Série de sermões expositivos sobre o livro de Ester. Sermão Nº 05 – O cão que não latiu. Ester 5:1-14. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 21/10/2020.
INTRODUÇÃO
Antes de considerar a intriga dos eventos em torno dos dois banquetes de Ester, vamos fazer uma pausa para refletir sobre o quão impossível é essa tarefa.
Você deve se lembrar da série de televisão “Missão Impossível”, em que cada episódio começa com uma situação impossível que a equipe é chamada a resolver.
Os obstáculos são incríveis e o tempo perfeito. No filme da série o protocolo fantasma, Hunter é seus três amigos, são abandonados pela agência IMF, e são cassados como terroristas.
Neste filme eles enfrentam o pior de todos os inimigos: O sindicato, uma organização criminosa formada por líderes de países poderosos.
Sozinho, como um exército de um homem só, ele precisa encarar sua missão mais impossíveis de todas, a de escalar o maior edifício do mundo com 160 andares e 828 metros de altura, em Dubai, todo revestido de vidro, suportando um forte vento de 50km/h e chegando a 150km/no topo.
Com apenas duas luvas de pressão nas mãos, e uma deixa de funcionar no meio da subida, tornando ainda mais impossível a missão.
A seguradora, não aceitou fazer o seguro dessa cena, o ator Tom Cruise, encarou a cena assim mesmo, e não usou dublê.
A tarefa que Esther se propõe a cumprir em nosso texto é realmente uma missão impossível quando você considera os obstáculos que ela tinha que enfrentar.
O final do capítulo 4 de Ester fornece um gancho parecido, Ester declarou seu compromisso de arriscar a própria vida aparecendo sem ser convocada diante do rei Assuero.
Humanamente falando, esse era um ato que equivalia a praticar roleta-russa, pois aqueles que apareciam diante do rei eram passíveis de execução imediata.
Não se tratava de uma ameaça vazia. Imagens da época do rei persa escavadas em Persépolis o mostram sentado no seu trono segurando seu cetro, rodeado por vários oficiais, incluindo um soldado com um machado.
Enquanto o ator está escalando, o maior prédio do mundo, ele começa a cair, os expectadores, ficam assustados. Assim a comunidade judaica, junto com Ester, Jejuava e nós prendemos a respiração…
Pois nesse capitulo, há desafios impossíveis, que desafiam nossa atenção.
- MISSÃO IMPOSSÍVEL: O DESFECHO.
O capítulo 5 nos conduz rapidamente à resolução da tensão (Et 5.1-2).
Depois de três dias de jejum, Ester tirou as roupas de humilhação e se vestiu com sua melhor roupa e joias de rainha, e colocou de volta a sua coroa, para se apresentar diante do rei.
Ester sabia que a roupa diria muito sobre ela, expressaria bem seu caráter, e diria para que ela estava indo.
É interessante que ela reconheça que vir diante de um rei, requer que ela deva estar apresentável – um fato que muitos ignoram hoje quando vêm diante do Rei dos reis na Casa do Senhor.
É um fato constante na natureza que a visão de um rosto faz o que nada mais pode fazer no caminho de despertar o amor, tocar a simpatia, garantir a confiança, e evocar ajuda.
Se um propósito é muito importante e muito bom, geralmente será mais bem promovido por uma aparência pessoal do que por qualquer tipo de representação.
Se estou procurando uma coisa boa, meu rosto deve ser melhor do que o rosto de outra pessoa para obtê-lo; melhor, também, do que minha própria carta pedindo isso.
Se a pobre viúva tivesse enviado cartas ao juiz injusto, ele provavelmente não teria ficado muito desconcertado, mas com sua vinda contínua ela o cansou e venceu sua busca. Quando o rei viu Ester, ela obteve favor
O rei estava assentado em seu trono imponente, e segundo a Septuaginta, ele estava vestido com suas Joias e com o corpo todo reluzente, como o Filme 300 mostra, o ator Rodrigo Santoro.
A descrição que autor de Ester faz da planta do palácio, prova que ele era alguém que conhecia profundamente o palácio real. Pois isso é confirmado com os mínimos detalhes na arqueologia.
Não era muito longe dos aposentos de Ester até a sala do trono do rei; mas há caminhos curtos – mesmo de sala em sala – mais difíceis do que atravessar desertos.
Ester estava com medo, e muito medo. Mas como diz o bravo dos faroestes: John Wayne a “Coragem está morrendo de medo, mas se preparando para montar o cavalo. A coragem não é ausência de medo, mas controle dele.
No texto apócrifo, Ester está acompanhada de duas servas, e devido ao medo, quando rei olha a vê; ela desmaia, e isso por duas vezes.
Contra todas as expectativas, ela alcança o favor aos olhos dele e ele estendeu o cetro para ela num gesto de reconhecimento e boas-vindas.
Heródoto diz que Xerxes era impetuoso, e se deixava se seduzir por uma beleza feminina, e nesse ponto, Ester era a Miss Persa.
E o rei estendeu a Ester o cetro de ouro. Ele não a expulsou de sua presença, como outros reis persas teriam feito.
Nem a mandou para execução, como Henrique VIII, fez com sua esposa Ana Bolena (por quem ele travou uma batalha épica contra o papa, para se casar, devido ao divórcio), mas por meros comentários fúteis de deslealdade ele a executou.
