Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 08 –  Tudo tem seu devido tempo. Eclesiastes 3:9-15. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 13/05/2020. [1]

INTRODUÇÃO

O missionário canadense Don Richardson, autor do livro o “fator Melquisedeque” tem viajado pelo mundo inteiro para demonstrar que pessoas de todas as culturas têm um desejo profundo de Deus.

É dele a celebre frase: “Deus preparou todo o mundo para o evangelho, e o evangelho para todo mundo”.

Tudo começou com as tribos sawi na Nova Guiné Holandesa — os caçadores de cabeças aos quais Richardson serviu primeiro na década de 1950.

Apesar de os sawi sanguinários prezarem a traição como virtude suprema, eles tinham também um ritual sagrado para reconciliar duas tribos em pé de guerra.

O filho do cacique era oferecido à tribo inimiga como “criança da paz”. Richardson reconheceu nesse ritual uma parábola do evangelho, na qual o Cacique de todos os caciques fez as pazes com a tribo perdida da humanidade oferecendo seu próprio Filho”.

Em decorrência de suas experiências com a tribo de Nova Guiné, os sawi, Richardson começou a se perguntar se outros povos tinham tradições semelhantes —rituais sagrados que serviam como “ANALOGIAS REMISSORAS” para o evangelho.

Ele descobriu que muitos povos — tanto antigos quanto modernos — têm conhecimento parcial de verdades religiosas.

Não importa se essas crenças provêm daquilo que Deus revelou na criação ou de resquícios de uma fé transmitida desde os tempos bíblicos, elas dão testemunho de Deus e da dádiva de sua graça expiatória.

Richardson conta a história do rei dos incas que rejeitou o deus do sol Inti em prol de uma deidade mais antiga e maior – Viracocha, misericordioso doador da vida, que reside em luz não criada.

Ele dá exemplos de tribos como o povo karen em Burma, que tinham lendas de um livro perdido que, um dia lhes seria enviado pelo Deus supremo para libertá-los da opressão.

Ele descreve até rituais para a expiação de pecados. Por exemplo, em determinado dia de cada ano, os dyaks de Bornéu colocam seus pecados num pequeno barco e o levam rio abaixo – um tipo de “barco expiatório” por assim dizer.’

Segundo Richardson, todas essas histórias demonstram a verdade de algo escrito em Eclesiastes 3: Deus “pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3.11).

Nascemos com uma saudade de outro mundo – de uma vida com Deus que se encontra além do alcance do tempo mortal.

  1. A beleza do governo de Deus

O Pregador que escreveu Eclesiastes reconheceu esse desejo nos versículos que seguem imediatamente ao famoso poema sobre o tempo (Ec 3.1-8).

Desde o nascimento até a morte, há um tempo e uma estação para tudo debaixo do céu.

Então, após dizer que Deus é soberano sobre o tempo, o Pregador retorna ao tema do trabalho e faz uma pergunta que já fez antes (e certamente faria de novo): “Que proveito tem o trabalhador naquilo com que se fadiga?” (Ec 3.9).

Em sua busca contínua pelo sentido da vida, o Pregador sempre quis saber que tipo de retorno ele teria sobre o investimento de seu tempo e esforço.

Sabendo o quanto as pessoas trabalham, ele disse: “Vi o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens, para com ele os treinar” (Ec 3.10). Mesmo assim, ele queria saber se tudo isso valia a pena.

Alguns estudiosos acreditam que sua resposta foi um enfático “não”. O Pregador ainda acreditava no que disse no capítulo 2 – ou seja, que o trabalho debaixo do sol é uma aflição.

Portanto, sua pergunta em Eclesiastes 3.9 é meramente retórica. Que proveito tem o trabalhador? A resposta implícita é: NENHUM.

O problema com essa interpretação é que o versículo faz uma declaração tão forte da bondade de Deus, que “tudo fez… formoso em seu devido tempo“.

Algumas pessoas se ressentem do controle de Deus sobre o tempo e a eternidade; elas prefeririam definir a sua própria agenda.

Mas o Salomão de Eclesiastes conseguia reconhecer a beleza do governo de Deus. NÃO SÓ HÁ UM TEMPO PARA TUDO, MAS DEUS SEMPRE FAZ TUDO NA HORA CERTA.

