Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 82 –  O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 60).  Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 8). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 10/05/2023.

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INTRODUÇÃO

Talvez você nunca tenha ouvido o termo “orwelliano” e nem saiba o que realmente significa. Mas o seu desconhecimento não desmerece o fato de você ser profundamente influenciado pelo seu significado.

Em 1949, o escritor inglês George Orwell (1903-1950), publicou a sua obra, um romance de ficção “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, vulgo 1984, na qual procurava “mostrar as perversões a que uma economia centralizada como comunismo está sujeita”.

Ele escreve sua obra de ficção sobre um futuro em que um governo totalitário lentamente destruiu as liberdades de seus cidadãos por meio do uso de propaganda e vigilância.

A história de ficção se passa num um futuro distante, onde Londres faz parte de um império totalitário chamado Oceania.

Ele descreve Oceânia, um super-Estado conduzido ferreamente por um regime político totalitário designado eufemisticamente por “socialismo inglês”.

No qual a vigilância governamental é onipresente, o revisionismo histórico e a destruição de documentos que não confirmam a narrativa oficial é uma prática sistemática e indispensável à sobrevivência do regime.

As liberdades individuais são suprimidas, assim como a liberdade de expressão, que são consideradas “crime de pensamento” e tenazmente perseguidos pela “polícia do pensamento”.

A população mundial tornou-se vítima de uma guerra perpétua, o governo vigia tudo o que seus cidadãos fazem (até policiando seus pensamentos). Nesta realidade é o sistema que governa, que dita como você pensa e quem você ama.

Na obra o destaque está ironicamente para o “Ministério verdade”, que pode dizer o que quiser. E tornar qualquer coisa “verdade”, segundo sua “vontade”.

O filme da mulher maravilha 1984[1], tem sua inspiração nessa obra, embora a autora do filme faz uma leitura feminista, acusando o conservadorismo patriarcal, com usa linguagem opressora, como o culpado pelos males do mundo, do qual o feminismo, vai nos salvar.

Voltando então ao livro de Orwell. Neste sistema totalitário, um dos mais importantes instrumentos de manipulação consistiu na criação da “novilíngua”.

Esse idioma fictício que, através de alterações e simplificações linguísticas, pela remoção de certo sentido das palavras, pela eliminação de uso de outras ou pela conjunção de palavras contraditórias, permite restringir a riqueza vocabular e, portanto, reduzir a capacidade intelectual para pensar e comunicar.

A “novilíngua”[2] chegou aos nossos dias sob a forma de discurso “politicamente correto”, tendo por base aparentemente virtuosas preocupações de defesa e promoção da igualdade de direitos entre mulheres e homens, a que vieram a chamar por exemplo de “igualdade de género”.

A palavra “género”, que, na gramática da língua portuguesa, indica simplesmente se uma palavra é feminina ou masculina, entrou na linguagem política e na legislação nacional para designar a palavra “sexo”, isto é, sexo biológico, e então substituindo-a.

Poderá parecer que a palavra género terá passado a ser utilizada por se tratar de uma palavra mais elegante, uma vez que sexo pode remeter para a relação ou ato sexual, mas não!

Na verdade, a palavra “género” foi introduzida no vocabulário político internacional em 1995, quando da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Pequim.

Por ação de intelectuais feministas marxistas, que, como é sabido, são liberais no que diz respeito à moral e liberdade sexuais.

Com o objetivo de desconstruir a família natural — constituída por homem e mulher, que permite gerar a vida — entendida por eles como a fonte de opressão na sociedade e a pedra base do capitalismo.

A chamada “ideologia de género” tem vindo a impor-se de forma furtiva nas vidas das sociedades ocidentais, através do sistema educativo, do sistema de saúde, dos meios culturais e políticos, e se beneficiando de forte apoio e divulgação através dos meios de comunicação social.

A novilíngua tem revisado completamente a linguagem dos dicionários em todo o mundo, a fim de tirar os termos ou mudar seus significados originais a fim de construir uma nova linguagem[3].