Xerxes; nem ainda a dispensou, como fez com Vashti, por uma ofensa menor, que a de Ester, que transgrede a lei; mas, segurando seu cetro mostra seus graciosos respeitos a ela.
Então, respiramos aliviados. A ameaça de morte foi então eliminada: Ester não irá morrer, mas viver.
Mais a MISSÃO IMPOSSÍVEL continua, embora o perigo imediato foi apenas temporariamente e não totalmente afastado.
Ela faria um pedido que nenhuma generosidade de Xerxes, podia atender. O que ela vai pedir não há possibilidade alguma de ser atendido.
Ester teria de usar toda a sua habilidade e sutileza para desfazer esse nó górdio.
Na Antiguidade, considerava-se impossível desatar o famoso NÓ DE GÓRDIO. De acordo com a lenda, o homem que o desatasse estaria destinado a se tomar o senhor da Ásia.
O nó foi mostrado a Alexandre, o Grande, que, sendo incapaz de desatá-lo, cortou-o com sua espada. O resto, como dizem, é história. Mas Ester não podia adotar uma abordagem tão direta, e não fez isso.
- MISSÃO IMPOSSÍVEL: FISGAR O PEIXE.
A dificuldade da tarefa diante de Ester parece ser a razão por que ela não aceitou diretamente o convite do rei para abrir o coração.
Sem dúvida o rei estava consciente da enormidade do risco que Ester havia corrido ao aparecer sem ser convidada em sua presença.
Algo importante a estava claramente incomodando, e então ele a convida a expor o seu pedido:
“Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará” (Et 5.3).
O que quer que Ester pedisse seria dado a ela, até metade do reino, e ele faz essa oferta por três vezes.
De início, pode ter parecido tentador a Ester fazer seu pedido imediatamente, enquanto a oportunidade estava lá, mas pense nos vários desafios diante dela.
Primeiro, ela acabou de quebrar uma lei cuja pena era a morte. Ninguém podia entrar na presença do rei sem ser convidado ou anunciado. Isso é algo muito sério, ela foi muito corajosa.
Segundo: ela estaria pedindo pela revogação de uma lei irrevogável, que havia sido patrocinada pelo homem mais poderoso no império e assinada com o anel de sinete do próprio rei. Xerxes não podia fazer nada em relação a isso. Pois a lei dos persas não podia ser mudada.
Terceiro: Atender ao pedido dela custaria ao rei dez mil talentos — certamente custa menos do que metade do império, mas é a metade da arrecadação anual de impostos do império.
O que, portanto, não era pouco e o império dependia desse dinheiro, devido ao custo da guerra perdida para os gregos em Salamina.
No entanto, o que talvez fosse ainda pior é que seria difícil para o rei concordar com o pedido dela sem ficar desmoralizado, já que o edito tinha sido oficialmente autorizado por ele mesmo.
Quarto; para fazer o pedido ela teria de revelar sua identidade judaica oculta, arriscando um potencial recuo do marido que ela havia enganado pelos últimos cinco anos, escondendo sua identidade.
Nada menos do que um MILAGRE seria capaz de fazer com que o pedido de Ester fosse recebido favoravelmente.
E embora tivesse passado três dias jejuando e (implicitamente) pedindo assistência divina, ela não estava em posição de presumir uma assistência divina extraordinária vinda do alto.
Diferente de Moisés e Elias, ela não tinha sinais dramáticos e maravilhas que pudesse evocar para convencer um público cético. Ela nunca viu um milagre.
Em vez disso, teria de seguir a melhor estratégia que pudesse conceber e confiar em Deus, para fazer com que esta fosse efetiva em mudar o coração do rei.
Em resposta ao convite de Xerxes para abrir o coração, Ester simplesmente convidou o seu marido para ir a um banquete que ela daria naquele dia, trazendo Hamã a reboque:
“Respondeu Ester: Se bem te parecer, venha o rei e Hamã, hoje, ao banquete que eu preparei ao rei” (Et 5.4).
Gentilmente, Xerxes aceitou o convite de Ester: “Então, disse o rei: Fazei apressar a Hamã, para que atendamos ao que Ester deseja. Vindo, pois, o rei e Hamã ao banquete que Ester havia preparado” (Et 5.5).
Mais literalmente, o rei agiu “de acordo com a palavra de Ester”. Tanto pior para o seu decreto anterior de que cada homem deveria ser senhor de sua própria casa (Et 1.22).
No banquete, o rei mais uma vez convidou Ester a revelar seu pedido: “disse o rei a Ester, no banquete do vinho: Qual é a tua petição? E se te dará. Que desejas? Cumprir-se-á, ainda que seja metade do reino” (Et 5.6).
Xerxes, sabia que ela não tinha arriscado a vida; aparecendo diante dele simplesmente para conseguir um encontro para a noite.
Mais uma vez, parecia ser uma oportunidade ímpar: o vinho havia sido servido, o rei estava propício à generosidade, de novo oferecendo a Ester qualquer coisa que ela quisesse, até metade do reino.
Ester parece estar quase cedendo, começando a dizer: “Minha petição e desejo são o seguinte” (Et 5.7);
…Mas ela então emudeceu e pediu apenas que o rei e Hamã viessem para outro banquete no dia seguinte, no qual tudo supostamente seria revelado:
“se achei favor perante o rei, e se bem parecer ao rei conceder-me a petição e cumprir o meu desejo, venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar amanhã, e, então, farei segundo o rei me concede” (Et 5.8).
