Sermão Nº 26 – Orando por nós. Referência: João 17:1-26

O puritano, Thomas Watson escreveu: “Essa oração que Ele fez na Terra, é a cópia e o padrão de Sua oração no céu. Que conforto é esse; quando Satanás tenta, Cristo está orando. Isso traz muito conforto”.

Essa é a oração mais magnífica feita aqui na terra e registrada em todas as Escrituras. Que privilégio enorme ouvir os assuntos que Filho de Deus, usava para conversar com Deus, o Pai.

Melâncton[1], registrou: “Nenhuma voz já se ouviu na terra, ou no céu, com maior arrebatamento, nem mais santa, mais frutífera, mais sublime, do que a do próprio Filho de Deus nesta oração”.

Nessa oração, o Senhor consagra-se para o sacrifício em que ele é, ao mesmo tempo, sacerdote e vítima. É uma oração sacerdotal por ser intercessora, ou seja, feita em favou de outros.

Embora Jesus começa orando por si mesmo (17.1-5); ora por seus discípulos (17.6-19); e depois por toda a igreja inteira (17.20-26); mas; não podemos descartar o fato dele estar orando por todos os seus discípulos em todas as épocas.

Este capitulo mostra a importância que a oração tinha no ministério de Jesus. No ministério de Cristo, pregação e oração sempre andaram juntos.

Aqueles que pregam devem também orar. Aqueles que falam às pessoas sobre Deus devem falar a Deus sobre as pessoas. Somente têm poder para falar às pessoas aqueles que primeiro falam com Deus.

Essa oração também é uma instrução. Ela deve ser ouvida pelos seus discípulos e lida pelos leitores posteriores, que somos nós. Aqui o discurso é transformado em oração.

Essa oração foi feita horas antes da sua prisão no jardim do Getsêmani. E todas as petições de Jesus nessa oração são por bênçãos espirituais e celestiais.

O Senhor não pede riquezas e honras, nem mesmo influência política no mundo, para seus discípulos.

O pedido de Jesus resume-se a pedir ao Pai que os guarde do mal, que os separe do mundo, os qualifique para a missão e os traga salvos para o céu. A prosperidade da alma é a melhor prosperidade.

Podemos sintetizar a petição de Jesus em oito motivos pelos quais ele fez esta oração sacerdotal.

  1. ELE ORA PELA NOSSA SALVAÇÃO (17.1-5)

O primeiro assunto que permeou a oração do Senhor, foi obra de gloriosa da salvação.

Ele começa orando dizendo que a ora apontada por Deus, havia chegado, mesmo sabendo que esta era a vontade de Deus, ele orou por isso.

Como a hora do Filho ser glorificação, louvado e honrado; havia chegado, ele ora para que a glorificação possa acontecer.

Mesmo sendo a vontade de Deus, que ele fosse glorificado, ele ora para que a vontade de Deus seja feita.

A vontade soberana de Deus, deve ser sempre um incentivo a oração e não um desestímulo.

Não é porque a vontade de Deus quer algo, é que isso vai acontecer sem a oração. Jesus sabia que os atos de Deus são movidos pela oração.

A cruz de Cristo é o instrumento desta glorificação (17.1). A hora tinha chegado. Desde o seu nascimento ele havia esperado esse momento. E agora, sua hora de ir para a cruz havia chegado, e ele irá não como um derrotado, mas corno um rei caminha para o trono.

E na cruz que ele cumpre o plano da redenção. É na cruz que ele esmaga a cabeça da serpente. E na cruz que ele despoja os principados e potestades. E na cruz que ele revela ao mundo o imenso amor de Deus.

A cruz é o instrumento de glória pana o Filho. A cruz glorificou sua compaixão, sua paciência e seu poder em dar sua vida por nós, dispondo-se a sofrer por nós, a se fazer pecado por nós, a se tornar maldição por nós para comprar-nos com seu sangue.

Jesus recebeu autoridade para dar a vida eterna (17.2). A vida eterna é uma dádiva do Pai oferecida pelo Filho. Todo aquele que nele crê tem a vida eterna. Quem nele crê não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.

