Sermão Nº 11 – A graça do arrependimento. Referência: Jonas 3:5-10. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 20/03/2019.

INTRODUÇÃO

De todos os grandes reavivamentos na História, poucos se comparam ao arrependimento em massa da antiga Nínive. Uma cidade tão grande e orgulhosa repentinamente lançada na mais profunda humilhação, desde os maiores de seus habitantes até os menores — desde o rei no trono até o cidadão mais pervertido —, é um espetáculo para o qual, creio eu, a história não oferece paralelo. Muitas vezes, cidades, países e comunidades se dedicaram, com quase unanimidade, à humilhação e ao jejum. Mas não sabemos de nenhum evento que se compare ao jejum e ao arrependimento de Nínive. Esse grande reavivamento ocorreu por meio da pregação de um homem, o profeta Jonas. E, como sempre em reavivamentos, este também começou com o reavivamento do mensageiro. Reavivamentos começam com o arrependimento e a renovação da fé da igreja, assim como o arrependimento de Nínive começou com a contrição e a renovação espiritual de Jonas. Observando a gênese dessa obra na experiência do próprio Jonas, percebemos que todo o reavivamento é um ato poderoso de Deus em sua misericórdia. Como orou o profeta Habacuque:  “Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. (Hb 3:2).Segundo o Senhor Jesus Cristo, esse evento se destaca em toda a história como sinal e testemunho contra a pobreza da nossa obediência ao Senhor. Esse avivamento revela as nossas expectativas baixas relacionadas ao sucesso do evangelho em nosso próprio tempo (Lc 11.30-32). Onde pregamos e as pessoas não querem ouvir e obedecer ao evangelho.

I. O ARREPENDIMENTO DE NÍNIVE.

Jonas havia obedecido ao chamado de Deus para pregar em Nínive, proclamando por toda a cidade: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4). Para a surpresa da história, os ninivitas ímpios não reagiram com violência contra o profeta, nem mesmo com indiferença desdenhosa ao seu chamado. Em vez disso, representaram um dos exemplos clássicos de arrependimento coletivo, quando toda uma sociedade abandona o pecado e clama ao Senhor. Uma definição bíblica do verdadeiro arrependimento inclui pelo menos três elementos vitais, e cada um deles está presente no caso de Nínive.

1. O arrependimento é um luto em tristeza por causa do pecado. Vemos isso nos ninivitas, pois eles “… proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor” (Jn 3.5). O arrependimento falso lamenta apenas as consequências do pecado; as pessoas lamentam não o fato de terem pecado, mas o de terem sido pegas. O arrependimento verdadeiro lamenta o pecado em si. Os ninivitas se desesperaram na condenação de seu pecado e da ofensa contra o Deus de Jonas. Reconhecemos o arrependimento dos ninivitas em três aspectos.

(a) “proclamaram um jejum”. Na Bíblia, o jejum serve a diferentes propósitos, um dos quais é a expressão pública de penitência. É interessante que, nesse caso, até os animais foram obrigados a jejuar. O rei decretou: “Por mandado do rei e seus grandes, nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem os levem ao pasto, nem bebam água” (Jn 3.7). O rei pode estar pretendendo mostrar a Deus o arrependimento total de sua sociedade. Além do mais, a falta de comida e de água levaria os animais a grunhirem e rugirem, aumentando assim a INTENSIDADE E SERIEDADE do arrependimento da cidade.

(b) A tristeza dos ninivitas se expressou no uso de panos de saco, “desde o maior até o menor” (Jn 3.5).

Pano de saco era um tecido áspero e duro usado para fabricar sacos, e normalmente apenas os mais pobres o usavam como tecido para suas roupas. Assim como o jejum, o pano de saco expressava LAMENTO, LUTO E HUMILHAÇÃO.

