Sermão Nº 10 – Graça sobre graça. Referência: Jonas 3:1-5. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 13/03/2019.

INTRODUÇÃO

Justo Gonzalez[1], em seu livro, Uma história ilustrada do cristianismo, conta que, no ano de 397, Ambrósio, um crente piedoso e governador da cidade de Milão. Ambrósio, foi a igreja onde seria realizada a eleição de um novo bispo, onde havia muitas disputas entre os concorrentes, e muitos eram adeptos do arianismo. Ambrósio pediu a palavra e exortou o povo com a eloquência que mais tarde o faria muito famoso. A medida que Ambrósio falava, o povo ouvia com muita atenção e interesse. Até que num dado momento, um menino gritou: “Ambrósio bispo”. Em seguida, todos do povo também clamaram, cada vez com mais força: “Ambrósio Bispo”! “Ambrósio bispo”! “Ambrósio bispo”. Esse clamor seria o fim da carreira política de Ambrósio, então ele sai correndo da igreja e foi até a prisão, onde mandou torturar vários presos, na esperança de manchar sua reputação. Mesmo assim o povo o queria com bispo. Então Ambrósio, se trancou em casa com várias prostitutas, esperando que o povo desistisse de o clamar como bispo. E quanto mais ele tentava fugir e manchar sua conduta moral, mas o povo estava convencido que Ambrósio deveria ser o Pastor. Então ele tentou fugir e esconder-se, mas em vão. Por fim o futuro mestre de Agostinho, teve que se render e concordou em ser o Pastor da Igreja de Milão.

As Escrituras e a história da igreja registram a relutância e temor de muitos que foram chamados ao ministério. Pessoalmente tenho uma história parecida, com a deles, onde a graça restauradora de Deus me alcançou. O terceiro capítulo de Jonas mostra como os propósitos graciosos de Deus sempre se realizam, mesmo que, muitas vezes, sigam um caminho que surpreende o observador humano. A experiência de Jonas comprova as palavras escritas muito mais tarde pelo apóstolo João: “Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça”. João 1:16.  A exposição de hoje, vai enfatizar a Graça do Senhor, a graça de Jonas e a graça de Nínive e a graça de hoje. Vejamos:

I. A GRAÇA DO SENHOR

  1. A graça que recomeça (v.1)

A graça do Senhor se revela pela primeira vez neste capítulo na segunda chance que Deus oferece a Jonas: “Veio a palavra do Senhor, SEGUNDA VEZ, a Jonas, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e proclama contra ela a mensagem que eu te digo” (Jn 3.1-2). Lembremos que Deus está repetindo pela SEGUNDA VEZ; com palavras bem semelhantes, outro chamado para pregar aos ninivitas, que Jonas havia rejeitado. Sem vontade de obedecer, ele fugiu para Jope, onde embarcou num navio a caminho do porto mais distante possível. Mas Deus interveio com uma grande tempestade, que ameaçava destruir o navio. Para salvar o navio, a tripulação lançou Jonas nas ondas. Mas, em vez de se afogar, Jonas foi engolido por um grande peixe ou por uma baleia que Deus enviara. Na barriga do peixe, Jonas reconheceu sua necessidade da mesma graça que ele não queria conceder a Nínive. O profeta se arrependeu e clamou a Deus, e o Senhor respondeu sua oração, levando-o em segurança de volta para a terra firme. Agora, Jonas é chamado pela segunda vez para o trabalho de Deus. Isso nos revela muito sobre a graça restauradora de Deus. A “graça perdoadora” de Deus esquece e jamais usa algo passado contra nós. Pense em como são maravilhosas as implicações deste fato para a nossa vida. Deus simplesmente não fica ressentido com aqueles que se humilham sinceramente e pedem seu perdão por meio de Jesus Cristo.

Jonas recebeu de Deus uma segunda chance, assim como o povo de Deus recebe muitas vezes uma segunda, terceira… décima, ou milésima chance quando ele se arrepende e clama ao Senhor. Abraão recebeu uma segunda chance quando parou pouco antes de alcançar a terra prometida, mas Deus o chamou novamente para que ele prosseguisse. Moisés recebeu uma segunda chance após matar um mestre de escravos egípcio, sendo forçado a fugir para o deserto. Como Simão Pedro, cujo perdão por negar a Jesus foi selado pela repetição de sua convocação inicial “segue-me”, Jonas é chamado novamente para ser o pregador na cidade de Nínive. Que sejamos encorajamentos pelas segundas chances que recebemos de Deus quando lidou com as nossas desobediências e com os nossos pecados, nos perdoando. Que saibamos aproveitar a dádiva de um novo começo que nos foi concedido misericordiosamente.