Portanto, o Pregador louvou Deus por sua linda CRONOLOGIA DO TEMPO. No Antigo Testamento, “formoso” é, acima de tudo, um termo visual; normalmente, ele se refere a algo que podemos ver.

Por exemplo, a palavra é usada para descrever as filhas de Jó como as mulheres mais bonitas do país (Jó 42.15).

Com o passar do tempo, porém, a palavra ganhou um sentido mais amplo, como a palavra “bonito” em português.

Algo bonito é algo bom; é aquilo que é CERTO, AGRADÁVEL E APROPRIADO. E nesse sentido que podemos dizer que a cronologia de Deus é bonita.

Não importa quando Deus faça algo, ele sempre o faz na hora certa. Ele sabe a hora para derrubar e edificar, para guardar e jogar fora, para guerra e para paz.

Quando o Pregador diz que “tudo fez Deus formoso no seu devido tempo” (Ec 3.11), Ele não está falando somente sobre a maneira como Deus fez o mundo, mas sobre a maneira como ele tem reinado desde então.

As estações da natureza e os padrões da atividade humana estão sob a sua superintendência soberana e seu CUIDADO PROVIDENCIAL. Do início ao fim, Deus faz tudo de forma decente e ordenada.

Por não esperar o tempo de Deus, nós fazemos as coisas fora do tempo e desordenadas.

Mas Des em seus movimentos de inumeráveis processos,cada um com seu próprio caráter e com seu próprio tempo de florescer e amadurecer, sendo formoso em seu devido tempo, contribuindo para a obra-prima geral, que é a obra de um Criador.

Você acredita na PONTUALIDADE DE DEUS, não só para o mundo em geral, mas para seu próprio caso em específico?

Você confia em sua agenda para as estações de sua própria vida? Muitas vezes, as pessoas criticam Deus por ajudar tarde demais ou por agir cedo demais.

No entanto, quando fazemos uma retrospectiva, descobrimos que a agenda divina era melhor desde o início.

Quando uma porta, que queríamos abrir, permaneceu fechada, por isso acabamos seguindo uma direção diferente, que se revelou como sendo a direção certa desde o início.

Muitas vezes ainda não estávamos prontos para um relacionamento que queríamos e quando o queríamos, mais tarde sim estamos prontos para aquele tipo de relacionamento.

Algo aconteceu que nos obrigou a mudar a nossa agenda e acabamos tendo uma CONVERSA INESPERADA que mudou toda a direção da nossa vida ou talvez a direção da vida de outra pessoa.

Muitas vezes, estar no lugar certo no tempo de Deus em vez de estar no lugar errado no nosso tempo pode até salvar a nossa vida.

É ai que entra a importância da ORAÇÃO antes de fazer qualquer coisa. É por isso que precisamos transformar todas as coisas em um motivo de oração.

FilipiRyken, conta um exemplo de um grupo de estudantes do Wheaton College estava frustrado certa manhã quando seu Passeio por Londres que se atrasou por causa de um atendimento lento durante café da manhã. Acreditavam estar atrasados, mas quando se aproximaram da estação de metrô, descobriram que uma explosão subterrânea acabara de acontecer.

Ele também fala um amigo da faculdade que deveria estar no topo da World Trade Center em 11 de setembro, mas um erro de reserva obrigou empresa a realizar a reunião em outro local.

Tudo é uma questão de cronologia, tudo acontece num tempo permitido por Deus, seja em sua VONTADE DIRETIVA OU PERMISSIVA.

Em vez de insistir que tudo aconteça de acordo com nossa própria agenda, precisamos aprender a Confiar na agenda de Deus, e não tentar agir seguindo nossa própria agenda, pois colheremos um sofrimento desnecessário.

Deus não controla nossas ações livres, nem o que sentimos ou escolhemos, mais de alguma forma até essas coisas não escapa do controle dEle.

Deus nos conduz por meio das CIRCUNSTANCIAS e por meio da sua PALAVRA.Por isso orar e obedecer a PALAVRA ESCRITA E PREGADA é a nossa segurança.

