Série de sermões expositivos sobre O Céu. Sermão Nº 116 –  O sexto dia da criação: a criação do homem (Parte 93).  Gn 1:27: a Bíblia versus o Secularismo (Parte 42). Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 06/03/2024.

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INTRODUÇÃO

O Paul Kengor, em seu livro: Karl Marx e o diabo[1], mostra como as massas (multidões) podem ser irracionalmente controladas e conduzidas para o caminho errado.

Ele cita parte do discurso, de Barack Obama no dia 30 de outubro de 2008, em Columbia, Missouri, às portas de sua eleição histórica para presidente

“Estamos a apenas cinco dias de uma transformação fundamental nos Estados Unidos da América”. Ele previa um “momento decisivo na história” para “fazer neste país a mudança de que precisamos”.[2]

Foi uma declaração marcante, ousadamente revolucionária, superada talvez apenas pela resposta do público, que, ao invés de parar para refletir sobre essa afirmativa tão audaciosa, a aplaudiu de modo efusivo.

É claro que os entusiastas de Obama teriam gritado extasiados para qualquer coisa que ele dissesse naquele momento. Ainda que tivesse prometido um unicórnio mágico para todo mundo.

O próprio Obama admitiu que servia como uma espécie de “tela em branco” sobre a qual os americanos desejosos de uma “esperança e mudança” poderiam projetar o que quisessem.

Porém, ainda assim, a expressão “transformação fundamental” deveria soar todos os alarmes. Nem os americanos e nenhum outro povo, são dados a transformações fundamentais.

Eles fazem mudanças, sim, pequenas e grandes, mas o incrível sistema concebido pelos fundadores de qualquer país, acima de tudo – não foi e nunca será concebido para que um homem sozinho entrasse na Casa Branca, ou em Brasília, e desse início a uma transformação fundamental.

O Brasil e a América estão repletos de problemas, porém eles podem ser contemplados e resolvidos sem uma transformação fundamental.

Pergunte aos professores de história ou de ideologias políticas e eles lhe dirão que a única ideologia que almeja a transformação fundamental da sociedade é o comunismo totalitário, o marxismo-leninismo.

Lembremos que, no livro A ideologia alemã (entre outros), Marx e Engels diziam que “tanto para a criação em massa dessa consciência comunista quanto para o êxito da própria causa faz-se necessária uma transformação massiva dos homens”.

Essa transformação deve vir a cabo através de “uma revolução”, um processo de “derrubada” da “antiga ordem”, levando a “uma nova fundação da sociedade”.

Marx costumava incitar a nada menos que a criação de um “novo mundo”.

A sua “geração”, insistia ele, como os judeus que Moisés conduziu pelo deserto, precisa “conquistar um mundo novo” e “aniquilar tudo para dar lugar aos homens que estejam à altura de um mundo novo”.[3]

Os marxistas assumem o papel de um salvador sacrificial responsável por uma nova aliança secular para o mundo novo.

Essa é a missão totalitária e diabólica do comunismo. De fato, a definição de totalitarismo consiste numa transformação fundamental para ser mais exato, na transformação fundamental da natureza humana mediante alguma forma de agitação político-ideológico-cultural.

O Paul Kengor disse que arrepiou os cabelos do corpo, quando Barack Obama disse aquilo, e sentiu um embrulho no estômago ao observar as pessoas aplaudindo, cegas, maravilhadas.

É perturbador ver essa irreflexão displicente nos habitantes de uma nação fundada sobre princípios tão extraordinariamente refletidos e sólidos como os da Declaração de 1776[4].

  1. Uma falsa transformação fundamental.

E, no entanto, os dois mandatos de Obama foram um momento decisivo, de fato. O país parece que realmente começou a passar por uma transformação fundamental desde esse período até os anos 2010.[5]

Porém, a transformação fundamental não aconteceu nos setores esperados (ou temidos) em 2008, ou que Obama talvez tivesse em mente, mas nunca mencionou qual seria essa transformação radical.

Não foi uma mudança fundamental de postura face ao papel do Estado, impostos, regulamentações, economia, classes ou mesmo serviços de saúde, onde Obama teve suas conquistas legislativas de praxe. Também não foi algo que aconteceu na política externa.

