Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 24 –  Nunca se sabe. Eclesiastes 11:1-6. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 02/09/2020.

INTRODUÇÃO

Você nunca sabe se prosperará, seja isto ou aquilo.Todos devem ter ficado impressionados com o curioso fato de que Colombo falhou na maioria das coisas que tentou.

Ele cometeu um grande erro no início em seus cálculos. Ele nunca soube que não havia chegado à Ásia. Ele procurou ouro e riqueza, mas morreu na pobreza.

Só que ele provou que a terra era redonda, o que já havia sido provado de forma satisfatória, tudo saiu diferente do que ele pensava. E ainda assim o celebramos como se ele tivesse sido completamente bem-sucedido.

Existe um certo tipo de fracasso magnífico que se apodera de nossa imaginação e simpatia de forma ainda mais eficaz do que o sucesso irrestrito.

Os episódios mais emocionantes da história são histórias como a de Colombo – de homens que ensaiaram grandes empreendimentos e fracassaram, mas no afinal, provaram ter feito algo muito mais importante e diferente do que esperavam.

A Reforma Protestante é uma história de fracasso magnífico. Nada é mais patético do que o último ano cansativo de A vida de Lutero, ou o bravo Zwinglio morrendo em batalha.

Os reformadores se propuseram apenas a avançar um pouco, a reformar certos abusos e corrigir alguns erros.

Mas acabaram incitando facções e guerras, eles dividiram a Alemanha, eles liberaram todo tipo de pensamento livre. Cem anos depois de Lutero, a Reforma na Alemanha ainda parecia um fracasso.

Agora, finalmente, desfrutamos de uma fé reformada segundo as Escrituras, e que espalhou por todo mundo. Lutero sonhou com isso, mas morreu achando que tinha fracassado.

A história do famoso Savonarola é igualmente instrutiva. Ele não salvou Florença como sonhava. Ele não podia fazer milagres, Suas visões não se realizaram. Eles o mataram antes de ver os frutos do seu trabalho. E sua vida inspirou a reforma protestante.

Veja a história de Colombo. Ele estava certo, no geral, na grande questão principal; a saber, que, sendo a Terra redonda, uma viagem para o oeste encontraria terra e, indo longe o suficiente, o continente da Ásia.

Toda a sua grandeza e sucesso vieram de seguir uma grande verdade. Mas Colombo errou por milhares de quilômetros em todos os detalhes de sua geografia. Seus mapas estavam errados, pois foram desenhados por suposições, não por fatos.

Mas outros também navegam, como Vasco da Gama, em outro rumo aparentemente oposto. É possível que os homens de nenhuma das expedições encontraram exatamente o que procuravam.

Vasco da Gama e Colombo demonstraram ajudar, e por fim avançaram um contra o outro. Daí desastres e naufrágios aconteceram até mesmo para aqueles que navegaram corretamente para o oeste.

Assim, Lutero, por mais bravo que fosse, seu sucesso foi apenas em parte. Ele morreu e nunca soube que a reforma, realmente aconteceu.

Assim as almas dos homens em todos os tempos; lançadas no mar da vida, tem que trabalhar com os velhos mapas das suposições. E não importa o quanto ainda estamos tentando fazer mapas.

Nenhum homem, chegou ao destino que realmente procurava,nenhum conseguiu prever os resultados. Na maioria das vezes, os resultados alcançados não foram procurados.

Às vezes, é tentador perguntar-se se qualquer coisa que façamos para Deus realmente importa. Oramos por um amigo, mas será que nossas orações são respondidas?

Damos dinheiro para ajudar os pobres, mas será que isso realmente muda suas vidas? Compartilhamos o evangelho, mas será que alguém é salvo por causa disso?

Fazemos culto na praça da nossa cidade a 8 anos, e não temos aqui na igreja ninguém que tenha recibo a oração para crer em Jesus.

Quase nada, sabemos de alguém que tenha realmente crido por meio da nossa pregação, e parece ser assim, pelo menos, é o que sentimos.

