Sermão Nº 24 – Isso é o básico – João 15:1-16:4
Introdução[1]: Há quase duzentos anos, o grande filósofo americano, Henry David Thoreau, defendeu uma tese em seu clássico livro, Walden (vida nos bosques).
Ele disse que viver simplesmente era viver com sabedoria, e que uma das regras mais básicas para uma vida saudável era “simplificar! Simplificar!”
Bem, se há alguém que deve ser um especialista em simplicidade, é o crente. Nossas crenças devem ser tão profundas que uma criança possa entender.
Sucesso na vida cristã vem de permanecer perto das verdades simples de Jesus e de sempre voltar ao básico.
Nunca devemos nos afastar muito do ABC básico de nossa fé cristã. A grande coisa sobre o cristianismo é a sua simplicidade.
Até uma criança pode se tornar cristã e entender os elementos básicos da caminhada e estilo de vida cristãos. Enquanto permanecermos fiéis a esses princípios, teremos sucesso.
Jesus está em seus últimos discursos para os seus discípulos. Ele vai usar a metáfora da figueira para relembrar algumas lições básicas aos seus discípulos.
Já que eles estavam aflitos com sua partida. Jesus se revela como o ultimo Eu Sou. Já havia dito: Eu sou o pão da vida. Eu sou a luz do mundo, Eu sou a porta. Eu sou o bom pastor: Eu sou a ressurreição e a vida. Eu sou o caminho, a verdade e A vida, Eu sou a videira verdadeira.
Neste texto, Jesus usa a metáfora da videira, para falar do seu relacionamento com eles e suas responsabilidades como discípulos.
Assim como se espera de uma videira as uvas e não outra coisa. Assim se espera dos discípulos os frutos do evangelho. O que Jesus ensina que isso é o básico, o essencial para um verdadeiro cristianismo.
Vamos analisar 6 verdades básicas que todo cristão precisa se atentar.
- ISSO É O BÁSICO: PRODUZAM FRUTOS (15.1-11)
Na metáfora da videira, Jesus mostra quão profundamente estamos ligados a ele, numa unidade é moral, mística e espiritual.
Ao expor essa vívida metáfora, Jesus trata de quatro assuntos que enriquecem nosso entendimento acerca de nosso estreito relacionamento com ele.
Primeiro, a videira. Em todo o Antigo Testamento, Israel é apresentado como a videira, a vinha do Senhor. Deus a plantou e a cercou com cuidados, mas Israel produziu uvas bravas. Então, agora, Jesus diz: Eu sou a videira verdadeira (15.1).
Segundo, os ramos. Sozinho, um ramo é frágil, infrutífero e imprestável, servindo apenas para ser queimado (Ez 15.1-8).
O ramo não é capaz de gerar a própria vida; antes, deve retirá-la da videira. De igual forma, é nossa união vital com Cristo que nos permite dar frutos.’
Terceiro, o agricultor. O trabalho do agricultor é cuidar da videira, a fim de que seus ramos produzam muitos frutos. Para isso, o agricultor ¨corta, limpa e poda os ramos.
O agricultor poda os ramos de duas maneiras: a primeira é limpando e podando os ramos para que sejam renovados; a segunda, é removendo os ramos secos e sem vida para lançá-los fora e queimá-los.’
Quarto, os frutos. O propósito de uma videira não é produzir madeira nobre, lenha ou sombra, como algumas outras árvores. Tampouco a videira é uma planta ornamental. O único propósito da videira é produzir frutos.
Esses frutos são[2] os bons motivos, desejos, disposições (virtudes espirituais), palavras, obras — tudo isso com origem na fé, em harmonia com a lei de Deus e feito para a sua glória!
O propósito de Jesus aqui é mostrar que o Pai está trabalhando na vida dos discípulos, que permanecem em Cristo, a fim de que produzam muitos frutos.
Jesus já havia dito que “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim DE MANEIRA NENHUMA O LANÇAREI FORA” (Jo 6.39). Ou seja, Jesus jamais rejeitará aqueles que vierem a ele.
Mas há condição de se permanecer em Cristo; “dando frutos”; ou seja; obedecendo os seus mandamentos. Caso isso não aconteça, não produza fruto, SERÁ LANÇADO FORA.
