Sermão Nº 20 – Ele se importa com você – Referência João 11:1-57

INTRODUÇÃO: Este é o sétimo, o último e o maior dos milagres públicos operados por Jesus e registrados nesse evangelho. Foi realizado na última semana antes de Jesus ser preso e morto na cruz.

Seu propósito foi despertar a fé nos salvos e a fúria definitiva dos inimigos. O mesmo sol que amolece a cera endurece o barro.

O mesmo mover de Deus que produz Fé e quebrantamento em alguns provoca o endurecimento, a incredulidade e a fúria de outros.

Por causa desse milagre Jesus seria morto. A hora havia chegado, e Jesus estava pronto para enfrentá-la.

Mesmo sabendo que Ele corria o risco de ser preso e morto, ele se importou em atender o pedido de seus amigos.

E por que ele se importou, ela vai ser odiado até a morte, que ocorreu dias depois desse milagre. Vejamos.

  1. O AMOR DE JESUS (11.1-6)

No meio do deserto de hostilidades enfrentado por Jesus em Jerusalém, havia um oásis em Betânia: a amizade de Marta, Maria e Lázaro.

Jesus se hospedara na casa deles. Esta casa era um segundo lar para Jesus. Agora, essa família enfrenta um grave problema, uma enorme aflição.

Lázaro, irmão de Marta e Maria, estava enfermo. O amor de Jesus por ele não manteve longe de sua vida a doença, nem a amizade de Jesus o blindou das dificuldades.

Algumas lições podem ser aprendidas com esse episódio.

As crises são inevitáveis. Lázaro, mesmo sendo amigo de Jesus, ficou doente. As crises podem aumentar. Lázaro piorou e chegou a morrer.

Há momentos em que somos bombardeados por problemas que escapam ao nosso controle: enfermidades, perdas, prejuízos, luto.

Oramos, e nada acontece. Aliás, as coisas pioram. Queremos alívio, e a dor aumenta. Queremos subir e afundamos ainda mais.

As crises produzem angústia. Quando a enfermidade chega a nossa casa, ficamos profundamente angustiados. Nessas horas, nossa dor aumenta, pois, nossa expectativa era receber um milagre, e ele não chega.

Como os discípulos de Emaús, começamos a conjugar os verbos da vida apenas no passado: Nós esperávamos que, fosse ele quem redimisse a Israel, mas […] (Lc 24.21, ARA).

Veja os dilemas que enfrentaram

  1. Como conciliar nossa urgência com a demora de Jesus (v.3).

Aquele era um pedido urgente (11.3). Marta e Maria enviam um mensageiro a Jesus pedindo ajuda. Apenas lhe informam que aquele a quem Jesus ama está enfermo.

Nada mais era necessário acrescentar, pois quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada.

Elas tinham plena convicção de que Jesus seria solícito em atender prontamente ao seu rogo. Eles esperam ansiosamente, mas Jesus não vem.

  1. Como conciliar nossa lógica com a fé (11.4). “E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”.

Como conciliar a lógica com esta palavra de Jesus, se a enfermidade não é para morte porque então lazaro morreu?

Com essa resposta, Jesus não está dizendo que Lázaro não morreria nem que morreria apenas para ser ressuscitado, demonstrando, desse modo, a glória de Deus.

Jesus sabia que Lázaro estava morto ao receber a notícia. Assim que o enviado partiu para dar a notícia, lazaro morreu?

O que ele está dizendo é que a morte não teria a última palavra; antes, ela seria um motivo para a manifestação da glória de Deus, na vitória da ressurreição e da vida.

A glória de Deus refulge nessa subjugação da morte. O amor de Jesus por Lázaro e suas irmãs não impediu que eles passassem pelo vale da morte, mas lhes trouxe vitória sobre a morte.

Quando a tribulação assedia um crente, é perigoso afirmar que o seu propósito é algum benefício, ou que o seu motivo é alguma bênção futura.

Os propósitos de Deus estão além de nossa compreensão; o sofrimento é um mistério que nem sempre podemos desvendar.

Mas é absolutamente certo que, para um amigo de Jesus, o resultado do sofrimento será algum bem eterno, alguma manifestação da glória de Deus.

