Sermão Nº 27 – Não fuja de quem você é. Referência: João 18:1-27

INTRODUÇÃO:  No filme de C.S. Lewis: A Viagem do Peregrino da Alvorada; Aslam diz para Lucia, uma pré-adolescente que vive uma crise de identidade: Você duvida do seu valor; não fuga de quem você é.

Hoje em nossa exposição através do Evangelho de João, chegamos a João 18. Em termos de tempo, os eventos deste capítulo ocorreram por volta da meia noite da última noite da vida natural de nosso Senhor, e eles aconteceram no Jardim do Getsêmani.

Este é o capítulo em que Jesus Cristo é capturado, preso, arrastado para uma série de julgamentos ilegais e finalmente condenado injustamente.

Ao ler este capítulo várias vezes, fiquei maravilhado com a forma como os inimigos de nosso Senhor falharam em desumanizá-lo.

O mundo e diabo e o pecado estão constantemente procurando nos desumanizar.

Quando alguém não nos trata com respeito, ou quando nos tornamos vítimas de alguma forma, ou quando a sociedade ou as pessoas tentam nos despojar de nossa AUTO-ESTIMA, e destruir nossa AUTO-IMAGEM – isso é desumanização.

Em suas memórias, o arcebispo anglicano Desmond Tutu, que era negro, e que ganhou o prêmio Nobel da paz em 1984, por sua luta contra o Apartheid.

Ele escreveu o que acontecer quando foi passear com sua filha para na praia em East London, na África do Sul, há muitos anos, durante os dias do apartheid.

A parte da praia reservada aos negros era rochosa e era a parte menos atraente. Perto dali havia um playground, e a filha do arcebispo dizia insistentemente: “Papai, eu quero ir brincar nos balanços”.

Desmond Tutu se esforçou para tentar explicar à filha; por que ela sendo negra; foi excluída do parquinho.

Outras crianças estavam balançando lá, mas ela não podia. O arcebispo escreveu em seu livro: “Não há futuro sem o perdão”, que a experiência o fez se sentir “tão desumanizado, tão humilhado, tão diminuído”.

  • Esse é o mal no coração dos campos de concentração, onde as pessoas são despojadas de todos os fragmentos de sua humanidade. Eles são desumanizados. Eles são tratados pior que os animais.
  • Isso também acontece no sistema prisional. Os nomes das pessoas são tirados e eles se tornam números. Cada aspecto do complexo prisional tem o efeito de desumanizar os internos
  • Em outro nível, é o que acontece quando uma criança é intimidada na escola.
  • É o que acontece quando uma esposa é espancada ou abusada em um relacionamento doméstico.
  • Nos sentimos desumanizados quando não somos respeitados no trabalho, na escola ou na igreja.
  • Às vezes podemos nos sentir desumanizados apenas porque há muitos de nós – 7 bilhões de pessoas no planeta – e em multidões de pessoas às vezes somos levados como gado.
  • Enfrentar doenças e passar pelas indignidades associadas ao tratamento pode ter um efeito desumanizador em nós.
  • Um sentimento de fracasso e de perda pode nos desumanizar.
  • Quando um estudante cristão é intimidado ou menosprezado por um professor ateu, pode ser uma experiência desumana.

De dez mil outras maneiras, o diabo tenta, de um jeito ou de outro, desumanizar-nos, diminuir nossa autoestima e nos fazer sentir que não somos especiais.

No centro disso, é isso que a teoria da evolução faz. Nos diz que não somos nada de especial; que não somos criados à imagem de Deus; que nós não somos criados.

Diz-nos que não somos nada mais do que um lodo primordial que de alguma forma experimentou uma série de ocorrências aleatórias que nos transformaram em animais sem futuro, destinados a perecer sem esperança. QUÃO DESUMANO É ISSO!

Este mundo tem uma maneira satânica de tentar nos despojar de nossa dignidade e nossa verdadeira Auto-imagem em Cristo.

Mas há um tipo de pessoa que é incrivelmente resistente a essas tentativas, e isso é alguém que pensa como Jesus. Os seguidores de Jesus são muito difíceis de derrotar.

Tudo isso está claro na nossa mente à medida que estudava João 18. De todas as direções, os inimigos de Jesus tentaram desumanizá-lo – mas era impossível.

