Série de sermões expositivos sobre o livro de Ester. Sermão Nº 02 –  A Bela e a Fera. Ester 2:1-23. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 30/09/2020.

INTRODUÇÃO

A famosa fábula francesa, “A bela e a Fera, escrito originalmente em 1740, que inspirou o teatro e o cinema.

Conta a história de um príncipe, que curiosamente se chamava Adam, que era rico, cruel, orgulhoso e egoísta, e que foi transformado, numa fera como punição pela sua frieza.

Essa maldição só poderia ser quebrada se algum dia ele fosse amado. Seria algo improvável; uma fera indomável, sendo conquistada por uma linda e simples donzela, de uma pequena vila, que adorava ler e cantar, e que dá sua vida para salvar seu pai do castelo da fera.

John Macartur, diz que havia se passado 4 anos, desde os acontecimentos do capitulo 1. Pois nesse tempo Xerxes esteve ocupado com sua guerra contra os gregos, onde sofre uma derrota na batalha de Salamina em 480.

Xerxes volta frustrado e furioso, para Pérsia. Então seus conselheiros tem uma ideia para distrair e acamar a FERA: o amor de uma BELA mulher, e para isso é preparado um dos maiores concursos de beleza, num império com 50 milhões de pessoas habitando na Pérsia.

Há algumas competições que vencê-las não é um grande privilégio. A cada ano, por exemplo, a Golden Raspberry Award Foundation (Fundação Prêmio Framboesa de Ouro); premia com o troféu FRAMBOESA DE OURO, que é de plástico; aquele que é considerado o pior filme lançado por HOLLYWOOD naquele ano. É uma paródia do OSCAR.

É desnecessário dizer que esse é um prêmio para o qual poucos atores ficariam alegres em ser indicados.

Em certo sentido, a busca pela substituta da rainha Vasti foi uma competição como o TROFÉU FRAMBOESA DE OURO.

A ideia original, quando Vasti foi deposta e banida da presença do rei, era encontrar uma mulher melhor para assumir a posição real dela (Et 1.19).

Por “MELHOR”, os conselheiros do rei provavelmente queriam dizer alguém mais ADAPTÁVEL e COMPLACENTE do que Vasti, alguém que iria se sujeitar aos caprichos de um monarca mimado e egoísta.

No entanto, por mais estranho que pareça, aos responsáveis pela substituição nunca ocorreu incluir uma AVALIAÇÃO DO CARÁTER.

Em vez disso, somente três virtudes eram necessárias nessa mulher “MELHOR”: ela tinha de ser jovem, solteira e extraordinariamente bonita (Et 2.1-4).

Observe que essa não era um CONCURSO DE MISS PÉRSIA, que qualquer uma moça que fosse extraordinariamente bela pode-se se inscrever para a competição. Todas estavam no páreo pelo simples fato de viver no império.

Uma vez que o único propósito para existência na Pérsia era servir ao império, não era preciso nenhuma permissão para que o império convocasse uma jovem para esse tipo de serviço público.

Ao império não importava se os pais tinham outros planos para sua filha. Lembrem-se do lema do império: “A resistência é inútil; você deve ser assimilado”.

Também não havia nada de sexista (discriminação por gênero), na perspectiva do império. A cada ano o império tomava 500 meninos e os castrava, para servir na corte real.

O lema atual “MEU CORPO, MINHA ESCOLHA”, “MEU CORPO, MINHAS REGRAS” não soaria bem na cultura antiga.

No mundo dos persas, tudo o que alguém possuísse, incluindo o seu corpo, poderia e iria ser reclamado pelo império se ele assim o desejasse.

Na verdade, até mesmo chamar de COMPETIÇÃO o processo de reunir mulheres é um tanto enganoso, uma vez que nenhuma das participantes voltaria para casa depois.

Devido seu apetite voraz, Xerxes gostava de aumentar a sua coleção de BONECAS VIVAS; as escolhidas viveriam em esplendoroso isolamento para o restante da vida, mesmo que apenas raramente fossem usadas como BRINQUEDO.

Na verdade, para os padrões da existência no império, essa não era uma vida ruim. As mulheres receberiam refeições regulares. Provavelmente bem poucas teriam resistido à intimação real para fazer parte do Harém do rei.

Muitas a teriam considerado uma oportunidade maravilhosa para se ter uma existência confortável, embora sem sentido. Para muitas, seria quase como ganhar na loteria. Um conta de fada, como a CINDERELA.

Essa noção pode parecer bizarra para nossa cultura, em que a liberdade pessoal é tão idolatrada. Mas na sociedade ocidental, as pessoas livremente escolhem esse tipo de vida sem sentido.