O fato é que a verdadeira transformação fundamental na América (e no Ocidente em geral) aconteceu no campo da cultura, com destaque para as questões de orientação sexual, de gênero, de casamento e família.

A mudança nesse caso foi sem precedentes e muito além do que se podia imaginar em 2008.

Quando a Suprema corte (EUA), por margem de um voto, tomou para si a prerrogativa de redefinir o conceito de matrimônio (que até então cabia apenas à lei bíblica e natural) e impôs esse novo “Direito Constitucional” sobre todos os 50 estados.

Se já houve algum dia uma imagem capaz de registrar uma transformação fundamental, foi essa. E foi apenas uma das incontáveis “conquistas” alardeadas pelo governo Obama.[6]

Nenhuma outra mudança realmente dramática aconteceu em qualquer outra área do seu governo, nada foi feito que realmente ajudasse o país.

As conquistas incluíam o famoso decreto dos banheiros, segundo o qual todas as escolas públicas eram obrigadas a alterar por completo seus banheiros e vestiários, tornando-os acessíveis a meninos que preferissem ser chamados de meninas.

A partir daí, a transformação fundamental da cultura atingiu a velocidade da luz, com o número de opções de “identidades de gênero”, por exemplo, crescendo exponencialmente.

Esse tipo de mudança, mais do que em qualquer outro setor, parece impossível de reverter, senão por um verdadeiro milagre, por algo como um renascimento religioso (avivamento) ou uma mudança decisiva no pensamento espiritual e moral corrente.

Como já vimos, o conselho da cidade de Nova York disponibiliza aos seus funcionários públicos 31 opções diferentes de “identidade de gênero”, incluindo a opção “duas almas”.

O Paul Kengor que isso não é nada se comparado ao Facebook, que em diferentes vezes desde 2014 listou 51, 53, 56, 58 e 71 gêneros, ou à BBC, que (em 2019) ensinou às crianças que existem mais de cem gêneros.[7]

Onde isso vai parar? Ninguém sabe de fato. A revolução cultural da esquerda política no front sexo-gênero-família é universal, assim como sua intolerância para com os dissidentes.

Vemos isso na cultura do medo e da intimidação promovida pelas orgulhosas forças da “diversidade” e da “tolerância”.

Que com toda agressividade denunciam, desumanizam, demonizam e destroem qualquer um que discorde de suas novas concepções descaradas de casamento.

Mesmo que suas “novas concepções”; estejam em desalinho com a postura predominante da sociedade tradicional sobre a família, ainda que 99,99% ou mais dos seres humanos que já pisaram sobre a Terra desde a aurora dos tempos.

Ao invés disso, os cristãos que são uma grande parcela da sociedade, é que sempre são pintados como casos isolados, anormais, extremistas, preconceituosos, haters[8] (odiadores).

Eis uma transformação fundamental conceituosas de uma nação, evidencia de uma verdadeira revolução realizada pelas mãos dos herdeiros de Marx e outros radicais.

  1. “A ruptura mais radical nas relações tradicionais”

“Transformação fundamental”: é em essência, um objetivo inerentemente do secularismo marxista sendo declarado para uma massa de americanos inconscientes, não importando se Barack Obama entendia isso com clareza ou profundidade, ou se falava com verdadeira convicção.

É muito improvável que Marx (ou Herbert Marcuse, ou kate Millett ou Guilherme Reich) estivesse na cabeça de Obama naquele momento.[9]

Ele apenas surfava a tsunami que, um século antes, iniciara como uma simples marola (pequena onda). E, como de costume, os que surfam ou boiam na onda dificilmente têm noção de quem ou o que lhes deu o primeiro impulso.

Apesar disso, a meta de Karl Marx e do projeto marxista desde o início foi a da transformação fundamental, da revolução permanente, da crítica universal – nada menos que “a crítica radical de tudo quanto existe”.[10]

As suas ideais eram tão radicais e tão (como ele mesmo admitia) “contrárias à natureza das coisas”…

Que inevitavelmente levaram ao totalitarismo; isso porque elas são de fato totalitárias, no sentido rigoroso do termo, na medida em que buscam transformar a natureza humana e a ordem fundamental.