Por que Ester não malhou o ferro enquanto estava quente? Teria ela simplesmente perdido a coragem e não conseguiu fazer o pedido quando a oportunidade estava lá?
As pessoas diriam; por que não hoje? Por que esperar amanhã? O rei e Hamã está aqui, e eles mesmos estarão amanhã! Isso faz diferença? Porque não fala?
A PROVIDÊNCIA divina diria: Sim, o rei está aqui e não está. Ele não está aqui como estará amanhã à noite. Esta noite ele não dormirá. Esta noite ele será lembrado, pela insônia, por um ato de leal fidelidade por parte de Mordecai, que até então não havia sido recompensado.
Esta noite será dada ordem para a preparação de uma forca. Em uma palavra, quando os mesmos três se reunirem no banquete de amanhã, eles serão o rei e Hamã; mas não serão os mesmos.
Essa noite a PROVIDÊNCIA divina mais mudar totalmente o coração e a mente deles, e amanhã as relações entre eles estarão mudadas.
Assim, o banquete termina, como se pela pronúncia da palavra “espere”. Quem crer não deve se apressar.
A PROVIDÊNCIA divina está preparando para o Xeque-mate. A PROVIDÊNCIA está usando o MEDO de Ester, para fazer com o rei; como se faz com um PEIXE premiado, gastando o tempo e não tendo pressa para puxá-lo para a sua rede.
Ela o estava cuidadosamente manobrando para uma posição em que ele seria virtualmente obrigado a fazer qualquer coisa que ela pedisse, sem nem mesmo perceber que havia sido fisgado.
Ele agora havia oferecido publicamente duas vezes cumprir o que Ester desejasse, até metade do reino.
A resposta dela foi um exemplo perfeito de MANSIDÃO, um atributo que ela sabia que o rei e todo homem valorizava numa mulher.
Ela começou: “se achei favor perante o rei, e se bem parecer ao rei […]” (Et 5.8), fazendo o rei se sentir no total controle da situação.
Uma vez que o pedido público dela fosse simplesmente que o rei viesse a outro banquete no próximo dia, é difícil ver como o rei poderia razoavelmente ter recusado esse convite.
Ainda mais quando se leva em consideração que o propósito do banquete era para fazer “segundo o rei me concede” — ou seja, para revelar o pedido dela.
A CURIOSIDADE por si só já teria tornado difícil uma recusa do rei. E ele vai perder o sono a noite por causa dessa curiosidade.
No entanto, se o rei fosse ao segundo banquete dela, ele estava de antemão implicitamente concordando em conceder o desejo e atender o pedido dela, não importando qual fosse ele (Et 5.8).
Se ele tentasse voltar atrás daquele ponto, haveria três golpes públicos contra ele. O rei ficaria muito envergonhado se voltasse atrás numa promessa pública tão repetida.
Parecia que Ester tinha traçado bem os seus planos e os executava com paciência, cuidado e astúcia.
Tudo o que restava fazer nesse JOGO DE XADREZ desesperado era esperar até que as peças estivessem na posição certa antes de fazer o movimento decisivo que iria (era esperado) dar um XEQUE-MATE em Hamã.
Talvez ainda fosse um plano improvável, mas ela estava fazendo tudo oque estava ao seu alcance para aumentar as chances de sucesso.
III. MISSÃO IMPOSSÍVEL: CONTER O ORGULHO.
Enquanto isso, não podemos ignorar os autos e baixo de Hamã. Seu orgulho era algo indomável, se fosse provocado.
Ele saiu da festa esfuziante, não apenas por causa do efeito do álcool, mas também por causa dos efeitos excitantes do prestígio. Ele amava ser reconhecido como alguém de prestígio.
Era algo incomum o convite que Ester fez, era uma honra e tanto, ser convidado apenas ele, para essa festa íntima e inédita com o rei e a rainha, Ester, a mulher mais bela do império.
Com certeza, seu prestígio estava agora numa altura incomparável. Não demorou muito para que seu bom humor fosse estragado, porque ao sair do banquete Hamã viu Mordecai sentado calmamente à sua mesa:
“Então, saiu Hamã, naquele dia, alegre e de bom ânimo; quando viu, porém, Mordecai à porta do rei e que não se levantara, nem se movera diante dele, então, se encheu de furor contra Mordecai” (Et 5.9).
Mais uma vez Mordecai não demonstrou o adequado respeito a Hamã ao não se colocar de pé diante dele nem tremendo de medo por causa do recente edito.
Um homem realmente grande teria ignorado, mas o tamanho de um homem é visto pelo significado das coisas que o irritam.
Hamã não suportava pensar na recusa desse homem em obedecê-lo. Como uma bolha, quanto mais um ego incha, mais frágil ele se torna.
Nesse ponto, o ego de Hamã estava tão inflado e frágil – que a ação de um único homem; Mordecai; abafou os aplausos da multidão.
Lá estava Hamã, capa da revista Forbes daquele mês! No topo do mundo, mas vivendo nas covas emocionais!
Aqueles que vivem como Hamã, em busca deliberada de AUTO-IMPORTÂNCIA, viverão perpetuamente na montanha-russa emocional de Hamã.
Voando alto quando honrado, chegando ao fundo do poço quando não, Hamã e todos aqueles como ele serão para sempre escravizado pelos caprichos dos outros.
Eles nunca podem ter a segurança de alegria e paz que Jesus nos promete em Seu reino.