  1. Como conciliar o amor de Jesus como nosso sofrimento?

A família de Betânia era amada por Jesus. Jesus amava Marra, Maria e Lázaro, mas, mesmo assim, Lázaro ficou enfermo. Se Jesus amava a Lázaro, por que permitiu que ele ficasse doente?

Por que permitiu que suas irmãs sofressem? Por que permitiu que Lázaro morresse? Aqui está o grande mistério do amor e do sofrimento. Marta e Maria fizeram a coisa certa na hora da aflição.

Buscaram ajuda em Jesus. Elas sabiam que Jesus mudaria sua agenda e as atenderia sem demora. Elas buscaram ajuda na base certa.

Basearam-se no amor de Jesus por Lázaro, e não no amor de Lázaro por Jesus. Quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada.

Hoje dizemos: “Jesus, aquele a quem amas está com câncer. Jesus, aquele a quem amas está se divorciando? Jesus, aquele a quem amas está desempregado”.

Por que Jesus não curou Lázaro a distância. Jesus poderia ter impedido que Lázaro ficasse doente e também poderia tê-lo curado a distância. Ele já havia curado o filho do oficial do rei a distância (4.46-54).

Por que não curou seu amigo a quem amava? A atitude de Jesus parece contradizer o seu amor.

Alguns judeus não puderam conciliar o amor de Cristo com o sofrimento da família de Betânia (11.37).

Eles pensaram que amor e sofrimento não podiam andar juntos. O fato de sermos amados por Jesus não nos dá imunidades especiais.

O Pai amava o Filho, mas permitiu que ele bebesse o cálice do sofrimento e morresse na cruz em nosso lugar.

O fato de Jesus nos amar não nos torna filhos prediletos. O amor de Jesus não nos garante imunidade especial contra tragédias, mágoas e dores. Nenhum dos discípulos teve morte natural, exceto João.

Jesus não prometeu imunidade especial, mas imanência especial. Nunca nos prometeu uma explicação; prometeu a si mesmo, aquele que tem rodas as explicações.

  1. Como conciliar a nossa necessidade com a demora de Jesus? (11.6,39).

Em vez de mudar sua agenda para socorrer Lázaro, Jesus ficou ainda mais dois dias onde estava.

Em vez de ir pessoalmente, mandou apenas um recado. Marta precisou lidar não apenas com a doença do irmão, mas também com a demora de Jesus.

Perguntas surgiram em sua mente: Por que ele não veio? Será que ele virá? Será que ele nos ama mesmo?

Muitos passaram a censurar a demora de Jesus. Marta oscilou entre a fé e a lógica. Pois como entender as palavras de Jesus:

Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela (11.4), se, quando o mensageiro a entregou a Jesus, Lázaro já havia morrido?

Jesus não demorou para dar tempo a que Lázaro morresse, Este já havia morrido e estava sepultado, quando Jesus recebeu o recado. O Senhor chegou a Betânia no quarto dia (11.17,39): um dia gastou-o na viagem, outro levara o mensageiro na sua, e dois passara nosso Senhor no lugar, depois que recebeu a notícia. Ele sabia que Lázaro estava morto.

A demora de Jesus põe nos lábios de Marta um profundo lamento (11.21). Muitas vezes, Jesus parece demorar.

Deus prometeu um filho a Abraão e Sara, e só cumpriu a promessa 25 anos depois.

Jesus só foi ao encontro dos discípulos quando eles enfrentavam uma terrível tempestade no mar da Galileia, apenas na quarta vigília da noite.

Jairo foi pedir socorro a Jesus, mas, quando chegou a sua casa, sua filha já estava morta.

A fé de Marta passou por três provas:

a ausência de Jesus (11.3),

a demora de Jesus (11.21)

e a morte de Lázaro (11.39).

Uma pergunta que se impõe neste contexto é:

  1. Como conciliar o nosso tempo (Cronos) com o tempo (kairos) de Jesus? A distância entre Betânia e o lugar onde Jesus estava era de mais de 32 quilómetros. Levava um dia de viagem.

O mensageiro gastou um dia para chegar até Jesus. Logo que o mensageiro saiu de Betânia, Lázaro morreu.

