SERMÃO: SEM VOLTAR ATRÁS

Referência: 1 Reis 19.19-21

 INTRODUÇÃO

 Eliseu deve ter associado sua decisão de seguir a Deus com o cheiro de carne assada, porque quando o profeta Elias chegou e colocou o seu manto sobre os ombros de Eliseu, diz a Escritura: “Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram” (1Rs 19.21). Houve um grande churrasco no Monte Carmelo quando Deus enviou fogo do céu para destruir o sacrifício de Elias. Houve outro churrasco quando Eliseu decidiu seguir o Deus vivo — hambúrgueres e bifes para todo mundo! Depois disso, não havia como voltar atrás — o sustento de Eliseu havia desaparecido no estômago do povo. No momento em que seus bois haviam se transformado em carne bem passada.

Eliseu ficou sem trabalho, e no momento em que sua família e seus amigos haviam lambido as últimas gotas do churrasco suculento de seus pratos, ele não tinha para onde ir. Sua única opção era seguir em frente. Quase podemos imaginar como Eliseu acorda na manhã seguinte e planeja seu dia: “Vamos ver… Preciso arar a roça. Preciso me levantar e alimentar os bois e… Espere um segundo. Acho que estou esquecendo alguma coisa importante… Ah!, sim, os bois!”. A essa altura já era tarde demais para mudar de ideia. A partir de então, o cheiro da carne de boi assando lentamente sobre um arado em chamas o lembraria da profissão que tinha deixado para trás. Eliseu decidiu seguir o Deus vivo — e não havia como retroceder. O churrasco de Eliseu é uma imagem poderosa da dedicação total a Deus.

Quando um pecador decide seguir Jesus, não há como voltar atrás. Pois a decisão de seguir a Cristo, implica sempre em deixar algo que acreditamos ser valioso par trás. Ninguém que tenha decidido por Cristo, que não teve que fazer renuncias que custaram muito. Da mesma forma, quando um cristão ouve o chamado para abandonar um emprego secular e entrar no ministério cristão, não pode haver volta.  Vamos analisar esse texto mais precisamente: 

  1. O Chamado divino

 A primeira lição que devemos aprender com a decisão de Eliseu de seguir a Deus é que Deus chama todos os cristãos para a vida e o ministério. A vida de Eliseu como discípulo e seu ministério como profeta começaram com um chamado divino. O homem não chamou a si mesmo, ele foi chamado por Deus. O chamado de Eliseu começou com aquilo que o Senhor disse a Elias: “Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em seu lugar” (1 Rs 19.16).

Elias estava submerso nas profundezas da depressão espiritual quando Deus lhe deu essas instruções. Acreditando que a obra de Deus era responsabilidade exclusiva dele, ele estava muito desanimado para continuar. Mas Deus restaurou o seu profeta para o ministério ativo, fornecendo-lhe um ajudante. Depois de experimentar o lado negativo (1Rs 19.1-8) e o outro lado do trabalho do reino (1Rs 19.9-14), Elias estava pronto para experimentar o lado renovado dessa obra. Então Deus instruiu Elias que ungisse Hazael rei sobre a Síria e Jeú rei sobre Israel, e que ungisse Eliseu como profeta em Israel. Era quase como se fossem necessários três homens para fazer o trabalho de um único Elias.

 Mesmo assim, Deus estava ensinando Elias que seus cooperadores jamais são indispensáveis. Há sempre alguém que pode fazer a obra do Senhor. Especialmente quando um cooperador desenvolve o tipo de atitude negativa e depressiva que Elias desenvolveu depois que desceu do Carmelo. Elias fez o que lhe foi dito. Ele desceu de Horebe, encontrou Eliseu, “passou por ele e lançou o seu manto sobre ele” (1Rs 19.19).  Isso foi um gesto simbólico. Na verdade, a expressão “vestir o manto de alguém” surgiu a partir dessa passagem.

