SERMÃO: JOÃO E O SEU EVANGELHO

Referência: João 21:24

INTRODUÇÃO

João é o evangelho do filho de Deus. Hernandes Dias Lopes diz que “Precisamos tirar as sandálias dos nossos pés. O território no qual vamos caminhar doravante (daqui em diante) é terra santa. O evangelho de João é o santo dos santos de toda a revelação bíblica”. Duas verdades se destacam aqui:

Em primeiro lugar: O evangelho de João é livro mais importante da história. Steven Lawson chama-o de o monte Everest da teologia, o mais teológico dos evangelhos. Provavelmente, é a mais importante peça da literatura que há no mundo. Para William Hendriksen, o evangelho de João é o livro mais maravilhoso já escrito. Ele é descrito pelos eruditos como “o evangelho universal” dirigidos a todos os crentes de todos os tempos. E especialmente para evangelizar as nações.

Mateus apresentou Jesus como Rei, Marcos como servo e Lucas como homem perfeito. João, por sua vez, apresenta Jesus como Deus. Os três primeiros evangelhos são chamados sinóticos porque têm grandes semelhanças entre si. João, porém, distingue-se dos demais em seu conteúdo, estilo e propósito.

Embora tenhamos quatro evangelhos escritos, não temos quatro evangelhos; temos apenas um evangelho, escrito de quatro pontos de vista diferentes. Temos uma biografia elaborada por quatro testemunhas oculares, cada escritor provendo uma perspectiva peculiar. Os quatro evangelhos bíblicos apresentam o único evangelho da salvação em Jesus Cristo, segundo quatro testemunhas importantes: Mateus, Marcos, Lucas e João.

Em segundo lugar: O Evangelho de João é o livro mais usado pelos crentes.

Dentre os quatro evangelhos, João é o mais usado pelos cristãos de todos os tempos, e com propósitos variados. Ele é considerado o mais conhecido e o mais amado livro da Bíblia. Estudantes universitários distribuem copias gratuitas a seus amigos na esperança de que conheçam o salvador. Cristãos idosos, em seus leitos de morte, pedem que lhes sejam lidos trechos desse evangelho. Acadêmicos escrevem dissertações sobre o relacionamento de João e algum antigo corpus da literatura. Crianças memorizam capítulos inteiros e cantam canções baseadas em suas verdades.

Incontáveis sermões têm sua linha-mestra fundamentada nesse livro ou em alguma parte dele, como faremos nessa série aproximadamente 30 sermões.Ele esteve, praticamente, no centro da controvérsia cristológica do século XV e, nos últimos 150 anos, tem estado no cerne do debate sobre a relação entre a história e Teologia. O versículo mais conhecido da bíblia é João 3:16, e até uma criança pequena pode recita-lo.

Neste evangelho, o amor de Deus é dramaticamente mediado por Jesus Cristo, tanto que se alega que Karl Barth comentou que a mais profunda verdade que já se ouviu foi “Jesus me ama, eu sei/ pois a bíblia assim o diz”. Destacaremos a seguir alguns pontos importantes para uma introdução ao livro.

  1. O autor do quarto evangelho.

Os quatro evangelhos são anônimos, ou seja, não trazem o nome de seu autor em seu próprio texto, pois seus escritores não se acharam dignos de reclamar a autoria de seus escritos. Mas há inconfundíveis e irrefutáveis evidências internas e externas de que esse evangelho foi escrito pelo apóstolo João, irmão de Tiago, filho mais  novo de Zebedeu, que era suficientemente rico para empregar trabalhadores que o ajudavam no seu trabalho. Sua mãe era Salomé (Mc 15.40; Mt 27.56), a qual contribuiu financeiramente com o ministério de Jesus (Mt 27.55,56) e pode ter sido irmã de Maria, mãe de Jesus (Jo 19.25). Se essa interpretação for verdadeira, então João e Jesus eram primos.? Sem apresentar seu nome, o autor se identifica simplesmente como testemunha, em sua conclusão do evangelho: E é esse o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as escreveu (21.24).