Em seu romance 1984 George Orwell explicou:

As palavras têm o poder para moldar o pensamento, opiniões e a cultura. A linguagem é a moeda da política, formando a base da sociedade das mais comuns interações do cotidiano, aos mais altos ideais.

George Orwell em sua obra “1984” nos incitou a proteger nossa linguagem pois nossa habilidade para pensar e nos comunicar com clareza é o que está entre nós e um mundo onde a guerra é paz e escravidão é liberdade.

Os ideais da revolução francesa foram vendidos numa linguagem “orwelliana, dizendo que ela foi o começo do mundo moderno, a fim de moldar a mente das pessoas, numa lavagem cerebral, para que pudessem ser manipuladas e para justificar as atrocidades desumanas e genocidas da revolução iluminista.

Um dos maiores historiadores franceses François Furet, que já foi comunista, e depois que revisou completamente a revolução francesa, ficou indignado como a história foi propositalmente e ideologicamente contada, ele atacou “o catecismo revolucionário” dos historiadores marxistas”.

Furet argumentou que devemos parar de ver a Revolução como a chave para todos os aspectos da história moderna.

I AS CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO

Além da questão da destrutividade da descristianização, houve outras consequências que a Revolução francesa produziu, a mesma que hipocritamente havia jurado que “a liberdade consiste na liberdade de fazer tudo sem prejudicar ninguém[4]”?

  1. Terror e genocídio.

Em 1800 o sistema feudal na França, havia produzido uma sociedade culta (acesso à educação, devido a leituras dos Filosofes) e muito prospera[5], com baixo índice de mortalidade.

A França então se tornou o país mais populoso da Europa com cerca de 26 milhões de habitantes.

O crescimento da população produziu uma serie de crises econômicas, sociais e políticas e com constantes levantes de grupos opositores e muito sangue derramado.

Descrevendo o custo da vida humana envolvida nessa época, o historiador Timothy Tackett relatou:

Nunca saberemos o número exato de mortos. Uma contagem cuidadosa de todos os executados por meio do processo judicial rendeu um total de pouco menos de 17.000.

Mas esses números não incluem milhares execuções sem julgamento ou mortes durante o encarceramento – e dadas as condições miseráveis em muitas das prisões, um número substancial sucumbiu antes de poder comparecer perante um tribunal.

E se comparecem não poderiam apelar, pois o tribunal criado na revolução não cabia apelação e nem defesa. Constituído por Juiz, e promotoria, contrariando o a declaração de direitos humanos que eles mesmos criaram.

E sem contar os genocídios de aldeias inteiras executadas sem nenhum escrúpulo. Que muitos livros de história omitem, por pura maldade.

Há um apelo intencional, para esconder os horrores da revolução, de que um total de pelo menos 40.000 mortes, mas tem sido admitido que o número seja supreendentemente maior, devido a sede de sangue dos revolucionários.

As fontes mais recentes dão um número maior. Estima-se que cerca de 2.750 franceses foram condenados à morte somente em Paris; cerca de 40.000 no total foram executados pelas comissões no campo[6].

Em 1793, houve um grande massacre em Vendee causando a morte de cerca de 80.000 franceses[7]. A evidência mostra que o Reinado do Terror não foi justificado por causa do grande número de pessoas que foram mortas e executadas.

Se você somar os números, no mínimo, 122.750 foram mortos no total. Embora há outros que digam que esse número possa ser ainda maior.

Embora, todas as classes foram afetadas pelas execuções: mas quem mais sofreu, foram as classes mais baixas, mais de um quarto (25%) das vítimas eram camponeses e quase um terço (33%) eram artesãos ou trabalhadores.

Como os FILOSOFES (enciclopedistas) que lideraram a revolução estavam mancomunados com a aristocracia, apenas 8,5% eram nobres e 6,5% eram clérigos[8].

Embora a guilhotina tenha sido inventada como uma forma de execução supostamente mais humana do que o enforcamento; ela se tornou a “navalha nacional” desde o início da Revolução Francesa, e mostrou que a Revolução foi terrorismo e totalitarismo puro, menos “humanitária”[9].

Detalhes de relatórios contemporâneos são muito perturbadores para serem descompactados aqui.