(c) O rei de Nínive serviu como exemplo para os seus súditos, sentando-se sobre cinzas. Quando ele ouviu a pregação de Jonas, “… ele levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre cinza” (Jn 3.6). Despir-se de suas roupas ricas e caras, trocá-las por pano de saco e então sentar-se sobre cinzas era a manifestação pública mais evidente de humilhação. Inevitavelmente, as pessoas se perguntam se expressões públicas como jejuar, usar pano de saco e sentar-se sobre cinzas são apropriadas hoje em dia. A resposta depende da SINCERIDADE DESSES ATOS; onde houver uma convicção sincera diante do Senhor, como é o caso do texto, expressões PÚBLICAS E CÍVICAS de arrependimento podem ser bastante apropriadas. Quando uma nação perde uma grande batalha em uma guerra, por exemplo, expressões de luto público podem ser uma maneira legítima de expressar o desejo de favor e misericórdia divinos. Mas Jesus nos adverte contra as manifestações públicas HIPÓCRITAS “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles” (Mt 6.1). O jejum deve ser uma maneira útil de estimular a oração e purificar a alma, mas apenas quando acompanhado pela realidade interior correspondente. Calvino comenta que: “Precisamos ter em mente que essas coisas são apresentadas são apenas sinais externos de arrependimento, mas que, se forem falsos eles vão provocar nada além do que a ira de Deus”? Todos esses atos dos ninivitas expressavam o arrependimento em termos de luto por causa de seu pecado.

2. O arrependimento exige também a renúncia ao pecado.

J. I. Packer escreve: “O arrependimento é uma mudança nos pensamentos que provoca uma mudança na vida”. Vemos isso na proclamação do rei: “… e se converterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos” (Jn 3.8). Nínive era conhecida por sua violência, e aqui o rei reconhece o mal de seu caminho e chama o povo para repudiar seu pecado principal. O arrependimento, leva o pecador a odiar aquilo que ele mais amava, que era o pecado. Todo arrependimento sincero, implica no abandono da pratica pecaminosa. A pessoa vem a Cristo, como está, mas não permanece como está. Onde o pecado não é abandonado, não há evidencia de conversão. Pois onde não há evidencia de santificação, não há prova de conversão.

3. O arrependimento culmina num retorno para Deus em fé renovada. Assim, o rei de Nínive decretou: “… clamarão fortemente a Deus” (Jn 3.8). Ele estava convocando seu povo para que orasse pedindo misericórdia ao Deus de Jonas. Em toda a Bíblia, encontramos pecadores arrependidos que se voltam para Deus em oração e descobrem sua graça. A oração de Salomão por ocasião da dedicação de seu templo estabelece um princípio para todos nós:

Quando pecarem contra ti (pois não há homem que não peque), e tu te indignares contra eles […], caírem em si, e se converterem, e […] te suplicarem […], […] ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, a sua prece e a sua súplica e faze-lhes justiça, perdoa o teu povo, que houver pecado contra ti, todas as suas transgressões que houverem cometido contra ti (1Rs 8.46-47,49-50).

É provável que os ninivitas não conhecessem a oração de Salomão; tampouco podiam clamar a Deus como seu povo da aliança. Mas eles entenderam o bastante para se arrependerem, após ouvirem o aviso do julgamento iminente de Jonas. Quanto mais deveríamos nós, os cristãos, que sabemos mais que os ninivitas e até mesmo mais que Jonas; pelo fato de conhecermos a graça de Deus no sangue de Cristo, voltar-nos voluntária e ansiosamente para Deus em busca de sua misericórdia. O apóstolo João nos deu uma grande garantia de sucesso quando escreveu: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).

II. A GRAÇA DO ARREPENDIMENTO

O arrependimento é verdadeiramente um evento extraordinário e, do ponto de vista humano, totalmente inesperado, assim como foi com Nínive. Como podemos explicar esse arrependimento sem precedente que aconteceu com os Ninivitas e que acontece conosco?

