Sermão Nº 23 – Não se turbe o vosso coração

Referência: João 14.1-31

INTRODUÇÃO[1]: O clima era de muita tensão. Lá fora, os principais sacerdotes, mancomunados com os fariseus, tramavam a morte de Jesus.

Depois de tantos milagres e tão profundos ensinamentos, os judeus permaneciam incrédulos ou, na melhor das hipóteses, com uma fé deficiente.

No recôndito do tabernáculo, Jesus confronta o orgulho de seus discípulos, lavando seus pés. Depois, desmascara Judas Iscariotes, apontando-o como traidor.

Se não bastassem todos esses acontecimentos, Jesus comunica a seus discípulos que partirá e que eles não poderão segui-lo.

Quando Pedro se dispõe a dar a própria vida, Jesus o admoesta dizendo que essa coragem toda se tornaria pó diante da prova, e Pedro o negaria três vezes naquela mesma noite.

Jesus estava se despedindo dos seus discípulos. Aquela era a quinta-feira do Getsêmani, a quinta-feira do suor de sangue, a quinta-feira da traição de Judas, a quinta-feira da negação de Pedro, a quinta-feira da prisão de Jesus.

Jesus é quem está se dirigindo para a agonia da cruz; é Jesus quem está profundamente perturbado no coração (12.27) e no espírito (13.21); todavia, nessa noite das noites, o momento crucial de todos os tempos que seria apropriado para os seguidores de Jesus lhe darem apoio emocional e espiritual, ele ainda é o único que se doa, que conforta e que instrui[2].

Diante de tudo isso, os discípulos estão com o coração angustiado e turbado. O coração aqui é o eixo em torno do qual giram os sentimentos e a fé, bem como a mola mestra das palavras e ações.

A alma deles é agitada pela tempestade de sentimentos de angustia, medo e desespero. É nesse contexto que Jesus se levanta como terapeuta da alma, a fim de confortá-los.

O coração turbado é a coisa mais comum no mundo. A preocupação; a ansiedade é o mal de todos os séculos. Esse mal atinge as pessoas de todos os tempos de todas as classes sociais, de todas as religiões e de todas as faixas etárias.

Nenhuma tranca consegue manter fora de nossa vida essa dor. Um coração pode ficar turbado pelas pressões que vêm de fora ou pelos temores que vêm de dentro. Até mesmo os cristãos mais consagrados precisam beber muitos cálices amargos entre a graça e a glória.

Vamos ver os que agitava o coração dos discípulos[3].

  • Estavam tomados de uma grande tristeza e medo, em razão da iminente partida de Cristo e da esmagadora solidão que os atingia;
  • Envergonhados e despontados consigo mesmos, por serem tão egoístas e arrogantes quando disputavam em si que quem era o maior entre eles.
  • Perplexos e decepcionados, em razão da predição de que Judas trairia Jesus e Pedro o negaria e os demais seriam dispersos e iria abandoná-los.
  • Vacilantes na fé, pensando: “Como o Messias pode ser alguém que será traído?”;
  • Angustiados, diante das aflições, açoites, perseguições, prisões e torturas que enfrentariam pela frente. Jesus os consola, dizendo: Não se turbe o vosso coração (ARA).

O que pode confortar um coração turbado, ansioso, angustiado e cheio de medo? Como podemos encontrar consolo na hora da aflição? O texto em tela nos dá a resposta.

  1. CONFIANDO EM CRISTO APESAR DAS CIRCUNSTÂNCIAS (14.1)

Jesus é categórico quando inicia dizendo que maneira de vencermos e suportarmos os nossos problemas existenciais: a ansiedade, angustia, medo, culpa e o desespero, é confiar inteiramente nele.

A maneira como cremos em Deus, vai influenciar na forma como enfrentamos nossas dificuldades. Jesus lembra os discípulos de sua divindade, do mesmo jeito que vocês creem no Pai, creem também em mim.

