Sermão Nº 16 – Referência: João 8.1-11

INTRODUÇÃO[1]

Existe uma revistinha de quadrinhos em inglês[2], em que Calvino e Hobbes estão caminhando e Calvino diz: “Você sabe qual é o problema com o universo?”

Então Hobbes responde: “O quê?”

Calvino diz:  “É porque Não há linha direta de atendimento ao cliente para reclamações! É por isso que as coisas não são consertadas. Se o Universo tivesse algum gerenciamento decente, nós teríamos um reembolso total se não estivéssemos completamente satisfeitos! ”

Hobbes objeta: “Mas, ei, o universo é livre”.

Ao que Calvino responde: “Veja, isso é outra coisa. Eles devem ter uma taxa de cobertura para manter fora toda a ralé.

Se formos honestos, muitos de nós desejam que a ralé simplesmente desapareça ou que sejam punidos.

Nós tendemos a ser muito duros com as pessoas quando elas fazem coisas que nos incomodam. Pedimos que a justiça de Deus seja derramada sobre os outros, enquanto nós mesmos ansiamos pela graça de Deus.

É como uma mulher arrogante em Londres que pediu a um pintor famoso que fizesse seu retrato. Ela acrescentou: “E veja que a pintura me faça justiça.” Dando uma olhada nas características duras do rosto dessa mulher impetuosa, o pintor observou: “Madame, o que você precisa não é justiça, mas misericórdia e graça!”

Em João 8, chegamos a uma história poderosa sobre a sensibilidade da graça, que ensina claramente que, do ponto de vista da santidade perfeita de Deus, somos todos desgarrados – somos todos pecadores que estão aquém da glória de Deus e precisam desesperadamente, não justiça, mas misericórdia e graça.

Muitos eruditos ao longo dos séculos questionaram a autenticidade do texto em apreço, afirmando que os melhores e os mais antigos manuscritos não contêm essa história.

No entanto, Papias, um discípulo de João, conhecia e expôs essa história. O historiador Eusébio faz referência ao fato de uma mulher que havia cometido muitos pecados ter sido acusada na presença do Senhor.

Agostinho declarou, em caráter definitivo, que algumas pessoas tinham removido de seus códices a seção a respeito da adúltera, por temerem que as mulheres encontrassem nesse texto uma justificativa para a infidelidade?

A noite ainda se despedia, e os raios do sol nem sequer haviam surgido no pico dos montes, quando Jesus retorna do monte das Oliveiras para o templo. Como todo o povo foi ter com ele, Jesus se assentou e passou a ensiná-lo.

É nesse cenário que os escribas e fariseus trazem uma mulher apanhada em flagrante adultério e atiram-na aos seus pés.

Esses fiscais da vida alheia não estavam interessados na lei, nem na mulher, nem no ensino de Cristo; eles estavam agindo desonestamente, armando uma armadilha para apanhar Jesus de surpresa.

Esse episódio nos leva a entender que o tribunal dos homens é mais rigoroso que o tribunal de Deus, pois no tribunal dos homens a mulher saiu envergonhada e condenada; mas, no tribunal de Cristo, ela foi exortada a deixar seu pecado e a recomeçar sua vida.

O tribunal dos homens é mais rigoroso do que o tribunal de Deus. Davi quis cair nas mãos de Deus, e não nas mãos dos homens. No tribunal dos homens, vemos um Herodes no trono e um João Batista na prisão.

No tribunal de Deus, mesmo um ladrão condenado e à beira da morte é salvo. No tribunal dos homens, José do Egito, mesmo inocente, vai para a prisão.

No tribunal dos homens, Jesus, um inocente, é condenado à morte de cruz, e Barrabás, um salteador, recebe indulto.

No tribunal dos homens, essa mulher apanhada em adultério está prestes a ser apedrejada; mas, no tribunal de Deus, ela é perdoada e absolvida.

Vejamos o desfecho desta história.

  1. A depravação da mulher (8.1-3)

Chamo a atenção a seguir para cinco fatos em relação a essa mulher.

(a) aproveitando a festa para pecar: A festa dos tabernáculos estava chegando ao fim. As caravanas já se haviam dispersado.

O povo que tinha vindo de todas as cidades, vilas e campos e permanecido uma semana habitando em cabanas improvisadas, já estava enrolando suas tendas para voltar para casa.

Ela aproveitou o burburinho da multidão para dar vazão aos seus desejos e cair nas teias do pecado.