  1. O arrependimento é sempre fruto da fé na Palavra de Deus (v.5).

Encontramos a primeira resposta nas palavras iniciais de Jonas 3.5: “Os ninivitas creram em Deus”. Isso nos mostra que o arrependimento é sempre o primeiro fruto da fé na Palavra de Deus. Eles se arrependeram porque acreditaram na mensagem pregada por Jonas. O apostolo Paulo afirma: A fé vem pelo ouvir e ouvir a pregação da Palavra de Deus (Rm 10.17). A pregação de Jonas continha uma exposição mais completa da advertência de que, em quarenta dias, a cidade seria destruída. Sem dúvida alguma, ele proclamou as razões de seu julgamento iminente, que é a SANTIDADE DE DEUS, que os ameaçava. Eles creram na pregação de Jonas, a fé os levou ao arrependimento que se seguiu. Mas eles não somente se arrependeram apenas porque acreditaram na palavra de julgamento. Eles também creram que Deus poderia ter misericórdia deles caso abandonassem seus pecados. O rei de Nínive perguntou:  “Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jn 3.9). Essa esperança foi essencial para a mudança de seus corações; o arrependimento verdadeiro nunca se baseia apenas na LEI DE DEUS, mas também na esperança do EVANGELHO. O arrependimento verdadeiro é o arrependimento do evangelho; ele é provocado não só pelo medo da ira, mas também pela esperança da graça. Paulo diz: “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente”. (Tt 2.11-12). Foi a esperança da salvação que gerou o arrependimento de Nínive. Ninguém pode se submeter a Deus por vontade própria, a não ser que tenha conhecido antes sua bondade e nutrido uma esperança de salvação. Pois aquele que é tocado somente pelo medo evita a presença de Deus; então, prevalece o desespero, ao qual segue a perversão.

  1. O arrependimento se agarra à misericórdia de Deus (v.9).

Veja como Nínive se agarrou a misericórdia de Deus. Mas de onde os ninivitas teriam tirado qualquer noção da misericórdia de Deus? Duas fontes se oferecem.

(a) A oferta de misericórdia está implícita na advertência de Jonas.

Quando a companhia de energia avisa que sua eletricidade será cortada se você não pagar a conta, a advertência dá a entender que, se você pagar a conta, a ameaça não se realizará. Semelhantemente, os ninivitas reconheceram uma esperança no fato de Deus lhes oferecer uma advertência. Compare a situação dessa cidade com a de Sodoma. Nenhum mensageiro de Deus andou pelas ruas de Sodoma, alertando seus residentes de que o fogo dos céus iria destruir sua cidade. Por que, então, Nínive teve o privilégio de receber uma advertência que foi negada a Sodoma? A razão evidente é que o propósito de Deus era poupá-la por meio da fé em sua mensagem. Deveríamos ver todas ameaças de julgamento na Bíblia dessa perspectiva. Por que, afinal de contas, Deus adverte que “… o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a)? Evidentemente, para atrair-nos para “… o dom gratuito de Deus [que] é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23b). Pedro advertiu: “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados” (2Pe 3.10). O que ele quis dizer com isso: “Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade” (2Pe 3.11).

Além de se agarrarem à misericórdia contida implicitamente na advertência de Jonas, a fé dos ninivitas deve ter se alimentado também do próprio Jonas. Aqui nos lembramos do ensinamento de Jesus segundo o qual Jonas “… foi sinal para os ninivitas” (Lc 11.30). Isso parece sugerir que os ninivitas conheceram a história maravilhosa de Jonas. Eles sabiam que ele havia desobedecido a Deus e que sua fuga da presença de Deus o levara para sua morte aparente no mar. Devem ter sido informados também de que, mesmo assim, Jonas foi poupado pela misericórdia de Deus, passando por um tipo de ressurreição na barriga do grande peixe. A presença de um pecador remido como Jonas deve ter encorajado o rei a buscar a misericórdia de Deus também para o seu povo. Se o ressurgimento de Jonas de dentro da barriga do grande peixe incentivou o arrependimento esperançoso dos ninivitas, quanto mais deveríamos nós ser incentivados pela ressurreição de Jesus Cristo. Como disse Jesus: “[Os ninivitas] se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Mt 12.41). Jesus foi para o túmulo não pelos seus próprios pecados, mas pelos nossos. Portanto, sua ressurreição oferece a esperança de uma vida nova suficiente para nos persuadir a confiarmos nele e a nos arrependermos. A visão do Jesus ressurreto e exaltado na glória nos proclama a aceitação de sua morte expiatória por Deus e nos assegura da misericórdia de Deus para os pecadores que humildemente buscam seu perdão. O arrependimento de Nínive se fundamentava, então, em sua crença em Deus e na mensagem de seu servo. Isso nos leva a uma segunda fonte de seu arrependimento, isto é, a graça de Deus.

