Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 05 – A sabedoria e a loucura. Eclesiastes 2:12-17. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 22/04/2020.

INTRODUÇÃO.

A curiosidade é uma das características da infância. As crianças adoram perguntar: o “Por quê?” de tudo. A maioria das crianças tem uma mente inquiridora em relação a tudo.

As perguntas é a forma da vida em todas as coisas. Por que você faz o que faz? Por que você não faz de outro jeito? Por que o universo é assim e não de outro jeito? Por quê? Por quê? Por quê?

Com o passar do tempo, a maioria das pessoas deixa de fazer tantas perguntas. Recebemos respostas suficientes que nos permitem viver ou aprendemos a nos contentar sem conhecer todas as respostas.

Mas algumas pessoas jamais perdem sua curiosidade intelectual. Nunca param de perguntar: “Por quê?”.

Principalmente quando se trata das grandes perguntas sobre Deus, o universo e o sentido da existência humana.

Querem saber o “porquê” de tudo. O texto de hoje toca essa ideia perfeitamente. Vejamos:

  1. A BUSCA DO PREGADOR

O escritor de Eclesiastes tinha essa curiosidade insaciável em relação à vida.

Ele chamava a si mesmo de Kohelet (Ec 1.1,12), que significa “o Reunidor”, “inquiridor”; porque o chamado de sua vida era reunir o povo de Deus para instrução espiritual.

Hoje, nós o chamaríamos de “o Pregador”, ele se identifica como rei de Jerusalém, o Rei-Pregador.

Apesar de nunca se identificar diretamente e mencionar seu nome, oPregador se identifica como o rei Salomão pela forma como descreve a sua riqueza e sabedoria.

O pregador gostava de perguntar “por quê?” a fim de entender este mundo, ele se aventurou numa longa e difícil busca para encontrar o sentido da vida.

Quando não conseguiu encontrar as respostas que procurava, ele não desistiu, intensificando ainda mais a sua busca.

A princípio, o Pregador acreditava que a busca de sabedoria lhe daria todas as respostas (Ec 1.12-15).

Mas havia tantas coisas na vida que ele não conseguia entender, ou que não faziam sentido, que sua busca logo terminou em fracasso.

  1. A informação não trouxe transformação.

Então, o pregador se voltou para a moralidade. Talvez, o conhecimento da diferença entre o certo e o errado lhe trouxesse algum sentido de propósito (Ec 1.16-18). No entanto, isso apenas aumentou seu sofrimento e aflição.

Em seguida, o Rei-Pregador buscou o PRAZER (Ec 2.1-11). Se a sabedoria terminou em tristeza, talvez a busca do prazer o levasse à felicidade.

Assim, construiu prédios magníficos e lindos jardins. Ele saboreou os luxos do vinho, das mulheres e da música.

Jamais se negando a qualquer prazer ou impondo limites aos seus apetites. Salomão aproveitou tudo ao máximo.

No entanto, nem mesmo os maiores prazeres da vida conseguiram satisfazer a sua alma.

Se ele o disse uma vez, ele o diria mil vezes: TUDO ERA VAIDADE E CORRER ATRÁS DO VENTO. NÃO HAVIA GANHO NENHUM DEBAIXO DO SOL.

  1. Não fugiu das perguntas difíceis.

Mesmo assim, ele continuou sua busca. Não tinha jeito. Ele queria saber “por quê”, e ele se recusava a desistir antes de encontrar a resposta. E assim, com perseverança, ele continuou à PROCURA DO SENTIDO DA VIDA.

Todos aqueles que desejam descobrir a verdade sobre as coisas deveriam seguir o seu exemplo. Não fuja das perguntas difíceis.

Não se contente com explicações fáceis que não resistam a uma análise minuciosa. Continue procurando até você encontrar o seu caminho a Deus.

Com o propósito de entender, o Pregador nos conta que ele passou “a considerar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia” (Ec 2.12).

Se essas palavras lhe parecerem familiares, é porque Kohelet disse quase a mesma coisa em Eclesiastes 1.13, quando aplicou “O coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria”.

Novamente em Eclesiastes 1.17, quando aplicou o seu coração “a conhecer a sabedoria e a saber o que é loucura e o que é estultícia”. Ele volta para contemplar novamente algo que já contemplou antes.

Isso é o que muitas pessoas costumam fazer quando procuram por algo que está faltando.

Primeiro procuram encontrá-lo no lugar mais lógico; quando isso falha, começam a procurar em outros lugares.