Ao lançar o seu manto sobre Eliseu, Elias designou o homem mais jovem como seu sucessor. O manto deu a Eliseu toda a autoridade espiritual do ofício de profeta. A unção de Eliseu foi ideia de Deus. Elias não escolheu seu sucessor; Deus o escolheu. O chamado de Eliseu não veio de homens, mas de Deus. Ele ainda tinha de responder a esse chamado, é claro, mas o chamado em si veio do céu. Deus chamou Eliseu para a VIDA e o MINISTÉRIO. Vejamos:

(a) O chamado para Vida. O mesmo vale para todos os cristãos.

Vemos isso no ministério de Jesus Cristo. Jesus estava caminhando às margens do mar da Galileia, quando viu dois irmãos pescando. Jesus chamou Simão e André, e disse: “Vinde após mim” (Mt 4.19). A mesma coisa aconteceu com Mateus, que estava sentado em sua cabine de pedágio cobrando impostos quando Jesus veio e disse: “Segue-me” (Mt 9.9). Vemos a mesma coisa em todo o Novo Testamento: Deus chama as pessoas para segui-lo.  Pedro se levantou no dia de Pentecostes e pregou às nações: “para vós outros é a promessa […] para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.39).

Paulo escreveu a Timóteo: “[Ele] que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça” (2Tm 1.9).  Escreveu a mesma coisa aos tessalonicenses: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação. […] vos chamou mediante o nosso evangelho” (2Ts 2.13-14). Nós não viemos a Deus por iniciativa própria, antes somos chamados por Deus para a vida e o ministério cristãos.A eficácia desse chamado, espera sempre uma resposta obediente para segui-lo.

Há um apelo geral ao arrependimento e à fé que se estende a toda a humanidade, mas somente para aqueles que creem, é que Deus graciosamente torna esse chamado eficaz. Esse é o trabalho de Deus Espírito Santo. Ao convencer-nos de que somos miseráveis pecadores e ao iluminar as nossas mentes para que possamos compreender as boas-novas. O Espírito Santo nos convence a aceitar Jesus Cristo na forma como ele nos é oferecido pelo evangelho. Quando Deus chama um pecador para a salvação, ele não se limita a enviar um panfleto com um convite geral para dar uma passadinha no céu algum dia. Em vez disso, quando os mensageiros de Deus entregam pessoalmente uma convocação para a salvação, o Espírito Santo toma os pecadores que respondem com fé; pela mão e os leva para a vida eterna.

Uma convocação divina está sendo entregue neste momento. Em nome de Jesus Cristo, as palavras deste sermão estão chamando você para que volte para Deus com todo o seu coração. Deixe seus pecados para trás, venha para Deus em Cristo e não vire as costas. Jesus Cristo morreu na cruz, foi sepultado no túmulo e ressuscitou dentre os mortos. Quando você abrir o seu coração para ele, ele irá salvá-lo de seus pecados e lhe dará a vida eterna. O Espírito de Deus chama os pecadores para a vida cristã, tomando esse chamado geral e tornando-o eficaz para a sua salvação, concedendo-lhe os dons da fé e do arrependimento, aguardando uma reposta positiva da nossa parte.

(b) O chamado para o serviço.

Deus também chama seu povo para o ministério. Eliseu não escolheu o seu chamado, Deus o escolheu para ele. O mesmo vale para o ministério cristão. Ninguém escolhe o seu próprio tipo de ministério para Deus. Todo o cristão salvo, foi chamado para o serviço no reino de Deus — desde a ajuda no berçário da igreja até a pregação no púlpito — tudo vem de Deus. Deus nos chama para uma forma particular de serviço na igreja e no mundo. O chamado para servir, precede a todos os outros chamados, pois a essência do evangelho é “servir uns aos outros”. Há chamados mais específicos, que exigem certos dons específicos, mais o chamado para servir, é proeminente sobre os demais, e todos os cristãos tem dons para o servir. O Apostolo Pedro explica bem essa verdade quando diz: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas”. (1 Pedro 4:10)

