Referência: João 6:16-21)
INTRODUÇÃO:
Alguém já disse[1] que a vida é 10% o que acontece comigo e 90% de como eu reajo a isso. E o que fazer quando as coisas saem de controle. Quando tudo se volta contra nós. Quando toda a esperança de nos salvar se vai. O que fazer? Este texto do evangelho de João, mostra exatamente uma situação sem saída, onde os discípulos perderam todo controle da situação. O dia já estava declinando quando os discípulos entraram no barco, por ordem de Jesus. Para trás haviam ficado a multidão e Jesus. Já que Jesus decidiu não acompanhar os discípulos, eles esperavam, no mínimo, fazer uma viagem segura de volta para casa. O coração dos discípulos ainda deveria estar exultando de entusiasmo por terem contemplado um milagre tão esplêndido.
O barco em que atravessavam o mar levava a rebarba da multiplicação, os doze cestos cheios. Logo que começaram a viagem rumo a Cafarnaum, algo estranho começa a acontecer. O tempo muda repentinamente. O vento encurralado pelas montanhas de Golã de um lado e pelas montanhas da Galileia do outro levanta as ondas que açoitam o frágil batel dos discípulos. A embarcação oscila de um lado para o outro sem obedecer a nenhum comando. O perigo é iminente. A ameaça é real. O naufrágio parecia inevitável. Esse episódio nos enseja algumas lições, que vemos a seguir.
I. QUANDO JESUS PARECE DEMORAR (6.16,17)
Os discípulos não voltam a Cafarnaum por conta própria. Eles foram compelidos a entrar no barco e atravessar o mar. Jesus não pediu, não sugeriu nem aconselhou os discípulos a passarem para o outro lado do mar. Ele os compeliu e os obrigou (Mc 6.45). Os discípulos não tinham opção; deviam obedecer. E, ao obedecerem, foram empurrados para o olho de uma avassaladora tempestade. Como entender isso? Por que Jesus permite que sejamos apanhados de surpresa por situações adversas? Por que Jesus nos empurra para o epicentro da crise? Por que somos sacudidos por vendavais maiores que nossas forças? Por que acidentes trágicos, perdas dolorosas e doenças graves assolam aqueles que estão fazendo à vontade Deus? É mais fácil aceitar que a obediência sempre nos leva ao sucesso total, e não à fornalha da aflição. E mais fácil aceitar que a obediência nos livra da tempestade, e não que ela nos arrasta para as torrentes mais caudalosas. A existência de problemas, porém, não significa que estamos fora do propósito de Deus, nem que Deus está indiferente à nossa dor. Na verdade, a vida cristã não é uma sala vip nem uma estufa espiritual. A vida cristã não é um paraíso na terra, mas um campo de batalha sem trégua.
A diferença entre um salvo e um ímpio não é o que acontece a ambos, mas o FUNDAMENTO sobre o qual cada um constrói sua vida. Jesus disse que o insensato constrói sua casa na areia, mas o sábio a edifica sobre a rocha. Sobre ambas as casas, cai a mesma chuva no telhado, sopra o mesmo vento na parede e bate o mesmo rio no alicerce. Uma casa cai, e a outra permanece de pé. O que diferencia uma casa da outra não são as circunstâncias, mas o fundamento. Um cristão enfrenta as mesmas intempéries que as demais pessoas, mas a tempestade não o destrói; antes, revela a solidez da sua confiança no Deus eterno. Davi foi ungido rei sobre Israel em lugar de Saul. Mas a unção, longe de levá-lo ao palácio, levou-o às cavernas úmidas e escuras. A insanidade de Saul levou-o a perseguir Davi por todos os cantos de Israel. As perseguições de Saul eram apenas ferramentas PEDAGÓGICAS de Deus para preparar Davi para o trono. Na verdade, Deus estava tirando Saul do coração de Davi antes de colocar Davi no trono de Saul.
