Sermão Nº 9 – Deus salva, do início ao fim. Referência: Jonas 2:8-10. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 06/03/2019.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos séculos, os cristãos têm discutido sobre a soberania de Deus na salvação. Os agostinianos ou calvinista que ressaltaram a graça soberana de Deus e enfatizam a predestinação como causa da Salvação. Os arminianos enfatizam a responsabilidade humana e creem que a graça pode ser resilível, quanto a oferta do evangelho. Lutero, cria na soberania de Deus na salvação, mas cria também que o homem poderia responder negativamente, conforme comenta Martin Lloyd Jones em seu livro sobre a Pessoa do Espirito Santo. Uns dão grande ênfase na soberania divina na salvação e outros dão ênfase na responsabilidade humana de crer no evangelho. Todos eles dizem ter extraídos sua doutrina dos escritos sagrados de apóstolos como Paulo, de profetas como Isaías e especialmente dos ensinamentos de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, houve aqueles que refutaram a ideia da eleição divina na salvação. Alguns, como o monge Pelágio, que rejeitou a doutrina bíblica do pecado e negou a necessidade da graça. O próprio Armínio o considerava um herege. Nas interações de Deus com Jonas e na oração de arrependimento do profeta, vemos a verdade segundo a qual a salvação pertence ao Senhor. E especificamente aprendemos, que a salvação pertence ao Senhor em seu início, e em sua conclusão bem-sucedida. Há uma verdade que todos não podem negar: Deus salva o homem, do começo ao fim. Na Justificação; somos salvos da condenação do pecado. Na Santificação estamos sendo salvos do poder do pecado e na Glorificação seremos salvos da presença do pecado. Tudo isso é obra da Graça de Deus.

  1. A FONTE DA SALVAÇÃO.

A pergunta referente à fonte da salvação é importante tanto para os indivíduos quanto para o ministério da igreja.

  1. Obra exclusiva de Deus.

A salvação ocorre por causa daquilo que fazemos por Deus ou por causa daquilo que Deus faz por nós? Os pecadores vêm a Deus em busca da salvação ou é Deus que vem aos pecadores para salvar? A resposta da Bíblia pode ser encontrada na oração de Jonas: “Ao Senhor pertence a salvação“, ou, como traduzem algumas versões: “A salvação é do Senhor” (Jn 2.9). Vemos que Deus é a fonte da salvação primeiro em seu plano de salvação. Nenhuma mente humana e nenhuma inteligência criada ajudaram a Deus no planejamento da salvação; ele elaborou o caminho que ele mesmo executou. Esta é a ênfase da Bíblia. O apóstolo Paulo nos conta que somos salvos “… Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).

O plano da salvação teve sua origem no conselho da vontade de Deus, segundo seu próprio propósito e pelo seu SOBERANO CONSELHO. O plano da salvação é do Senhor. Quando refletimos sobre a mensagem do evangelho, vemos que precisa ser assim. Pois quem além de Deus poderia elaborar uma maneira pela qual os pecadores culpados e corrompidos poderiam ser aprovados pela sua justiça implacável e aceitos em sua santa presença? Quem poderia ter encontrado uma maneira para declarar santos e justificados os homens ímpios. Apenas ele poderia ter tomado os filhos caídos de Adão e lhes oferecido a possibilidade de assentar-se no trono do universo. Apenas ele poderia ter tomado aqueles amarrados à prostituição do pecado e tê-los transformado em noiva pura de Cristo. Por isso, nossa salvação serve para manifestar a glória da sabedoria de Deus e, especialmente, da sua graça. Nada além de Deus o levou a elaborar o plano para a nossa salvação, e nenhuma influência além de seu próprio ser glorioso o levou a nos salvar.