Embora o chamado para o ministério venha de Deus, ele geralmente vem por meio de outros cristãos. Você pode levantar a seguinte pergunta: [1]Como posso saber por mim mesmo se Deus quer eu participe em algum ministério na igreja?  Muitas pessoas gostariam de ser capazes de responder a essa pergunta. “Como é que eu sei o que Deus quer que eu faça com a minha vida”? Um certo [2]Puritano respondeu essa pergunta assim:  “Você deve perguntar à sua própria CONSCIÊNCIA e à IGREJA. Sua consciência deve julgar sua disposição; e a igreja vai jugar a sua capacidade”.  Foi o que aconteceu com Eliseu. Ele pode ter tido (ou não) uma forte inclinação para se tornar um profeta; mas sua vocação veio por meio de outro irmão maduro. Foi quando Elias jogou seu manto sobre ele. Ele não disse: mas eu não ouvi a voz de Deus me chamando, eu não recebi nenhum dom espiritual me dizendo que sou chamado. Em última instância, o chamado veio de Deus, é claro; no entanto, ele foi confirmado e feito pela liderança Espiritual do povo de Deus. Se quisermos saber como o Senhor quer que nós lhe sirvamos, devemos DISCERNIR OS DESEJOS que o Senhor nos deu. Mais importante: devemos dar um passo à frente imediatamente quando somos convidados a servir.

Mas também devemos procurar a Liderança da igreja. Se tivermos o chamado verdadeiro para algum ministério específico, outros cristãos em posições de LIDERANÇA ESPIRITUAL confirmarão a nossa vocação. Isso vale sobretudo quando se trata de servir como um pastor ou presbítero, diácono, cooperador, na igreja, professor, líder de Departamento. Ninguém decide por conta própria tornar-se um pastor. Quando Eliseu foi chamado para o oficio profético, o convite veio através das mãos de outro profeta.  A mesma coisa acontece na igreja. Quando um homem é ordenado para algum oficio do ministério, outros Pastores convencionais colocam suas mãos sobre ele em oração. Veja aqui uma importante função da CONVENÇÃO, isto acontece desde os tempos bíblicos, e é assim em todas as igrejas bíblicas. Na verdade, os anciãos estão lançando seu manto sobre ele. Esse ato simbólico mostra que o chamado para o ministério vem de Deus, por meio da igreja. Esta tem sido a pratica da igreja fiel na história.

  1. Deixando tudo para trás

 A resposta de Eliseu ao chamado de Deus nos ensina uma segunda lição sobre seguir a Deus e não voltar atrás: responder ao chamado de Deus significa deixar tudo para trás. A resposta de Eliseu ao chamado de Deus foi imediata. Ele aproveitou a chance de seguir Elias: “Então, deixou este os bois, correu após Elias” (1Rs 19.20).  Isso parece ser uma imagem do DISCIPULADO PERFEITO. Mas as coisas ficam um pouco confusas quando Eliseu diz: “Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei” (1Rs 19.20). Estaria Eliseu voltando atrás? Estaria ele de alguma forma tentando adiar sua decisão para o discipulado? A resposta de Elias é igualmente intrigante: “respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo” (1Rs 19.20). Mas o que isso significa? É possível que Elias ainda estivesse tendo pensamentos negativos e depressivos em relação à sua vida de profeta. O mais provável é que ele estava dizendo algo como: “Vá em frente. Eu não fiz nada para impedi-lo de voltar”. A New English Bible traduz a passagem assim: “Volte. O que eu fiz para impedi-lo?”.