(b) O arrependimento é obra da graça de Deus.

O arrependimento em massa da metrópole mais vil do mundo antigo foi claramente produto da obra sobrenatural de Deus. Não existe outra explicação para esse evento notável. Quem esperaria que a chegada de um profeta todo esfarrapado no centro do paganismo violento e arrogante provocaria a reação que Jonas provocou? No entanto, esse homem levou a cair de joelhos a capital desse império sanguinário simplesmente por meio da mensagem que ele pregou! Como isso aconteceu? Isso ocorreu pelo trabalho secreto do Espírito de Deus, por meio da Palavra de Deus que Jonas pregou. Nosso arrependimento também precisa ser possibilitado pela graça do Senhor. Não é fácil para nenhum homem ou mulher se arrepender. Precisamos orar quando desejamos uma mudança radical na vida de uma pessoa que amamos. Quando se trata de nosso próprio arrependimento, devemos curvar nosso coração perante o Deus da graça e implorar para que ele opere aquilo que nosso próprio coração não consegue fazer. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável”, orou o rei Davi (Sl. 51.10). Deus responderá a essa oração feita em fé confiante. O arrependimento, como também a salvação, ocorre por meio da graça e da fé no poder do Espírito Santo, por meio da pregação da Palavra de Deus.

  1. O arrependimento é uma necessidade urgente.

Que bênção é o arrependimento! Muitas vezes, tanto cristãos como não cristãos veem o arrependimento como tema desagradável, independentemente de o quanto a Bíblia diz que ele seja necessário. No entanto, é por meio do arrependimento que muitas das maiores bênçãos de Deus entram em nossa vida. Veja a importância graciosa das nossas JORNADAS DE JEJUM E ORAÇÃO aqui na nossa igreja. Se cada um de nós fizessem um balanço de seus pecados habituais e implorasse a Deus em ORAÇÃO E JEJUM PERSISTENTE, confiando no poder de sua graça, então imagine a liberdade que ganharíamos vencendo um único hábito pecaminoso, isso revolucionaria nossa vida. Se estudássemos passagens como a lista de Paulo do fruto do Espírito (Gl 5.22-23), encontrando lá o defeito mais óbvio do nosso caráter, e então procurássemos com sinceridade a graça de Deus para o arrependimento, a mudança em nosso estilo de vida traria bênçãos inimagináveis para os nossos lares, casamentos, igrejas e outros relacionamentos. Sabendo então da importância do arrependimento, entendemos por que o rei de Nínive merece tanto louvor. Aqueles em posições de autoridade na sociedade, na igreja ou nos lares não têm tarefa mais nobre do que liderar seu povo em arrependimento sincero. Semelhantemente, não existe maldição maior para qualquer povo do que ser regido por aqueles que tratam levianamente do pecado. Que zombam das advertências da Palavra de Deus e que endurecem não só seu próprio coração, mas também o coração de seu povo contra Deus. Ao servir como exemplo de contrição humilde — levantando-se de seu trono, despindo-se de suas roupas reais, cobrindo-se com pano de saco e sentando-se sobre as cinzas —, o rei de Nínive prestou o melhor serviço ao bem-estar de seu povo. Que nós busquemos líderes desse tipo para nós mesmos, implorando a Deus que ele os providencie.

III. O ARREPENDIMENTO DE DEUS

O capítulo três fecha com o mais forte encorajamento para o arrependimento, pois nos conta da resposta de Deus à humilhação de Nínive. Quando o povo ímpio se arrependeu de seu pecado, Deus se arrependeu de seus planos para destruir a cidade: “Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez” (Jn 3.10).