Junto com Pedro e Tiago, João formou o grupo mais íntimo dos três discípulos que estiveram com Jesus na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37), na transfiguração (Mc 9.2) e na sua angústia no jardim de Getsêmani (Mc 14.33). Dos três, João era o mais íntimo de Jesus. Ele é conhecido como o discípulo amado (13.23). Foi João quem se inclinou sobre o peito de seu mestre durante a ceia pascal; foi ele quem acompanhou seu Senhor ao julgamento, quando os demais discípulos fugiram (Jo 18.15). De todos os apóstolos, foi ele o único que esteve ao pé da cruz para receber a mensagem do Senhor antes de expirar (19.25-27) e cuidou de Maria, após a morte de Jesus (19.27).

Depois da ascensão de Cristo, João tornou-se um dos grandes líderes da igreja de Jerusalém (At 1.13; 3.1-11; 4.13-21; 8.14; G12.9). De acordo com a tradição, João mudou-se para Éfeso, capital da Ásia Menor, onde viveu os últimos anos de sua vida, como líder da igreja na região. Foi banido para a ilha de Patmos, no governo de Domiciano, onde escreveu o livro de Apocalipse. Com a ascensão de Nerva, João recebeu permissão para retornar a Éfeso, onde morreu aos 98 anos, no início do reinado de Trajano (98-117).  João foi o único apóstolo de Jesus que teve morte natural. Os demais morreram pelo viés do martírio.

A antiga literatura patrística faz referências ocasionais ao apóstolo, deixando evidente que ele era morador de Éfeso. Westcott cita Jerônimo, que relatou: “Permanecendo em Éfeso até uma idade avançada — podendo ser transportado para a igreja apenas nos braços de seus discípulos, e incapaz de pronunciar muitas palavras —, João costumava dizer não muito mais do que: Filhinhos, amai-vos uns aos outros.  Por fim, os discípulos que ali estavam, cansados de ouvir sempre as mesmas palavras, perguntaram: — Mestre, por que sempre dizes isto? — É o mandamento do Senhor —  foi a sua digna resposta — e, se apenas isto for feito, será o suficiente”?

  1. F. Bruce diz que a evidência interna da autoria joanina para esse evangelho decorre do fato de que ele foi escrito: a) por um judeu palestino; b) por uma testemunha ocular; c) pelo discípulo que Jesus amava; d) por João, filho de Zebedeu.

Tanto João quanto seu irmão Tiago foram chamados de filhos do trovão, possivelmente por causa de seu temperamento impetuoso. Eles queriam que fogo do céu caísse sobre os samaritanos que se recusaram a hospedar Jesus (Lc 9.54). Foi João quem relatou como ele e seus amigos tentaram impedir um homem de expulsar demônios em nome de Jesus, porque o tal não fazia parte de seu grupo (Lc 9.49). Certa feita, João e Tiago tentaram tirar vantagens de seu relacionamento mais próximo com Jesus, cobiçando um lugar de honra em seu reino futuro (Mc 10.35-45). Na mesa da ceia (13.24), no túmulo vazio (20.2-10) e à beira do lago (21.7,20), João é associado de maneira especial com Pedro. Essa associação continua em vários episódios registrados no livro de Atos (At 3.1-23; 8.15-25).

O apóstolo Paulo chama Pedro, Tiago (irmão do Senhor) e João de colunas da igreja de Jerusalém (G12.9).  Pais da igreja como Papias, Irineu, Eusébio, Tertuliano, Clemente de Alexandria, dentre outros, deram amplo testemunho da autoria joanina para esse evangelho. O Cânon muratoriano, do segundo século, ano 170 d.C., também atribui esse evangelho a João.” Segundo o historiados Eusébio, Clemente de Alexandria escreveu: “Mas aquele João, depois de tudo, consciente de que os fatos exteriores encontravam-se relatados nos evangelhos, a pedido de seus discípulos e divinamente, movido pelo Espirito de Deus, compôs um evangelho espiritual”. De sorte que no fim do segundo século, o evangelho de João era reconhecido normalmente nas igrejas cristãs como um dos evangelhos canônicos.

Nossa principal testemunha desse período é Irineu, que veio de sua terra natal, na província da Ásia, pouco depois de 177 d.C., para se tornar bispo de Lion”. Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez era discípulo de João. Irineu tinha plena convicção tanto da autoria joanina como da canonicidade desse evangelho. Atualmente os críticos, cheios de soberba intelectual e dominados pelo ceticismo, questionam a autoria joanina desse evangelho. No entanto, as robustas evidências, tanto internas como externas, confirmam que o apóstolo João, o discípulo amado, foi seu autor.

