Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 04 – Hedonismo sem sentido. Eclesiastes 2:1-11. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 15/04/2020.

A BUSCA DO PRAZER SEM SENTIDO

Referência: Eclesiastes 2.1-11

INTRODUÇÃO: Uma boa parte da humanidade é mais rica do que a maioria das pessoas na história do mundo.

No entanto, a despeito da nossa prosperidade material — ou talvez por causa dela – ainda sofremos de pobreza da alma.

O gosto do prazer aumentou nosso apetite por este mundo para além de qualquer satisfação. Entrementes, continuamos a procurar desesperadamente pelo sentido da vida.

Peggy Lee uma cantora de jaz; falou sobre esse problema na música “Is That All There Is?” [E só isso’?].

Na segunda estrofe, ela descreve a experiência de uma visita ao circo em sua infância:

Quando eu tinha 12 anos de idade, meu pai me levou ao circo, o maior espetáculo do mundo.

Havia palhaços, elefantes e ursos dançantes, e uma linda mulher em um maiô cor de rosa voava no alto, acima das nossas cabeças.

E eu estava sentada ali, assistindo ao espetáculo maravilhoso. Tive a sensação de que algo estava faltando.

Eu não sabia o quê, mas quando o espetáculo terminou, eu disse a mim mesma: “O circo é só isso?”.

E então, Peggy Lee canta seu famoso refrão: “É só isso? Isso é tudo que existe? Se isso é tudo, meus amigos, então, continuemos a dançar. Tragam as bebidas e façamos uma festa, se é só é que existe”.

Essa música descreve perfeitamente a busca do prazer que o mundo vive, conforme descrito em Eclesiastes. Vejamos:

  1. A prova do prazer

O Salomão de Eclesiastes tinha a mesma pergunta como Peggy Lee: Isso é tudo que a vida tem a oferecer, ou há algo mais?

Primeiro ele tentou encontrar uma resposta usando sua mente para compreender os mistérios da existência humana. Mas sua busca por conhecimento terminou em sofrimento e tristeza.

A essa altura, deve ter sido tentador desistir ou cair em depressão. No entanto, o Pregador decidiu tentar outra abordagem.

Ele começou a falar consigo mesmo, como fazer algo novo para extrair mais da vida. Então ele responde: “Vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade” (Ec 2.1).

Cada palavra nessa curta afirmação é importante. A palavra “PROVAR” indica que o que segue é um EXPERIMENTO, uma tentativa deliberada de aprender algo por experiência própria.

A palavra “ALEGRIA” mostra o que ele deseja experimentar – os prazeres da vida.

Ele é como um andarilhoque sai pelo mundo, à busca de experiência, para provar, tocar e sentir tudo, antes de se arrepender por não experimentar.

A outra palavra importante, que é repetida em cada versículo dessa passagem, é a palavra “EU”.

Reconheço que, já que o escritor está falando sobre sua própria vida, é inevitável que precise se referir a si mesmo de vez em quando.

Mas será que precisa fazê-lo com tanta frequência? Há tanto “eu, meu e eu mesmo” nesses versículos que a passagem transmite um forte senso do egoísmo envolvido na busca do prazer egocêntrico.

O pregador então, transforma-se em HEDONISTA EXPERIMENTAL. Em outras palavras: ele decide fazer de sua felicidade o propósito principal da vida.

É assim que muitas pessoas vivem hoje, e é uma tentação para todos nós querer viver para nós mesmos em vez de para Deus.

  1. A BUSCA DO PRAZER.

Imediatamente, o Pregador nos informa que essa busca fracassou de forma tão espetacular quanto a primeira.

O prazer satisfez sua alma tão pouco quanto a sabedoria. “Mas”, ele diz, exigindo nossa atenção,“também isso era vaidade” (Ec 2.1).

Em outras palavras, era vapor e fumaça. O prazer parecia oferecer a promessa do propósito da vida, mas ela não durou.

No fim, revelou-se como vazia, fugaz e efêmera. Quando seus prazeres dissiparam, o Pregador se viu de mãos vazias. Seu hedonismo provou ser sem sentido.

Ele mostra como seu EXPERIMENTO foi abrangente na busca do prazer.