Mas se, mesmo assim, não conseguirem encontrar aquilo que procuram, elas dizem a si mesmas: “Talvez não tenha visto algo.

Provavelmente, deveria voltar para onde comecei e procurar com mais cuidado”.

É assim que funcionamos. Quando damos falta de algo, voltamos para o lugar em que deveria estar, mesmo já tendo procurado ali.

Assim, o pregador voltou a “considerar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia”.

  1. A loucura não viaja sozinha.

“Loucura” e “estultícia” andam juntas. O Pregador não está descrevendo três categorias diferentes, apenas duas.

De um lado, temos a “sabedoria”, que é usada aqui no sentido mais amplo para se referir ao pensamento humano em sua melhor performance.

Nesse sentido, sabedoria não é a profunda compreensão espiritual que começa e termina com o temor do Senhor, mas simplesmente uma orientação boa, moral e prática para o dia a dia, que encontramos em pessoas brilhantes.

Do outro lado, temos “loucura” e “estultícia”, ou talvez seria melhor dizer “TOLA LOUCURA”, pois esses dois termos andam juntos. Eles nunca viajam sozinhos.

Aqui, Eclesiastes usa uma figura de linguagem, que une duas palavras; para expressar a mesma ideia.

Ele não está fazendo uma distinção cuidadosa entre loucura e estultícia, mas juntando as duas coisas para descrever a incoerência de uma pessoa que tem um estilo de vida caraterizado como uma “TOLA LOUCURA”.

Uma pessoa tola é moralmente louca. A loucura é o lado oposto da sabedoria.

Um ato ou comportamento; é sempre uma expressão de sabedoria, sensatez; ou de loucura, ou agimos como sábios ou como loucos tolos.

  1. O veredito final.

O que o Pregador nos está dizendo é que, após buscar o prazer, ele desejou reavaliar as pretensões da SABEDORIA E DA TOLA LOUCURA.

Ele queria comparar as duas, estudando a diferença entre a maneira certa e a maneira errada de viver, para então ver se isso o ajudaria a entender o propósito da vida.

Seu motivo para essa reavaliação é garantir que a vida tem sido contemplada de todos os ângulos possíveis. O Pregador pretendia escrever a última palavra sobre o sentido da vida.

Por isso, quis que sua busca fosse o MAIS ABRANGENTE POSSÍVEL, ele demonstra isso no verso seguinte: “Que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram” (Ec 2.12).

Reconheço que esse versículo é difícil. Ele pode estar dizendo “pois quem pode fazê-lo melhor que eu, o rei?”.

Ou seja, quem melhor que Salomão poderia fazer esse experimento de comparar a sabedoria e a loucura tola?

Esse versículo nos ajuda a entender o propósito dos experimentos de Eclesiastes.

Ele está considerando a sabedoria e a loucura de uma maneira tão minuciosa, que outros que vierem depois dele, possam considerar que ele já exauriu todas as formas de buscas possíveis.

Ele mostra as dificuldades reais que ele tem de entender o sentido da vida, e que as pessoas que viriam depois dele deveriam considerar isso com seriedade.

Quando fala da pessoa que “virá depois do rei”, ele está olhando para o futuro e se pergunta quem mais terá as mesmas perguntas que ele tem sobre a existência humana.

Considerado isso, ele pretende escrever uma declaração definitiva sobre sabedoria e tola loucura. Como o rei mais sábio e mais rico, ele está na posição ÚNICA de fazer isso.

Quem poderia acrescentar algo à experiência de alguém como Salomão?ELE É O PERFEITO ESTUDO DE CASO. Se ele não conseguir encontrar o sentido da vida, quem poderá?

Que esperança há para que alguma outra pessoa encontre a resposta para essas perguntas?

Mas se o Rei-Pregador for capaz de compreender o propósito da nossa existência, aquilo que ele tem a dizer sobre o sentido da vida persistirá.

Ele exauriu a busca pelo sentido da vida. Ele está dando o veredito final. Ele buscou o sentido da vida em todas as coisas. Mas nada tem sentido, é tudo vaidade!

  1. UMA BREVE FAÍSCA DE ESPERANÇA

Ao comparar a sabedoria com a tola loucura, o pregador nos oferece uma breve faísca de esperança. Após anunciar a meta de sua busca, ele nos diz o que descobriu:

“Então, vi que a sabedoria é mais proveitosa do que a estultícia, quanto a luz traz mais proveito do que as trevas” (Ec 2.13).