Basta dizer que a brutalidade contra mulheres e crianças, a exaltação extrema da violência e as execuções de indivíduos na frente de seus familiares foram todos bem documentados[10].

  1. Remoção dos direitos.

Como os revolucionários justificaram essas atrocidades? Já que os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade eram teoricamente a base da revolução?

Uma dica está no título orwelliano (manipulação da linguagem) do órgão do governo responsável por fazer cumprir os decretos durante o Reinado do Terror: “O COMITÊ DE SEGURANÇA PÚBLICA[11]”.

Esse comitê do novo governo revolucionário se recusou a dar às pessoas que eram contra o governo revolucionário um julgamento justo ou qualquer meio de se defender e provar sua inocência, bastava apenas uma suspeita infundada.

Este “comitê de segurança” nos lembra que, sem o fundamento para a verdade que a Palavra de Deus fornece, os regimes podem facilmente manipular a linguagem para justificar atrocidades.

O mal se torna muito mais fácil de chamar de bom se for cometido sob os auspícios da liberdade, justiça e segurança.

Como disse o professor de estudos de paz e conflito Alex Bellamy:

“Muitos revolucionários pareciam estar cientes de que o assassinato em massa contradizia as liberdades estabelecidas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas eles insistiam que medidas excepcionais eram legítimas se necessárias para a defesa da república”[12].

uma guilhotina[13]

Parte da “defesa da república” envolvia obliterar (fazer desaparecer) todas as liberdades que os revolucionários hipocritamente adoravam.

O historiador Timothy Tackett relata: “Liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de religião foram todas essencialmente removidas”[14].

Correspondentemente, a vida dos cidadãos comuns era medo, insegurança, desespero total, caos social, pobreza e miséria e doenças mentais, os mesmos sintomas e consequências destruidoras da Revolução Russa comunista.

As políticas dos jacobinos criaram uma atmosfera de tensão e medo tanto para os pobres quanto para os ricos. As crianças eram manipuladas e usadas para espionar seus pais, famílias e professores.

Apenas um comentário de um desafeto era o bastante para uma morta certa, sem direito a nenhuma explicação.

As mulheres eram usadas para influenciar outras que se viram presas por comentários maliciosos em feiras, padarias, mercados em longas filas que duram horas, devido ao preço alto do pão pela falta de cereais.

Eles não conseguiam entender por que o governo aplicava a “Lei dos Suspeitos” contra pessoas humildes com tanta severidade quanto fazia com ex-nobres[15].

  1. Intolerância a neutralidade.

Outra característica do Reino do Terror que ressurgiu em contextos totalitários posteriores, e está aparecendo novamente em aspectos das culturas ocidentais de hoje, é a intolerância à neutralidade.

Isso vai contra o Artigo 10 da Declaração dos Direitos do Homem, que afirma que as pessoas não devem ser silenciadas por suas opiniões.

As pessoas não podiam evitar o risco simplesmente abstendo-se de falar contra a Revolução; eles tinham que mostrar que o apoiavam ativamente.

Tackett comentou,

Em 1793, todo um segmento dos militantes mais radicais estava atacando não apenas os contra-revolucionários, mas qualquer um cujo apego à Revolução fosse considerado insuficientemente enérgico.

A moderação e a passividade podem ser tratadas como crimes. Aqueles que não apoiaram seus pontos de vista em todos os aspectos devem ser contra eles[16]. 

  1. OLHANDO PARA TRÁS NA REVOLUÇÃO.

Em todos esses aspectos, a Revolução Francesa ilustra como as tentativas de alcançar a liberdade, a justiça e a moralidade com base na palavra do homem acabam saindo pela culatra.

  1. Cultura de morte

Muitos acadêmicos defendem a importância da revolução francesa por seus efeitos uteis. Embora esses efeitos uteis existem, mas eles não produziram nos resultados esperados.

Por exemplo, governos revolucionários implementaram medidas para tornar a educação acessível a todos.

Embora a educação tivesse como objetivo inicial fazer uma lavagem cerebral nos alunos, pregando os ideais da revolução, como foi feito na Prússia, no nazismo e no socialismo soviético.