O sofrimento é a escola superior do Espirito Santo que nos ensina as maiores lições da vida. As tempestades não vêm para nos destruir, mas para nos fortalecer. As tempestades não são uma negação do amor divino, mas uma oportunidade para experimentarmos o livramento amoroso de Deus. Não fique desanimado por causa das tempestades da sua vida. Elas podem ser inesperadas para você, mas não para Deus. Elas podem estar fora do seu controle, mas não do controle do altíssimo. Você pode não entender a razão por trás delas, mas pode ter certeza de que são INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS de Deus na sua vida. Somos informados pelo evangelista Marcos que Jesus despediu os discípulos antes de despedir a multidão (Mc 6.45) e os enviou para o olho da tempestade. A pergunta é: Por quê? Pelo menos por três razões claras no texto.
- Para guarda-los da tentação. João nos informa que a intenção da multidão era fazê-lo rei (6.14,15). E os discípulos seriam tentados com a ideia, de se tornarem famosos e poderosos. Então Jesus rapidamente despede seus discípulos. Mateus diz que Jesus “ordenou” a seus discípulos (Mt.14:22) e Marcos diz que ele os “obrigou” (Mc 6.45), a entrarem no barco e fossem para o outro lado do mar da Galileia. A atitude enérgica de Jesus visava poupar os seus discípulos dessa tentação, ou seja, de uma visão distorcida da sua missão. Jesus sabia que a tempestade se aproximava. Então podíamos perguntar[2]: por que ele colocou seus amigos deliberadamente em uma situação perigosa? Na verdade, foi justamente o contrário. Ele os salvou do perigo maior de serem tomados por um sentimento distorcido de sua missão. Os efeitos da tentação; de poder e de status que os discípulos estavam começando a sentir, seriam destruídos na tempestade. Jesus precisava equilibrar suas vidas com a tempestade, pois se não for assim nos tornamos arrogantes e a ruina será certa. Eles estavam emocionados, tão extasiados, ‘nas nuvens’, com o milagre da multiplicação. Que se fez necessário que enfrentassem uma tempestade e que aprendessem a confiar ainda mais no Senhor Jesus Cristo.
Jesus usou a tempestade para proteger os discípulos de um mal ainda maior; o orgulho; a arrogância. Jesus sabia que os discípulos não estavam prontos para enfrentar esse tipo de teste, visto que sua visão do reino era mundana, e queria um rei político. O próprio Jesus não se curvou à tentação da popularidade; antes, manteve-se em seu propósito e RESISTIU À TENTAÇÃO POR MEIO DA ORAÇÃO.
- Para interceder por eles. Jesus não tinha tempo para comer e nem para descansar (Mc 3.20), mas tinha tempo para orar. A oração era a própria respiração de Cristo. Jesus estava no monte orando quando viu os discípulos em dificuldade (Mc 6.48). Muitas vezes nos vemos no meio da tempestade porque desobedecemos a Palavra de Deus, como no caso de Jonas. Em outras ocasiões, porém, a tempestade vem justamente porque obedecemos ao Senhor. Quando isso acontece, podemos estar certos de que ele intercederá por nós, e se colocará ao nosso lado e nos livrará.O Senhor nos vê quando a tempestade nos atinge. Não há circunstância que esteja fora do alcance de sua intervenção. Os nossos caminhos jamais estão escondidos aos seus olhos. Ele está junto ao trono do Pai, intercedendo por nós. Jesus orou por duas razões fundamentais[3]: ele estava preocupado com a falta de entendimento dos discípulos sobre sua identidade e com a falta de compaixão deles para com as muitas ovelhas sem pastor.
- Para ajuda-los a lidar com as emoções negativas (v.17).