(b) ela traiu seu marido. Essa mulher era casada. A palavra grega usada aqui para adultério é moikeia, que descreve uma relação extraconjugal.

Ela violou os votos de fidelidade conjugal, quebrou a aliança, feriu a lei de Deus e transgrediu o sétimo mandamento.

Alguns comentaristas dizem que essa mulher não poderia ser casada, porque a lei de Moisés especifica a morte por apedrejamento somente no caso de uma moça prometida em casamento que fosse culpada de adultério (Dt 22.23-30).

No entanto, para uma mulher casada que viesse a cometer esse pecado, a ordem era que perdesse sua vida, embora não se indique a maneira pela qual essa punição devesse ser aplicada.

Mas, em oposição a esse entendimento, permanece o fato de que o termo “adultério” aponta, em caráter definitivo, para alguém que já está casado.

O adultério era considerado um dos três pecados mais terríveis na concepção dos judeus. Os rabinos diziam: “Todo judeu deve morrer antes de cometer idolatria, assassinato e adultério”.

(c) Ela foi flagrada no ato do seu pecado. Essa mulher não tinha desculpa. Não havia como fugir ou negar seu envolvimento sexual com outro homem.

Muitas pessoas mentem, enganam tentam escapar mesmo sendo pego na pratica do ato. Não era o caso dessa mulher.

(d) Ela foi humilhada publicamente. A mulher foi arrastada à força. Seus acusadores não a trataram com dignidade. Não a viram como uma pessoa que tem nome e sentimentos, mas apenas como mais um caso.

Levaram-na para o pátio do templo, um lugar público, e a colocaram de pé diante da multidão, na frente de Jesus. Expuseram-na ao opróbrio. Esmagaram-na emocionalmente. Ultrajaram-na em público.

(e) Ela cometeu um pecado passível de morte. A lei de Moisés previa a morte para o homem e a mulher flagrados no ato do adultério (Lv 20.10).

No caso de moça virgem desposada, ou seja, noiva, a lei estabelecia a pena do apedrejamento tanto para a moça como para quem se deitasse com ela (Dt 22.23,24).

Portanto, no tribunal da lei, essa mulher estava condenada. No tribunal dos religiosos, ela é acusada. No tribunal da opinião pública, ela é condenada como uma ninguém.

No tribunal da consciência, ela é condenada, pois não se defende. Ela era a própria figura da miséria.

  1. A depravação dos acusadores (8.4-7a)

Era festa em Jerusalém, e os escribas e fariseus estavam cheios de inveja de Jesus. Eles queriam matá-lo (7.19) ou prendê-lo (7.30,31). Mandaram os guardas detê-lo (7.32). Os guardas voltam extasiados com as palavras de Jesus, e os judeus ficam furiosos (7.47).

A multidão se dispersa para o outro dia. De madrugada, Jesus volta a falar à multidão. Então, eles se lançam contra Jesus nesse incidente.

Levam a prisioneira ao tribunal (8.3), apresentam acusação contra ela (8.4), anunciam os estatutos sobre os quais ela era acusada (8.5) e pedem que Jesus julgue o caso (8.5,6).

A seguir, destacamos quatro atitudes dos acusadores.

(a) Uma conduta grosseira (8.3,4). “O motivo[3] dos fariseus não era o amor a Deus, nem o zelo pela justiça, nem a paixão pela pureza e pela santidade, muito menos a indignação contra o pecado”.

Mas apenas o desejo de confundir Jesus, Forçando-o a dizer alguma palavra ou frase que pudesse servir de base para sua prisão, condenação e morte.

Os fariseus usavam a autoridade para condenar, e não para restaurar. Eram detetives, e não pastores.

E foram grosseiros com a mulher e com Jesus. Em relação à mulher, não se importaram com ela nem com sua família.

Ela era apenas uma peça de um jogo sujo contra Jesus. Usaram-na para os seus propósitos ímpios. Expondo- a à vergonha pública.

Para os acusadores, aquela mulher não tinha nome, personalidade, coração, sentimento nem emoções; não era mais que uma peça no jogo com o qual tratavam destruir Jesus.

Em relação a Jesus, eles queriam encontrar um motivo para acusá-lo e matá-lo. E assim intentaram três coisas contra ele.

Primeiro, tentaram jogar Jesus contra a lei de Moisés;

segundo, tentaram jogar Jesus contra a lei romana;

terceiro; tentaram jogar Jesus contra o povo.

