vezes, os economistas identificam a ambição competitiva do interesse próprio como motor que impulsiona a ECONOMIA CAPITALISTA.

Mas Eclesiastes reconhece uma motivação mais profunda no trabalho, uma motivação que parte do coração egoísta.

A INVEJA COBIÇOSA não é a única razão pela qual as pessoas trabalham, é claro, e se lêssemos esse versículo de forma isolada ele soaria exagerado. Certamente existem algumas exceções que comprovam a regra.

Mas mesmo assim o Pregador expressa uma verdade — uma das razões pelas quais trabalhamos tanto; seria na verdade para conseguir o que o vizinho tem.

E por isso que algumas pessoas enganam o governo na declaração do imposto de renda, ou passam a perna em clientes, ou acumulam dívidas com o seu cartão de crédito.

É porque invejamos o que as outras pessoas têm, e fazemos de tudo para conseguir o mesmo; a fim de impressiona-las.

Há muitas coisas que somos tentados a invejar, seja a aparência de alguém, ou suas habilidades ou condições de vida.

Outra pessoa tem o emprego ou as notas na escola ou a namorada que sempre quisemos ter.

Mas de todas as coisas que somos tentados a invejar, normalmente, os bens do nosso vizinho estão perto do topo da lista.

Basta ler os DEZ MANDAMENTOS: a maioria das coisas que não devemos cobiçar são coisas que o dinheiro pode comprar.

Trabalhamos muito para ganhar mais dinheiro para comprar mais coisas, ou usamos o cartão de crédito para nos entreter com aquilo que um economista chamou de “TERAPIA DE VAREJO”.

Se conseguirmos tudo que cobiçamos, outra pessoa nos invejará, e o ciclo continua. O mundo está cheio de vizinhos tentando superar seus vizinhos.

Ouvir ou ler biografias de conquistas de pessoas BEM-SUCEDIDAS pode ser algo tentador para estimular todos os nossos esforços para realizar sonhos, que podem estar sendo movidos pela inveja cobiçosa.

Então devemos ouvir Eclesiastes sussurrando em nosso ouvido, lembrando-nos que desejar aquilo que Deus tem dado a outra pessoa em vez de querer aquilo que ele tem para nós é vaidade, é correr atrás do vento, é aflição de espirito.

  1. Falta de respeito próprio.

E o Pregador observou ainda outra coisa. O oposto do homem que trabalha demais é o homem que se recusa a trabalhar de modo nenhum: “O tolo cruza os braços e come a própria carne” (Ec 4.5).

Em vez de participar dessa corrida de ratos, algumas pessoas caem fora. Elas sabem que não conseguem acompanhar seus vizinhos, por isso, nem tentam.

Tudo o que fazem é cruzar seus braços preguiçosos. Mas isso é profundamente AUTODESTRUTIVO. Segundo a descrição de Eclesiastes, o tolo come o que tem até não sobrar mais nada:

Ele é a imagem da AUTOCOMPLACÊNCIA e da AUTODESTRUIÇÃO inconsciente, pois esse comentário sobre ele aponta para um dano mais profundo do que o desperdício de seu capital.

Sua PREGUIÇA consome não só o que ele tem, mas também o que ele é: minando seu autocontrole, seu senso de realidade, sua capacidade de cuidar de si mesmo e, no fim, seu respeito próprio.

Esses versículos descrevem dois erros iguais e opostos: Assim como o trabalho pode consumir tudo, a preguiça pode levar ao CANIBALISMO PRÓPRIO.

Quais desses erros é mais tentador para você? Talvez você se sinta tentado a invejar o que os outros têm e então a desgastar-se tentando obtê-lo.

Ou talvez você acredite estar acima de tudo isso, no entanto, tem uma atitude tão negativa em relação ao trabalho que, às vezes, você foge dele completamente.

  1. Viver contente.

Para ambos os casos, Eclesiastes tem um bom conselho:Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento” (Ec 4.6).

Essa linda comparação se apoia em um contraste duplo: “DESCANSO” é contrastado com “trabalho e correr”. O descanso não é ficar sem fazer nada.