  1. A graça que restaura.

A vida cristã vitoriosa é uma série de recomeços. Quando caímos, o inimigo quer que acreditemos que nosso ministério chegou ao fim e que não há mais esperança de recuperação. Mas a segunda chance de Deus significa também que o Senhor estava determinado a realizar seu plano com seu servo. A libertação de Jonas por meio da barriga do grande peixe não era uma maneira de escapar do chamado de Deus para sua vida. Deus mesmo chamou Jonas para pregar em Ninive; portanto, a restauração de Jonas para a presença de Deus incluía também a restauração de seu chamado para servir. Que graça maravilhosa é essa que não só perdoou Jonas e o restaurou ao seu cargo diante do Senhor. Teria sido um caso muito notável de restauração graciosa e amor perdoador, se o Senhor tivesse simplesmente perdoado ao profeta arrependido de seu grande pecado de desobedecer à ordem de pregar e fugir da presença do Senhor. Mas ao levar Jonas ao arrependimento, Deus também o restaura em seu cargo, mostrando a abrangência do perdão, que anula toda a dívida. Deus age conosco como se nunca houvéssemos pecados. Deus perdoa e restaura seus servos. É para a glória de Deus que a nossa salvação vai além do perdão e abrange também a nossa restauração completa. Muitos cristãos erroneamente tratam aqueles que estiveram envolvidos em pecados públicos, como uma categoria inferior aqueles cujos pecados não se tornaram públicos. Qualquer ensinamento, teologia, eclesiologia (ensino denominacional), ou prática cristã que age assim, estão desmerecendo a graça de Deus, e desprezando o perdão que os alcançou.A graça perdoadora, em Cristo nos restaura para o nosso CHAMADO PERDIDO e para o nosso STATUS PERDIDO. Cada cristão que se volta para o Senhor procurando seu perdão do pecado encontra também o grande propósito e sentido para a sua vida, que havia perdido em seu caminho de pecado.

II. A GRAÇA DE JONAS.

  1. A graça que recebe.

Quando Jonas volta a receber o chamado de Deus para pregar em Nínive, ele parte como testemunha viva da graça do Senhor. Desse ponto de vista, percebemos que a rebelião de Jonas, e que foi castigada pelo Senhor, e que no fim serviu aos propósitos de Deus. Deus nunca pode ser culpado por nosso pecado. É loucura viver no pecado, pois vamos experimentar a justa ira de Deus sobre eles. Jonas pagou um alto preço por sua rebeldia contra o Senhor. No entanto, em seu plano soberano da graça, ele usa até as nossas tolices, como ocasiões para alcançar os propósitos de sua graça. Assim, quando Jonas recebeu seu segundo chamado para ir a Nínive, ele respondeu como um homem transformado pela graça. Outra maneira de dizer isso é observar que a MÃO DISCIPLINADORA DE DEUS na vida de seus filhos é guiada pelo seu propósito para as nossas vidas. A história de Jonas nos ensina como Deus cuida de nós e da nossa salvação ao corrigir a nossa perversão. Suas correções muitas vezes podem ser severas, mas sabemos que não há nada melhor para nós do que sermos humilhados debaixo da mão de Deus. Após ser transformado pela GRAÇA DISCIPLINADORA de Deus, Jonas está pronto para servir como instrumento para realizar o propósito de Deus pregando o evangelho. Podemos ver a mudança na vida de Jonas percebendo primeiro que agora ele conhecia a si mesmo como pecador que havia sido perdoado. Antes, Jonas se recusara a pregar em Nínive porque achava que pecadores dessa categoria não mereciam receber a graça de Deus. Mas que lição ele recebeu em alto mar! Como alguém que pecou e cujo pecado havia sido perdoado, Jonas não teve como recusar a missão de pregar com um “espírito de reverência” e “sentimento de obrigação e em gratidão”, e de submissão e obediência. Jonas não estava apenas preparado, mas ansioso para se envolver no serviço de seu mestre.