Quando deu a notícia a Jesus, Lázaro já estava morto e sepultado. Jesus demora mais dois dias. E gasta outro dia para chegar.

Daí, quando chegou, Lázaro já estava sepultado havia quatro dias. Jesus se alegrou por não estar em Betânia antes da morte de Lázaro (11.15).

Ele deu graças ao Pai por isso (11.41b). Jesus sempre agiu de acordo com a agenda do Pai (2.4; 7.6,8,30; 8.20; 12.23; 13.1; 17.1).

Ele sabe a hora certa de agir. Ele age segundo o cronograma do céu, e não segundo a nossa agenda. Ele age no tempo do Pai, e não segundo a nossa pressa.

Quando ele parece demorar, está fazendo algo maior e melhor para nós. Marta e Maria pensaram que Jesus tinha chegado atrasado, mas ele chegou na hora certa, no tempo oportuno de Deus (11.21,32).

Jesus não chega atrasado. Ele não falha. Não é colhido de surpresa. Ele conhece o fim desde o princípio, o amanhã desde o ontem. Ele enxerga o futuro desde o passado.

Jesus sabia que Lázaro estava doente e depois que Lázaro já estava morto. Ele tardou a ir porque sabia o que ia fazer.

Contudo, por que Jesus demorou mais dois dias?

Havia uma crença entre os rabinos que um morto poderia ressuscitar até o terceiro dia por intermédio de um agente divino.

A partir do quarto dia, porém, somente Deus, pessoalmente, poderia ressuscitá-lo, Ao ressuscitar Lázaro no quarto dia depois do sepultamento, os judeus precisariam se dobrar diante da realidade irrefutável da divindade de Jesus.

III. A CORAGEM DE JESUS. (11.7-16)

O clima em Jerusalém estava absolutamente desfavorável para Jesus. Ele se havia retirado exatamente para não provocar ainda mais os ânimos dos judeus radicais, que queriam sua prisão e morte.

Agora, Jesus resolveu voltar à Judeia, o pivô central da crise, o miolo da tempestade.

  1. Enfrentando uma ameaça real (11.7,8). Os discípulos alertam Jesus sobre o perigo inevitável que eles enfrentariam, caso voltassem para a Judeia. Jerusalém não era mais um lugar seguro. Ir para lá era colocar o pé na estrada da morte.

Jesus ensina então a única forma de vencer a ameaça é enfrentando-a e não se escondendo. Ele diz que se alguém anda de noite, ou seja, escondendo ele tropeça. Mas se alguém anda de dia, não tropeça.

Jesus está dando uma explicação oportuna (11.9,10). Ensinando os seus discípulos a entenderem que o lugar mais seguro para se estar é o centro da vontade de Deus, mesmo que este lugar parece o mais perigoso.

Já o lugar mais perigoso para se estar é fora da vontade de Deus. Mesmo que pareça ser o mais seguro.

Quando nos dispomos a fazer a obra de Deus, no tempo de Deus, ainda que enfrentemos toda sorte de oposição, encontramos o sorriso do Pai, e aí está nossa máxima segurança.

  1. Um proposito real (11.11-15).

Jesus comunicou a seus discípulos a morte de Lázaro e sua disposição de ir a Betânia para ressuscitá-lo. Os discípulos não entenderam a linguagem de Jesus, e o Senhor explicou-lhes que a aparente demora tinha o propósito de fortalecer-lhes a fé.

Nesse contexto, crer significa tirar o olhar de nós, de todas as nossas possibilidades e esperanças, e dirigi-lo a Jesus.

A morte dos crentes é frequentemente comparada ao sono (Gn 47.30; Mt 27.52; At 7.60).

Quem dorme, acorda. A morte não é definitiva. A morte não tem a última palavra. A morte não é um adeus, mas apenas um até logo!

A Palavra de Deus diz que, para o crente, morrer é lucro (Fp 1.21), é bem-aventurança (Ap 14.13), é deixar o corpo e habitar com o Senhor (2Co 5.8), é partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor (Fp 1.23).

