Série de sermões expositivos sobre o livro de Ester. Sermão Nº 06 – O cão que não latiu. Ester 6:1-14. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 28/10/2020.
INTRODUÇÃO
A bíblia é um livro singular, único, e superior a todos os demais; e não há nada igual em toda a literatura. Ela contém todos os gêneros literários.
Nenhum livro influenciou e mudou o mundo, como ela. Foi por causa da bíblia que as universidades surgiram. E ela foi o primeiro livro a ser texto obrigatório das universidades.
O crescimento do conhecimento cientifico só foi possível, graças a ela. Ela foi o primeiro livro impresso, por Gutemberg em 1455.
No mesmo tempo; em que os fatos do livro de Ester estavam acontecendo, e logo sendo escrito, estava também nascendo o TEATRO GREGO.
Em 472 a.C, o famoso Dramaturgo Ésquilo, estava ganhando o festival de teatro daquele ano com sua peça “Os Persas”, considerada uma das maiores tragédias gregas e a mais antiga peça de teatro conhecida e preservada com 1078 versos.
Enquanto o livro de Ester na versão hebraica tem 167 versículos, e na Septuaginta 260 versículos, por causa da adição apócrifa.
Na peça de Esquilo; “Os Persas”; que é a única tragédia grega cujo enredo se baseia em eventos históricos, embora também tenha episódios místicos.
A peça conta a história da derrota de Xerxes, na batalha de Salamina. Uma guerra que foi festejada antes da batalha no capitulo 1 do livro de Ester, que durou 6 meses.
Segundo Heródoto, havia mais de 1 milhão de soldados e 1.200 navios, contra 40.000 gregos, seria uma vitória certa.
A peça de Ésquilo, analisa o porquê Xerxes perdeu essa batalha. O coro canta que a cidade de Susã, a mãe de Xerxes, juntamente com os anciãos, aguardavam ansiosamente o retorno de Xerxes.
Ésquilo diz que a causa da derrota de Xerxes, foi a soberba (hybris). A hybris, a desmedida ganância, o orgulho que o tornou cego, o mal que o levou à sede por riquezas e poder e acabou em sua própria ruína.
Para Ésquilo a punição da Hibris (soberba) era tarefa da justiça divina, devida a quantidade de vítimas que sofrem por causa da monstruosidade de Xerxes, e precisa do castigo divino.
No teatro grego, a comédia e a tragédia nascem juntas. A comédia era considerada um gênero literário menor.
É que o júri que apreciava a tragédia era nobre, enquanto o da comédia era escolhido entre as pessoas da plateia.
As tragédias, eram histórias dramáticas, de heróis que não aceitavam a vontade divina e acabavam mal. Na comédia, envolvia satirizar questões corriqueiras para provocar o riso.
O livro de Ester, expressam literalmente esses gêneros literários, em registros de acontecimentos reais, que foram conduzidos pela providencia divina.
Nesse capítulo 6, temos a tragédia humana e a comédia divina.
Na divina comédia de Dante (Sec. XIV), o poema chama-se “Comédia” não por ser engraçado, mas porque termina bem (no Paraíso). Em contraste com a Tragédia, que terminava, em princípio, mal para os personagens.
Há um antigo slogan que diz o seguinte: “Eles me disseram: ‘Sorria. As coisas poderiam ser piores!’ — eu então sorri, e as coisas de fato ficaram piores”.
Desde o início da nossa jornada através do livro de Ester, dissemos que haveria bastante motivo para rir no livro, e de fato havia no capitulo 1.
Contudo, nos capítulos anteriores a esse, as coisas começaram a ficar cada vez piores para o povo de Deus, e não havia muito para provocar sequer um sorriso.
No capítulo 3 o edito de Hamã para a destruição do povo judaico foi publicado por todo o império como uma lei dos persas e dos medos que não podia ser alterada.
Além do mais, embora no final do capítulo 4 Ester concordasse em dar um passo adiante para buscar o livramento da parte do rei para o povo dela, até esse momento ela não havia feito muito progresso em atingir esse objetivo.
Na verdade, ela ganhou o favor do rei quando apareceu na presença dele sem ser convocada, evitando por meio disso o desastre imediato e sua própria morte (Et 5.2).
Nesse momento, ela está em meio à execução de um plano sutil, que consiste em convidar o rei e Hamã para uma série de banquetes.
Mas ainda está longe de ficar claro, nesse ponto da história, se ela realmente será capaz de extrair a libertação das garras do desastre.