  1. Os destinatários do evangelho de João.

Mateus escreveu principalmente, para alcançar os judeus; Marcos, principalmente para os leitores romanos; e Lucas, especialmente para os gregos. O evangelho de João, porém, é endereçado ao público geral, a judeus e gentios. O escopo desse evangelho possui abrangência universal. O evangelho de João tem um proposito parecido com o livro de Deuteronômio, escrito para uma geração que não presenciou a passagem pelo mar vermelho e nem os milagres.

Os leitores do quarto evangelho eram cristãos de segunda e terceira geração, como somos nós os crentes Assembleia de Deus no Brasil. Estes cristãos não haviam sido testemunha oculares dos milagres e ministério de Jesus, pois já havia se passado aproximadamente 70 anos da crucificação e ressureição de Jesus. O que sabiam sobre a vida, o ministério, a morte e a ressurreição de Jesus aprenderam ou de ouvir falar, ou por meio da leitura dos primeiros relatos cristãos.

  1. Local e data do evangelho de João.

É consenso entre os estudiosos conservadores, estribados nas evidências históricas, que João escreveu esse evangelho da cidade de Éfeso. Capital da Ásia Menor, onde morou por longos anos, pastoreou a maior igreja gentílica da época, liderou as igrejas da região e morreu já em avançada velhice, nos dias do imperador Trajano.

Não podemos afirmar a data precisa em que esse evangelho foi escrito; todavia, há fortes evidências de que tenha sido entre os anos 80 e 98 d.C. Parece provável que o evangelho foi publicado na província da Ásia uns sessenta a setenta anos depois dos acontecimentos que narra.  Este evangelho e o livro de Apocalipse são os dois últimos livros do novo testamento a ser escrito.

  1. Propósito do evangelho de João.

O evangelho de João tem um propósito específico: apresentar Jesus como o Verbo divino que se fez carne, o criador do universo, revelador do Pai, o Salvador do mundo, por meio de quem recebemos, pela fé, a vida eterna (20.30,31). Os eruditos têm dito que o evangelho de João tem dois objetivos principais:

  1. a) primeiro o objetivo de João era um tanto APOLOGÉTICO, “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”. Como afirma MacArtur: “Isto parece ser uma refutação do gnosticismo que estava em franco avanço no final do primeiro século, que afirmava que Jesus não veio em carne, que só era uma aparência de corpo humano”.
  2. b) o outro objetivo é EVANGELÍSTICO, “e que crendo tenhais vida em seu nome” (20.31). João faz um apelo universal a todos os homens e a todas as mulheres. D.A. Carson, diz que como evangelista João estava escrevendo como um pregador cristão, desejoso de incluir tudo o que conhece, e usando uma linguagem que oferecerá um mínimo de barreira para seus leitores, sejam judeus ou gentios. Uma boa literatura evangelística, não só explica por que devemos nos tornar cristãos e como e como nos tornamos cristãos, mas o que significa ser cristão, e João aborda esses conceitos de maneira bastante precisa.

O propósito de João nos capítulos 1-12 é apresentar o ministério público de Jesus e, nos capítulos 13-21, apresentar seu ministério privado a seus discípulos.  Os capítulos 1-12 abrangem um período de três anos; os capítulos 13-20, focam na última semana da paixão.  E o capitulo 21, após a ressureição. A primeira parte do livro enfatiza os 07 milagres de Jesus, enquanto a segunda parte recorda os discursos feitos aos seus discípulos.

A palavra-chave deste evangelho é o verbo “crer”. Todo o evangelho de João enfatiza que Jesus é filho de Deus, enviado ao mundo para salvação e todo aquele que nele crer terá a vida eterna. A palavra grega “pisteuo”, traduzida por “crer”, aparece 98 vezes no evangelho de João.

Mas o que significa “crer”? Não se trata apenas de uma aceitação intelectual acerca de Jesus. Significa confessar a verdade do evangelho; significa confiar completamente. “Crer em Jesus”, portanto, é colocar plena confiança nele como Salvador. Isso quer dizer que devemos colocar nossa confiança nele, e não apenas em sua mensagem e isto deve influenciar toda à nossa maneira de viver.