Obviamente, isso não significa o “sono da alma”. Embora a alma esteja adormecida para o mundo que deixou (Já 7.9; Ec 9.6), está desperta em seu mundo (Lc 16.19-31; 23.43; 2Co 5.8; Fp 1.21-23; Ap 7.15-17; 20.4).

Aqui também há um companheirismo corajoso (11.16). ‘Tomé sabia que aquela era uma missão para a morte. Mas conclama seus condiscípulos a serem solidários com o mestre quer na vida quer na morte.

III. A PROMESSA DE JESUS (11.17-27)

O ensino essencial de todo esse episódio está contido na promessa de Jesus: EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA; QUEM CRÉ EM MIM, MESMO QUE MORRA, VIVERÁ; E TODO AQUELE QUE VIVE, E CRÊ EM MIM, JAMAIS MORRERÁ […] (11.25,26).

Quando Jesus chegou a Betânia, Lázaro já estava sepultado há quatro dias. A casa de Marta e Maria estava cheia de parentes e amigos não apenas da aldeia de Betânia, mas também de pessoas vindas de Jerusalém.

Conforme o costume oriental, essas pessoas cumpriam as obrigações fúnebre e de consolo durante uma semana.

Os judeus, portanto, ainda estavam consolando as duas irmãs enlutadas, quando Marta soube que Jesus estava chegando. E, com Jesus, chegavam a esperança e o consolo.

Somente[1] Jesus possui a capacidade de consolar por ocasião da morte, pois só ele é a ressurreição e a vida.

Como Marta tinha uma personalidade sanguínea, saiu ao encontro de Jesus, enquanto Maria ficou em casa com os amigos.

Destacamos alguns pontos a seguir.

  1. Oscilando entre a decepção e a fé (11.21,22). Marta vai ao encontro de Jesus com uma declaração que trazia uma ponta de decepção e ao mesmo tempo uma grande demonstração de fé: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, Deus te concederá tudo quanto lhe pedires (11.21,22).

Quando Marta se encontra com Jesus, foi seu coração que falou através de seus lábios. Marta lamenta a demora, mas crê que Jesus, em resposta à oração a Deus, pode reverter a situação humanamente irremediável.

Vale destacar que Marta ainda não tem plena consciência de que Jesus é o próprio Deus.

  1. Oscilando Marta entre o passado e o futuro (11.23-26). Jesus não está preso às categorias do nosso tempo.

Marta crê no Jesus que poderia ter evitado a morte (11.21), ou seja, intervindo no passado. Marta crê no Jesus que ressuscitará os mortos no último dia (11.23,24), ou seja, agindo no futuro.

Mas Marta não crê que Jesus possa fazer um milagre agora, no presente. Marta vacila entre a fé (11.22) e a lógica (11.24).

Somos assim também. Não temos dúvida de que Jesus realizou prodígios no passado.

Não temos dúvida de que ele fará coisas extraordinárias no futuro, no fim do mundo.

Mas nossa dificuldade é crer que ele opera ainda hoje com o mesmo poder.

Talvez essa seja a sua angústia. Você tem orado pelo seu casamento e o vê mais perto da dissolução. Você tem orado pela conversão do seu cônjuge e o vê mais endurecido.

Você tem orado pelos seus filhos, e eles continuam mais distantes de Deus. Você tem orado pelo seu emprego, e as mudanças ainda não aconteceram.

Você tem orado pela sua vida emocional, e ela ainda parece um deserto. Ah, se tudo fosse diferente: passado e futuro!

O grande erro do “Ah, se fosse diferente” de Marta Foi omitir o poder presente do Cristo vivo. Marta presa ao passado ou ao futuro. Mas é no presente que o tempo toca a eternidade.

Não podemos viver apenas de lembranças que já se passaram nem apenas das promessas que permanecem no futuro.

Precisamos crer hoje. Jesus não é o grande EU ERA nem o grande EU SEREI. Ele é o grande EU SOU.

Marta afirma sua fé em Jesus (11.27). Marta confirma sua fé inabalável em Jesus, confessando que ele é o Cristo, o Filho de Deus, que deveria vir ao mundo.

Marta precisava de consolo intelectual. Enquanto Maria precisava de consolo emocional.