Pense nas muitas pessoas ao nosso redor que fazem toda a sua carreira Profissional num trabalho de que elas não gostam, ou até mesmo desprezam só por causa de um salário confortável e relativa estabilidade no emprego.

O império pode ter mudado sua forma e os tipos de exigência que faz a nós e a nossos filhos, mas nosso mundo, afinal de contas, não é tão diferente. O império do mundo é sedutor, mas é enganoso e impiedoso.

  1. Entre dois mundos: A ambivalência.

Em meio a esse império que a tudo consome, duas pessoas relativamente insignificantes, Mordecai e Ester, sobem ao palco:

O judeu Mordecai, vive na capital do império, Susã. Mordecai era descendente de Quis, da tribo de Benjamim. Ele era, portanto, relacionado ao rei Saul, um fato que iria se tornar importante mais adiante na história.

Um de seus ancestrais havia sido levado para o exílio no tempo de Joaquim (Jeconias) em 597 a.C. (2Rs 24.14-15).

Na verdade, o exílio foi a característica definidora da posição de Mordecai, como Ester 2.6 deixa claro: literalmente, o texto diz que seus ancestrais “foram deportados com Jeconias, rei de Judá, a quem Nabucodonosor, rei da Babilônia, havia transportado”.

Como parte de um grupo de segunda ou terceira geração de exilados, eles nasceram e cresceram no exilio. Eles não conheciam, nada além da vida na Pérsia sob o império. O exílio definia a sua existência.

O choque de culturas vivenciado por exilados como Mordecai fica logo evidente na maneira como ele é apresentado. Por um lado, ele é identificado como “judeu”, com uma genealogia que remonta aos dias de ouro de Israel.

Mais de 100 anos de exílio haviam se passado desde a destruição de sua terra natal em 586 a.C., mas aparentemente ele ainda não havia sido totalmente ASSIMILADO. Susã era sua residência, mas ainda não era seu lar.

Por outro lado, porém, seu nome é Mordecai, uma forma hebraizada do nome babilônico marduka, que inclui o nome do deus babilônico Marduk.

Isso não quer dizer que Mordecai fosse um adorador de Marduk; muitos exilados fiéis tinham tanto um nome hebraico quanto um nome babilônico.

Daniel e seus três amigos também foram renomeados por seus captores. Contudo, a apresentação de Mordecai expressa a AMBIVALÊNCIA da sua posição como cidadão de dois reinos.

A AMBIVALÊNCIA é a existência simultânea, e com a mesma intensidade, de dois sentimentos ou duas ideias com relação a uma mesma coisa e que se opõem mutuamente.

Mordecai e Ester, vive uma espécie de SENTIMENTO FREUDIANO de amor e ódio no processo de ASSIMILAÇÃO do império. Os dois tinham dois nomes e acabam desenvolvendo duas identidades.

Em casa, um era Mordecai o judeu, fiel servo do Deus vivo. No trabalho, ele era o mero Mordecai, fiel servo do império.

O outro membro de sua família era sua prima, de quem ele cuidava porque ela era órfã. Seu nome é HADASSA, que significa, em hebraico “murta”, Na cultura grega a murta era uma planta dedicada à deusa Afrodite (deusa do amor).

O império, contudo, a conhecia pelo seu nome persa, ESTER, e pode ser que esteja relacionado a deusa babilônica Ishtar (deusa do amor), e também pode ser, por causa da semelhança, com a palavra persa para estrelas.

Então ela tinha dois nomes e dupla identidade. Ela também, como todos os exilados, tinha de viver em entre dois mundos.

À medida que a vida dela se desdobrava, porém, viria o dia em que ela teria de decidir qual dos dois mundos a definia. Esse é o perigo da ambivalência. Quem define você; o mundo ou Deus?

  1. Seguindo a correnteza.

Aqueles DOIS MUNDOS COLIDIRAM numa manhã trágica na cidadela de Susã. Os oficiais de Assuero estavam ajuntando o novo rebanho de moças, de acordo com o edito que seus conselheiros haviam planejado.

Por certo devem ter usado a força policial para assegurar a colaboração das escolhidas e a maioria aceitava a situação como algo corriqueiro.

Era simplesmente desse modo que o império funcionava. Algumas eram levadas, outras deixadas para trás.

Josefo diz que foram levadas 400 moças e Ester foi uma das que foram levadas, considerando que Ester tinha em torno de 20 anos, essas moças estavam apenas iniciando a vida (Et 2.8).

Já havíamos previsto esse destino assim que Ester nos foi apresentada como uma mulher bela e de boa aparência.