  1. Peculiaridades do evangelho de João.

João não aborda os principais temas abordados nos Evangelhos Sinóticos, mas, por outro lado, traz uma gama enorme de material que nem sequer foi mencionado nos outros três evangelhos. Diferentemente dos evangelistas sinóticos, João não trata da vida e do ministério de Jesus, nem faz um acompanhamento minucioso de sua trajetória na Galileia e Pereia. Não registra as parábolas nem as muitas curas operadas por Jesus. Antes, foca sua atenção em provar que Jesus é o Filho de Deus e que, crendo nele, recebemos a vida eterna.

Os quatro evangelhos conjugam as histórias narrativas de Jesus com os discursos, mas João enfatiza mais os discursos. João não traz as parábolas nem menciona o discurso escatológico. Não há nenhum episódio de expulsão de demônios e nenhum relato de cura de leprosos. Não encontramos nesse evangelho a lista dos doze apóstolos nem a instituição da ceia. João não faz referência ao nascimento de Jesus, a seu batismo, transfiguração, tentação, agonia no Getsêmani nem à sua ascensão.Na verdade, cerca de 90% do material literário desse evangelho não é encontrado nos Sinóticos.

A vasta maioria do conteúdo do evangelho de João é peculiar a esse livro, e não aparece nos outros evangelhos; como mostra a descrição do Cristo preexistente e sua encarnação  no primeiro capítulo (1.1-18).

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.

Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.

Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.

Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.

Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;

Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.

João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.

E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça.

Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou”.

Também é único o relato do milagre na festa de casamento em Caná da Galileia (2.1-11), a conversa com Nicodemos sobre o novo nascimento (3.1-21), seu encontro com a mulher samaritana (4.1-42). A cura do paralítico no tanque de Betesda (5.1-15), o discurso sobre o pão da vida (6.22-71), a reivindicação de ser a água da vida (7.37-39). A apresentação de si mesmo como o bom pastor (10.1-39), a ressurreição de Lázaro (11.1-46), o lava-pés (13.1-15). O discurso do cenáculo (13-16), a Oração Sacerdotal (17.1-24), a pesca milagrosa depois da ressurreição (21.1-6) e a restauração e recondução de Pedro ao ministério (21.15-19).  João, outrossim, dá maior ênfase à pessoa e obra do Espírito Santo do que os demais evangelistas.

  1. Ênfases do evangelho de João.

A teologia joanina é a mais completa dos quatro evangelhos. O conteúdo é contemporâneo da visão filosofia do seu tempo no emprego do termo “logos”. Ele tem um conteúdo teológico, que oferece justificativas teológicas explicitas para ações ou motivações de passagens dos outros evangelhos, que não conseguiríamos explicar sem o evangelho de João.

Concordo com D. A. Carson quando diz que; João não dependeu literariamente dos outros evangelhos. Embora tenha conhecimento dos outros evangelhos, ele não fez uso do material do sinóticos, ele escreveu seu próprio livro.

Desde o prólogo, João antecipa o conteúdo de todo o seu evangelho, mostrando-nos que Jesus é o Verbo eterno, pessoal e divino. Aquele que tem vida em si mesmo é o criador do universo. Sem descrever o nascimento de Jesus e sua infância. João apenas nos informa que o eterno Verbo divino se fez carne e habitou entre nós. Sete vezes em João, Jesus emprega a gloriosa expressão “Eu Sou”, a mesma revelada por Deus a Moisés no Sinai.

Eu sou o pão da vida (6.35,48)

Eu sou a luz do mundo (8.12)

Eu sou a porta das ovelhas (10.7,9)

Eu sou o bom pastor (10.11)

Eu sou a ressurreição e a vida (11.25)

Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14.6)

Eu sou a videira verdadeira (15.1,5).

Essas declarações diretas, com a expressão “Eu Sou”, sugerem a reivindicação de ser ele o eterno Eu Sou — o Iavé do Antigo Testamento (4.25,26; 8.24,28,58; 13.19). revelando que Jesus é o Deus que Iavè é.Destaco aqui, algumas ênfases do evangelho de João.