Ao longo desses sermões, vimos diversas passagens de Marx que expressam isso. Segue um breve sumário:

  • Marx no Manifesto dizia que o comunismo representa “a ruptura mais radical nas relações tradicionais”.
  • Marx no Manifesto reconhecia que o comunismo busca “abolir o estado presente de coisas”.
  • Marx no Manifesto afirmava que “[os comunistas] declaram abertamente que seus fins só serão alcançados com a derrubada violenta de toda a ordem social existente”.
  • Marx no encerramento do Manifesto dizia: “Os comunistas apoiam em toda parte todo movimento revolucionário contra as condições sociais e políticas atuais”.
  • Marx em uma carta a Arnold Ruge convocava à “crítica radical de tudo quanto existe”.
  • “Marx tinha uma citação predileta tirada do Fausto de Goethe: “Tudo o que existe merece perecer”.
  • Marx, no ensaio em que declara que a religião é “o ópio do povo”, dizia que “a crítica da religião é o começo de toda crítica” (observe-se que nesse ensaio ele utiliza a palavra “crítica” 29 vezes).

Além da crítica radical, havia a abolição radical. A palavra “abolição” é onipresente nos escritos de Marx. Como observou o historiador Robert Payne, o termo parece quase saltar de cada página do Manifesto.[11]

“E após ter ‘abolido’ a propriedade, a família e as nações, e todas as sociedades existentes, Marx demonstra pouco interesse pela criação de uma nova sociedade a partir das ruínas da velha”, nota Payne.

“[Ele] escrevera, em um poema a Jenny, sua esposa, que iria ‘golpear o mundo e ver seu colapso’.

Movido por seu amor a ela iria então ‘vagar, divino e vitorioso, pelas ruínas do mundo e, convertendo minhas palavras em atos, serei igual ao Criador’. O Manifesto comunista foi esse golpe contra o mundo”.[12]

E foi de fato. Os defensores mais complacentes de Marx pretendem caracterizar Lenin e Stalin e outros tiranos como aberrações do marxismo, como terríveis totalitários que queriam destruir a antiga ordem.

Na verdade, esses homens estavam apenas seguindo Marx, o maior dos rebeldes e revolucionários. Ele já queria colocar tudo abaixo muito antes que Lenin e Stalin sequer tivessem nascido.

É o que o próprio Lenin professaria, como transparece em suas declarações.

Apenas a título de exemplo, veja seu discurso de 1920 no III Congresso de Toda a Rússia da União Comunista da Juventude da Rússia, publicado no Pravda em outubro de 1920.

Esse discurso mostra diversas afirmações impactantes contra a religião.

Mas é relevante também a tarefa expressa de Lenin de começar logo a abolir e transformar fundamentalmente a velha ordem:

“Camaradas, gostaria de conversar hoje sobre quais são as tarefas da Liga da Juventude Comunista”, começou ele diante de seiscentos representantes no congresso de outubro de 1920.

“É precisamente à juventude que incumbe a verdadeira tarefa de criar a sociedade comunista.

Porque é evidente que a geração de militantes educada na sociedade capitalista pode, no melhor dos casos, realizar a tarefa de destruir as bases do velho modo de vida capitalista baseado na exploração”.[13]

Vladimir Lenin, autodenominado guardião da chama marxista,[14] não podia ter sido mais claro: a “tarefa” no caso era destruir as bases do velho mundo.

Lenin diz que “a questão está em que, juntamente com a transformação da velha sociedade capitalista, o ensino, a educação e a formação das novas gerações, que criarão a sociedade comunista, não podem ser conforme os antigos”.

O ensino, a educação e a formação da juventude precisam ser orientados a tal fim:

“Só transformando radicalmente o ensino, a organização e a educação da juventude conseguiremos que os esforços da jovem geração tenham como resultado a criação duma sociedade que não se pareça com a antiga, isto é, da sociedade comunista”.

Perceba a linguagem inconfundível de Lenin: “Destruir as bases do velho”, “transformação da velha sociedade”, “transformar radicalmente”[15].