No entanto, há também momentos em que conseguimos vislumbrar um pouco daquilo que Deus está fazendo quando algo que fizemos por Jesus faz uma diferença na vida de alguém.

Mesmo quando não sabemos como Deus usará nosso trabalho para avançar o seu reino, devemos continuar a orar, continuar a servir e continuar a esperar, “sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1 Co 15.58).

O Pregador adota essa perspectiva em Eclesiastes 11, em que ele nos instrui a viver com ousadia, não permitindo que as INCERTEZAS DA VIDA nos impeçam de assumir os riscos por meio da fé para a glória de Deus.

A melhor parte da sabedoria espiritual não é cautela, passividade,melancolia,mas uma coragem para tomar uma decisão final por meio de Cristo.

  1. AVENTURE-SE NA FÉ (V.1).

O pregador está para concluir seu sermão, então ele exorta solenemente seus ouvintes a tomarem uma decisão firme.

Depois de dizer que “tudo é vaidade de vaidades”, e que nada debaixo do céu, faz sentido, então você vai ter que tomar uma decisão: “lança o teu pão sobre as águas”.

O tolo tomará a decisão da indiferença e da incredulidade. Mas o sábio entende que a vida não é monótona; é uma aventura que deve ser vivida pela fé e coragem.

O pregador exorta seus ouvintes para uma obediência decisiva, assumindo os riscos e fazendo o investimento certo nas coisas certas.

A medida que vamos ficando mais velhos, corremos o risco do medo criar uma porção de hábitos que resultam numa rotina tediosa e previsível.

Não podemos deixar que nossa vida termine em um pântano. Quando aceitamos a Jesus Cristo como nosso salvador, nos casamos com a aventura; e passamos a viver pela fé e a esperar o inesperado.

O capítulo começa com duas ordens difíceis de interpretar. As ordens em si são simples (“lança” e “reparte”), mas as imagens poéticas desses versículos são difíceis de definir:

Vamos analisar a primeira ordem do pregador:”Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás” (Ec 11.1)

O que, exatamente, o pregador pretende transmitir quando diz: “Lança o teu pão sobre as águas?”

Essa imagem sempre nos deixa curioso, pois inicialmente parece que a Bíblia esteja falando no sentido literal.

Agente pode imaginar pães frescos sendo levados pelo rio, ficando cada vez mais encharcados ou talvez envoltos em uma sacola de plástico colorido. Mas se o rio levasse o pão, quem o encontraria?

E se alguém o encontrasse “após muitos dias”, quem iria querer comê-lo’? Ele estaria mofado. Por que, então, não ficar com o pão em vez de jogá-lo na água?

O pregador faz um apelo chamando o povo a tomar uma decisão: 

  1. Invista na Generosidade (v.1).

Alguns comentaristas acreditam que esses versículos tratam da filantropia: o Pregador está nos encorajando a ser generosos com os pobres. O pão “lançado… sobre as águas” significa compartilhar com uma pessoa que precisa de ajuda.

Eles comparam a imagem com um antigo Provérbio árabe: “Faça uma boa ação e jogue-a no rio; quando ele secar você o encontrará”.

lembram as palavras de Jesus: dai, e dar-se-vos-á boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão.”(Lc.6.38).

A mensagem não é somente se formos generosos com os outros quando estes estiverem necessitados, que nós também receberemos ajuda em tempos de dificuldade.

A generosidade é uma expressão do evangelho. O compartilhar deve ser motivado pela alegria da gratidão das bençãos recebidas. Tudo o que fazemos precisar nascer da perspectiva da generosidade.

Nossos investimentos devem ser libertados dos motivos egoístas e avarentos. Assim estaremos agindo com a justiça do evangelho.

Semelhantemente, repartir com os sete ou oito mencionados no versículo 2 também pode se referir a uma oferta aos pobres.