Nos versículos 2.-8, ele apresenta urna lista de todos os prazeres que experimentou, seguida nos versículos 9-11 por uma reflexão pessoal sobre aquilo que aprendera com sua experiência.

Vejamos os prazeres do seu experimento.

  1. Prazer na comédia.

Primeiro, experimentou a comédia, um tipo de diversão cômica que muitas pessoas usam para passar pela vida.

Quando se sentem inseguras, fazem uma piada sobre algo ou alguma situação da vida. Ou quando criticam a si mesmas, ou riem de outra pessoa.

Quando ficam entediadas, procuram algo que as faça rir, como alguma comédia no Teatro, TV ou algum vídeo engraçado no YouTube — qualquer coisa que as faça rir de tudo.

O Pregador também tentou esse tipo de coisa; no entanto, isso não conseguiu lhe trazer nenhuma satisfação duradoura.

Ouça sua conclusão: “Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?” (Ec 2.2).

Aqui, loucura não se refere a uma doença mental, como usaríamos a palavra hoje em dia, mas a algo pecaminoso. Indica uma “perversão moral, não uma deficiência mental.

Muitas risadas são assim: moralmente perversas. Não todas, é claro, pois existe um tipo de riso alegre que traz glória a Deus (veja, p. ex., Pv 31.25).

Mas muitas piadas são frívolas e superficiais, ou então cínicas, sarcásticas e até mesmo cruéis (veja Pv 10.23; 26.19; 29.9).

Para honrar a Deus, precisamos nos perguntar se nosso riso se regozija na bondade de Deus ou se estamos rindo à custa de outra pessoa.

O pregador descobriu que, quando se trata de compreender o sentido da nossa existência, o riso não passa de um prazer inútil.

O verso 2: Concluí que riso e diversão como um fim em si mesmos é loucura. O que eles fizeram para me ajudar a encontrar um sentido e um propósito duradouros na vida?

A vida não é uma piada. Algumas pessoas riem a vida toda até cair mortas, mas não há nada de engraçado no leito da morte de alguém que morre sem Cristo.

  1. Prazer nas festas e bebidas

O próximo prazer que o homem experimentou foi o álcool, e este também é um método popular para encontrar alegria na vida ou para fugir dos seus problemas.

O Rei-Pregador encontrou um lubrificante para suas risadas:

“Resolvi no meu coração dar-me ao vinho, regendo-me, contudo, pela sabedoria, e entregar-me à loucura, até ver o que melhor seria que fizessem os filhos dos homens debaixo do céu, durante os poucos dias da sua vida” (Ec 2.3).

Na busca do prazer o Pregador se entrega ao álcool da mesma forma como muitas pessoas abusam de drogas e bebida hoje em dia.

Embora não há sabedoria alguma em entregar-se a bebedeira, mas ele diz que faz usando um JUÍZO MODERADO, para evitar perder o bom senso e tornar-se um alcoólatra em seu experimento.

O próprio Salomão, diz em provérbios que “o vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio” (Pv 20.1).

Quando o pregador diz que seu coração ainda o regia pela sabedoria, ele pretende dizer que seu consumo de vinho era um experimento controlado.

Ele não estava se entregando à zombaria bêbada, mas bebendo com moderação e então avaliando sóbria e ponderadamente a sua experiência na busca de prazer.

O final do versículo 3 fala da brevidade da vida. Pois uma das razões principais pelas quais as pessoas “buscam o prazer” é o fato de a vida ser tão curta.

O hedonismo diz: Você só dá uma volta pela vida, por isso, precisa aproveitar tudo que estiver ao seu alcance. Mas o fim é a frustração e o vazio.

O Salomão tentou aproveitar tudo ao seu alcance, mesmo assim acabou de mãos vazias.

Ele resolveu alegrar seu coração com o vinho, procurando sabedoria nisso, então se entregou a festas e shows e muita folia regada com bebidas alcoólicas.

E considerando que a vida é curta, então ele quer gozá-la intensamente, com festas caras e folias, na busca do prazer. Mas tudo isso era sem sentido, pois só encontrou vazio e frustração.

  1. Prazer nas coisas mais finas da vida

Há, além do vinho e do riso, muitos outros prazeres na vida, e o pregador era rico o bastante para experimentar todos eles.