Até agora, tudo tem sido vaidade e correr atrás do vento. Mas aqui, ao elogiar o valor relativo da sabedoria, o Pregador nos apresenta algum progresso em seu pensamento.

  1. A melhor alternativa.

Talvez seja verdade que a sabedoria é incapaz de endireitar o que é torto ou de contar o que falta.

Pode muito bem ser que ter mais sabedoria aumente o sofrimento e a dor. Mas, em vista de tudo; ter sabedoria ainda é a MELHOR ALTERNATIVA.

Anteriormente ele disse que não há nada a ser ganho na vida, mas aqui ele reconhece que a sabedoria é pelo menos um pouco vantajosa.

Apesar de limitado, seu valor é legítimo, pois é melhor ser uma pessoa sábia do que um louco tolo.

Salomão expressa o contraste entre sabedoria e loucura em termos de luz e escuridão.

É melhor estar na luz do que nas trevas, como todos sabem. Percebemos isso quando as luzes se apagam.

Mesmo acreditando saber onde tudo se encontra, muitas vezes acabamos tropeçando em coisas no nosso caminho. Da mesma forma, as pessoas tolas tropeçam pela vida.

  1. Uma percepção util.

Então, o Pregador estende a sua comparação, dizendo: “Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o estulto anda em trevas” (Ec 2.14).

O valor da sabedoria não se deve simplesmente ao fato de FORNECER LUZ, mas também ao fato de nos CAPACITAR A VER.

Ela dá visão, não só iluminação. Dizer que o sábio tem “olhos na cabeça” significa que ele consegue ver o que está fazendo e para onde está indo. ELE TEM UMA PERCEPÇÃO ÚTIL DA VIDA.

O tolo, por sua vez, não possui olhos e anda na escuridão. Essa escuridão não está apenas em volta dele, mas também dentro dele, pois ele não tem olhos com os quais possa ver.

A cegueira deixa as pessoas em posição de desvantagem. A luz é melhor do que a escuridão.

A Bíblia usa muitas vezes esse contraste. Às vezes, usa luz e escuridão para mostrar a diferença absoluta entre conhecer Deus e viver sem ele.

Ou entre viver em santidade e tropeçar pela vida na escuridão do pecado (Jo 3.19; Ef 5.8; 1 Pe 2.9).

Aqui em Eclesiastes simplesmente diz que a diferença entre sabedoria e a loucura é como luz e a escuridão.

Alguém parafraseou assim esse texto: “Eu vi que a sabedoria é, de longe, mais valiosa do que a loucura”.

“Faz mais sentido buscar o caminho da sabedoria do que gastar sua vida em folia e prazeres.  Entendi isso de forma tão clara quanto dia e noite”. 

III. O GRANDE EQUALIZADOR

A essa altura, Salomão já nos mostrou o valor da sabedoria convencional sobre a loucura, pois é melhor ser sábio do que um insensato louco.

Encontramos essa mesma perspectiva em muitos dos provérbios de Salomão: “O filho sábio alegra a seu pai”, diz, “mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe” (Pv 10.1).

E repete: “O sábio de coração aceita os mandamentos, mas o insensato de lábios vem a arruinar-se” (Pv 10.8).

Até aqui, tudo bem. Mas então um pensamento perturbador passa pela mente do pregador.

Isso é típico dele. Nunca satisfeito com a sabedoria convencional, ele sempre quer ir mais a fundo. Ele não está satisfeito com essa descoberta!

  1. Mesmos infortúnios.

Aqui, o Pregador explora a sabedoria e a loucura em termos de VALOR ABSOLUTO, levando-as até o limite da vida:

Contudo, entendi que o mesmo lhes sucede a ambos” (Ec 2.14). O mesmo destino acomete ambos.

Esse versículo pode significar simplesmente que o sábio e o insensato experimentam os MESMOS ALTOS E BAIXOS NA VIDA.

Nesse caso, a palavra “DESTINO” não seria usada no sentido FATALISTA, mas se referiria, em um sentido amplo, a tudo que acontece na vida.

Não importa se vivemos de acordo com a sabedoria ou a loucura, nós nos envolveremos em muitos eventos iguais, inclusive nas mesmas calamidades e catástrofes.

Não importa quão espertos somos, muitas coisas na vida se encontram além do nosso controle. Tanto o sábio, quanto o tolo, podem ficar desempregados, doentes, bater o carro, etc…

Assim, sofreremos muitos incidentes que os outros também sofrerão, para o bem e para o mal.