No v.10 – Hamã chama seus amigos para se gabar. É interessante que não há menção de Deus em seu pensamento (o uso do pronome “seu” e “ele” está por toda parte em seu discurso).
O orgulho do homem pecador gosta de se concentrar em sua riqueza, posição e família. É especialmente inflado por comparações em público.
Os persas admiravam particularmente aqueles que tinham muitos filhos. Constantemente nos esquecemos que como diziam os puritanos: “Nosso pai era Adão, nosso avô era pó, e nosso bisavô não era nada”.
O fato de Hamã não ter conseguido instilar medo ou respeito em seu inimigo o trouxe de volta à realidade e transformou sua alegria em ira. Todo o mundo de Hamã girava ao redor do seu frágil ego.
Quando era afagado (como quando recebeu o convite para a festa de Ester), ele se sentia abençoado, embora nada tivesse mudado no mundo real. O poder dele não havia de fato crescido, mas ainda assim Hamã se regozijava.
Do mesmo modo, o poder dele não havia diminuído por Mordecai não ter se curvado, mas ainda assim isso deixava Hamã enfurecido. As emoções dele eram controladas pelo seu ÍDOLO — o respeito público.
Quando esse ídolo era alimentado, ele se sentia bem; mas quando esse ídolo era desafiado, isso o levava à malignidade e à ira, a mesma malignidade que antes produziu o decreto para eliminar o povo judeu.
Sua alegria e sua ira eram simplesmente a expressão exterior da IDOLATRIA do seu coração. Por enquanto, contudo, ele simplesmente aguardava sua hora:
“Hamã, porém, se conteve e foi para casa; e mandou vir os seus amigos e a Zeres, sua mulher” (Et 5.10).
Uma vez em casa, Hamã tratou de elevar o seu EGO deprimido. Ele convocou seus amigos e sua esposa e exigiu que eles ouvissem uma longa recitação de suas proezas:
“Contou-lhes Hamã a glória das suas riquezas e a multidão de seus filhos, e tudo em que o rei o tinha engrandecido, e como o tinha exaltado sobre os príncipes e servos do rei” (Et 5.11).
Sua riqueza, seus filhos, suas promoções — todas essas coisas foram listadas em detalhe, embora fossem notícias velhas para o seu público.
Presumivelmente sua esposa, pelo menos, não havia se esquecido de quantos filhos eles tinham. (Um targum diz que Hamã tinha 208 filhos além dos 10 legítimos).
Sua arrogância era ad infinitum; presunção ad nauseam. Então, ele anunciou a parte mais empolgante das notícias:
“A própria rainha Ester a ninguém fez vir com o rei ao banquete que tinha preparado senão a mim; e também para amanhã estou convidado por ela, juntamente com o rei” (Et 5.12).
Só Hamã, juntamente com o rei, havia sido convidado para outro na mesma noite. Porém, no que dizia respeito a Hamã, nem mesmo algo inédito, servia de consolo enquanto Mordecai se recusasse a reverenciá-lo:
“porem tudo isto não me satisfaz, enquanto vir o judeu Mordecai assentado à Porta do rei” (Et 5.13).
Esta é uma ilustração profunda da insatisfação das coisas deste mundo. Sempre há uma mosca na sopa. É uma MISSÃO IMPOSSÍVEL, agradar uma pessoa orgulhosa. Dê a ela tudo, ela será sempre ingrata.
Podemos pensar que tais pessoas têm tudo de nossa observação externa, mas muitas vezes são as pessoas mais miseráveis na terra. Um dos nossos grandes problemas é que pesamos as coisas com escalas erradas.
- MISSÃO IMPOSSIVEL: ACONSELHAR HAMÃ
Hamã é um ESTUDO DE CASO sobre o que acontece no nosso coração quando nossos ídolos são desafiados. Toda vez que deixamos crescer uma paixão, ela vai perturbar nossa paz interior.
Ele havia feito do RECONHECIMENTO PÚBLICO o seu ídolo, e o resultado era que desde que estivesse sendo adulado, ele se sentia ótimo.
Contudo, quando a realização do seu objetivo estava ameaçada, ele reagia perdendo a compostura e buscando alimentar seu ídolo por meio da vaidade.
Embora ele ainda possuísse um poder incomparável no reino, ele estava NO TOPO DO MUNDO, e era a pessoa mais importante no mundo, mas isso não era o suficiente.
Havia um vazio no centro de sua vida que nenhuma quantidade de sucesso e realização, conseguia preencher.
Hamã é um personagem antipático na história e isso nos leva a não sentir pena dele, por isso somos incapazes de sentir a sua dor.
Ainda assim, nesse momento na história ele estava clamando por alguém que o guiasse e o direcionasse a como lidar com suas emoções negativas dominantes.
Ele precisava era de CONSELHO BÍBLICO sábio. Essa é uma situação com a qual todos podemos nos identificar, seja ao lidar com nosso próprio coração ou ao buscar ajudar outros a lidar com a raiva na vida deles.
Pode ser salutar, portanto, podemos usar esse estudo de caso para melhorar nossas próprias habilidades de aconselhamento.
O que teríamos dito a Hamã se estivéssemos no lugar da mulher dele ou no de seus amigos?
Que palavras poderiam ter conduzido a vida dele numa direção diferente, mais positiva? Que evitaria um fim trágico para ele e sua família.