Em tempos bíblicos, era comum que uma família compartilhasse um banquete com vizinhos necessitados.

Por exemplo, quando Esdras leu a lei de Deus em Jerusalém e o povo celebrou, Neemias lhes disse:

“Ide, comei carnes gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor” (Ne 8.10).

Repartir significa então compartilhar as coisas boas da vida. Repartir com sete seria o cúmulo da generosidade.

Repartir com oito significa fazer ainda mais: significa fazer tudo que podemos para ajudar os outros, sem usar o medo de algum desastre futuro como desculpa para ser avarento, mas dar e dar e dar ainda mais.

Martinho Lutero disse: “Seja generoso com todos enquanto puder, use suas riquezas para fazer o bem sempre que puder”. 

  1. Invista certo (v.1).

Há, porém, outra maneira de interpretar esses versículos — não como chamado para a filantropia generosa, mas como chamado para a indústria prudente, que visa um retorno certo.

Segundo essa interpretação, as imagens dos versículos 1-2 provêm do comércio e da agricultura.

Alguns comentaristas mais antigos acreditavam que a imagem de lançar pão se referia a semear sementes numa planície inundada.

Na inundação anual do Nilo, o momento certo para semear é quando as águas começam a retroceder, deixando um leito lama e lodo, em que a semente era jogada e tempos depois produzia uma ceifa muito abundante.

Aquilo que uma pessoa encontra após muitos dias é a ceifa de trigo, o retorno do seu investimento.

Assim, o fazendeiro obtém um bom retorno rentável, pelo plantio da semente num dos solos mais férteis do mundo, que era a planície inundada pelo rio Nilo, em pleno deserto.

Assim entendemos por que o Pregador descreveria isso como “lançar pão” em vez de lançar sementes, ele já considera o resultado certo.

Mostrando que todo investimento que fazemos pela fé em Cristo na vida eterna, terá um retorno certo. Deus recompensará todos os nossos investimentos espirituais.

  1. Assuma riscos.

No entanto, há uma interpretação mais provável. “Lançar pão sobre as águas” significa investir em comércio internacional, enviando seu trigo ou qualquer outro produto pelos mares, para então aguardar o retorno dos navios com bens valiosos de terras estranhas.

Achá-los “depois de muitos dias” significa, portanto, a paciência para esperar receber a recompensa por ter assumido o risco de um investimento sábio, já que sem risco não há ganho.

O pregador nos convida a tratar dos negócios espirituais da mesma forma. Aquilo que investimos no reino de Deus nosso tempo, nossos talentos, nosso tesouro jamais se perde.

Mas se quisermos as bençãos que Deus ama nos dar, precisamos exercitar a nossa fé paciente, para esperar na maravilhosa graça.

Navios em viagens comerciais podiam demorar muito antes de produzir qualquer lucro. Eles podiam bater num recife, se deparar com uma tempestade, ou ser atacado por piratas e carga pode se perder.

No entanto, os bens precisavam ser confiados a eles. A frota de Salomão, que trazia “ouro, prata, marfim, bugios e pavões” (1 Rs 10.22), partia uma vez a cada três anos.

Semelhantemente, o pregador chama seus leitores a aceitarem a vida das mãos de Deus e a desfrutá-la a despeito de suas provações e perplexidades.

Esse tipo de vida sabia contém em si os elementos de:

  • Confiança e aventura (lança).
  • Exige um compromisso total (“teu pão” é usado no sentido de “bens, subsistência” (Dt 8.3; Pv 31.14), lança sua vida.
  • E contém uma expectativa futura (acharás).
  • Uma recompensa que exige fé paciente a longo prazo (depois de muitos dias).

Jesus disse: “aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. (Mt 16:25-26).

  1. Diversifique investimentos (v.2)

Reparte com sete e ainda com oito, porque não sabes que mal sobrevirá à terra” (Ec 11.2).