Não há vida eterna fora de Jesus Cristo. Só ele pode nos conduzir a Deus. Só ele é o caminho para Deus. Só ele pode nos reconciliar com Deus. Só ele é a porta do céu.

A vida eterna é conhecer o único Deus (17.3). A vida eterna consiste em “conhecer”. Conhecer aqui não é uma mera adoção de ideias corretas sobre Deus, mas um apreender essencial mediante uma entrega plena e um relacionamento vivo.

As pessoas encontram em Jesus Cristo o único e verdadeiro Deus e a vida eterna. A vida eterna não é simplesmente uma vida que não tem fim.

A vida eterna é a verdadeira qualidade de vida. A vida eterna é um relacionamento íntimo e profundo com Deus, num deleite inefável do seu amor para todo o sempre. Não é apenas conhecimento teórico, mas relacionamento íntimo.

A vida eterna é experimentar o esplendor, a alegria, a paz e a santidade que caracterizam a vida de Deus.

É claro que a vida eterna não é apenas uma experiência futura, mas presente; denota existência infinda, sim, mas igualmente uma felicidade celestial.

A vida eterna não é um prêmio das obras, mas uma comunhão profunda com Jesus; agora e por toda a eternidade.

A salvação não é um caminho que abrimos da terra para o céu, mas o caminho que Deus abriu do céu para a terra.

A salvação foi uma obra que o Pai confiou ao Filho, e ele veio e a terminou, Temos a salvação pela completa obediência de Jesus e pelo seu sacrifício vicário.

Jesus ora para que possa reassumir a mesma glória que tinha antes da encarnação. Cristo veio do céu, onde desfrutou glória inefável com o Pai desde toda a eternidade.

Abriu mão de sua majestade e se esvaziou e se humilhou a ponto de ser chamado apenas de filho do carpinteiro. Mas, agora, ele ora pela sua volta para o céu e retoma seu posto de glória, de honra e de majestade.

 “Se desejarmos um argumento[2] irrefutável que prove a deidade de Cristo, aí temos somente neste capítulo de João. A sublime consciência que aí revela do que era, o fato de arrogar a si o domínio do universo, a referência que Faz a uma existência anterior em unidade viva com o eterno Deus, tudo isso para nós só pode provar uma das três: ou de era louco, ou blasfemo, ou era Deus mesmo”.

  1. JESUS ORA PELA NOSSA SEGURANÇA (17.6-14)

Três verdades são destacadas.

Aqueles que creem em Jesus, são os que o Pai deus ao seu Filho Jesus. (17.2,6,8,9,11,12,24). Sete vezes Jesus afirmou que os discípulos lhe foram dados pelo Pai.

Não apenas Jesus é o presente de Deus para a igreja; a igreja é o presente do Pai para Jesus. Não fomos nós que encontramos Deus; foi ele que nos encontrou.

Não fomos nós que inicialmente amamos a Deus; foi ele que nos amou primeiro. Não fomos nós que escolhemos Deus; foi ele que nos escolheu. Não fomos nós que chegamos a Cristo; foi o Pai que nos levou até ele.

A segurança da nossa salvação não está fundamentada no nosso caráter, mas no caráter de Deus e na obra perfeita de Cristo. E ele quem nos guarda. E ele quem nos livra.

E ele quem nos salva, nos conduz e nos leva para o céu. Jesus deixou claro que aqueles que o Pai lhe dá, esses é que vêm a ele, e aqueles que vêm a ele, de maneira alguma os lançará fora (6.37-40).

Em segundo lugar, a nossa segurança está baseada no cuidado de Cristo (17.12). Jesus é o bom pastor que deu sua vida pelas ovelhas. Ele cuida das suas ovelhas e as conduz ao céu.

Jesus guardou e protegeu seus discípulos, e nenhum deles se perdeu, exceto o “filho da perdição”. Por que Jesus não guardou Judas? Será que Judas nunca pertenceu a Cristo.