Na verdade, o texto chama a atenção para o fato de que ela é mais do que qualificada: os oficiais estão procurando por alguém que seja “formosa” (tovot mar ‘eh), mas Ester é “bela” (yefat-to ‘ar) e “formosa” (tovot mar ‘eh — Et 2.7).

Ester, “A MISS BELA”, que causava uma admiração excessiva, todos logo viram que ela seria capaz de ganhar qualquer concurso de beleza. Ela é visualmente bela e isso é tudo o que importa ao império.

Parece ser inútil discutir com o império sobre isso, não mais do que Ester poderia ter discutido com Deus quando ele levou os pais dela e a deixou órfã, ou os ancestrais de Mordecai poderiam ter resistido a sair de Jerusalém para o exílio.

Algumas coisas simplesmente não podem ser mudadas; a resistência é inútil. Ester aprendeu rapidamente não apenas a como sobreviver, mas como evoluir em sua nova situação.

Lá vem ela na passarela; ela ganhou a multidão, ela se demonstrou graciosa, e conquistou os jurados e os chefes do concurso, que eles já começaram a trata-la como rainha, dando-lhe imediatamente melhor aposento, e servas para servi-la em tudo o que quisesse (Et 2.9).

Ester aprendeu que o harém era simplesmente a vida no IMPÉRIO EM MINIATURA: uma existência relativamente sem sentido — em que a vida era regulada em todos os seus detalhes — e a promoção não dependia de talento ou caráter, mas em agradar a quem estava no comando.

Assim Ester aprendeu a ser agradável, em primeiro lugar cativando Hegai, o oficial-chefe do concurso.

É claro que Ester tinha algumas vantagens naturais nessa busca. Ela era “formosa”, o quer dizer fisicamente atraente (Et 2.9), ela sabia que o império valorizava, então ela esbanja beleza.

Essa expressão ressalta o fato de que todo o império funciona com base nas SUPERFICIALIDADES do que pode ser visto, não na substância de quem são as pessoas na essência do seu ser.

Isso é o oposto da escala de valores de Deus, que se inicia com o coração (l Sm 16.7).

Mas as adversárias de Ester eram bonitas também, caso contrário nem mesmo teriam sido alistadas.

Ester não “achou favor” (matsa ‘ hen) aos olhos de Hegai que é uma expressão mais passiva.

Em vez disso, o escritor usa uma expressão incomum para nos dizer que Ester “ganhou favor” (nasa’ hen) aos olhos de Hegai: ou seja; ela trabalhou pela sua promoção na “casa das mulheres”, enquadrando-se no programa que o império estabeleceu para ela.

Ela estava disposta a deixar que o império definisse a sua realidade. A resistência não estava no topo da sua lista nesse momento.

Pelo contrário, ela parecia contente e até ansiosa para ser ASSIMILADA. Como prêmio pela sua COMPLACÊNCIA, Hegai recompensou Ester com alimento especial e inicio antecipado dos tratamentos de beleza:

Em chegando o prazo de cada moça vir ao rei Xerxes, depois de tratada segundo as prescrições para as mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias de seu embelezamento, seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e com os perfumes e unguentas em uso entre as mulheres) (Et 2.12).

Esses TRATAMENTOS DE BELEZA especiais incluíam seis meses em óleo de mirra e seis meses em especiarias e unguentos.

Já foi sugerido que as mulheres talvez tivessem passado literalmente o tempo “imersas” nesses elementos, com unguento sendo aplicado por meio de um banho químico ou vaporização!

Além de um curso de etiquetas e relações socias. Elas poderiam escolher, os mais ricos e belos modelos de roupas e sapatos que desejassem, e usar qualquer tipo de joias, ouro e perolas que quisessem.

A comida que elas recebiam era provavelmente mais do que mera subsistência: visava a aumentar a beleza delas, talvez engordando essas plebeias esqueléticas (veja Dn 1.15).

O culto ocidental moderno do “MAGRO É BONITO” sem dúvida teria sido considerado uma preferência bizarra no mundo antigo, como ainda é em muitas partes do mundo hoje.

  1. Conformada e não conformado.

A semelhança entre a posição de ESTER e a de DANIEL e seus três amigos, exilados e incorporados ao sistema imperial, realça também as diferenças entre eles.

Daniel e seus amigos RESISTIRAM AO IMPÉRIO, silenciosa, mas firmemente pedindo permissão para se manterem fiéis ás suas próprias crenças ao não comer da comida real (Dn 1.8-16).

A permissão foi dada e Deus os abençoou, contrariando todas as expectativas. Eles se mantiveram INASSIMILÁVEIS e ainda assim foram respeitados pelo império por causa da intervenção direta de Deus.