Jesus permaneceu seguro de si e totalmente encarregado de suas próprias atitudes, mesmo quando seu destino parecia estar à mercê dos outros.

Quando os inimigos vêm para destruí-lo; ele pergunta a quem buscais? Ele corajosamente se apresenta: EU SOU ELE.

Esse texto nos dão algumas pistas sobre como manter nossa tranquilidade e dignidade pessoais, mesmo quando os outros tentam nos rebaixar. O que acontece quando Jesus diz: “Eu sou ele!”

O que fazer quando tentarem nos desumanizar? O que devo fazer para não duvidar do meu valor e não fugir do que sou.

 

  1. SEJA SEGURO DE QUEM VOCÊ É (18.1-12)

A hora havia chegado, e Jesus sabia muito bem disso. Em breve, seus discípulos o abandonariam, seus inimigos lançariam mão sobre ele, ele seria interrogado, insultado, cuspido, espancado e condenado na corte religiosa como um blasfemo.

Tanto os inimigos como os discípulos de Cristo tinham IDEIAS DISTORCIDAS a seu respeito. Seus inimigos pensavam que ele fosse um impostor, um blasfemo, que arrogava a si o título de Messias.

Seus discípulos, por sua vez, pensavam que ele era um Messias político que restauraria a nação de Israel e os colocaria em uma posição privilegiada.

Jesus, por sua vez, mostrou à multidão, bem como aos seus discípulos, que ele NÃO ERA MOVIDO PELAS CIRCUNSTANCIAS; nada estava acontecendo de improviso nem de forma acidental, mas tudo se passava daquele modo para que se cumprissem as Escrituras (Mc 14.49).

Todas as etapas da caminhada de Jesus do Getsêmani ao Calvário foram preanunciadas séculos antes de Jesus vir ao mundo (Sl 22; Is 53).

A ira de seus inimigos, a rejeição pelo seu povo, o tratamento que recebeu como um criminoso, tudo foi conhecido e profetizado antes.

Jesus não é um mártir, e sim um sacrifício voluntário, obediente à vontade de seu Pai. Jesus revela que o seu reino é espiritual e suas armas não são carnais. A hora da sua paixão havia chegado, por isso ele não foi preso, mas se entregou (18.4-6).

Em toda essa tumultuada cena, Jesus é o único que está sereno e seguro de quem ele é.

Ao ler o relato, temos a impressão de que foi ele, e não a polícia do Sinédrio, que dirigia as coisas. Joao mostra a superioridade de Jesus sobre seus inimigos.

Porque Jesus estava seguro de que ele estava fazendo a vontade de Deus, e que Deus é era quem estava conduzindo todas as coisas, fez ele triunfar sobre as circunstancias.

E não agir descomedidamente, com um sentimento de vítima ou na defensiva como muitas vezes agimos. Esteja seguro de quem você é.

  1. NÃO FUJA DOS ENFRENTAMENTOS (18.1-3).

O relato da agonia do Senhor Je[i]sus no jardim de Getsêmani é uma profunda e misteriosa passagem das Escrituras.

Ninguém ao longo da História jamais passou ou vai passar por aquilo que Jesus experimentou no Getsêmani. Seu sacrifício total, em completa obediência à vontade do Pai, era o único tipo de morte que poderia salvar os pecadores.

O inferno, tal como ele é, veio até Jesus no Getsêmani e no Gólgota, e o Senhor desceu até ele, experimentando todos os seus terrores.

O jardim de Getsêmani fica no sopé do monte das Oliveiras, do outro lado do ribeiro de Cedrom, defronte do monte Sião, onde se situava o glorioso templo.

Getsêmani significa “prensa de azeite, lagar de azeite”. Foi naquela prensa de azeite”, no meio do olival, que Jesus ergue aos céus forte clamor regado de abundantes lágrimas (Hb 5.7).

Ali ele trava a mais titânica batalha da humanidade, uma batalha de sangrento suor. Ali o eterno Deus feito carne dobrou sua fronte. Ali o bendito Filho de Deus rendeu-se incondicionalmente à vontade do Pai para remir um povo por meio do seu sangue.

A história da humanidade começou em um jardim, onde o homem cometeu seu primeiro pecado. O primeiro Adão desobedeceu a Deus e foi expulso do jardim, mas o último Adão mostrou-se obediente ao entrar no jardim de Getsémani.