Jesus guardou fielmente todos os que o Pai lhe deu, mas será que Judas nunca lhe foi dado pelo Pai. Será que a escolha de Jesus foi errada, e que não conhecia verdadeiramente a Judas. Não de forma alguma.

Judas era alguém de muita confiança de Jesus. Ele foi recebeu poder para operar milagres e expulsar demônios (Lc 10.19-21).

Ele foi o tesoureiro e ocupou um cargo de muita confiança no ministério de Jesus. Os outros discípulos nunca desconfiaram de qualquer conduta indevida de Judas.

O que aconteceu com Judas pode acontecer com qualquer um de nós! Veja a exortação da Escritura, em (Hb 3.12-14).

Irmãos, tende muito cuidado, para que nenhum de vós mantenha um coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Pelo contrário, exortai-vos mutuamente todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, de maneira que nenhum de vós seja embrutecido pelo engano do pecado. Porque passamos a ser participantes de Cristo, desde que, na realidade, nos apeguemos até o fim à fé que nele depositamos desde o início.

Judas deixou a incredulidade entrar no coração (6.64-71), ele não se deixou ser purificado pela palavra (13.11), embora fosse um escolhido, ele levantou o seu calcanhar contra Jesus {traição} (13.18) ele escolheu o grupo dos inimigos e não dos discípulos (18.5,8,9).

Judas é sim um exemplo de cristão que “perdeu a salvação”.  Ele não era um incrédulo que fingiu ser salvo e, que só no final, foi desmascarado.

Ele não estava predestinado a trair a Jesus, ele não era um réprobo. Ele escolheu o pecado, ele é inteiramente responsável pela conduta que tomou.

A nossa segurança está baseada na intercessão de Cristo (17.9,11,15,20). Cristo orou pelos discípulos. Nas suas diversas dificuldades, Jesus intercedeu por eles.

Orou por eles quando estavam passando por uma avassaladora tempestade (Mt 14.22-33). Orou por Pedro quando este estava sendo peneirado pelo diabo (Lc 22.31,32).

  1. ELE ORA PELA NOSSA ALEGRIA (17.13).

Outro assunto que toma lugar na oração de Jesus é a nossa “completa alegria”. A fonte dessa alegria é o resultado do nosso relacionamento com o Senhor Jesus, “para que tenham a minha completa alegria em si mesmo”.

Os cristãos perseguidos, conseguem experimentar essa “completa alegria”; em meio a intensa dor e sofrimento.

Muitas vezes, definimos a felicidade como a ausência de algo indesejável, como dor, sofrimento ou desapontamento. Mas a alegria cristã é a resposta adequada à presença de algo desejável: o próprio Deus.

Os apóstolos se alegraram pelo privilégio de serem chicoteados, por causa do nome de Jesus (At 4). Paulo e Silas, oravam e cantavam hinos a Deus, depois de serem chicoteados e presos.

Eles olhavam para os sofrimentos através do relacionamento com o Senhor Jesus. Esse tipo alegria que supera o sofrimento é possível, porque Jesus está orando por nós.

Isso me lembra o que Matthew Henry, um estudioso da Bíblia de 1700 escreveu em seu diário depois que alguns ladrões o roubaram e pegaram sua carteira: “Deixe-me ser grato primeiro, porque eu nunca fui roubado antes; segundo, porque, embora eles levaram minha carteira, eles não tiraram a minha vida; terceiro, porque, apesar de terem levado tudo, não foi muito; e quarto, porque fui eu que fui roubado, não fui eu quem roubou ”.

  1. ELE ORA POR LIVRAMENTO NA TENTAÇÃO (V.15)

Ele ora: “não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal”. Jesus já havia nos ensinado na oração do Pai Nosso, “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal…” (Mt 6.13).

O Diabo é o príncipe deste mundo; de todo esse sistema que se opõe a Deus e a sua igreja.  A Escritura nos exorta, não ameis o mundo, quem ama o mundo se constitui inimigo de Deus.