A velha escola era algo repugnante, alegava Lenin: “A velha escola produzia os servidores necessários aos capitalistas. […] Isso quer dizer que devemos suprimi-la”.

Segundo o líder comunista, a nova “tarefa” era muito simples: “aprender o comunismo”. Dizia à juventude: “Vós deveis edificar a sociedade comunista. […]

Deveis ser os primeiros construtores da sociedade comunista entre os milhões de construtores que devem ser todos os rapazes, todas as moças”.

Todos os jovens deveriam prosseguir com essa tarefa total em questão. Sem exceções. “Deveis educar-vos para serdes comunistas”, exigia Lenin. “Ser comunista significa organizar e unir toda a jovem geração”.

Quanto à “velha sociedade”, dizia ele: “Precisávamos destruí-la, precisávamos derrubá-los”. Isso consistia em “derrubar o tsar, em derrubar os capitalistas, em aniquilar a classe dos capitalistas”.

Assim, o comunismo se tornaria Ο princípio e a vida do jovem. “A nova geração comunista deve edificar a sociedade comunista”, insistia Lenin.

A Juventude Comunista deve consagrar todas as suas horas livres a melhorar as hortas, ou a organizar em qualquer fábrica a instrução da juventude, etc.”

Este era o campo missionário: Um campo literal, ou um chão de fábrica, era o terreno missionário que os discípulos deviam semear.

O comunismo era o alfa e o ômega, de fato como um chamado religioso, uma nova ordem. Então segundo ele haveria ocorrer essa transformação fundamental.

  1. A marcha pelas instituições

Esse apelo à transformação total é algo com que se identificam hoje os marxistas culturais e sexuais.

Embora muitos dos marxistas clássicos por seu raciocínio cultural-sexual em oposição ao econômico, eles compartilham de uma semelhança com seus antepassados nessa meta permanente de transformação fundamental pela crítica de tudo quanto existe, sobretudo das instituições e valores judaico-cristãos.

A ambição original por uma revolução econômica/de classe deu errado. E por isso os marxistas atuais – incluindo os Partidos Comunistas, outrora lar do marxismo clássico passaram para a cultura e o sexo.

Essa nova forma evoluída de marxismo é tão radical em sua proposta de redefinição da natureza humana que faria o próprio Karl Marx corar e se desconcertar.

O Paul kengor diz que o principal artigo do website do PCEUA era “A cultura capitalista da supremacia masculina e da misoginia” um texto vertiginoso (perturbador) de tanto radicalismo cultural.[16]

Ele personifica o tom do movimento marxista hoje. Como observamos, esse marxismo cultural não surgiu no dia 5 de maio de 1818, com o nascimento de Marx, mas cem anos depois, com o nascimento daquela que viria a ser conhecida como Escola de Frankfurt.

Mostramos como esses marxistas alemães da década de 20 e 30 eram freudo-marxistas que consideravam o marxismo ortodoxo/clássico muito restrito.

Nos anos 60, eles e seus discípulos, sobretudo na América e no Ocidente em geral, cobiçavam transformações revolucionárias na sexualidade e na cultura.

As universidades seriam o seu chão de fábrica: eles recrutavam os estudantes, a academia, as artes, a mídia, o cinema todas as forças de transformação cultural.

Mesmo assim, podemos ver o marxismo cultural da Escola de Frankfurt não como uma substituição ao marxismo clássico, mas como o pedal do acelerador de um carro engasgado, quase parando.

O marxista cultural concorda plenamente com o marxista clássico no sentido em que a história passa por uma série de estágios rumo à utopia final marxista:

Pelo feudalismo, capitalismo, socialismo e finalmente atinge a sociedade sem classes; porém ele entende que os comunistas não chegarão lá apenas através da economia.

Em essência, os marxistas culturais tiveram a astúcia de perceber que os marxistas clássicos fracassariam redondamente em tentar derrubar o Ocidente com uma revolução econômica; o capitalismo sempre acabaria com o comunismo; as massas escolheriam o livre-mercado.

Os marxistas culturais entendem que a revolução exige uma guerra cultural em vez de uma guerra econômica. E essa guerra cultural é uma guerra principalmente contra a religião.