A interpretação desse versículo é especialmente difícil à luz do evangelho de Lucas, em que um homem se aproxima de Jesus e diz: “Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa” (Lc 9.61). O homem parece estar fazendo o mesmo pedido que Eliseu fez, mas Jesus lhe dá uma resposta muito diferente: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc 9.62). Ao mencionar o arado, Jesus nos remete claramente a Eliseu. Será que Jesus condenou Eliseu por se despedir de seus pais? De forma alguma. Como, então, podemos explicar a aparente discrepância entre Lucas e 1Reis? Possivelmente, Jesus quis mostrar que seu reino exige o DISCIPULADO ABSOLUTO. Ao aludir ao encontro de Eliseu e ao exigir uma obediência imediata, Jesus estava dizendo a todos que ele era maior do que todos os profetas do Antigo Testamento. Um certo erudito[3], porém, oferece uma explicação diferente. Ele escreve:

A resposta deve ser encontrada nos corações dos dois homens. Elias sabia que o pedido de Eliseu vinha de um coração que estava ansioso para segui-lo. Enquanto Jesus sabia que o pedido desse outro homem vinha de um coração que relutava com a decisão de segui-lo. Para Eliseu, o ato de ir para casa e se despedir era uma maneira de mostrar que ele estava fazendo uma ruptura radical com sua antiga vida e se dedicando à sua nova tarefa. É por isso que, no processo de se despedir, ele abateu um jugo de bois e os assou em uma fogueira. […] O homem com quem Jesus estava lidando, no entanto, […][queria][…] discutir e deliberar com a sua família se estava fazendo a coisa certa. Ele obviamente ainda não havia sido tomado pelo mesmo espírito que se apoderara de Eliseu — pelo espírito de sacrifício em prol do chamado.

Em outras palavras, o homem que se encontrou com Jesus estava tentando ganhar tempo. Ele queria adiar o chamado de Deus para o discipulado, adiar o dia da decisão. Se nós também estivermos “EMPATANDO” Deus, então seríamos sábios se prestássemos atenção na advertência que Jesus deu ao homem. Não podemos deixar Deus esperando para sempre. Em vez de adiar a decisão de seguir Jesus, devemos fazer o que Eliseu fez. Quando ele voltou para se despedir de seu pai e de sua mãe, o novo profeta fez uma poderosa demonstração pública de sua decisão de seguir a Deus. Na verdade, o que ele disse foi: “Deixe-me despedir-me de meu pai e da minha mãe para que eu possa ir com você”.

Para Eliseu, voltar não era uma maneira de adiar, mas uma maneira de seguir. E é aqui que entra o churrasco. Se Eliseu queria seguir a Deus, precisava deixar seus animais para trás:  “Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia” (1Rs 19.21). A decisão de Eliseu de seguir a Deus foi motivo de festa. O profeta estava tão alegre que matou não um, mas dois novilhos cevados. Ele tomou tudo o que pertencia ao seu antigo modo de vida e assou.

Muitos discípulos deixam tudo para trás quando decidem seguir a Deus. Os discípulos de Jesus certamente o fizeram. Jesus chamou Simão e André enquanto eles estavam pescando, e “deixaram imediatamente as redes e o seguiram” (Mt 4.20). A Bíblia diz o mesmo com os empresários de barco de pesca; Tiago e João:  “Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e chamou-os. Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram” (Mt 4.21-22). Da mesma forma, Mateus se levantou, deixou sua cabine de pedágio e seguiu imediatamente a Jesus (Mt 9.9).

Se Jesus é o Senhor, então, tornar-se seu discípulo significa entregar toda a vida a ele em absoluta submissão à sua soberania. E às vezes isso significa deixar tudo para trás.Quando as pessoas perguntaram a Jesus o que tinham de fazer para se tornar seus discípulos, ele lhes disse que precisavam deixar tudo para trás. Tudo? Sim, tudo:  “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo” (Mt 13.44). Em outra ocasião, Jesus disse: “Assim, pois, todo aquele que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14.33).

Eliseu tinha muito para deixar para trás. No mínimo, ele era dono de um jugo de bois e de uma fazenda. As Escrituras dizem que ele estava “lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima” (1Rs 19.19). A implicação é que todos esses bois pertenciam a Eliseu, ou talvez a seu pai. É desnecessário dizer que um agricultor que precisa de 12 tratores é porque possui muita terra. No mínimo, Eliseu era um homem rico. Sua vida estava feita, tinha 24 bois nos estábulos da família e 11 funcionários para ajudar a guiá-los. Eliseu era mais do que um lavrador: ele era herdeiro de uma propriedade rural.