A forma do verbo no indicativo e no imperativo significa: “Já que vocês confiam em Deus, continuem confiando em mim”.

Essa não é apenas uma fé intelectual; uma simples convicção racional das verdades espirituais não pode nos ajudar na hora da tempestade.

Essa também não é apenas uma fé emocional; baseada nos sentidos e no que vemos e nos apegamos. A fé teológica e a fé emocional; é o tipo de fé dos demônios: eles creem (intelectual) e estremecem (emocional).

Essa também não é uma fé existencial, ou seja, uma fé na fé. Muitos dizem: “Ah! Eu tenho uma grande fé”. Confiam na fé que têm, e não no grande Deus.  Uma pequena fé no grande Deus vale mais do que uma grande fé no objeto errado.

A fé uma confiança inabalável, que nasce de um relacionamento verdadeiro e íntimo com o Senhor Jesus. Que está alicerçada unicamente na Palavra de Deus.

A fé sempre está disposta a crer e obedecer, confessar e descansar no poder de Deus, em sua sabedoria, em sua providencia, no seu amor e na sua salvação. Esse é um tipo de fé que somente aqueles que são salvos poderão ter.

A verdadeira fé em Cristo, que é fruto de um verdadeiro relacionamento com Deus é o remédio para a doença do coração turbado e angustiado.

Jesus está aconselhando a todos nós: as crises vêm. Os problemas aparecem. As tempestades ameaçam. Os ventos contrários conspiram contra nós, mas “continuem crendo em mim”.

As sombras cairão sobre nós. A perseguição virá. A cruz é inevitável, mas “continuem confiando em mim”.

As prisões e os açoites nos alcançarão. O sofrimento e a morte nos apanharão, mas “continuem confiando em mim”, instruiu Jesus.

A solidão, a crise financeira, a doença, o luto, a dor, as lágrimas, os vales profundos, as noites escuras virão, mas “continuem confiando em mim”.

A cruz será um espetáculo horrendo, os homens me cuspirão no rosto e me pregarão na cruz, mas “continuem confiando em mim”.

A fé em Jesus é o único remédio para um coração turbado. A fé olha para Jesus, e não para a tempestade. A fé ri das impossibilidades. A fé triunfa nas crises.

  1. TENHA A CERTEZA DE UM LAR (14.2,3).

De que maneira a promessa de ir para o céu deve acamar o nosso coração perturbado. Alguém[4] já disse: Quem se importa com a jornada quando a estrada conduz ao lar?

A certeza de uma lar celestial no fim da estrada nos permite suportar com alegria os obstáculos e batalhas ao longo do caminho. Essa certeza deu animo ao próprio Cristo (Hb12.2) “O qual em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz”.

A questão existencial era a única preocupação dos discípulos. E aqui está o cerne de todos os nossos problemas. Nossa condição neste mundo é de peregrinos; pois o céu é o nosso lar definitivo.

Não há solução definitiva para a condição humana. Por mais que Deus provê sua graça, ainda assim vamos morrer um dia. Por isso a morte precisa ser vencida, pois ela é nosso verdadeiro problema, por causa do pecado.

Por isso a partida de Jesus é para o bem dos discípulos. É verdade que ele está indo embora, mas está indo para preparar um lugar para eles; virá e os levará para que eles possam estar onde ele está.

Essa linguagem joanina é muito significativa. O ato de ir preparar lugar, é a obra da redenção; ele precisa ir para cruz, precisa sair do tumulo, pela ressureição e ele precisa ser glorificado, para receber os discípulos na vida eterna; nas mansões celestiais.

Diante das provas, das tribulações e do sofrimento, precisamos levantar a cabeça e olhar para a recompensa final.

Na jornada cristã, há sofrimento, dor e cruz, mas o fim desse caminho é a glória, o céu. A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória.

O sofrimento do tempo presente não pode ser comparado com as glórias por vir a serem reveladas em nós. Olhar para a frente, para a recompensa, para a herança imarcescível, para a pátria eterna, para o lar celestial, nos capacita a triunfar sobre as turbulências da vida.