  1. A COMOÇÃO DE JESUS (11.28-37)

Marta se retira e comunica a Maria: O mestre está aqui e te chama (11.28). Apressadamente, ela também sai ao encontro de Jesus, fazendo a mesma declaração de sua irmã: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido (11.32).

Maria se prostra aos pés de Jesus e chora. JESUS, VENDO-A CHORAR E BEM ASSIM OS JUDEUS QUE A CONSOLAVAM, E TOMADO POR INTIMA COMPAIXÃO, AGITOU-SE NO ESPIRITO E COMOVEU-SE (11.33).

O verbo grego[2] embrimaomai, traduzido por “agitou-se” (ARA), literalmente significa “bufou de indignação” e normalmente expressa algum tipo de desprazer.

Aqui o verbo descreve a reação interior de Jesus. Jesus chorou, por ver o sofrimento das pessoas diante da morte.

Quando Maria cai aos seus pés chorando ele também chora. Que doce Salvador, que meigo Senhor.

Maria aparece apenas três vezes nos Evangelhos. Nas três vezes, ela está aos pés do Senhor.

Na primeira vez, estava aos pés do Senhor para aprender (Lc 10.39).

Dessa feita, está aos pés do Senhor para chorar (11.32,33).

Finalmente, ela está aos pés do Senhor para agradecer pelo milagres da ressurreição de seu irmão (12.3).

Jesus perguntou aos judeus onde haviam sepultado Lázaro. Eles conclamaram Jesus a vir e ver.

Jesus chorou (11.35), demonstrando sua plena humanidade e sua imensa simpatia.

Os judeus concluíram o que já havia sido registrado no versículo 3. De fato, Jesus amava a Lázaro. Outros, porém, objetaram, dizendo que ele poderia ter evitado a morte de Lázaro (11.37).

Jesus se identifica com a nossa dor (11.35). Aquele que cura as nossas chagas é ferido conosco. As lágrimas de Jesus revelam sua humanidade, sua compaixão, seu amor (11.36).

Para a mentalidade pagã os deuses não tinham a capacidade de sentir emoção, ele era um ser solitário, sem paixão e sem compaixão.

O choro de Jesus foi uma espécie de quebra de paradigma na crença dos gregos acerca de Deus.

Jesus se importa com você e com sua dor. Ele não é o Deus distante dos deístas, nem o Deus impessoal dos panteístas.

Não é o Deus fatalista dos estoicos, nem mesmo o Deus bonachão dos epicureus.

Ele não é o Deus morto, pregado numa cruz, nem o Deus legalista, xerife cósmico dos fariseus. Ele é o Deus Emanuel.

Ele chora com você, sofre por você, se importa com você e se identifica com você em sua dor. Ele é o Deus que chora, que sofre, que trata a nossa dor.

Jesus sabe o que é a dor do sem-teto, pois ele não tinha onde reclinar a cabeça.

Jesus sabe o que é a dor da solidão, ele sabe o que é a dor da depressão, da perda e da enfermidade, pois nas horas mais difíceis ele estava só.

Foi deixado só no Getsêmani e na cruz. Jesus sabe o que é a dor da perseguição, pois foi caçado por Herodes, vigiado pelos fariseus, odiado pelos escribas e entregue pelos sacerdotes.

Jesus sabe o que é a dor da traição, pois foi rejeitado pelo seu povo, traído por Judas Iscariotes, negado por Pedro e abandonado pelos discípulos.

Jesus sabe o que é a dor da humilhação, pois foi preso, espancado, cuspido, deixado nu, pregado na cruz como um criminoso.

Jesus sabe o que é a dor da enfermidade, pois tomou sobre si a nossa dor e a nossa enfermidade.

Jesus sabe o que é a dor da morte, pois suportou a morte para arrancar o aguilhão da morte e nos trazer a ressurreição.

Aquele que enxuga as nossas lágrimas chora conosco. Jesus não apenas está presente com você em seu sofrimento, mas também se compadece de você.

Jesus chorou em público, diante de uma multidão, condoendo-se daquela família enlutada. Ele chegou a ponto de descer ao Hades, em sua identificação com a nossa dor.