Os revolucionários também procuraram ajudar alguns necessitados, desde que estes fossem ardorosos defensores da revolução, os que não eram, deixavam morrer de fome.

Copiando a revolução francesa o império russo-soviético se tornou sinônimo de tirania, invasões e genocídios desde os primórdios.

No século passado, os Gulags stalinistas (campos de concentração) estão entre os crimes mais hediondos da história, com milhões de mortos. Stalin foi um dos maiores carniceiros que habitou este planeta.

O programa Holodomor[17] (deixar morrer de fome) instalado pela URSS em 1932-1933 no auge da repressão bolchevique, milhões de ucranianos morreram de fome e inanição.

Estipula-se que o número de mortos nesses três anos tenha sido de (5) cinco milhões só de ucranianos.

Porém, se se levar em conta os efeitos prolongados dessa política econômica perversa e os ucranianos que foram levados ao trabalho forçado e lá morreram, esse número pode ser superior a 14 milhões.

  1. Abolição da escravidão?

Muitos dizem que a revolução francesa aboliu a escravidão nas colônias francesas. Mas como isso se deu?

Um trecho do livro reimpresso no site o “jacobino socialista”, batizada em homenagem ao principal clube político por trás do reinado de terror da Revolução Francesa, apontou que,

“Depois de muita controvérsia, eles [os líderes revolucionários] votaram pela abolição da escravidão e pela concessão de plenos direitos a pessoas de todas as raças, mas somente depois que eles enfrentaram a maior revolta de escravos da história, o início de uma “Revolução Haitiana” que terminou em 1804 com a criação da primeira nação negra independente nas Américas[18].”

Mas essa decisão nem mesmo entrou em vigor, ela foi cancelada quando Napoleão Bonaparte toma o poder e volta com a escravidão em 1799.

Originalmente, observa o autor, os líderes revolucionários estavam em aliança com os proprietários de escravos coloniais franceses, apesar da linha de abertura da Declaração dos Direitos do Homem de que “os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”[19].

Novamente, essa contradição destaca como os revolucionários frequentemente agiam de forma inconsistente com os próprios ideais da revolução, mas consistentemente com suas cosmovisões antibíblicas.

Como essa visão de mundo não tinha fundamento último para a moralidade ou um valor igual para cada vida humana, as leis a favor ou contra a escravidão eram questões mutáveis ​​da opinião humana.

Em contraste, os cristãos professos que defendiam a escravidão estavam agindo de forma inconsistente com uma cosmovisão bíblica, que fornece uma base imutável para protestar contra os abusos dos direitos humanos[20].

A exemplo disso foi a sociedade abolicionista criada na Inglaterra em 1787, com William Wilberforce e outros Quarkes e anglicanos, para trabalhar o fim da escravidão humana.

Wilberforce e os outros abolicionistas foram movidos por sua crença na inerrância das Escrituras, reconhecendo que Deus fez todas as nações de um só sangue (Atos 17:26) e que todos os homens foram criados à imagem de seu Deus Criador (Gênesis 1:26).

John Wesley descreveu a escravidão como “vileza execrável”, ele influenciou teológica e politicamente a Wilberforce, disse:

“A menos que Deus o tenha levantado exatamente para isso [abolição], você será desgastado pela oposição de homens e demônios. Mas se Deus é por você, quem pode resistir a você?”

  1. Democracias modernas?

Estudiosos também comentam longamente sobre o papel da Revolução Francesa no avanço das democracias eleitorais modernas[21].

Quando examinamos os fatos, não é isso que vemos pois o chamado primeiro experimento democrático moderno produziu uma revolução de terror e genocídio e logo em seguida uma ditadura militar que trouxe caos a Europa.

E quando acabou o povo desejou que a monarquia voltasse urgentemente a França devido ao experiencia dolorosa do terror da revolução.

Será mesmo que revolução francesa foi a base das democracias?