Como Jesus descreve o céu?

  1. O céu é a morada do Pai (14.2). O céu é onde se encontra o trono de Deus. Lá estão as hostes de anjos e a incontável assembleia dos santos glorificados. O céu é a nossa pátria. Lá está o nosso tesouro, o nosso galardão, a nossa herança incorruptível.

No céu, Deus enxugará as nossas lágrimas. No céu, entoaremos um novo cântico ao Cordeiro pelos séculos dos séculos. Os filhos de Deus estarão lá. Se o céu é a casa do Pai, significa que o céu é o nosso lar.

Aqui no mundo somos estrangeiros, mas no céu estaremos em casa, na casa do Pai. O céu é lugar de segurança, pois lá não entrará maldição. Lá não há gente doente, aleijada, ferida, oprimida. Lá não há cortejo fúnebre.

A casa do Pai é o lugar onde somos sempre bem-vindos. Lá ouviremos: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo (Mt 25.34). A casa do Pai é onde todos os filhos são tratados sem preconceito, sem acepção.

  1. O céu é o lugar onde há muitas moradas (14.2). No céu, há lugar para todos os filhos de Deus.

Apocalipse 21.16 diz que a cidade celestial mede 2.200 quilômetros de largura por 2.200 quilômetros de comprimento e 2.200 quilômetros de altura, que muito facilmente ultrapassa altura da atmosfera terrestre.

A camada da atmosfera estende-se até 600 km de altura e a Exosfera, que estende-se de 600 km a 1.280 km de altura, após essa distância começa o espaço sideral.

Essa é uma linguagem figurada para mostrar que há lugar para todos. No céu, não teremos apenas moradas, mas também morada permanente. No céu há lugar para todos aqueles que creem em Deus.

 

  1. O céu é o lugar onde teremos comunhão eterna (14.3).

A maior glória do céu é estarmos com Cristo para sempre e sempre. Vamos contemplar o seu rosto, servi-lo, exaltá-lo. A eternidade inteira não será suficiente para nos deleitarmos nele, para exaltarmos sua majestade.

Cristo será o centro da nossa alegria no Céu. Lá veremos Jesus como ele é. Lá não haverá dor, nem luto, nem tristeza. Lá esqueceremos as agruras desta vida. Lá não faremos perguntas. Lá nossa alegria será completa.

O céu é um lugar de plena comunhão uns com os outros (14.3). No céu, seremos uma só família, um só rebanho, uma só igreja, uma só noiva do Cordeiro. Vamos nos conhecer. Vamos nos relacionar em pleno e perfeito amor.

No céu vamos abraçar os patriarcas, os profetas, os apóstolos e os entes queridos que nos antecederam.

Jesus conforta seus discípulos dizendo-lhes que a separação é momentânea, mas a comunhão em glória será eterna, pois ele partirá, mas voltará.

  1. CONHEÇA O CAMINHO DE CASA (14.4-6)

Jesus havia dito aos discípulos que iria partir e que eles não poderiam ir com ele (13.36). Agora, assegura que eles sabem o caminho para onde ele vai (14.4).

Isso provoca uma pergunta imediata de Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos saber o caminho? (14.5).

A resposta de Jesus é uma das mais importantes declarações registradas nos Evangelhos: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (14.6).

As afirmações de Jesus são exclusivistas, e que não podem ser aceitas por um mundo pluralista e subjetivista e governado pelo politicamente correto

Eu sou o único caminho para Deus.

Eu sou a única vida.

Eu sou a única verdade.

Jesus é a verdade que alimenta a nossa mente, a vida que satisfaz a nossa alma e o único caminho seguro para Deus.

Jesus é o caminho para Deus, precisamente porque ele é a verdade de Deus (1.14) e a vida de Deus (1.4; 3.15; 11.25), Jesus é a verdade porque incorpora a suprema revelação de Deus.