Se por um lado o Ocidente – a América, com certeza não é vulnerável a tolice utópica de uma revolta das massas sindicais oprimidas, por outro ele se torna seriamente vulnerável quando se trata, por exemplo, de sexo ou de pornografia e pedofilia.

Enquanto uma revolução em prol da redistribuição de renda não tem tido apelo para a maioria dos cidadãos do Ocidente, uma revolução sexual é irresistível[17].

As diabruras dessa ideologia se concentram principalmente no aumento da prática pecaminosa dos pecados sexuais proibidos pelas Escrituras.

  1. O marxista mais perigoso da história.

Nesse front cultural, não podemos esquecer, porém, de uma figura crucial, de fora da Alemanha.

Em 1926, aos 35 anos de idade, Antonio Gramsci foi preso por Mussolini em sua terra natal, Itália, e ficou os últimos onze anos de vida na prisão, onde passaria escrevendo, escrevendo e escrevendo – compilando um volume principal de 33 Cadernos do cárcere.[18]

Samuel Gregg o classifica como possivelmente “o socialista mais perigoso da história”.[19]

Gramsci também visava a cultura[20]. Se os propugnadores[21] da transformação radical de extrema-esquerda queriam mesmo a vitória, precisavam em primeiro lugar tomar posse dos chamados “meios de produção cultural”; ou seja, as instituições formadoras, como a mídia e as universidades, até mesmo as igrejas.

O próprio Gramsci previu uma transformação social sendo realizada por meio do que outros chamaram de uma “longa marcha” gramsciana “pelas instituições”[22] – isto é, as instituições culturais.[23]

Só quando os marxistas dominassem essas instituições eles seriam capazes de convencer um número suficiente de pessoas a apoiar sua revolução marxista.

“Essa parte de sua tese foi como um maná descido do Céu para muitos intelectuais ocidentais marxistas”, afirma Gregg acerca de Gramsci.

“Em vez de entrar num coletivo operário ou montar bombas em porões, um professor marxista poderia ajudar a libertar a sociedade da exploração capitalista escrevendo ensaios em seu escritório ou ensinando em sala de aula”.

E hoje fazem isso com vídeos na internet com milhões de acessos, pois são leituras obrigatórias nas escolas e universidades.

Os herdeiros de Gramsci, como a progênie ideológica de Marx, Lenin e da Escola de Frankfurt, insistiam na necessidade de se questionar tudo, incluindo os absolutos morais e a base judaico-cristã da civilização ocidental.

Para aproveitar as “alturas culturais” da sociedade, esses esquerdistas devem espalhar o que o teólogo reformado francês Paul Ricœur chamou de “a hermenêutica da suspeita”.

Simplificando, isso significa que nada é o que parece. Ideias aparentemente benignas (como “justiça” e “devido processo”) devem ser expostas como estratagemas burguesas cínicas que servem para disfarçar injustiças sistemáticas.

Tinham de pintar convenções aparentemente benéficas como injustiças sistemáticas a serem expostas.

O Dr Samuel Gregg comenta[24]:

Não importa, por exemplo, quão bom possa ser o jornalismo de um cristão devoto ou de um judeu religioso.

Também não é importante que um conservador político ou defensor do mercado livre tenha realizado investigação de ponta na sua área académica ou produzido um filme excelente.

Essas pessoas devem ser marginalizadas por causa da sua fé e/ou política, para não ameaçarem a “hegemonia” da esquerda sobre os meios de “produção cultural”.

A verdade já não é importante, pois a verdade é apenas uma construção da classe dominante.

O que importa é a prossecução e manutenção do poder, para que milhões de consumidores de meios de comunicação social e milhares de estudantes universitários possam continuar a ser esclarecidos sobre as estruturas ocultas de privilégios.

E Samuel Gregg[25] continua:

O aspecto mais insidioso desta mentalidade é que a sua lógica, nos seus termos, não pode ser refutada.

Se questionarmos, por exemplo, a hermenêutica da suspeita, então devemos fazer parte do aparelho de controlo da classe dominante, quer o percebamos ou não.

Na pior das hipóteses, você é mau. Na melhor das hipóteses, você é um idiota. Como Joseph Ratzinger (papa bento) observou certa vez, esta era uma réplica padrão utilizada pelos teólogos da libertação com inclinações marxistas sempre que alguém questionava as suas posições.