Pois na prática ela se tornou a base teórica que inspirou os modernos governos totalitários e tirânicos dos séculos seguintes, influenciando, o nazismo, o fascismo e o comunismo que produziram, guerras, genocídios e milhões de mortes.

No entanto, objetivos semelhantes foram alcançados em muitos outros lugares sem tais meios violentos e totalitários – muitas vezes graças à influência de uma cosmovisão bíblica.

Na Inglaterra, por exemplo, a disseminação da Reforma Protestante forneceu um cenário importante para a transição do governo para uma democracia parlamentar sob uma monarquia constitucional em vez de absolutista.

Mesmo que alguns cristãos do protestantismo inglês na “Revolução Gloriosa”, não foram consistentes com uma cosmovisão bíblia, embora muitos outros foram piedosos e consistentes e lutaram por fazer mudanças que introduziram na Inglaterra um governo verdadeiramente democrático.

Esse governo só foi possível por causa do contexto da reforma protestante e se tornou a base para todas as democracias justas, na américa, Oceania e em todo o ocidente.

No entanto, permanece claro que as mudanças que introduziram o governo mais democrático da Inglaterra não teriam acontecido como aconteceram sem o contexto da Reforma[22].

Enquanto isso, os cristãos agiram consistentemente com suas cosmovisões para ajudar a reformar fábricas, prisões, hospitais e orfanatos; tornar a educação acessível aos necessitados; e abolir o comércio britânico de escravos, e lutar por direitos e garantias individuais.

Tais resultados foram possíveis porque Deus em sua Palavra, fornece um fundamento consistente para fazer o bem, condenar o mal e renunciar à hipocrisia, como Jesus ensinou e fez.

O fato das visões de mundo dos revolucionários franceses carecerem desse fundamento; não poderia permanecer oculto seus crimes contra a humanidade; por mais nobres que fossem algumas de suas intenções.

  1. Reformas reais e antirrevolucionárias.

Correspondentemente, o professore e estudioso cristão Francis Shaeffer interpretou a Revolução Francesa como uma tentativa desastrosa de copiar as reformas políticas na Inglaterra que tiveram suas raízes na Reforma Protestante.

Shaeffer observou,

De fato, havia vastas áreas na França que precisavam ser corrigidas, mas quando a Revolução Francesa tentou reproduzir as condições inglesas sem a base da Reforma, mas sim na base humanista do Iluminismo de Voltaire, o resultado foi um banho de sangue e um rápido colapso no governo autoritário de Napoleão Bonaparte (1769-1821)[23].

Apesar de sua base defeituosa e de seus frutos fatais, Karl Marx defendeu a Revolução Francesa como uma vitória monumental – uma revolta da classe média que trouxe a civilização um passo mais perto da revolução final da classe trabalhadora[24].

O secularismo de Marx chamou esse evento de “a revolução mais colossal que a história já conheceu”[25]. Ainda hoje, várias vozes secularistas admiram as ambições humanistas da Revolução e rejeitam a Palavra de Deus.

Por exemplo, um recente artigo na web publicado pela American Humanist Association, cujo lema é “bom sem Deus”, afirmou que “para os humanistas, a Revolução Francesa marca o início de uma nova era de esclarecimento, liberdade e pensamento racional”.

Esse falso conceito tem sido ensinado nas escolas e universidade, sem considerar que a revolução francesa foi mais totalitarismo opressor do que progresso social.

A bíblia diz que o “deus desse século cegou o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho.

Esses comentários destacam um refrão recorrente entre pessoas que – como Rousseau, Marx e os humanistas seculares de hoje – esperam que um plano de salvação baseado em obras de ser “bom sem Deus”, eventualmente liberte a humanidade.

Quando confrontados com os resultados desastrosos de regimes que promulgaram tais planos, os esperançosos tendem a concluir que os fundadores desses regimes tinham as ideias certas, mas simplesmente não as aplicaram (ou não puderam) da maneira certa.

Mas o estudo da história deve nos lembrar que não existe uma maneira certa de construir a sociedade sobre uma base defeituosa.

Quando humanos finitos e caídos tentam funcionar como autoridade para a verdade, bondade e direitos humanos, os resultados são consistentemente disfuncionais e aterrorizantes.