Ele levava o estilo de vida dos “RICOS E FAMOSOS”, construindo mansões imponentes com jardins magníficos:

Ele diz “Empreendi grandes obras; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie. Fiz para mim açudes, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores” (Ec 2.4-6).

Demonstrando um controle e uma criatividade semelhantes a Deus, o Pregador construiu casas e jardins imponentes.

O homem era arquiteto, construtor e fomentador. Ele projetou e construiu mansões de prazer. O livro de 1 Reis 7.1-12, diz que o rei Salomão,gastou mais de uma década construindo seu palácio real caríssimo (1 Rs 7.1-12).

Ele era igualmente hábil na vinicultura, na produção de vinho. Plantou muitas vinhas (veja Ct 8.1 1), que, supostamente, eram necessárias para fornecer as uvas para a produção do melhor vinho para os seus banquetes reais.

Envolveu-se igualmente na horticultura e silvicultura, plantando flores e pomares.

A vegetação abundante que ele plantou era irrigada por reservatórios tão grandes que poderiam ter regado uma floresta.

Esses projetos eram tão grandes que apenas um grande homem podia empreendê-los. O tamanho das conquistas de Salomão é indicado pelo fato de tudo ser mencionado no plural — casas e vinhas, jardins e parques, árvores e açudes.

Evoca a imagem do “PARAÍSO” de um segundo Jardim do Éden, especialmente com todas as árvores frutíferas (veja Gn 1.29; 2.9).

Ele cria para si um pequeno mundo dentro do mundo: multiforme, harmonioso, exótico: um JARDIM DO ÉDEN SECULAR, cheio de prazeres, sem restrições, sem frutos proibidos; sem a presença de Deus todas as tardes; sem anjos com espada de fogo.

O palácio de prazeres e conquistas do grande Rei-Pregador era o paraíso reconquistado e sem restrições alguma.

E o melhor de tudo: era tudo para ele, era um mundo só dele. Ele não precisava dividir com ninguém, ele se sentia um pequeno deus.

O texto bíblico descreve os projetos de jardins e construções como “grandes construções” (Ec 2.4), mas não eram obras públicas.

Eram parte da residência particular dele. Ele vivia luxuosamente no jardim de seu próprio prazer; ele criou para si um JARDIM DO ÉDEN PARTICULAR.

  1. Prazer nas posses

Mas isso não é tudo. Além de seus projetos de construção, o Pregador era confortavelmente rico, como mostram seus muitos bens:

“Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim viveram em Jerusalém” (Ec 2.7).

Em vista da extensão de seus projetos de construção e o tamanho de sua propriedade, o Rei-Pregador precisava de um exército de trabalhadores para a sua manutenção diária.

Por isso, comprou muitos escravos, e seus escravos tiveram muitos filhos, que também pertenciam ele.

Para alimentar todos eles, ele precisava manter rebanhos de gado, ovelhas e cabras em sua fazenda real.

Orei Salomão, tinha inúmeros servos que sempre estavam à sua disposição (veja 1 Rs 10.4-8).

Ele possuía também tantos animais que os chefes de sua cozinha real preparavam diariamente “dez bois cevados, vinte bois de pasto e cem carneiros, afora os veados, as gazelas, os corços e aves cevadas” (1Rs 4.23).

  1. Prazer nas riquezas.

Não precisamos nem mencionar que o Rei-Pregador tinha também muito dinheiro. Ele era o mais rico de sua época.

Parte de seu tesouro provinha de impostos coletados de seu próprio povo; outra parte, de tributos impostos a poderes estrangeiros.

Ele governava várias nações, ele dominava um império poderoso e prospero. Ele diz: “Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis e de províncias” (Ec 2.8; cf. 1Rs 9.26-28; 10.14ss).

Ele controlava o comercio internacional e tirava um lucro monstruoso disso. 1 Reis diz que no tempo de Salomão, havia tanto ouro em Jerusalém que prata não tinha nenhum valor.

6.Prazer no entretenimento.

Salomão sabia curtir a vida. Ele sabia se divertir. Ele usou parte do dinheiro para fazer lindas canções.