Um bom sinônimo seria “CONTENTAMENTO”. A pessoa “descansada” é pacífica e controlada, satisfeita, plena, tranquila.

Em vez de sempre correr atrás de mais, ele já está satisfeito. O contraste é reforçado pela diferença entre ter um punhado e ter “ambas as mãos cheias”.

A pessoa com ambas as mãos cheias é um CONSUMIDOR ÁVIDO, sempre tentando agarrar o máximo que pode e sempre estendendo a mão para obter mais.

Porém, às vezes, MENOS É MAIS, e a pessoa descansada encontrou o equilíbrio certo. Seus braços não estão cruzados, como os do tolo.

Ela trabalha o bastante para ter um punhado decente daquilo que precisa para viver. Mas isso lhe basta.

Ela não fica pedindo sempre mais, antes aceita o que Deus lhe deu. Ele aceita a viver com o básico.

Você aprendeu a se contentar com o básico? A pessoa descansada é como Jesus, que sempre nos mostra a melhor maneira de viver.

Jesus não cruzou os braços em ociosidade. Tampouco invejou as pessoas que tinham mais do que ele, e quase todos tinha mais que ele.

Ele simplesmente trabalhou muito para o chamado que seu Pai lhe dera — o chamado para procurar e salvar os pecadores perdidos.

Enquanto trabalhava, confiava que seu Pai satisfaria as suas necessidades diárias: contentou-se com as coisas básicas da vida.

Agora Jesus nos convida a viver da mesma forma. Essa é a melhor forma que encontramos em Eclesiastes.

Você deve trabalhar muito, todos nós devemos trabalhar duro; mas devemos ser contente com aquilo que tem.

Encontre a sua SATISFAÇÃO NA BONDADE DE DEUS, como alguém que certa vez citou o salmo 23 de forma errada, mas mesmo assim falou bem.

Em vez de dizer: “O SENHOR é meu pastor; nada me faltará”, ele disse: “O SENHOR é meu pastor: isso é tudo que me faltava”.

Muitos de nós queremos tantas coisas na vida que se torna difícil ou inútil dizer isso.

Mas independentemente se Jesus é tudo que QUEREMOS ou não, a verdade é que ele é tudo o que PRECISAMOS. Só isso pode nos dá contentamento.

  1. VIVER COM UM ESPÍRITO ABERTO AO ENSINO.

O Pregador faz outra comparação útil para viver melhor no final do capítulo 4.

A mensagem dessa comparação final é que é melhor viver com um espírito aberto ao ensino do que ser ORGULHOSO demais para permitir que alguém nos ensine qualquer coisa, ou que nos repreenda em nossa conduta.

Dessa vez, o Pregador começa com a comparação, então ele conta uma história da vida para ilustrá-la e ele aproveita para dá duas lições.

  1. Glória passageira.

A comparação é a seguinte: “Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar” (Ec 4.13).

Então, ele conta o resto da história: o Jovem pode muito bem sair da cadeia e se tornar o rei do seu país, mesmo tendo nascido pobre.Eclesiastes 4:14

Vi todos os viventes que andam debaixo do sol com o jovem sucessor, que ficará em lugar do rei.

Era sem conta todo o povo que ele dominava; tampouco os que virão depois se hão de regozijar nele. Na verdade, que também isto é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 4.15-16).

Essa história “da sarjeta ao palácio” trata de um homem que subiu da pobreza para a realeza.

Salomão obviamente, não está se referindo a si mesmo, já que o grande rei havia sido criado num palácio real.

Parece mais com a história de Davi, que serviu como um pastorantes de se tornar rei. Ou poderia ser uma menção da prisão que lembra a vida de José, que sai do cárcere para reinar no Egito.

Mas aparentemente o que aconteceu foi isto: de modo inesperado, um homem jovem sai da cadeia e por ser alguém que aceita a repreensão, e chega ao poder, assumindo o lugar do rei que reinou antes dele.

Apesar de ter nascido em pobreza, ele alcançou o ofício mais alto do país, sem ter sangue real, sem ser o herdeiro do trono.

