Sermão Nº 18 – Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo – Referência João 9:1-41

INTRODUÇÃO:

No capítulo 8 do evangelho de João, Jesus se apresentou como a luz do mundo. Agora, ele ilustra seu ensino curando um homem cego de nascença.

Jesus dá mais uma prova de sua divindade, uma vez que era crença comum que só Deus poderia dar vista a um cego de nascença.

Uma vez que a cegueira era considerada maldição divina, só Deus poderia remover essa maldição.

Além disso, dar vista a um cego de nascença é uma obra criadora, e só Deus tem poder para criar.

Esse é um dos milagres mais bem documentados nas Escrituras, pois os vizinhos, os pais e os opositores precisaram admitir que, de fato, o homem era cego de nascença e agora estava enxergando.

Destacamos a seguir alguns pontos importantes na exposição do texto em tela.

  1. UM MILAGRE SINGULAR (9.1-7)

Jesus ainda está em Jerusalém. Ao caminhar, vê um homem cego de nascença (9.1). Naquele tempo, não restavam muitas opções para um cego a não ser mendigar, e era isso que esse homem fazia quando Jesus passou por ele.

Um homem cego é visto ou, então, permanecerá na escuridão. Há algumas pessoas que; ou Jesus as enxergas ou, então, elas ficarão esquecidas, marginalizadas, e cobertas pelo manto escuro das trevas.

  1. A pergunta.

Aqui a duas formas de ver aqueles que sofrem. Jesus viu este homem com um olhar de misericórdia. Já os discípulos não viram o homem como alguém digno de misericórdia, mas sim como um tema de discursão teológica.

É muito mais fácil discutir um assunto abstrato como o pecado, do que ministrar a uma necessidade real na vida de uma pessoa. É mais fácil viver discutindo a obra do que fazendo a obra.

Ao verem o homem cego, os discípulos fizeram uma pergunta perturbadora: Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego: ele ou seus pais?

Em vez buscar uma solução para o alivio do sofrimento alheio, eles queriam especular sobre o mais intrincado problema filosófico: a origem do mal.

Os judeus criam na preexistência das almas e por isso perguntou, se que pecou foi ele antes que nascesse.

Os judeus também relacionavam cada infelicidade a um pecado em particular. Dessa forma, os amigos de Jó, relacionaram suas aflições a seus supostos pecados de crueldade em relação às viúvas e aos órfãos (já 4.7; 8.20; 11.6; 22.5-10).

O comportamento de Jesus parece indicar que ele estava dizendo: eu não estou aqui para responder a esse tipo de pergunta. Eu não estou aqui para explicar o mistério do mal.

Eu não estou aqui para resolver esses problemas. Estou aqui para remover a causa deles. Por isso devemos trabalhar as obras daquele que me enviou enquanto é dia.

  1. A resposta.

Jesus então responde à pergunta (v.3). Jesus responde que nem o homem pecou nem seus pais, mas ele nasceu cego para que se manifestassem as obras de Deus.

É claro que Jesus não estava com isso insinuando haver pessoas sem pecado nem induzindo os discípulos a crer que todo sofrimento é resultado imediato de um pecado imediato.

Também Jesus não estava afirmando que aquele homem havia nascido cego especificamente para ser, agora, alvo de seu milagre.

Jesus estava dizendo que todo sofrimento alheio não deve ser alvo de especulação, e sim de uma ação misericordiosa.

Isso não significa que Deus intencionalmente faz uma criança nascer cega ou com outro problema para, depois de muitos anos, revelar sua glória tirando-lhe a cegueira; pensar assim também seria uma afronta ao caráter de Deus.

O sentido é que Deus é soberano sobre a infelicidade da cegueira da criança e, quando ela se tornou adulta, a fez recuperar a vista, a fim de que visse a glória de Deus na face de Cristo.

As tragédias dão a Deus uma oportunidade de se revelar de formas singulares.  Ouvimos o testemunho da missionaria da APEC, onde a filha de 29 anos foi tomada de um câncer que tirou sua vida.

Mas por meio de sua doença, entanto, o Senhor tem encorajado milhares de pessoas e demonstrado sua glória, como fez conosco nesta

Também Jesus não nega que muitas enfermidades são produzidas pelos nossos pecados. A Escritura também faz uma correlação entre pecado e doenças. Jesus salientou isso com o paralitico do Tanque do Betesda; “vai e não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (Jo. 5.14).

  1. O milagre.

Jesus conclui sua declaração, dizendo que as obras do Pai devem ser feitas com presteza e urgência, pois haverá um tempo, quando a noite chegar, que não será mais possível trabalhar.