Essa verdade pode ser ilustrada como segue. Sete anos antes de o navio Titanic ser encontrado, a revista National Geographic começou os preparativos para o dia em que o navio fosse achado e pudesse ser fotografado.

Quando foi descoberto em 1985, o fotógrafo Emory Kristof começou a conferir a profundidade da água e os problemas da visibilidade. Finalmente em 1991, com ajuda de cientistas e cinegrafistas, Kristof tirou uma série de fotos há 3.500 metros de profundidade.

E estampou-as na revista. A propaganda que precedeu o anúncio dizia: “Até que ponto chega um fotógrafo da Geographic para obter uma foto perfeita?”

Até que ponto Deus chega para revelar seu terno amor para com os pecadores e sofredores? Até o ponto de o seu Filho descer ao abismo, ao Hades.

  1. O PODER DE JESUS (11.38-44)

Jesus não tem compaixão apenas; tem também poder. Ele não apenas sente os nossos dramas, mas também tem poder para resolvê-los.

Destacamos a seguir alguns pontos a respeito.

  1. Uma ordem para tirar a pedra (11.38,39). O mesmo Jesus que levantou Lázaro da morte poderia ter rolado a pedra do seu túmulo.

Mas rolar a pedra era uma obra que os homens poderiam fazer, e esta Jesus ordenou que fosse feita.

Jesus não exclui a participação humana em sua intervenção milagrosa (1.39,40,44).

“Tirar a pedra” significa enfrentar urna situação que não queremos mais mexer. E tocar em situação que só nos trará mais dor.

E abrir a porta para algo que já cheira mal. Temos medo de enfrentar o nosso passado de dor.

A ordem é clara: Tirai a pedra. Só Jesus tem o poder para ressuscitar um morto. Isso ele faz.

Mas tirar a pedra e desatar o homem que está enfaixado, isso as pessoas podem fazer, e ele ordena que façam.

Jesus chama a Lázaro da sepultura. Se Jesus não tivesse mencionado o nome de Lázaro, todos os mortos sairiam do túmulo.

Mas Lázaro, mesmo morto, pôde ouvir a voz de Jesus. No dia final, na segunda vinda de Cristo, os mortos também ouvirão a sua voz e sairão do túmulo (5.28,29).

  1. Uma resistência interferência incrédula (11.39). Marta, oscilando entre a fé em Cristo e a impossibilidade humana, interfere na agenda de Jesus, dizendo que agora era tarde demais.

Ela já estava satisfeita só com a presença de Jesus isto já era bom demais. Mas mostrar um defunto em decomposição é algo vergonhoso.

Veja que a incredulidade se move por meio do preconceito e da vergonha.

Ela sabia que Jesus já havia ressuscitado a filha de Jairo e o filho de viúva de Naim, mas, agora, Lázaro era um cadáver em decomposição.

  1. Uma exortação necessária (11.40). Jesus corrige Marta e ao mesmo tempo a encoraja a crer. A fé vê o que os olhos humanos não conseguem enxergar.

A fé é o telescópio que amplia diante dos nossos olhos o fulgor da glória de Deus. A incredulidade nos impede de ver a manifestação plena do ser divino. Jesus disse: […] se creres, verás a glória de Deus.

Jesus quer não apenas que encontremos a solução, mas que nos tornemos a solução, Em vez de duvidar, questionar e lamentar, Marta deveria crer. A porta do milagre é aberta com a chave da fé.

  1. Uma oração de ação de graças (11.41,42). Jesus dá graças ao Pai porque sua oração já tinha sido ouvida. O milagre que ele vai operar já estava na agenda do Pai.

O milagre consolidará a fé dos discípulos e despertará a cartada final da incredulidade. Ao mesmo tempo que tiraram a pedra e olharam para dentro do túmulo, Jesus olhou para cima e orou (11.41).

Ao enfrentar o mau cheiro de um túmulo aberto, Jesus orou. Oramos nós por aqueles que estão aflitos? Cremos que Deus responde às orações? Como Jesus orou? Quando o milagre aconteceu?

Quando Jesus deu graças? Não foi depois, mas antes de o milagre acontecer.