A sedução do mundo, o amor ao mundo, o mundo é o nosso inimigo. O cristão é tentado a todo instante a amar o mundo e tudo o que nele há.

O poder de sedução do mundo é impiedoso, e precisamos orar para que nem sequer sejamos tentados. Paulo diz que “Demas, tendo amado o mundo, abandonou a fé” (2Tm 4.10).

Agora o próprio Jesus está orando para que sejamos guardados do mal. Pois não seremos guardados na nossa própria força; mas na força de Deus.

Precisamos ter uma vida profunda de oração, se quisermos vencer o mundo com suas seduções. Aqui vale a máxima: “ou estamos orando ou estamos pecando”.

  1. ELE ORA PELA NOSSA RELAÇÃO COM O MUNDO (17. 9,14,16)

O Outro assunto enfatizado na oração de Jesus é a que maneira correta como devemos nos relacionar com o mundo.

Nós não somos do mundo (17.14,16). Nascemos de cima, do alto, do Espírito. Nossa origem é do alto. Devemos buscar as coisas lá do alto. Jesus disse: Se o mundo vos odeia, sabei que primeiramente odiou a mim.

Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas o mundo vos odeia porque não sois do mundo; pelo contrário, eu vos escolhi do mundo (15.18,19).

Os discípulos foram dados pelo Pai a Cristo, procedentes “do mundo” (17.6), mas eles “não são do mundo” (17.14,16), apesar de “continuarem no mundo” (17.11) e não serem imediatamente tirados dele (17.15).

Eles permanecem no mundo não porque lhes falte outra saída; eles são, em termos positivos, enviados de volta ao mundo como representantes e mensageiros do seu mestre.

Somos odiados pelo inundo (17 .14). O mundo nos odeia porque pertencemos a Cristo. A Bíblia afirma que quem se faz amigo do mundo constitui-se em inimigo de Deus (Tg 4.4).

Diz ainda que quem ama o mundo, o amor do Pai não está nele (Jo 2.15). O apóstolo Paulo destaca que não podemos nos conformar com este mundo (Rm 12.2).

Somos chamados do mundo (17.19). Jesus se separou para salvar os discípulos, e agora devemos nos santificar para ele. A palavra “santificar” significa “separar”.

Essa separação não é geográfica, mas moral e espiritual. Estamos no mundo, mas somos guardados do mundo (17.11,15). Santidade não equivale a isolamento.

Não é isolar-se entre quatro paredes ou em guetos e perder o contato com as pessoas. Não é viver num monastério, longe do mundo. Precisamos estar presentes no mundo como sal e luz. Precisamos influenciar, pois somos o perfume de Cristo.

Precisamos estar presentes, pois somos a carta de Cristo lida por todos os homens. Contudo, estamos no mundo como luzeiros. Estamos no mundo a fim de apontar o rumo para Deus.

O objetivo da fé cristã jamais foi apartar o ser humano da vida, mas capacitá-lo para enfrenta-la vitoriosamente. Cristo não nos oferece escapes, mas poder para o enfrentamento.

A igreja rem uma dupla responsabilidade em relação ao mundo a seu redor. Viver no mundo, sem ser contaminado por ele. Não podemos nos conformar com o mundo.

Somos enviados de volta ao mundo (17.18) Jesus nos deu uma missão e urna estratégia. Devemos ir ao mundo como Cristo veio ao mundo. Ele “tabernaculou” conosco. Fez-se carne.

Ele recebeu pecadores. Recebeu os escorraçados, abraçou os indignos de ser abraçados, tocou os leprosos, hospedou-se com publicanos. Sua santidade não o isolou, mas atraiu os pecadores para serem salvos.

  1. JESUS ORA POR NOSSA SANTIDADE (17.16-20)

Jesus ocupa sua oração para orar por um assunto muito desprezado pelos crentes modernos; ele ora pelo nosso crescimento em santidade.