Diferente de Daniel e seus três amigos, contudo, Ester aparentemente não tinha RECEIOS ÉTICOS acerca de comer a comida sacrificada a ídolos do império e ser usada como o BRINQUEDO do imperador.

Ao seguir o conselho de Mordecai, sua identidade judaica continuou perfeitamente oculta (Et 2.10-11).

Quando, depois de um ano de preparação, finalmente chegou a hora de Ester ir ao rei para o seu teste de uma noite, ela seguiu cuidadosamente as instruções de Hegai:

[…] então, é que vinha a jovem ao rei; a ela se dava o que desejasse para levar consigo da casa das mulheres para a casa do rei. À tarde, entrava e, pela manhã, tornava à segunda casa das mulheres, sob as vistas de Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas; não tomava mais ao rei, salvo se rei a desejasse, e ela fosse chamada pelo nome. 

Ester, filha de Abiail, tio de Mordecai, que a tomara por filha, quando lhe chegou a vez de ir ao rei, nada pediu além do que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres. E Ester alcançou favor de todos quantos a viam (Et 2.13-15).

Nesse ponto da história, Ester era a Estrela do concurso e era perfeitamente a dócil filha do império a ANTI-VASTI MÁXIMA, e suas táticas pareciam ter dado certo.

Aonde quer que fosse, o encantamento de sua beleza e por causa dos seus modos dóceis, ela ganhava o favor de todos que a viam.

Ela então segue o conselho do especialista em MODA do império, e passa a ser mais ousada. Ela dispensa as superficialidades e as joias caras; e aposta na sedução de sua extraordinária beleza natural.

Portanto, não ficamos surpresos ao descobrir que Ester, a queridinha, também tenha conquistado o coração do imperador Xerxes. É como uma história da CINDERELA. Ester roubou o coração do rei. Ester se tornou sua rainha.

Assim, foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado. O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens; o rei pôs-lhe na cabeça a coroa real e a fez rainha em lugar de Vasti (Et 2.16-17). 

Com certeza, ali estava a mulher “melhor” do que Vasti que ele estivera procurando: beleza incomparável, e ainda mais COMPLACENTE (desejo de agradar sempre). O que poderia ser mais perfeito no império?

O rei “amou” Ester mais do que a todas as mulheres. Ele encontrou o que estava procurando. Xerxes fez de Ester rainha em lugar de Vasti.

Uma substituição que é enfatizada pela referência à coroa real (aquela que Vasti se recusou a aparecer usando) e à festa dada em honra a ela:

“Então, o rei deu um grande banquete a todos os seus príncipes e aos seus servos; era o banquete de Ester; concedeu alívio às províncias e fez presentes segundo a generosidade real” (Et 2.18).

A “RAZÃO” incorporada em Ester aparentemente havia triunfado sobre a “SENSIBILIDADE” (Vasti), usando o modelo do livro de Jane Austen, no seu romance onde compara duas irmãs, um racional e outra sentimental.

O tamanho do impacto da BELA estonteante sobre a FERA, um tirano cruel, mimado e egoísta e vingativo foi digno de nota

O resultado da promoção de Ester foi alegria e bênção para mais de 50 milhões de pessoas no império.

Quando o rei Assuero ficava feliz, todos em Susã ficavam felizes também: havia um ciclo virtuoso de felicidade para seus súditos — impostos eram perdoados e presentes distribuídos com real liberalidade (Et 2.18), a mesma expressão que descreveu a distribuição de vinho no primeiro banquete (cf. Et 1.7).

Através de todo esse longo processo, Mordecai havia cuidadosamente observado sua prima, aconselhando-a ao longo do caminho.

Ele visitava o pátio do harém diariamente para receber notícias, sem dúvida por meio de intermediários e mensageiros, sobre o que ela estava fazendo e o que estava sendo feito a ela (Et 2.11).

Foi ele quem a aconselhou a manter em segredo sua identidade judaica — não porque o império fosse inerentemente antissemita, mas porque, na opinião dele, nunca se poderia ser cuidadoso o suficiente num lugar como Susã.

Ele sabia como o império funcionava. As paredes tinham ouvidos e informação é poder. Mesmo depois de se tornar rainha, foi por causa da ordem de Mordecai que Ester manteve silêncio quanto à sua descendência:

“Quando, pela segunda vez, se reuniram as virgens, Mordecai estava assentado à porta do rei. Ester não havia declarado ainda a sua linhagem e o seu povo, como Mordecai lhe ordenara; porque Ester cumpria o mandado de Mordecai como quando a criava” (Et 2.19-20).

Essa, com certeza, era uma mulher que sabia seu lugar, talvez porque a ordem de Mordecai se encaixasse perfeitamente no temperamento natural dela.