Jesus é o caminho para o céu. Ele não é apenas o guia, o mestre e o legislador como Moisés. Ele é pessoalmente a porta, a escada e a estrada através de quem nos aproximamos de Deus.

Ele nos abriu o caminho da árvore da vida, que foi fechada quando Adão e Eva caíram. Pelo seu sangue, temos plena confiança para entrar na presença de Deus. Jesus é a verdade, toda a substância da verdadeira religião.

Sem ele, o ser humano mais sábio está mergulhado em trevas. Jesus é toda a verdade, a única verdade que satisfaz os anseios da alma humana. Jesus é a vida. Nele estava a vida. Ele veio para trazer vida, e vida em abundância.

Como o caminho, Jesus é o caminho de Deus para o ser humano — todas as bênçãos divinas descem do Pai por meio do Filho — e o caminho do ser humano para Deus.

Como a verdade, ele é a realidade última em contraste com as sombras que o precederam, além de ser aquele que se opõe a mentira, a fonte fidedigna da revelação redentora, a verdade que liberta e santifica.

Como a vida, Jesus é aquele que tem vida em si mesmo, é a fonte e o doador da vida, aquele que veio para que tenhamos vida em abundância.

Sem Cristo, não pode haver nenhuma verdade redentora, nenhuma vida eterna; portanto, nenhum caminho para o Pai.

Tomás à Kempis lança luz sobre essas palavras de Jesus quando escreve:

“Sigam-me. Eu sou o caminho e a verdade e a vida. Não é possível andar fora do caminho, não é possível conhecer fora da verdade, não é possível viver fora da vida.

Eu sou o caminho pelo qual vocês devem andar; a verdade em que vocês devem crer; a vida na qual vocês devem pôr por esperança. Eu sou o caminho inerrante, a verdade infalível, a vida infindável.

Eu sou o caminho reto, a verdade absoluta, a vida verdadeira, bendita, não criada. Se vocês permanecerem no meu caminho conhecerão a verdade, e a verdade os libertará, e tomarão posse da vida eterna.”

  1. CONHECEA O PAI (14.7-11).

Nós não precisamos esperar chegar no céu para conhecer o pai. Devemos conhece-lo agora e receber dele os recursos necessários de que precisamos para prosseguir em meio as dificuldades.

Felipe faz a segunda pergunta mais significativa para fazer cessar todos os nossos temores: “Senhor mostra-nos o pai e isto nos basta (v.8).

Jesus responde a Filipe, quem vê a mim, vê o Pai; como pode perguntar? Mostra-nos o pai?  Jesus esperava que Filipe já soubesse dessa verdade e que cresse realmente nisto: “não credes-tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim”? (v.10)

Até então, os discípulos não tinham compreendido que aquele que vê Jesus vê o Pai, pois Jesus e o Pai são um.

Jesus é a exegese do Pai (14.7-9). Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está ao lado do Pai, foi quem o revelou (1.18). Agora, diz que quem o conhece, conhece o Pai (14.7), e quem o vê, também vê o Pai (14.9).

Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Cl 2.9). Ele é o resplendor da glória e a expressão exata do ser de Deus (Hb 1.3).

Jesus não apenas é um com o Pai, mas é também o porta-voz do Pai. O que ele fala não fala por si mesmo, mas fala da parte do Pai. As obras que ele realiza não as realiza por si mesmo, mas as faz pelo poder do Pai.

Jesus é o agente do Pai (14.11). A evidência absoluta da unidade entre o Pai e o Filho é que o Filho realiza as mesmas obras do Pai. Ele é o agente do Pai. Ele é o Verbo criador. O Pai e ele trabalham até agora.

Conhecer o Criador do céu e da terra como nosso pai (Lc 10.21), deve acalmar nosso coração. Não precisamos ficar ansiosos pois ele está no controle de tudo.

Conhecer a Deus, é tudo o que precisamos para acamar nosso coração, Jesus na sua oração sacerdotal (Jo 17.3) faz esta afirmação: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”

Ter um relacionamento profundo e intimo com Deus, deve ser nosso maior Alvo. Paulo diz (Fp 3.10) que abriu mão de tudo, para conhecer a Cristo.