O Kengor afirma:

Foi assim que surgiram professores vociferando contra tudo, desde o “patriarcado”, passando pelo “imperialismo branco” e chegando até a “transfobia”.

No século XXI, até o sexo biológico deixou de ser considerado ponto pacífico. Já não há mais instituição tradicional fora do alcance da esquerda cultural.

Na verdade, o marxismo cultural se tornaria tão “crítico” de tudo que acabaria definindo-se a si mesmo como “teoria crítica”.

Hoje há departamentos acadêmicos e programas inteiros dedicados à “teoria crítica” e a suas ramificações, como a “teoria queer” e a “ideologia de gênero”.

A Occidental College, uma das universidades que formaram a mente de Barack Obama, está longe de ser uma anomalia ao ostentar o seu Departamento de Teoria Crítica e Justiça Social.

Em seu website, o departamento promete educar os deslumbrados estudantes nos princípios do “marxismo, psicanálise, Escola de Frankfurt, desconstrucionismo, teoria crítica de raça, teoria queer, teoria feminista e teoria pós-colonial”.

Para o marxismo cultural, a “teoria crítica” é o zeitgeist, o espírito da época. Michael Walsh a denomina “o culto da teoria crítica”, o parquinho no “Palácio do Prazer do Demônio”, instrumento do que ele chama atualmente de “subversão do Ocidente”.

Para citar os radicais dos anos 60, Hey, hey, ho, ho, Western Civ has got to go [Abaixo, abaixo, abaixo o Ocidente!].”[26]

Talvez o mais frustrante para quem se horroriza com tudo isso seja ver grandes empresas internacionais[27], patrocinando propagandas por aí redefinindo o casamento e o gênero, sem fazer ideia de que é cúmplice de uma vasta revolução cultural marxista. E trazendo grandes prejuízos para suas marcas.

Sam Gregg descreve bem:

“A pior parte do legado de Gramsci é ele ter transcendido de fato as origens marxistas.

Sua cosmovisão é hoje aceita cegamente por milhares de professores, escritores e até homens de igreja, que não fazem a mínima ideia de como se comprometeram com o marxismo cultural”.

Essa é uma terrível verdade. E então, acrescenta Gregg:

“as enormes estruturas de cinismo que as ideais de Gramsci construíram, e que hoje corroem a sociedade ocidental por dentro, se mostrarão muito mais difíceis de desmantelar do que os blocos de concreto do velho Muro de Berlim”.

De fato, elas são muito mais difíceis. O povo de Berlim não tinha problemas em reconhecer o equívoco concreto daquele muro que os encurralava.

No entanto, experimente dizer aos defensores das ideias progressistas que a causa defendida por eles está concretamente equivocada, e que podem ter origens no marxismo. Das duas uma: ou olharão para você com cara de tacho, ou rirão na sua cara.

CONCLUSÃO:

A bíblia que a serpente era a mais astuta, mas esperta, ardilosa, enganadora. Essas características são marcantes no secularismo marxista.

O uso do engano ardiloso e maldoso é assustador. As pessoas que defendem essa cosmovisão são tomadas de um autoengano profundo.

Essa visão de munda tem um proposito único, se opor e demolir toda os valores das Escrituras. O marxismo cultural é a pior heresia já criado pelo diabo desde o início da criação.

Apocalipse 12:9 “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”.

 

E o alvo dele são os nossos filhos e precisamos ajudá-los a vencer essa heresia. Somente a igreja pode salvar o mundo de uma anarquia global. Somente o Evangelho tem o poder de vencer esse demônio secularista.

Jesus disse em Lucas 10:18-24

¹⁸ E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu.

¹⁹ Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum.

²⁰ Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.

²¹ Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.

²² Tudo por meu Pai foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

²³ E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes.

²⁴ Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.

 

[1] Esse sermão é uma adaptação do livro do Paul Kengor

[2] “Obama Rallies Columbia, Missouri”, RealClearPolitics, 30 de outubro de 2008, publicado em: https://www.realclearpolitics.com/articles/2008/10/obama_rallies_columbia_missour.html.