Ela é como um médico do pronto-socorro com um paciente em estado crítico: ela parece confiante no que até fazendo e o paciente ainda está vivo, mas o tempo está passando e de modo algum se pode ter certeza de que a cirurgia será bem-sucedida.
Para tornar as coisas ainda piores, o tempo não estava se esgotando apenas para o povo de Deus. Ester estava consciente disso e estava tentando combater esse problema.
Contudo, no capítulo 5 nós descobrimos que um relógio à parte estava correndo contra o destino do próprio Mordecai, um perigo do qual Ester já havia se esquecido por completo.
O edito contra os judeus ainda entraria em vigor depois de vários meses, mas a determinação de Hamã em executar Mordecai estava apenas a algumas horas de ter efeito.
A estaca na qual o corpo de Mordecai seria empalado já havia sido erigida (com os seus mais de 22 metros), e Hamã estava pronto para pedir ao rei para enforcar Mordecai nela assim que amanhecesse.
Parece que mesmo se a sutileza de Ester salvasse os judeus, essa salvação viria tarde demais para Mordecai. As coisas ficavam piores a cada minuto e as trevas ficavam mais densas.
De onde viria o livramento para Mordecai? Humanamente falando, parece que não restava muita esperança, não havia saída.
Na Bíblia, no entanto, nunca estamos falando humanamente apenas. Mesmo num livro como Ester, no qual o nome de Deus nunca é mencionado e os personagens na história (incluindo o próprio povo de Deus) fazem o máximo para ignorar a existência dele, nem assim ele se recusa a ficar fora do roteiro.
Nas entrelinhas e nos bastidores, fora do foco e incógnito, o Senhor continuava a trabalhar para realizar toda a sua santa vontade.
Ester 6 é um perfeito ESTUDO DE CASO sobre a maneira de Deus fazer todas as coisas cooperarem para o bem do seu povo, daqueles que ele chamou segundo o seu propósito (veja Rm 8.28).
- DIVINA COMÉDIA DA INSÔNIA.
Tudo começou com o rei não conseguindo pegar no sono: “Naquela noite, o rei não pôde dormir” (Et 6.1). Os reis, assim como muitos de nós? ocasionalmente têm insônia.
Assuero é mestre de cento e vinte e sete províncias, mas não é mestre nem de dez minutos de sono.
O sono fugiu de Xerxes, aquela noite. Mesmo com todo conforto que sua cama tinha. Algo manteve o rei acordado ou precisamente nada.
Diferente de Nabucodonosor, que ficou acordado num momento-chave por causa de um sonho vindo de Deus (Dn 2.1), ou Dario, que ficou atormentado pelo provável destino de Daniel na cova dos leões que não conseguiu repousar (Dn 6.18), Xerxes simplesmente não conseguiu dormir.
Não houve sonhos, nem estava ele aparentemente atormentado – como certamente deveria estar – por causa do seu edito genocida.
Isso com certeza teria sido uma IRONIA adequada para um capítulo cheio de IRONIAS adequadas, mas o texto em si não apresenta a razão da insônia de Assuero.
Não havia razão aparente para isso, exceto a soberania do propósito de Deus para livrar o seu povo. A IRONIA da soberania de Deus não se limitou a manter o rei acordado.
Ela também direcionou sua escolha de atividades alternativas para a noite. Na ausência de um programa de televisão de madrugada, a um insone como Xerxes faltavam alternativas: diversões, comida, bebida, dançarinas… para não mencionar um harém enorme: todos os tipos de prazer a disposição dele.
Ironicamente ele pede um livro; que seja trazido e lido para ele. Aquele que foi mandado trazer o livro poderia ter trazido qualquer livro dos milhares de registros das crônicas, mas ele trouxe um livro em particular.
O livro poderia ser aberto em qualquer página, mas foi aberto na página exata contando a história de Mordecai e como ele salvou o rei do assassinato. Deus guiou cada passo ao longo do caminho.
O texto APÓCRIFO, diz que o escriba tentou mudar a página, mas ela volta sozinha e ele é obrigado a lê-la, exatamente naquele assunto.
Wiersbe diz que Deus pode direcionar livros para que as pessoas peguem e leem. No final de fevereiro de 1916, um estudante britânico comprou um livro em uma banca de livros usados em uma estação ferroviária.
Ele tinha olhado para aquele livro e rejeitado pelo menos uma dúzia de vezes antes, mas naquele dia ele o comprou. Era Phantastes, o mundo das fadas, de George MacDonald, e a leitura desse livro acabou levando à conversão desse jovem.