O lema dela era “Camufle-se como um camaleão, não sobressaia de modo algum, e poderemos sobreviver e até mesmo prosperar, apesar do império”.

  1. Tirando vantagem.

O próprio Mordecai encontrou uma forma de tirar vantagens e mostrar ainda mais sua lealdade ao império, e usando o PODER DA INFORMAÇÃO certa usada da maneira certa, quando ele descobriu um plano para matar Xerxes (Et 2.21-23). 

Dois dos eunucos do rei, Bigtã e Teres, conspiraram para matar o rei, 14 anos mais tarde, saberá que esse plano, foi orquestrado pelo próprio tio de Xerxes, que era um dos seus conselheiros vai planejar o assassinato de Xerxes.

Mas na primeira tentativa, fracassaram, pois Mordecai ficou sabendo do plano deles enquanto estava sentado à porta do rei. Ele transmitiu a informação ao rei por meio de Ester, que teve o cuidado de dar o crédito a Mordecai.

Desse modo, os dois se asseguraram que o império ficasse em dívida para com eles. O resultado disso foi que os dois conspiradores foram enforcados (ou empalados em estacas), enquanto o nome de Mordecai foi inscrito nas crônicas reais.

O resultado também deveria ter sido o reconhecimento para com Mordecai. Em geral, os reis persas eram extremamente diligentes e generosos em recompensar aqueles que os tinham servido bem.

Eles mantinham listas de “benfeitores do rei” — aqueles que tinham feito um favor. Desse modo, nenhuma boa obra (da perspectiva do império) ficaria sem recompensa.

Ainda, assim, estranhamente algo aconteceu; essa boa obra em particular ficou sem recompensa na época.

Mordecai provavelmente esperou ansiosamente por semanas e meses em vão por algum indício de agradecimento e recompensas.

Diferente de Deus, que nunca é negligente em recompensar seus servos fiéis, os persas às vezes deixavam de recompensar o serviço fiel.

Ainda assim, como veremos, esse esquecimento incomum da parte de Assuero era absolutamente necessário para os planos de Deus.

O tempo certo é tudo na OBRA DA PROVIDÊNCIA, e embora a mão de Deus seja invisível, ainda assim ele está trabalhando para realizar os seus fins.

  1. A desobediência e suas consequências

A primeira lição que esse capítulo de Ester nos ensina é que desobediência é pecado — mesmo a desobediência e o pecado de outros — têm consequências de longo alcance.

Por que Ester foi apanhada e condenada a essa vida aparentemente sem sentido numa gaiola de ouro? Pelo menos em parte, porque ela vivia em Susã.

O edito para ajuntar todas as solteiras de boa aparência no império foi, presumivelmente, cumprido com mais eficácia em Susã, debaixo do nariz do imperador, do que nas províncias mais distantes.

Por que Ester estava vivendo em Susã? Ela estava lá por causa do pecado e da desobediência dos seus antepassados.

Foi a desobediência que havia levado a família de Mordecai e Ester para o exílio no tempo de Joaquim.

A destruição de Jerusalém não foi um simples acidente do destino: foi a culminação do juízo de Deus sobre seu próprio povo que o tinha abandonado. A desobediência, em primeiro lugar, foi o que levou o povo de Deus para o exílio.

Mais do que isso, foi a desobediência que manteve a família de Mordecai e Ester no exílio. Em 538 a.C., Ciro o avô de Xerxes, emitiu um decreto permitindo que os judeus retomassem para casa.

Na época, alguns voltaram com Zorababel (Ed 1-2), mas muitos não quiseram voltar e permaneceram confortavelmente estabelecidos onde estavam, fora da terra da promessa.

Comparado à atrasada e destruída Jerusalém, Susã era o melhor lugar, povos de todo o mundo, comercio e riquezas; esse era um lugar perfeito para um judeu avarento prosperar e progredir na lealdade ao império, e lucrar muito com isso.

Como aconteceu com os Judeus no tempo do FEUDALISMO, sendo os cambistas (bancos) na idade média, e hoje são donos dos grandes bancos mundiais.

Mas aqueles que jogam o jogo do império provavelmente cedo ou tarde irão jogar inevitavelmente pelas regras do império.

Se Mordecai e Ester (ou os pais deles) tivessem retornado para Jerusalém em algum período dos cinquenta anos anteriores, Talvez Ester não teria sido pega pelos recrutadores do harém? Mesmo que sim, ela certamente não teria sido um alvo tão fácil.

O resultado do histórico familiar de desobediência foi que Mordecai e especialmente Ester se viram numa posição que, apesar de todas as vantagens seculares, era potencialmente desastrosa no sentido espiritual.