Saiba isto: o nosso Salvador, nasceu “na plenitude dos tempos” (G14.4) e que morreu por nossos pecados “a seu tempo” (Rm 5.6′) mostrando que Deus tem um maravilhoso senso de comando dos acontecimentos do tempo.

Porque Deus esperou 400 anos para libertar o seu povo do cativeiro egípcio. Nesse tempo o povo cresceu e se tornou uma grande nação, mesmo na Escravidão.

Na humilhação, aprenderam a confiar em Deus e a crer na terra prometida. E enquanto isso os pecados das nações cananeias, chegariam ao seu limite, em que a ira de Deus, os desapossariam da terra, e então daria ao seu povo (Gn 15.16).

  1. Entre o tempo e a eternidade

Saber que Deus está no controle não significa necessariamente que nós sempre entendemos ou aceitamos a sua cronologia do tempo.

Muitas vezes, nós não entendemos e isso pode ser verdadeiramente frustrante para nós.

Então após afirmar a beleza da autoridade soberana de Deus sobre o tempo, o Pregador observou um dos dilemas básicos da nossa existência terrena:

Deus “pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3.11).

Aqui, o Pregador se encontra preso entre o tempo e a eternidade. De um lado, Deus colocou a eternidade em nossos corações.

Fomos feitos para viver eternamente (veja Gn 3.22) e, por isso, temos o desejo desesperado de uma vida infinita com Deus.

As promessas mais preciosas que a Bíblia nos oferecem são bênçãos eternas. O Deus eterno (S1 90.2) fez uma “aliança eterna” (Gn 9.16) que nos dará um reino, que durará “eternamente” (2Sm 7.13).

Ele cumpriu essas promessas dando vida eterna a todos que crerem em seu Filho, que ofereceu sua vida pelos nossos pecados antes de ressurgir do túmulo com poder sobre a morte.

O problema é que ainda vivemos em um universo sujeito ao tempo. Existe um abismo enorme entre a nossa mortalidade atual e nosso destino futuro.

A eternidade em nossos corações alimenta um desejo profundo de saber o que Deus tem feito do início ao fim.

Cada um de nós nasceu com “um desejo profundamente arraigado, um impulso compulsivo… de conhecer o caráter, a composição e o sentido do mundo… e de discernir o seu propósito e destino”.

Mas como criaturas finitas que vivem num mundo caído, existem tantas coisas que não entendemos.

Não importa o quanto procuramos. O Pregador de Eclesiastes procurou mais do que qualquer um — nós não conseguimos “descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3.11).

Enquanto Deus tem uma visão geral, todos nós temos apenas um PONTO DE VISTA. Nossa perspectiva limitada é incapaz de abarcar a mente de Deus. Isso tem sido parte da frustração do Pregador desde o início.

Ele está procurando um sentido na vida, mas acha difícil ou até impossível compreender.

“O ser humano tem ‘eternidade’ no seu coração — seu Criador o fez uma criatura pensante, e ele deseja passar adiante seu conhecimento fragmentário e discernir o sentido mais pleno de todo o padrão — mas a criatura não é igual ao Criador, ela é limitada.

Tudo isso explica por que alguns comentaristas veem Eclesiastes 3.11 como muito negativo. Ter a eternidade em nossos corações, eles dizem, gera ainda mais frustração.

No tocante a Deus, há um tempo para tudo. Mas nós nem sempre conhecemos esse tempo e, por isso, é difícil sabermos quando abraçar e quando rejeitar, por exemplo, ou quando falar e quando se calar.

Assim, não conseguimos entender o nosso mundo. Nós queremos saber desesperadamente o que acontece, mas somente Deus sabe.

Algumas pessoas respondem a essa frustração excluindo Deus completamente e inventando a sua própria interpretação do universo.

Segundo o cineasta Woody Allen, “o universo é indiferente… assim criamos um mundo falso para nós mesmos, e existimos dentro desse mundo falso… um mundo que, na verdade, não significa qualquer coisa se você der um passo para trás.

Não tem sentido. Então as pessoas estão tentando criar algum senso de sentido, pois não existe sentido perceptível para a existência.

Existe, porém, outra maneira de reagir e compreender corretamente o sentido da vida.