Foi em um jardim que o primeiro Adão trouxe o pecado e a morte para a humanidade; mas, por sua obediência, Jesus trouxe retidão e vida a todos os que creem nele. Um dia, a História terminará em outro jardim, a cidade celestial. Ali não haverá mais morte nem maldição alguma.

João nos informa que Jesus saiu do cenáculo para o jardim (18.1). Não foi uma saída de fuga, mas de enfrentamento.

Ele não saiu para esconder-se, mas para preparar-se. Ele não saiu para distanciar-se da cruz, mas para caminhar em sua direção.

Jesus não muda seus hábitos para escapar dos seus oponentes: ele vai ao seu LUGAR DE ORAÇÃO; onde Judas Iscariotes podia ter certeza de que o encontraria.

Judas Iscariotes chegar acompanhado não apenas de judeus oficiais do templo, mas também de um destacamento de soldados romanos fortemente armados.

Tratava-se de uma coorte. Uma coorte completa tinha 1.000 homens, 760 soldados de infantaria e 240 de cavalaria.

Veja o que acontece quando Jesus afirma corajosamente: EU SOU ELE; Longe de se intimidar com aquele batalhão militar que vem para prendê-lo.

Jesus revela sua majestade; com plena consciência de quem ele é e se apresenta a seus inimigos. Impactados pela afirmação; EU SOU ELE; todo aquele exército cai por terra.

Jesus deixa claro que não são seus inimigos que estão no controle da situação. Jesus não está sendo preso; está se entregando.

Ele tem um propósito; ele estava disposto a voluntariamente morrer. Enquanto você não estiver disposto a morrer pelo evangelho, você não terá poder para vive-lo. Uma pessoa determinada é perigosa que um exercito.

Não fuja dos enfrentamentos, mas esteja disposto não a lutar, mas a sofrer os danos e a ser humilhado. E você só fará isto se estiver disposto a morrer pelo evangelho.

  1. ESTEJA DISPOSTO A SER TRAÍDO (18.2-9).

Judas Iscariotes era um traidor ingrato. Embora apóstolo, e uma pessoa de extrema confiança; o tesoureiro do ministério de Jesus. Ele ocupava lugar de destaque entre os discípulos.

Ouviu os ensinos de Jesus e viu seus milagres. Foi amado por Cristo e desfrutou o alto privilégio de ver seus milagres e ouvir seus ensinos.

Jesus lavou seus pés e advertiu-o na mesa da comunhão. Mas Judas, dominado pelo pecado da avareza e da amargura, abriu brecha para o diabo entrar em sua vida.

Agora, ele se associa aos inimigos de Cristo para prendê-lo. Ele se tornou num diabo, num ladrão, e num traidor. Por ganância e amargura, ele entregou Jesus aos sacerdotes; por apenas trinta moedas de prata, traiu sangue inocente.

Agora, ele lidera exército que na escuridão vai fortemente armado ao Getsêmani para prender Jesus.

Judas Iscariotes ë simplesmente um exemplo de um crente que vive na pratica de um pecado habitual, e por isso corre o perigo de ceder a uma paixão avassaladora e perversa e, mesmo diante de tantas advertências e apesar da luz abundante que possui, chega a odiar essa luz ao ponto de tomar posição ao lado dos inimigos de Cristo.

A traição de Jesus nos ensina que vamos precisar aprender a lidar com uma das atitudes mais abomináveis e repugnantes.

O traidor é alguém que aparenta ser inofensivo. É um lobo com pele de ovelha. Traz nos lábios palavras aveludadas, mas no coração carrega setas venenosas. Judas passa para a História como aquele que “entregou Jesus”.

Judas disse aos seus aliados que o acompanhava: Aquele que eu beijar, é ele; prendei-o e levai-o com segurança (Mc 14.44).

Judas sabia que todas as tentativas utilizadas até então para prender Jesus ou mesmo matá-lo tinham fracassado. Ele pensou que Jesus reagiria à prisão ou que seus discípulos lutariam por ele.

Judas Iscariotes não havia compreendido ainda que Jesus tinha vindo ao mundo para essa hora. Ele nada compreendia do plano eterno de Jesus de dar sua vida para a salvação dos pecadores.

Nunca deveremos ficar surpresos de que alguém que mais ajudamos, que mais amamos, um dia possa nos trair, porque isso vai acontecer, e talvez, mais de uma vez. Não podemos fugir das traições, mas aceita-las com perdão e amor.

