Sermão Nº 2 – A alegria do pecado não dura para sempre. Referência: Obadias 1:1-14

É muito conhecida a expressão bíblica: “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. Ou seja, depois das trevas vem a luz, depois do choro vem a alegria, depois do vale vem o manancial. Só que a alegria do pecado não dura para sempre. Ela atrai juízo. O contentamento com a desgraça alheia acarreta tragédia. A alegria movida pelo combustível da soberba desemboca em choro amargo. A alegria do pecado converte-se em choro e ranger de dentes.

Edom alimentou-se de ódio durante dois mil anos. Sua ira jamais deixou que eles vivessem livres do engano. Edom tornou-se orgulhoso na sua animosidade. Nunca aprendeu a perdoar.  Sempre se alimentou com a amargura do ressentimento. Em várias ocasiões, insurgiu-se contra a nação que nasceu do mesmo ventre.  Agora, o cálice da ira de Deus transbordou contra essa nação orgulhosa. Edom aplaudiu com muita alegria a avassaladora invasão da Babilônia em Jerusalém. Edom não adotou apenas uma atitude passiva diante da tragédia de seu irmão. Mas se aliou ativamente ao inimigo nessa devastação e matou de forma truculenta e covarde os infelizes que tentavam escapar.

Agora Deus embocará sua trombeta para as alturas  do monte Seir. Agora Deus derrubará de sua posição arrogante essa nação soberba e pretensiosa. Agora Deus convocará outros povos para saquear a invencível cidade construída no alto dos rochedos. Agora Deus fortalecerá os braços dos guerreiros, que penetrarão os muros de pedra natural para saquear completamente esse povo que se julgava invencível. Ninguém pode lutar contra Deus e prevalecer. Ninguém pode lutar contra o povo de Deus e ficar impune.

Por todos esses anos tentaram acabar com a igreja do Senhor. Os governos e reinos tentaram e não conseguiram. A arena romana não foi capaz de acabar com a igreja. As fogueiras no centro das praças não foram capazes de zerar o números de cristãos pelo mundo. Os filósofos e sábios desse mundo tentam e não conseguem. Jesus disse que: “as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja”. Vejamos então algumas lições importantes do texto.

I – A mensagem aos povos. (v.1)

O livro começa com a tradicional expressão “visão de Obadias”. A palavra hebraica “visão – hézon” é um termo genérico a designar a comunicação divina. Essa palavra é normalmente empregada no Antigo Testamento para designar uma revelação de Deus para o povo. Essa palavra expressa que: a palavra, ou o oráculo, a mensagem que o profeta está proferindo é inspirada e está recebendo diretamente do Senhor. O mensageiro do Senhor entende a visão e sabe distingui-la do seu próprio pensamento. O mensageiro reconhece que tem o dever de transmitir a mensagem divina ao povo. Assim, o profeta enfatiza fortemente que o que ele tem a dizer procede de Deus. A fonte da mensagem é Deus, o Deus da aliança com Israel, que é Senhor e soberano sobre todos os povos. Essa era a maneira comum de Deus dirigir-se aos profetas.

Não se trata aqui de uma visão subjetiva do profeta, mas de uma revelação objetiva de Deus. A mensagem não nasceu no coração do profeta, mas na mente de Deus. Não se trata de uma visão mística, mas de uma mensagem recebida do céu para ser anunciada na terra. Assim como os profetas Isaías, Miquéias, Naum e Habacuque, o profeta Obadias recebeu sua mensagem do senhor por meio de uma visão. Hoje, muitos pregadores anunciam em nome de Deus suas próprias ideias.  E essas ideias sempre serão contrárias à visão de Deus. É preciso discernimento para afirmar o que vem de Deus e o que provém de nossos desejos. Somos capazes se tornar nossas opiniões pessoais uma idéia “sagrada” e valorizar tanto nossos desejos que os manifestamos como se fosse um oráculo divino.