Ele procurou o prazer de ouvir uma boa música. Ele colocou musica em tudo na sua vida.

provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie. (Ec 2.8)

Música era um prazer raro naqueles dias, mas o pregador de Eclesiastes era rico o bastante para trazê-la para dentro de sua própria casa, contratando bandas, corais inteiros que cantavam para o seu prazer.

Ele podia curtir todo tipo de música, e de qualquer nação, não por meio de cds, DVDs, mas ao vivo. E a qualquer hora que quisesse e por quanto tempo desejasse.

Ele tinha a sua disposição todosos estilos musicais da época.

(8) Prazer na luxuria.

Salomão viveu todos os romances, com mulheres: provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres” (Ec 2.8).

Sexo é um prazer mais comum, mas poucas pessoas o desfrutaram na mesma medida como o rei Salomão.

Ninguém teve tantas princesas e tantas mulheres de todos os lugares; modelos e belezas indizíveis; como esse homem.

Aqui ele fala de muitas concubinas, mas 1Reis 11.3 fornece estatísticas mais detalhadas — 700 mulheres e princesas, e 300 concubinas.

Ele tem a sua disposição mais parceiras sexuais; do que qualquer um pode sonhar.

O luxo erótico desse grande harém era a cobertura real do seu bolo de prazer.

 

 

III. UM PRAZER INSANO

Vinho, mulheres, música, dinheiro, poder — Salomão tinha tudo. Hoje, seu rosto estamparia as capas da revista Fortune, na edição anual dos homens mais ricos do mundo.

Sua mansão seria objeto de revistas de arquitetura — tanto o interior quanto o exterior, desde a adega até os jardins exuberantes.

Estrelas da música pop cantariam em suas festas de aniversário, supermodelos se agarrariam a seus braços.

Você não acha difícil não invejar esse homem? Você não gostaria de viver como um rei?

Nestas mesmas condições, você não gostaria de ter uma linda casa com uma vista melhor e mais bela?

Você não gostaria de ter alguém que fizesse todo trabalho por você ou, pelo menos, todo trabalho que você não gosta de fazer?

Pense em todo o dinheiro que Salomão possuía, todas bandas musicais, e mulheres as mais belas.

Sinceramente, se você pudesse, não tentaria ter um pouco desses prazeres para si mesmo?

E é assim que o Rei-Pregador resumiu seu experimento com o prazer:

“Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que viveram antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.

Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas” (Ec 2.9-10).

A Bíblia adverte contra “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1Jo 2.16).

E o salmista estava obedecendo a essa advertência quando orou: “Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho” (Si 119.37).

Mas Salomão ignorou completamente a advertência de Deus. Sempre que via algo que desejava, ele o pegava. Sempre que era tentado a se entregar ao prazer carnal, ele o fazia.

Não havia nada que ele negava a si mesmo — nadaque o divertia visivelmente ou o satisfazia interiormente.

Ele fazia isso porque acreditava que merecia. “EU MEREÇO ISSO”, ele dizia a si mesmo, “como recompensa por todo meu trabalho”.  “Eu trabalho muito”.

Já que ele estava levando o estilo de vida dos ricos e dos loucos, parece estranho ouvi-lo dizer que sua sabedoria continuava regendo sua vida.

Evidentemente, ele não podia estar falando sobre o tipo de sabedoria que começa com o temor de Deus. Ele era inteligente e continuava esperto como sempre.

Masele; continuava seriamente dedicado a seu experimento, ao empreendimento de testar seu coração para ver se o prazer lhe revelava o sentido da vida.

Ele queria ver com os próprios olhos o que a FRIVOLIDADE causa num homem.

Qual foi o resultado? O que acontece com pessoas que buscam qualquer e todo prazer como sua paixão principal na vida?

  1. O que nos acontece?

A resposta que Eclesiastes dá é uma resposta que já deveríamos conhecer, com base no que acontece conosco quando buscamos nosso próprio prazer.

Como Salomão, temos muitas oportunidades de nos entregar a muitos desejos pecaminosos e egoístas. Fato é que talvez Salomão nos invejaria.

Em termos gerais, vivemos em casas melhores do que ele, com móveis melhores e um controle maior sobre o clima. Comemos bem melhor.

Quando vamos ao supermercado, podemos comprar praticamente tudo que desejamos, de qualquer parte do mundo.