Os discípulos são os ramos, e a finalidade dos ramos que permanecem ligados a Cristo é produzir frutos. Se eles não permanecem em Cristo, não fazem parte da videira, da família, da igreja, do rebanho; secam e são lançados no fogo e queimados.
Jesus ensina essa lição básica aos discípulos sobre a importância dos frutos: “[…] eu vos escolhi e vos designei a ir e DAR FRUTO, e FRUTO QUE PERMANEÇA” (15.16).
Esta é uma verdade básica do verdadeiro cristianismo: estamos aqui para produzir frutos para Deus e dar glória ao seu nome através de uma vida frutífera.
Jesus vai identificar três tipos de cristãos, os que não dão nenhum fruto; os que dão fruto, e os que dão muitos frutos.
- Os que não dão frutos (15.2). “toda a vara em mim, que não dá fruto”
Muitos estudiosos da Bíblia interpretam o versículo 2 desse capítulo como se um crente que não produz fruto não pudesse ser um cristão verdadeiro, ou seja, sua ligação com Cristo é apenas aparente.
Esses acreditam que tais pessoas estão ligadas a Cristo apenas por um ritual ou pela membresia em uma igreja, sem jamais ter nascido de novo. São pessoas que não têm a graça de Deus no coração.
A união delas com Cristo é nominal, e não real. Têm o nome de que vivem, mas estão mortas. Onde não há fruto, não há vida. Eles dizem que é impossível estar em Cristo sem ser cristão. É impossível estar em Cristo e perder a salvação.
Outros, porém, interpretam que “cortar” significa que, se você não der fruto, pode perder a salvação.
Mas o ponto central do versículo 2 é: está em mim. E Jesus está dizendo que “toda vara que estiver em mim e não dá fruto”. O próprio Jesus está dizendo que é possível alguém está nele e não dá fruto.
Esse mesmo conceito está perfeitamente explicado em Hebreus 6.1-20. (Pg 472).
Muitos comentaristas têm se esforçado para dar um outro sentido ao verbo grego, traduzido como “cortar”, que deve ser primariamente entendido como “levantar do chão”.
No entanto João usou a palavra nos dois sentidos, tanto como cortar” (11.39; 11.48; 16,22; 17.15) como de “levantar” (5.8-12; 8.59). Mas o sentido que melhor cabe no contexto é “cortar”, pois se trata de um galho infrutífero e seco, que não mais serve a não ser para ser cortando e lançado fora para ser queimado (v.6).
Embora seja muito comum o viticultor amarrar os ramos da videira a fim de que eles não cresçam para baixo e percam sua vitalidade de produção. Mas isto só acontece com galhos verdes (frutíferos) e não galhos secos, que são rígidos.
- Os que dão frutos (v.2,3).
Um autor acredita que 50% de todos os cristãos dão pouco fruto e apenas cerca de 5% dão muito fruto. E por inferência 45% não dão fruto nenhum. Você acha que isso é verdade?
Depois de descrever os que não dão frutos, ele diz que existem os que dão frutos. E para que continuem a dar frutos precisam ser limpos. O versículo três diz que eles são limpos pela Palavra.
A ação da palavra é o que produz os frutos na vida do crente. A parábola do Semeador relata exatamente essa verdade.
O tipo de reação que as pessoas têm quando ouvem a palavra vai determinar a esterilidade e a produtividade da semente. Jesus diz: “aqueles que de BOM GRADO ouvem a palavra”.
Mateus 13.8,9; Jesus diz: “Contudo, uma parte caiu em boa terra, produzindo generosa colheita, a cem, sessenta e trinta por um. Aquele que tem ouvidos para ouvir, que ouça!”
- Os que dão muitos frutos (15.2,5,8). Depois que Jesus contou aos discípulos como o viticultor cuida do ramo estéril, ele pegou um ramo que demonstrava crescimento desordenado, mas produzia apenas alguns cachos de uvas (15.2).
O viticultor sabe que, para conseguir mais frutos da vide, é preciso ir contra a tendência natural da planta. Por causa da tendência da vinha em crescer vigorosamente, muitos galhos têm de ser cortados a cada ano.
As folhas podem ficar tão densas que a luz solar não alcança a área em que o fruto deve formar-se. Se os galhos não forem podados, vai crescer mais folhas do que frutos.
É por essa razão que o viticultor corta os brotos desnecessários, independentemente de quanto pareçam vigorosos, pois o único propósito da vinha são as uvas.