Ester acabou quebrando a lei de Deus, que proibida o CASAMENTO MISTO e se casou com um pagão incircunciso e foi virtualmente cortada da comunidade da fé, continuamente fingindo não ser uma filha do Deus vivo e verdadeiro.

Seria possível manter a fé totalmente em particular, como um exilado, sem nunca a exteriorizar durante cinco anos de vida no harém real?

Com certeza não, como judia ela orava três vezes ao dia, e fazia muitos rituais de purificação e não comia muitos alimentos que eram considerados impuros.

Então seu invejável progresso num mundo glamuroso do grande império, não aconteceu sem negociar seus princípios, mas à custa de ocultar totalmente seu testemunho como uma cidadã do reino de Deus e a quebra de mandamentos.

Com certeza essa é uma tentação com a qual podemos nos identificar, ainda mais porque a pressão era tão sutil.

Inicialmente Ester não foi instruída a negar sua fé, apenas a escondê-la para evitar potenciais problemas.

O MEDO e a PRESSÃO para se CONFORMAR veio de dentro da própria família dela, não apenas do império pagão. Será que era mesmo tão importante para ela esconder sua origem judaica?

É tão importante para nós esconder nossa fé para ganharmos estabilidade numa universidade pública, ou nos encaixarmos no ambiente corporativo, ou para ganhar a amizade dos nossos colegas de grupo?

Submeter-se à PRESSÃO e esconder nossa fé pode levar ao progresso no mundo, mas a que custo para nossa alma?

No entanto, vemos nesse capítulo mais do que apenas o fruto amargo da desobediência; é o perigo de se CONFORMAR COM O MUNDO.

Vemos também a habilidade de Deus em transformar nossa desobediência — e os frutos ruins dos pecados dos nossos pais — em algo que o glorifica e produz o bem do seu povo.

O objetivo do edito de Assuero e seus colegas era simplesmente a satisfação dos prazeres egoístas do rei.

Mordecai e Ester estavam em meio a um dilema por causa de suas “CONCESSÕES” anteriores ao império. Se não tivessem feitos essas pequenas e insignificantes concessões, não estariam em perigo agora.

Eles acharam muito mais fácil ceder aos desejos do império do que resistir à ASSIMILAÇÃO — e qual de nós pode ter certeza de que teria seguido um rumo diferente?

Ainda assim, a mão de Deus paira sobre cada detalhe, movendo as peças para os lugares que ele havia determinado — apesar do pecado e do comprometimento delas — para que ele cumprisse seus bons propósitos.

  1. A política da boa vizinhança.

Dificilmente criaríamos o slogan “Ouse ser uma Ester” nesse ponto da história. Embora todos nós somos tentados em algum momento da vida, fazer certas CONCESSÕES que parecem ser insignificantes, isso nunca é certo.

Tudo o que ela nos mostrou até agora é um espírito dócil e complacente para com aqueles que a rodeavam no império.

Isso é bom ou ruim? De certa maneira é bom, já que ela está respeitando a família e as autoridades civis que Deus estabeleceu sobre ela.

Os filhos devem, em geral, obedecer a seus pais; e os cidadãos devem, em geral, obedecer às leis do império.

Ainda assim há ocasiões em que deveríamos ter uma “santa indignação” em relação às exigências não santas da família, como Sara fez em Gênesis 21.10, pedido que Abrão despedisse Hagar e Ismael.

Como também a oposição de Daniel e seus amigos, de não comerem dos comida dos banquetes (Dn 1.1-6). Nesses dois exemplos, Deus aprovou especificamente a recusa do seu povo a se submeter à autoridade.

Há ocasiões na vida de cada um de nós em que deveríamos nos recusar a ocultar aquele a quem servimos.

Todos nós somos, por vezes demais, motivados a ocultar nossa fé ou a recusar confrontar alguém que precisa ouvir a verdade, porque queremos agradar as pessoas e evitar o conflito.

Fazemos então a política da boa vizinhança, implementada durante o governo de Franklin D. Roosevelt.

Esta estratégia consistia em abandonar a intervenção militar nos países do continente americano e substituí-la pela diplomacia e aproximação cultural.

Contudo, quando defendemos nossa fé, precisamos estar preparados para as consequências das nossas ações. O mundo é inimigo de Deus.

Às vezes, o império pode nos surpreender retrocedendo, como em Daniel 1, quando os quatro jovens tiveram permissão para escolher a própria comida.

Mais frequentemente, no entanto, essa atitude nos jogará na fornalha de fogo ardente ou na cova dos leões, como em Daniel 3 e 6. Se Deus escolhe nos resgatar miraculosamente, tanto melhor.