A mensagem do versículo 2 é: “Repartir com sete ou oito” é uma maneira de dizer: “não aposte tudo em uma carta“. No mundo financeiro, isso seria chamado de “diversificar os investimentos”.

Em vez de se limitar a um único produto ou serviço, muitas empresas tentam ampliar seus interesses.

Uma das principais razões para adotar essa estratégia é que “não sabes que mal sobrevirá à terra”. Ou seja, tempos ruins, também virão.

Mais uma vez o pregador nos lembra dos mistérios do futuro e dos muitos infortúnios da vida — guerra, pestes, fome e colapso financeiro, morte.

Em vez de simplesmente arriscar tudo, devemos planejar para um futuro incerto e, possivelmente, infeliz. Se formos sábios, diversificaremos os nossos investimentos.

Esperamos que, se um investimento não der certo, ele será compensado por outra fonte de renda com mais sorte.

Há maneiras de aplicar esse conselho financeiro sólido às questões espirituais do reino de Deus.

A fé verdadeira não é presunçosa, ela é sempre prudente. Ela é sabia o bastante para nos ensinar que devemos só fazer investimentos que prioritariamente nos traga as recompensas duradouras e celestiais.

A preocupação do pregador é que o homem sábio invista prioritariamente tudo que tem na vida de fé.

Em vez de agarrar-nos àquilo que temos, acumulando tudo para nós mesmos — que é o erro cometido pelo homem com um talento na parábola contada por Jesus (Mt 25.24-28) — Deus nos convida a sermos investidores de seu reino.

Não se trata exclusiva ou primariamente de dinheiro. Trata-se de ter uma ousadia santa para repartir com sete (ou ate mesmo oito) o evangelho e então esperar que o navio de Deus retorne.

Algumas das coisas que tentamos podem não dar certo, ou pelo menos parecerem não dar certo naquele momento.

Alguns dos ministérios que iniciamos, por exemplo, ou igrejas que plantamos, ou esforços que fazemos para compartilhar as boas novas da cruz e do túmulo vazio.

Mas jamais devemos parar de INVESTIR O EVANGELHO para onde quer que formos.Tudo o que fazemos deve ser um meio para investir o Evangelho.

Muitas vezes Deus não fará que nossas finanças prosperem, mas não deixará que o nosso investimento no evangelho, fiquem sem frutos.

O mais importante não deveria ser se estamos tendo “sucesso”, na profissão ou na empresa, mas se a empresa e a profissão têm tido sucesso em investir o evangelho.

Sempre que nos dedicamos aos negócios do reino, oferecemos ao Espírito Santo algo que ele pode usar e, muitas vezes, ele usa nossos“negócios pessoais” para salvar as almas das pessoas.

  1. TOME A DECISÃO.

Algumas pessoas — incluindo muitos cristãos — têm uma postura completamente indiferente em relação aos negócios espirituais.

  1. Não espere condições melhores, para fazer o que deve ser feito (v.3,4).

Algumas pessoas temem tanto qualquer risco que ficam esperando as condições perfeitas para fazer a obra que Deus lhes atribuiu. Às vezes, acabam esperando para sempre.

“Estando as nuvens cheias, derramam aguaceiro sobre a terra; caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que cair, aí ficará.

Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará” (Ec 11.3-4).

Esses dois versículos nos advertem daquilo que acontecerá se não obedecermos às ordens dos versículos 1-2.

Se não investirmos sabiamente e não darmos com generosidade, jamais faremos qualquer trabalho espiritual produtivo que resulte numa ceifa para o reino.

Para demonstrar isso, o Pregador imagina um fazendeiro no campo. As nuvens estão carregadas de chuva e está vindo uma grande tempestade, que chega a derrubar arvores.

Não há nada que o fazendeiro possa fazer em relação à chuva ou à árvore; esses eventos naturais e aparentemente aleatórios estão além do seu controle pessoal.

A tempestade e os desastres naturais, não deve impedir que o lavrador, perca o tempo em que ele deve semear a sua semente, e ceifar o seu trigo.