  1. Para o seu louvor.

Por essa razão, Paulo escreve que o plano soberano e eterno de Deus para a nossa salvação é “PARA LOUVOR DA GLÓRIA DE SUA GRAÇA” (Ef 1.6). Isso continua a ser verdade quando refletimos sobre a realização da salvação por Deus. Toda obra realizada para a nossa salvação é obra do Senhor. O evangelho cristão não consiste de instruções daquilo que poderíamos fazer para alcançar nossa própria salvação. É, antes, a proclamação daquilo que Deus fez por nós. Vemos isso desde o início da vida de Jesus na terra. Quando os anjos anunciaram o nascimento da criança a uma virgem, eles não estavam pedindo à humanidade que se reunisse para uma grande iniciativa. Em vez disso, proclamaram as boas-novas daquilo que Deus havia feito: “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11).

Deus enviou seu Filho para que ele nascesse sob a lei e assim cumprisse a lei para nós. Deus então levou seu Filho para a cruz, para ali oferecer a sua vida como sacrifício e derramar seu sangue pelos nossos pecados. Depois, Deus ressuscitou o nosso Senhor Jesus do túmulo para que ele vencesse não só o pecado, mas a morte por nós. Era o que precisava ser feito para que fôssemos salvos, pois o homem não podia fazer nada por conta própria para remediar o problema do pecado. O homem não pode oferecer seu próprio sacrifício pelo pecado, pois cada ser humano tem seus próprios pecados pelos quais precisa pagar e, portanto, não pode pagar pelos pecados dos outros. Mas Deus fez por nós o que jamais poderíamos ter feito: a salvação pertence toda “ao Senhor”, em sua INICIAÇÃO e sua REALIZAÇÃO.

Jonas fornece um exemplo perfeito de Deus como fonte da salvação. Quando vemos como o profeta volta seu coração para Deus e ora em fé renovada, perguntamos: “O que Jonas fez para se salvar? O que Jonas contribuiu para a sua história?”. A resposta é que Jonas inicialmente contribuiu apenas com sua descrença, rebelião, tolice e pecado. Quando Jonas foi lançado nas ondas, não havia nada que ele pudesse fazer para sua própria salvação.  A não ser confiar em Deus. Mas Deus queria salvar Jonas e por isso, “Preparou o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas” (Jn 1.17). Quando Jonas chega a Nínive para pregar a mensagem de advertência de Deus, ele o fará porque havia sido salvo pela graça maravilhosa de Deus da qual ele não merecia. Ao reconhecer essa iniciativa soberana em sua libertação, Jonas ora arrependido na barriga do peixe: “Ao Senhor pertence a salvação!”.

  1. O PODER DA SALVAÇÃO

Poderíamos tambem dizer: “Sim, Jonas foi salvo porque Deus enviou o grande peixe. Mas Jonas mesmo assim precisava se voltar para o Senhor em fé e arrependimento. Afinal de contas, esse capítulo começa com Jonas nos dizendo: Clamei ao Senhor”. Aqui estamos falando sobre a APLICAÇÃO DA SALVAÇÃO ao pecador individual. Vimos que o plano e a realização da salvação são iniciados por Deus. Não poderíamos dizer que a salvação pertence completamente ao Senhor se exigisse que eu tomasse a “iniciativa por mim mesmo” de exercer a minha vontade de acreditar no evangelho. Também não poderíamos dizer: “Ao Senhor pertence a salvação em sua OFERTA, mas, em termos de sua ACEITAÇÃO, a salvação pertence à vontade do próprio pecador”. Como se Deus estivesse nas mãos da vontade do pecador.

No entanto não é isso que Jonas diz. Falando de toda a sua libertação, ele insiste: “Ao Senhor pertence a salvação“. Quando entendemos o ensinamento da Bíblia sobre a condição do homem no pecado, vemos por que isso precisa ser assim. Jesus disse: “todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). Se isso é verdade, nossa vontade não tem a liberdade de se voltar para Deus; nossa natureza está amarrada pelas correntes da corrupção pecaminosa. O apóstolo Paulo deixou isso claro quando escreveu: “… o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14).