O aposto Paulo diz em (Hb 12.14) que sem santificação ninguém verá o Senhor. Jesus disse no sermão do monte, somente os puros de coração verão a Deus (Mt 5.8).

Deus é santo e tudo o que pertence a ele é santo. A santidade é um imperativo: Sede santo, porque eu sou santo”.

A nossa entrada no céu será inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas o céu em si mesmo não seria deleitoso para nós sem um caráter santo. Nosso coração deve estar sintonizado no céu antes de nos deleitarmos nele.

Somente o sangue de Cristo nos capacita a entrar no céu, mas somente a santidade nos capacita a regozijar-nos nele.  A igreja deve ser separada do mundo, assim como o barco está na agua, e não a agua no barco, assim dever ser a igreja.

A igreja moderna tem ignorado essa oração-instrução de Jesus e se misturou com o mundo.

Andrew Bonar, o grande compositor de hinos na Escócia, disse: “Eu procurei pela igreja e a encontrei no mundo. Eu procurei pelo mundo e o encontrei na igreja.”

Jesus orou sobre nossa separação do mundo. A igreja é santa, a ideia primaria de santidade é a diferença. A oração e a palavra são meios de graça, que podem nos santificar (1Tm 4.5).

Jesus esta orando-ensinando que somos santificados pela Palavra de Deus (17.17) “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade”.

Ninguém terá uma vida santa se não for santificado pela Palavra e pela oração. Esta oração-instrução deve ser obedecida.

Isto mostra mais uma vez a importância da leitura devocional das escrituras todos os dias, e a meditação nela dia e noite. Sem o conhecimento das Escrituras nãos há crescimento espiritual.

Hoje somos chamados de geração Coca-Cola, geração Internet, geração tecnológica; geração shopping center e também geração analfabeta da Bíblia

Dwight Moody escreveu na capa de sua Bíblia: “Este livro afastará você do pecado ou o pecado afastará você deste livro”. Jesus já havia ensinado: Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado (15.3

(17.6) “Manifestei o TEU NOME …e GUARDARAM a tua palavra”.

O nome e a Palavra de Deus, estão relacionados. O nome de alguém e sua palavra é a mesma coisa. O nome de Deus e a sua palavra tem o mesmo status. A prova final de que cremos em Deus é se guardamos a sua Palavra.

(17.8) “Porque lhes DEI AS PALAVRAS que tu me deste, e eles a RECEBERAM, e tem verdadeiramente conhecido que saí de ti, e CRERAM me enviaste.

(17.14) “DEI-LHES a tua Palavra”, e o mundo os odiou.  A palavra de Deus é uma dadiva divina. E o mundo odeia a lei de Deus. Por isso ela a ataca violentamente, tentando invalidar ou desmentir a Palavra.

(17.20) “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que PELA TUA PALAVRA hão de crer em mim”.

A pregação da Palavra é o instrumento pelo qual Deus chama as pessoas à salvação (17.20). Não é o conhecimento da igreja, a eloquência do pregador ou os métodos que usamos, mas é a pregação poderosa da Palavra de Deus que leva o ser humano a Cristo.

  1. ELE ORA PELA NOSSA UNIDADE (17.21-26)

Quão doloroso tem sido o fato de que divisões, contendas e desavenças na igreja têm provocado escândalos diante do mundo e enfraquecido a igreja de Cristo.

Não raro, muitos cristãos têm empregado sua energia contendendo uns contra os outros, em vez de lutarem contra o pecado e o diabo.

Quando[3] as igrejas que competem entre si não podem evangelizar o mundo. As pessoas são atraídas para o evangelho, quando expressamos amor uns pelos outros.

Não é unidade de organização nem unidade denominacional, pois nesse tempo não havia denominações. Jesus também não está falando sobre ecumenismo.

A ideia de unir todas as religiões, afirmando que a doutrina divide, mas o amor une, é uma falácia. Não há unidade fora da verdade (Ef 4.1-6).

Jesus está orando para que sejamos unidos em amor e na defesa da verdade. A igreja invisível e universal, é expressa na igreja local.