Quem era ele? CS LEWIS, o maior e mais popular apologista da fé cristã em meados do século XX.
Ele escreveu a um amigo que pegou o livro “por acaso”, mas creio que Deus determinou sua escolha. Deus pode até mesmo direcionar o que lemos em um livro.
Isso também aconteceu com um jovem no Norte da África que buscou a paz, primeiro nos prazeres sensuais e depois na filosofia, mas só se tornou mais infeliz.
Um dia ele ouviu uma criança do vizinho jogando e dizendo: “Pegue e leia! Pegue e leia!” O jovem imediatamente pegou as Escrituras e “aconteceu” que abriu em Romanos 13: 13-14; e esses versículos o levaram à fé em Cristo.
Conhecemos esse jovem hoje como AGOSTINHO, BISPO DE HIPONa e autor de vários clássicos cristãos.
A providência divina levou o rei a escolher a leitura dos registros governamentais, as crônicas (histórias) do reino: “então, mandou trazer o Livro dos Feitos Memoráveis, e nele se leu diante do rei” (Et 6.1).
Aqueles que leram os atos dos antigos reis do Oriente Médio souberam que não se tratava de uma leitura muito interessante: eles tendem a ser um catálogo de vitórias, terras, conquistadas e tributos impostos.
Era uma leitura tão instigante quanto uma regulamentação de impostos. A questão talvez fosse essa.
Se alguma coisa iria provocar sono em Assuero, com certeza seria uma leitura monótona da sua própria história de vida.
Em meio à leitura, contudo, Xerxes se livrou completamente do sono. O escriba havia chegado à parte em que Mordecai havia salvado a vida do rei ao revelar a trama contra a vida dele:
“Achou-se escrito que Mordecai é quem havia denunciado a Bigtã e a Teres, os dois eunucos do rei, guardas da porta, que tinham procurado matar o rei Assuero” (Et 6.2).
Isso fez o rei pensar: “Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso?” (Et 6.3).
Os reis persas eram famosos por sua diligência em recompensar quem os ajudava; IRONICAMENTE esse era um erro que um soberano persa não cometeria.
Ele imaginava que tal homem, havia sido muito bem recompensado, mas ironicamente ele recebeu uma resposta chocante e inesperada: “Nada lhe foi conferido” (Et 6.3).
Nada? Quem salvaria a vida do rei da próxima vez, se não havia certeza de uma recompensa? E já havia passado 5 anos e Mordecai não havia sido recompensado!
E a IRONIA DIVINA, continua: seria a coisa mais improvável do mundo que o arrogante Xerxes se apressasse em fazer justiça, pois ele havia cometido injustiças milhares de vezes e sem nenhum remorso, principalmente quando assinou friamente a sentença de morte do próprio Mordecai e o do seu povo.
Pela primeira vez, o rei pretende ser justo. Quase podemos ver o rei pulando da cama impulsivamente – tudo o que Assuero fazia era impulsivo – e saindo do aposento real a passos largos no inicio do alvorecer, sendo seguido pelos servos.
Essa omissão teria de ser corrigida e isso teria de ser feito imediatamente. Mas como? Em meio à sua impulsividade, o rei nada sabe fazer sem seus conselheiros.
Ele contava com eles constantemente para lhe dizer o que fazer. Ele então pergunta seus servos: “Quem está no pátio?” (Et 6.4).
Em outras palavras, quem dos meus conselheiros está por ai para me dizer o que fazer?
- A TRAGÉDIA HUMANA DA ARROGÂNCIA.
Normalmente a essa hora da manhã era improvável que houvesse alguém no pátio. Por isso achando estranho; Xerxes pergunta: quem está no pátio?
A providência divina havia movido outras peças desse JOGO DE XADREZ, e IRONICAMENTE Hamã estava no pátio embora fosse bem cedo; e isso dificilmente acontecia. Arrogância
Hamã está tão entusiasmado na certeza de que o rei, ordenará a execução de Mordecai, que ele parece não dormir, e resolve ansiosamente, esperar o rei acordar no palácio, mostrando seu desejo de ser atendido.
Alguém diria, Hamã está aqui desde muito cedo, esperando o rei! Parece que sentimos a respiração acelerada de Hamã no texto:
“Ora, Hamã tinha entrado no pátio exterior da casa do rei, para dizer ao rei que se enforcasse a Mordecai na força que ele, Hamã, lhe tinha preparado. Os servos do rei lhe disseram: Hamã está no pátio. Disse o rei que entrasse” (Et 6.4-5).