O alvo dos fariseus era colocar Jesus diante de um dilema: se ele perdoasse e absolvesse a mulher, estaria em oposição à lei de Moisés e contra ele se poderia argumentar que estava fomentando as pessoas a cometerem adultério (Lv 20.10; Dt 22.22-24).

Se Jesus condenasse a morte, estaria usurpando atribuições do governo romano (18.28-31), porque os romanos haviam retirado dos judeus o poder de infligir penas capitais.

Se Jesus rejeitasse[4] a lei de Moisés, sua credibilidade seria instantaneamente minada: ele seria descartado como uma pessoa sem lei e talvez fosse acusado de crimes graves nos tribunais.

Se ele mantivesse a lei de Moisés, não somente estaria apoiando uma atitude largamente impopular, como também algo que provavelmente não era aplicado mais como pena pelo adultério.

Teria sido difícil harmonizar com sua conhecida compaixão pelos subjugados e desacreditados com a validação de um ato tão cruel; o apedrejamento.

Se, em nome de Moisés, Jesus pronunciasse a sentença de morte sobre essa mulher, e ela fosse de fato executada, ele teria infringido os direitos exclusivos do governador romano, o único que nesse período detinha autoridade para impor sentenças de morte.

O cristianismo de algumas pessoas parece consistir em ódio a seus semelhantes ou na paixão de ver os outros castigados.

O caráter dessas pessoas revela-se muitas vezes pelos meios que elas empregam para atingir seus propósitos.

(b) A Hipocrisia dos acusadores (8,5). Hipocrisia é falar ou fazer alguma coisa e sentir outra. Podemos ver vários sinais de hipocrisia neles. Eles professaram grande zelo e reverência pela lei.

Pareciam ser guardiões dos oráculos divinos. Eram santos homens que velavam pelo cumprimento fiel das Escrituras, mas maquinavam matar Jesus.

Por isso, zombaram de Deus e desrespeitaram a lei que pareciam defender, eles professavam grande preocupação pela moralidade privada e pública.

São como muitos hoje que defendem com unhas e dentes os valores da família. Apresentaram-se como grandes defensores da família, mas são divorciados.

O adultério é, de fato, um atentado contra Deus, o cônjuge, os filhos, o corpo, a igreja. Mas eles não eram zelosos da família. A intenção deles eram matar Jesus.

Eles demonstraram grande respeito para com Cristo. Eles o chamaram de mestre, de Rabi, enquanto no coração maquinavam o mal contra ele.

São traidores, falsos e mentirosos. São cheios de veneno e enganadores.

Eles professaram estar em grandes dificuldades e ansiosos por luz e ajuda. Eles não estavam interessados na mulher, nem na lei, nem na moralidade pública.

Estavam cheios não de zelo pelo cumprimento da lei, mas de inveja por Cristo. Eles queriam mesmo era pegar Jesus numa armadilha. Não buscavam a glória de Deus, mas a projeção de si próprios.

Que hipócritas! Eles acusam uma mulher de adultério como parte de seu esquema de cometer assassinato!

Os fariseus justificaram a sua hipocrisia da mesma maneira que muitos de nós olhamos para os nossos pecados como desculpáveis, enquanto nos demos conta de como as outras pessoas vivem.

Uma pesquisa recente levantou a questão: “De quinze figuras proeminentes, quem tem maior probabilidade de ir para o céu?” Madre Teresa recebeu 79%; Oprah Winfrey, 66%; Bill Clinton, 52%; Pat Robertson, 47%; Dennis Rodman, 28%; OJ Simpson, 19%.

Mas nenhuma dessas celebridades recebeu a maior pontuação, do que os entrevistados atribuíram surpreendentemente a si mesmos. 87% acreditavam que eles próprios iriam para o céu.

(c) A malicia dos acusadores. Eles não se importaram com a vida da mulher (8.3,5). Eles expuseram a mulher a uma situação de vergonha pública.

Queriam eliminá-la como um objeto descartável, no coração deles, não havia amor. Evocavam a lei para matar, e não para amar.

O interesse principal dos acusadores não era a mulher. Eles apenas a estavam usando como um laço para pegar Jesus. Este, sim, era a verdadeira vítima!

E, para realizarem esse propósito diabólico contra Jesus, jogaram para o alto qualquer gentileza ou vergonha que tivessem.