  1. O mesmo destino.

No entanto, quando ele fala sobre “o mesmo” ou “o destino” que sucede a todos nós; o Pregador parece estar pensando em algo mais especifico. Ele está falando sobre aquilo que sucede a todos: A MORTE.

Isso se torna perfeitamente claro no versículo 16, em que ele diz que “Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto!“. Mas já no versículo 14 de fala sobre o destino que espera a todos nós.

Na vida, é melhor ser sábio do que insensato. Mas o que acontece conosco no fim? Todos nós morremos.

Então, qual é a vantagem de ser sábio’? Uma vez mortos, nossa sabedoria não nos adiantará nada.

Qualquer vantagem que obtivermos por meio da sabedoria é estritamente temporária.

Não importa se somos sábios ou tolos, em breve estaremos mortos, e quem, então, se lembrará de nós? A morte é o GRANDE IGUALADOR; ela é um GRANDE EQUALIZADOR.

O Dr. HADDON ROBINSON pregando sobre Eclesiastes. Ele contou como se sentiu ao fazer uma cerimônia fúnebre de um homem que falava 34 línguas.

A maioria das pessoas fala apenas uma ou, no máximo, duas línguas, mas aqui estava um homem que entendia 34 línguas.

No fim, porém, sua inteligência não importava —morreu como todos os outros. O salmista diz (SI 49.10): “Vê-se morrerem os sábios“, “e perecerem tanto o estulto como o inepto”

A morte não é parcial. Essa coisa absurda e trágica; frustra todos os nossos esforços de encontrar sentido na vida.

Passamos pela vida tentando desesperadamente negar a realidade da nossa mortalidade; mas a morte nos assombra mesmo assim.

  1. Uma ansiedade fundamental.

O livro “O PARADOXO DO PROGRESSO (The ProgressParadox[1]). Demonstra que, apesar da vida ocidental melhorar constantemente em termos materiais, sua felicidade não aumenta.

Então o autor tenta descobrir por que as pessoas estão se sentindo piores ao mesmo tempo em que suas vidas estão, supostamente, melhorando.

Ele oferece uma variedade de respostas a essa pergunta, muitas delas baseadas em pesquisas sociológicas.

Mas, em determinado momento, ele se pergunta se porventura o problema pode estar relacionado com a MORTE.

Talvez “as pessoas fiquem cada vez mais ricas”, ele diz, “mas, aparentemente, não mais felizes, porque existe uma ANSIEDADE FUNDAMENTAL no coração de todos nós, e essa ansiedade é o medo da morte”.

Por um instante, o autor do livro abre a janela para a alma humana. Ah! Como seria bom se ele tivesse a resposta para a nossa ansiedade!

Uma coisa é acreditar que todos os homens são mortais, aceitar a realidade da morte em TERMOS INTELECTUAIS, mas é algo completamente diferente reconhecer que também nós precisamos morrer.

Isso é algo que todo soldado precisa encarar em tempos de guerra.  Muitos soldados entram em sua primeira batalha com a expectativa ingênua de que, mesmo que outros homens morram, eles conseguirão sobreviver de alguma forma.

Mas quando veem seu primeiro camarada morrer na batalha, pensam: “Este poderia ter sido eu”, e são obrigados a encarar a sua própria mortalidade.

Esse tem sido exatamente o SENTIMENTO DE PAVOR que tomou conta do mundo por causa da PANDEMIA DO CORONVÍRUS COVID-19.

Quando o Pregador encarou a sua mortalidade, ele disse a si mesmo na privacidade de seu íntimo:

Pelo que disse eu comigo: como acontece ao estulto, assim me sucede a mim; por que, pois, busquei eu mais a sabedoria? Então, disse a mim mesmo que também isso era vaidade” (Ec 2.15).

Mais cedo ou mais tarde, todos chegam a essa percepção chocante: Algum dia eu também morrerei; meu coração baterá uma última vez, meus pulmões expirarão pela última vez e este será o fim dos meus dias na terra.

Essa realidade dolorosa leva o homem sábio a se perguntar se é realmente sábio buscar a sabedoria.

Em vista de sua morte vindoura, a tentativa de descobrir o sentido da vida lhe parece agora um desperdício de energia.