[3] Veja a citação acima. 3 Cf. Paul Kengor, “Fundamental Transformation: The 2010s, the LGBTQ Decade”, National Catholic

[4] A declaração de independência aconteceu em 4 de julho de 1776. A declaração de independência dos Estados Unidos foi emitida durante o Segundo Congresso Continental da Filadélfia. A independência dos Estados Unidos foi declarada em 4 de julho de 1776 e reconhecida pelos ingleses em 1783, após cinco anos de guerra.

[5] Cf. Paul Kengor, “Fundamental Transformation: The 2010s, the LGBTQ Decade”, National Catholic Resgister, Janeiro de 2020.

[6] “FACT SHEET: Obama Administration’s Record and the LGBT Community, Assessoria de Imprensa

da Casa Branca, 9 de junho de 2016, publicado em: https://obamawhitehouse.archives.gov/the-press-

office/2016/06/09/fact sheet-obama-administrations-record-and-lgbt-community; e “FACT SHEET: Pro-

moting and Protecting the Human Rights of LGBT Persons”, Assessoria de Imprensa da Casa Branca, 29 de junho de 2016, publicado em: https://obamawhitehouse.archives.gov/the-press-office/2016/06/29/fact sheet promoting-and-protecting-human-rights-lgbt persons.

[7] cf. citações acima sobre o conselho da Cidade de Nova York e a bbc. Para o facebook e suas 56,58 е 71 “opções de gênero”, cf. e os artigos no Daily Beast, Huffington Post, Slate, ABC News e London Thelegraph, disponíveis em: https://www.thedailybeast.com/what-each-of-facebooks-51-new-gen- der-options-means; https://www.huffpost.com/entry/facebooks-gender-identities_b_4811147; https:// slate.com/technology/2014/02/facebook-custom-gender-options-here-are-all-56-custom-options.html; https://abcnew sers/; e news.go.com/blogs/headlines/2014/02/heres-a-list-of-58-gender-options-for-facebook-u https://www.telegraph.co.uk/technology/facebook/10930654/Facebooks-71-gender-options-co-me-to-UK-users.html.

[8] O que é ser uma pessoa haters? Os haters (“odiadores”, em tradução livre para português) são pessoas que fazem críticas mal-intencionadas na Internet, cujo objetivo é magoar, fazer piada ou até mesmo sentir-se superior

[9] O Paul kengor já abordou muitas vezes em livros, artigos e comentários a questão da simpatia de Barack Obama pelo socialismo, pelo comunismo e pelo marxismo, e qual a relevância disso. Trato do assunto mais profundamente em minha obra sobre o mentor de Obama, The Communist: The Untold Story of Frank Marshall Davis, Barack Obama’s Mentor. NY: Mercury Ink / Simon & Schuster, 2012, onde cito por extenso os comunistas que conheceram Obama na faculdade, incluindo o presidente da organização marxista do Occidental College na época. O kengor diz: Acredito não haver dúvidas de que Obama foi comunista na época da faculdade; na verdade, até antes de ingressar nela. À época em que chegou à presidência, acredito que ele já fosse um esquerdista mais genérico, apesar de radical em certos aspectos, especialmente no âmbito cultural, Obama é uma amostra viva da guinada tomada por muitos marxistas – a cultura. A fonte que Kengor entrevistou para o The Communist, o Dr. John Drew, ainda enxergava no presidente Obama muito da cosmovisão e “arquitetura mental marxista” que vira nele na época da faculdade, incluindo questões de classe e economia. Drew, por sinal, foi um marxista cultural, grande fã de Herbert Marcuse e outros autores da Escola de Frankfurt. Cf. Kengor, The Communist, pp. 249-262.

[10] Como citamos antes, cf, a carta de Marx a Arnold Ruge em setembro de 1843, disponível em: https://www.marxists.org/archive/marx/works/1843/letters/43_09-alt.htm e htps://www.marxists.org/archive/marx/works/1843/letters/43_09.htm.

[11] “Parece” é jeito de dizer. O termo “abolição” ou “abolir” não consta literalmente em cada página, mas por vezes certamente parece ser o que ele quis dizer, dada a enorme frequência e contraste desse

linguajar de Marx.