  1. RELACIONE COM O PAI (14.11-15).

Jesus continua a lição: depois de vocês conhecerem o Pai, como eu conheço, e por isso faço as obras do pai. Vocês devem crer em mim, pelo menos por causa das minhas obras.

E se vocês crerem em mim, vocês também farão as obras que eu faço (v.12). As obras são as evidencias de um relacionamento vivo com Jesus. E esse relacionamento é marcado pela vida de oração. A oração é um meio de nos relacionar com Deus.

A oração é um dos melhores remédios para um coração perturbado. Falar com Deus faz bem à alma. Falar com Deus nos satisfaz!

Jesus nos ensina três princípios sobre oração aqui.

  1. Devemos orar com fé (14.12). Jesus diz que faremos obras maiores do que a que ele fez. E não importa se são maiores quanto a natureza das obras ou se maiores em extensão; como muitos interpretes cessacionistas entendem.

E aqui não está em jogo o princípio de que o servo não é maior do que o seu Senhor (13.16). Ninguém será maior que Jesus, só porque realiza uma obra maior, na qual Ele mesmo é quem opera por meio dos seus servos.

E essas obras de Cristo consistiram no ensino, na pregação e na operação dos milagres, para produzir a fé, para os que cressem.

E isto é perfeitamente mostrado no livro de Atos; com o ensino, a pregação e os milagres que acompanham a verdadeira pregação do evangelho. Marcos 16.20; que eles pregavam e o Senhor confirmava a Palavra operando os sinais.

A fé no Cristo exaltado, que está à destra do Pai, tem o governo do mundo em suas mãos e derramou sobre a igreja o seu Espírito, pode abrir-nos portas mais amplas para colhermos frutos mais abundantes do que aqueles colhidos por Cristo.

No dia de Pentecostes, Pedro, com um único sermão, levou para o reino quase três mil pessoas. Não restam dúvidas que “maiores obras” significam principalmente mais conversões. Não há “obra maior” do que a conversão de uma alma.

Não são os crentes quem realizam essas “coisas maiores”; antes, quem opera os milagres é Deus trabalhando nos crentes e através deles: e o Senhor cooperava com eles (Mc 16.20).

  1. Devemos orar em nome de Jesus (14.13,14).

A obra terrena de Jesus aconteceu antes da cruz e se encaminhou para a cruz. A obra dos discípulos parte da “exaltação de Jesus”.  Agora ele é nosso intercessor diante do Pai.

Devemos orar com fé, endereços a Deus, em nome de Jesus, esta é a chave que abre os celeiros do céu.

O nome de Jesus não é, entretanto, uma “fórmula mágica” que acrescentamos automaticamente às orações que fazemos a Deus.

Significa orar com base nos méritos de Jesus, e não nos méritos, pois não merecemos nada.

Obviamente, esse tudo o que pedirdes em meu nome (14.13)  Precisa estar de acordo com a sua vontade soberana de Deus, pois ela visa o melhor para nós e o que mais glorifica a Deus.

Não é um cheque em branco, assinado por Cristo, para ser descontado no banco celestial. Nossas orações precisam ser estribadas nos méritos de Cristo e feitas segundo a vontade de Deus. Orar assim é um remédio para ansiedade. Paulo ensinou:

(Fp 4.6) “Não andeis ansiosos por coisa alguma, antes sejam conhecidas diante de Deus todas as vossas necessidades, por intermédio da oração, com suplicas e ação de graças”.

  1. Devemos orar em obediência amorosa (14.15). “Se me amais, guardai os meus mandamentos”. A vida de quem ora é a base da oração. A oração do ímpio é abominável aos olhos de Deus. As Escrituras dizem: Até a oração de quem se desvia de ouvir a lei é detestável (Pv 28.9).