Um conselheiro habilidoso teria aconselhado Hamã a encontrar a fonte das suas emoções positivas e das negativas para descobrir o que estava orientando sua vida.
A ira que estava sentindo era uma OPORTUNIDADE para discernir a condição do seu coração, para revelar o que estava preenchendo o vazio na sua vida que só podia ser preenchido por Deus.
O que na vida dele o fazia sentir uma alegria irresistível? Quais haviam sido os acontecimentos que provocaram uma ira tão excessiva no seu coração?
Se Hamã estivesse disposto a ser confrontado, e exortado em seus pecados, ele seria capaz de dar uma resposta positiva aos fatos.
Olhando para trás, para aquele dia em particular, contudo, Hamã não estaria longe de buscar discernir sua necessidade de reconhecimento público.
Uma vez que ele tivesse reconhecido sua IDOLATRIA, seria possível mostrar a Hamã como o reinado de seu ídolo estava sendo desafiado pelos acontecimentos do dia.
Ele poderia ser levado a se arrepender da idolatria ao ver como o EVANGELHO respondia à sua necessidade de verdadeiro significado, o tipo de valor na vida que não é ameaçado pela opinião que as pessoas têm de nós.
Ele poderia ter sido apresentado ao Deus que ama o seu povo incondicionalmente, apesar dos pecados deles.
Ele podia ser levado a ver a necessidade de abandonar a visão de mundo centrada nele e no seu sucesso, em vez de centrada em Deus — em quem as realizações de Hamã teriam valor como um meio de dar a Deus a glória que ele merece.
Esse conselho talvez pudesse ter salvado a alma de Hamã, e talvez até mesmo a vida dele, se ele de fato estivesse pronto para abandonar seu ÍDOLO e aceitar o Deus vivo e verdadeiro.
Hamã era um home soberbo, vaidoso e amava o poder. É uma MISSÃO IMPOSSÍVEL aconselhar alguém que não reconhece a soberba do seu coração.
A Escritura diz que a soberba precede a ruína. Isto porque um soberbo não pode ser aconselhado.
Ele não aceita ser confrontado, desagradado. A soberba é uma doença que não pode ser diagnosticada, nem aceita pelo paciente.
Infelizmente, Hamã não buscou aconselhamento bíblico, mas em vez disso contentou-se em receber a sabedoria da sua esposa e dos seus amigos.
Isso mostra os perigos de ter amigos ímpios e uma esposa ímpia. Duas esposas estão trabalhando em ambos os lados desse DRAMA – Ester e Zeres. Só uma delas tem Deus ao seu lado.
É uma grande desgraça quando os piores conselheiros de um homem estão em sua própria casa. Uma boa esposa teria direcionado seus pensamentos em outra direção.
Aqui, então, está um FAROL de advertência para todas as esposas. Que tomem cuidado para não colocar lenha no fogo que já está queimando com muita força no coração de seus maridos, como Zeres fazia aqui
Uma esposa que é apenas o eco de seu marido, e apoia tudo aquilo em que ela vê que ele está determinado a fazer, não é uma boa companheira de homem algum.
É lamentável e algo óbvio, quantos homens maus se apegam a esposas, e as esposas tolas se apegaram a eles, como se ele passasse a valorizá-la de um jeito que nunca valorizou.
Mas que silenciosamente ele só quer alguém para apoiar sua atitude desastrosa e soberba. Ele está simplesmente COMPENSANDO, e isso é uma tragédia. Se ela tentar desagradar sua decisão ele a odiará com toda a sua força.
Amigos e cônjuges fiéis nos confrontarão com a verdade, levando-nos a ver os nossos erros e verdade sobre nós mesmos; e nos alertar sobre os perigos do orgulho.
O conselho ímpio deles foi simplesmente: “seguir o seu coração” e dar vazão total à sua ira. Os falsos amigos, sempre vão apoiar nossos erros:
“Então, lhe disse Zeres, sua mulher, e todos os seus amigos: Faça-se uma forca de cinquenta côvados de altura, e, pela manhã, dize ao rei que nela enforquem Mordecai; então, entra alegre com o rei ao banquete” (Et 5.14).
Essa ideia agradou Hamã, e ele mandou fazer a forca. Mas o problema com esse conselho era que ele não ajudava eliminar a emoção negativa da ira; mais alimentava ainda mais a IDOLATRIA de Hamã; em vez de mortificá-la.
Aquela forca foi um grande monumento que sua família e amigos construíram ao seu orgulho, mas que seria um instrumento adequado para sua morte.
Eles buscavam aumentar a necessidade dele se sentir importante promovendo uma vingança “tamanho gigante”. Para que todos vessem o quanto ele é importante.
Até mesmo um raciocínio superficial seria suficiente para mostrar que essa solução jamais trataria dos problemas essenciais de Hamã.
Na verdade, o próprio tamanho da forca; 22 metros de altura; teria involuntariamente elevado Mordecai a uma posição de importância: a própria morte dele teria atraído os olhares para ele (e desviado de Hamã) de uma maneira que uma pequena forca jamais faria.
A forca é construída em um tamanho extraordinário, da altura de um prédio de sete andares, sem perceber que essa é a medida de seu próprio orgulho
O que Hamã não sabe é que este banquete será o motivo de sua morte. Um dos paradoxos da vida é que o caminho para cima geralmente é o mesmo caminho para baixo.
Inevitavelmente é o que acontece quando buscamos lidar com nossas IDOLATRIAS alimentando-as em vez de fazê-las definhar.