Esse novo rei jovem e mais sábio; vai governar sobre um império poderoso, uma multidão incontável vai seguir o rei, aclamando seus feitos grandiosos.

Mas quando ele morre, as pessoas não serão agradecidas por tudo o que ele tenha feito de bom.

A ingratidão é quase tudo o que se pode esperar das pessoas. Não importa o que toda a fama que esse rei conseguiu, nem mesmo suas façanhas; um dia, esse rei, como qualquer outro rei, será esquecido.

Parte da lição aqui é que a fama é passageira. Não importa quão popular um governante seja, virá o dia em que outra pessoa assumirá o seu lugar e em que toda a sua glória se dissipará.

No fim, todos acabam sendo dispensáveis. O velho rei já pode ter passado de seu auge, mas o jovem ascendente também não viverá para sempre.

O novo rei “alcançou o cume da glória humana, apenas para ficar ainda mais frustrado, pois seus súditos nunca serão gratos a Ele.

Isso é mais um anticlímax humano e uma conquista vazia. A busca de posição é uma inglória.A soberba é pura vaidade.

Assim, somos lembrados de que não devemos apostar demais em posições e títulos terrenos — nem nossas, nem de terceiros. 

  1. Espírito ensinável.

Mas há outra lição aqui que não devemos ignorar. De todos os contrastes entre os dois reis — juventude versus idade, pobreza versus riqueza, sabedoria versus tolice — o mais importante é a sua atitude em relação a conselhos e as repreensões.

O velho rei “já não se deixa admoestar” (Ec 4.13). No passado, ele havia ouvido seus conselheiros, mas agora ele aconselhava a si mesmo, e por isso deixou de ter utilidade para o seu povo.

Essa tragédia tem se repetido muitas vezes na história das nações e, infelizmente, também no ministério da igreja.

Quando as pessoas se agarram a posições de poder, ao seu titulo honorifico, ao seu grau de instrução, recusando-se ser instruído ou repreendido.

Essa história serve como advertência a todos cristãos. Costumamos pensar que cabelos grisalhos, experiencia; acumulo de conhecimento; trazem sabedoria, e muitas vezes isso é verdade.

Mas não importa se sejam jovens ou velhos, os cristãos mais sábios são aqueles que aceitam conselhos, que podem ser instruídos; se necessário, a correção severa.

Ao mesmo tempo, esse versículo é um encorajamento para os cristãos mais jovens. Até mesmo uma pessoa jovem e pobre pode fazer um trabalho valioso para o reino de Deus.

A forma de fazer esse tipo de trabalho não é insultando, mandando em outras pessoas ou tentando conquistar uma posição mais importante.

A maneira de fazer isso é ter a sabedoria humilde de dizer: Ainda tenho muito a aprender sobre a vida e o ministério, e na hora certa, Deus me mostrará o lugar certo para servir no seu reino.

A melhor maneira de adquirir essa sabedoria é voltando-se para Jesus Cristo, o único Rei cuja fama durará para sempre.

A vida do reformador João Calvino ilustra bem esse princípio.

Quando descreveu a sua conversão à fé em Cristo, Calvino disse que Deus subjugou sua mente e a levou para um “ESTADO ABERTO AO ENSINO”.

A expressão “aberto ao ensino” ocorre com bastante regularidade em suas famosas Institutas da Religião Cristã.

Um cristão é simplesmente um seguidor de Cristo aberto ao ensino. Ele tem uma inteligência humilhada. Ele é ensinável, ele ama a aprendizagem com outros irmãos.

O final de Eclesiastes 4 é, no fundo, a história de Jesus e de seu espírito humilde e aberto ao ensino.

A Bíblia diz que, quando ele era um garoto que vivia na casa de José e Maria, “ele crescia em sabedoria” (Lc 2.52). Ele estava disposto a ouvir seus pais e aprender com eles humildemente.

Ele certamente ouviu o seu Pai Celestial, pois seguiu o conselho de seu Pai até a cruz, onde morreu por nossos pecados. Então, quando chegou a hora, o Pai ressuscitou Jesus para ser Rei.

Assim, o homem nascido em pobreza e obscuridade foi exaltado ao trono da glória eterna.