Quando as coisas saem do controle, nós não podemos perder o controle. João nos informa: Havia escurecido, e Jesus ainda não havia ido encontrá-los (6.17). Isso nos faz crer que Jesus deve ter prometido que não ia demorar ir ao encontro deles. Joao já informou no v.4, que era o tempo da Pascoa, que acontecia na lua cheia; cujos raios iluminavam a superfície do lago, eles olhavam esperando a vinda de Jesus. Contudo, a noite já cobria a região com suas asas, e Jesus ainda não havia chegado. Talvez nenhum fato nos deixe mais aflitos do que lidarmos com a demora de Jesus. Como reconhecer o amor de Deus se, na hora da nossa MAIOR ANGÚSTIA, ele não chega para nos socorrer? Como entender o poder de Deus com a perpetuação da crise que nos asfixia? Como conciliar a fé no Deus que intervém quando o mar da nossa vida fica cada vez mais agitado, a despeito de todos os nossos esforços? Como conciliar o amor de Deus com o nosso sofrimento? Como conciliar a providência divina com sua demora em atender ao nosso clamor? Essa certamente foi a maior tempestade que os aflitos discípulos enfrentaram no fragor daquele mar revolto. Esse também foi o drama vivido pela família de Betânia. Quando Lázaro ficou enfermo, Marta e Maria mandaram um recado para Jesus: Senhor; aquele a quem amas está doente (11.3). Quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada. Quem ama se importa com a pessoa amada. As irmãs de Lázaro tinham certeza de que Jesus viria socorrê-las. Certamente as pessoas perguntavam a elas: “Será que Jesus ama mesmo vocês? Será que ele virá curar Lázaro? Será que vai chegar a tempo?”
A todas essas perguntas perturbadoras, Marta deve ter respondido com segurança: “Certamente ele vem. Ele nunca nos abandonou. Ele nunca nos decepcionou”. A certeza foi substituída pela ANSIEDADE, está pelo MEDO, e este pela DECEPÇÃO. Lázaro morreu, e Jesus não chegou. Marta ficou engasgada com essa dolorosa e constrangedora situação. Quatro dias se passaram depois do sepultamento de Lázaro. Só então Jesus chegou. Marta correu ao seu encontro e logo despejou sua dor: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido (11.21). A demora de Jesus havia aberto uma ferida na sua alma. Sua expectativa de livramento fora frustrada. Sua dor não fora tratada. Suas lágrimas não foram enxugadas. A vida do seu irmão não fora poupada. Marta estava tão machucada que não mais podia crer que Jesus podia fazer algo de extraordinário para aliviar sua dor (11.39,40). Antes de censurar Marta, deveríamos sondar o nosso coração. Quantas vezes as pessoas nos ferem com perguntas venenosas: “O seu Deus, onde está? Se Deus se importa com você, por que você está passando por problemas?Se Deus ama você, por que você está doente? Se Deus satisfaz todas as suas necessidades, por que você está sozinho, nos braços da solidão? Se Deus é bom, por que ele não poupou você ou a pessoa que você ama daquele trágico acidente? Se Deus é o Pai de amor, por que a pessoa que você ama foi arrancada dos seus braços pelo divórcio ou pela morte?” Muitas vezes, o maior drama que enfrentamos não é a tempestade, mas a demora de Jesus em vir nos socorrer. Além da tempestade, curtimos a solidão e o sentimento do total abandono.
Talvez, você esteja cruzando o mar encapelado da vida e as ondas estejam passando por cima da sua cabeça. Talvez você esteja orando por um assunto há muitos anos e, quanto mais você ora, mais a situação se agrava. Talvez os seus sonhos estejam sendo adiados há anos e você ainda não ouviu nenhuma resposta ou explicação de Deus. Jesus, na verdade, não estava longe nem indiferente ao drama dos seus discípulos; ele estava no monte orando por eles (Mc 6.46-48). Quando você pensa que o Senhor está longe, na verdade ele está trabalhando a seu favor, preparando algo maior e melhor para você. Ele não dorme nem cochila, mas trabalha para aqueles que nele esperam. Ele não chega atrasado, nem a tempestade está fora do seu controle. Jesus não chegou atrasado a Betânia. A ressurreição de Lázaro foi um milagre mais notório do que a cura de um enfermo. Acalme o seu coração; Jesus sabe onde você está, como você está e para onde ele o levará.
- QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS FOGEM DO NOSSO CONTROLE (6.18)
À beira da noite, quando os discípulos estavam no meio do mar, a tempestade chega, e o vento forte começa a soprar. Os discípulos tentam remediar a situação. Alguns deles eram pescadores. Conheciam como ninguém aquele lago de 21 quilômetros de comprimento por 14 quilômetros de largura. O mar da Galileia tem uma peculiaridade: fica cerca de 180 metros abaixo do nível do mar, encurralado pelas montanhas de Golã do lado oriental e pelas montanhas da Galileia do lado ocidental. O ar frio vindo dos planaltos, a sudeste, e, sobretudo, do monte Hermom, ao norte, pode entrar de repente para deslocar o ar úmido e aquecido sobre o lago, agitando a água em uma violenta tempestade. Apanhados de surpresa por uma tempestade indomável, os discípulos tentam, em vão, controlar a situação. Quanto mais se esforçam, porém, mais o mar se agiganta. Aquilo que lhes parecia comum torna-se um monstro indomável. O barco começa a encher de água. O pavor começa a tomar conta dele. As circunstâncias mostram sua carranca. A morte, e não Cafarnaum, parecia ser o seu destino.
- Quando o medo nos assalta (6.19) “E, tendo navegado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus, andando sobre o mar e aproximando-se do barco; e temeram”. Joao diz que haviam andado aproximadamente cerca de 25 a 30 estádios, que equivale a 6 km, Mateus diz que eles estavam no meio do mar (Mt.1424). Eles estavam exaustos física e emocionalmente; pois entraram no barco ao entardecer e já era 3 da manhã; estavam remando a mais de 9 horas. Eles corriam um perigo ainda maior; ou seja; eles estavam no meio do lago, no lugar mais profundo, com maior volume de aguas, para o vento acoitar com grandes ondas. Diz o evangelista Mateus que, na quarta vigília da noite, Jesus veio ter com os discípulos (Mt 14,25). Na hora mais escura da noite. Isso significa que já passava das três horas da madrugada. Quando todos os recursos humanos já haviam se esgotado. Todas as tentativas haviam sido inúteis. Quando já estavam nocauteados pelo problema, com a esperança morta, eles viram Jesus andando sobre o mar, aproximando-se do barco. Em vez de trazer-lhes conforto e segurança, essa visão agravou ainda mais seu tormento. Eles ficaram possuídos de temor, na multiplicação de pães, não discerniram o poder criador de Jesus para alimentar os famintos e agora, no mar, não discernem o poder de Jesus para dominar a tempestade. Jesus vai ao encontro dos discípulos quando todas as esperanças humanas já haviam chegado ao fim. Caminha sobre o mar, para mostrar a eles que aquilo que os ameaçava estava literalmente debaixo de seus pés. Os nossos problemas estão debaixo dos pés de Jesus. Eles podem ser maiores do que nossas forças e desafiar nossos limites, mas estão debaixo dos pés de Jesus. O temor dos discípulos era absolutamente infundado. Temeram o que devia inspirar neles a maior confiança. Temeram aquele que trazia para eles o livramento da morte. Destacamos a seguir algumas lições.