A Palavra de Deus diz que Lia era desprezada por Jacó, seu marido (Gn 29.31-35). Foi somente na quarta gestação de Lia que o milagre da graça restauradora aconteceu em seu coração:

[…] Desta vez louvarei o Senhor […] (Gn 29.35).

O nome do seu primeiro filho Judá; vem do radical da palavra “louvor”. Jesus veio da tribo de Judá.

Enquanto Lia baseou sua vida no ‘Ah, se eu fosse bonita como a minha irmã!”, “Ah, se meu marido me amasse!”, seus dias eram um poço de amargura.

Mas, quando ela adotou uma atitude de louvor e fé e abriu-se para Deus, o Senhor lhe deu uma nova expectativa, ela se tornou a mãe da tribo da qual veio o Messias.

  1. um milagre extraordinário (11.43,44). A voz de Jesus é poderosa. Até um morto a escuta e obedece. Lázaro ouve, atende e sai da caverna da morte.

Ele sai todo enfaixado, coberto de mortalha. Jesus ordena que o desatem e o deixem ir. Lázaro agora estava vivo, mas com vestes mortuárias. Seus pés, suas mãos e seu rosto estavam enfaixados.

Precisamos nos despir das vestes da velha vida.

Precisamos nos revestir das roupagens do novo homem. Precisamos ajudar uns aos outros a remover as ataduras que nos prendem.

Precisamos ajudar uns aos outros a remover as ataduras do passado. Somos uma comunidade de cura, restauração e cooperação.

  1. A CONSPIRAÇÃO CONTRA ELES MESMOS. (11.45-57)

O maior milagre público de Jesus tem um duplo efeito: fé (11.45) e incredulidade (11.46-57). Na reta final, as coisas se invertem.

Até aqui, os fariseus são os opositores mais ferrenhos de Jesus.

A partir de agora, os saduceus, de cuja linhagem saiam os principais sacerdotes, assumem a dianteira para prender e matar Jesus.

Da mesma forma que a ressurreição de Lázaro é o clímax dos sinais do ministério público de Jesus, também é o marco decisivo que precipita a série de acontecimentos culminando na narrativa da Paixão.

Os efeitos do milagre quádruplo desse colossal milagre:

  1. a) O milagre levou muitos judeus, que antes eram hostis para com Jesus, a crerem nele (11.45).
  2. b) Acrescentou mais amarguras aos seus inimigos, que agora, numa sessão oficial do Sinédrio, começaram a tramar sua morte (11.46-54).
  3. c) Causou grande excitação entre as multidões da Páscoa em Jerusalém (11.55-57).
  4. d) Fortaleceu a fé de Maria e Marta e dos discípulos (11.4,15,26,40).

Destacamos alguns pontos a esse respeito.

  1. Muitos creem ao verem a ressureição de Lázaro (11.45). Esse era um dos propósitos dos milagres: Despertar a fé para que as pessoas creiam no evangelho.

Sempre que os evangelhos estão dizendo que alguém está crendo, tem algum sinal acontecendo, ou existe alguma discursão em torno dele.

  1. Muitos vão se opor e desprezar os milagres. Outros vão delatar Jesus aos fariseus (11.46).

O mesmo sol que amolece a cera endurece o barro. O mesmo milagre que produz em fé em muitos; desperta em outros uma atitude covarde e de preconceito teológico.

O Sinédrio é convocado a tomar posição (11.47,48). A ressurreição de um morto que já havia sido sepultado á quatro dias era um fato tão retumbante, somado aos outros milagres operados, que, se nenhuma atitude fosse tomada, todos iriam aderir a Jesus.

E o argumento construído pelos principais sacerdotes e fariseus é assustador. Se isso acontecer os romanos virão com mão de ferro e tomarão o templo e a própria nação.

  1. A justificativa da oposição.

Agora a questão não era mais precisão de uma discussão teológica, mas uma situação de segurança nacional, de sobrevivência política.

Quando esse evangelho foi escrito[3], a catástrofe que eles receavam já tinha ocorrido, porém não em razão da presença e das atividades de Jesus.