Os crentes não devem ficar discutindo a obra, pois o tempo é curto. Devemos fazer a obra de Deus enquanto é dia, pois quando a noite chegar ninguém mais vai poder trabalhar.

Jesus faz uma afirmação magnifica (v.5), enquanto estou no mundo eu sou a luz do Mundo. A igreja é sal e luz no mundo e ela não pode ofuscar a sua luz, com discursões teológicas e debates filosóficos infundados.

E Jesus vai demonstrar como a obra de Deus é feita, curando o cego e levando-o a crer nele como salvador.

Jesus quando ordenou seus discípulos a pregar em Mateus 10:7,8 ele diz: “E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai”.

Jesus faz então um milagre inédito (9.6,7). Esse milagre é inédito na História. Não havia ainda nenhum registro de que um cego de nascença tivesse sido curado (9.32).

Quando Jesus concedeu visão a esse homem cego. Não foi simplesmente a restauração da visão. Foi um ato de criação: criar algo que não existia.

Cada cura de Jesus tinha um ritual diferente. Ele nunca tratou as pessoas como massa. Sempre cuidou de cada indivíduo de Forma pessoal e singular. Nesse caso, Jesus usou um método aparentemente estranho.

Antes de curar o homem, cuspiu na terra, fez um lama com a saliva e passou essa terra molhada nos olhos do cego.

Aqui o Deus, encarnado, repete o que já havia feito no início da criação. Quando fez o homem do pó da terra; misturando agua e terra.

Aquela lama, causava um desconforto, que serviu para incentivar o homem a obedecer e ir ao tanque de Siloé se lavar.

João diz que o significado no nome Siloé (v.7), é enviado, fazendo uma referência ao (v.4), “convém que eu faça as obras daquele que me enviou”.

Jesus produziu nele um desconforto e depois o curou. O homem foi, lavou-se e voltou vendo. Jesus o tocou e depois o sarou. Jesus o desafiou a crer em sua palavra e depois o milagre ocorreu.

A fé desse homem o levou a obedecer e ele foi completamente curado. Fé e obediência são lados de uma mesma moeda.

Jeronimo disse que o poço de Siloé ficava aos pés do monte Sião. Ele não apresentava um fluxo continuo de agua, mas borbulhava em determinados dias e varias ocasiões.[1]

Quando o lodo foi lavado dos olhos do cego, todas as outras limitações foram removidas também, de modo que as dores e os sofrimentos do nascimento acabaram, e as dores e os terrores passaram, as ligações com o pecado se foram, e uma luz e uma liberdade gloriosas surgiram.

 

  1. O INTERROGATÓRIO DOS VIZINHOS (9.8-12)

As circunstâncias sempre servem para a glória de Deus. Devemos observar aqui que todas a coisas estão a serviço de Deus. Mesmo o fato desse homem ser um mendigo serviu para trazer gloria a Deus.

Devido a sua condição de mendigo, era muito conhecido de todos, assim um grande número de pessoas veio a saber desse feito do Senhor.

Do mesmo modo, o fato de ser sábado, também serviu para a Gloria de Deus. Pois nesse dia o povo estava liberado do trabalho e frequentava o templo, diante do qual o mendigo costumava ficar sentado, mendigando.

E também pelo fato dele ser trazido diante dos fariseus também serviu para a gloria de Deus.

O extraordinário milagre operado por Jesus desperta nos vizinhos do homem cego questionamentos (9.8,9).

Quando os vizinhos viram curado o homem que haviam conhecido cego, perguntaram: “É ele mesmo, aquele que vivia a pedir esmolas?” Outros disseram: “Não, mas se parece com ele”.

A essa altura, o próprio homem curado esclarece: “Sou eu!” O milagre, assim, é certificado por aqueles que conheciam o homem de vista e sabiam de sua história.

Depois eles querem saber como (9.10,11). Tendo verificado a veracidade do milagre, os vizinhos fazem uma segunda pergunta: Então, como os teus olhos foram abertos? (9.10).

O cego mendigo, agora curado, não tinha respostas claras, mas informou o que sabia: O homem que se chama Jesus era o autor desse poderoso milagre.

E aproveitou o ensejo para narrar todos os detalhes da sua cura: o ato de Jesus, a ordem de Jesus e o resultado maravilhoso de sua obediência.

Em último eles querem saber onde Jesus está (9.12). E que era cego e mendigo não sabia dizer onde ele estava.

 

III. O INTERROGATÓRIO DOS FARISEUS (9.13-34)

Algumas questões levantadas pelos fariseus.