A unidade da igreja é sobrenatural, tangível e evangelizadora. E isto pode ser perdido quando mostramos um espírito de egoísmo, competitividade e desunião.

Thomas Brooks escreveu: “A discórdia e a divisão não condizem com cristão algum. Não causa espanto os lobos importunarem as ovelhas, mas uma ovelha afligir outra é contrário à natureza e abominável”.

Esse é o pedido mais extenso de Jesus e o último pedido que faz ao Pai (17,11, 20,21,22). Nada substitui a unidade, nem mesmo nossas hermenêuticas particulares, nem nossa ortodoxia estéril.

Se o nosso entendimento da Escritura está causando divergência e contenda no meio da igreja local; ou nosso ensino está errado; ou eu estou na igreja errada.

Jesus só tem uma igreja, um rebanho, uma noiva. A unidade da igreja é o desejo expresso de Jesus, o alvo da sua oração, a expressa vontade do Pai.

Assim como a união da trindade, assim deve ser a nossa unidade (17.21). Se nós somos filhos de Deus e membros de sua família, não podemos viver em desunião. Não há desarmonia entre o Pai e o Filho.

Nunca houve tensão nem conflito entre a vontade do Pai e a do Filho. Se nascemos de Deus, se nascemos do Espirito, se somos coparticipantes da natureza divina e se Jesus é o nosso Senhor, não podemos viver brigando uns com os outros.

Não estamos disputando uns com os outros. Somos irmãos, filhos do mesmo Pai. Nossa origem espiritual nos compele a buscar a unidade, e não a desunião (Fp 2,1,2).

A unidade dos crentes é a manifestação visível da gloria de Deus no mundo (17.21,23). O mundo perdido não é capaz de ver Deus, mas pode ver os cristãos.

Se o mundo enxergar amor e harmonia nos cristãos, crerá que Deus é amor. Se enxergar ódio e divisão, rejeitará a mensagem do evangelho.

As igrejas que competem entre si não podem evangelizar o mundo, mas prestam um desserviço á causa do evangelho. A unidade da igreja é a apologética final, o argumento irresistível.

A maior obra de evangelização é a comunhão entre seus irmãos, é o amor com que eles se amam. Jesus disse que a prova definitiva do discipulado é o amor (Jo 13.34,35).

Não há evangelização eficaz sem a unidade da igreja. Não temos autoridade para pregar arrependimento ao mundo se estamos travando batalhas internas dentro da igreja.

A unidade é uma obra de Deus na igreja por meio do Espirito Santo e através da oração. Essa unidade não é um programa de socialização.

Ilustro[4] essa verdade com um fato da vida agrícola. A batata inglesa é um tubérculo.

Quando se arranca um pé de batatas, há muitas batatas em cada pé. Elas estão juntas, mas não são uma unidade. Há batatas maiores e outras menores. Há batatas mais lisas e outras mais ásperas.

Depois de colhe-las, o agricultor as coloca num saco e as vende no mercado. Elas estão comprimidas num vasilhame, mas não são uma unidade.

O vendedor as distribui na banca do supermercado, e o comprador escolhe as que mais lhe apetece e as leva para casa, onde as coloca numa gaveta da geladeira, mas elas ainda não são uma unidade.

Ainda há algumas batatas maiores que outras, mais lisas que outras. A cozinheira, então, pega as batatas, cozinha-as, corta-as e faz delas um purê. Aí, sim, elas se tornam urna unidade.

Agora é impossível distinguir umas das outras, separar umas das outras. Elas são uma unidade. Essa unidade em amor é que deve existir entre os filhos de Deus!

  1. ELE ORA PELO NOSSO DESTINO ETERNO (17.24-26).

Jesus conclui sua oração com um ponto culminante; a gloria futura da igreja. Jesus pede ao Pai que os discípulos vejam sua glória e estejam no céu com ele.

Se vamos estar no céu, se vamos morar juntos por toda a eternidade, como podemos afirmar que não podemos conviver uns com os outros aqui?