Ouvimos uma variedade muito maior de música.

No que diz respeito ao sexo, a internet oferece um número infinito de parceiros virtuais, proporcionando um harém vasto para a imaginação.

Tudo indica, então, que estamos vivendo nos tempos ímpios que Paulo descreveu a Timóteo, um tempo em que as pessoas seriam “mais amigas dos prazeres que amigos de Deus” (2Tm 3.4).

Tudo está ao nosso alcance e por apenas um Clik. Por muito menos e as vezes um prazer gratuito. Nada é indisponível ao homem moderno.

Mas Estamos ainda mais insatisfeitos, e queremos ainda mais?

O autor[1] do livro O PARADOXO DO PROGRESSO; que temo subtítulo [como a vida melhora enquanto as pessoas se sentem piores].

Depois de décadas de pesquisa ele afirma que em todos os aspectos a vida ocidental melhorou bastante, comparado ao século passado, mas as pessoas continuam infelizes.

A geração passada tinha menos e era mais feliz. Temos mais a cada dia de quase tudo… exceto felicidade.

Na verdade, quanto mais possuímos, mais INFELIZES FICAMOS, pois sabemos que jamais seremos capazes de ter tudo que queremos

No fim de sua busca, o Rei-Pregador chegou à mesma conclusão. Mesmo após experimentar todos os prazeres que conseguiu comprar, ele não havia ganhado nada da vida.

Na “manhã seguinte”, ainda sofrendo os efeitos de sua orgia de prazeres, ele disse:

“Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu,com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (Ec 2.11).

O verbo “considerar” (pana, em hebraico) significa literalmente “encarar”, olhar diretamente nos olhos de algo ou alguém (cf. Já 6.28).

Então, Salomão está encarando sua situação, vendo sua vida como realmente é, e ele quer que saibamos que o que ele vê não é bonito.

A palavra “eis” é enfática. A vida é vaidade; ela não tem nada a oferecer. A vida é correr atrás do vento; você jamais conseguirá pegá-lo.

Consiga da vida todo tipo de prazer possível, e mesmo assim não há qualquer proveito debaixo do sol.

O prazer, buscado como fim em si mesmo, não pode satisfazer a alma. Aprenda essa lição de Eclesiastes, pois tudo o que você possui não é suficiente.

Por que, mesmo depois de atingir muitos de nossos objetivos, ficamos com a sensação de que algo vital está faltando?

Você pode ser uma pessoa muito bem-sucedida e comprar a casa dos sonhos, e não conseguir entender por que anda pela casa todas as manhãs, dizendo a si mesmo: ‘Isso é tudo que a vida tem a oferecer?”‘.

  1. IV. DESEJO POR DEUS

Isso é tudo? E se isso for tudo, o que devemos fazer em relação a isso?

O que você faz quando tem tudo que jamais sonhou em ter; e descobre que isso não basta?

Fizeram essa pergunta ao astro[2] do jogo de futebol americano (Tom Brady), num programa de televisão: após ganharem o campeonato pela terceira vez, da principal liga de futebol americano.

Ele disse: Por que tenho três taças e mesmo assim continuo pensando que ainda há algo me esperando lá fora?

Isso tem sido o sentimento de muitas pessoas de que as cosias não ficam melhores do que isso.

Elas alcançam suas metas, seus sonhos, e ainda ficam pensando: ‘Deve existir algo a mais do que isso”.

Então Tom Bradycontinuou: Quero dizer, isso não é, e isso não pode ser tudo que a vida tem a oferecer.

Então o entrevistador perguntou: “Qual é a resposta?”. Brady só soube responder: “Eu gostaria de saber. Eu gostaria de saber”.

Você pode se perguntar: Não existe outra coisa que possamos experimentar ainda?

A resposta é que a insatisfação com a vida nos deveria apontar de volta para Deus — não para longe dele, mas para perto dele.

Se todos os prazeres debaixo do sol não conseguem satisfazer nossas almas, então precisamos olhar para além deste mundo, para Deus no céu.

  1. S. Lewis escreve:

A maioria das pessoas, se realmente tivessem aprendido a olhar seus próprios corações, saberiam que aquilo que desejam, e desejam ardentemente, é algo que não pode ser encontrado neste mundo.

