Série de sermões expositivos sobre o livro de Tito. Sermão Nº 02 – A verdade que conduz à piedade. Referência: Tito 1:1. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 15/5/2019.

INTRODUÇÃO:

Ray Stedman – diz que: “A Bíblia sem o Espírito leva a um cristianismo institucionalmente morto. O Espírito sem a Bíblia leva ao fanatismo infundado. Precisamos do Espírito e da Palavra para efetivamente nos aventurar através da Bíblia.” As Epístolas Pastorais, são aquelas três cartas do apóstolo, pastor, ancião, veterano evangelista missionário, Paulo, a dois jovens ministros do evangelho (Timóteo e Tito) que eram responsáveis ​​por resolver os problemas  doutrinários e as oposições e as acusações que aconteciam nas duas congregações, (Éfeso e Creta) mas eles também eram responsáveis ​​pelo evangelismo e missões.

Tito é uma carta curta, duas páginas e meia. Muitos dos temas que você encontrará na carta de Paulo a Tito são temas tratados também em Timóteo. Paulo está escrevendo, para um Pastor mais jovem e de sua total confiança aquém ele ama e valoriza, que tem características diferentes de Timóteo, mas é igualmente útil na igreja. Ele foi comissionado com autoridade direto do apostolo para estabelecer a igreja cristã em Creta.

Os cretenses eram famosos por sua imoralidade entre seus contemporâneos. Se você permitir que seus olhos se voltem para o versículo 12 do capítulo um, você verá uma citação pouco lisonjeira sobre os cretenses que, aparentemente, um de seus próprios autores havia declarado sobre eles. E assim Paulo está falando com Tito, que está ministrando a uma igreja no contexto de uma sociedade que foi impregnada de imoralidade. E isso soa familiar?

As palavras de Paulo para Tito são oportunas para nós por causa das circunstâncias correspondentes que nós, como cristãos, enfrentamos em uma cultura desenfreada com a imoralidade, e uma imoralidade que está permeando e penetrando também as igrejas cristãs. Na verdade, torna-se evidente nesta carta que uma das preocupações de Paulo é que a imoralidade da cultura impactou de fato essa congregação local, ou congregações, de cristãos profundamente.

Ele reconhece que Cristo nos chama a estar no mundo, mas não ser contaminado como o mundo; e ainda, nesta congregação você pode dizer que há pelo menos alguns que são do mundo, mas não estão nele. O mundo está na igreja, e ele está preocupado que a igreja seria distinta, especialmente em sua vida e testemunha neste contexto imoral. E assim, nesta carta, Paulo escreverá a Tito para instruí-lo sobre como lidar com esse tipo de assunto.

Mas, curiosamente, assim como em Primeira Timóteo, Paulo lidará com assuntos de organização, liderança e administração da igreja; e você pode se perguntar. Se a necessidade urgente da hora fosse para os cristãos dessa congregação viverem vidas mais piedosas no contexto de uma cultura pagã e imoral, por que Paulo iria gastar tempo falando sobre os anciãos? Sobre diferentes grupos dentro da igreja; sobre lidar com o falso ensino que estava incomodando a igreja; sobre assuntos de administração da igreja. Por que ele tocaria nesses assuntos? Paulo estava um pouco vagando de seu foco fazendo isso? E, claro, que a resposta é: Não. Porque Paulo sabe que, se a piedade precisava ser estabelecida nesta igreja local (ou congregações), será necessário que os PASTORES SEJAM PIEDOSOS. Por isso precisam ser qualificados de acordo com as Escrituras, Homens com autoridade na vida de santidade que pastoreiam o povo de Deus.

Ele sabe que vai ser preciso um ensino sólido, porque o ensino falso não produzirá piedade e isto só pode ser feito com firmeza pela liderança. Ele sabe que, se a piedade precisa prosperar nesta igreja, as CONTROVÉRSIAS precisam ser resolvidas, e por mais ORTODOXAS que sejam, elas só produzem impiedade. Ele sabe que os diferentes grupos e as divisões existentes na igreja local terão que ser reunidos e curados, e para isso precisam se guiados pela visão doutrinaria da liderança da igreja local. Porque o evangelho sempre se evidencia não apenas na transformação moral individual, mas na transformação social, ou seja; pela maneira como os cristãos se relacionam uns com os outros e como eles se amam e se apoiam mutuamente.