  1. Deus deseja ver o arrependimento.

Primeiro, observe o que Deus deseja ver: “viu como se converteram do seu mau caminho”. Deus não queria ver somente cerimônias externas. Deus compadeceu-se não porque simplesmente observou que eles não comiam ou bebiam durante certo tempo ou se vestiram com roupas baratas no lugar de seus vestimentos luxuosos habituais. Não foi por causa do sacrifício de animais ou dinheiro feitos num esforço de conquistar o favor de Deus. Foi porque eles se arrependeram: os corações se converteram dos seus maus caminhos. E por isso evidenciaram frutos de arrependimento. Deus deseja o mesmo de nós. Podemos ir à igreja e adorá-lo. Podemos recitar liturgias de arrependimento. Podemos oferecer cânticos cristocêntricos e fervorosos de louvor. Podemos depositar grandes quantias de dinheiro nos cofres da igreja. Podemos nos tornar peritos em teologia. Podemos ter a teologia mais ortodoxa. Podemos ter a melhor confissão de fé. Podemos ter o culto mais bíblico.Mas o que Deus realmente deseja ver é uma conversão sincera dos nossos pecados como resultado de nossa crença em sua lei e em seu evangelho. E isto é de fato visivelmente demonstrado pelo estilo de vida santa que levamos e pelos frutos que produzimos. Onde nosso estilo de vida expressa que lamentamos sinceramente a maldade de nossos pecados; porque nos entregamos à misericórdia de Deus em Jesus Cristo. Foi por isso que Jesus começou seu ministério de pregação com este chama-do: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17). A perversão de Nínive era grande e sua culpa se empilhava como as pirâmides de crânios que seus regentes conquistadores gostavam de construir.Quando ela se arrependeu, Deus mudou seu julgamento. Isso nos mostra que Deus pode perdoar a qualquer um que crê e se arrepende. Calvino escreve: “Daí aprendemos por que Deus nos incentiva diariamente para o arrependimento, e ele o faz porque deseja se reconciliar conosco; para que nós sejamos reconciliados com ele”.

  1. Como Deus se arrepende.

Algumas traduções de Jonas 3.10 afirmam que Deus “se arrependeu” de seu julgamento. Isso tem levado alguns a questionarem a onisciência de Deus, como se ele tivesse errado ao julgá-los anteriormente; ou a imutabilidade de Deus, isto é, o fato de ele não mudar, visto que ele aparenta ter mudado de opinião. Existem várias respostas a essas alegações. Uma é que Deus adapta a sua Palavra à nossa compreensão. Como a Bíblia atribui a fisicalidade humana a Deus, falando da “mão do Senhor” ou dos “ouvidos do Senhor”, assim a Escritura atribui também o raciocínio humano a Deus quando fala que ele “se arrependeu”. Na verdade, quando dizemos que Deus muda de opinião, estamos vemos tudo da perspectiva humana. Nós temos a impressão de que ocorreu uma mudança em Deus, mas o que realmente mudou é a nossa conduta humana.

Fato é que, quando Deus “se arrepende” de seu juízo, Ele não está manifestando sua MUTABILIDADE (como se ele fosse multável, e ele não é), pelo contraio ele está manifestando a sua consistência na sua FIDELIDADE que não falha. Veja a explicação de um comentarista[1]:  “Era uma Nínive perversa, violenta, injusta, ateia, orgulhosa e luxuriosa que Deus ameaçara destruir. Uma cidade sentada sobre cinzas em pano de saco, humilhada de forma mais profunda e apelando e suplicando pela sua condição miserável — uma Nínive assim —, essa Ninive ele nunca havia ameaçado. Essa Nínive ele não destruiria. Ele nunca disse que faria isso.”

É exatamente pelo fato de Deus ser IMUTÁVEL que somos encorajados a nos arrepender. Deus é INERRANTE tanto em sua ira contra o pecado quanto em sua misericórdia diante do arrependimento fiel. Não há mudança alteração em sua oposição à maldade; assim, somos constantemente chamados para o arrependimento dos nossos pecados. Não há alteração em sua alegria de receber pecadores que recorrem ao nome do Senhor e procuram sua misericórdia por meio da fé em sua Palavra.