Primeiro, a natureza e os atributos de Deus (1.1,2; 1.14-18; 3.16; 4.24; 5.19-23; 6.45-46; 8.16-19; 10.27-30,34-38; 12.27,28,49,50; 13.3; 14.6-10; 16.5-15,27,28; 17.11; 20.20-22).

Segundo, a humanidade, a queda e a redenção (2.24,25; 3.3-8,19-21,36; 5.40; 6.35,53-57; 7.37-39; 8.12,31-47; 10.27-29; 11.25,26; 14.17; 15.1-8,18-25; 16.3,8; 17.2,3,6-9; 20.22,31).

Terceiro, a pessoa e a obra de Cristo (1.29,51; 2.19; 3.14,34; 4.22,42; 5.25,28; 6.33,40,44,51,53,62; 10.9,11,15; 12.24,32; 13.8; 14.3,18; 16.33; 17.2; 18.14,36; 20.1-21.14).

Quarto, a pessoa e a obra do Espírito Santo (1.13,32; 3.5; 4.24; 6.63; 7.39; 14.16,26; 15.26; 16.7-15; 19.34; 20.22).

Quinto, a vida do novo mundo (3.15,36; 4.14; 5.24; 6.27,37,39,47,51,58; 8.24,51; 10.28; 11.25; 12.25; 14.2).

Sexto, a divindade de Cristo (1.1,14,18,49; 2.11,19; 3.3,13,18,19,31,34; 5.17,22,26,28; 6.20,27,33,35,38,45,54,69; 7.28; 8.12,16,23,28,42,55,58; 9.5; 10.7,11,14,18,30,38; 14.4,25,27,44; 14.1,6,9,14; 16.7,15,23,28; 17.5,10,24,26; 18.5; 20.1-21,25; 20.28).

Sétimo, a humanidade de Cristo (1.14; 4.6; 6.42; 8.6; 11.33,35,38; 12.27; 19.5,30,31-42).

Oitavo, a soberania de Deus na salvação. As grandes doutrinas salvação são fortemente apresentadas pelo apóstolo João nesse evangelho.

Um erudito argumentou que “Se Atanásio não tivesse o quarto evangelho para extrair seus textos, Ário não poderia ser refutado”.(S.F.C. Conybeare). A depravação total é amplamente explorada, pois o homem sem Deus está cego (3.3) e alienado (3.5), incapaz (6.44), escravo (8.34), surdo (8.43-47) e tomado de ódio por Deus (15.23).

A eleição dos santos é igualmente tratada, pois é Deus quem escolhe em Cristo Jesus (6.37-39). Deus nos escolheu do mundo (15.19), e os eleitos, ou seja; os crentes, são dados pelo Pai a Jesus (17.9).  A expiação eficaz é clara, pois Cristo morreu por suas ovelhas, que crrem em seu nome (10.14,15) e dá a vida eterna a todos os que o Pai lhe deu (17.1,2,9,19).

A graça do novo nascimento é obra exclusiva e soberana do Espírito Santo (3.3-8), os mortos espirituais ouvem a voz de Jesus e vivem (5.25; 6.63). E todos aqueles que o Pai dá a Jesus são atraídos pela fé (6.37,44,65) e convocados individualmente a crer nele (10.1-5,8,27).  A PERSEVERANÇA DOS SANTOS é claramente ensinada, pois os que CREEM recebem vida eterna (3.15), salvação eterna (3.16), satisfação eterna (4.14). Proteção eterna (6.38-44), segurança eterna (10.27-30), sustentação eterna (6.51,58), duração eterna (11.25,26) e visão eterna (17.24).

CONCLUSÃO:  Uma palavra de aplicação Pastoral:

O caráter de João era incialmente um homem turbulento e ambicioso, exclusivista e intolerante. Jesus deu a ele e a seu irmão Tiago o nome de Boanerges (filhos do trovão)  (Marcos 9:38; Lucas 9:49). Tao impulsivo era seu temperamento que estavam dispostos a pedir fogo do céu para consumir a aldeia dos samaritanos. Eles e sua mãe Salomé, pediram a Cristo, para que ocupasse um lugar de proeminência no seu reino, coisa que irritou os outros discípulos. Mas a permanência mais próxima de Jesus, mudou radicalmente seu caráter, que passou a ser conhecido como o apostolo do amor.