Não é fácil deixar para trás tanta riqueza para seguir a Deus. Um homem rico perguntou a Jesus o que tinha de fazer para herdar a vida eterna. Jesus disse: “Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; vem e segue-me” (Mc 10.21). Jesus estava dizendo que o homem precisava fazer exatamente o que Eliseu fez quando assou tudo o que tinha, deu aos pobres, e seguiu a Deus. Mas o homem rico desviou seus olhos de Jesus e foi embora triste, porque tinha muitas posses. Jesus disse: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Mc 10.23).

O que estamos dispostos a deixar para trás para seguir a Jesus? Estamos dispostos a vender a nossa casa? Deixar nossas famílias? Largar nosso emprego? Doar todos os nossos bens aos pobres? Talvez Deus não exija que façamos nenhuma dessas coisas quando decidimos seguir Jesus. Na verdade, o Senhor muitas vezes nos chama a servi-lo exatamente onde estamos. Mas Deus pediu a Eliseu que desistisse de tudo. Seu chamado para servir a Deus substituiu todos os outros chamados, até a sua vocação como filho.

A história do chamado de Eliseu é um exemplo para todos nós. Cada cristão deve estar sempre preparado para deixar tudo para trás para seguir Jesus.  Se dissermos em nossos corações: “Eu estou disposto a desistir de tudo… exceto disso, daquilo e daquela outra coisa”, então corremos perigo de voltar atrás. Um verdadeiro discípulo está pronto a qualquer momento para quebrar o arado, transformá-lo em lenha e sacrificar os novilhos cevados do sucesso pessoal para seguir a Cristo. 

  1. Aprendiz de profeta.

A última oração do capítulo diz que Eliseu “Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia” (1Rs 19.21).  Isso nos ensina uma terceira lição sobre seguir a Deus e não voltar atrás: os discípulos aprendem a seguir a Cristo de cristãos mais velhos e mais sábios. Eliseu serviu como aprendiz de um profeta. Em termos contemporâneos, isso significa que ele começou como estagiário no ministério. Seguir os passos do profeta significava ser instruído na arte da profecia. Eliseu tornou-se assistente de Elias, o que significava que Elias se tornou o mentor de Eliseu. A intimidade da relação entre esses dois homens é revelada em 2Reis 2.12, em que Eliseu chama Elias de seu “pai”.  Uma boa palavra para descrever o chamado de Eliseu é “SERVO”. Em 2Reis 3.11, ele será apresentado ao rei de Israel como aquele que “deitava água sobre as mãos de Elias”.  Os dois homens não eram iguais. Eliseu ministrou a Elias de forma SERVIL, a ponto de lavar as mãos do profeta. Outra maneira de descrever a sua relação é dizer que Elias “discipulou” Eliseu.

Um discípulo é simplesmente um seguidor. Então, “discipular” significa ensinar como seguir a Cristo sem voltar atrás.  Tornar-se cristão envolve muito mais do que simplesmente levantar-se num encontro de avivamento ou fazer a “oração do pecador”: significa seguir Jesus com toda a sua vida. Ser um verdadeiro cristão, envolve muito mais do que simplesmente, encher a mente de conhecimento ou ter uma teologia correta, envolve principalmente a disposição humilde de servir os outros irmãos. Uma das melhores maneiras de aprender como fazer isso é seguir os passos dos cristãos mais velhos e mais sábios, o que é exatamente o que Eliseu fez: “Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia” (1Rs 19.21). Esse é o padrão comum de Deus para a vida e o ministério cristãos. Uma geração de crentes maduros, discípula a próxima.

Um bom exemplo bíblico é a relação entre Moisés e Josué, que aprendeu a seguir a Deus seguindo o grande profeta de Israel.  As Escrituras dizem que Josué era “SERVIDOR” de Moisés (Êx 24.13), e isso nos soa como se ele fosse um secretário executivo de um empresário.  A tradução é literalmente “servo”. Josué serviu a Moisés, e, ao fazê-lo, estava sendo preparado para a hora em que se tornaria o sucessor de Moisés.