Ele provavelmente pensou que fosse um momento de sorte quando foi chamado para ver o rei tão cedo, pois era ele quem pedia para entrar e agora supreendentemente e IRONICAMENTE é o rei que o chama para entrar, isso não acontecia.
Diferente de Ester, ele não iria arriscar sua vida ao aparecer diante de Assuero sem ser convocado.
Como os acontecimentos irão provar, de algum modo foi um momento de sorte, mas sim uma ocasião providencial, e a Providência tinha em mente algo muito diferente do que ele esperava.
Na IRONIA DRAMÁTICA, ou a SÁTIRA, que é uma EXPRESSÃO LITERÁRIA, onde a plateia entende o significado da situação, mas o personagem não.
Numa deliciosa IRONIA, foi perguntado ao próprio Hamã o que deveria ser feito: “Que se fará ao homem a quem o rei deseja honrar?” (Et 6.6).
Ao pedir o conselho, o rei omitiu uma informação crucial acerca de quem deveria ser honrado, assim como o próprio Hamã, no capítulo 3, havia deixado de mencionar uma parte crucial da informação acerca da identidade do povo a ser destruído.
No entanto, Hamã não demorou a preencher mentalmente a lacuna — com o seu próprio nome. Ele disse a si mesmo: ”De quem se agradaria o rei mais do que de mim para honrá-lo” (Et 6.6).
Hamã estava iludido. Ele foi convidado a entrar no quarto do rei, um lugar tão íntimo; isso inflou ainda mais ego de Hamã; isso parecia perfeito.
Ele estava sendo enganado pelo seu próprio orgulho e senso de valor próprio e pensou que certamente o rei o estava descrevendo.
Dada a trajetória passada de Hamã, essa era uma SUPOSIÇÃO RAZOÁVEL. Ele tinha sido elevado acima de todos os outros príncipes e nobres, para se tornar o segundo depois do rei.
Supondo que o rei não menciona seu nome, para ele não ficasse constrangido ao escolher o que realmente queria.
Hamã imaginou que essa era a oportunidade para pedir a Assuero o que na no fundo ele sempre desejou o reino. Contudo, ele não demonstrou nada da sutileza e da cautela de Ester ao responder ao rei.
Longe de postergar o momento do pedido até que tivesse certeza de que a situação era favorável, como fez Ester, Hamã foi direto ao pedido, não parando nem mesmo para formulá-lo com as costumeiras frases orientais de cortesia:
“Se parece bem ao rei”, “Se eu achei favor aos olhos do rei”, e outras semelhantes. Hamã foi direto ao ponto, revolvendo as deliciosas palavras na sua boca, saboreando sua doçura:
“Quanto ao homem a quem agrada ao rei honrá-lo […]” (Et 6.7). O pedido dele foi exatamente o que teríamos esperado, dada a IDOLATRIA ao reconhecimento público que vimos no capítulo anterior.
Hamã não queria riqueza ou poder, porque já tinha ambos em abundância. Tudo o que ele queria era ser tratado em público como um deus-rei, como um conquistador, como um possível sucessor do trono.
Xerxes era recebido assim, quando voltava vitorioso de suas grandes batalhas. Na peça de Ésquilo, a mãe de Xerxes, imagina assim; o filho exaltado e vitoriosamente; voltando da batalha contra os gregos em Salamina.
Hamã parece ver a honra do rei como Satanás viu a glória de Deus. A visão de honra de Hamã era experimentar a honra do próprio rei.
Ele adoraria vestir as roupas do rei e montar no cavalo do rei. Ele adoraria usar a coroa do rei. Ele adoraria desfilar dizendo que toda a cidade se curvaria a ele como fariam com o rei.
Tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o cavalo em que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a cavalo pela praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar (Et 6.8-9)
Heródoto afirma que os reis da Pérsia tinham cavalos de notável beleza e de uma raça peculiar que foram trazidos da Armênia. Cavalgar sobre o cavalo do rei era uma honra quase tão grande quanto sentar-se em seu trono.
O desfile de Hamã atravessaria a praça principal da cidade, de modo que todos veriam a extensão do louvor a ele. Esse era o dia com o qual ele havia sonhado.
- A IRONIA DA HUMILAÇÃO.