Agora, não há um limite para todas as pessoas que Jesus lidera — pessoas ao longo de toda a História, de todas as partes do mundo.

Se formos sábios, seguiremos o seu exemplo e viveremos pela sua graça.

Pediremos que Deus nos dê um coração aberto ao ensino, sem o qual jamais estaremos prontos para liderar ou ser Úteis para o reino de Deus.

III. TRABALHAR EM PARCERIA.

Para fazer um bom trabalho do reino, precisamos de algo além de consentimento e um espírito aberto ao aprendizado.

Para descobrir o que é, precisamos voltar para o centro do capítulo, no qual encontramos mais uma comparação, uma que tem a ver com parceria.

Mas antes ele inicia descrevendo mais duas lições sobre o trabalho.

  1. Viciados em trabalho.

Mais uma vez, o Pregador faz uma observação cuidadosa sobre como as pessoas vivem:

“Então, considerei outra vaidade debaixo do sol, isto é, um homem sem ninguém, não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de riquezas;

e não diz: Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? Também isto é vaidade e enfadonho trabalho” (Ec 4.7-8).

Aqui, o Pregador nos conta a triste história sobre um indivíduo solitário, ele vive e trabalha sozinho.

Não sabemos se ele tem esposa, ele não tem herdeiro — um filho ou irmão que pudesse herdar as suas riquezas.

Assim, trabalha apenas para si mesmo, não para ser bênção ou para o benefício de outra pessoa.

Ao observar a vida desse homem, o Pregador viu que era vaidade do início ao fim.

O trabalho do homem parecia não ter fim. Dia após dia, ele trabalhava, do nascer do sol ao pôr do sol.

Qual era a sua jornada de trabalho semanal? Sessenta horas? Setenta horas? Ele era um VICIADO EM TRABALHO.

Mas o homem AVARENTO nunca estava satisfeito; queria sempre mais. Ele era um acumulador compulsivo de dinheiro.

Mas para quê? Não importa quanto ganhasse, o homem não tinha ninguém com quem pudesse compartilhar a sua riqueza.

Ele trabalhava demais e não tinha tempo para fazer amizades importantes ou começar uma família.

Aparentemente, o homem nem parou para se perguntar o que estava fazendo com a sua vida. Ou, caso tenha se perguntado ele não conseguiu encontrar uma resposta.

Aqui estava ele, fazendo sacrifícios dispendiosos para crescer em sua CARREIRA e encher a sua conta bancária, mas jamais se perguntando se tudo aquilo valia a pena.

O Pregador viu que não valia a pena; os sacrifícios do homem não tinham valor algum. Seus bens jamais conseguiriam satisfazer a sua alma, e sem alguém para compartilhá-los, sua vida terminaria em infelicidade.

O que o Pregador viu serve como advertência para todos nós contra o isolamento, o egoísmo, a cobiça e o VÍCIO PECAMINOSO DO TRABALHO DESENFREADO.

No entanto, a maioria das pessoas no mundo continua acreditando que conseguirão chegar lá por conta própria; poderíamos chamar esse comportamento de INDIVIDUALISMO RUDE E INSANO.

Reflita sobre as palavras no filme BELEZA AMERICANA, em que o pai tenta ensinar à filha Jane como lidar com as decepções da vida:

Ele diz: “Você já tem idade para aprender a lição mais importante da vida. Você não pode contar com ninguém além de si mesma… É triste, mas é verdade, e quanto antes você aprender isso, melhor”.

Viver e trabalhar para si mesmo é uma das maneiras mais tolas e rápidas para transformar o sonho de qualquer cidadão em um pesadelo insuportável.

Eclesiastes nos ensinou que o trabalho pode ser um prazer, mas isto se não o exercermos para os nossos próprios PROPÓSITOS EGOÍSTAS.

Você nunca encontrará prazer no seu trabalho, pensando em seus sonhos egoístas, ou pensando somente em sua família.

A fim de encontrar prazer no trabalho, precisamos fazer a pergunta do versículo 8 e encontrar a resposta certa: “PARA QUEM TRABALHO EU?”.