  1. Desmoralizando os milagres.

A essa altura, os vizinhos levam o homem curado aos fariseus, e aí começa uma saga cheia de coragem por um lado e cheia de arrogante cegueira espiritual por outro.

Na mesma medida em que os olhos da alma do homem cego e mendigo são abertos para aprofundar sua fé, os teólogos e entendidos fariseus mergulham cada vez mais na escuridão espiritual.

Custe o que custasse, eles precisavam desmoralizar o milagre ou levar as pessoas a não crer no milagre.

Do mesmo jeito estão fazendo hoje em dia. Muitos querem desmoralizar os milagres ou desacredita-los.

Alguns são céticos e racionalistas e não creem na possibilidade de milagres. Alguns até dizem que os milagres são “mitos” inventados pelo homem.

Muitos dizem que o sobrenatural não existe, milagres não acontecem e, por consequência, os decantados feitos de Jesus não passam de fábulas.

Ele não nasceu de uma virgem. Não restaurou vista a cegos e jamais ressurgiu dos mortos. Tais pessoas têm suas teorias e, por causa delas, rejeitam fatos.

Há outros que mesmo sendo crentes, movidos por uma incredulidade intelectual, não creem que ainda hoje Deus possa abrir os olhos dos cegos.

Outros são como os saduceus que diziam que os milagres só aconteceram nos tempos bíblicos, e não acontecem mais, esses são os chamados cessacionistas.

  1. Hermenêutica destorcida.

João informa que o dia em que Jesus fez o lodo era sábado. Por essa palavras ele indica por que razão eles levaram aquele homem aos fariseus. Ele está dizendo o dia que Jesus fez o lodo.

Por causa de pequenino trabalho ele tinham o seu pretexto para acusa-lo de ser um violador do sábado.

Os fariseus fazem a pergunta da dúvida (9.13-16), assim como a pergunta dos vizinhos: Como?

E o homem dá a mesma resposta, agora de forma mais abreviada: Ele aplicou barro sobre os meus olhos, lavei-me e passei a enxergar (9.15).

O problema é que essa cura, à semelhança do que ocorreu com o paralítico de Betesda, também se deu num sábado e, na DISTORCIDA HERMENÊUTICA dos fariseus, Jesus estava quebrando a guarda do sábado.

Por isso, ele não podia ser um homem de Deus. A interpretação legalista dos fariseus de guardar o sábado era muito mais importante para eles do que um ato milagroso de Deus.

Devemos ter cuidado para não permitir que nossa teologia nos impeça de reconhecer a verdadeira obra de Deus.

Nossa teologia pode ser um grande impedimento para ver e fazer a obra de Deus. Por isso a maioria dos homens que Deus usou eram homens indoutos.

  1. As premissas da dúvida.

Outros tomados pela dúvida, perguntam: Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? (9.16).

E houve dissensão entre eles. Havia dois pontos de vista opostos.

O primeiro baseava-se na premissa de que “um homem que quebra a lei do sábado não pode ser de Deus”.

Se, no entendimento dos opositores, Jesus havia quebrado a lei do sábado, ele não poderia ser de Deus. Não importa qual milagre ele tenha feito, se quebrou a lei ele não é de Deus.

Esta premissa está correta. Se Alguém quebra a lei de Deus, não importa as obras extraordinária que ele tenha feito, esta pessoa não é de Deus. Este princípio é ensinado em toda as Escritura.

Mas neste caso os fariseus estavam fazendo a interpretação da lei erroneamente. O fato de fazerem uma hermenêutica errada, estavam também aplicando erroneamente a lei.

Jesus não estava quebrando a lei, a curar no sábado. Não é errado fazer o bem no dia do Senhor, que no nosso caso é o Domingo.

A conclusão óbvia é que Jesus não havia transgredido a lei do sábado, mas transgredido a interpretação equivocada dos escribas sobre o sábado. A partir daí, era inevitável concluir que a interpretação vigente sobre a lei do sábado precisava ser revista.

  1. A premissa da afirmação.

Outro ponto de vista baseava-se na premissa de que “qualquer pessoa que cura um cego — especialmente um cego de nascença — é de Deus”.

Essa premissa foi reconhecida por Nicodemos, ninguém pode fazer esses sinais se Deus não for com ele. Especialmente um milagre dessa magnitude, pois nunca um cego de nascença havia sido curado.

Esta é uma premissa verdadeira, só Deus pode fazer milagres. O diabo não tem este poder. Se o fizer é com a permissão de Deus. Veja o que Paulo diz em 2 Tessalonicenses 2:9-12.