CONCLUSÃO:

Quero concluir com quatro avisos. No final, vimos que a Revolução Francesa oferece pelo menos quatro advertências que os cristãos de hoje não devem ignorar.

Em primeiro lugar:

A batalha de visão de mundo que antecedeu a Revolução nos adverte de como as ideias de uma cultura moldam suas realidades. Devemos prestar muita atenção a quem está discipulando os jovens de nossa cultura, porque as ideias incutidas neles hoje formarão a base filosófica da sociedade amanhã.

Em segundo lugar:

A maneira como a inconsistência dos cristãos na França pré-revolucionária alimentou a agenda de descristianização posterior nos adverte a viver uma cosmovisão bíblica sem concessões. Caso contrário, corremos o risco de ficar com os hipócritas de quem Paulo disse: “Como está escrito: ‘O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês’” (Romanos 2:24).

Em terceiro lugar:

A Revolução nos adverte como ocorre a descristianização. Com o raciocínio humano em vez da Palavra de Deus como fundamento, uma sociedade que começou abraçando a liberdade, a igualdade e a tolerância passou a exigir fidelidade total, removeu a influência cristã e substituiu o cristianismo por outras cosmovisões. Ao entender esses processos, podemos reconhecer e responder melhor a padrões semelhantes que vemos hoje.

Em quarto Lugar:

A Revolução nos adverte das consequências que se desenrolam quando uma sociedade bem-intencionada tenta ser “boa sem Deus”. A Declaração dos Direitos do Homem parecia maravilhosa na teoria, mas não tinha fundamento na prática. Sem a Palavra de Deus como base para a moralidade, os revolucionários poderiam redefinir ser “bom”; como significando exterminar violentamente aqueles que discordavam deles.

Ao todo, essas advertências da Revolução Francesa nos lembram que devemos nos apegar à Palavra de Deus sem concessões, sem medo e sem recuo. Somente a luz da Palavra de Deus pode revelar o que as tochas da Festa da Razão acessas na igreja Notre Dame durante o iluminismo francês, não puderam iluminar: o caminho para a verdadeira liberdad que é Jesus.

Jesus disse: “…Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (João 8:12). “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas”. (João 3:19,20)

[1] https://www.denofgeek.com/movies/wonder-woman-1984-orwellian-setting/

[2] https://www.publico.pt/2018/03/08/sociedade/opiniao/portuguis-a-lingua-portuguesa-transformada-em-novilingua-1803485

[3] No brasil já temo uma lei aprovada para isso em 9 de fevereiro de 2018, (Lei n.º 4/2018).

[4] Assembleia Nacional da França, “Declaração”, Artigo 4.

[5] Em 1787, as colônias forneciam 37% das mercadorias importadas para a França e recebiam 22% de suas exportações. Uma colônia francesa sozinha — Saint-Domingue, atual Haiti — fornecia metade do suprimento mundial de açúcar e café.

https://jacobin.com/2021/10/french-revolution-history-slave-revolt-haitian-revolution-popular-welfare.

[6] (Documentos E e F)

[7] (Documentos C).

[8] Timothy Tackett, A Vinda do Terror, 330.

[9] Vittorio Bufacchi e Laura Fairrie, “Execution as Torture,” Peace Review 13, no. 4 (2001): 511–517.

[10] Relatos de testemunhas oculares estão disponíveis por meio de fontes, incluindo guias de pesquisa on-line da Biblioteca do Congresso, vários sites de bibliotecas universitárias e compilações como The Reign of Terror: A Collection of Authentic Narratives of the Horrors Committed by the Revolutionary Government of France Under Marat and Robespierre, Escrito por Eyewitnesses of the Scenes (Londres: Simpkins and Marshall, 1826).

Outros exemplos incluem The Diary and Letters of Gouverneur Morris: Ministro dos Estados Unidos na França, Membro da Convenção Constitucional, etc. , Vol 1., ed. Anne Carrey Morris (New York: Charles Scribner’s Sons, 1888) e Grace Dalrymple Elliott, Durante o Reinado do Terror: Diário da minha Vida Durante a Revolução Francesa, trans. Jules Meras (Nova York: Sturgis & Walton Company, 1910).