O apóstolo ressalta não só que o pecador não regenerado não aceita a Palavra de Deus, mas que ele é incapaz de aceitá-la. No segundo capítulo de Efésios, onde Paulo esboça a doutrina da salvação, ele começa descrevendo aqueles que não são salvos como “… mortos nos […] delitos e pecados” (Ef 2.1). Portanto, se a salvação exige que o pecador obrigue sua própria vontade a aceitar o evangelho, e se a vontade do homem é escravizada pelo pecado, e o espírito do homem está morto para Deus, então é impossível que o homem seja salvo. É por isso que o evangelho bíblico é uma notícia tão boa, pois como Jesus disse a Pedro: “Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus” (Lc 18.27).  Por isso, mesmo na aceitação do evangelho, o poder e capacidade para de crer pertence ao Senhor.

Charles Spurgeon refletiu sobre nossa necessidade de receber o poder regenerador de Deus durante uma visita a Carisbrooke Castle na Ilha de Wight. Foi ali que o rei Carlos I foi mantido preso antes de sua execução, após a guerra civil inglesa. Certa vez, foi organizada uma tentativa de fuga. Tudo havia sido preparado para a fuga de Carlos: seus seguidores o aguardavam do lado de fora dos muros, e barcos estavam prontos para levá-lo para a segurança. Tudo que o rei caído em desgraça precisava fazer era sair pela janela de seu quarto. Mas Carlos não conseguiu abrir a janela, e todos os esforços foram em vão.  O mesmo acontece com o pecador. Se Deus tivesse providenciado todos os meios de fuga e exigisse dele apenas que saísse de seu calabouço, ele teria permanecido ali por toda a eternidade. O pecador está, por natureza, morto no pecado. E se Deus exigir que o pecador tome o primeiro passo, ele terá exigido justamente aquilo que tornará a salvação sob o evangelho tão impossível quanto era sob a lei. Visto que o homem é tão incapaz de crer quanto é de obedecer, e não possui o poder de vir a Cristo assim como também não possui o poder de chegar ao céu sem Cristo. O poder precisa ser lhe dado pelo Espírito.

Este foi um ponto importante debatido durante a Reforma Protestante. Os apologistas católicos argumentavam contra a salvação apenas pela graça recorrendo ao livre-arbítrio. A grande resposta foi dada por Martinho Lutero: “Após a Queda, o livre-arbítrio existe apenas como conceito […], pois a vontade está presa e sujeita ao pecado. Não que não exista, mas ela não está livre a não ser para fazer o mal”. Lutero mostrou que esse debate não era novo, citando Agostinho em seus conflitos anteriores com Pelágio e outros hereges: “O livre-arbítrio sem a graça tem o poder de fazer nada além de pecar […]. Vocês chamam o arbítrio de livre, mas na verdade é um arbítrio escravizado”. Armínio diz o mesmo: O livre arbítrio não tem a capacidade de fazer ou aperfeiçoar qualquer bem espiritual genuíno sem a graça. Não há capacidade humana, a não ser que seja despertada pela graça divina.

Não somos salvos pelo livre-arbítrio, mas pelo poder de Deus que opera na alma por meio do chamado para o evangelho. Jesus chamou: “Lázaro, vem para fora!” e o homem morto se levantou e saiu (Jo 11.43-44). Jesus se aproximou do publicano Levi e disse: “Segue-me”, e o publicano o seguiu como Mateus, o discípulo (Mt 9.9). Semelhantemente, Cristo chama os pecadores hoje com o poder do evangelho, que produz graciosamente o arrependimento e a fé, então o pecador crer e é salvo. A imagem do homem morto no pecado, é comparada com Jonas no estômago do grande peixe. Jonas havia endurecido seu coração para a ordem de Deus, fugindo “da presença do Senhor” (Jn 1.3). Sua vontade estava tão presa às amarras do pecado quem, quando a tempestade furiosa de Deus estava esmagando seu navio, ele não se arrependeu e não voltou seu coração para Deus. “Tomai-me e lançai–me ao mar” (Jn 1.12) foi o único conselho que seu espírito amargurado conseguia oferecer. Quando Jonas finalmente pensa em Deus na escuridão de sua experiência ele consegue dizer arrependido: “Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor (v.7)“. Veja como Deus trabalhou a mudança no coração de Jonas; Levando-o ao arrependimento, que sozinho ele jamais conseguiria.