 

  1. APRENDA A LIDAR COM PESSOAS DISSIMULADAS.

Judas, é uma pessoa que sabe muito bem o que ser dissimulado. A senha de Judas para entregar Jesus era um beijo (Mc 14.44).

O beijo era um sinal de afeto e respeito para um superior amado. Quando Judas disse: Aquele que eu beijar, usou a palavra filein, que é o termo comum.

Mas, quando o texto diz que Judas se aproximou e o beijou (Mc 14.45), a palavra é katafilein. O termo kata é intensivo, e katafilein é o vocábulo usado para descrever como um amante beija a sua amada.

Assim, Judas não apenas beija Jesus, mas beija-o efusiva e demoradamente e entusiasticamente. O beijo prolongado de Judas tinha a intenção de dar à multidão uma oportunidade de ver a pessoa que devia ser presa.

Judas usa o símbolo da amizade e do amor para trair o Filho de Deus, e Jesus mais uma vez tirou sua máscara, dizendo-lhe: Judas, com um beijo trais o Filho do homem? (Lc 22.48).

William Hendriksen diz que, para o ato mais infame que já se cometeu, Judas escolheu a mais sagrada das noites (a da Páscoa), o lugar mais sagrado (o lugar das orações, ou seja; o santuário das devoções do mestre) e o símbolo mais sagrado, um beijo!”

E digno de nota que, na mesa da comunhão, todos os discípulos chamaram Jesus de Senhor e apenas Judas o chamou de mestre. Agora, Judas não ousa novamente chamá-lo de Senhor.

Veja a lição que o Senhor Jesus nos dá. Enquanto Judas trai Jesus com um beijo, este o chama de amigo.

Embora você está me traindo, mas nada muda o meu amor por você. O amor divino estava abrindo a porta da última oportunidade de arrependimento e salvação para Judas.

Mas ele estava completamente obcecado pelo diabo, ao qual havia voluntariamente permitido entrar em seu coração.

Como lidar com as pessoas dissimuladas, com ódio, desprezo, não, com amor e oferecendo a elas uma oportunidade para mudar.

Jesus não deixou de confrontar seriamente o pecado de Judas; você está traindo o filho de Deus; mas não deixou de ama-lo.

  1. SEJA PACIENTE COM PESSOAS INCONSEQUENTES (18.10,11).

Pedro, ainda imaturo, temperamental e com uma coragem inconsequente saca sua arma, e parte para a briga.

Pedro queria cumprir a promessa feita a Jesus de ir com ele para a prisão e para a própria morte. Ele demonstra um zelo sem conhecimento.

Pedro trava a batalha errada, com o inimigo errado, com a arma errada, na hora errada, com a motivação errada e obteve o resultado errado.

Essa não era uma luta para se medir força. Se assim fosse, Jesus pediria ao Pai mais de doze legiões de anjos, ou seja, mais de 72 mil anjos. Jesus repreende Pedro e reafirma o propósito de sua vinda ao mundo.

Aquela não era a hora de usar a espada, mas o cálice. Era hora de beber o cálice que o Pai lhe dera. Que vinha a ser esse cálice?

Esse era o cálice do sofrimento, da morte, que ele iria padecer levando sobre si mesmo o nosso pecado, fazendo-se pecado por nós, morrendo em lugar dos pecadores.

Pedro fez uma coisa tola atacando a pessoa errado, o servo Malco (18.10), pois não lutamos batalhas espirituais com armas carnais (2Co 10.3-5).

Não tivesse Jesus curado a Malco, Pedro poderia ter sido preso também; e, em vez de três, poderia haver quatro cruzes no Calvário.

Jesus repreende severamente a Pedro, guarda sua espada, pois quem fere com espada, com espada será ferido (18.11). Mas amorosamente suporta as consequências do temperamento imaturo de Pedro, operando um milagre.

Jesus já havia pedido, para deixarem os seus discípulos de fora, e que somente ele deveria ser preso.

Mesmo sabendo de sua condenação, Jesus pensa no bem estar dos seus discípulos. Ele não tem nenhum cuidado consigo mesmo, mas se preocupa com seus discípulos (18.8,11)

  1. APRENDA A LIDAR COM A FALTA DE LEALDADE (18.15-18,25-27).

Outra lição difícil que Jesus nos ensina é lidar com a falta de lealdade de Pedro. A negação de Pedro não se dá num vácuo. Ele já tinha sido alertado.