O profeta Obadias reconhece a inspiração divina nas suas palavras. Ele não prega uma mensagem criada por si próprio, mas prega uma mensagem recebida de Deus. Ele diz no verso 1: “Assim diz o Senhor Deus a respeito de Edom.” O profeta não gera a mensagem, apenas a transmite. A mensagem não tem sua fonte e origem no seu ser, mas em Deus. A mensagem não procede da terra, mas do céu. Não nasce como fruto da imaginação humana, mas da revelação divina. O reverendo Isaltino Filho destaca corretamente que Obadias não é um nacionalista com um panfleto político nas mãos contra inimigos de sua nação. Ele é um homem de Deus com uma mensagem de Deus. Muitos pregadores abandonaram a palavra de Deus, para pregar sonhos, visões e revelações inventadas de seus próprios desejos. O pregador não é a fonte da mensagem, ele é apenas o instrumento de sua comunicação. Somos servos, e não donos da mensagem pregada.

II – O juízo a Edom. (v.2)

Deus diz a Edom: “eis que te fiz pequeno entre os gentios; tu és muito desprezado”. A expressão original diz: “te farei pequeno”, isso indica um acontecimento já determinado por Deus. Há duas verdades solenes aqui nessa expressão que precisamos destacar:

1 ) É Deus quem exalta e quem humilha. (v.2 a)

Edom não se tornou pequeno, ele foi feito pequeno. Foi o próprio Deus o agente da humilhação desse povo. Foi Deus quem cortou suas asas no alto dos montes e depois o derrubou de lá (v.4). A aparente grandeza dos orgulhosos não dura para sempre. A soberba é a rampa do fracasso. A soberba é o corredor da morte. A soberba é o tablado dos que tombam vencidos pela loucura de se insurgir contra Deus e seu povo. Embora Edom tivesse elevado um conceito de si mesmo, o fato era que Deus nunca o constituíra como uma grande nação. A questão é que Edom não era o que presumia ser. Ela não era a última coca-cola no deserto. E nunca seria.

2 ) É Deus quem preza e quem despreza. (v.2 b)

Edom não é apenas pequeno, mas também desprezado, e desprezado não somente na terra, mas igualmente no céu. Irmãos, nós podemos ser desprezados pelos homens, mas se formos prezados por Deus nós não ficaremos de pé. Mas quem subsistirá se tiver de beber o cálice do desprezo de Deus? Deus desprezou Edom no céu e o tornou desprezado na terra. Assim como Edom tratou Judá, assim ele será tratado. Assim como Edom desprezou seu irmão, será desprezado pelos povos. Seu mal feito caiu sobre a sua própria cabeça. Jesus disse: “como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (lc. 6.31)

III – A soberba de Edom. (v.3, 4)

A soberba derrubou o querubim da guarda no céu, derrubou Adão no Éden. A soberba derrubou homens que foram reis em Israel.  A soberba transformou o rei Nabucodonosor em um animal. A soberba tem sido a cova de muitos homens altivos. Provérbios 16.18 diz: “a soberba precede ruína, e a altivez de espírito a queda”. Edom era uma nação altiva que se considerava invencível e intocável.  Encastelado no alto de rochas muito altas, nos montes íngremes, Edom fez seu ninho entre as estrelas e se julgou invulnerável. Obadias denuncia a soberba de Edom e o teólogo Armor Peisker fala sobre os trágicos frutos do orgulho, ele diz:

  1. O orgulho do coração é enganoso: ele engana na vida profissional, engana nos assuntos intelectuais e engana até nos assuntos de valores morais e espirituais.
  2. O orgulho do coração é atrevido: ele atreve-se a contar com as vantagens materiais e com a própria habilidade humana sem pensar na intervenção divina.
  3. O orgulho do coração é destrutivo: isso porque Deus pode usar vários meios de abater os orgulhosos.