A vergonha e os temores da mulher, ao ser exposta publicamente, não lhes significava nada, com tanto alcançassem o objetivo que tinham proposto. Assim eram os líderes religiosos de Jerusalém.

Eles usaram a lei para tentar (8.5). O propósito deles era tentar Jesus. Fizeram da lei uma isca, uma armadilha.

Usaram a lei para alcançar seus propósitos malignos. Satanás também usa a Palavra de Deus para tentar. Eles bajularam Jesus para tentei-lo (8.4).

Eles chamavam Jesus de mestre, mas não o honravam, não o ouviam, nem lhe obedeciam. Aquela era uma lisonja falsa, um elogio falaz, uma bajulação hipócrita.

Eles persistiram no mesmo erro (8.7). Aqueles fiscais da vida alheia estavam cegos e com o coração endurecido. Só conseguiam ver o pecado dos outros, mas não os próprios.

O zelo pela lei não era para salvar vidas, mas para condená-las. Eles eram acusadores, e não ajudadores.

(d) A conduta reprovável dos acusadores.

Eles não amavam a lei nem aborreciam o pecado. Não buscavam a glória de Deus, mas a glória pessoal. Não estavam preocupados com a honra do nome de Deus, mas com o próprio prestígio.

Eles revelaram ser parciais e preconceituosos. Só trouxeram a mulher e deixaram o homem escapar. A lei previa morte para o homem também. Acusaram o mais fraco. Revelaram parcialidade e preconceito.

Eles se tornaram mais culpados do que a acusada. Tornaram-se culpados pela lei que defendiam. Foram declarados culpados no tribunal da consciência, pela dureza do coração.

A ré saiu perdoada, e eles acabaram ainda mais endurecidos. Ela absolvida; eles condenados.

Ironicamente, aqueles que quiseram montar uma armadilha para Jesus saíram envergonhados; aqueles que desejaram condenar a mulher saíram condenados.

Infelizmente, o senso de culpa deles não os levou ao arrependimento e à fé em Cristo.

Aqui está uma grande verdade: Os mais depravados e maus são os mais severos acusadores!

  1. A misericórdia de Jesus (8.7b-11)

Destaco quatro atitudes de Jesus nesse julgamento.

(a) quem julga a falta dos outros, não devem comete-las (8.7).

Jesus já havia advertido no Sermão do Monte que não devemos julgar para não sermos julgados. Jesus falou que, com a medida que julgarmos, seremos julgados.

Alertou acerca do perigo de querermos tirar o cisco do olho do outro, enquanto temos uma trave no nosso.

Corremos o risco de exigir dos outros aquilo que não praticamos. Somos intolerantes com os outros e complacentes com nós mesmos. Somos críticos com os outros e tolerantes com nós mesmos.

Jesus usa aqui uma referência direta de Deuteronômio 17.7 e Levítico 24.14 — as testemunhas do crime devem ser as primeiras a atirar a pedra, e não podem ter participação no crime em si.

As Escrituras ordenam a igreja que julguem aqueles que pecam, mas os que estão exortando os que pecam não podem condenar um pratica que eles mesmos estão praticando.

(b) Os pecados dos acusadores revelados (8.6-9). Jesus poderia ter tornado público o segredo do coração desses acusadores.

Poderia ter exposto a condição deles diante de todos. Mas, guardou silêncio diante da acusação e passou a escrever como dedo no chão.

Embora o texto não diz o que Jesus escreveu, mais Barclay[5], diz que alguns manuscritos posteriores têm sugestões interessantes ele cita a versão armênia do Novo Testamento traduz esta passagem da seguinte forma:

“Ele mesmo, reclinando a cabeça, escrevia com o dedo sobre o chão para declarar os pecados desses homens e eles viam seus distintos pecados sobre as pedras.”

O que sugere é que Jesus escrevia no chão os pecados dos homens que acusavam à mulher.

Pode haver algo de verdade nisto. A palavra grega com que se expressa escrever é grafein; mas a palavra que se emprega aqui é katagrafein, que pode significar escrever uma acusação contra alguém.

(Um dos significados de kata é contra.) Em Jó 13:26, ele diz: “Escreves (katagrafein) contra mim coisas amargas.”

Pode ser que Jesus enfrentasse a esses sádicos tão seguros de si mesmos com a lista de seus pecados.

Então Jesus disse: Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirar uma pedra nela (Jo 8.7).