E assim, em todos os tópicos que Paulo aborda nesta carta muito curta, longe de vagar com seus pensamentos, ele tem uma ideia focada o tempo todo. Ele quer ajudar Tito a pastorear as congregações cristãs no contexto de uma cultura imoral e encorajar aqueles cristãos e congregações a adornar o evangelho de Deus, nosso Salvador, em toda a vida, pela maneira como vivemos.

Esse, de fato, é o grande enfoque deste livro: adornar o evangelho de Deus, nosso Salvador, em todas as coisas. O evangelho tem o poder moral de transformar vidas e relacionamentos sociais, e esse poder do evangelho serve como testemunho para o mundo ao nosso redor de que o evangelho não é a fabricação de nossa “realização de desejo”, mas é de fato uma realidade trabalhada em nós pelo Espírito Santo.

I. O CARÁTER DO EVANGELHO (v.1).

Paulo não é homem de jogar palavras ao vento, e a primeira frase de sua Carta a Tito (1.1-3, no original grego) é rica em verdades do EVANGELHO ao apresentar O alvo do MINISTÉRIO DO EVANGELHO. Segundo o versículo 4, Paulo está escrevendo a Tito, jovem colaborador que ele deixou em Creta e que fez parte de suas equipes missionárias e ministeriais (veja G12.1-3; 2Co 7.13-16; 8.16-21).

Paulo se refere a Tito como “… meu verdadeiro filho em nossa fé comum…” (Tt 1.4); os versículos 1 a 3 descrevem a fé que têm em comum e a “… GRAÇA e paz…” que compartilham. Todas as epistolas de Paulo tem saudações similares, como também todos os elementos a compõe. Paulo enriquece seu texto usando expressões diferentes para se referir ao mesmo assunto.

1. Uma identificação profunda. (v.1) “Paulo”

O escritor, Paulo, usa um nome gentio, identificando-se como apóstolo dos gentios.  O nome era algo muito importante para os judeus. O nome é tudo o que uma pessoa tem. Quando os judeus rejeitaram o evangelho, e os gentios o receberam, não lemos mais este apóstolo por seu nome judaico Saul, “o desejado”, mas por seu Romano “Paulo”, o pequeno. Esse nome era dado devido a sua estatura, e expressou também seu caráter humilde e servidor.

Paulo pertence aos dois mundos, o judaico e romano. Ele também era cidadão romano, de nascimento e isto lhe dava o direito de ter um nome romano. A rica família de Paulo, o educou para ser alguém muito ilustre no judaísmo do seu tempo. Ele mesmo diz que excedia a todos da sua nação com suas credencias cobiçadas por aqueles que querem o louvor dos homens.

A importância do chamado do apostolo Paulo, é uma obra da graça de Deus. Que trabalhou na mente de Paulo, levando-o a compreender o que é o Evangelho, que salva a todos. Sua pregação aos gentios é algo que até o apostolo Pedro teve dificuldade de entender, mesmo Deus mostrando-o que os gentios não eram considerados impuros. Isto era algo incompreensível para uma mente judia.

A imersão de Paulo na cultura, para ganhar os gentios é algo gracioso. Ele usou um nome gentílico. Ele usou elementos e o conhecimento dos gentios, para pregar o evangelho. Ele comeu com os gentios, ele foi até eles. Ele se importou com eles. Ele viveu os dramas deles. Ele se identificou com eles. Ele se denominou o apostolo dos gentios, uma ideia extremamente depreciativa e menosprezada para os primeiros cristãos judaicos. O conhecimento de Paulo é um conhecimento servil. Não é um conhecimento especulativo, mas que o tornava semelhante ao Senhor Jesus, que veio para servir.

2. Uma consagração absoluta. (v.1) “servo de Deus” .

Paulo se denomina Escravo (grego doulos) de Deus, traduzimos como servo, para evitar o choque do significado do termo. Ele é alguém comprado como propriedade, sem vontade própria, mas imerso na personalidade de seu senhor. O escravo não podia reinvidicar qualquer direito, ele não pode se defender em tribunais públicos.  Isto mostra sua total e perfeita obediência e dedicação a Cristo. Foi devido a essa consagração absoluta que Paulo foi capaz de levantar a igreja cristã no mundo gentílico.

Esse foi um título de humildade e orgulho legítimo. Isso significava que sua vida estava totalmente submetida a Deus; ao mesmo tempo – e é aqui onde o orgulho legitimo vem, esse foi o título que foi dado aos profetas e aos grandes do passado. Moisés era o escravo de Deus (Josué 1:2); e Josué, seu sucessor, não teria reivindicado um título mais elevado (Josué 24:29 ).