Quando nos lembramos de que Jesus chamou sua própria morte de o sinal do profeta Jonas (Mt 12.39), entendemos como é importante essa declaração para o evangelho cristão como um todo. Pois o poder que impulsionou a libertação e ressurreição de Jonas pertence “ao Senhor”. As palavras de Jonas no momento em que ele tipificava Cristo são um lema para toda a obra salvífica de Cristo: “Ao Senhor pertence a salvação!”. Não é o poder do homem que explica a salvação em qualquer momento, mas apenas o poder de Deus. E assim como foi o poder de Deus que transformou o coração de Jonas na escuridão da barriga do peixe, é o poder de Deus que volta o coração do pecador de hoje para a fé à sombra da cruz. A cruz de Cristo, assim como o grande peixe de Jonas, é um sinal para o mundo da graça salvadora de Deus. De que ao Senhor pertence a salvação: do início ao fim!”

III. A CONSUMAÇÃO DA SALVAÇÃO

  1. Arrependimento e fé.

No momento em que Jonas se voltou para o Senhor em arrependimento e fé, ele foi salvo. Vemos isso no fato de que Jonas não pede a Deus que o liberte de dentro do peixe. Em vez disso, ele agradece a Deus pela libertação que já recebeu: A LIBERTAÇÃO DE SUA TOLICE E DE SEU PECADO. Mas a salvação não estaria completa se ele permanecesse dentro do peixe. Semelhantemente, nossa salvação não estará completa enquanto não formos libertos completamente da nossa corrupção até alcançarmos o céu em segurança. A confiança de Jonas em Deus foi ricamente recompensada; “falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra” (Jn 2.10). ISSO NÃO SIGNIFICA QUE OS CRISTÃOS SÃO INATIVOS EM SUA FÉ. Tendo sido salvos por uma fé que recebe e poderíamos chamá-la de fé passiva, avançamos na salvação com uma fé que trabalha — ou seja, por uma fé ativa.

De um lado está a soberania de Deus na salvação do homem, e do outro lado está a responsabilidade do homem de crer. As duas são inseparáveis e indescritíveis. Este é o grande mistério da fé. Na expressão de Jonatas Eduardo, Deus faz 100% e nós fazemos 100%. Ao Senhor pertence a salvação, mas é absolutamente necessário que o cristão persevere na fé. Aqueles que acham que podem descansar em uma experiência espiritual passageira de fé em Cristo, sem caminhar durante toda a vida em santidade na fé no Senhor, estão tragicamente equivocados. Isso é o NOMINALISMO CRISTÃO, onde a lei é desprezada pela graça barata. O crente não é salvo pelas obras da lei, mas anda no espirito onde não contraria a Lei Deus (5.22-25)

A evidencia conclusiva do novo nascimento é a vida de santidade; Paulo é categórico: “Como também nos elegeu NELE antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; (Ef 1.4). O apóstolo Pedro afirma o mesmo: “Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.” (2 Pd 1.8-10). Paulo afirma isso claramente: “agora, porém, vos reconciliou […], se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes” (Cl 1.22-23).  Por isso, o único fundamento firme da garantia da salvação é uma fé atual e ativa em Jesus Cristo.