Agostinho de Hipona disse que o orgulho é o oposto de quem tem medo de altura, é quem anseia pelas alturas.
O curioso é que a busca de aprovação, de aplausos, o desejo de popularidade não esteve tanto em evidencia, com em nossos dias.
Em um artigo: “Como o botão Curtir mudou a internet nos últimos dez anos[1]”. Depois da primeira curtida nunca mais o mundo foi o mesmo. Isso fez o Facebook, ultrapassar rapidamente seus concorrentes.
“Com o curtir, as pessoas passaram a fazer mais publicações”. De participantes de uma rede, as pessoas agora se consideram protagonistas dela. “Há uma supervalorização da validação do próximo, do olhar de outras pessoas sobre tudo que o usuário faz”.
É algo que tem gerado impactos na saúde mental: estudo feito pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) em 2017 mostrou que receber uma curtida ativa áreas do cérebro que respondem quando se recebe algo bom – como comer chocolate em um dia difícil.
Outras pesquisas já ligaram sintomas de depressão, ansiedade, solidão, baixa autoestima e tendências suicidas ao uso de redes sociais.
“Tem gente com autoestima baixa que posta selfies todo dia, esperando reações. Quando não se recebe muitas curtidas, a tendência é ficar mais triste”, diz a psicóloga Anna Lucia King, do Instituto Delete, ligado à UFRJ.
A busca por reconhecimento e fama é nosso maior impeditivo a verdadeira adoração a Deus.
O orgulho foi a realidade que estragou a festa de Hamã; e tornou o seu dia péssimo, terrível, não bom, mas muito ruim:
“Então, disse o rei a Hamã: Apressa-te, toma as vestes e o cavalo, como disseste, e faze assim para com o judeu Mordecai, que está assentado à porta do rei; e não omitas coisa nenhuma de tudo quanto disseste” (Et 6.10).
Imagine a expressão de Hamã quando ele descobriu a quem essas honras na verdade eram dirigidas.
As honras que ele mais cobiçava deveriam na verdade ser dadas ao judeu Mordecai, seu principal inimigo, e, o pior de tudo, seria ele pessoalmente a proclamar a promoção de Mordecai:
“Hamã tomou as vestes e o cavalo, vestiu a Mordecai, e o levou a cavalo pela praça da cidade, e apregoou diante dele: Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar” (Et 6.11).
As próprias palavras de Hamã voltaram para assombrá-lo, e a frase que ele tinha tido tanto prazer em pronunciar deve ter tido o sabor de cinzas na sua boca ao final daquele longo dia gritando à frente de Mordecai.
Seu dia dos sonhos havia se tomado o seu pior pesadelo.
No final do dia, os dois homens tomam caminhos distintos, Mordecai, “voltou para a porta do rei” (Et 6.12). Ele não parece ter sido afetado pelos acontecimentos do dia.
Ser honrado era muito bom, mas isso não faria o seu trabalho. Temos a impressão de que para Mordecai isso não foi algo especial.
O inimigo de Mordecai, por outro lado, estava totalmente mortificado: “Hamã se retirou correndo para casa, angustiado e de cabeça coberta” (Et 6.12).
Houve uma reviravolta no jogo. Antes eram os judeus se lamentavam (Et 4.3), mas agora a balança do poder estava pendendo para outra direção.
IRONICAMENTE Hamã também não encontrou nenhum consolo quando chegou à sua casa. Sua esposa e seus outros conselheiros, que no dia anterior, estavam bajulando, agora estão detonando-o.
Uma vez que Mordecai era um descendente de judeus, as chances de Hamã superá-lo eram praticamente inexistentes:
Contou Hamã a Zeres, sua mulher, e a todos os seus amigos tudo quanto lhe tinha sucedido. Então, os seus sábios e Zeres, sua mulher, lhe disseram: Se Mordecai, perante o qual já começaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele; antes, certamente, cairás diante dele (Et 6.13).
Por que razão então eles não aconselharam isso, horas antes, já que eram seus melhores amigos e conselheiros confiáveis.
O conselho deles foi exatamente o contrário, estimulando-o a construir a forca para Mordecai. Esses amigos eram hipócritas.
Talvez esses amigos, que são magos tivessem algum presságio, que apontava claramente para as coisas ruins que estavam por vir, por causa do Deus de Israel.
A providencia divina leva sua esposa e amigos a ter um discernimento correto, mas tragicamente, não houve mudança no rumo de Hamã.