Atitudes anteriores sinalizaram esse fracasso de Pedro. Ele confiou em si mesmo. Julgou-se superior aos seus condiscípulos.

Dormiu na hora da peleja mais intensa. Demonstrou uma coragem carnal. Seguiu Jesus de longe. Aproximou-se perigosamente dos inimigos de Jesus. Pressionado pelos adversários, não teve fibra moral para assumir os riscos do discipulado.

Negou seu Senhor diante da atendente da porta e dos guardas do sumo sacerdote. E não apenas negou, mas negou três vezes, com juramento (Mt 26.72) e até com blasfêmias (Mt 26.74).

Pedro não teve a coragem de fazer a afirmação de Jesus; EU SOU ELE.

Pedro foi um homem ambíguo, paradoxal, de fortes contradições. Tinha arroubos de intensa ousadia e atitudes de extrema covardia. Era um homem de altos e baixos, de escaladas e quedas, de bravura e fraqueza, de avanços e.

Ele saca da arma horas antes, e está pronto para defender a Cristo, mas horas depois ele é um completo covarde e xingador.

O que levou Pedro a ser desleal? Três fatos merecem destaque aqui.

(a) Ele estava no lugar errado (18.15). O mesmo Pedro que seguiu Jesus de longe entrou no pátio da casa do sumo sacerdote. Aquele era um terreno escorregadio. Pedro expôs-se perigosamente.

O ambiente onde estamos pode ser um fator de influência negativa para o nosso testemunho. Não havia motivo algum para Pedro estar ali.

Ele estava correndo um risco desnecessário. Se expondo a perigos de lugares onde ele facilmente seria levado a pecar.

(b) Ele estava com as companhias erradas (18.16). Pedro estava não apenas no lugar errado, mas também na companhia de pessoas erradas. Assentou-se na roda dos escarnecedores (SI 1.1).

Na noite mais trevosa de sua alma, buscou a luz na fogueira da negação. Ali, enquanto seu corpo se aquecia do frio da noite, sua alma mergulhava na severa nevasca da sua história.

As pessoas com quem andamos, vai influenciar muito quem somos. Com quem convivemos nos parecemos.

(d) Ele estava como o conceito errado (18.17,18,25-27).

Depois de estar no lugar errado, com as pessoas erradas, o próximo passo é sou uma questão de resultado, ele passou a expressar as ideias erradas e o estilo de vida pecaminoso dos seus amigos de fogueira.

O ambiente e as pessoas não comungavam corretos, eram inimigos de toda a verdade; pois haviam acabado de prender o Senhor Jesus.

E agora por causa da CONVENIÊNCIA, e pelo SENTIMENTO DE PERTENÇA, para que não se pareça diferente do grupo ele vai negar a verdade sobre si mesmo e sobre Jesus.

Jesus, havia acabado de salvar sua vida da prisão e da morte, mas ele está sofrendo PRESSÃO DO GRUPO, dos NOVOS AMIGOS; então ele é desleal com seu Mestre e bondoso salvador.

Apesar de toda promessa de fidelidade feita a seu mestre (13.37); Pedro negou Jesus três vezes progressiva e degradante.

Primeiro, diante da encarregada da porta e de todos (18.17). Uma criada identifica Pedro e o aponta como discípulo de Cristo, mas ele nega isso peremptoriamente diante de todos (Mt 26.70)..

O Pedro seguro do cenáculo torna-se um homem medroso e covarde no pátio da casa do sumo sacerdote. O Pedro autoconfiante, que prometeu ir com Jesus à prisão e sofrer com ele até a morte, agora nega Jesus.

O Pedro que pensou ser mais forte do que seus colegas, agora cava um abismo na sua alma, agredindo sua consciência e negando o que de mais sagrado possuía. Ele estava negando seu nome, sua fé, seu apostolado, seu Senhor.

Segundo, diante dos servos do sumo sacerdote e dos guardas do Sinédrio (18.18,25). Ele faz com perjuros e juramentos, ele não só nega, mas faz isso com juramento.

Ele nega com forte ênfase. Ele empenha sua palavra, sua honra e sua fé para negar sua relação com o Filho de Deus. Quanto mais alto fala mais demonstra que está mentindo.