O capitulo 2 de Jonas mostra o arrependimento do profeta, que mais tarde veremos que ele é imperfeito, ou seja; de má vontade. A verdade é que nós muitos das vezes, temos que nos arrepender até dos nossos arrependimentos, de tão imperfeitos que eles são. A prova disso é que depois desse tipo de arrependimento, não raro voltamos a fazer aquilo de que havíamos no arrependido. Não há como negar de que as coisas acontecem dessa maneira. Basta a cada dia o nosso arrependimento. Não é à toa que Lutero, ao escrever as 95 teses, escolheu a primeira que diz que o cristão deve viver constantemente em estado de penitencia, arrependimento e contrição. O arrependimento é um dos assuntos principais das 95 teses. 1ª Tese: Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos…., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.

  1. A perseverança dos santos.

No entanto, até mesmo isso pertence “ao Senhor”. O povo de Deus não persevera por força própria, mas na graça perseverante do Senhor. A Bíblia ensina que a nossa perseverança é o resultado da graça contínua de Deus em nossa vida. Nossa salvação será concluída com sucesso porque Deus o Pai se recusa a abandonar seus filhos amados. Paulo escreve: “… aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Pedro acrescenta que “… sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pe 1.5).

Nossa salvação é garantida também pelo nosso fiel Pastor, Jesus Cristo. Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10.27-28). Por fim, nossa perseverança na fé é garantida pela presença do Espírito Santo em nossa vida. Paulo comenta: “… depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-14).

A oração de Jonas de dentro do grande peixe seguiu o modelo dos salmos; portanto, não surpreende que sua declaração “Ao Senhor pertence a salvação” seja uma citação do salmo 3. Trata-se de um dos salmos de aflição de Davi, atribuído ao tempo da rebelião liderada por seu filho Absalão: “Senhor, como tem crescido o número dos meus adversários!”, Davi começa (Sl 3.1). Ele se encontra numa situação desesperada, como Jonas, sem esperança de uma salvação humana. Então, ele eleva seu coração a Deus: “… tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça” (SI 3.3). O inimigo de Davi é grande demais, e reconhecendo que não há esperança nele mesmo ou em qualquer outro homem, ele sabe que Deus é capaz de libertá-lo de suas dificuldades. Davi conclui: “Levanta-te, Senhor! Salva-me, Deus meu, pois feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras os dentes. Do Senhor é a salvação, e sobre o teu povo, a tua bênção” (SI 3.7-8).

Assim como Davi encontrou sua única esperança em Deus, e assim como Jonas levantou seus olhos da profundeza com esperança no Senhor. Também devemos depositar nossa esperança de libertação no domínio abençoado da glória na graça soberana de Deus. Martinho Lutero comenta: “É somente o Senhor que salva e abençoa: e mesmo que todos os maus se reunissem em um só contra um homem, mesmo assim, é o Senhor quem salva: salvação e bênção estão em suas mãos. O que, então, deveria eu temer?”.

  1. Nossa resposta à graça divina.

Após refletirmos sobre a doutrina expressa na oração de Jonas, deveríamos concluir agora refletindo sobre a nossa reação à graça de Deus. Jonas aprendeu que a oração é um dos milagres constantes da vida cristã. E aquele que aprendeu a orar; aprendeu o maior segredo de uma vida de santidade e felicidade. Os versículos 8 e 9 servem como posfácio à oração de Jonas, e resumem as lições que ele aprendeu na “escola da barriga do peixe”.  Qual é a nossa reação a graça de Deus. Quais as evidencias que fomos alcançados pela graça salvadora.