Esse era potencialmente o momento salmo 2 de Hamã. Sua idolatria havia se revelado vazia, o seu ódio ao povo do Senhor foi inútil.
Agora era a hora para ser sábio, curvar-se e beijar o filho, submetendo-se ao Senhor e ao seu ungido, para que ele não fosse destruído no caminho (SI 2.12).
Mas Hamã teve pouco tempo para refletir sobre seus caminhos insensatos: “Falavam estes ainda com ele quando chegaram os eunucos do rei apressadamente levaram Hamã ao banquete que Ester preparara” (9 6.1 4).
Apenas 24 horas antes, a esposa de Hamã o havia encorajado a “ir alegremente com o rei ao banquete”. Como diz o ditado “Que diferença um dia faz!” Em apenas um dia a sorte havia mudado.
- A DIVINA COMÉDIA DA PROVIDENCIA.
Em Ésquilo, a interferência do mundo divino no mundo humano é permanente. O divino interfere no universo humano. Não há conflito humano que não esteja sob do controle das forças divinas.
Se o livro de Ester nos mostra alguma coisa, mostra que Deus administra os negócios dos homens, mesmo sem seu conhecimento. Deus sabe o que está fazendo e nas coisas do céu não há coincidências ou surpresas.
Ester não teve sorte de ser rainha; Mordecai não teve sorte de ter ouvido o plano de assassinato; não foi sorte ou acaso que fez Hamã entrar nas cortes reais nessa época com esse coração. Todos esses eventos foram orquestrados por Deus e não por sorte.
O que podemos aprender desse capitulo de Ester? Mais uma vez vemos a mão invisível de Deus mudando o curso da História.
Não é contraditório dizer que vemos a mão invisível; mas como outros objetos invisíveis, às vezes o rastro deixado é inconfundível.
Quando olhamos por uma janela, não podemos ver e nem sentir o vento soprando, mas as árvores se curvando nos dizem que ele está lá.
Tudo o que acontece nesse capitulo parece CENAS PERFEITAS e intencionalmente ensaiadas, para produzir rizo na plateia e isso é fascinante.
Intencionalmente a DIVINA COMÉDIA, leva o rei a omitir o nome de Mordecai. Então claramente, Hamã pensa que o rei está descrevendo sua própria recompensa.
Se o rei tivesse perguntado, o que o rei fará a Mordecai, a quem ele se agrada? Certamente as sugestões de Hamã, seria outras completamente diferentes.
Deus está conduzindo a cena nos mínimos detalhes, que nem mesmo a genialidade de William Shakespeare poderia fazer isso.
Aqui Deus está soberanamente controlando os eventos da história e seus desdobramentos, em detalhes, em cada cena, em cada fala, em cada reação e em cada segredos mais ocultos do coração dos homens.
Aqui no livro de Ester, a obra da providência de Deus é tão clara que nem mesmo os pagãos podem negar o significado dela.
Nem os amigos de Hamã são tão estúpidos a ponto de descrever os acontecimentos desse dia como mera coincidência.
Eles sabem que tudo isso deve ser atribuído à intervenção do Deus de Israel; e que uma vez que ele intervém no mundo, não restam dúvidas quanto ao resultado final. Hamã agora com certeza seria destruído.
Eles eram amalequitas e sabiam algo da história do seu próprio povo com o povo de Israel e seu Deus no passado, mas é surpreendente como eles foram rápidos para somar dois mais dois e chegar à conclusão correta.
IRONICAMENTE, e ainda que a resposta fosse intragável de acordo com suas preferências e convicções, a esposa e os amigos de Hamã tiveram real discernimento para entender os desdobramentos.
A IRONIA DIVINA mostra a rapidez dos pagãos para crer no poder e na vitória final do Deus de Israel; contrasta visivelmente com a lentidão do povo de Deus para se voltar para ele na hora de necessidade.
Como vimos no capítulo 4, houve grande lamentação e jejum entre o povo de Deus quando o edito de Hamã foi anunciado. No entanto, houve pouquíssimo clamor a Deus com base na fé em suas promessas.
Mesmo no discurso em que Mordecai implora a Ester para que ela interviesse diante do rei, ele não faz referência direta a Deus como sua fonte fiel e final de confiança.
Até mesmo o dramaturgo Ésquilo (472 a.c), atribui a vitória dos gregos sobre os persas como uma obra divina.
Os pagãos parecem ter sido mais rápidos em crer que o Deus de Israel agiria do que o próprio povo dele, que nem cita o seu nome.