Foi para os profetas, seus escravos, que Deus revelou todas as suas intenções (Amós 3:7); eram seus escravos os profetas que Deus havia repetidamente enviado a Israel ao longo da história da nação (Jeremias 7:25). O título de escravo de Deus foi aquele que deu a Paulo o direito de ser o apostolo de Cristo. A completa consagração de um crente é demonstrada no seu serviço prestado ao reino de Deus.  A verdadeira piedade é demonstrada quando somos tomados de toda a plenitude de Deus (Ef 3.19), onde possuímos os atributos exibidos pelo Filho de Deus. Onde somos imergidos em toda a vontade de Deus, de modo a não restar nenhum vestígio da antiga natureza que nos impeça uma rendição total ao nosso Senhor.

Alguém já disse: Você saberia qual a ambição que Cristo permitiu a Seus ministros? É mesmo isto, que aquele que seria o chefe de todos deveria tornar-se servo de todos. Paulo se descreve como “… servo de Deus…” (literalmente doulos, escravo). Pois o modelo de ministério descrito na Carta a Tito é adequado a todos os servos de Deus. Paulo está revendo o passado e contemplando o futuro. Ao rever o passado, ele tenta extrair a essência de seu ministério. No futuro ele contempla o ministério daqueles que irão sucedê-lo para lhes dar um MODELO a seguir. Esse deve ser o padrão no cerne do ministério do evangelho; assim essa carta nos oferece a oportunidade de realinhar nossa vida e a vida das nossas igrejas.

3. Uma autoridade plena. (v.1) “e apóstolo de Jesus Cristo”

Paulo é um apostolo, um enviado, comissionado, delegado (alguém com autoridade). Mas quem é Paulo? Um “… apóstolo de Jesus Cristo” (v. 1). A palavra “apóstolo”, que significa “enviado’’, comissionado, delegado (alguém com autoridade). Ela é usada em dois sentidos no Novo Testamento. Num sentido mais amplo e genérico é aplicado aos primeiros plantadores de igreja. Barnabé, por exemplo, é chamado de apóstolo (At 14.14). Contudo, o sentido mais significativo e proeminente é usado em referência às pessoas que foram testemunhas oculares de Jesus e cujo TESTEMUNHO é o alicerce da igreja. São elas os doze Discípulos (Matias substituiu Judas, conforme Atos 1.15-26) e Paulo.

Paulo não conheceu Jesus durante o ministério do Senhor na terra, mas teve um encontro com ele na estrada de Damasco e recebeu o chamado especial para ser apóstolo entre os GENTIOS. Em que sentido Paulo usa o termo “apóstolo” em Tito 1.1? Provavelmente nos dois sentidos. Em 1Corintios 9.1, ele combina os dois: “Não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Não são vocês resultado do meu trabalho, Senhor”. Por que Paulo é chamado de apóstolo? Por dois motivos: ele viu o Senhor e ele plantou a igreja de Corinto.

Então Paulo escreve a Tito como o plantador da igreja em Creta e como um dos apóstolos alicerçadores da igreja cristã. O que então eram os apóstolos? Está claro pelo registro divino que eles eram homens diretamente comissionados por Cristo para fazer uma revelação plena e autorizada do cristianismo. Como para organizar a igreja; para abastecê-la com oficiais e regulamentos, e orientar a igreja no cumprimento de missão de conquistar o mundo pela pregação do evangelho. Os apóstolos destacam-se como um corpo isolado na história da igreja, sem predecessores e sem sucessores, como o próprio Cristo faz. Eles desaparecem da história. O título, a coisa em si, os dons, as funções, todos cessaram quando o último apóstolo morreu.

II. A VARIÁVEL DO EVANGELHO.

O que torna o ministério da palavra algo supremo?  O que autentica a verdade. Qual a verdadeira função do ministério do evangelho.

1. Promover a fé. V.1 “segundo a fé dos eleitos de Deus”.

As traduções da preposição “Kata” (grego); diferem muito neste texto. Algumas traduzem: “Para promover a fé dos eleitos”. “Para estimular a fé dos eleitos’. Outras são mais ousadas e traduzem para conduzirem os eleitos a fé. Os eleitos de Deus, são palavras usadas NT que correspondem ao uso universal posterior da palavra “cristãos” (1Pe 4:16). São “aqueles que estão sendo salvos”, “chamados”, “escolhidos” ou “eleitos”, “consagrados” ou “santos”, “fiéis” ou “crentes”. Apocalipse 17:14, usa os três termos simultaneamente: e vencerão com ele os seus “chamados”, “escolhidos” e “fiéis”. Os eleitos são aqueles que responderam ao chamado de Deus através do evangelho. A expressão incorpora um verdadeiro equilíbrio entre a iniciativa divina e a resposta humana.