O conhecimento de que estamos presos entre o tempo e a eternidade pode nos ajudar a encontrar o caminho que nos leve até Deus.

Até essa altura, o pregador tem falhado em sua busca de encontrar qualquer coisa na terra que consiga satisfazer plenamente a mente ou o coração humano.

Mas isso ainda deixa em aberto a possibilidade de encontrar satisfação em Deus e em seu céu.

Então, em vez de desistir de nosso desejo de conhecimento, deveríamos antes concluir que nosso desejo pela eternidade prova que fomos feitos para outro mundo.

Ninguém explicou melhor do que C. S. Lewis as implicações do nosso desejo pela eternidade. Ele disse:

“Se eu encontrar dentro de mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para outro mundo. Se nenhum dos meus prazeres terrenos consegue satisfazê-lo, isso não prova que o universo seja uma fraude.

É provável que o papel dos prazeres terrenos jamais foi satisfazê-lo, mas despertá-lo, sugerir a coisa verdadeira”.’ “A coisa mais doce em toda a minha vida”, Lewis escreveu em um de seus romances, “tem sido o desejo (…) de encontrar o lugar de onde vem toda a beleza”.

Em outro texto, ele descreve esse desejo como “a fragrância de uma flor que não descobrimos, o eco de uma melodia que não ouvimos, notícias de um país que jamais visitamos”.”,

Você já sentiu o cheiro da fragrância de Deus ou ouviu o eco do cântico da redenção?

DEUS COLOCOU A BELEZA DA ETERNIDADE EM NOSSOS CORAÇÕES PARA QUE ENCONTRÁSSEMOS O CAMINHO QUE NOS LEVE ATÉ ELE.

Nossos desejos mais profundos jamais serão satisfeitos se não alcançarmos um conhecimento pessoal de Deus e de seu Filho Jesus Cristo, que é o “Princípio e o Fim” (Ap 21.6).

Quando encontrarmos nosso caminho para ele, finalmente seremos capazes de dizer o que um cristão[2] piedoso disse certa vez: “ENCONTREI MAIS EM CRISTO DO QUE JAMAIS ESPERAVA DESEJAR”.” 

  1. Fazendo o trabalho de Deus

Algum dia saberemos o que Deus fez, do início ao fim — ou pelo menos tudo aquilo que ele quer que saibamos.

Entretanto, o Pregador nos diz duas coisas que todos nós deveríamos estar fazendo. Os versículos 12 e 14 começam ambos com a palavra “sei”, ou “já tenho entendido”.

Em sua luta para entender como viver como homem preso entre o tempo e a eternidade, o Pregador reconheceu duas coisas muito importantes:UMA sobre fazer a obra de Deus e a OUTRA sobre confiar nogoverno soberano de Deus.

Em primeiro lugar, devemos tomar todo o tempo que recebemos e usá-lo com alegria no serviço a Deus.

Nos versículos 12 a 13, o Pregador nos instrui a pôr as mãos à obra: “Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho”.

Um pouco antes, no versículo 10, o Pregador havia falado sobre “o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens“.

Aqui, ele nos diz como devemos nos dedicar a esse trabalho — com alegria e energia, com gratidão a Deus pelo prazer de servi-lo.

Alguns comentaristas têm visto esses versículos de forma muito mais negativa. Dizem que a postura do Pregador é de “resignação, não de entusiasmo”.’

Nessa interpretação, as palavras “nada há melhor” são de poucos elogios. Na verdade, algumas traduções traduzem erroneamente o sentido do versículo assim: devemos “fazer o nosso melhor”.

Em outras palavras, o Pregador estaria tentando fazer o melhor de uma situação ruim. Ele queria que houvesse algo melhor na vida, mas não há.

E se isso é tudo que a vida tem a oferecer, a melhor coisa que ele pode fazer sob essas circunstâncias é aproveitar o momento, aproveitar os prazeres inferiores de comer, beber e trabalhar. Já que isso é o máximo que o homem consegue.

Então, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre estaria dizendo a mesma coisa que o Pregador disse:

Era verdade, eu sempre soubera disso — eu não tinha qualquer “direito” de existir. Eu havia aparecido por acaso, eu existia como uma pedra, uma planta, um micróbio.