Precisamos aprender a viver corno família de Deus desde já, pois vamos passar juntos toda a eternidade. Essa parte da oração é cheia de doçura e conforto indizível.

Nós não vemos Cristo agora. Nós lemos sobre ele, ouvimos dele, cremos nele e descansamos nossa alma em sua obra consumada.

Mas aqui ainda andamos pela fé, e não pela vista. Contudo, em breve, estaremos no céu com Jesus e, então, essa situação vai mudar. Então, veremos Cristo face a face, Então, nós o veremos como ele é. Então, conheceremos como também somos conhecidos.

Se já temos alegria indizível andando pela fé, quanto mais quando estivermos na glória com ele, num corpo glorificado, junto àquela gloriosa assembleia de santos. Paulo diz: […] e assim estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4.17). E recomenda: Portanto, consolai-vos uns aos outros com essas palavras (1 Ts 4.18).

Naturalmente, os crentes já desfrutam uma glória no presente. Há, porém, uma felicidade maior em depósito para eles no futuro – uma visão real do Cristo da glória e uma participação efetiva dessa glória inefável.

CONCLUSÃO: Agora, há uma grande lição para nós em tudo isso. As pessoas me perguntam: “Como eu oro? Como é feita a oração? Como eu aprendo a orar?  Esta oração de Jesus também é um modelo para nossas orações.

Deixe-me dar três conselhos.

Primeiro, agende seu horário de oração. Faça disso uma parte regular de sua agenda diária. Você tem que encontrar um horário regular todos os dias para orar.

Você tem que sentar e dizer para si mesmo: Como posso mudar minha rotina diária para que eu tenha cinco ou dez ou quinze minutos todos os dias para conversar com o Senhor?

Quando posso fazer isso hoje e todos os dias? A coisa mais importante sobre nós em termos de eficácia e eficiência é a nossa rotina diária. Todo mundo precisa de uma rotina diária.

Agora, todo dia é diferente, claro. Mas a maioria de nós tem alguns elementos estruturais comuns em nossos dias. Normalmente nos levantamos e vamos para a cama mais ou menos na mesma hora todos os dias.

Nós temos horários escolares ou de trabalho. Nós temos uma ou duas ou três refeições todos os dias. Talvez tenhamos um banho todas as manhãs ou um banho todas as noites. Talvez tenhamos uma pausa para o café no meio da manhã. A maioria de nós tem uma rotina diária.

Então, temos que nos perguntar, como posso ajustar minha rotina diária para fazer a leitura devocional da Bíblia e orar?

Calendarize isso. Rotinize isso. Habitualize isso. Fique com ele até que seja uma parte do seu dia como seu café da manhã; todos os dias na hora do almoço, e o horário de dormir?

Em segundo lugar, personalize-o. Quando você fecha a porta e está sozinho em seu lugar secreto, pratique o que falamos na semana passada – Coram Deo – a presença de Deus. Visualize o Senhor com você e fale com ele como se estivesse falando com seu melhor amigo. Muitas vezes é bom orar em voz alta.

Em terceiro lugar, organize-o. Você pode começar a desenvolver um diário de oração ou um pequeno caderno de orações ou uma lista em seu tablet.

Você pode começar todos os dia[i]s com louvor e ação de graças, e depois passar para a confissão, e então orar por sua família, e então orar por seus amigos, e então orar pelas necessidades do mundo.

Mas a própria oração de Jesus aqui em João 17 nos mostra que uma boa oração não é apenas um conjunto confuso de palavras, mas tem algum pensamento e organização em torno disso. Jesus tinha uma oração com propósito e organizada e com uma sequência lógica.

Mas mesmo que não consiga fazer nada disso, mesmo assim ore, ore, ore, ore, ore, ore, ore, ore, ore, ore, ore, ore.

[1] Charles Erdman

[2] F.F. Bruce.

[3] William Barclay

[4] Hernandes Dias Lopes.

[i] Sermão adaptado, do comentário de João; Editora Hagnos, Hernandes Dias Lopes.