Outra questão que reforça este argumento é a palavra grega anamartetos, “sem pecado”, que significa não só sem pecado, mas também sem um desejo pecaminoso.

Jesus está dizendo, vocês podem apedrejá-la, desde que vocês nunca tenha praticado o adultério, ou outro tipo de pecado digno de morte; e que nunca nem mesmo tenha desejado no coração cometer tais pecados.

Jesus tocou na ferida deles: Se vocês nunca praticaram e nem mesmo desejarem fazer, então vocês são anamartetos, “sem pecado”.

Jesus está dizendo a esses homens (e para nós): “Você não é melhor do que ela é. Seus corações estão cheios de assassinato e ódio.

”Alguém disse que se nossos pensamentos internos estivessem escritos em nossas testas, nós sempre usaríamos um chapéu!

O pecado deles era pior do que o pecado daquela mulher. Ela estava envergonhada e sem coragem de levantar o rosto por causa do seu pecado, mas eles nutriam indiferença para com a mulher e inveja e ódio de Jesus a ponto de tramarem matá-lo.

Em vez de julgar a mulher, Jesus julgou os juízes. O contexto desse episódio é ainda a afirmação pública de Jesus, realizada no templo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.

Os judeus estão rejeitando essa oferta feita pelo Messias. Quais são as implicações dessa rejeição?

Há uma profecia em Jeremias 17.13 que diz: Ó senhor, esperança de Israel, todos aqueles que te abandonarem serão envergonhados. Os que se apartam de ti terão seus nomes escritos na poeira; porque abandonam o Senhor, a fonte de águas vivas.

Faltaram neles a convicção de seus pecados. Convicção é boa, não é ruim. É a maneira de Deus nos deixar saber o quanto Ele se importa conosco. Sem convicção de pecados, não poderemos mudar.

Um grande cristão britânico (GK Chesterton) demonstrou sua consciência do impacto do pecado em sua própria vida quando respondeu a uma pergunta do London Times perguntando o que havia de errado com o mundo[6].

Sua notável resposta: “Prezados Senhores: em resposta à sua pergunta: O que há de errado com o mundo? Com toda a sinceridade, Sou eu, GK Chesterton.

Seja corajoso, não um covarde. Os fariseus tiveram suas feridas e suas necessidades abertas por Cristo, mas em vez de ficarem perdoados e purificados, eles foram embora.

Não fuja dele. Somos deixados, como esta mulher, a sós com Jesus. Você sente que seus pecados começaram a controlar sua vida?

Enfrente-os, não corra. Reconheça-os. Quando você faz, você pode ter a liberdade que você deseja.

O que você faz ou fará quando for confrontado em seus pecados, você os reconhecerá, ou vai embora da igreja?

(c) A miséria e a misericórdia. (8.10,11).

Jesus e a mulher ficaram sozinhos. Como o expressa Agostinho: “Ficou uma grande miséria e uma grande misericórdia.

Jesus á está valorizando a lei, e expondo a gravidade do pecado, mas oferecendo graça a mulher para restaurá-la (8.7).

A atitude de Jesus nesta palavra, revelam três verdades profundas: a lei é santa; o pecado é maligno; o seu amor pelos pecadores é infinito.

A lei e a graça se complementam e não concorrem entre si[7]. Ninguém jamais foi salvo por guardar a lei, mas ninguém foi salvo pela graça sem que antes tivesse sido convencido de seus pecados pela lei.

Jesus expõe os próprios acusadores ao opróbrio (8.7-9). Aqueles que expuseram a mulher ao ridículo, agora são denunciados o segredo do coração deles.

Jesus age com misericórdia com a mulher e expõe a condição miserável dos acusadores dela.

Acusados pelo tribunal da consciência, foram se retirando um a um a começar dos mais velhos até os mais moço.

Aqueles que tinham vindo para envergonhar Jesus saíram por fim envergonhados. Jesus age com misericórdia com a mulher (8.10,11).

A mulher merecia morrer, mas ele usa seu poder para restaurar. Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido. Ele veio para os doentes. O perdão não é barato. Jesus deu sua vida.

Ele valoriza aquela mulher, chamando-a por um título honroso, o mesmo que usou para sua mãe: Mulher.

O perdão não é um salvo-conduto para pecar. Jesus não condenou a mulher, mas ordenou que ela abandonasse seu estilo de vida pecaminoso.

(d) Jesus restaura esta mulher (8.10,11).