“A vinda desse ímpio é segundo a operação de Satanás com todo o poder, e com sinais e com prodígios mentirosos e com toda a sedução da injustiça para aqueles que perecem, porque não receberam o amor da verdade, a fim de serem salvos”.

“Por isso lhes envia Deus a operação do erro, para que dêem crédito à mentira, a fim de que sejam julgados todos os que não deram crédito à verdade, antes tiveram prazer na injustiça”.

Os verdadeiros milagres acompanham a pregação do verdadeiro evangelho. O evangelista Marcos diz que Deus confirma a pregação do evangelho com os sinais que acompanhava a pregação do evangelho.

Os milagres não são o evangelho, mas acompanham verdadeira pregação do evangelho. Essa premissa está correta só Deus pode fazer milagres.

  1. A premissa da contradição.

Novamente, os fariseus questionam o cego (v.17). Agora, querem saber o que ele pessoalmente pensa acerca do homem que lhe abriu os olhos.

A resposta foi imediata: Ele é profeta (v.17). Os fariseus vão se complicando à medida que tentam desconstruir a realidade inegável desse milagre.

Depois eles querem o testemunho dos pais do cego (9.18-23). Os fariseus, prisioneiros do preconceito, não acreditaram que esse homem fosse verdadeiramente cego e que agora via.

Então, decidem tirar a prova dos nove com o pai do cego. Eles fazem três perguntas aos pais.

A primeira é: É este o vosso filho? que dizeis ter nascido cego?

A terceira: Como, pois, ele está enxergando?

Dessas duas perguntas, os pais respondem com firmeza à primeira. Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego.

A terceira pergunta eles foram covardes, e desprezaram o filho, mais uma vez, deixando só ele se expor ao perigo.

Os pais não queriam perder o privilégio e por isso não defenderam o filho. Os judeus haviam ameaçado excomungar que falasse no nome de Jesus.

William Barclay diz que a excomunhão da sinagoga era uma poderosa arma usada pelas autoridades (12.42; 16.2).

Havia dois tipos de excomunhão:

1) A proibição mediante a qual se expulsava alguém da sinagoga pelo resto da vida. Nesse caso, a pessoa era anatematizada em público. O entendimento era que a pessoa expulsa estava excluída da presença de Deus e dos homens.

2) A sentença de excomunhão temporária, que mantinha a pessoa afastada da comunhão com Deus e com as pessoas.

Foi por essa razão que os pais do homem curado se esquivaram de responder com mais profundidade às autoridades.

Aquele que fosse expulso da sinagoga não tinha direito a assistência se ficasse pobre ou passasse por necessidades muito grandes. Quem tivesse um comércio não poderia negociar com pessoas da comunidade.

Os amigos deixariam de falar com o banido. Confessar Cristo diante da ameaça de ser “expulso da sinagoga” exigia uma coragem que os pais desse homem não tinham.

O dilema dos fariseus, porém, só aumentava, pois agora não havia mais do que duvidar. Eles estavam diante de um milagre notório, Jesus era o seu agente, e esse sinal acontecera num sábado.

Os fariseus então usam outra Estratégia tentando colocar o cego curado contra Jesus (9.24,25).

Os fariseus disseram: Dai Gloria a Deus; nós sabemos que este homem é pecador.

Eles tentam colocar uma fenda entre Jesus é o homem curado. Longe de ceder á sedução e pressão dos fariseus, o que fora cego deu outro ousado testemunho:

Se é pecador; não sei. Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo! (9.25).

Os fariseus usaram manobras evasivas, tentando se livrar das evidencias do milagre. O cego estava dizendo; contra toda a autoridade de vocês, eu coloco este grande fato da experiência: Eu era cego, mas agora vejo.

Contra fato não há argumentos. O fato da cura, é mais palpável do que as opiniões infundadas dos fariseus.

Então usam a tentativa da contradição (9.26-34). Os fariseus tentam induzir o homem a uma contradição, com a mesma pergunta: O que ele te fez?

Como te abriu os olhos? (9.26). Perdendo a paciência com seus incansáveis interrogadores, o homem não detalha mais os fatos, porém alfineta-os com outra pergunta: Acaso também quereis tornar-vos discípulos dele?

Querendo humilhar o homem com arrogância auto gratificante, disseram que ele, sim, podia ser discípulo de Jesus, mas eles, os guardiões da lei, eram discípulos de Moisés (não se dando conta de que Moisés iria condená-los).

A essa altura, os fariseus tentam atacar Jesus, dizendo que tinham convicção de que Deus havia falado a Moisés, mas nem sequer sabiam de onde procedia Jesus.