JEAN-PAUL SARTRE; concorda com Salomão, pois o famoso EXISTENCIALISTA disse: “A vida deixa de ter sentido no momento em que você perde a ilusão de ser eterno”.

  1. Sem memória.

E há mais um problema com a morte, e novamente trata-se de um problema que aflige os sábios tanto quanto os tolos: A MORTE TEM O PODER DE APAGAR A MEMÓRIA DA NOSSA EXISTÊNCIA.

Às vezes, as pessoas tentam superar esse problema com conquistas terrenas, mas a morte acaba vencendo no final.

O cineasta WOODY ALLEN reconheceu isso quando disse: “Não quero alcançar a imortalidade por meio do meu trabalho. Quero alcançá-la não morrendo”.

Mas a realidade é que todos nós precisamos morrer. E quem se lembrará de nós quando não estivermos mais aqui?

Na introdução ao seu livro, o pregador diz: “Já não há lembrança das coisas que precederam” (Ec 1.11).

Aqui, ele diz: “Pois, tanto do sábio como do estulto, a memória não durará para sempre; pois, passados alguns dias, tudo cai no esquecimento. Ah! Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto!” (Ec 2.16).

Alguém se lembrará de nós depois da morte? Aparentemente não.

ALEXANDRE, O GRANDE, aprendeu essa lição de forma dramática com seu amigo DIÓGENES, um filósofo famoso.

Alexandre encontrou Diógenes sozinho num campo, contemplando intensamente uma pilha de ossos.

Quando ALEXANDRE perguntou o que ele estava fazendo, DIÓGENES respondeu: “Estou procurando os ossos do seu pai Felipe, mas não consigo distingui-los dos ossos dos escravos”.

Não importa se somos ricos ou pobres, a morte colocará um fim a qualquer vantagem que possamos ter na vida.

Assim, a busca do pregador fracassa de novo. Essa nova investigação o levou às mesmas descobertas.

A sabedoria humana não consegue superar a morte, portanto, ela não pode resolver o problema do SENTIDO DA VIDA.

A morte interrompe tudo. E todos os homens estão destinados a morrer.

Se o destino é a extinção, então isso rouba do homem a sua dignidade, e cada projeto se torna sem sentido.

  1. ABORRECENDO-SE DA VIDA

A esta altura, o refrão do Pregador já nos é bem familiar: tudo é vaidade!

O PODER EQUALIZADOR DA MORTE o leva mais uma vez a conclusão: de que a vida é nada além de vaidade, como o vapor que sobe do bule fervente e então desaparece.

  1. A amargura do fracasso.

Mas dessa vez sua atitude parece muito mais negativa. O fracasso repetido de sua busca continuada ameaça amargurar seu coração:

Pelo que aborreci da vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 2.17; cf. AS 7.16).

Uma coisa é decepcionar-se com a vida e todas as suas frustrações, mas odiar a vida é algo completamente diferente.

O Salomão de Eclesiastes parece estar caindo em DESESPERO ABSOLUTO.

Não é apenas a sua vida que ele odeia, mas a vida em geral – todo o empreendimento da existência humana.

Assim, alcançou ponto mais baixo de raiva e desespero. O que a sua experiência demonstra de forma clara; mais do que qualquer outra coisa na Bíblia; que essa é a REALIDADE DA VIDA SEM DEUS.

Lembre-se de que ainda estamos contemplando as coisas de uma perspectiva meramente humana, essa busca está baseada na sabedoria terrena das pessoas que vivem “debaixo do sol”.

  1. Desespero absoluto.

Por essa PERSPECTIVA MUNDANA, a vida faz tão pouco sentido; e isso é que ela leva as pessoas ao desespero absoluto.

Muitos pensadores têm chegado à mesma conclusão. O filósofo VOLTAIRE disse numa carta a um amigo próximo: “Odeio a vida, mas tenho medo de morrer”.

O jovem C. S. LEWIS, nos dias em que ainda era ateu, disse: “Venham, amaldiçoemos o Mestre antes de morrermos./ Pois todas as nossas esperanças estão em ruínas. /O bom está morto. Amaldiçoemos o Deus Altíssimo”.

Ou veja estas palavras de FRANÇOIS MAURIAC, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1952:

“Você não pode imaginar o tormento de não ter tirado nada da vida e de ter nada a esperar senão a morte, de sentir que não há outro mundo além deste, que o quebra-cabeças jamais será explicado”.

É assim a vida debaixo do sol. O Pregador odiava a vida por causa da certeza da morte e do absurdo de perder toda a sua sabedoria em consequência dela.