O propósito dessa limpeza diária na vida dos filhos de Deus é torná-los progressivamente mais frutíferos. Aquele que produziu trinta por um provavelmente pode produzir sessenta ou até mesmo uma centena.
Um viticultor usa quatro expedientes na poda:
1) remove os brotos mortos e prestes a morrer;
2) garante que o sol chegue aos galhos cheios de frutos;
3) corta a folhagem luxuriante que impede a produção de frutos;
4) corta os brotos desnecessários, independentemente de quanto pareçam viçosos.
Como viticultor, Deus segue o mesmo processo conosco: ele corta as partes da nossa vida que nos roubam a vitalidade e nos impedem de frutificar. O viticultor procura tanto a quantidade quanto à qualidade.
A poda é o meio que Deus usa em nossa vida para frutificarmos mais. A disciplina tem que ver com o pecado e a poda tem a ver com a nossa vida.
A disciplina é para nos corrigir e nos levar de volta para o caminho; a poda é para sermos mais produtivos.
Deus nos disciplina quando estamos fazendo algo errado; Deus nos poda quando estamos fazendo algo certo. Deus nos disciplina para darmos fruto; ele nos poda para darmos mais frutos.
Na disciplina, o que precisa ser retirado é o pecado; na poda, o que precisa ser retirado é o eu.” O espinho na carne de Paulo, era a poda de Deus, para que ele não ficasse soberbo, pela excelência das revelações.
A disciplina termina quando nos arrependemos do pecado; a poda só terminará quando Deus concluir sua obra em nós na glorificação.
Os cristãos mais frutíferos são aqueles que mais têm sido podados pela tesoura de Deus. Os viticultores podam as vinhas com maior frequência com o passar dos anos.
Sem a poda, a planta enfraquece, a colheita diminui. Deus jamais aplicaria a poda se um método mais suave provocasse o mesmo resultado.
Nem toda experiência dolorosa resulta de poda. A dor da poda vem agora, mas o fruto virá depois.
- ISSO É O BÁSICO: DEPENDAM DE MIM (4,5).
O segredo para a vida frutífera é permanecer em Cristo. Nesses onze versículos, o verbo “permanecer” aparece dez vezes. Esse é o pensamento básico de Jesus.
O segredo básico para uma vida transbordante não é fazer mais por Jesus, mas estar mais com Jesus. O desafio da permanência é passar dos deveres para um relacionamento vivo com Deus.
Nos comentários finais de Jesus sobre a vinha, ele desviou totalmente a atenção de seus discípulos da atividade para o relacionamento com ele.
Jesus é a videira, o tronco no qual o galho precisa buscar sua seiva para frutificar. Quanto maior a conexão do ramo com o tronco, maior é a capacidade de produção desse ramo.
A vida, a força, o vigor, a beleza e a fertilidade do ramo estão na sua permanência no tronco.
Em nós mesmos, não temos vida, nem força, nem poder espiritual. Tudo o que somos, sentimos e Fazemos vem de Cristo. Ele é a fonte. Jesus disse: […] sem mim, nada podeis fazer (15.5).
Nossa dependência de Deus, está no nosso relacionamento com ele. (5.4). Deus está mais interessado em nossa vida do que em nosso trabalho. Deus está mais interessado em relacionamento do que em atividade.
Ele quer você mais do que suas obras. Permanecer não equivale a quanto você conhece de teologia, mas a quanto você tem sede de Deus.
Ao permanecer, você busca, anseia, aguarda, ama, ouve e responde a Jesus. Permanecer significa ter mais de Jesus em sua vida, mais dele em suas atividades, seus pensamentos e desejos.
III. ISSO É O BÁSICO: OREM (V.7,8).
O propósito dos ramos é produzir muito fruto (15.5), porém o contexto nos mostra que esse fruto é consequência da oração, em nome de Jesus, e é para a glória do Pai (15.7,8,16).
O fruto na metáfora da videira representa tudo o que é produto de oração efetiva em nome de Jesus, incluindo a obediência aos mandamentos (15.10), a experiência da alegria (15.11), a paz (14.27), o amor de uns pelos outros (15.12) e o testemunho diante do mundo (15.16,27).
Sem oração não construiremos um relacionamento sólido com Deus. Sem oração não vamos alcançar nenhum resultado produtivo e proveitoso em nenhuma área da nossa vida.