A profecia surpreendente de Caifás, um dos membros do Sinédrio e sumo sacerdote, mesmo sem saber, profetisa, dizendo que eles nada sabiam, pois era necessário que um só homem morresse pelo povo.

Dessa forma, ele estava profetizando que Jesus estava prestes a morrer pela nação, e não somente pela nação, mas a fim de reunir em um só corpo os filhos de Deus, dispersos pelo mundo.

Até mesmo quando os perversos pensam que estão laborando contra Jesus para destruí-lo, na verdade estão apenas cumprindo o eterno propósito de Deus, uma vez que os planos de Deus não podem ser frustrados.

A “profecia” de Caifás levou o Sinédrio a pensar que, se a segurança da nação poderia ser garantida pela morte de um homem, então a necessidade de que tal pessoa morresse resultava de um raciocínio prudente.

Nesse caso, ele morreria pelo povo.’ Seu raciocínio foi: sigam Jesus, e a nação perecerá; matem Jesus, e a nação será salva. Conclusão: Jesus deve morrer.

Por ironia da História, o exato oposto ia acontecer: quando os judeus mataram Jesus, eles selaram seu destino. Os romanos vieram, de fato, e destruíram a cidade (com seu templo) e a nação.

O que eles queriam evitar aconteceram. O que Caifás previu a aconteceu ao revés de como imaginou.

A morte de Jesus resultou na destruição, pelos romanos, do próprio Estado que Caifás desejou salvar e igualmente na garantia de bênçãos universais, mediante Jesus, com as quais aquele sumo sacerdote nunca sonhou.

As palavras de Caifás serviram corno incentivo para a conspiração mais cruel que este mundo já viu. Resolveram matar Jesus.

Que[4] Caifás era um bruto, um crápula manipulador que não conhecia o significado de retidão e justiça, e que fazia tudo do jeito que ele queria e a qualquer custo, está claro nas passagens nas quais ele é mencionado (Mt 26.3,57; Le 3.2; Jo 11.49; 18.13,14,24,28; At 4.6).

Ele não hesitava em derramar sangue inocente, Ele era, também, hipócrita, pois no final do julgamento, no exato momento em que pensou ter encontrado uma base sólida para a condenação de Cristo, rasgou suas vestes como se fosse tomado de profunda tristeza!

O Sinédrio toma uma firme decisão e anuncia o veredito: Jesus precisa morrer. Então, resolve matá-lo!

  1. A retirada de Jesus (11.54).

Jesus retira-se do centro da crise e vai com seus discípulos para Efraim, uma região vizinha do deserto. A sua morte aconteceria do modo que estava traçado na agenda do céu, e não segundo as pressões criminosas da terra.

A procura por Jesus aumenta (11.55,56). A festa da Páscoa, a terceira mencionada nesse evangelho (2.13; 6.4; 11.55), estava se aproximando, e as multidões já se encaminhavam para Jerusalém.

Jesus era o assunto comentado por todos. A dúvida era: Será que diante do iminente perigo de ser preso e morto de virá à festa?

A ordem dos líderes religiosos era para denuncia-lo. (11.57). Os principais sacerdotes e fariseus já haviam constituído o povo como detetives e investigadores.

Qualquer um que tivesse qualquer informação sobre o paradeiro de Jesus deveria denunciá-lo imediatamente. Queriam prendê-lo.

O palco[5] estava preparado para o maior drama da História, durante o qual o ser humano mostraria o que tem de pior, e Deus lhe daria o que tem de melhor.

CONCLUSÃO[6]:

Quando o atraso ocorre, Deus tem um tempo melhor e um caminho melhor .

Quando a morte ocorre, Deus tem um plano melhor e um propósito melhor

Esse texto revelou que Jesus é quem Ele disse que Ele era – a ressurreição e a vida!

Mas isso revelou algo mais. As lágrimas de Deus! Agora o que é mais incrível? Um Deus que ressuscita os mortos ou um Deus que chora? Um Deus que se importa com você. Que chora com você.

[1] Werner de Boor

[2] F. F. Bruce

[3] F. F Bruce

[4] William Hendriksen

[5] Warren Wiersbe

[6] Sermão adaptado do comentário de João. Editora Hagnos; Hernandes Dias Lopes.