E quanto a nós? Somos tão rápidos para perceber a mão de Deus operando quanto o foram a esposa e os amigos de Hamã, ou tão lentos em crer quanto o povo da aliança?
Deveríamos ter uma confiança inabalável que, apesar das aparências, Deus agirá para trazer a salvação para seu povo. Essa confiança deveria nos levar a agir ousadamente em fé.
Mas a realidade é que nós facilmente somos abalados pelas circunstâncias que parecem conspirar para nossa queda.
Mais uma vez a IRONIA DIVINA; por mais surpreendente que possa parecer, leva-nos a aprender a ter uma reação mais piedosa com Zeres e os amigos de Hamã, do que com o povo de Deus.
É notável que um acontecimento aparentemente insignificante forme a reviravolta de toda a narrativa. Deus usa as coisas insignificantes, para confundir as coisas arrogantes.
Não é a decisão de Ester de se posicionar por Deus que muda o curso dos acontecimentos, pois as coisas ficam pioram.
Ester está totalmente ausente desse capítulo decisivo; e Mordecai é um participante meramente passivo, eles estão dormindo; como na COMÉDIA ROMÂNTICA: “enquanto você dormia”.
Enquanto o povo de Deus está dormindo, Deus estava agindo, de forma invisível, mudando as coisas e restaurando a sorte do seu povo.
- A DIVINA COMÉDIA RETENTIVA.
A grande tragédia humana é o pecado. E a justiça da lei divina deve irremediavelmente nos punir com a morte eterna. Mas a IRONIA DIVINA pune os nossos pecados na Cruz de Cristo.
A cruz é a DIVINA COMÉDIA. Ela é loucura e o escândalo de Deus. Nela a TRAGÉDIA dos nossos pecados, caiu sobre a perfeita obediência de Cristo. Ele satisfaz a justiça divina plenamente, e isto está nas crônicas divinas.
Quem é o homem a quem agrada a Deus, o grande Rei, honrar? Não nenhum outro senão este mesmo Jesus Cristo.
IRONICAMENTE o REI DO UNIVERSO entra em Jerusalém montado em jumentinho, e todos gritando, Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor.
Este é o homem a quem Deus agrada honrar. Esse é o homem que vai resolver nossa TRAJECOMÉDIA da nossa vida; transformando-nos de Hamã em Mordecai.
A grande ironia é que nós somos os vilões. Nosso coração é cheio de orgulho como o de Hamã. E precisamos de um salvador.
IRONICAMENTE, isso é possível somente porque o caminho de Cristo enquanto esteve aqui na terra não era o caminho do reconhecimento público, mas antes o contrário.
Mordecai é tanto um tipo de Cristo na sua exaltação como está em contraste com Cristo na sua humilhação.
Enquanto Mordecai foi vestido com as roupas reais, Jesus percorreu o caminho até a cruz desnudado e exposto à humilhação pública.
Enquanto Mordecai estava montado num cavalo real, também coroado com emblemas de realeza, Jesus precisou andar curvado pelo peso da cruz.
A única coroa à vista naquele dia era a coroa de espinhos que seus inimigos haviam feito para caçoar dele.
Enquanto Mordecai foi aclamado publicamente como “o homem a quem agrada ao rei honrá-lo”, Jesus foi escarnecido a cada passo daquele amargo caminho. “Salve, rei dos judeus!” zombavam os soldados romanos (Mt 27.29).
“Crucifica-o”, gritava a multidão; “não temos rei, senão César” (Jo 19. 15). “É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele” (Mt 27.42). Não houve honra pública para Jesus naquele dia.
As vozes escarnecedoras da multidão e a vergonha pública da cruz, no entanto, não foram as trevas mais profundas que Jesus suportou.
O silêncio do céu foi o mais difícil de suportar.
A voz que uma vez rompeu os céus, declarando em seu batismo: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.22) estava em silêncio.
A voz que repetiu na sua transfiguração: “Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi” (Lc 9.35), nada tinha a dizer.
Embora ele gritasse: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46), não houve resposta.
Por que não? Teria Deus perdido o deleite em seu próprio filho? Jesus já não era aquele a quem agradava a Deus honrá-lo? Como podia ser isso?
O inimaginável se tornou realidade quando na cruz Jesus suportou a total vergonha da separação de Deus que nosso pecado merecia.
Isso porque nós também temos levantado nossas vozes com a multidão para zombar, dizendo no nosso coração.