A nossa vida de oração é o fruto. E esse fruto não é nada menos que o resultado da perseverante dependência que o ramo tem da videira.
Esperar que o homem frutifique sem que permaneça com Cristo em oração é ainda mais insensatez do que esperar que um ramo que foi cortado da videira produza uvas.
Permanecer em Cristo em oração é a evidência de que somos discípulos de Cristo (15.8). Jesus disse: Meu Pai é glorificado nisto: em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
Uma vida de oração frutífera é a melhor evidência para o nosso coração de que somos realmente discípulos de Cristo.
A oração eficaz é fruto de um relacionamento profundo com Jesus. Ele foi claro: Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será concedido.
Na medida em que o nosso relacionamento com Deus é aprofundado, através da obediência aos seus mandamentos, temos a promessa ilimitada de sermos atendidos.
Jesus disse que se conhece a árvore pelo fruto. Uma árvore boa precisa produzir bons frutos, mais fruto (15.2) e muito fruto (15.5,8).
A vitalidade da videira, que é Jesus Cristo é transmitida aos ramos, pela seiva da oração e pela poda da palavra de Deus. Essa videira permite àqueles que nela permanecem produzir não só frutos, mas muito fruto.
Certa feita, Jesus estava indo para Jerusalém e teve fome. Olhou para uma figueira e viu muitas folhas. Foi procurar fruto e não achou. Aquela figueira anunciava fruto, mas não tinha fruto.
Então, Jesus a fez secar. A árvore nunca mais produziu fruto. Fruto é o que o Senhor espera de nós, e não folhas. Ele não se contenta com aparência; ele quer fruto.
- ISSO É O BÁSICO: AMEM (V.9,10)
O relacionamento com Cristo é vital para experimentar o amor de Deus (15.9). Jesus afirmou: “como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor”.
Quando temos intimidade com Deus, sentimos que somos amados e então temos pressa para estar novamente na sua presença em oração.
Jesus ensina que amor é a motivação da obediência “Se obedecerdes aos meus mandamentos, permanecereis no meu amor”. O amor produz obediência.
Quem ama obedece. A desobediência é sempre uma quebra no relacionamento com Deus. A prova do amor é a fidelidade.
Você pode sentir emoção num culto no domingo, mas, se continuar a ter um estilo de vida pecaminoso durante a semana, jamais terá sucesso na permanência.
Aquele que diz que ama a Cristo e não lhe obedece está enganando a si mesmo.
Jesus torna ao ensinamento básico do evangelho: “O meu mandamento é este: que vos amei uns aos outros” (v.12). Quem diz que ama a Deus e tem alguma dificuldade de se relacionar com alguém, é um mentiroso.
Jesus dá uma lição básica de que o amor entre os discípulos precisa ter o peso do sacrifício. Quem ama se dispõe a dar sua vida pelo irmão (1Jo 3.16).
O amor não consiste apenas em palavras; não é um mero sentimento. O amor é uma ação, uma entrega, a expressão de um sacrifício. Não somos, portanto, o que falamos nem o que sentimos, mas o que Fazemos.
Quem ama se esquece de si mesmo e se empenha pelo outro. O empenho mais sublime é o da própria vida.
Outra lição básica de Jesus: O resultado de “amar” e “obedecer” é o gozo completo (15.11) “Eu vos tenho dito essas coisas para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja plena. A alegria nasce de um relacionamento correto com Deus.
Quando permanecemos em Cristo, produzimos muito fruto. O Pai é glorificado. E uma alegria indizível e cheia de glória enche o nosso coração.
- ISSO É O BÁSICO: OBEDEÇAM (15.14-17)
Jesus agora ensina outra lição básica do evangelho. Se vocês querem ser meus amigos, obedeçam ao que eu ordeno.
Embora seus discípulos continuem sendo seus servos, passa a chamá-los de amigos (15.13). A evidência dessa amizade é a obediência (15.14), e o propósito dessa amizade é a abundância de frutos (15.16).
O amor implica estar comprometido com a obediência aos mandamentos divinos. Ao invés dos discípulos ficarem discutindo questões de teologia e ortodoxia, eles deveriam obedecer a palavra de Deus e amar uns aos outros.
A obediência é a prova cabal (15.14). Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando.
A amizade sobre a qual Jesus está falando aqui é um relacionamento de compromisso com os mesmos valores, com os mesmos propósitos.