Antes de aceitar a nossa oração, Deus precisa, primeiro, aceitar nossa vida. A oração é endereçada ao Pai a quem amamos, e a prova do nosso amor a Deus é nossa amorosa obediência.

Se não obedecermos os seus mandamentos não seremos ouvidos, mesmo que oremos com fé e em nome de Jesus.

  1. DESFRUTE DO CONSOLO DO ESPIRITO SANTO (14.16-24)

Jesus subirá para o Pai, mas o Pai, em resposta à sua oração, enviará o Espírito Santo, o outro consolador, para estar para sempre com a igreja, consolá-la em suas angústias e guiá-la em toda a verdade.

  1. O Espírito Santo é o consolador semelhante a Jesus (14.16). E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador […].

Há duas palavras gregas para outro. A primeira é heteros, que significa “outro diferente”; e a segunda, “allos”, que significa “outro igual, da mesma substância”.

Em resposta à sua oração, o Pai enviará allos parákletos, outro consolador. O Espírito é Deus, com os mesmos atributos do Pai e do Filho. O Espirito é outro consolador, e não um consolador diferente.

A palavra grega paracletos significa “advogado”, “consolador”, “a pessoa que traz para o lado a outra”, a fim de ajudá-la, protegê-la e livrá-la. A palavra parakletos  é o ajudador ou defensor, um amigo no tribunal.”

  1. O Espírito Santo é o Guia permanente (14.16,17). […] para que fique para sempre convosco. O Espírito Santo jamais deixaria os discípulos.

Daria a eles consolo, direção e poder. Nas horas mais amargas, daria consolo. Nas horas mais confusas, daria direção. Nas horas mais cruciais, daria poder.

O Espírito Santo é a fonte da verdade (14.17). O mundo não pode conhecer nem receber o Espírito Santo, pois o mundo anda enredado pelo engano, alimentado pela mentira, perdido num emaranhado de ideias.

O Espirito Santo é a fonte da verdade. Ele inspirou as Escrituras e nos ilumina a mente para que as entendamos.

O Espírito Santo é o Deus que habita em nós (14.17b). […] vós o conheceis, pois ele habita convosco e estará em vós. No dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio habitar no meio, ao lado e dentro dos discípulos.

O Deus Emanuel, “Deus conosco”, voltou para o Pai, mas o Espírito Santo, o outro consolador, não apenas está conosco, mas também está em nós.

Ele não veio apenas para habitar entre nós, mas, também, para morar em nós. Nosso corpo transformou-se no lugar santíssimo, no santo dos santos de sua habitação.

  1. Desfrutando do cuidado do Espirito Santo (14.18-25). Antes de partir, Jesus deixou claro aos discípulos que não os deixaria órfãos nem abandonados (14.18).

Jesus quis dizer foi o seguinte: “Minha partida não será como a de um pai cujos filhos ficam órfãos quando ele morre. No Espírito, eu mesmo estarei voltando para vocês”.

O termo traduzido por órfãos no (v.14); “significa sem consolo”. Não estamos sozinhos, abandonados, impotentes e desamparados.

O Espirito Santo nos ensinara todas as coisas e nos acompanhará por toda a parte de modo que não precisamos nos sentir órfãos.

O mundo não verá mais Jesus quando ele partir, porque, mesmo tendo-o visto e ouvido, o mundo o rejeitou, mas seus discípulos o verão, porque, assim como Jesus viverá pelo poder da ressurreição, nós viveremos nele.

Então, assim como o Filho está no Pai e o Pai no Filho, nós também estaremos em Jesus, e ele, em nós.

Aquele que ama a Jesus é o que guarda os seus mandamentos. Aquele que ama a Jesus e guarda os seus mandamentos é aquele que é amado pelo Pai. E a estes que Jesus se manifesta (14.21,23,24).

(14.22). Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor; que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo?”

Se Jesus se manifestasse ao mundo, seria para juízo, uma vez que o mundo o rejeitou, A cada dia que passa, é o Senhor exercendo sua paciência e esticando sua misericórdia, oferecendo ao mundo a oportunidade de arrepender-se.