Acabamos mais vazios do que nunca, mais prisioneiros do que antes, e é somente uma questão de tempo; antes que algo mais; reacenda nossas emoções negativas.
O conselho que Hamã recebeu não o levou a lugar nenhum. A ideia de aconselhar Hamã é um exercício de IMAGINAÇÃO HISTÓRICA.
É uma MISSÃO IMPOSSÍVEL; Hamã está além da nossa ajuda e, provavelmente, nunca teria aceiraria esse tipo de conselho.
E talvez nem mesmo esse tipo de conselho estivesse disponível numa cidade em o próprio povo de Deus havia se esquecido de muitas das verdades bíblicas básicas.
Mas nosso propósito ao seguir essa linha de pensamento é essencialmente prático. O nosso coração enfrenta a mesma tentação de se curvar aos ídolos.
A identidade desses ÍDOLOS é mais facilmente exposta ao analisar nossas emoções predominantes, boas ou más.
O que nos faz ficar irados de maneira desproporcional à ofensa recebida? Uma pista é que um de nossos ídolos está sendo ameaçado.
O que produz em nós um forte sentimento de realização? Pode ser um de nossos ídolos sendo afagado.
Nossas emoções fortes são pistas que nos ajudam a compreender melhor nosso coração.
Embora não possamos aconselhar Hamã, certamente podemos aconselhar a nós mesmos e a outros que se encontrem em perturbações parecidas.
- A PROVIDÊNCIA DE TODAS AS POSSIBILIDADES.
Na missão impossível de escalar o prédio mais alto do mundo, todo de vidro, e suportando um vento a 50km por horas, é realmente algo para um herói.
Mas a realidade é que a câmera torna invisível os cabos de aços que predem o Ethan, e os equipamentos de segurança que ele usa.
O capítulo 5 de Ester, mostra que a mão invisível da providência divina, estão controlando cada detalhe dos acontecimentos.
Esse capítulo também nos mostra que lidar com o império às vezes exige grande sutileza.
Algumas porções da Bíblia podem parecer sugerir que uma abordagem simples, franca e direta é sempre melhor.
“Tenha a coragem de ser um Daniel” e não se preocupe com as consequências. E constantemente essa é a melhor abordagem.
No entanto, há ocasiões na providência de Deus em que uma abordagem mais indireta irá produzir melhores resultados.
Uma confrontação direta nem sempre é a reação mais sábia no conflito com o mundo. Às vezes, a SUTILEZA E A MANSIDÃO são mais efetivas a longo prazo.
À luz do dilema de Ester, é instrutivo considerar o conselho de Pedro para as mulheres de não crentes:
“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor” (1Pe 3.1-2).
Pedro aqui aconselha essas mulheres a não fazer uso de pirotecnias verbais ou adorno exteriores extravagantes, mas, em vez disso, a ganhar o marido com santidade, gentileza e mansidão.
Há ocasiões para ser direto e ocasiões para ser indireto. Isso tendo sido dito, porém, não foi apenas a sutileza de Ester que mudou a situação no final das contas.
Na verdade, Deus usou a SUTILEZA de Ester, mas ele também usou a TEIMOSA RECUSA de Mordecai a se curvar e o EGOCENTRISMO de Hamã para levar cada PROTAGONISTA ao lugar exato onde ele os queria.
Independentemente de sua intenção, o convite de Ester para Hamã inflou o orgulho dele.
A presença de Mordecai na porta do rei, quando Hamã foi para casa, e a sua recusa em se curvar, acabaram com o bom humor de Hamã.
O conselho da mulher de Hamã e dos seus amigos em resposta à sua inquietação interior, levou-o a construir a enorme forca e pedir uma audiência com o rei bem cedo na manhã seguinte.
As coisas pareceram tão sombrias. O suspense aumenta quando a cortina se fecha em mais uma cena. O mal prevalecerá? Porém, quanto maior o mal, maior será o efeito da libertação. A maior glória também se refletirá em Deus.
A mensagem de Ester é que o plano de Deus sempre dá certo, mesmo sem trovões e relâmpagos. O DEUS APARENTEMENTE INVISÍVEL É SEMPRE INVENCÍVEL. Se Deus é por nós, ninguém pode se opor a nós.
A palavra PROVIDENCIA vem do latim “pre – vídeo”; ver a cena antecipadamente.
A providência viu todos esses acontecimentos, e sem interferir nas escolhas livres das pessoas, conduziu todas as coisas necessárias para cumprir seu plano soberano.
Se Ester tivesse QUEIMADO ETAPA, apresentando seu pedido cedo demais, o rei não teria se lembrado do ato de Mordecai que o salvou.
Também não teria sido construída a forca que executaria Hamã fazendo justiça de maneira tão PERFEITA E POÉTICA. Sem dúvida era plano de Deus que tudo acontecesse como aconteceu.
O objetivo era que ele pudesse levar o conflito individual entre Hamã e Mordecai ao seu desenlace perfeito antes que o conflito maior fosse também resolvido.
Observe que nesse caso o plano de Deus funcionou sem raios, trovões ou uma divisão do mar para salvar o seu povo. Ninguém foi libertado de uma fornalha ardente ou miraculosamente preservado numa cova de leões.
A obra de Deus aqui, em todos os detalhes, é tão sutil quanto Ester o foi.