Terceiro, diante de um servo do sumo sacerdote, parente de Malco, a quem Pedro decepara a orelha com a espada (18.26,27).  E desta vez; Pedro se torna um praguejador e nega Jesus com palavras de blasfémia (Mt 26.74).

Além de negar Cristo com juramento, Pedro desce o último degrau da sua queda, quando começa a praguejar e a falar impropérios na tentativa de esquivar-se de Cristo.

Ele quis ser o mais forte e tornou-se o mais fraco. Quis ser melhor do que os outros e tornou-se o pior. Quis colocar seu nome no topo da pirâmide e caiu de forma mais vergonhosa para o último lugar.

Jesus está nos ensinando, que precisando aprender a lidar com a deslealdade. E porque não dizer, na maioria das vezes nós somos como Pedro.

  1. APRENDA A LIDAR COM A CALUNIA E A INJUSTIÇA (18.13-14,19-24).

O processo que culminou na sentença de morre de Jesus está eivado de muitos e gritantes erros, calunias e injustiças.

O processo não era senão um SIMULACRO de justiça do princípio ao fim, pois não tinha outra finalidade senão dar uma aparência de legalidade ao crime já predeterminado.

As leis não permitiam que um prisioneiro fosse interrogado pelo Sinédrio à noite. No dia antes de um sábado ou de uma festa, todas as sessões estavam proibidas.

Nenhuma pessoa podia ser condenada senão por meio do testemunho de duas testemunhas, mas eles contrataram testemunhas falsas.

O anúncio de uma pena de morte só podia ser feito um dia depois do processo. Nenhuma condenação podia ser executada no mesmo dia, mas eles sentenciaram Jesus à morte durante a noite e logo cedo o levaram a Pilatos para que este lavrasse sua pena de morte.

A reunião do Sinédrio foi ilegal, uma vez que ocorreu à noite; e o método usado também foi ilegal, visto que eles ouviram apenas testemunhas contrárias a Jesus.

Jesus passou por dois julgamentos: um eclesiástico e outro civil; o primeiro aconteceu nas mãos dos judeus, o segundo, nas mãos dos romanos.

Tanto o julgamento judaico quanto o romano tiveram três estágios. O julgamento judaico foi aberto por Anás, o antigo sumo sacerdote (18.13-24).

Em seguida, Jesus foi levado ao tribunal pleno para ouvir as testemunhas (Mc 14.53-65), e, então, na sessão matutina do dia seguinte, foi dado o voto final de condenação (Mc 15.1).

Jesus foi então enviado a Pilatos (18.28-38; Mc ( 5.1-5), que o enviou a Herodes (Lc 23.6-12), que o mandou de volta a Pilatos (18.39-19.6; Mc 15.6-15). Pilatos atendeu ao clamor da multidão e entregou Jesus para ser crucificado.

Os juízes de Jesus foram:

Anás, o ganancioso, venenoso como uma serpente e vingativo (18.13), comandava o comercio do templo, era por certo o home mais rico da nação.

Caifás, rude, corrupto, hipócrita e dissimulado (11.49,50);

Pilatos, supersticioso e egoísta (18.29); e

Herodes Antipas, imoral, ambicioso e superficial.

Antes de ser levado ao Sinédrio, Jesus foi conduzido manietado pela escolta, o comandante e os guardas dos judeus até Anás.

Este era sogro de Caifás, o sumo sacerdote. Anás havia ocupado o cargo, mas foi deposto pelos romanos. Mas exercia influência sobre a nação.

O interrogatório de Jesus tinha por objetivo justificar a prisão e a morte diante do sinédrio, onde sumo sacerdote era o presidente da suprema corte. Depois Jesus teria que ser acusado, diante de um tribunal romano, que era o único que tinha o poder de executar a pena de morte.

Embora ilegalmente, o Sinédrio reuniu-se naquela noite da prisão de Jesus para o interrogatório. Usando a mentira, o engano e a violência, procuravam evidencias contra ele.  Tudo de fachada, pois já tinham a sentença pronta, mas precisavam de uma forma para efetivá-la.

As testemunhas (Mc 14.56-59). Segundo a lei, não era lícito condenar ninguém à morte senão pelo testemunho concordante de duas testemunhas (Nm 35.30). As primeiras testemunhas desqualificam-se, pois suas histórias não concordam entre si (Dt 17.6).