[11] Veja Shusterman, The French Revolution , 163, 189. Para mais informações sobre como justificar violações da liberdade religiosa em nome da segurança pública, veja Tackett, The Coming of Terror, 110.

[12] Alex Bellamy, Massacres and Morality: Mass Atrocities in an Age of Civilian Immunity (Oxford: Oxford University Press, 2012), 48.

[13] A guilhotina. Autores: Jean Baptiste Marie Louvion, 1740–1804 e Carl de Vinck, 1859–1931. Imagem de domínio público recuperada da coleção Images de la Révolution Française da Bibliothèque nationale de France, disponível nas bibliotecas de Stanford.

[14] Timothy Tackett, A Vinda do Terror, 334.

[15] Darline Levy, Harriet Applewhite e Marion Johnson, Women in Revolutionary Paris, 1789-1795: Selected Documents Translated with Notes and Commentary (Chicago: University of Illinois Press, 1979), 223.

[16] Tackett, The Coming of Terror, 314-314; veja também a página 303.

[17] O Holodomor consistiu no genocídio de milhões de ucranianos, que foram vitimados pela fome, em razão da política econômica de Stalin entre 1931 e 1933. Holodomor é uma palavra ucraniana que quer dizer “deixar morrer de fome”, “morrer de inanição”.

[18] Em 1788, cem petições atacando o tráfico de escravos foram à Câmara dos Comuns, e em 1792 esse corpo político votou a favor do princípio da abolição, 230 votos a 85. No entanto, ao ver o extremo radicalismo da Revolução Francesa, os Comuns reverteu a votação de 1792 em 1793 na esperança de evitar tal revolução no Império Britânico

[19] Jeremy Popkin, “The French Revolution Was the Beginning of the Modern World,” Jacobin , 5 de outubro de 2021,  https://jacobin.com/2021/10/french-revolution-history-slave-revolt-haitian-revolution-popular-welfare.

[20] Para mais informações, veja Bodie Hodge e Paul Taylor, “Doesn’t the Bible Support Slavery?” emThe New Answers Book 3 (Green Forest: Master Books, 2010). Ver também Tackett, The Coming of Terror, 313.

[21] Por exemplo, Melvin Edelstein, A Revolução Francesa e o Nascimento da Democracia Eleitoral (Londres: Routledge, 2016).

[22] Várias análises da complexa contribuição da Reforma para o desenvolvimento político na Europa estão resumidas em Becker, Sascha O., Steven Pfaff e Jared Rubin, “Causes and Consequences of the Protestant Reformation,” Explorations in Economic History 62 (2016) : 1–25

[23] Francis Shaeffer, Como Devemos Viver Então? (Old Tappan: Revell, 1976), 121.

[24] Na verdade, Marx achava que o espírito revolucionário na França não foi longe o suficiente, porque ele acreditava que beneficiava principalmente a classe média, em vez de também estimular a classe trabalhadora para sua própria revolução maior.

Marx escreveu: “O interesse da burguesia na Revolução de 1789, longe de ter sido um ‘ fracasso ‘, ‘ ganhou ‘ tudo e teve ‘ sucesso efetivo ‘, por mais que o ‘ pathos ‘ dela tenha evaporado e o ‘ entusiasmado ‘murcharam as flores com que aquele interesse enfeitava seu berço. . . .

Se a revolução [de 1798], que pode exemplificar todas as grandes “ações” históricas, foi um fracasso, foi porque a massa cujas condições de vida ela não ultrapassou substancialmente [a burguesia] era uma massa exclusiva, limitada, não uma totalidade abraçando um.” (Karl Marx e Fredrich Engels, The Holy Family , trad. R. Dixon [Moscou: Foreign Language Publishing House, 1956], 110.)

[25] Karl Marx e Fredrich Engels, A Ideologia Alemã, Parte Um, com Seleções das Partes Dois e Três, ed. CJ Arthur (Nova York: International Publishers, 1972), 97.