  1. A graça que reparte

Por que Jonas estava mais preparado para a missão de Deus quando se reconheceu como pecador perdoado? A resposta pode ser encontrada num pequeno detalhe do texto hebraico. No primeiro chamado de Jonas, Deus o instruiu a se levantar e ir para Nínive, para falar “CONTRA” a cidade (Jn 1.2) Mas, nesse segundo chamado, ocorre uma mudança pequena, mas significativa. Jonas é chamado para se levantar e ir à Nínive para pregar a mensagem de Deus “PARA”, ou “A” cidade (Jn 3.2). Em ambos os casos, Jonas iria para o mesmo lugar, para fazer a mesma coisa. Mas Deus preferiu que ele fosse com uma postura diferente: a de GRAÇA. Jonas deveria buscar de forma sincera o arrependimento e o perdão de Nínive, e para tanto ele precisava ver a si mesmo como homem arrependido e perdoado. Agora, Jonas podia chegar a Nínive e declarar: “Olhem para mim!” Perdão e restauração são possíveis até mesmo para aqueles que desobedecem e fogem de Deus. Deus quer que todos os seus servos aprendam a lição de Jonas. Essa é uma das lições que deveríamos aprender quando cairmos em pecado. Quando ele nos chama para o arrependimento, estamos prontos para servi-lo novamente na alegria de sua graça maravilhosa. Como diz John Newton: “Graça maravilhosa, quão doce canção / Que me diz vem descansar em meu Deus / Mui perdido andava, mas eu me encontrei / Era cego até que Jesus enxerguei / Eu era pobre e cego, mas agora posso ver.” Os corações que entoam essas palavras são os mais úteis para o evangelho neste mundo.

  1. A graça que obedece.

A mudança na vida de Jonas se reflete imediatamente em sua resposta ao chamado renovado de Deus. Na primeira vez em que Deus chamou Jonas para pregar contra a Nínive ímpia, o profeta fugiu da presença do Senhor. Mas, dessa vez, “Levantou-se, pois, Jonas e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor” (Jn 3.3). Sua GRATIDÃO pela graça de Deus se manifestou em uma nova OBEDIÊNCIA. A verdadeira aceitação do verdadeiro perdão preenche a alma, no mesmo instante, com submissão reverencial, provocando uma promessa e um voto que é um desejo ansioso e um compromisso leal de obedecer. O perdão alimenta o zelo do povo de Deus para servi-lo. A gratidão e a motivação da devoção. A alegria da obediência é a gratidão. Foi, quando o profeta Isaías compreendeu a profundidade de seu pecado e após o anjo tocar seus lábios com a brasa do altar expiatório, que ele respondeu ao chamado de Deus para servir, exclamando: “… eis-me aqui, envia-me a mim!” (Is 6.8). Nós experimentamos a mesma paixão pela proclamação do evangelho quando reconhecemos a verdade do nosso pecado e recebemos a graça perdoadora do Senhor.

  1. A graça que ora.

Jonas havia também sido transformado ainda de outra forma que determinou sua resposta ao chamado renovado de Deus. Agora, ele era um homem que havia ORADO e que havia sido ouvido por Deus. Jonas foi forçado a orar após ter passado algum tempo de agonia na barriga do grande peixe. E muitos de nós não levaremos a sério a oração, até sermos forçados a orar. Jonas experimentou o que significava depender totalmente da resposta de Deus à sua oração, para então descobrir que o Senhor é fiel a todos que clamam a ele em fé. É fácil subestimarmos o que significou para Jonas obedecer ao chamado do Senhor de ir para Nínive. Ele estava prestes a fazer uma longa e perigosa viagem para o centro do império mais violento daquele tempo. Deus descreveu Nínive como a “grande cidade”. E Jonas deveria pregar contra ela, “… porque a sua malícia subiu até mim“, como Deus disse (Jn 1.2). Jonas, desprotegido, estava prestes a entrar numa cidade cujos habitantes eram perversos e violentos; e ele tinha a missão de ameaçá-los em nome do Todo-poderoso com urna destruição rápida e completa. Era como se ele estivesse entrando na cova dos leões. Nada além de uma confiança implícita na presença, na fidelidade, no poder e na proteção de Deus poderia ajudá-lo a atravessar essa situação, na tranquilidade e coragem digna de um embaixador de Deus. Foi pela graça que Jonas obedeceu ao Senhor, uma graça que ele conheceu numa oração desesperada enquanto estava na barriga do grande peixe. E é isso que sempre acontece com os SERVOS MAIS PODEROSOS DE DEUS. A experiência da oração, juntamente com as respostas a essa oração, constitui um incentivo muito profundo para um compromisso com a obra do Senhor.