Por isso, Jesus diz a Anás: Por que me interrogas? Pergunta aos que me ouviram o que lhes falei. Eles sabem o que eu disse?’ O testemunho (Mc 14.56-59). O Sinédrio procurou testemunho contra Jesus, mas não achou (Mc 14.55).

Muitos testemunharam contra Jesus, mas os testemunhos não eram coerentes (Mc 14.56). Outros testemunharam falsamente, baseando-se nas palavras do Senhor em João 2.19: Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e eu o levantarei em três dias.

O próprio evangelista João interpreta as palavras de Jesus: Mas o santuário ao qual ele se referia era o seu corpo (Jo 2.21).

Mas os acusadores torceram a fala de Jesus, acrescentando palavras que Jesus não havia dito: Nós o ouvimos dizer: Eu destruirei este santuário, construído por mãos humanas, e em três dias edificarei outro, não, eito por mãos humanas (Mc 14.58).

Marcos nos informa que nem assim o testemunho deles era coerente (Mc 14.59). Aliás, Marcos classifica essas acusações de “falso testemunho” (Mc 14.57-59),

Diante das falsas acusações, Jesus guardou silêncio e não se defendeu, cumprindo, assim, a profecia: […] como a ovelha muda diante dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca (Is 53.7; 1Pe 2.23).

Havia o perigo de o complô fracassar, mas Caifás estava determinado a condenar Jesus. Então, ele deixa de lado toda diplomacia e, sob juramento, faz a pergunta decisiva a Jesus: Tu és o Cristo, o Filho do Deus bendito?

Jesus respondeu: Eu sou. E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso, vindo com as nuvens do céu (Mc 14.61,62).

O evangelista Mateus registra essa pergunta sob juramento: Ordeno que jures pelo Deus vivo e diga-nos se tu és o Cristo, o Filho de Deus (Mt 26.63).

E Jesus, faz a primeira declaração pública de que era o messias, debaixo de juramento, isto seria sua morte, MAS ELE NÃO OUSOU DEIXAR DE SER QUEM ELE ERA.

Sem direito a defesa, o condenaram por blasfêmia (Mc 14.63,64). Ele foi insultado, esbofeteado, espancado, cuspiram nele, escarneceram dele, ele foi desprezado e rejeitado.

Tomaram a decisão de acusar Jesus de conduzir uma rebelião civil contra Roma. Acusaram Jesus diante de Pilatos de promover sedição e de querer ser rei.

No tribunal judaico, apresentou-se uma acusação teológica contra Jesus: blasfêmia. No tribunal romano, a acusação era política: sedição. Assim, acusaram Jesus de delito contra Deus e contra César.

Em ambos os julgamentos Jesus era inocente, e o próprio Pilatos, declarou sua inocência. Mas eles querem apenas encontrar uma ocasião para acusar Jesus diante da autoridade romana. Quer preparar uma armadilha para Jesus a fim de levá-lo ao julgamento.

Na verdade, o julgamento de Cristo foi uma conspiração, um assassinato. Entre todas as distorções da justiça, nenhuma se compara àquela em que o sumo sacerdote celestial, Jesus Cristo, permaneceu diante dos sumos sacerdotes terrenos, Anás e Caifás.

Jesus responde que seu ensino foi público (18.21,21). Ele falou francamente ao mundo. Ensinou continuamente tanto no templo como nas sinagogas. Nada disse em oculto.

Jesus passa da posição de interrogado para interrogador e pergunta a Más: Por que me interrogas? Pergunta aos que me ouviram o que lhes falei. Eles sabem o que eu disse (18.20,21). Jesus não constrói provas contra si mesmo

Jesus sofre uma agressão injustificada (18.22).  Alguém dá um tapa na cara dele. Ele questiona, se falei a verdade, porque me feres? (18.23). Ele está pedindo um julgamento mais justo.

Nós seremos vítimas de injustiças, de calunias e mentiras, e devemos agir como Jesus, calados como uma ovelha muda, e falar somente quando necessário, para pedir um julgamento mais justo.

CONCLUSÃO. Deixe-me concluir dessa maneira. Você deve ter notado que eu não dei um conjunto de pontos ou uma fórmula para resistir à influência desumana do mundo.