“Sim, eu sei que Cristo foi crucificado, mas tudo isso não significa nada para mim enquanto não tiver essa idolatria satisfeita”.
Nós também, como Pedro na casa do sumo sacerdote, o negamos, por palavras ou pelo silêncio covarde, afirmando jamais tê-lo conhecido.
Nós também deixamos de dar a Deus o louvor que ele merece, buscando em primeiro lugar nosso próprio reino e interesses. Nós também carecemos da glória de Deus.
Foi o nosso pecado que exigiu que ele permanecesse na cruz, exposto ao escárnio público, até que sua obra de nos redimir, pagando o preço total pelos nossos pecados, estivesse completada.
- A DIVINA COMÉDIA DOS MONTADORES DE CAVALOS.
Como deveríamos reagir a essa realidade? Hamã, contra sua vontade, teve de honrar Mordecai. Foi forçado a exaltá-lo. Assim também, no último dia, alguns vão glorificar Cristo contra a vontade.
Um dia Jesus estará à frente de um grande desfile da vitória, conduzindo seus inimigos atrás dele.
Um dia todo joelho se dobrará diante dele, querendo ou não, e toda língua confessará que ele é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.10-11).
Todos joelhos se curvarão diante dele um dia, queiramos ou não. Gloria a Deus por isso.
Que possamos nos curvar diante dele agora mesmo, por causa do grande amor que ele demonstrou por nós.
Nós somos o povo dele, não devemos estar relutantes a cantar-lhe louvores.
Podemos confiar na maravilhosa providência; vendo que ele enviou seu filho amado para a cruz em nosso lugar?
Não nos dará ele também, junto com Cristo, todas as coisas de que precisamos para nosso crescimento em piedade (Rm 8.32)?
Talvez ainda estejamos na situação de “Ester 5” neste momento, cercados por todos os lados de inimigos cujos planos contra nós parecem prosperar.
Talvez estejamos vivenciando as dores e dificuldades de viver num mundo caído, um mundo que parece existir nas garras do império do mal.
Mas ainda que sejamos mal compreendidos ou maltratados, todo o mal será corrigido no último dia.
Por que estamos tão cheios de dúvidas e temores acerca de nosso próprio futuro, ou do futuro dos nossos filhos, ou o futuro das nossas igrejas?
Deus realizará o seu propósito, e é certo que ele o fará. Todas a coisas contribuirão para o nosso bem e para a gloria de Deus. todos os inimigos do povo de Deus, serão destruídos.
No entanto, à luz das grandes e preciosas promessas de Deus, isto sabemos com certeza: nosso Deus irá salvar o seu povo. E isto não pode ser impedido. Tudo vai acabar bem. O final feliz será glorioso.
CONCLUSÃO
Essa é uma comédia dantesca; (Dante), porque ela tem um final feliz. E não um final feliz, como os gregos que venceram os persas na batalha de Salamina. Não um final feliz com os filmes da Disney.
Não uma simples volta de cavalo com diademas (coroas), vestido com o manto real, pelas ruas de Susã, como Mordecai.
O verdadeiro final feliz, está prometido, por aquele que venceu todas as coisas. Aquele que montou um jumentinho um dia ele virá montado em cavalo branco (Ap 19:11-16):
“Vi o céu aberto e diante de mim um CAVALO BRANCO, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça.
Seus olhos são como chamas de fogo, e em sua cabeça há MUITAS COROAS e um nome que só ele conhece, e ninguém mais.
Está vestido com um MANTO TINGIDO DE SANGUE, e o seu nome é Palavra de Deus.
Os exércitos do céu o seguiam, VESTIDOS DE LINHO FINO, BRANCO E PURO, E MONTADOS EM CAVALOS BRANCOS
De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações. “Ele as governará com cetro de ferro”. Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso.
Em seu manto e em sua coxa está escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.
A divina comédia, tem um final feliz. Um desfecho glorioso. Uma produção infinitamente melhor que as produções de Hollywood.
Todos os santos, lavados e remidos pelo sangue de Jesus. Galardoados; coroados como reis e rainhas, MONTADOS EM CAVALOS BRANCOS, descendo do Céu, vestidos de mantos de linho puro, e seguindo o Rei dos reis e Senhor dos Senhores: Jesus e sua igreja eleita.
[1] https://www.terra.com.br/noticias/tecnologia/como-o-botao-curtir-mudou-a-internet-nos-ultimos-dez-anos,150dea29debde37bb407ece527c8049do0ravue8.html
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