Mas esse fazendeiro está parado, estarrecido, perturbado e observando os ventos e as nuvens, sem cultivar o seu campo.

Aparentemente, está tentando adivinhar a hora certa para semear ou para colher o seu trigo.

Apesar de existir um “tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou” (Ec 3.2), esse homem parece não conhecer o tempo.

Lá atrás, no capítulo 10, o Pregador nos apresentou um dono de casa tolo que era preguiçoso demais para consertar seu telhado (v. 1 8). O fazendeiro no capítulo 11 também se recusa a trabalhar, mas ele é outro tipo de tolo.

Ele continua observando e esperando, mas nunca semeia ou colhe. Por que não? Porque em vez de fazer seu trabalho ele continua esperando por condições melhores.

É inútil tentar resguardar-se de todas as falhas possíveis. Exigir certa medida de sucesso, antes de agir, seria a mesma coisa que nunca agir.

Ao nos apresentar esse fazendeiro, o Pregador nos dá uma advertência prática que podemos aplicar a muitas situações na vida.

Nenhuma desculpa pode ser dada para não se fazer o que deve ser feito. Toda justificativa racional tem no seu cerne uma mentira.

Veja esse homem, teria toda a justificativa aparentemente sabia, para não lançar sua semente. Ele acabou de ver uma terrível tempestade, que derrubou arvores.

Ele poderia alegar que seria uma medida de segurança. Mas o pregador, continua, a chuva está passando e a arvore vai ficar no seu lugar. Ela já não apresenta nenhum perigo. Ele estava agindo por medo e preguiça.

Como você reage quando as coisas parecem estar além de seu controle ou quando você tem razões para temer que algo ruim possa acontecer?

Algumas pessoas ficam paralisadas com o medo. Ou elas adiam seus planos em vez de fazerem o que sabem que deveriam fazer, elas ficam adiando as coisas.

Sempre existe uma desculpa plausível para o adiamento: talvez o tempo esteja melhor amanhã.Talvez em outro lugar? Outro tempo?

Quem procura sempre acha uma desculpa para não fazer nada e ficar de braços cruzados. Esperando algo extraordinário acontecer ou aquela oportunidade dos sonhos surgir.

Enquanto pensarmos dessa forma, jamais realizaremos qualquer coisa na vida. Na época de semear, sempre existe uma possibilidade de que a chuva não venha, caso em que a semente secará e morrerá.

Na época da ceifa, há sempre a possibilidade de uma tempestade cair antes de conseguirmos recolher toda a ceifa.

Não temos garantias de nada na vida. “Tudo depende do tempo e do acaso” (Ec. 9.11). Nunca se sabe. Mesmo assim, diz o Pregador, você nunca colherá se não semear.

Não é certo que você colherá tudo o que semear, mas é absolutamente certo que você não poderá colher a menos que semeie.

  1. Não adie as coisas por medo, mas avance com fé.

Em vez de contemplar o vento e as nuvens, imaginando todas as dificuldades e esperando por circunstâncias melhores, devemos tentar e fazer o que pudermos com aquilo que Deus nos deu na vida.

Não espere o tempo perfeito, nem o dinheiro suficiente, nem as garantias de resultados. Faça o que precisa ser feito, com o que você tem.

Siga o sonho que você acredita ter recebido de Deus como seu chamado para a vida. Envolva-se no ministério. Demonstre misericórdia com uma pessoa que esteja passando por necessidades.

Comece uma amizade com um vizinho e ore para que Deus use esse relacionamento para levá-lo a Cristo.

Não adie as coisas por medo, mas avance com fé — não com a fé de que seus próprios esforços serão bem-sucedidos, necessariamente, mas com a fé de que Deus usará o que você estiver oferecendo e usará isso para a gloria dele.

Mas independentemente daquilo que você fizer, não use a soberania de Deus ou as dificuldades incertas da vida como desculpa para ficar de braços cruzados.