Por isso, ninguém pode arrogar a si o privilégio de ser amigo de Jesus, sem pronta obediência ás suas ordenanças.
Jesus fala de uma intimidade singular (15.15). Está claramente demonstrado que Jesus não se satisfaz com obediência meramente servil. Seus amigos demonstram amizade quando fazem o que ele manda.
Obediência é uma expressão de seu amor. O amigo é diferente do servo. O servo trabalha sem que o senhor compartilhe com ele seus planos, sua obra, seus sentimentos.
O amigo de Jesus tem não apenas sua palavra e sua companhia, mas também seu coração. Jesus compartilha com seus amigos tudo o que ouviu do Pai. Ele traz os anelos do coração do Pai e os divide com seus amigos.
John Wesley, pensando em sua conversão, descreveu-a como o momento em que ele trocou a fé de um escravo pela fé de um filho.
Jesus destaca dois propósitos básico do por que precisamos permanecer nele (v.15). O primeiro é darmos frutos que permaneçam a fim de que o Pai seja glorificado; o segundo é obtermos pleno êxito na vida de oração.
- ISSO É O BÁSICO: SOFRAM PERSEGUIÇÃO (15.18-27)
Tiago, irmão do Senhor, declara que quem quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tg 4,4), e o evangelista João diz que quem amar o mundo, o amor do Pai não está nele (1]o 2.15).
Agora, Jesus deixa claro que os discípulos serão odiados pelo mundo pelo fato de serem seus amigos (15.18-20).
Quando João escreveu seu evangelho, já fazia muito tempo que esse ódio contra os cristãos havia começado. O governo romano considerava os cristãos pessoas desleais ao império, uma vez que se recusavam a adorar o imperador como uma divindade.
Os romanos viam na adoração ao imperador o grande elo de união desse vasto império que se estendia desde o Eufrates até a Grã-Bretanha, desde a Alemanha até o norte da África. Roma era tolerante com seus súditos.
Desde que queimassem incenso ao imperador e o adorassem como Kurios, Senhor, podiam professar livremente sua religião. Para os cristãos, porém, Jesus era o único Senhor. O governo perseguia os cristãos porque estes insistiam que não havia outro rei além de Cristo.
Algumas verdades aqui.
- O mundo nos odeia porque pertencemos a Cristo (15.18,19). O mundo aqui é o mundo sem Deus, organizado em oposição a Deus e, por essa razão, oposto ao seu povo.
Porque não somos do mundo e para fora do mundo fomos escolhidos por Cristo para sermos o seu povo, o mundo nos encara como estrangeiros e nos odeia, assim como odiou Cristo.
Jesus adverte seus discípulos quanto às perseguições que deverão suportar por sua causa: E sereis odiados por todos por causa do meu nome […] (Mt 10.22).
O ódio do mundo por Jesus esteve presente desde o início do seu ministério público e nunca se extinguiu de todo.
Aqueles que foram convocados para o amor, os que vivem no amor uns pelos outros, esses devem, ao mesmo tempo, saber com toda a clareza que precisam viver num mundo de ódio. A primeira resposta do mundo aos discípulos de Jesus é o ódio[3].
- O mundo nos persegue porque somos servos de cristo (15.20,21). O Senhor relembra aqui o que já havia ensinado (13.16).
Uma vez que o servo não é maior do que o seu senhor, e o senhor foi perseguido pelo mundo, logo nós, servos de Cristo, que agora somos seus amigos, certamente seremos também perseguidos pelo mundo.
O mundo na verdade não nos odeia; odeia o nome de Cristo em nós. Odeia-nos porque não conhece Deus.
Quando Saulo de Tarso foi derrubado ao chão no caminho de Damasco, a pergunta de Jesus a ele não foi:
“Por que você persegue a igreja?”, “Por que você persegue meus discípulos?”, “Por que você persegue meus servos?” ou “Por que você persegue meus amigos?”
A pergunta foi: Saulo, Saulo, por que me persegues? (At 9.4). Saulo perseguia Cristo na vida dos discípulos de Cristo.
- O mundo torna-se culpado porque ouviu o enviado de Deus e o odiou (15 .22,23). O pecado do mundo não é de ignorância, mas de rejeição consciente e afrontosa.