  1. Abandonando a idolatria (v.8).

Em primeiro lugar, quando Jonas se volta para Deus em seu desespero, ele reconhece a vaidade dos ídolos e diz: “Os que se entregam à idolatria vã abandonam aquele que lhes é misericordioso” (Jn 2.8). Na presença do Deus verdadeiro e soberano, os ídolos são desmascarados, e Jonas aprende olhar para eles com nojo. Não era Poisedon ou Netuno, que controlava o mar, mais o Senhor Jeová, o único e verdadeiro Deus. Essa é uma lição que os cristãos de hoje precisam aprender quando refletem sobre a soberania do único Deus verdadeiro.  A expressão no (v.8) “os que adoram”, ou como está na ACF; “os que observem”, deriva do verbo “Samaru(m)”, que transmite a ideia básica de “exercer grande cuidado sobre”; daí vem o significado de “adorar”. Essa é a essência da idolatria; qualquer coisa que ocupa o lugar central na nossa vida e à qual oferecemos nossa lealdade e devoção que, por direito, pertencem exclusivamente a Deus. Para algumas pessoas, o dinheiro é seu deus, o sucesso, a busca de metas materialistas que domina suas vidas; as paixões sexuais; o apego excessivo a pessoas, familiares ou amigos. Mas podemos transformar tudo em Ídolos — esporte, sexo, drogas, política, carreira e até mesmo o lar e a família e a religião. Tudo que expulsa Deus para a margem da nossa vida pode se tornar ídolo!

E qual é o resultado da adoração de ídolos? E é a “vaidade mentirosa (v.8)”; as pessoas não se dão conta de que estão adorando outros ídolos. Assim como o povo de Israel, pois os ídolos parecem não competir com o Verdadeiro Deus, pois aparecem na forma de “liberdades”; “entretenimento”; “valores familiares”; “autorrealização”. Os ídolos são vaidades inúteis, sem sentido, que tem falta de valor e conteúdo. Essas “VAIDADES MENTIROSAS” e inúteis sempre nos decepcionarão porque por mais que tentamos manipulá-las para nossa felicidade a longo prazo elas sempre deixarão de cumprir o que prometem. Jonas havia se recusado a permitir que o Senhor fosse Deus sobre sua vida, tomando as rédeas da sua vida em suas próprias mãos numa fuga rebelde para longe de Nínive, o lugar do chamado de Deus. Esse COMPORTAMENTO EGÓLATRA, de Jonas configurado na SOBERBA AMARGURADA não funcionou, mas trouxe muitas decepções e perdas. Mas aqueles, porém, que se voltam para o Senhor como seu Deus recebem um “amor eterno”, que os salvará até fim.

  1. Olhando com misericórdia (v.8).

Observe a mudança na atitude de Jonas em relação ao mundo perdido (Jn 2.8). Jonas havia se revoltado contra a ordem de Deus porque odiou a ideia de pregar aos gentios pagãos. Mas agora ele os lamenta, sabendo que em sua idolatria abandonaram “aquele que lhes é misericordioso” (v.8). O que nos levará a olhar para o mundo com uma visão nova e misericordiosa? O exemplo de Jonas sugere que é a visão gloriosa da graça salvadora de Deus. Percebemos que a nossa salvação pertence “ao Senhor” — fomos salvos pela misericórdia soberana, que nos acolheu em nosso estado escurecido do pecado. Paulo nos lembra de que “… Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Desse ponto de vista, os piores pecadores mais ofensivamente descrentes — até aqueles que representam um grande perigo para nós mesmos — só podem ser vistos como pessoas em grande necessidade da mesma misericórdia pela qual nós fomos salvos. Oraremos pelos perdidos, pregaremos a Palavra e testemunharemos o evangelho, sabendo que os pecadores, por meio de sua descrença, “abandonam aquele que lhes é misericordioso“.

3. Vivendo o chamado (v.9). Por fim, Jonas expressa a resposta de um coração novamente entregue a Deus: “… com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrificio; o que votei pagarei” (Jn 2.9). Este era o fim para o qual Deus em sua graça estava trabalhando. A salvação de Jonas produz o bom fruto da disposição de seguir o chamado de Deus em sua vida. O fato de que os marinheiros gentios e o profeta judeu responderam à graça de Deus da mesma forma demonstra que isso deve ser uma REAÇÃO UNIVERSAL de todos aqueles que são salvos. Seu ensinamento nas entranhas do peixe podia ser concluído agora que Jonas combinava a misericórdia pelos perdidos com uma vontade obediente à Palavra de Deus.