Obadias nessa profecia, vai destacar cinco verdades solenes sobre a questão da soberba de Edom (v.3):

1 ) O lugar da fonte da soberba: diz o profeta: “a soberba do teu coração”

O coração é o ventre onde é concebido a soberba. É desse útero cheio de corrupção e enganos que nasce esse monstro que tem destruído pessoas, famílias, igrejas e nações. O coração é enganoso e corrupto, diz  Jeremias 17.9. Dele procedem as fontes do mal, disse Jesus. A soberba de Edom nasceu no coração de Edom. Veja, irmãos, que Deus está dizendo que todo o povo de Edom é soberbo. Deus não enviou essa palavra ao rei de Edom, nem a seus príncipes, individualizando a mensagem. Deus diz que Edom é soberbo. Ou seja, Deus nos diz hoje de forma genérica, todos nós possuímos um coração soberbo. O detalhe é que uns têm vigiado e lutado contra sua própria natureza soberba. E outros não estão nem um pouco preocupado com esse detalhe. Pois não se acham soberbos. Vou te dizer que, se você acha que seu coração não é inclinado à soberba, você é um dos principais soberbo dessa igreja.

2 ) O lugar da causa da soberba. Diz o profeta: “ó tu que habitas nas fendas das rochas, na tua alta morada…” A posição geográfica de Edom lhe dava uma falsa segurança. Sua localização estratégica na rota do comércio lhe rendia ricos dividendos. Seus tesouros estavam bem guardados. Suas cidades estavam protegidas no alto dos penhascos e seu ninho se colocava entre as estrelas. Edom pensou que o lugar onde habitava e a riqueza que possuía eram seus verdadeiros protetores. A projeção social e econômica não pode dar segurança a ninguém. Da mesma forma aqueles que se acham capacitados em seus conhecimentos. O conhecimento é de muita valia, mas só é útil quando é lambuzado de humildade. O profeta Jeremias diz que o sábio não deve gloriar-se no seu conhecimento, nem o forte na sua força, nem mesmo o rico na sua riqueza, mas em conhecer a Deus. Jeremias 9.23

3 ) O lugar do engano da soberba. Diz o profeta: “a soberba do teu coração te enganou.” A soberba é um laço para os pés e uma armadilha para a alma. A soberba parece ser uma rede de aço, mas seus fios são tão fracos quanto teias de aranha. A soberba toma o homem pela mão e o leva para o alto dos montes, só para ele sofrer uma queda violenta e desastrada. Confiar no homem e nos seus recursos, em vez de confiar em Deus, é a mais consumada loucura, e o mais terrível engano. Quando o homem pensa que é forte, aí está sua mais consumada fraqueza.

4 ) O lugar da presunção da soberba. Diz o profeta: “…e dizes no teu coração: quem me derrubará em terra?” A soberba não apenas engana, mas engana com acintosa presunção. Edom não apenas se sentia seguro, mas também desafiava arrogantemente as nações vizinhas dizendo: quem me derrubará em terra? Edom não se contentava em viver em segurança; queria demonstrar isso para os outros povos de forma desafiadora. Meu Deus, como somos parecidos com essa nação! Edom não via no cenário político nenhuma nação capaz de derrotá-lo. Mas e Deus? Deus aceita o desafio e o derruba de entre as estrelas. Quanto maior o orgulho, tanto mais terrível é a queda.

5 ) o lugar da ruína da soberba. Diz o profeta: v.4 “se te elevares como águia, e puseres o teu ninho entre as estrelas, dali te derrubarei, diz o Senhor”. Russel Champlin diz que a arrogante nação de Edom parecia uma águia que armara seu ninho na fenda de uma rocha e olhava para outros animais com grande desdém. Como se os outros animais fossem as formigas da terra. A cidade encravada no alto dos montes, com suas luzes acesas a noite. Parecia um céu estrelado, e assim os edomitas, como águias, colocaram o ninho de seus filhos no alto dos penhascos. Isso lhes trazia muito orgulho e um profundo senso de segurança. Mas Edom, como todo orgulhoso, esquece que a soberba é uma guerra não contra os homens, mas contra Deus. A bíblia diz em 1 Pedro 5.5 : “Deus resiste aos soberbos, declarando guerra contra esses, e dá graça aos humildes. Queridos irmãos, agora quero expor como aconteceu a trágica derrota de Edom.