Um exemplo notável de quem aprendeu a santidade por meio da oração é Hudson Taylor, fundador da Missão no interior da China. No início de sua vida como cristão, Taylor DECIDIU COLOCAR À PROVA A FIDELIDADE DE DEUS EM ORAÇÃO. Ele orou por tudo, muitas vezes ignorando até MEIOS PRUDENTES de satisfazer suas necessidades. Quando seu patrão se esqueceu de pagar seu salário, Taylor não disse nada, apenas orou. Então, seu patrão se lembrou de seu erro e quitou suas dívidas com o jovem cristão. Mais tarde, Taylor admitiu que ele havia sido imaturo em sua abordagem, mas a lição que ele aprendeu como homem que sabia que suas orações eram ouvidas marcou todo o seu ministério. Acreditando que Deus o havia chamado para levar o evangelho para o interior da China, Taylor enfrentou uma tremenda oposição. Um pastor lhe perguntou como ele esperava chegar àquele lugar distante sem dinheiro. Taylor respondeu que ele não sabia. “Parecia provável”, ele escreve, “que eu precisaria fazer como os 12 e os 70 haviam feito na Judeia, indo sem carteira e sem dinheiro, dependendo daquele que havia me enviado para a satisfação das minhas necessidades”. Incapaz de encontrar uma sociedade missionária para apoiá-lo, Taylor concluiu: “Então, Deus, e somente Deus, é a minha esperança, e não preciso de outra”. A história relata que Hudson Taylor foi para a China e fundou a Missão no interior da China, uma grande sociedade missionária que chegou a alcançar milhões de pessoas com o evangelho de Cristo. Taylor era um homem de visão, coragem e amor. Mas acima de tudo era um homem que havia experimentado a fidelidade de Deus nas respostas às orações. Seu filho Howard Taylor disse sobre seu pai que, durante 40 anos, o sol não se levantou sobre a China sem que Deus encontrasse Hudson Taylor de joelhos.

  1. A graça que é fiel.

Um aspecto da obediência de Jonas ao Senhor deve ser observado com atenção especial por todos que são chamados para ensinar e pregar a Palavra de Deus. Jonas 3.3 nos conta que “Levantou-se, pois, Jonas e foi a Nínive, SEGUNDO A PALAVRA DO SENHOR”. Em outras palavras: sua obediência era definida por sua fidelidade à ordem da Palavra de Deus. A mensagem que Jonas pregou em Nínive era a mensagem que Deus lhe dera. O mesmo vale para todos que proclamam a mensagem de Deus. O pregador não deve inventar seu próprio sermão, muito menos adequar sua pregação para agradar aos caprichos de seus ouvintes. A tarefa e o privilégio do pregador é declarar, da forma mais clara e poderosa possível, segundo a graça capacitadora de Deus, a verdade revelada na Bíblia.J. I. Packer escreve que o servo fiel de Deus deve “ter o cuidado de deixar claro que aquilo que ele tem a oferecer não é ideia dele, mas a mensagem de Deus do livro de Deus […], permitindo que o texto fale por meio dele”.” Como observou o apóstolo João: “… o enviado de Deus fala as palavras dele” (Jo 3.34).

  1. A graça que sofre.

Existe ainda outro aspecto importante que devemos observar em relação a como a graça de Deus havia transformado Jonas. Por meio das provações causadas por seu próprio pecado, ele era um homem que conhecera a aflição e encontrara a bênção de Deus. Nunca devemos glamourizar a reprimenda de Deus, e podemos ter certeza de que as aflições de Jonas na barriga do peixe eram realmente muito grandes. No entanto, foi por meio dessas aflições que ele foi abençoado. Antes de sofrer suas aflições, ele se desviou; mas agora ele cumprirá a palavra de Deus. Castigado e Repreendido tornou-se submisso, de espírito meigo e tranquilo, convencido de que nenhum artificio do homem pode enfrentar a forte mão do Altíssimo.Ele retornou para o Senhor com uma disposição de oferecer obediência implícita e incondicional a tudo que a Palavra de Deus lhe falasse. Como o salmista realmente ele pôde dizer: “Eu cria, ainda que disse: Até que estive sobremodo aflito”. O efeito da experiência de aflições de Jonas e a mudança causada nele pela GRAÇA DE DEUS foram além de uma mera obediência; transmitiram-lhe uma ousadia sagrada para a obra de Deus.