Mais uma vez, o cego os espicaça com seu arrazoado contundente: Isto é de fato surpreendente; não sabeis de onde ele vem, mas ele me abriu os olhos! Em outras palavras, vocês deveriam saber.

E acrescenta que, se Jesus fez esse milagre inédito, certamente Deus o atendeu, uma vez que só Deus opera um milagre dessa natureza.

O argumento do cego é demolidor: Se ele não fosse de Deus, nada poderia fazer (9.33), uma vez que Deus não escuta a oração de homem mau (Jó 27.9; SI 66.18; Is 1.15; Ez 8.18; Pv 15.29).

Mas, longe de se renderem à verdade, os fariseus preferem hostilizar o homem, dizendo-lhe: Tu nasceste totalmente em pecado e vens ensinar a nós? E o expulsaram (9 .34).

Quantas vezes ainda hoje os insultos tomam lugar dos argumentos, e quão frequentemente as pessoas voltam as costas, com aparente desdém, para fatos que não podem negar nem refutar!

Os fariseus se viram diante de um dilema: lá estava o homem, de vista perfeita, que nascera cego e Jesus lhe abriu os olhos. Ou eles negavam o fato, ou admitiam a natureza divina de Jesus.

Aos céticos de hoje, igualmente, os fatos deixam perturbados. Por exemplo, eles negam os milagres, mas admitem que Jesus era mestre supremo no terreno da moral e louvam-no como homem bom.

É preciso deixar claro que esta é uma incoerência gritante. Jesus não pode ser um homem bom se o que diz de si mesmo não é verdade. Se Jesus não é o Filho de Deus, então é um mentiroso.

Se Jesus não fez as obras que diz ter feito, então é um impostor. Logo, afirmar que ele é um homem bom e negar sua natureza divina e suas obras miraculosas é cair numa contradição insuperável.

  1. O ENCONTRO DE JESUS COM O CEGO (9.35-38)

Ouvindo Jesus que os fariseus o haviam expulsado, foi ao seu encontro e lhe perguntou: Crês no Filho do homem? O homem redarguiu: Quem é ele, senhor para que eu nele creia? Jesus lhe disse: Tu já o viste, e é ele quem está falando contigo. Disse o homem: Eu creio, Senhor! E o adorou (9.35-38).

O mesmo Jesus que abriu os olhos do cego abre, agora, os olhos de sua alma. Ele não apenas recebe uma cura; mas também adora o Filho do homem, o Senhor.

É maravilhoso constatar que, ao mesmo tempo que os judeus o expulsam do templo, o Senhor do templo vai ao seu encontro para buscá-lo.

Na mesma proporção que os fariseus faziam uma viagem rumo ao abismo mais profundo da incredulidade esse homem fazia uma viagem rumo à maturidade e ao aprofundamento da fé.

Sua compreensão sobre Jesus foi crescente. No começo, era apenas o homem Jesus (9.11). Depois, o ex cego o considerou um profeta (9.17). Em seguida, admitiu que Jesus era um operador de milagres (9.27).

Avançou para a compreensão de que era um homem de Deus (9.33). Creu nele como o Filho do homem (9.35) e, finalmente, o adorou como Senhor (9.38).

 

  1. A VERDADEIRA CEGUEIRA (9.39-41)

Enquanto o homem curado se prostra para adorá-lo, Jesus aproveita o momento para enfatizar diante dos olhos dos fariseus sua missão de abrir as janelas do entendimento para uns e fechar as portas da compreensão para outros (9.39).

Os cegos veem e os que se julgam entendidos ficam cegos. As palavras e as obras de Jesus abrem os olhos de uns e escure outros.

Alguns dentre os fariseus, inconformados e sentindo-se atingidos por essa fala, perguntam a Jesus: Será que nós também somos cegos?

Jesus já havia chamado os judeus de filhos do diabo. Agora, Jesus deixa claro que o pecado deles é se julgarem iluminados, guardiões da correta interpretação.

Se vocês estivessem não apenas sem luz (o verdadeiro conhecimento de Deus, santidade, justiça, alegria), mas também conscientes dessa condição deplorável, e desejando ansiosamente pela salvação de Deus, nenhuma acusação seria feita a vocês.

Mas, porque vocês dizem: nós enxergamos, seu pecado permanece. Em outras palavras: Se não conseguem ver a enormidade de suas misérias e de seus pecados, vocês não poderão gozar do verdadeiro conforto. Seu pecado permanece, pois vocês rejeitaram a salvação de Deus.”

CONCLUSÃO. A incredulidade é a origem de todos os pecados. Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece.

[1] Comentário bíblico da reforma pg. 390.