Eu não consegui perceber nada em mim além de um zumbido inconsequente. Eu estava pensando… que aqui estávamos comendo e bebendo, para preservar a nossa preciosa existência, e que não há nada, nada, absolutamente nenhuma razão de existir.”

Essa interpretação negativa e equivocada de Eclesiastes 3 suscita diversos problemas.

Um é que quase todos os termos nesses versículos são positivos.O Pregador fala sobre prazer e alegria. Fala sobre comer e beber — as coisas boas da vida.

Ele nos encoraja a “fazer o bem”. E o melhor de tudo, ele nos lembra de que todas essas coisas são “dádiva de Deus para o homem”.

Portanto, quando diz que “nada há melhor” do que fazer a obra de Deus, ele não está se contentando com algo de segunda categoria, mas está nos dizendo que há sentido e alegria nas coisas simples da vida cotidiana.

Uma boa maneira de entender e aplicar esse versículo é recitá-lo na primeira pessoa e usá-lo como descrição do meu emprego.

“Sei que nada há melhor para mim do que regozijar-me e levar uma vida prazerosa; e também que é dom de Deus que eu possa comer, beber e desfrutar o bem de todo o meu trabalho.”

Imagine quantas coisas boas uma pessoa poderia fazer ao longo de uma vida simplesmente aplicando diariamente esses versículos.

Depois imagine quanto trabalho para o reino uma igreja poderia fazer se ela abordasse tudo com esse tipo de alegria, com esse tipo de trabalho assíduo e com esse tipo de gratidão a Deus.

O Pregador nos instrui a sermos ALEGRES. Podemos nem sempre ser felizes com a maneira como as coisas andam na vida, mas podemos sempre encontrar alegria na graça de Deus e no trabalho que ele nos deu.

Não importa quão ruins possam ser as nossas circunstâncias — seja por causa das dificuldades naturais da vida ou por causa de algum mal cometido por outros contra nós ou por causa das consequências dolorosas da nossa própria rebelião

Em cada situação há sempre uma maneira de glorificar a Deus, e isso deveria nos dar alegria.  Paulo diz aprendi a estar contente em todas as situações.

O Pregador nos instrui também a sermos “bons” — uma expressão que deve ser interpretada em seu sentido ético e moral. Fazer “O BEM” é fazer BOAS OBRAS.

Isso não significa que merecemos a nossa entrada para o céu, é claro, mas significa sim que devemos fazer A BOA OBRA QUE DEUS NOS DEU, durante o tempo em que ele a confia a nós.

Por gratidão por aquilo que Deus fez por nós em Jesus, perdoando todos os nossos pecados, devemos mergulhar na obra de seu reino.

NA VERDADE, É ESTA A RAZÃO DA NOSSA EXISTÊNCIA: Somos “feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras(trabalho), as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

Em sua graça, Deus deu a cada um de nós algo bom a fazer para ele. Não trabalhamos porque não temos nada melhor a fazer, mas porque Deus nos chamou para trabalhar para ele.

Cada cristão deveria fazer um bom trabalho em casa, amando as pessoas com quem vive.

Cada cristão deveria fazer um bom trabalho no emprego, servindo a Deus nas obrigações ordinárias de um chamado terreno.

Cada cristão deveria fazer um bom trabalho na igreja, usando seus dons espirituais no mínimo em um ministério regular. Não há espaço para o crente no banco.

Cada cristão deveria fazer um bom trabalho na sociedade, demonstrando o amor de Jesus por meio de atos práticos de misericórdia.

Devemos fazer todas essas coisas enquanto vivermos, trabalhando até o fim das nossas vidas.

Quando o Pregador diz “enquanto viverem”, ele está lembrando o que disse no versículo 2, ou seja, que há um tempo para morrermos.

Até esse dia chegar, porém, devemos usar nosso tempo com sabedoria, usando-o para o TRABALHO DE JESUS.

O pastor e teólogo Thomas Boston disse certa vez à sua congregação no interior da Escócia:

“Cada geração tem seu trabalho que foi atribuído pelo Senhor soberano; e cada pessoa dessa geração também tem o seu.