Mas se não, nosso Deus é digno de tal sacrifício e deveríamos o oferecer alegremente, em vez de nos curvarmos aos ÍDOLOS que o império nos apresenta para adorar (veja Dn 3.18).

Nesse ponto da história, Ester com certeza não é nenhum Daniel. Ela está no mundo e é do mundo.

Ela está totalmente comprometida com as exigências ultrajantes do império a fim de obter o “amor” de um marido ímpio e indigno.

Talvez ela tivesse argumentado que tinha pouca escolha; mas se alguém está disposto a sofrer as consequências, a total obediência à lei de Deus sempre é uma opção.

Vasti, a pagã, já havia mostrado no capitulo anterior que o império não pode nos obrigar a obedecer, e nesse ponto devemos imitá-la.

Com certeza Ester não é um modelo para nós em sua CONDESCENDÊNCIA (aceitar pacificamente o mundanismo). Até aqui ela ainda não é um modelo de fé a ser seguido.

Ainda assim, não podemos ignorar o fato de que a história dela de condescendência e pecado não a desqualifica para a oportunidade de obedecer mais tarde, uma obediência que trará bênção para o seu povo.

Essa história não foi escrita para nos mostrar a beleza estonteante da MISS PÉRSIA, que arrebatou o coração do maior monarca do mundo, ao ponto dele fazer uma generosa isenção de impostos, (Et 2.18).

Essa história mostra a MÃO DA PROVIDENCIA conduzindo todas as coisas, apesar de nós mesmos e de nossos erros e concessões.

Essa é a esperança para todos os que se encontram em circunstâncias difíceis no presente, por causa de pecados e concessões anteriores.

Aqui está a esperança para as pessoas que se casaram errado, ou mesmo com um cônjuge não cristão, mesmo sabendo que isso era errado, embora suportem as consequências desastrosas.

A pessoa que escolheu uma carreira com base em todas as motivações erradas. Aquele que gastou toda a vida em busca de objetivos errados.

Todos podem descobrir que Deus é soberano até mesmo sobre as escolhas pecaminosas e oportunidades desperdiçadas.

Talvez ele tenha nos trazido para onde estamos hoje para que possamos servir a ele de uma maneira única. Se for assim, isso não torna corretas aquelas decisões e atos pecaminosos.

Mas isso deveria nos levar a dar graças a Deus, que é capaz de extrair beleza dos nossos esforços maculados, feios e sujos.

Pois mesmos nossos erros passados não nos excluem de um papel significativo no roteiro de Deus para o futuro.

  1. A beleza preparada.

Por fim, considere o que Ester e as outras 400 moças estavam dispostas a suportar por causa do império.

Elas estavam dispostas a serem tocadas e apalpadas, engordadas e aspergida, perfumadas e preparadas por um período superior a 12 meses para permanecer uma noite no “quarto real” e ter uma única “noite de prazer”, para simplesmente satisfazer o SONHO DE SER PRINCESA, prometido pelo império.

Na verdade, isso não é pior do que a preparação que muitos suportam por causa de uma possível carreira artística, na TV; em Hollywood, no esporte ou pelo sucesso no mundo dos negócios.

Muitos estão dispostos a suportar quase tudo para ganhar os prêmios cintilantes que o mundo tem para oferecer. A dor muitas vezes parece ser o pré-requisito necessário para a beleza e o sucesso.

Ainda assim, estamos pouco dispostos a nos submeter ao tratamento de beleza de Deus para nosso encontro com Cristo.

Essa observação nos força a ver semelhanças e diferenças entre o império de Xerxes e o reino de Deus. Como o império de Assuero, as exigências de Deus em relação à nossa vida são absolutas.

Pertencem a ele nosso corpo, planos de carreira, sonhos, filhos, nossas esperanças, nossa sexualidade… tudo o que temos e somos é dele para fazer o que ele quiser.

Quando fomos batizados na comunidade dele, fomos marcados com o nome dele — o nome cristão — e ele não dividirá nossa lealdade com ninguém. É claro que isso é relativamente fácil de confessar abstratamente.

Muito mais difícil é continuar confessando essa soberania, com alegria, quando Deus conduz a nossa vida, e a dos que nos cercam, para outras direções, diferentes das que tínhamos esperado, orado e sonhado.

Como reagimos quando Deus nos traz provações e nos chama à submissão?

Reagimos de boa vontade, quando perdemos todas aquelas coisas que o mundo considera as mais preciosas, como o dinheiro, amigos, reputação, saúde, força, sonhos e aspirações?

Agimos com o espirito dócil e complacente de Ester? Não, não agimos!