(a) Jesus se aproxima de nós na hora da tempestade. João diz (v.19c) que “Jesus se aproximou deles”. Jesus não estava atrasado no mar da Galileia. O seu socorro veio na hora oportuna. Aquela tempestade só tinha uma finalidade: levar os discípulos a uma experiência mais profunda com Jesus. As tempestades não são autônomas nem chegam por acaso. Elas estão na agenda de Deus. Fazem parte do currículo de Deus para nossa vida. Não aparecem simplesmente; são enviadas pela mão da providência. É conhecida a expressão usada pelo poeta inglês William Cowper: “Por trás de toda providência carrancuda, esconde-se uma face sorridente”. As tempestades não vêm para nos destruir, mas para nos fortalecer. As tribulações são RECURSOS PEDAGÓGICOS de Deus para nos levar à maturidade. Os discípulos conheceram Jesus de forma mais profunda depois daquele livramento. Deus não quer que você tenha uma experiência de segunda mão. Semelhantemente, Jesus não chegou atrasado na aldeia de Betânia. Ele sabia o que estava prestes a realizar. A ressurreição de Lázaro já estava em sua agenda. Jesus também sabe a crise que chegou à sua vida. Ele sabe a dor que assalta o seu peito. Ele vê as suas lágrimas. Ele está perto quando você perde o sono, lutando contra a angustia e a dor latejando na sua alma. E vai ao nosso encontro para nos socorrer. Ele estende a sua mão, e acalma as tempestades da nossa vida.
(b) Jesus se aproxima de nós quando os nossos recursos acabam. O evangelista Mateus nos informa que Jesus foi ao encontro dos discípulos na quarta vigília da noite. A noite era dividida pelos judeus em quatro vigílias: a primeira, das 6 horas da tarde às 9 horas da noite; a segunda, das 9 horas da manhã à meia-noite; a terceira, da meia-noite às 3 horas da madrugada; e a quarta, das 3 horas da madrugada às 6 horas da manhã. Aqueles discípulos entraram no mar ao cair da tarde. Ainda era dia quando chegaram ao meio do mar (Mc 6.47). De repente, o mar começou a agitar-se, varrido pelo vento forte que soprava (6.18), e o barco foi açoitado pelas ondas (Mt 14.24). Eles remaram com todo o empenho do cair da tarde até as 3 horas da madrugada e ainda estavam no meio do mar, no centro dos problemas, no lugar mais fundo, mais perigoso, sem sair do lugar. Às vezes, temos a sensação de que os nossos esforços são inúteis. Remamos contra a maré. Esforçamo-nos, choramos, clamamos, jejuamos, mas o perigo não se afasta. Nessas horas, os problemas tornam-se maiores que as nossas forças. Sentimo-nos esmagados debaixo das ondas gigantes. Perdemos até mesmo a esperança do salvamento (At 27.20). Mas, quando tudo parece perdido, quando chega a hora mais escura, da madrugada da nossa história, Jesus aparece para pôr fim à nossa crise. O Senhor não vem quando desejamos; ele vem quando necessitamos. O tempo de Deus não é o nosso. Deus não livrou os amigos de Daniel da Fornalha; livrou-os na fornalha. Deus não livrou Daniel da cova dos leões; livrou-o na cova. Deus não livrou Pedro da prisão, mas na prisão.