  1. DESFRUTE A PAZ DE CRISTO (14.25-31)

Jesus, como terapeuta da alma, conclui sua mensagem de consolo falando do resultado final da obra do Espirito Santo em nós a Paz de Deus.

O oposto de um coração turbado é um coração cheio de Paz e tranquilidade. Essa paz consoladora é um resultado da comunhão com Deus (14.27).

As quatro características dessa paz que Cristo dá: 1) a natureza da paz: Deixo-vos a paz […]; essa paz não conquistada, não é fruto do esforço humano, não conseguido por meditação transcendental, nem pela Yoga. Essa paz é o fruto do Espirito, é dadiva dada por Cristo.

2) a fonte da paz: […] a minha paz vos dou […]; essa paz é de Cristo; conquistada na cruz. O muro de separação que havia entre mim e Deus, entre mim e o semelhante foi derrubado.

3) o contraste da paz: […I Eu não a dou como o mundo a dá […];  A paz do mundo é fulgaz, é passageira, é apenas uma ausência de problemas.

O mundo não tem o poder de dar paz. Há tanto ódio, egoísmo, amargura, malícia, ansiedade e medo que toda tentativa na direção da paz é rapidamente submergida

4) A paz ultracircunstancial: […] Não se perturbe o vosso coração nem tenha medo.”

A paz de Cristo é alegria inefável no meio da luta. É a presença sobrenatural na fornalha. É a proteção segura na cova dos leões. E a coragem inabalável no vale da morte.

A paz de Cristo é a paz que defende nosso coração e nossa mente da invasão da ansiedade.

Durante todos os eventos amargos, desde a prisão até o último suspiro na cruz, não sai dos lábios de Jesus nem uma única palavra sem paz.

Jesus disse que os discípulos deveriam se alegrar por sua volta para o Pai  (14.28,29), pois isso desembocaria no envio do outro consolador. Isso iniciaria sua obra intercessora junto ao trono da graça (Hb 2.17,18; 4.14-16; 7.25).

Quando Jesus diz: […] pois o Pai é maior do que eu (14.28), ele não nega sua divindade nem sua igualdade com Deus, pois, se o fizesse, cairia em contradição (10.31).

Warren Wiersbe explica bem isso:

Quando Jesus estava na terra, limitou-se, necessariamente, a um corpo humano. Ele espontaneamente, colocou de lado o exercício independente de seus atributos divinos e se sujeitou ao Pai. Nesse sentido, o Pai era maior do que o Filho. É evidente que, quando o Filho voltou para o céu, tudo o que havia colocado de lado, lhe foi restituído (17.1,5). 

Jesus conclui esse capítulo citando dois grandes inimigos espirituais: o mundo e o diabo (14.30,31). Cristo venceu o mundo e o diabo (12.31), e Satanás não tem poder sobre ele. Não há nada em Jesus Cristo que o diabo possa controlar.

Uma vez que estamos “em Cristo”, Satanás também não pode controlar nossa vida. Nem Satanás nem o mundo podem perturbar nosso coração.

CONCLUSÃO: Jesus nesse capitulo ensina-nos lições sobre como confiar em Deus quando o nosso coração querer se turbar, ficar ansioso, angustia ou com medo. O que faremos?

  1. Confiando em cristo apesar das circunstâncias (14.1)
  2. Tenha a certeza de um lar (14.2,3).
  3. Conheça o caminho de casa (14.4-6)
  4. Conheça o pai (14.7-11).
  5. relacione com o pai (14.11-15).
  6. desfrute do consolo do espirito santo (14.16-24)
  7. desfrute a paz de cristo (14.25-31)

 

[1] Sermão adaptado do comentário expositivo Hagnos: Hernandes Dias Lopes

[2] D. A. Carson.

[3] William Hendriksen

[4] J.M. Gray, citado por Warren W. Wiersbe; comentário do Novo testamento I, pg 451.