Talvez você tenha alguém que está te derrubando. Talvez você tenha alguém que enche seus ouvidos com declarações feias e mentirosas sobre si mesmo.

Talvez você tenha alguém que esteja ameaçando e oprimindo você covardemente.

Muitos irmãos da igreja perseguida têm sofridos serias agressões físicas e morais.

Veja neste capitulo o espírito e a atitude e autocontrole e equilíbrio de Jesus Cristo.

Aqui neste capítulo e no seguinte, temos o conjunto de males mais desumano que já se abateu sobre qualquer um – ser preso diante de seus amigos, abandonado por seus seguidores, negado a justiça, embaralhado do tribunal para tribunal, condenado por todos, esbofeteado na cara, entregue para ser despojado e flagelado e ridicularizado e pregado a uma cruz como uma cobra sendo presa a um poste, que é uma imagem bíblica, até que Ele sangrou e sufocou até a morte.

E, no entanto, Jesus nunca se permitiu ser desumanizado. Em todos os pontos, Ele estava cheio de autocontrole, honestidade, compaixão e consciência de Sua missão e Sua misericórdia.

Ele sabia demais quem ele era; para ser desumanizado. Ele amava demais para ser derrotado. Ele julgou seus juízes e, três dias depois, venceu as cordas da morte e os laços da sepultura.

É por isso que quando nós o seguimos, temos a capacidade dada por Deus para resistir aos golpes desumanos do mundo.

Estamos serenos em nosso Salvador. Nós temos força e uma compreensão que é de outro mundo. É por isso que seus inimigos (incluindo o diabo) simplesmente não sabem o que fazer com você.

Há um segredo neste texto que revela como são as pessoas resistentes ao tratamento desumano – sua principal preocupação é com as outras pessoas. Durante todo este capítulo, Jesus demonstra grande preocupação pelos outros. Isso nos ensina que quando estamos focados nas necessidades de outra pessoa, nós desviamos a atenção do destaque da pressão de nós mesmos.

Não somos ficamos tão defensivos e nem amargurados quanto quando estamos realmente envolvidos em ajudar as lutas e sofrimentos dos outros.

Li esta tarde a história de um Pastor influente na Romênia, durante os dias do comunismo na União Soviética Seu nome era Joseph Tson.

Ele nos conta histórias de seus tempos de perseguição. Ele disse que era frequentemente convocado perante oficiais do governo, que usavam todas as táticas para quebrar sua fé em Cristo.

Uma vez, interrogado, um oficial ameaçou matá-lo. “Senhor”, respondeu Joseph Tson, “deixe-me explicar como eu vejo essa questão. Sua arma suprema está matando. Minha suprema arma está morrendo.

O oficial ficou perplexo com isso. Então Joseph Tson explicou para ele. “Aqui está como funciona”, disse ele. “Você sabe que meus sermões em fita se espalharam por todo o país.

Se você me matar, esses sermões serão espalhados com o meu sangue. Todos saberão que morri por minha pregação.

E todo mundo que tem uma fita vai pegar e dizer: ‘É melhor eu escutar novamente o que este homem pregou, porque ele realmente quis dizer isso; ele selou com sua vida.

Então, meus sermões falarão dez vezes mais alto que antes. Eu realmente me regozijarei nesta vitória suprema se você me matar. Então o oficial do governo russo mandou Tson para casa[1].

Este é um mundo brutal, e todos nós temos momentos em que alguém tenta nos intimidar ou nos derrotar. Não os deixe. Deixe o Senhor Jesus Cristo surgir dentro de você.

Deixe Sua Palavra te sustentar. Deixe sua compaixão agarrar você. Deixe Sua serenidade te manter. DEIXE A MORTE DELE INSPIRAR VOCÊ. E deixe Sua ressurreição ser a âncora para sua alma e a alegria de seu coração.

E lembre-se sempre do que acontece quando Jesus diz: “Eu Sou Ele! Tudo cai por terra, inclusive um exército inimigo.

Você duvida do seu valor; não fuga de quem você é. Jesus o amou, o por isso morreu por você. Não fuga de quem você é. Uma testemunha da ressureição de Jesus. Um farol no mundo.

[1] Josef Tson, “Obrigado pelo Golpe”, em Christian Herald, abril de 1988

[i] Sermão adaptado; do Comentário de João, Editora Hagnos; Hernandes Dias Lopes.