Ela avança atiçando discretamente cada um dos personagens na história a agir exatamente de acordo com os próprios desejos e temperamentos, ao mesmo tempo em que fazem exatamente o que ele quer.
Assim se realiza o plano de Deus no mundo ao nosso redor. Ele vai adiante, não apesar dos nossos desejos e inclinações, justos ou pecaminosos, mas precisamente nos levando a ser as pessoas que somos.
Uma garotinha uma vez perguntou: “Se Deus está no controle de todas as coisas, isso quer dizer que ele brinca conosco, como brincamos com as bonecas numa casa de bonecas?”.
A resposta é não. Deus está no controle de todas as coisas e ele opera tudo de acordo com sua santa vontade para sua glória e para nosso bem (Rm 8.28).
Contudo, não somos passivos e impotentes nesse processo, como bonecas numa casa de bonecas. Pelo contrário, agimos exatamente de acordo com nossos próprios desejos e temperamentos.
A soberania de Deus opera de tal maneira que nossa liberdade e responsabilidade para agir não ficam comprometidas, mas o resultado final é exatamente o que Deus planejou desde o início.
Ester, Mordecai, Hamã e Assuero não foram compelidos a agir de maneira contrária às suas vontades, mas mesmo assim fizeram exatamente o que eles queriam, isso não impediu o que Deus havia planejado.
Assim também nós não somos meros robôs, embora Deus realize seus propósitos em nós e por nosso intermédio.
Foi essa verdade que levou o apóstolo Paulo a escrever: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13).
Mais do que isso, Deus atinge seus objetivos perfeitos não apenas por meio das nossas melhores intenções e ações altruístas, mas até mesmo por meio dos nossos maiores erros e concessões.
- MISSÃO IMPOSSÍVEL: AS BOAS-VINDAS DO REI.
Mais uma vez, quando consideramos o império de Assuero e o reino de Deus lado a lado, só podemos ficar perplexos com a diferença, Louvemos a Deus que servimos, um Rei totalmente diferente daquele que Ester conhecia.
Aproximar-se de Deus não é como aproximar-se de Assuero, com nossos joelhos tremendo e o coração apreensivo sem saber se iremos sobreviver ao encontro.
Quem pode predizer como um governante tão inconstante irá reagir? Um dia os suplicantes podiam achar favor aos seus olhos, e ele lhes daria as boas-vindas; no outro dia seria: “cortem as cabeças deles” literalmente.
Nosso Deus, contudo, nos convida à sua presença regularmente, na verdade frequentemente, para que possamos tornar conhecidas a ele nossas petições e pedidos.
Nenhuma sutileza é exigida ao formular nossos desejos. Não precisamos usar linguagem floreada ou fazer astutas manobras psicológicas para induzir Deus a nos dar aquilo de que precisamos.
Pelo contrário, ele é um pai para nós, e se até mesmo os pais terrenos dão boas coisas aos seus filhos, quanto mais não irá nosso pai celestial nos dar as coisas de que precisamos para crescer e prosperar?
Há uma grande diferença entre a admoestação de Mordecai a Ester para arriscar sua vida para buscar o favor de Assuero e o comando de Paulo aos filipenses:
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4.6).
Em Hebreus lemos: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). O nosso Rei tem uma POLÍTICA DE PORTAS ABERTAS.
Esse contraste não é porque não há custo para ter acesso ao Rei. A nossa entrada no corte celestial é grátis, mas não foi comprada por um baixo preço.
Como pecadores, uma morte é exigida antes que possamos entrar na presença daquele que é santo.
E essa MISSÃO É IMPOSSÍVEL; pecadores não se apresenta diante de um Deus santo, sem ser punido com a morte eterna.
Deus pode estender o cetro de ouro para nós somente porque a terrível punição do seu juízo caiu sobre Cristo.
Nossa paz com Deus é paga pelo sangue de Cristo. Entretanto, tendo sido pago um preço tão alto, nossa paz foi comprada de uma vez por todas.
Nada e nem ninguém pode agora nos separar do favor de Deus e do direito de Ievar todas as nossas preocupações diretamente ao trono de graça.
Nem a morte, nem a vida, nem forças celestiais, nem provações terrenas, nem adversidade e nem prosperidade — em suma, nada na criação pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8.38-39).
O que temos feito com esse privilégio? Temos um CARTÃO DE ACESSO, assinado com sangue, que nos dá acesso ao trono da graça.
Podemos levar nossas orações e petições ao Senhor do universo, cuja palavra realiza toda a sua santa vontade. O que temos feito com esse convite glorioso?
Se formos honestos, a maioria de nós terá de admitir que temos feito muito pouco, por meio das nossas orações.
Pode ser que esse convite tenha um impacto menor no nosso coração do que teve o convite de Ester no coração de Hamã, de nos encher de abundante alegria.
Deveríamos estar constantemente de joelhos diante de Deus, regozijando-nos com o coração transbordando por todo o seu favor imerecido.
Ainda assim com frequência vivemos como ATEUS PRÁTICOS, como se o futuro da nossa vida dependesse inteiramente da nossa habilidade de manipular o império por meio de nossa habilidade e sutileza pessoais.
Muitas vezes, só clamamos a Deus quando a situação é absolutamente desesperadora.
A verdade é que o convite inesperado e imerecido que recebemos para o BANQUETE REAL não influenciou nossas emoções de maneira duradoura, como deveria ter acontecido.