Um bom exemplo de uma relação semelhante na história da igreja vem da vida e do ministério de John Knox. Knox é geralmente representado como pai da Reforma escocesa. Mas antes dele havia um reformador chamado George Wishart. Wishart viajou para a Escócia pregando o arrependimento e a fé em Jesus Cristo, servindo-se principalmente da Epístola aos Romanos. John Knox o servia e era seu guarda-costas; ele possuía uma enorme espada para proteger Wishart dos inimigos do evangelho. Em outras palavras, Knox assistiu a Wishart da mesma forma como Eliseu assistiu a Elias. Então, quando Wishart foi queimado na fogueira, Knox estava pronto para assumir o seu lugar como ministro. Ele tinha escutado Wishart pregar tantas vezes que ao longo do caminho tinha aprendido a pregar também. Jesus modelou esse tipo de aprendizado passando tempo com seus discípulos, conversando, ministrando, compartilhando a mesa e a oração.

[4]“Após ter chamado os seus homens, Jesus transformou em costume estar com eles. Essa era a essência de seu programa de treinamento — deixar que seus discípulos o seguissem. Quando paramos para refletir sobre isso, vemos que foi uma forma incrivelmente simples de fazê-lo. Jesus não possuía uma escola formal, nem seminários, nenhum curso de estudo, nenhuma aula periódica em que seus seguidores se matriculavam. Nenhum desses procedimentos altamente organizados, considerados indispensáveis hoje em dia, fazia parte de seu ministério. Por incrível que pareça, tudo o que Jesus fez para ensinar o seu caminho a esses homens foi mantê-los próximos de si. Ele era sua própria escola e currículo.”

Agora Cristo ordenou sua igreja a sair para as nações e fazer discípulos (Mt 28.18-20). Fazer discípulos é o padrão de Deus para o crescimento na vida e no ministério cristãos. Para tanto, os novos na fé aprendem a seguir a Cristo com os cristãos amadurecidos. Os iniciantes no ministério aprendem com os veteranos. Por trás de cada grande líder da igreja cristã há um ou mais cristãos mais velhos e mais sábios. Normalmente, o discipulado acaba sendo uma via de mão dupla. Obviamente, é uma grande bênção para o discípulo aprender pelo exemplo de como crescer na graça. Mas o discipulado também fortalece o discipulador. Todo cristão tem algo a ensinar aos outros cristãos, o que significa que até mesmo o mais novo cristão pode incentivar um discípulo mais velho. Isso valia também para Elias. Quando Elias jogou seu manto sobre Eliseu, aquele gesto foi o começo do fim do seu ministério, que ainda não tinha acabado, porque Deus ainda tinha mais trabalhos proféticos para ele. Mas a partir desse ponto, Elias recuaria e Eliseu cresceria em força. O antigo profeta estava cansado de servir ao Senhor, mas o chamado do jovem profeta o revigorou. Deus ungiu Eliseu para que ele ajudasse Elias a fazer a obra do Senhor.

“Sempre foi um grande consolo para ministros santos e seus rebanhos saber que a Deus nunca faltam os instrumentos para realizar a sua obra, que, quando uns são removidos, outros se manifestarão para continuá-la”[5].

Quando um jovem me pede que eu indico alguém para discipulá-lo, eu sugiro o nome de um cristão maduro que tem o tempo, os dons e a vontade de fazê-lo. Existe muita satisfação em iniciar um relacionamento de discipulado, que podem se reunir semanalmente para falar sobre coisas espirituais e orar juntos. Isso será uma bênção para ambos. É claro que o discipulado envolve mais do que esse relacionamento entre duas pessoas. Tudo o que acontece na igreja faz parte do nosso aprendizado de seguir a Jesus e não voltar atrás. Mas o discipulado por meio de relacionamentos pessoais ocupa um lugar importante na vida cristã. A igreja precisa de mais dessas amizades. Os adolescentes têm sido profundamente impactados pelo ensino e pela vida do Evangelista Sergio. Muitas crianças, pré-adolescentes e irmãos novos na fé estão à procura de homens de Deus que se interessem por eles, que estejam dispostos a aconselhá-los e a orar juntos.