CONCLUSÃO

Quero concluir falando das três evidências que respondemos ao chamado a obediência à graça de Deus:

(a) Um coração grato (v.9a). O hebraico diz literalmente “voz de gratidão. O coração amargurado de Jonas, foi trocado por um coração cheia de alegria e gratidão para servir o reino de Deus. Ele encheu o seu coração de louvor. O crente é alguém cheio de gratidão e alegria, e que em todas as circunstâncias da graças a Deus, pois essa é a vontade de Deus. Jonas é um adorador, que tem o coração cheios de salmos de ações de graças. Ele tem a mente cheia da palavra de Deus, pois ele não podia falar com palavras, mas apenas mentaliza-las no fundo do mar. Ele se enche de ações de graças, pois traz a memória aquilo que dá esperança. Jonas se lembrou de Deus. Ele se lembrou do templo de Deus, ele se lembrou das promessas de Deus. Ele se lembrou das misericórdias de Deus que são as causas de não sermos consumidos.

(b) Uma vida consagrada (v.9b). “Eu oferecerei sacrifícios”. Os cristãos são salvos quando confiam no sangue expiatório de Cristo, e por meio do nosso batismo carregamos o nome de Deus em obediência à sua Palavra. Como temos respondido à graça de Deus? Como entendemos que o Deus soberano do universo planejou e executou uma única maneira de salvação no sangue expiatório de seu único Filho? Nenhum outro sacrifício pode remover a dívida do seu pecado e nenhuma outra salvação entrou nos conselhos da sabedoria de Deus. Como resposta, oferecemos um sacrifício vivo de louvor e serviço pela dádiva de seu Filho como nosso Salvador. Como resposta oferecemos nossa vida para a pregação do evangelho a todos os povos. O apostolo Paulo faz essa oração: Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. (Rm 12:1)

(c) Uma disposição para servir (v.9c) “Eu pagarei os meus votos”. Os marinheiros salvos evidenciaram a mesma disposição de servir: Jonas 1.16 diz: “… ofereceram sacrifícios ao Senhor e fizeram votos“. Os crentes entendem que, quando Deus os salva por meio de sua graça maravilhosa, ele permanece soberano sobre toda a sua vida em todos os aspectos? Eles assumem um compromisso, eles fazem votos de viver para a Gloria de Deus. Eles decidem dar toda sua vida, seu tempo, seu dinheiro, seus dons para o reino de Deus. Os votos envolviam, uma declaração de consagração e de compromisso, como também envolvia algum tipo de oferta em dinheiro. Como forma de demonstrar que tudo pertencia a Deus. Jonas confessou: “O que votei pagarei” (Jn 2.9). Qual precisa ser o seu voto de consagração. Você tem sido fiel em seus dízimos e ofertas? Você precisa entrar numa aliança de fé e compromisso com o Senhor, entregando o domínio sobre a sua vida ao controle soberano dele. Veja a importância das resoluções de Jonatas Eduardo, e do pacto eclesial que as igrejas chamam os seus membros para subscreve-los. Jonas mostra que a soberania de Deus é mais do que uma doutrina a ser afirmada; é principalmente um compromisso a ser mantido. Talvez alguns de nós, como Jonas, precisem renovar seu compromisso com o Senhor. Esse compromisso se expressará não só em nosso coração ou por meio de nossa boca, mas também por meio de nossas mãos: “NO FINAL DAS CONTAS, EXISTE APENAS UMA ÚNICA EVIDÊNCIA DE UM RELACIONAMENTO SALVÍFICO E PESSOAL COM O SENHOR — E ESTA É O CUMPRIMENTO DE SEUS MANDAMENTOS”. Pois se “ao Senhor pertence a salvação”, então aqueles que são salvos também pertencem a ele, com tudo o que tem.