O fato de o rei promover Hamã e as honras que continuamente eram derramadas sobre ele deveriam ter afastado o coração dele do impacto de dificuldades menores.
Em vez disso, os pensamentos dele passaram rapidamente da alegria ao desespero por causa do que Mordecai visivelmente representava — desrespeito pela sua honra e posição.
Uma reação desproporcional e ridícula. Mas nós também não somos igualmente volúveis?
A nossa alegria pela salvação não deveria ser muito mais inexpugnável do que a alegria de Hamã?
Ela não está baseada na incomparável glória da incrível bondade de Deus para conosco? Na realidade, contudo, com quanta frequência temos dito a nós mesmos:
“Sim, eu sei que Deus fez de mim seu filho e um co-herdeiro da gloriosa herança de Cristo, ainda assim isso não vale nada para mim já que eu não tenho; isto ou aquilo que me dê a sensação de segurança ou o conforto relevante”?
Talvez nossa alegria tenha se perdido por causa da falta de amor em casa, falta de respeito de nossos pares ou falta de reconhecimento no trabalho.
Ficamos desapontados por causa de pequenos contratempos terrenos porque perdemos de vista as incríveis glórias da nossa herança celestial.
Talvez, então, a primeira petição que precisamos fazer ao Senhor é que ele transforme o nosso coração.
Não é por acaso que, ao comparar o seu pai celestial a pais terrenos, o dom que Jesus promete àqueles que pedem é o Espírito Santo (Lc 11.13).
Acima de tudo, isso é o que precisamos de Deus. Precisamos que Deus nos conceda o seu Espírito para que possamos ter nosso coração e vida cada vez mais reconduzidos a ele.
A obra do Espírito Santo é exaltar Cristo no nosso coração, nos encher com um desejo de adorar, orar e operar na nossa alma a lenta obra da santificação.
Se recebermos esse dom de Deus, então nosso coração gradualmente se encherá de gratidão pelo privilégio que temos em Cristo.
Assim, quando deixarmos a sala do trono para voltar ao mundo, qualquer ofensa ou contratempo nos ele nos trouxer terá pouco impacto sobre nós.
Se temos o favor do rei, quem se importa com o que as pessoas ao nosso redor pensam de nós?
Temos a promessa do próprio Deus de que ele irá atender as nossas orações quando pedirmos a ele o Espírito Santo. Devemos então pedir com ousadia e confiança, para receber gratuitamente do Rei.
No entanto, por ora recebemos o precioso dom de Deus somente em parte. Ele nos prometeu sua presença conosco e não vai nos deixar ou nos esquecer. Mesmo assim, esperamos pela totalidade da presença que ainda está por vir.
Aqui podemos experimentar a presença de Deus conosco em parte, mas somente em parte. O dom do Espírito em si é somente parte do pagamento da nossa grande herança (Rm 8.23).
Conhecer a Deus ainda é o mais rico tesouro que se possa conceber, mesmo se tratando de uma experiência parcial.
Mas a totalidade do conhecimento espera por nós além do véu da morte, quando conheceremos como somos totalmente conhecidos (1 Co 13.12).
Essa é a esperança que temos e pela qual ansiamos. Iremos então conhecer Cristo em sua plenitude e no poder da sua ressurreição (veja Fp 3.10-11).
Nesse meio-tempo, enquanto aguardamos o retorno de Cristo, nós continuamente lutamos contra nosso coração.
Idolatrias não mortificadas muitas vezes se levantam para ameaçar nossa paz e alegria.
E nesse meio-tempo nós também nos debatemos com o império, exercitando toda a nossa sutileza e força, mesmo reconhecendo que Deus é o único que pode dobrar o império à sua vontade.
Mas não lutamos sozinhos: Deus nos dá o seu Espírito Santo para começar sua obra em nós, produzindo seus frutos em nós e por nosso intermédio.
Mais do que isso, não lutaremos para sempre: um dia, nossa luta terá fim e seremos conduzidos à presença imediata de Deus para sempre.
Para aqueles que estão em Cristo, não haverá medo naquele dia, pois o próprio Cristo abriu a porta para nós.
Nada e nem ninguém pode fechar a porta na nossa cara. Então, teremos alegria e paz insuperáveis. E alegria e paz insuperáveis é o que deveríamos ter agora.
CONCLUSÃO:
Buscando conhecer a Deus melhor, João Crisóstomo se tornou um eremita nas montanhas próximas a Antioquia em 373 DC.
Embora seu tempo de isolamento tenha sido interrompido pela doença, ele aprendeu que com Deus ao seu lado, ele poderia resistir sozinho contra qualquer pessoa ou qualquer coisa.
Aprender essa lição serviu muto bem a Crisóstomo. Em 398 DC foi nomeado Bispo de Constantinopla, onde seu zelo por uma reforma, provocou a ira da Imperatriz Eudóxia, que o exilou.
Permitido retornar, num curto prazo, Crisóstomo enfureceu outra vez a imperatriz, que o mandou embora novamente.
Como Crisóstomo responder a essa perseguição? Com estas palavras: “O que eu posso temer Majestade?
Seria a morte? Mas você saiba que Cristo é minha vida e que ganharei com a morte?
Será exílio? Mas a terra e tudo sua plenitude é do Senhor. Pobreza eu não temo; riquezas pelas quais não suspiro; e a morte, é um grande lucro. Nenhuma missão é impossível, quando alcançamos o favor de Deus.
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