  1. Porque Deus perdoa os ímpios.

Podemos nos perguntamos: “Como Deus pôde perdoar uma cidade tão má? Como Deus pôde ignorar seus muitos pecados graves, recusando-se a vingar o sangue de suas inúmeras vítimas?”. Mas poderíamos fazer essa mesma pergunta em relação a nós mesmos: “Como Deus pôde perdoar as coisas que eu fiz? Como ele pôde ignorar as blasfêmias que o desonraram, o sofrimento e a dor que causei a outras pessoas?”. A resposta se encontra na palavra hebraica usada para descrever o arrependimento de Deus. A palavra “shubh” que descreve o arrependimento de Nínive: significa a conversão do mal para o bem. Mas outra palavra é usada para descrever o arrependimento de Deus, já que Deus não possui mal do qual poderia se arrepender. Aqui, é a palavra “nacham” que denota um sofrimento interior. A melhor tradução seria talvez “sentir a dor”. A resposta à pergunta “como Deus pode perdoar o pecado?” É encontrada na cruz de Jesus Cristo. Deus sofre literalmente ao se arrepender de julgar os nossos pecados; ele sofreu na cruz de Jesus Cristo. Deus toma sobre si o mal que era o salário do pecado do homem. Ele sofre o sofrimento que, em sua justiça, ELE deveria ter imposto ao homem. Deus faz com que seu julgamento recaia sobre ele mesmo. Este é exatamente o significado de seu arrependimento.  Deus depositou todo o mal daqueles que se voltam para ele sobre a cruz de Cristo. Para que ELE pudesse se arrepender em justiça de sua santa obrigação de nos condenar. E tudo isso por causa da “graça misericordiosa” pela qual ele nos chama para a “fé e para o arrependimento”.

IV. O TESTEMUNHO DE NÍNIVE

Nosso mundo precisa hoje de muitos profetas como Jonas, com a consciência renovada da graça de Deus em sua própria vida, que proclamem ao mundo a mesma mensagem da graça. Deus precisa julgar, e julgará, a perversão do nosso mundo. Deus recompensará nossos pecados com o fogo de sua ira. Mas ele enviou seu próprio Filho para tomar sobre si os pecados daqueles que creem. Essa é a mensagem que precisa ser pregada nos púlpitos cristãos e esse é o testemunho que as vidas cristãs precisam dar. Nesse sentido, o ministério de Jonas serve como encorajamento eterno para pregar o evangelho de Cristo. Mas a reação dos ninivitas também serve como testemunho eterno. Seu arrependimento e o recuo do juízo de Deus servem como testemunho da graça de Deus para todos que se humilham em fé. Jesus disse: “… assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, o Filho do Homem o será para esta geração” (Lc 11.30). Jesus oferece perdão a todos que creem, se arrependem e buscam sua graça salvífica. Mas contra todos que recusam a oferta da misericórdia de Deus, que endurecem seus corações orgulhosos contra o evangelho da salvação, não é só Jesus que testificará no dia do juízo. Pois, ele acrescenta, os “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Lc 11.32).

CONCLUSÃO

Nosso mundo precisa hoje de muitos profetas como Jonas, com a consciência renovada da graça de Deus em sua própria vida, que proclamem ao mundo a mesma mensagem da graça. Precisamos de mover de Deus, que traga um verdadeiro arrependimento no meio do seu povo. Estou falando de despertamento verdadeiro. Não de um louvorzão eletrizante. Não me refiro ao crescimento no entendimento teológico. Nem uma reforma na liturgia, nem uma volta aos escritos dos reformadores. Me refiro ao um mover do Espirito, que produza mudança de vida. Que os crentes sejam mais quebrantados, mais piedosos, mas santos, mais humildes, mais amorosos. Infelizmente nossa geração tem produzido frutos que são o oposto disso. Que Deus, nos conceda o verdadeiro arrependimento para a vida.

[1] Hugh Martin.