A grande beleza dessa história é como Jesus tratou essa mulher; com dignidade e compaixão. Ele oferece uma segunda chance.

Jesus não diminuiu a gravidade do seu pecado. Ele não disse que ela era inocente ou que seu pecado não tinha importância. Jesus não tratou o pecado com leviandade.

Ele mostrou que a graça exige um novo começo. Não importa o que você fez ou onde esteve pecando. Você pode ter um novo começo. Você pode começar de novo.

Deste dia em diante, você pode levar uma vida de pureza sexual. Se você cometeu alguns erros, não os deixe ditar o seu futuro.

Faça um compromisso hoje, agora mesmo, para começar de novo. Com a ajuda de Jesus, você pode. Nunca é tarde demais.

Você já se perguntou por que Jesus deixou a mulher ir? Afinal de contas, havia Uma pessoa presente que estava qualificado por sua própria impecabilidade para lançar a primeira pedra – o próprio Jesus.

Se Jesus se importava tanto com a lei de Deus, por que ele não insistiu que o pagamento fosse feito pela transgressão da mulher?

Ele não a condenou porque Ele foi condenado por ela.

Ele não estava varrendo seus pecados debaixo do tapete, apenas antecipando derramar Seu sangue por ela na cruz.

Essa é a solução de Deus para o pecado – não ignorá-lo ou minimizá-lo, mas levá-lo a Si mesmo.

O perdão de Jesus da adúltera era de graça, mas não era barato. Custou-lhe tudo, e esse alto custo deve nos fazer estremecer com a seriedade do nosso pecado.

Na realidade, a mulher foi abençoada naquele dia. Seu parceiro pode ter escapado, e os líderes certamente saíram apressados ​​quando o calor foi aumentado, mas pelo menos ela não se afastou.

Os líderes eram covardes; ela era corajosa. Quando você pensa sobre isso, ela poderia ter ido embora também.

Enquanto Jesus se abaixava, escrevendo no chão, ela poderia ter escapado. Mas algo a manteve lá. A graça a manteve lá.

Ele não mandou a mulher para casa como se nada tivesse acontecido. Jesus não a condena.

Jesus a encorajou. Ele disse a ela: Vai. Volta à vida. Não fique carregando seus traumas, recalques e culpa.

Ela vai livre, perdoada, restaurada e com dignidade. Jesus a exortou a não voltar ao pecado.

A natureza do verdadeiro arrependimento não é o arrependimento e novamente o arrependimento, mas o arrependimento e frutos dignos do arrependimento.

O arrependimento é mais do que um sentimento; é a firme atitude de abandonar o pecado. O perdão de Cristo em sua graça não é uma desculpa para pecar.

Nada de reincidência pois Jesus aborrece o pecado. Quem vive na pratica dos mesmos pecados, é porque nunca se arrependeu sinceramente.

Jesus está abrindo uma avenida de obediência para ela. A lição eloquente que fica é esta: Os mais santos são os mais misericordiosos

CONCLUSÃO: Há um livro muito desafiador em inglês chamado: Eu dei Adeus ao Namoro de Joshua Harris.

Em um dos capítulos, o autor relata um sonho que teve uma noite que combina bem com este relato bíblico. Autor chama de “O quarto”.

Não havia características distintivas na sala, exceto por uma parede coberta com pequenos arquivos de cartão de índice. Eles eram como aqueles em bibliotecas que listam títulos por autor ou assunto em ordem alfabética.

Mas esses arquivos, que se estendiam do chão ao teto … tinham títulos bem diferentes … o primeiro a chamar minha atenção foi aquele que dizia: “Garotas que eu gostei”.

E então, mesmo sem ser informado, eu sabia exatamente onde eu estava. Este quarto sem vida, com seus arquivos pequenos, era um sistema de catálogo primitivo para a minha vida.

Aqui estavam escritas as ações de todos os momentos, grandes e pequenos, em um detalhe que minha memória não podia igualar.

Uma sensação de admiração e curiosidade, juntamente com o horror, agitou-se dentro de mim quando comecei a abrir aleatoriamente arquivos e explorar o seu conteúdo.

Alguns trouxeram alegria e doces lembranças; outras, uma sensação de vergonha e arrependimento tão intensa que eu olhava por cima do meu ombro para ver se alguém estava me observando.

Um arquivo chamado “Amigos” estava ao lado de um arquivo marcado como “Amigos que traí”.