Talvez você odeie a vida por alguma outra razão — por causa de sua dor física, ou por causa de seu sofrimento injusto, ou por causa de suas dificuldades financeiras, ou por causa de suas muitas outras decepções.

Mas qualquer que seja a razão, enquanto contemplarmos as coisas por uma perspectiva debaixo do sol, há muitas coisas na vida que podemos odiar.

  1. SABEDORIA PARA ALÉM DO TÚMULO

A única maneira de escapar desse ódio é encontrar uma sabedoria que vem de “CIMA DO SOL” e uma vida que vem do além do túmulo.

  1. O tumulo não é o fim

Em sua providência e graça, a Bíblia nos mostra onde encontrar essa sabedoria que “doa vida” quando nos convida a buscar:

as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.

Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são daqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

Quando Cristo, que é a NOSSA VIDA, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória” (Cl 3.1-4; cf. Ef 2.6).

Essas palavras abrem uma PERSPECTIVA que pode nos ajudar a amar a vida em vez de odiá-la.

Em vez de apenas olhar as coisas “debaixo do sol”, o apóstolo nos instrui a olhar mais para o alto, para o trono do universo, onde Jesus Cristo está sentado à direita de Deus.

Em vez de limitar-nos à sabedoria humana, por mais útil que isso seja em muitos aspectos, somos encorajados a nos concentrar nas coisas celestiais.

O que vemos quando contemplamos a vida desse ponto de vista elevado?

Vemos Jesus Cristo, que é a perfeição de toda sabedoria, aquele “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3).

Jesus Cristo é a sabedoria do próprio Deus. Além do mais, ele é a vida de Deus. Jesus Cristo é “O VERDADEIRO DEUS E VIDA ETERNA” (Jo 5.20; cf. Jo17.3).

Vemos sua vida em Colossenses 3.1, em que as Escrituras declaram que Jesus foi elevado para a direita de Deus.

Quando Jesus foi crucificado por nossos pecados, quando morreu e foi sepultado, ele foi ressuscitado dentre os mortos pelo poder do Espírito Santo.

Depois, foi exaltado à direita de Deus, que é o lugar de toda a autoridade e de todo o poder sobre o universo. Jesus Cristo está vivo.

VISTO QUE JESUS ESTÁ VIVO, O TÚMULO NÃO É O FIM DAQUELE QUE É SÁBIO O BASTANTE PARA CONFIAR NELE.

O Pregador odiava a vida porque reconheceu que ela traria o fim de toda a sua sabedoria.

Mas ele estava contemplando as coisas apenas de um ponto de vista terreno — “debaixo do sol”.

  1. Lembrados eternamente.

Para aqueles que voltam a sua mente para as coisas que estão acima e não nas coisas que estão na terra, existe vida e sabedoria além do túmulo.

Isso significa que não seremos ESQUECIDOS, mas LEMBRADOS por toda a eternidade.

Jesus é a nossa própria vida, e a Bíblia promete que, quando o Jesus ressurreto voltar para a terra, nós estaremos com ele, vivos na glória.

A Bíblia nos garante também que as nossas vidas estão “ocultas juntamente com Cristo, em Deus” (Cl 3.3).

Esse versículo expressa não tanto que nossas vidas estão escondidas, mas que estão protegidas.

Todas as NOSSAS LEMBRANÇAS estão seguras com Deus em Cristo.

A palavra que Paulo usa para “oculto” provém da raiz grega (krupto), que fornece a base para palavras como criptografia, que é uma maneira útil de refletir sobre as implicações espirituais desse versículo: nossas vidas estão CRIPTOGRAFADAS com Cristo em Deus.

Assim, Deus nos preserva em seu Filho, de forma que nada essencial daquilo que somos jamais se perca. Nossa história será contada por toda a eternidade.

Deus se lembrará de nós, mesmo quando quase nos esquecermos dele, e mesmo quando temermos que ninguém se lembrará de nós.

CONCLUSÃO. Você tem medo da morte? Você odeia a vida? Você se preocupa e teme que será esquecido? A vaidade da sua existência o desencoraja?

Você se sente como alguém que tem corrido atrás do vento? Olhe para além do sol, para o Filho de Deus.

Ele o ressuscitará dentre os mortos e protegerá a sua vida para sempre. Ele tem a resposta para a pergunta mais difícil. Ele venceu a morte.

[1]GreggEasterbrook

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