Jesus veio, falou as palavras do Pai, gotejou em seus ouvidos a santa doutrina vinda do céu, mas, longe de receberem a mensagem com mansidão, odiaram o mensageiro com violência. O mundo odiou não apenas o Filho enviado, mas também o Pai que o enviou.
- O mundo torna-se culpado porque viu as obras do enviado de Deus e o odiou (15.24-27). O mundo não apenas ouviu a voz de Deus por intermédio de seu Filho, mas viu suas obras maravilhosas, como jamais alguém no passado pudera ver.
O que fez o mundo? Humilhou-se? Arrependeu-se? Não! Fechou o coração com o cadeado da incredulidade e cerrou os punhos, com ódio consumado, contra Cristo e seu Pai. Essa rejeição tão violenta, porém, aconteceu para se cumprirem as Escrituras (15.25).
O homem pensa que está no controle, que é o agente da ação, mas, mesmo quando mantém a soberba fronte erguida contra Deus, está apenas fazendo o que Deus já determinou em sua soberania inescrutável.
Jesus deixa claro para os discípulos que, mesmo que o mundo tenha uma rejeição tão radical, o Espírito Santo da verdade, que ele enviará, dará pleno testemunho a seu respeito e capacitará os discípulos a fazerem o mesmo (15.26,27).
- O mundo persegue por causa de sua cegueira espiritual (16.1-4). Quando João escreveu esse evangelho, no final do século 1, a igreja já estava sofrendo severa perseguição.
Nesse tempo, todos os apóstolos já estavam mortos pelo viés do martírio[4]. Muitos crentes da Ásia Menor, onde João morava, já haviam abandonado a fé (1.15). Nesse tempo, o apóstolo Paulo já havia sido decapitado, e Pedro, crucificado.
Aqueles judeus que seguiam a Jesus; foram excomungados da vida religiosa e social de Israel. Foram destituídos de todas as esperanças e prerrogativas dos judeus. Eram vistos por seus antigos amigos como piores do que os pagãos.
Ficaram sem seu emprego, foram exilados de sua família e perderam até mesmo o privilégio de um sepultamento honroso.
A linha de raciocínio poderia ser como segue: “Por acaso não nos foi ensinado desde a infância que há somente um Deus verdadeiro e que só a ele devemos adorar?
Agora esses seguidores de Jesus alegam que ele também é Deus. Isso é blasfêmia que deve ser punida com a morre”.
Entretanto, com o maior perigo que os discípulos enfrentarão em relação á oposição do mundo não é a morte, mas a apostasia[5].
Aqueles que perseguem a igreja julgam com isso prestar culto a Deus (16.2). Não há nenhum radicalismo mais perigoso do que o religioso. Jesus fala que a perseguição contra os seus servos e amigos virá com um viés religioso.
Eles serão expulsos das sinagogas e mortos e, com isso, julgarão estar prestando culto a Deus. Hoje estamos vendo o crescimento espantoso da cristofobia.
A religião mais perseguida do mundo é a cristã. O mundo ainda odeia Cristo, por isso persegue Cristo na igreja.
CONCLUSÃO: conta-se que o dramaturgo George Bernard Shaw estava chegando ao fim de sua vida, e um repórter fez uma pergunta: “Se você pudesse viver sua vida e ser alguém que você conhece, ou qualquer pessoa da história, quem você seria?”
Shaw Pensei por um momento e então respondi: “Eu escolheria ser o homem que George Bernard Shaw poderia ter sido, mas nunca foi.”
As pessoas não são o que elas deveriam ser, não porque deixou de fazer alguma coisa extraordinária, mas por que deixou de fazer o básico, o simples, o essencial.
Seja o homem ou a mulher que Deus criou para você ser. Faça o básico, produza frutos. Ele te fez para dar frutos.
Prepare-se para uma poda precisa. Aprenda a lidar com disciplina. Aprenda receba as repreensões com humildade; E permaneça resolutamente em Cristo em oração. Ame inteiramente as pessoas.
Se você fizer isso, você dará muito frutos, mais que você possa imaginar.
É hora de pedir a Cristo para tirar nossas vidas e usá-los para a Sua glória, porque além de Cristo, a videira, não somos nada e não podemos fazer nada. Quando somos fiéis, Deus nos fará frutífero.
[1] Sermão adaptado do Comentário Expositivo Hagnos: Hernandes Dias Lopes.
[2] William Hendriksen
[3] Werner de Boor
[4] William Hendriksen
[5] D. A. Carson