(c) Jesus vem ao nosso encontro caminhando sobre o mar: Os discípulos esperavam com ansiedade o socorro de Jesus, mas, quando ele veio, eles não o discerniram. Aquela era uma noite trevosa. O mar estava coberto por um manto de total escuridão. Ocasionalmente os relâmpagos riscavam os céus e despejavam um faixo de luz sobre as ondas gigantes que faziam o barco rodopiar. Exaustos, desesperançados e cheios de pavor, num desses lampejos, os discípulos enxergam uma silhueta caminhando resolutamente sobre as ondas. Assustados e tomados de medo, gritam: “É um fantasma!” O medo surge, quando lidamos com o desconhecido e quando perdemos o controle da situação. O medo nos paralisa, nos faz voltar atrás e inibe o nosso potencial. Nem mesmo pescadores tão treinados e experientes não conseguiram lidar com o medo. Eles nunca viram alguém andando sobre as aguas, por isso sentiram medo, pensaram que era um fantasma. Normalmente o que não conseguimos explicar e nem entender é melhor classificar como fantasma. O medo-incrédulo cria os nossos fantasmas. Por falta de fé eles desistiram de esperar por Jesus. Eles esperavam por Jesus, mas não de maneira tão estranha. O Senhor vem a eles de forma inusitada, andando sobre as ondas. Não apenas a tempestade era pedagógica, mas também o era a maneira como Jesus chega aos discípulos. Esse episódio nos ensina duas grandes lições:
A primeira é que as ondas que nos ameaçam estão literalmente debaixo dos pés de Jesus. O mar era um gigante imbatível, e as ondas suplantavam toda a capacidade de resistência dos discípulos. Eles estavam impotentes diante daquela tempestade. Somos absolutamente impotentes para lidar com as forças da natureza. As ondas gigantes do tsunami desafiaram as fortalezas humanas e levaram mais de duzentas mil pessoas a morte na Ásia em 26 de dezembro de 2004. O furacão Katrina, vindo do golfo do México, assolou a costa americana e inundou a rica cidade de New Orleans em 2005. Tempestades, terremotos, tufões e furacões deixam as grandes e poderosas nações absolutamente impotentes. Assim são os problemas que nos assaltam. São maiores que as nossas forças. Mas aquilo que era maior do que os discípulos e que conspirava contra eles estava literalmente debaixo dos pés do Senhor Jesus. Ele é maior do que os nossos problemas. As tempestades da nossa vida podem estar fora do nosso controle, mas não fora do controle de Jesus. Ele anda com seus pés sobre aquilo que se levanta contra nós. Talvez você esteja lidando com um problema que tem o desafiado há anos. Suas forças já se esgotaram. Quem sabe já se dissipou no seu coração toda esperança de salvamento: seu casamento está afundando, sua empresa está falindo, sua saúde está abalada. Você fez tudo o que podia fazer, mas seu barco continua rodopiando no meio do mar, no lugar mais fundo e más perigoso. Nessas horas, é preciso saber que Jesus vai ao seu encontro pisando sobre essas ondas. O perigo que o ameaça está debaixo dos pés do Senhor. Ele é maior do que todas as crises que conspiram contra você. Diante dele, todo joelho se dobra. Diante dele, até as forças da natureza se rendem. Ele tem todo poder e toda autoridade no céu e na terra.
A segunda lição é que Jesus faz da própria tempestade o caminho para chegar à sua vida. Ele não apenas anda sobre a tempestade, mas a torna a estrada para ter acesso à sua vida. Muitas vezes, o sofrimento é a porta de entrada de Jesus em nosso coração. Ele usa até os nossos problemas para aproximar-se de nós. O profeta Naum diz que o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade (Na 1.3). Mais pessoas encontram-se com o Senhor nas noites escuras da alma, a dor se torna um meio de se aproximar de Deus. As mais ricas experiências da vida são vivenciadas no vale da dor. Com certeza, os caminhos de Deus não são os nossos. Eles são mais altos e mais excelentes!
3.QUANDO JESUS ACALMA A TEMPESTADE DA ALMA (6.20)
A primeira palavra de Jesus não foi ao vento nem ao mar, mas aos discípulos. Antes de acalmar a tempestade, ele acalmou os discípulos. Antes de aquietar o vento, ele fez serenar a alma dos discípulos.
- Jesus mostrou que a tempestade que estava dentro deles era maior do que a tempestade que estava fora deles.