Há todo tipo de coisas neste mundo que prometem satisfazer você, mas elas nunca conseguem cumprir sua promessa.

Os desejos que surgem dentro de nós quando nos apaixonamos pela primeira vez. Quando pensamos em lugar afrodisíaco, ou num assunto que nos incita.

Descobrimos logo, que nem nenhum casamento, nenhuma viagem, nenhum estudo, consegue nos satisfazer de verdade.

Vislumbramos algo naquele primeiro momento de desejo que simplesmente se dissipa na realidade.

Nossos desejos não satisfeitos nos dão a entender espiritualmente que fomos feitos para o prazer de Deus.

Os prazeres deste mundo; principalmente todos os prazeres que experimentamos hoje em dia nos deixamINSACIADOS.

Foi exatamente assim que Deus nos projetou. Se fôssemos capazes de encontrar satisfação duradoura nos prazeres terrenos, jamais reconheceríamos nossa necessidade de Deus.

Mas a satisfação não se encontra nos prazeres em si, ela vem separadamente.

Satisfação só existe em Deus, para que a nossa insatisfação nos ensine a nos voltar para ele.

Essa é uma das principais razões por que Eclesiastes foi incluído na Bíblia. Ele está aqui para nos convencer a não amar o mundo ou viver em função de seus prazeres.

Essa mensagem não pretende nos desencorajar ou nos deprimir ainda mais, mas levar-nos de volta para Deus. ISSO AQUI NÃO É TUDO.

Há também um Deus no céu, que enviou seu Filho para ser nosso Salvador. Esse Filho resistiu aos prazeres desta vida para cumprir o propósito de Deus para a nossa salvação.

Tudo o que Salomão buscou, tentou a Jesus, mas ele resistiu. Ele é tudo o que cada pecador insatisfeito precisa.

O Cristo crucificado e ressurreto se oferece a si mesmo como fonte de toda satisfação. Se crermos nele como diz a Escritura, rios de satisfação correm de dentro de nós.

Só seremos satisfeitos nEle. Teremos todas as coisas, se tivermos a Jesus. Quem tem Jesus; tem tudo.

  1. A BUSCA DO PRAZER COM SENTIDO.

Quando voltamos para Deus, pedindo que ele nos salve em nome de Jesus Cristo, acontece algo muito surpreendente.

Os mesmos prazeres que, no passado, não conseguiram nos satisfazer agora nos ajudam a encontrar uma alegria ainda maior na bondade de Deus.

Isso, evidentemente, não vale para prazeres loucos e pecaminosos, contra os quais somos alertados na Escritura. (Rm 13.13-14).

Como Moisés, somos chamados para sofrer pela causa de Cristo, em vez de “usufruir prazeres transitórios do pecado” (Hb 11.25).

  1. Prazer sagrado e legitimo.

Mas há um prazer sagrado e legítimo. Há, para o povo de Deus, UM PRAZER COM SENTIDO — um prazer que vem da alegria em Deus.

Isso jamais acontecerá se buscarmos o prazer como fim em si mesmo ou para nós mesmos ou se fizermos do prazer nossa principal paixão da vida.

Mas acontecerá se recebermos cada prazer como dádiva de Deus. ELE É O DEUS DO PRAZER, por isso, qualquer prazer legítimo que experimentamos é uma dádiva de sua bondade.

Assim, o pai de Salomão se regozijou nos prazeres de Deus. O rei Davi disse: “Na tua presença há plenitude de alegria, e na tua destra, delícias perpetuamente” (Si 16.11).

Isso é basicamente uma promessa sobre o céu, onde os prazeres de Deus duram para sempre. Mas podemos começar a desfrutar esse prazer neste momento.

Desfrutamos o prazer de Deus quando aceitamos o RISO como dádiva dele.

Não para zombar de outras pessoas ou fazendo piadas vulgares, mas rindo de nós mesmos e das nossas limitações, sabendo que, um dia, entraremos na alegria do nosso Mestre (veja Mt 25.21).

Desfrutamos o prazer de Deus quando projetamos boas casas e outros edifícios, contanto que os construamos para o bem de outras pessoas e para a glória de Deus (Ne 12.27-30), e não apenas para a nossa própria grandeza.