E agora é a nossa vez. Não podíamos ser úteis na geração que nos antecedeu; pois não existíamos; tampouco podemos [ser úteis] pessoalmente na geração que virá depois de nós; pois teremos deixado o palco. Agora é a nossa hora; não negligenciemos a utilidade na nossa geração.

Na proporção em que fazemos um bom trabalho na nossa geração, Deus nos dá a permissão de celebrar as coisas boas da vida — comer e beber e desfrutar os prazeres que Deus fez para nos alegrar.

Veja como o Espirito Santo mostrou isso na igreja primitiva onde fizeram o trabalho do reino e desfrutavam do prazer da comunhão por meio da alegria das refeições comunitárias.

É claro, é sempre uma tentação viver para os prazeres terrenos, satisfazendo os nossos apetites, em vez de servir a Jesus (veja Rm 16.18).

As coisas boas na vida se transformam facilmente em nossos deuses, que é uma vaidade absoluta, como o Pregador já nos disse (veja Ec 2.1 ss.). Mas a maneira de resistir a essa tentação não consiste em evitar tudo.

Antes evitamos a idolatria quando recebemos com gratidão as coisas boas da vida como bênçãos de Deus.A GRATIDÃO É A RAIZ DA ALEGRIA.

Não tome e use; mas; receba e agradeça. Tudo isso faz parte de devolver a Deus aquilo que ele nos deu em SERVIÇO ALEGRE, enquanto ainda tivermos tempo.

  1. Confiando na soberania de Deus

A outra coisa que o Pregador nos instrui a fazer — a segunda coisa que reconheceu — é deixar Deus ser Deus, aceitando com reverência a sua soberania sobre o tempo e a eternidade.

Ele disse: “Sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os homens temam diante dele. O que é já foi, e o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou” (Ec 3.14-15).

Quando diz “tudo quanto Deus faz“, o Pregador pode estar relembrando o início do capítulo, em que disse que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3.1).

Tudo quanto Deus faz” inclui tudo o que Deus faz, não importa quando o faça. Ele é soberano sobre os tempos e as estações. E tudo quanto faz durará para sempre: ninguém pode acrescentar ou subtrair disso agora ou no futuro.

Mais uma vez, porém, alguns estudiosos veem esses versículos como deprimentes e fatalistas. Deus faz o que faz, e não há nada que possamos fazer a esse respeito.

Nada que façamos, ou deixamos de fazer, pode interromper o curso maravilhoso dos eventos ordenados por Deus, e isto sem interferir nas LIVRE ESCOLHA do homem.

Não pudemos acrescentar ou subtrair qualquer coisa daquilo que Deus fez, e não há absolutamente nada que possamos fazer em relação à nossa situação na vida.

Isso é uma coisa boa ou ruim? Em outras palavras, o domínio absoluto de Deus é uma fonte de esperança ou desencorajamento?

Eclesiastes nos dá a resposta quando nos diz por que Deus faz o que faz: “para que os homens temam diante dele” (Ec 3.14).

Até mesmo nesse ponto alguns estudiosos tentam alegar que Deus estaria tentando “amedrontar as pessoas e impor-lhes a submissão, ao invés de despertar um senso de maravilha respeitosa de seu poder e força”.”

O problema com essa interpretação é que o temor de Deus é um dos conceitos mais positivos de toda a Bíblia.Temer a Deus significa reverenciá-lo e estremecer diante de seu grande poder.

Tanto os salmos quanto os provérbios dizem que o temor do Senhor é o início da sabedoria e que todos que não conseguem enxergar isso são tolos (S1110.10, Pv 1.7).

Na verdade, quando chegarmos ao fim de Eclesiastes, descobriremos que essa é a mensagem de todo o livro. Após dizer tudo o que tem a dizer, o Pregador nos deixará essa simples instrução: “Teme a Deus” (Ec 12.13).

Temer a Deus não significa desistir da busca pelo sentido da vida, mas de descansar a nossa vida no único fundamento sólido do tempo e da eternidade.

Temer a Deus significa confiar em sua PRESCIÊNCIA, crendo que ele sabe todas as coisas, inclusive as nossas alegrias e provações no presente e futuro.

Martinho Lutero disse: “Temer a Deus significa isto: ter Deus em vista, saber que ele vê todas as nossas obras e reconhecê-lo como Autor de todas as coisas”.