Embora cercado de mistério, o ensino bíblico sobre a eleição é para os crentes e destina-se a ser uma verdade prática. Assegura aos crentes fiéis e esforçados que a salvação deles é toda de Deus, do começo ao fim. O ministério do apostolo Paulo é uma benção para a fé dos crentes. Ele é um Apóstolo – de acordo com a fé dos eleitos de Deus, etc. A norma do apostolado em cada uma das três Epístolas é única e não paulina. Em 1 Timóteo, ‘segundo o mandamento de Deus’: em 2 Timóteo, “segundo a promessa da vida em Cristo Jesus”. A preposição “Kaτὰ” (grego) de acordo com, não para produzir fé nos eleitos, mas correspondendo à norma ou padrão de fé que é estabelecido para os eleitos de Deus.

2. Cultivar o pleno conhecimento. (v.1) “e o conhecimento da verdade”

E reconhecendo a verdade (καὶ ἐπίγνωσιν ἀληθείας). Ou seja; o escritor é um apóstolo de acordo com a fé dos eleitos de Deus, e de acordo com a verdade que está contida na fé. No original aparece um intensificador para gnósis = conhecimento, ficando a expressão epignosis = pleno conhecimento. O pleno conhecimento não é uma controvérsia teológica. Esse conhecimento é sobre a pessoa de Jesus. O verso 2 diz que esse conhecimento é a vida eterna.

A verdade diz respeito a fé em Jesus para a salvação o perdão dos pecados. É a pregação do evangelho como é feita pelos apóstolos de Jesus. É o que Pedro pregou em Atos 2, Estevão em atos 7, e Paulo em Atos 17. É uma pregação que não depende de corrente teológica, que não nasce das controvérsias. È uma verdade sem a qual ninguém pode ser salvo.  O grande problema da pregação moderna é falta do evangelho. E quando fala do evangelho é um sistema de doutrina de uma certa linha de pensamento que nasce da mente de alguns eruditos. O evangelho da cruz é algo para todo crente, mesmo que não tenha nenhum entendimento teológico. Mas que conhece a verdade da vida eterna.

O objetivo dos servos de Deus é o crescimento da verdade.

  • o início da fé – conforme as pessoas se tornam cristãs;
  • a continuação da fé — conforme as pessoas continuam cristãs;
  • e o progresso da fé – conforme as pessoas crescem na vida cristã;
  • a multiplicação da fé — conforme as pessoas se tornam servas em prol da fé dos eleitos de Deus

3. Testar a verdade. (v.1) “que é segundo a piedade”.

O texto grego é literalmente: “Que é depois de piedade” (τῆς κατ ‘εὐσέβειαν); Ou “de acordo com a piedade”. Este acréscimo descreve o caráter peculiar e essencial da verdade que é sustentada e conhecida pelos eleitos de Deus, a saber, que está relacionada com o temor e a obediência de Deus – tudo isso constitui verdadeira piedade. “A verdade que é depois da piedade”. A piedade é o teste final da verdade. Se ela não conduz a uma vida de temor e santidade ela não é o conhecimento de Deus.

O conhecimento de Deus deve ser recebido e obedecido. Pois a verdade não é uma biblioteca para o lazer, ou uma mina para os curiosos. É a verdade presente é a verdade prática; uma verdade que é sempre para ser traduzida em vida. Este é um teste divino da verdade que é “depois da piedade.” A variável para definir a autenticidade da verdade é pratica. A verdade não produz um mero intelectualismo ou um “pietismo” ou emocionalismo sentimental; ela precisa produzir a piedade.

Alguns são valentes para as verdades teóricas e doutrinárias que não produzem “frutos para a santidade”. Este é o teste divino da verdade: Jesus disse que seus discípulos seriam conhecidos pelos seus frutos e não pelo seu conhecimento teológico. Toda a doutrina que não promove a piedade é obviamente falsa. Paulo não conecta seu ensino com as grandes revelações que recebeu do Senhor. Ele não se baseia nas manifestações espirituais para validar seu ensino. Ele chama a atenção de Tito para a sua vida pratica.

Se minha piedade não convence as pessoas, não será minha teologia que vai convencê-la. O que valida minha TEOLOGIA é minha pratica. A verdade não é verificável simplesmente pelo nível de ortodoxia que ela tem, mas se ela produz uma vida piedosa. Ela é verificável: Na maneira como ela influencia meus relacionamentos, minha pureza, meus contratos, minha linguagem, meu caráter, minha religião. A piedade tem haver com tudo o diz respeito a Deus e ao próximo.