A tempestade da alma era mais avassaladora do que a tempestade das circunstâncias. O problema interno era maior que o externo. Jesus compreendeu que o maior problema deles não era CIRCUNSTANCIAL, mas EXISTENCIAL; não eram os fatos, mas os SENTIMENTOS. Jesus disse aos assustados discípulos: Sou eu; não temais (6.20). Antes de mudar o cenário que rodeava os discípulos, Jesus acalmou o coração deles. Jesus assegura que sua presença é o antídoto para o nosso medo. Ele usa um único argumento para banir o medo dos discípulos: sua presença com eles. Ele disse aos discípulos: Sou eu,’ não temais. A cura para o medo é a presença de Jesus. Onde Cristo está, a tempestade se aquieta, o tumulto se converte em paz, o impossível se torna possível, o insuportável se torna suportável, e as pessoas atravessam o vale do desespero sem se desesperarem. A presença de Cristo conosco é a nossa conquista da tempestade. O criador dos céus e da terra está conosco. Aquele que sustenta o universo é quem nos socorre. Jesus prometeu estar conosco todos os dias. Mesmo quando não o vemos, ele está presente. Mesmo quando a tempestade vem, ele está no controle.
Muitas vezes, as maiores tempestades que enfrentamos não são aquelas que acontecem fora de nós, mas aquelas que agitam a nossa alma e levantam vendavais furiosos em nosso coração. Os tufões mais violentos não são aqueles que agitam as circunstâncias, mas aqueles que deixam turbulentos os nossos sentimentos. Não são aqueles que ameaçam nos levar ao fundo do mar, mas aqueles que se derretem dentro de nós como avalanches rolando impetuosamente das geleiras alcantiladas da nossa alma. Jesus acalma os discípulos, dando-lhes uma ordem: Não temais. O medo embaça os olhos da alma. O medo embota o discernimento espiritual. O medo empalidece a fé. Onde reina o medo, a fé tropeça. Mas como vencer o medo? Sabendo que Jesus chegou! Que irrompeu em nossas crises. Que calca debaixo dos seus pés os nossos problemas. Que está no controle daquilo que foge ao nosso controle. Vencemos o medo quando, mesmo surrados por rajadas de vento, ouvimos sua ordem: Não temais.
2.Quando Jesus vai conosco, sempre chegamos ao nosso destino (6.21). Jesus chegou na hora da crise mais aguda, acalmou os discípulos, acalmou o mar, entrou no barco com eles, e todos chegaram salvos e seguros ao seu destino. O destino daqueles discípulos não era o fundo do mar, mas Cafarnaum (617). Aqui cruzamos vales, atravessamos desertos, pisamos espinheiros, mas temos a garantia de que, ainda que enfrentemos mares revoltos, rios caudalosos e fornalhas ardentes, o Senhor está conosco para nos dar livramento e nos conduzir em triunfo ao nosso destino final. O evangelista Marcos nos informa que, quando Jesus subiu ao barco dos discípulos, o vento cessou (Mc 6.51). Quando os discípulos receberam Jesus no barco, […] este logo chegou ao seu destino (6.21). Você também chegará salvo e seguro ao seu destino. A tempestade pode ser terrível e longa. Pode até retardar a sua chegada. Mas nunca impedirá que você chegue salvo e seguro ao porto celestial.
CONCLUSÃO[4]:
Não podemos administrar muitas das circunstancias que enfrentamos. Mas mesmo quando as coisas saem do controle, devemos aprender a confiar em Deus, e não alimentar o medo, a angustia. O medo cria nossas angustia e os nossos fantasmas existências. Mesmo que não entendamos, devemos confiar. Deus não desperdiça o sofrimento na nossa vida.Seja o que for, Deus está nos conduzindo no e por meio da tempestade. Deus está nos protegendo de um perigo maior. Enquanto os discípulos lutavam com a tempestade, eles foram livres da arrogância, da soberba, do orgulho, quando a multidão estava aclamando Jesus como rei. Há uma tempestade maior dentro de nós. A tempestade da alma é maior que a tempestade das circunstâncias. Jesus se aproxima para dizendo: sou eu “não temas”.
[1] Charles Swindoll
[2] Warren W. Wiersbe
[3] Dewey Mulholland
[4] Sermão adaptado do Comentário de João: Hernandes Dias Lopes.