Se há riscos em tudo, então é melhor fracassar na tentativa do que ficar guardando seus recursos para si mesmo.

Quando se trata da obra do reino, deveríamos sempre ser investidores dispostos a assumir riscos para a glória de Deus (Lc 19.11-27).

III. CONFIE NA PROVIDÊNCIA(v.5).

O capítulo 11 começou com a ordem de “lançar” e “repartir”, mesmo sem saber que bênçãos ou desastres nos esperam no futuro (Ec 11.1-2).

Depois, o Pregador nos advertiu daquilo que vai acontecer se nos recusarmos a agir, como o fazendeiro que observa o tempo, mas nunca cultiva o seu campo (Ec 11.3-4).

Agora, no versículo 5, ele usa uma analogia para nos lembrar de quão pouco conhecimento temos em comparação com Deus, e isso preparará sua ordem final.

  1. Não sabemos nada (v.5).

Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se os ossos no ventre da mulher grávida (v.5)

Assim o Pregador faz duas analogias. A primeira analogia aponta para o dito como uma analogia para os propósitos misteriosos de Deus: não sabemos de onde o vento soprará.

Nós não sabemos como e quando as coisas acontecem. Existem mistérios, dos quais não tempos condições de entender.

Jesus usou a mesma analogia quando ensinou a Nicodemos sobre nascer de novo, o mistério da regeneração:

“O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai, assim é todo o que é nascido do Espírito”(Jo 3.8).

No entanto, é igualmente provável, ou até mais provável, que o Pregador esteja falando sobre o espírito humano e sobre como ele anima o corpo humano.

Que mistério divino se desdobra quando uma criança cresce no ventre de sua mãe.

Talvez saibamos mais do que Salomão sobre o crescimento de uma criança desde a concepção até o nascimento, mas esse conhecimento não diminui nosso senso de maravilha.

Na verdade, quanto mais sabemos sobre a vida no ventre, mais incrível tudo parece. Uma pessoa completamente nova (às vezes, mais do que uma) cresce dentro do corpo de outra pessoa.

Digo “pessoa” porque o Pregador afirma claramente que a criança no ventre não é apenas um corpo, mas também um espírito vivo.

Quem poderia explicar o mistério de como a vida de uma alma anima a carne, sangue e ossos? Fomos realmente criados de modo “assombrosamente maravilhoso” (SI 139.14).

  1. Não sabemos nada (v.5).

Contudo, essa não é a única obra de Deus que transcende nossa compreensão.Ele continua dizendo que não sabemos nada:“assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas“. (v.5)

O Pregador usa os mistérios do ventre como analogia para todos os outros milagres que ultrapassam o pensamento humano – os mistérios da criação e da providência de Deus.

Veja a criação de Deus. Em 2004, o telescópio espacial Hubble fotografou uma faixa minúscula do espaço por meio de exposições prolongadas, que duraram mais de onze dias.

Depois, os astrônomos contaram as galáxias capturadas pela fotografia. Naquela pequena subseção do universo havia dez mil galáxias, e cada uma contém cem bilhões de estrelas.

Quem pode explicar como todas essas estrelas vieram a existir? Ou no outro extremo da escala, onde os cientistas estão tentando descobrir evidências tangíveis da “última” partícula atômica, o Bóson de Higgs, que deu origem a todas as outras partículas.

No entanto, assim que conseguirem observá-lo – se é que algum dia conseguirão – eles se perguntarão se existe algo ainda menor.

Sim, Deus “faz coisas grandes e inescrutáveis e maravilhas que não se podem contar” (Jó 5.9).

O universo todo está cheio de mistérios, desde o interior de um átomo até a estrela mais distante e tudo que existe entre esses dois extremos.

O que Deus faz em nossas vidas não é menos misterioso. Por que ele tirou algo de nós que esperávamos poder guardar. Ou por que ele nos dá algo que nunca quisemos ter?