William Barclay no comentário de João relata histórias sobre o apostolo João, preservadas na tradição cristã. “Podemos seguir a João através das histórias que se contavam sobre ele na Igreja primitiva. Eusébio nos diz que ele foi exilado em Patmos durante o reinado de Domiciano (Eusébio, História Eclesiástica 3:23). Na mesma passagem Eusébio relata uma história típica sobre João, história que tinha recebido de Clemente de Alexandria.

João tinha chegado a ser uma espécie de bispo da Ásia Menor. Visitando uma de suas igrejas que ficava perto de Éfeso, viu entre a congregação um jovem alto e bem-vestido. Voltando-se para o ancião a cargo da congregação, João lhe disse: “Ponho a esse jovem sob sua responsabilidade e cuidado, e chamo a congregação a dar testemunho de que o tenho feito”. O ancião levou o jovem a sua casa, cuidou-o e o instruiu, e chegou o dia em que o jovem foi batizado e recebido na Igreja.

Mas pouco depois entrou em um círculo de amigos viciados e maus e embarcou em uma carreira de crimes e pecados que terminou por converter-se no chefe de uma quadrilha de ladrões e assassinos. Algum tempo depois João voltou a visitar a congregação. Disse ao ancião: “Devolva-me o encargo que eu e o Senhor confiamos a você e à Igreja da qual você é responsável”.

A princípio o ancião não entendia do que João estava falando. “Quer dizer”, disse João, “que lhe estou pedindo a alma do jovem que deixei a seu cargo”. “Ai!” disse o ancião, “morreu”. “Morto?” disse João. “Morreu para Deus”, disse o ancião: “Caiu da graça; viu-se obrigado a escapar da cidade devido a seus crimes e agora é um malfeitor que vive nas montanhas.” João foi imediatamente às montanhas. Com toda deliberação permitiu que a quadrilha de ladrões o capturasse.  Levaram-no perante o jovem, que agora se tornou chefe da quadrilha, e, cheio de vergonha, o jovem quis escapar dele. João, apesar de ser um homem velho o seguiu:

“Meu filho”, exclamou; “você foge de seu pai? Sou débil e de idade avançada; tenha piedade de mim, meu filho; não tenha medo; ainda há esperança de salvação para você. Vou interceder por você perante Cristo nosso Senhor. Se for necessário morrerei por você assim como ele morreu por mim. Pare, fique, creia! É Cristo quem me enviou a você”.

O apelo destroçou o coração do jovem. Parou, arrojou suas armas e chorou. João e ele desceram juntos a montanha e o jovem voltou para a Igreja e à vida cristã. Aí vemos o amor e a valentia de João ainda em ação. Eusébio (3:28) relata outra história sobre João que extraiu da obra de Irineu. Vimos que um dos líderes da heresia era um homem chamado. Cerinto.

“Em uma ocasião, o apóstolo João entrou em um banheiro para banhar-se; mas, quando se inteirou de que Cerinto estava no interior, saltou de seu lugar e correu para fora, porque não podia tolerar permanecer sob o mesmo teto.  Aconselhou a quem estava com ele que fizessem o mesmo. ‘Escapemos’, disse, ‘não seja que caia o banheiro pois Cerinto, o inimigo da verdade, está em seu interior’.”

Aqui temos outro característico do temperamento de João. Boanerges não tinha morrido totalmente. Cassiano conta outra história famosa sobre João. Um dia o encontraram brincando com uma perdiz domesticada. Um irmão mais estreito e rígido o censurou que perdia tempo nessa forma, ao que João respondeu: “O arco que está sempre dobrado logo deixará de apontar diretamente”.

Jerônimo é quem relata a história das últimas palavras de João. Quando João estava morrendo, seus discípulos lhe perguntaram se tinha uma última mensagem para lhes deixar. “Filhinhos”, “amem-se uns aos outros”. Repetiu-o uma e outra vez; e lhe perguntaram se isso era tudo o que tinha a lhes dizer. “É suficiente”, disse, “porque é o mandamento do Senhor”. Esta é, pois, a informação que temos sobre João; dela surge uma figura de temperamento fogoso, de ambição, de coragem indubitável, e, no final, de um amor generoso”.