Os títulos variaram de coisas mundanas e completamente estranhas que tinha feito. “Livros que eu li.” “Piadas que eu ri.” “Coisas que eu fiz com raiva.” Muitas vezes havia muito mais cartões do que eu esperava. Às vezes, havia menos do que eu esperava.

Fiquei impressionado com o volume da vida que eu vivi. Poderia ser possível que eu tivesse tempo para escrever cada um desses milhares, possivelmente milhões, de cartões?

Mas cada cartão confirmava essa verdade. Cada um foi escrito com minha própria caligrafia. Cada um estava com minha própria assinatura.

Quando cheguei a um arquivo marcado “Pensamentos luxuriosos”, senti um calafrio percorrer meu corpo. Puxei o arquivo apenas uma polegada, não desejando testar seu tamanho, e tirei um cartão.

Estremeci com seu conteúdo detalhado. Eu me senti tão mal ao pensar que esse momento havia sido gravado.

De repente, senti uma raiva quase animal. Um pensamento dominou minha mente: “Ninguém deve ver essas cartas! Ninguém deve ver esse quarto! Eu tenho que destruí-los!

Em um frenesi insano eu puxei o arquivo para fora. Seu tamanho não importava agora. Eu tenho que esvaziar e queimar essas cartas.

Mas quando peguei o arquivo em uma das extremidades e comecei a bater no chão, não consegui desalojar uma única carta.

Fiquei desesperado e tirei uma carta, apenas para rasga-la, mas ela era tão forte, quanto é aço, que não consegui.

Derrotado e totalmente desamparado, devolvi o arquivo ao seu lugar. Inclinando minha testa contra a parede, soltei um longo suspiro de autopiedade … e então as lágrimas vieram.

Eu comecei a chorar. Soluços tão profundos que a dor começou no meu estômago e sacudiu através de mim. Eu caí de joelhos e chorei. Eu gritei de vergonha, da vergonha esmagadora disso tudo.

As fileiras de prateleiras de arquivo rodaram nos meus olhos cheios de lágrimas. Então pensei: ninguém jamais deve saber dessa sala. Preciso tranca-la com uma chave e escondê-la.

Mas então, quando enxuguei as lágrimas, eu alguém. Então eu disse: Não, por favor, não, ele não. Aqui não. E quem estava lá era ele mesmo Jesus.

Eu assisti impotente quando ele começou a abrir os arquivos e ler os cartões. Eu não suportaria assistir a sua resposta.

E nos momentos em que consegui olhar para o rosto dele, vi uma tristeza mais profunda que a minha. Ele parecia intuitivamente ir para as piores caixas. Por que Ele teve que ler cada um?

Finalmente ele se virou e olhou para mim do outro lado da sala. Ele olhou para mim com graça em seus olhos. Mas isso foi uma compaixão que não me irritou.

Eu abaixei minha cabeça, cobri meu rosto com as mãos e comecei a chorar novamente. Ele se aproximou e colocou o braço em volta de mim.

Ele poderia ter dito tantas coisas. Mas ele não disse uma palavra. Ele apenas chorou comigo.

Então ele se levantou e caminhou de volta para a parede de arquivos. Começando em uma extremidade da sala, ele pegou um arquivo e, um por um, começou a assinar seu nome em cima do meu em cada cartão.

“Não!” Eu gritei, correndo para ele. Tudo o que consegui dizer foi: “Não, não”, enquanto eu puxava o cartão dele.

Seu nome não deveria estar nesses cartões. Mas ali estava escrito em vermelho tão rico, tão escuro e tão vivo. O nome de Jesus cobriu o meu. Foi escrito com o Seu sangue.

Ele gentilmente pegou o cartão de volta. Ele sorriu um sorriso triste e continuou a assinar os cartões.

Acho que nunca vou entender como Ele fez isso tão rapidamente, mas no instante seguinte pareceu ouvi-lo fechar o último arquivo e voltar para o meu lado.

Ele colocou a mão no meu ombro e disse: “Está consumado”.

 

[1] Sermão adaptado do comentário de João; editora Hagnos; Hernandes Dias Lopes.

[2] https://www.preceptaustin.org/gospel-of-john-sermons-brian-bill.

[3] Charles Erdman

[4] D. A. Carson

[5] William Barclay; comentário de João.

[6] www.preceptaustin.org/gospel-of-john-sermons-brian-bill

[7] Wiersbe