Temer a Deus significa crer também que ele continua no controle, mesmo quando não conseguimos ver (ou entender) o que ele está fazendo.

O pai da igreja primitiva Dídimo, o Cego, usou uma ilustração maravilhosa para explicar isso. Dídimo nos compara com os passageiros num grande barco à vela que nunca encontraram o capitão, mas mesmo assim sabem que ele está pilotando o navio: “O próprio Deus administra o cosmo e cuida dele…

Quando você vê um navio que está sendo pilotado e que mantém o curso, você entende a ideia de um piloto, mesmo que ele não seja visível… Semelhantemente, o Criador é conhecido por suas obras e pela ordem de sua providência”.

Você acredita na doutrina da soberania divina? Você consegue aceitar que Deus é realmente Deus? Você aprendeu a temer o seu Criador?

Longe de querer nos desencorajar, saber que Deus está no controle de tudo desde agora até a eternidade nos encoraja a continuar.

Confiar na soberania de Deus nos ajuda a viver uma vida cristã. O temor de Deusnão é apenas o início da sabedoria; é também o início da alegria, da satisfação e de uma vida enérgica e cheia de propósito.

O Pregador deseja libertar-nos de uma vida autoconfiante sem Deus, com seu cinismo e amargura inevitáveis, e de confiar na sabedoria humana, no prazer, na riqueza e na justiça ou integridade humana.

Ele quer levar-nos a ver que Deus está aqui, que ele é BOM E GENEROSO e que apenas essa visão dá coerência e satisfação à vida.

Até o versículo 15 é encorajador. A primeira parte do versículo lembra algo que ouvimos no capítulo 1, de que não há nada novo debaixo do sol. “o que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer” (Ec 1.9).

Aqui nesse texto, nós lemos: “O que é já foi, e o que há de ser também já foi” (Ec 3.15).

Em outras palavras, o que acontece agora já aconteceu antes; é a mesma velha história se repetindo mais uma vez. Por mais que o tempo passa as coisas permanecem a mesma coisa.

Agora a diferença é que o capítulo 3 explicitamente submete tudo à soberania de Deus. Assim, o livro nos ajuda a avançar no nosso entendimento do universo.

As coisas que fogem ao nosso controle não devem nos levar ao desespero, mas à esperança em Deus, que é soberano sobre tudo o que acontece.

A última parte do versículo 15 é mais difícil: “Deus fará renovar-se o que se passou”. “Ou Deus julgará as coisas que passou”. São duas formas de traduzir o versículo 15.

Tendemos a pensar que dias passados se foram para sempre, mas esse versículo nos diz que Deus pretende recuperar o passado.

Significa que ele levará atos passados ao julgamento. Teremos que prestar contas de como usamos o tempo, e o que fizemos.

Deus nos responsabilizará pelo uso do passado. A soberania divina não despreza a Responsabilidade humana. Somos responsáveis por todas as escolhas livres que fazemos todos os dias.

O juízo é um tema importante em Eclesiastes, que termina com a promessa de que “Deus há de trazer a juízo todas as obras” (Ec 12.14), sejam elas passadas ou presentes.

No entanto, também entender a linguagem de renovar, que é tão positiva, pois também sugere que Deus pretende remir o passado e não simplesmente levá-lo a julgamento.

Por sua graça, nós recuperaremos e restauraremos o que, do nosso ponto de vista, parece perdido para sempre.

A redenção eterna é a nossa esperança quando nos sentimos presos entre o tempo e a eternidade. O QUE FAZEMOS NESTA VIDA IMPORTA.

A obra de Deus perdura para sempre, inclusive o bom trabalho que fazemos em nome de Jesus. Por isso, as nossas vidas e o nosso trabalho não são em vão.

O mesmo Deus que colocou a eternidade no nosso coração fará todas as coisas formosas, inclusive as coisas do passado que agora parecem perdidas ou defeituosas. Tudo em seu devido tempo. Tudo será julgado e recompensado em seu devido tempo.

[1] Sermão adaptado do livro: Estudos bíblicos expositivos em Eclesiastes, FhilipRyke; Editora cultura cristã.

[2]Charles Bridges

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