Não para mim mesmo, responde o cristão, mas para a glória de Deus e para o bem de outras pessoas, incluindo principalmente as pessoas que amo na família de Deus.

Caso contrário, teremos o mesmo DESTINO TRÁGICO de um certo empreendedor que trabalhou tanto quanto o homem em Eclesiastes 4.

Quando morreu, aos 51 anos de idade, seu obituário dizia que a causa de morte era uma trombose coronária, mas a maioria das pessoas conhecia a causa verdadeira.

Ele passava seis dias da semana no escritório, muitas vezes até às 8 da manhã as9 da noite, e seus amigos e parentes disseram que ele simplesmente havia se matado trabalhando.

No entanto, no dia de seu funeral, quando a empresa já estava procurando um sucessor, o presidente da empresa olhou para os funcionários no escritório e perguntou: “Bem, quem de vocês tem trabalhado mais?”.

Mas a pior observação veio da esposa do falecido. Quando um amigo disse: “Sei quanto você sentirá falta dele”, ela respondeu: “Ah!, eu já sentia falta dele há muito tempo!”

  1. Trabalho compartilhado.

Existe uma maneira melhor de viver e trabalhar, e a Bíblia nos diz isso quando afirma: “Melhor é serem dois do que um” (Ec 4.9).

Segundo essa simples comparação, é melhor compartilhar a nossa vida e o nosso trabalho do que tentar fazer tudo por conta própria.

Aqui o Pregador não está falando simplesmente sobre o casamento, mesmo que cada casamento centrado em Deus seja prova viva desse princípio.

Mas o Pregador está falando também sobre todos os outros nossos relacionamentos. Nunca fomos criados para sermos sós. Não somos uma ilha.

Formos criados para sempre vivermos em comunhão com outras pessoas. O “sistema de coleguinhas”, ou amigos da infância, não serve apenas para o tempo da escola.

Esse é o plano de Deus para a nossa vida e o nosso serviço. A igreja foi idealizada antes de todas as coisas na eternidade, para ser o convívio mais completo que o ser humano possa experimentar.

Tem sido assim desde o início, quando Deus criou Adão e disse: “Não é bom que o homem esteja só”. (Gn 2.18). Companhia é melhor do que solidão. Conexão é melhor do que competição.

O Pregador nos apresenta uma série de razões pelas quais uma parceria é melhor do que isolamento pessoal. Por que dois é melhor que um?

(a) Maior produtividade.

É melhor serem dois do que um, porque são mais produtivos em seu trabalho — “porque têm melhor paga do seu trabalho” (Ec 4.9).

O homem no versículo 8 não tinha ninguém para quem ou com quem trabalhar. Mas quando duas pessoas trabalham bem juntas, elas realizam mais do que o dobro daquilo que cada um conseguiria realizar sozinho.

Tenho visto isso repetidas vezes na igreja, quando os obreiros desafiam e aprimoraram as minhas ideias para o ministério.

Vejo isso em todos os ministérios, no trabalho gracioso que as irmãs e os irmãos fazem no ministério infantil, bem como o ministério de louvor e agora o ministério de Multimídia na transmissão dos cultos online.

Tenho visto isso em todas as atividades profissionais. Vejo isso na minha própria casa, quando ajudo minha esposa com a casa e as crianças.

Não importa se estamos na igreja, no trabalho ou em casa, nosso trabalho é mais gratificante e eficiente quando o compartilhamos com outra pessoa.

(b) Maior encorajamento.

Também é melhor serem dois do que um, porque eles podem ajudar um ao outro em tempos de crise.

Diz o Pregador: “Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante” (Ec 4.10).

Essa advertência lembra quando uma pessoa sofre um acidente e diz: “Cai e não consigo levantar!”.

Às vezes, isso acontece na vida, não só LITERALMENTE, mas também METAFORICAMENTE. As provações e dificuldades da vida nos derribam.

Às vezes, alguém nos empurra, e às vezes, tropeçamos sobre os nossos próprios pés, mas em ambos os casos acabamos no chão.

Tentamos algo e fracassamos. Relacionamentos se rompem. Dificuldades financeiras nos deixam desesperados. Contra nosso melhor juízo, podemos cair em pecado grave.