Desfrutamos o prazer de Deus quando fazemos uma caminhada pelo parque ou plantamos um lindo jardim.

Podemos ter o privilégio de visitar famosos jardins botânicos. Mas em cada parque e jardim, nossos olhos podem se deleitar com as cores da criação, e ver a beleza de Deus.

E há prazer em todas as outras coisas que Salomão menciona.

Há prazer no TRABALHO recompensador que é feito para a glória de Deus (Cl 3.23).

Há prazer no BANQUETE e na gratidão com ações de graças a Deus pela comida (1Tm 4.3-4).

Há prazer no DINHEIROque é ofertado no reino de Deus, com a garantia de um retorno eterno pelo nosso investimento (veja Mt 6.19-21).

Há prazer na MÚSICA que alegra o ouvido e direciona nossas emoções para a adoração de Deus.

Há prazer em RELAÇÕES SEXUAIS quando estas são compartilhadas da forma como o Criador as projetou.

Na década de 1960, quando as pessoas estavam defendendo a liberdade sexual irrestrita, a revista Time (logo ela) apresentou esta objeção:

“Quando o sexo é praticado apenas por prazer, ou apenas por ganho, ou até mesmo apenas para preencher um vazio na sociedade; ou na alma, ele se toma fugaz, impessoal e até decepcionante”.

Por outro lado, quando o sexo é dado a outra pessoa, e não feito para si mesmo, e quando ele é compartilhado exclusivamente entre um homem e uma mulher ligados um ao outro por uma aliança de AMOR VITALÍCIA, a relação sexual atinge seu prazer mais sublime.

Ninguém explicou esse princípio melhor do que Martinho Lutero, que disse:

“Se o Senhor deu a um homem uma esposa, ele deveria agarrar-se a ela e alegrar-se nela.

Se você quiser ultrapassar esses limites e acrescentar a essa dádiva que você tem no presente, você receberá tristeza no lugar de prazer”.

Deus não é um estraga-prazeres. Ele não está tentando tirar o nosso prazer, mas tentando dá-lo a nós.

Uma vez que aprendemos como encontrar nossa satisfação em Deus, então todas as suas outras dádivas se transformam em prazeres do melhor e mais verdadeiro tipo.

Felizmente, não precisamos ser tão ricos como Salomão para experimentar um PRAZER COM SENTIDO.

Precisamos apenas ver o que está no mundo ao nosso redor e saber que tudo isso nos vem como uma dádiva de Deus.

CONCLUSÃO

Um exemplo maravilhoso de conhecer o prazer de Deus vem do testemunho de uma mulher cristã muito pobre.

Seu nome foi esquecido há muito tempo, de forma que apenas Deus ainda o sabe, mas em algum momento do século 18 ela escreve as seguintes palavras:

Não me lembro de ter vivido tempos mais felizes na minha alma do que quando estive trabalhando, com nada diante de mim além de uma vela e um tecido branco, e ouvindo nada além da minha própria respiração, com Deus na minha alma e o céu nos meus olhos.

Eu regozijo por ser exatamente o que sou — uma criatura capaz de amar a Deus e que, assim como Deus vive, não tem opção senão ser feliz.

Eu me levanto e passo um tempo olhando pela janela. Contemplo a lua e as estrelas, a obra da mão Todo-Poderosa.

Penso na grandeza do universo e então me sento e imagino que sou um dos seres mais felizes dentro dele.

Você já experimentou esse tipo de satisfação? Como essa mulher piedosa, você também foi criado com a capacidade de ser um dos seres mais felizes do universo.

Mas você jamais encontrará essa satisfação se viver para o seu próprio prazer. Você só a encontrará se aprender a glorificar a Deus e a se alegrar nele para sempre.

[i]

[1]The Progress Paradox, com o subtítulo de How Life Gets Better While People Feel Worse [O paradoxo do progresso: como a vida melhora enquanto as pessoas se sentem piores].

[2]Tom Brady no programa 60 Minutes. Brady quando levou os New England patriots à  conquista de seu terceiro Super Bowl.

[i]Sermão adaptado do livro: Estudos bíblicos expositivos em Eclesiastes; Editora cultura: Philip G. Ryken.

Acesse os sermões na categoria: Sermões Expositivos.