IV – Edom vai perder totalmente as alianças que foram feitas. (v.7)

Edom fez alianças estratégicas com outras nações para se proteger e também atacar seu irmão Israel. O detalhe é que essas alianças tornaram-se uma rede para os seus próprios pés. As alianças foram quebradas por essas nações e esses povos se voltaram contra Edom, que foi destruído traiçoeira e implacavelmente. A confiança de Edom estava em suas alianças políticas, em suas amizades, com aqueles que comungavam das mesmas ideias. A bíblia diz que maldito é o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor (Jeremias 17.5). Deus transformou amigos em inimigos, aliados em traidores, e esses aliados prepararam uma armadilha e pegaram os edomitas de surpresa. Edom perdeu sua soberania nacional. Perdeu sua terra, suas cidades, e sua independência política. Já vi muitos homens e mulheres perderem suas famílias, seus filhos, suas casas, seus bens, suas liberdades, suas alegrias, e até suas vidas por confiarem em homens e não em Deus.

V – Edom vai perder totalmente sua sabedoria. (v.8)

A atitude de Edom de colocar sua confiança nas riquezas, nas alianças, e na sua posição geográfica. Nos faz refletir severamente em nós mesmos e concluirmos que colocar nossa expectativa nessas coisa é na verdade uma consumada falta de sabedoria. Sabe por quê? Porque não há sabedoria fora de Deus. A sabedoria dos edomitas era proverbial.  Wiersbe diz que, uma vez que os edomitas estavam localizados nas grandes rotas comerciais. Os líderes de Edom tinham acesso a notícias e a ideias de muitas nações. Os edomitas possuíam pensadores famosos, dados à especulação teológica e filosófica. Mas eles esqueceram que a sabedoria do mundo é loucura para Deus. A sabedoria de Edom encheu seu coração de vaidade. Sua sabedoria levou-o para longe de Deus, fazendo-o confiar em si mesmo e em alianças perigosas O reverendo Isaltino filho diz o seguinte sobre isso: “aprendemos neste texto de obadias que, por mais protegido que alguém esteja e por mais sabedoria que consiga acumular, não pode se esconder de Deus e nem fugir de seu juízo. O homem é julgado pelos seus pecados. Sua sabedoria não lhe imputam segurança. No tempo em que estamos vivendo, as pessoas vivem como se não houvesse o Deus moral, que julga o comportamento dos homens”.

Conclusão

A derrota de Judá era a vitória de Edom. A morte de Judá era a vida de Edom. O fracasso de Judá era o sucesso de Edom. No entanto, demonstrar alegria com o sofrimento do irmão é um ato de grande crueldade. A bíblia nos ensina a chorar com os que choram, e nos alegrar com os que se alegram (Rm 12.15). Vibrar com a derrota dos outros e festejar sua calamidade é uma atitude que machuca as pessoas e atinge o coração de Deus. A palavra de Deus sabiamente adverte: “quando cair o teu inimigo, não te alegres, e não se regozije o teu coração quando ele tropeçar; para que o senhor não veja isso, e lhe desagrade, e desvie dele a sua ira” provérbios 24.17

É bom nessa noite que cada um de nós reavalie nossa conduta. É bom considerar o quanto o nosso coração é enganoso. É bom saber que a sabedoria fora de Deus é loucura. É bom entender que nossas atitudes refletirão no futuro. É bom saber que é valioso o ser humilde, submisso, por Deus abate os soberbos. É bom amarmos uns aos outros, pois somos todos irmãos. Somos membros do mesmo corpo. Somos noiva do mesmo noivo. Devemos sempre nos lembrar que a alegria do pecado não dura para sempre. Termino recitando Provérbios 14.11-12,: “a casa dos ímpios se desfará, mas a tenda dos retos florescerá. Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.”

Pregação do Pastor Jefferson Belisário Couto a partir da mensagem do pastor Hernandes Dias Lopes