Se estivermos sozinhos, podemos cair e ficar caídos e corremos o risco de não mais nos levantar.

Mas não estamos sozinhos. Um irmão ou uma irmã em Cristo estará lá para nos levantar com palavras de encorajamento, lembrando-nos do amor e da misericórdia de Deus, ajudando-nos a levantar.

(c) Maior fervor espiritual.

É melhor serem dois do que um também porque um pode aquecer o outro.

“Também”, diz o Pregador, “se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará” (Ec 4.11).

Em um primeiro momento, podemos achar que ele esteja falando sobre a CAMA CONJUGAL, mas as implicações de suas palavras são muito mais amplas.

O que o Pregador tem em mente é uma pessoa que atravessa o deserto. O deserto é frio à noite, e se um peregrino estiver caminhando sozinho, ele morrerá de frio.

Mas se ele tiver um companheiro! Os dois podem dormir com as costas encostadas uma na outra e assim esquentar-se durante a noite toda.

E às vezes, é claro, o companheiro de viagem pode ser também um cônjuge, que dá o melhor calor de todos, como diz o poema:

A neve está caindo, e o vento está soprando

Mas eu resisto à tempestade!

O que me importa a força da tempestade?

Tenho meu amor para me esquentar.

Isso não é apenas uma boa dica para uma viagem, mas também sabedoria para a alma. Há um calor espiritual ao atravessar a vida com outros crentes.

E fácil esfriar na vida cristã, tornar-se entorpecido para o trabalho de Deus e congelar até a morte espiritual. A frieza é um dos piores males que os crentes enfrentam na caminha cristã.

Mas quando esfriamos, o calor de outro cristão pode nos esquentar.

A oração de um crente piedoso, o versículo das Escrituras compartilhado por um amigo, uma exortação que dirige o nosso coração para Deus — estas são algumas das CENTELHAS que Deus usa para manter o fogo aceso.

(d) Maior segurança.

O frio não é o único perigo que ameaça os viajantes na estrada. Isso se aplicava especialmente aos dias do rei Salomão, quando sempre existia o perigo de ser assaltado por bandidos.

Essa é outra razão pela qual dois são melhores do que um: eles podem proteger um ao outro, pois:

Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão” (Ec 4.12).

Números oferecem segurança. Derrotar dois exige o esforço dobrado do que derrotar um.

Portanto, às vezes, tudo que precisamos para nos proteger é de uma pessoa que “PROTEJA A NOSSA RETAGUARDA”, um camarada de luta.

Até os super-heróis precisam de ajuda. O filme Batman Begins, de 2005, oferece uma ilustração simples.

O comissário de polícia Gordon se pergunta como conseguirá levar um criminoso perigoso à justiça.

O comissário é apenas um homem, afinal de contas. Como ele resistirá a todas as forças da escuridão na cidade? Mas então Batman se apresenta e diz: “Agora somos dois!”.

Enfrentamos perigos espirituais todos os dias. O mundo está cheio de tentações o desejo dos olhos, o prazer da carne e o orgulho da vida (1Jo 2.16).

Satanás está sempre à espreita como um leão para nos devorar (1 Pe 5.8). Para enfrentar perigos espirituais, dois são melhores do que um.

Se vivermos próximos de outros cristãos piedosos sempre haverá alguém para estar ao nosso lado na luta e para nos proteger com a oração.

Nesse tempo de pandemia, estamos contando as vítimas fatais do covid-19, mas maior é numero de mortos espirituais, pela frieza e pelo engano do pecado.

  1. O MELHOR AMIGO DE TODOS

Realmente é melhor serem dois do que um — é melhor para o trabalho, é vital para o fervor espiritual, é necessário em tempos de sofrimento e guerra.

Mas para ter essas vantagens precisamos viver em comunhão intima com o povo de Deus, logo não podemos abandonar nossos cultos.

  1. A quem você presta conta?

Quem são seus amigos da igreja? Quem são os seus parceiros no ministério? Seus relacionamentos são fortes o bastante para ajudá-lo a crescer em Cristo?