Então Tito teve que aprender que seu ministério estava conectado com uma verdade que deve ser vivida, bem como uma verdade que deve ser ensinada. É muito mais fácil ser um ‘erudito bíblico’ – do que um cristão sincero. É muito mais fácil ser um ‘ teólogo ‘ – do que um verdadeiro pastor. A própria teologia, tão importante quanto os seus temas – afunda-se numa mera ciência de realizações literárias, a menos que seja acompanhada por uma aplicação sincera e devota de seus princípios à alma.

Você não deve apenas estudar as Escrituras – mas sempre ponderar algum livro experimental, como um companheiro do peito. Um amor de tal leitura – prova um teste útil de caráter piedoso. Há muitos livros sobre assuntos religiosos que, afinal de contas, não trazem a piedade vital para o coração.

4. Quem autentica quem?

Afinal, Paulo ensina, a verdade vai além de nos conduzir a Deus; ela nos conduz à piedade (Tt 1.1). O elo entre verdade e piedade é ambíguo no texto grego original. Paulo talvez esteja falando a respeito da verdade “de acordo com” (conforme a ESV sugere). Essa verdade segundo a piedade contrastaria com ensinos que se autoidentificam como “verdades”, mas não produzem vidas santas.

Falsos mestres estão ensinando falsas doutrinas que geram comportamentos depravados (v. 10,11), considerando que existe uma conduta …que está de acordo com a sã doutrina” (2.1). Nesse sentido, a piedade AUTENTICA a verdade; a piedade mostra que a verdade é genuína. Melhor ainda, mostra que a verdade continua viva por causa dos frutos que produz. Todavia, a leitura mais natural de 1.1 (de acordo com a NIV) é que a verdade “conduz” à piedade.

Talvez isso não tenha tanta importância. A piedade é o sinal da verdade? Ou a verdade é a causa da piedade? A resposta, claro, é que as duas coisas caminham juntas. A piedade é o sinal da verdade porque a verdade leva à piedade. A busca de Paulo pela piedade nos cristãos não é independente da fé que o apóstolo espera ver neles. Essa é a fé que produz fruto. À medida que nossa fé cresce em conhecimento), cresceremos em piedade. Quanto mais entendemos o que Deus fez por nós em Cristo, mais nós o amamos e vivemos para ele. Paulo tratará mais dessa dinâmica no capítulo 2.11,12: “Porque a graça de Deus se mostrou salvadora a todos os homens.

Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e santa nesta era presente” (NIV). Em 1.1, o apóstolo afirma que a verdade conduz à “piedade”. Em 2.12, lemos que a verdade nos afasta da “impiedade” e aproxima da “piedade”. Esses três conceitos têm a mesma raiz grega, eusebeia.

Paulo não quer simplesmente cristãos que acreditem nas coisas certas. Ele não viajou pelo mundo romano somando o número de decisões por Cristo alcançadas em seu ministério. Seu objetivo não era apenas ver pessoas se entregando a Cristo depois de uma mensagem evangelística. Seu objetivo era ver cristãos cuja fé produzisse frutos numa vida de santidade. Seu objetivo não era fazer convertidos, mas discípulos. Seja qual for o ministério que exercemos ou pelo qual oramos, esse deve ser também nosso objetivo.

CONCLUSÃO

Nosso trabalho produz resultados eternos. Trabalhamos “… na esperança da vida eterna” (v. 2). O que fazemos hoje tem consequências eternas. Produz frutos que durarão por toda a eternidade. Paulo explica em 1corintios 3.12-15 que o ministério cristão é parecido com a construção de um edifício:

“Se alguém constrói sobre esse alicerce [Jesus Cristo] usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo que provará a qualidade da obra de cada um. Se o que alguém construiu permanecer, esse receberá recompensa. Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo”.

Em Sheflleld, norte da Inglaterra, há edifícios construídos com pedra calcária que continuam inteiros mesmo após dois séculos de existência. Outros edifícios, porém, foram construídos com material barato e tiveram de ser substituídos depois de trinta anos. Paulo nos exorta a construir tendo em vista uma longa duração — duração realmente longa. Apela a que construamos tendo a eternidade em mente. Se construirmos bem, com Jesus Cristo como o alicerce (usando ouro ou prata), nossa obra durará por toda a eternidade. Mas, se formos negligentes (usando feno ou palha), nossa obra será consumida pelo fogo do julgamento.