Não conseguimos nos imaginar andando por todos os bairros de uma das nossas grandes cidades de hoje, pelas favelas, pelas praças e pelos parques — exclamando uma mensagem como a de Jonas: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4). Dificilmente poderíamos esperar uma reação senão rejeição, desdém, zombaria e, possivelmente, abuso pelas autoridades. Quanta ousadia Jonas precisou ter para pregar dessa forma ao atravessar durante três dias a “cidade muito grande” de Nínive! Mas ele havia conhecido a realidade do poder de Deus e a tenacidade dos propósitos divinos. Ele havia sofrido grande aflição sob a mão de Deus e havia experimentado a grande bênção da graça de Deus. Agora, a grandeza da cidade já não o impressiona mais, antes segue resolutamente para onde o Senhor o guia. Vemos, então, que a fé, quando ela cresce em nosso coração através das aflições; supera todos os obstáculos e despreza toda a grandeza do mundo. Os desígnios da provação são moldados por Deus para seu propósito em nossa vida, preparando-nos para uma consciência maior do perdão. Por meio de uma experiência intensa da oração respondida e por meio de profundas aflições que terminam na bênção do Senhor para o bem do evangelho da graça no mundo.

III. A GRAÇA DE NÍNIVE.

No próximo sermão, refletiremos sobre o reavivamento notável que ocorreu numa das maiores e mais vis cidades do mundo dos dias de Jonas. Mas, enquanto refletimos ainda sobre a graça de Deus para Jonas, devemos observar também a GRAÇA DE DEUS POR MEIO DA PREGAÇÃO de Jonas em Nínive.

  1. A graça que avisa.

Por fim, Jonas chegou à grande cidade e começou a pregar: “Ainda quarenta dias, e Ninive será subvertida” (Jn 3.4). Isso era um aviso do julgamento de Deus, de acordo com as instruções que Deus lhe dera. Isso pode não parecer uma mensagem muito graciosa, até percebermos a bênção contida nessa advertência. Os avisos de julgamento são evidências da misericórdia de Deus, pois ele não quer que alguém pereça. Ao mesmo tempo que devemos fazer uma distinção cuidadosa entre a lei e o evangelho. Isto é, entre as exigências “justas da lei de Deus” e sua “promessa da salvação”, devemos reconhecer também que “a mensagem do juízo de Deus é, em si, evangelística. Trata-se de uma evidência da graça e da misericórdia de Deus, uma advertência aos homens daquilo que os espera se não se arrependerem. É aqui que começa a GRAÇA DO EVANGELHO, com avisos do julgamento certo de Deus para o pecado. Sempre existe o grande perigo de os cristãos estarem tão preocupados em “conquistar” seus ouvintes que acabam não falando da realidade desagradável do juízo para o qual o evangelho é a resposta.

Martyn Lloyd-Jones escreve:

“A essência do evangelismo é começar pregando a lei; e é porque a lei não tem sido pregada que hoje temos um evangelismo tão superficial. […] Então, o evangelismo precisa começar com a santidade de Deus, a pecaminosidade do homem, as exigências da lei, o castigo estabelecido pela lei e as consequências eternas do mal. Apenas o homem que reconhece sua culpa corre em direção a Cristo para nele encontrar libertação e redenção”.