Se você é casado (a), você passa tempo suficiente com seu cônjuge em oração?

Se você convive com outros cristãos, vocês conversam sobre assuntos espirituais que edificam?

Você participa de um grupo de estudos bíblicos na EBD? Você se empenha para participar de algum curso bíblico na igreja? (UDF).

Existe alguém a quem você “PRESTA CONTAS” sobre as suas áreas mais vulneráveis de tentação? E que possa exortá-lo firmemente.

Existe alguém piedoso no mundo que o conhece o bastante para proteger a sua retaguarda por meio de orações?

Os filhos de Deus não foram criados para viver sozinhos, mas sempre com a ajuda e o apoio de seus irmãos e de suas irmãs em Cristo.

Cada ministério da igreja – desde o trabalho infantil até o ministério da pregação – depende de parcerias que funcionem.

Mais cedo ou mais tarde todos nós precisamos de alguém para reanimar-nos para o evangelho, ou para nos levantar quando caímos, ou para nos ajudar a combater perigos espirituais.

Não espere até estar em dificuldades para procurar um amigo piedoso; pode ser tarde demais.

Não seja tolo, pensando que consegue dar conta de seu ministério ou de sua santificação sozinho, abra seus braços para a parceria espiritual. E quando tiver a oportunidade, seja o amigo piedoso que outra pessoa precise.

  1. O amigo dos pecadores.

E lembre-se também de que, quando se trata de amizades espirituais, o melhor parceiro de todos é Jesus Cristo, o “amigo dos(…)pecadores” (Mt 11.19; Lc 7.34).

Um dos pontos altos dessa passagem em Eclesiastes é quando o Pregador faz a aritmética do evangelho para transformar dois em três.

Desde o início, sua argumentação tem sido que dois são melhores do que um. Mas no fim do versículo 12 ele transforma o duo dinâmico numa trindade poderosa, dizendo que “o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade”.

Ao acrescentar uma terceira dobra ao cordão, o Pregador transmite a simples mensagem de que para tudo, desde o trabalho até a guerra, três pessoas são ainda melhores do que duas. Moody dizia que a melhor liderança é a de três.

Essa é a lei dos números maiores. Se o pregador estivesse falando apenas sobre o casamento, a terceira dobra seria um intruso (a não ser, talvez, que ele estivesse falando da bênção de filhos).

Mas fora o casamento, na maioria das situações perigosas e difíceis que enfrentamos na vida, três pessoas são mais fortes do que duas. Isso se aplica ainda mais se a terceira pessoa é o próprio Deus.

CONCLUSÃO

Não estou dizendo que o pregador tenha pensado necessariamente em Deus aqui ou que esta seja uma das muitas passagens em que o Antigo Testamento nos oferece uma profecia explícita sobre Jesus Cristo.

Mas estou dizendo que entre todos os amigos que nos dão força para a vida, Jesus é o melhor amigo de todos.

Jesus disse que não somos simplesmente seus servos, mas verdadeiramente seus amigos.

Encontramos a maior recompensa quando trabalhamos em parceria com ele, confiando em sua graça para nos ajudar com cada tarefa difícil.

E pedindo a sua bênção para tudo o que fazemos, a despeito das nossas fraquezas, e usando-o para a sua glória.

Quando nossos corações estão frios, Jesus nos abraça com seus braços de amor para nos aquecer.

Quando caímos, ele nos levanta, lembrando-nos de que nossos pecados realmente foram perdoados e que, pelo poder do Espirito Santo, ele pode nos ajudar a ficar em pé.

Quando nos encontramos em perigo desesperador, lutando contra os poderes do inferno, Jesus nos defende e nos resgata — não só por meio de sua morte, mas também por meio do poder da vida eterna.

Jesus é o amigo do qual mais precisamos. Você já se tornou seu amigo, depositando a sua confiança nele?

Realmente é melhor serem mais de um; principalmente, quando um dos dois é o melhor de todos.

[1] Sermão adaptado do livro, Estudos Bíblicos Expositivos em Eclesiastes, Philip Ryken; Editora Cultura Cristã.

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