[12] Payne, Marx: A Biography, p. 173.

[13] O III Congresso de Toda a Rússia da União Comunista da Juventude da Rússia aconteceu em Moscou

de 2 a 10 de outubro de 1920 e contou com a participação de cerca de 600 representantes. Lenin proferiu um discurso na primeira sessão, ao fim da tarde de 2 de outubro. A transcrição foi publicada no Pravda em 5, 6 e 7 de outubro de 1920. Também aparece in: Lenin, Collected Works, vol. 31. Cf. a página em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1920/oct/02.htm.

[14] “Semi-xará”: isto é, Lenin empresta seu nome à metade da expressão “marxismo-leninismo”, o que

evidencia sua importância no movimento – NT.

[15] Nesse ponto, como de praxe, ele se refere a Marx, sua inspiração. “Ele foi um gênio”, diz Lenin para o júbilo dos seus jovens camaradas; em particular porque o objetivo de Marx era transformar radical e criticamente tudo quanto existe.  “Ele reelaborou de um modo crítico, sem deixar de dar atenção a um único ponto, tudo aquilo que a sociedade humana tinha criado”, disse Lenin, falando de Marx quase num sentido de onipotência.  “Reelaborou tudo aquilo que o pensamento humano tinha criado, submeteu-o à crítica [e] comprovou-o no movimento operário”. Isso valia sem dúvidas para o homem que convocava à crítica radical de tudo quanto existe. Ele e Lenin tinham a mesma mentalidade.

[16] Michelle Kern, “The capitalist culture of male supremacy and misogyny”, People’s World, 25 de março de 201, disponível em Http://www.cpusa.org/article/the-capitalist-culture-of-male-supremacy-and-misogyny/.

[17] Na presente obra, passamos por algumas figuras importantes da Escola de Frankfurt, incluindo Georg Lukács, Walter Benjamin, o Wilhelm Reich de A revolução sexual e (entre outros) Herbert Marcuse, que com seus circunlóquios bizarros arrastou a Nova Esquerda dos anos 60, tornando-se o guru ideológico dos radicais que hoje ocupam as cátedras das nossas universidades.

[18] A tradução inglesa definitiva da obra de Gramsci é a que Joseph Buttigieg (pai de Pete Buttigieg, político democrata americano) realizou da enorme coleção dos Cadernos dias e Quaderni del carcere),

publicada pela Columbia University Press em 1992.

[19] Samuel Gregg, “The Most Dangerous Socialist in History”, The Stream, 25 de julho de 2016.

https://www.faithandfreedom.com/marx-at-200-classical-marxism-vs-cultural-marxism/

[20] https://www.nzcpr.com/the-most-dangerous-socialist-in-history/

[21] lutar em defesa de (algo); defender, pugnar. “defender suas ideias”

[22] Existe um debate sobre quem teria cunhado a frase: “Longa marcha pelas instituições” para descrever

o objetivo e a estratégia Gramsci. As fontes mais atualizadas na internet atribuem-na a um escritor e

líder estudantil marxista da Alemanha Ocidental (claro) nos anos 60 chamado Rudi Dutschke.

[23] Dos 33 cadernos de Gramsci, os cadernos 16 e 26 tratam dos “tópicos culturais” I e II, respectivamente. De qualquer modo, a cultura é um tema recorrente ao longo dos Cadernos do cárcere

[24] https://www.nzcpr.com/the-most-dangerous-socialist-in-history/

[25] Samuel Gregg –  possui mestrado em filosofia política pela Universidade de Melbourne e doutorado em filosofia em filosofia moral e economia política pela Universidade de Oxford, onde trabalhou sob a supervisão do professor John Finnis. https://www.amazon.com/stores/author/B001IXO17Q/about

[26] Michael Walsh, Escola de Frankfurt: o Palácio de Prazer do Demônio. Campinas, Vide Editorial, 2020.

[27] Nos EUA, os clientes assíduos do Starbucks (rede de café americana) passaram a ser associados com a

cultura progressista da “lacração”, promovida pela própria empresa (como tantas outras multibilionárias) em suas campanhas de publicidade – NT.