  1. A graça que prega.

Se, em Nínive, a graça de Deus começou com a lei, onde, então, estava o evangelho? A resposta é que o próprio Jonas representava o evangelho; ELE ERA O SERMÃO VIVO sobre a graça de Deus que traz a vida aos mortos e liberta os pecadores da condenação justa. Muitos de nós não ver as obras poderosas de Deus, pois vemos as coisas de uma perspectiva estritamente humana. Assim, não esperamos que nosso testemunho seja abençoado com a salvação de um vizinho ou amigo, e não imaginamos que Deus possa usar nossa igreja para alcançar grandes multidões. Essa VISÃO LIMITADA DA GRAÇA DE DEUS não esperaria muito da missão de Jonas em Nínive. Mas como estaria errada. Pois Deus enviou Jonas para Nínive, e os propósitos de Deus recebem o poder de Deus. Por isso, lemos no início de um dos maiores reavivamentos da história: “Os ninivitas creram em Deus” (Jn 3.5). Assim que Jonas começou a pregar, as pessoas começaram a crer e a se arrepender. O texto nos diz que eles não só acreditaram em Jonas, mas também que “creram em Deus”.

Não foi o poder do argumento apresentado pelo profeta que tocou as pessoas. Foi o poder da verdade de Deus que entrou em seus corações. Nunca podemos depender da nossa própria capacidade de persuasão como uma maneira de salvar pecadores. Nunca espere até ter confiança em si mesmo para falar em nome de Cristo. É Deus e é a sua verdade em que as pessoas creem. Você precisa ser apenas o instrumento. Quando Deus envia sua mensagem de graça, ele a envia para salvar. Por isso, precisamos ORAR pedindo a misericórdia de Deus para aqueles aos quais testemunhamos e pregamos, crendo que nada é grande ou difícil demais para o poder todo-poderoso de Deus que opera por meio de seu evangelho.

  1. A graça que reage.

Além do mais, observamos que Deus deu aos ninivitas a graça de reagir à mensagem de Jonas: “… proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor” (Jn 3.5). Essa era a reação apropriada à mensagem de Jonas, assim como a confissão dos pecados e o luto por causa da nossa culpa sempre são também um sinal de que o evangelho de Deus foi aceito. O arrependimento, como a fé, é um dom de Deus (Ef 2.9), e até mesmo o pecador mais endurecido se humilhará diante do Senhor quando a LEI E O EVANGELHO o tocarem com o poder da graça de Deus. Pedro disse que Jesus foi exaltado “… a fim de conceder […] o arrependimento” (At 5.31), e o livro de Atos acrescenta que, por meio do evangelho, Deus tem “… concedido o arrependimento para vida” (At 11.18).

CONCLUSÃO

Por fim, devemos observar a semelhança entre o ministério de Jonas em Nínive e o ministério de Jesus no mundo. Como Jonas, Jesus foi enviado pelo Pai com uma mensagem de advertência e salvação para o mundo. Jesus disse sobre si mesmo: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). E como finalmente Jonas o fez, Jesus também obedeceu à ordem de Deus e fielmente pregou a mensagem do céu. E como o profeta, Jesus se manifestou no poder de Deus, de forma que até mesmo os pecadores mais improváveis e mais endurecidos responderam com arrependimento, crendo pela graça de Deus quando ele falou por meio do evangelho testemunhado. A situação do nosso mundo não é nem um pouco diferente da situação de Nínive. O chamado de advertência e o convite ainda nos alcançam hoje. Jonas deu a Nínive um aviso com um tempo específico de resposta: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4). Nas Escrituras, o número 40 é muito usado em TEMPOS DE PREPARAÇÃO OU ADVERTÊNCIA. A chuva do dilúvio de Noé caiu durante 40 dias, e Israel foi tentado durante 40 dias enquanto Moisés se encontrava com Deus na montanha. O exemplo mais notável é de Jesus que foi tentado durante 40 dias pelo diabo no deserto. Quarenta dias significam, portanto, um tempo limitado estabelecido por Deus antes de sua vinda em juízo ou graça. O mesmo vale hoje. A Palavra do Senhor veio para o mundo ímpio em que vivemos. O tempo foi estabelecido por Deus, com uma oportunidade limitada para a graça, após a qual virá o julgamento. O dia do juízo pode ser amanhã ou mais tarde, mas ele virá com certeza no tempo estabelecido por Deus. Jesus veio no poder de sua morte e ressurreição, e, se você crer, a graça maravilhosa de Deus virá para restaurá-lo, transformá-lo e então usá-lo para levar sua mensagem da graça aos outros no mundo. “Todos recebemos da sua plenitude, GRAÇA SOBRE GRAÇA”. João 1:16

[1] Justo Gonzalez, Uma história ilustrada do Cristianismo, a era dos mártires. V2 (São Paulo: Vida Nova, 1991), pp. 139-146.