É ordem de Deus que os pais devem discipular seus filhos. As avós devem discipular as mulheres mais novas. Muitas mulheres jovens também sentem a necessidade de receber aconselhamento espiritual de mulheres mais maduras em Cristo. Embora alguns homens e mulheres mais velhos se ofereçam como voluntários para o discipulado, há sempre mais pessoas que precisam de discipulado do que pessoas que estão dispostas a oferecê-lo. O discipulado deveria acontecer em toda igreja. Todo aquele que exerce um ministério deve ser um discipulador. Professores da escola dominical devem ajudar seus alunos assistentes a aprender a ensinar. Avós devem ensinar às mães jovens como ser mãe. Os diáconos devem ensinar aos outros a servir. Todo mundo que está amadurecendo em Cristo deve se tornar um Elias para algum Eliseu mais jovem.

  1. Decidi seguir Jesus

Alguns talvez perguntem se realmente vale a pena seguir a Cristo e não voltar atrás. Fiz a mesma pergunta quando estava prestes a entrar no ministério pastoral. Na época, eu estava considerando a possibilidade de ir para a Curitiba, com possibilidade de um alto ganho. Finalmente, tornou-se claro que o Senhor estava me chamando para servi-lo; iniciando um novo trabalho, que hoje é a nossa igreja Assembleia de Deus Marcas do Evangelho. Naquele momento, minha esposa e eu nos perguntamos do que estávamos dispostos a desistir para seguir a Jesus Cristo. Parecia que teríamos de deixar tudo para trás: família, amigos, casa, festas e ..tudo mais. Naquele momento, senti o nó na garganta de Pedro quando perguntou: “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós?” (Mt 19.27).

Às vezes, os discípulos ficam nervosos. Lembram-se de como a vida era confortável antes de abaterem os bois e se preocupam com o que está por vir. O que Deus tem para nós depois que decidimos segui-lo? Bem, o que Deus tem para aqueles que deixam tudo para trás para seguir a Cristo? Veja a resposta que Jesus deu a Pedro:

Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna (Mt 19.28-29).

Se isso é o que espera aqueles que seguem Jesus e nunca voltam atrás, então vamos nos juntar ao coro para cantar o velho hino:

Eu decidi seguir Jesus

Eu decidi seguir a Cristo,

Eu decidi seguir a Cristo,

Eu decidi seguir a Cristo,

Não volto atrás, não volto atrás.

Não volto atrás, não volto atrás.

 

Pra trás o mundo, a cruz à frente,

Pra trás o mundo, a cruz à frente,

Pra trás o mundo, a cruz à frente,

Não volto atrás, não volto atrás.

 

Eu Te seguirei, Jesus

Eu Te seguirei, Jesus

Eu Te seguirei, Jesus

Eu Te seguirei

 

Mesmo sozinho, Te seguirei

Mesmo sozinho, Te seguirei

Mesmo sozinho, Te seguirei

Não volto atrás, não volto atrás.

 

Eu decidi seguir a Cristo,

Eu decidi seguir a Cristo,

Eu decidi seguir a Cristo,

Não volto atrás, não volto atrás.

 

Eu Te seguirei, Jesus

Eu Te seguirei, Jesus

Eu Te seguirei, Jesus

Eu Te seguirei

Enquanto cantamos, vamos lembrar do Salvador que Deus nos chamou a segui-lo. Quando Jesus sabia que sua vocação incluía a cruz, ele não voltou atrás, mas seguiu a vontade de seu Pai até o Calvário. Agora eu sou chamado a seguir Jesus até o fim e nunca voltar atrás. E você, voltará atrás ou o seguirá?

[1] O puritano William Perkins.

[2] O puritano William Perkins.

[3] Roger Ellsworth

[4] Robert Coleman

[5] A.W.Pink