Pelo contrário, nosso coração rapidamente se revolta contra Deus sempre que as coisas não saem como queremos, sempre que nossa vontade não é feita.

No entanto, Deus não é um tirano como Xerxes, para quem os sonhos eram descartáveis e as pessoas meras mercadorias que o império produzia para o consumo real.

De modo algum. Quando Deus exerce os seus direitos sobre nossa vida, ele o faz para nos fazer o bem.

Ele quer nos fazer progredir na nossa caminhada espiritual, desenvolver, aprofundar e demonstrar nossa fé diante de um mundo atento (1 Pe 1.6-7).

Conforme sofremos Perdas, e à medida que ele nos arranca os ÍDOLOS a quem estamos tão desesperadamente agarrados, nosso coração fica cada vez mais preparado para estar com Cristo e para ver nele nosso único bem neste mundo.

O marido para o qual estamos sendo preparados é muito bom. Cristo não é um déspota como Xerxes, ansioso por nos usar e descartar — como tantos brinquedos jogados fora. Um homem assim não seria digno da nossa submissão voluntária.

Mas nosso marido é Jesus Cristo, que ama sua noiva, a igreja, com amor eterno. Ele tomou a feiura dos nossos pecados.

Na encarnação ele não escolheu ser o Brad Pitt, mas ele assumiu uma forma totalmente desprovida, de beleza, foi desprezado e rejeitado por aqueles a quem ele veio salvar, foi cortado da terra dos viventes (Is 53.2-3).

Diferente dos tratamentos de beleza de doze meses, nosso marido divino se submeteu uma peregrinação de 33 anos, despido do seu esplendor eterno.

Nada de cama confortável e comida abundante para ele, nenhum lugar para recostar sua cabeça e nada para chamar de seu. A feiura da dor dele foi o pré-requisito para nossa beleza.

Esse autossacrifício é o que dá a ele o direito de nos convocar a segui-lo em meio às provações. Então o caminho que ele estabeleceu parece dolorosamente insuportável?

Seja qual for o caminho pelo qual ele nos conduza, é um caminho que ele mesmo já trilhou antes de nós, e ele promete seguir lado a lado conosco.

Ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, a presença dele permanecerá conosco, e nós temos a certeza que ele já conhece os riscos e imprevistos do caminho.

O que motivava Jesus em sua busca por nós? Certamente não foi nossa beleza radiante e espírito amável.

A maldição do pecado nos tornou, a FERA, mas a BELA obra de Cristo na cruz, quebrou nossa maldição e nos fez filhos do reino.

A beleza do amor divino, que colocou os olhos na nossa feiura, nos amou e se entregou por nós. Na fabula da CINDERELA, a mais bela é escolhida e todas as outras rejeitadas.

Na realidade do reino de Deus, o mais belo, amou o mais feio, pois esse amor não é baseado nos méritos da beleza. Por isso esse amor é oferecido a todos os que creem na mais bela obra de amor expressa na cruz de Cristo.

Cristo quebrou a maldição da nossa feiura, e preparou um tratamento de beleza, não de 12 meses, mas que dura para sempre, a nossa GLORIFICAÇÃO.

Ele preparou um banquete para nos honrar, uma coroa de esplendor para nos embelezar aos olhos de todos e um lugar de honra ao lado dele.

Que amor maravilhoso! Ainda assim relutamos demais em nos entregar a ele e nos submeter aos sofrimentos embelezadores e às disciplinas a que ele nos quer submeter.

CONCLUSÃO: Nosso coração é rápido em murmurar acerca do rumo que a providência dele tem nos conduzido.

Somos vagarosos demais em nos preparar para encontrá-lo diariamente e passar tempo em sua presença ao longo do caminho.

Somos relutantes demais em fixar nossos olhos no banquete celestial que ele preparou. O que na terra poderia ser mais doce do que o banquete celestial?

Essa festa é o antídoto para as tentações gêmeas da ASSIMILAÇÃO e do DESESPERO. Quando nossos olhos estiverem postos no nosso noivo celestial, veremos através do enigma vazio do império.

Quando nosso coração estiver consolado pelo conhecimento seguro do amor de Deus por nós no EVANGELHO, estaremos protegidos contra a tentação do desespero.

Se Deus nos amou o bastante para enviar o seu filho à cruz por nós, o que em toda a criação poderá nos separar desse amor: a resposta deve ser: “Nada nem ninguém”.

Quando nossos olhos estão fixos em Cristo, podemos rir do melhor e não temer o pior que o império tem a oferecer.

Seremos fortalecidos a permanecer firmes pela fé, esperando pela beleza da nossa salvação garantida.

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