Por que as nossas orações não são respondidas e nossos sonhos não se realizam?

Mas existem também mistérios mais felizes, incluindo o mistério da nossa própria salvação.

O que fez o Filho de Deus querer sofrer e morrer por nossos pecados, tomando sobre si a nossa culpa e a vergonha na cruz, onde ele morreu despido e totalmente abandonado?

Por que Deus escolheu justamente a nós para crer em Jesus e receber vida em seu nome? Como o Espírito Santo nos capacitou a crer que a Bíblia é realmente a Palavra de Deus?

E há também os mistérios que envolvem o trabalho da igreja. Por que o evangelho se espalha mais rápido num lugar do que em outro?

Qual é o plano de Deus para as vastas nações de povos que estão perdidas no pecado? Por que a igreja perseguida parece produzir mais frutos espirituais? O que Deus está fazendo na terra?

Ao contemplar esse tipo de perguntas, acabamos concordando com o testemunho do Pregador, segundo o qual não sabemos “as obras de Deus, que faz todas as coisas” (Ec 11.5).

  1. COLHA O QUE SEMEOU (v.6).

Esses grandes mistérios nos chamam para a humildade. Sempre que nos deparamos com algo que somente Deus conhece, somos lembrados de que ele é Deus e que nós não o somos.

Esses mistérios nos chamam também para a fé. Quando não sabemos o que Deus está fazendo, podemos tranquilamente confiar que ele sabe o que está fazendo.

  1. Obedeça fielmente (v.6).

Mas o Pregador usa os mistérios de Deus como um chamado para a obediência fiel. Aqui está a sua ordem final:

“Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas” (Ec 11.6).

Todos nós estamos semeando. Cada pensamento, emoção, motivo, é uma semente; todas as nossas palavras e ações são sementes que devem gerar, brotar e dar frutos em nossos corações e vidas, nos corações e nas vidas dos outros, nesta vida e na eternidade

São chamados a semear o “nosso pão”, a “nossa vida” sobre as águas (o mundo, pessoas) com fidelidade.

Não seremos medidos pelos nossos resultados, mas por nossa fidelidade. Somos ordenados a “lançar o pão sobre as águas”; a “repartir” e a “semear nossa semente”.

Mas quem dá o crescimento é Deus. Precisamos reconhecer nossa ignorância dos resultados, pois não podemos prevê-los.

As condições de sucesso não podem ser calculadas de antemão; o futuro pertence somente a Deus, cabe-nos a somente sermos fiéis em tudo.

Não podemos deixar de fazer o que precisa ser feito, porque não conseguimos ver o resultado aparente, ou porque as condições não são favoráveis.

Não podemos deixar de fazer o que é certo, só porque as pessoas vão se opor a nós, e não teremos mais a admiração e o amor delas.

A semente da nossa vida dever ser semeada pela manhã, logo cedo, ainda na infância, e depois na fase adulta não podemos deixar de cuidar dela, pois o descuido do caráter pode impedir das boas ações prosperarem.

Algumas pessoas usam os caminhos misteriosos de Deus como desculpa para desistir de seu trabalho ou reter seu testemunho.

Se Deus é soberano sobre tudo no universo, incluindo o que acontecerá no futuro, por que então se importar com qualquer coisa?

Eclesiastes nos ensina a optar pela abordagem contrária. Pode ser verdade que, para parafrasear esta passagem, “nunca se sabe“, mas é igualmente verdade que “você nunca colherá se nunca semear”.

Portanto,cuide de sua santidade, desde cedo. trabalhe muito para o reino de Deus. Viva com ousadia e criatividade. Tente algo novo! Seja um empreendedor espiritual.

Mesmo não tendo certeza absoluta se aquilo funcionará. faça de tudo para servir a Cristo num mundo que precisa desesperadamente do evangelho.

Trabalhe muito desde cedo até tarde, aproveitando ao máximo seu tempo oferecendo a Deus todo o seu dia de trabalho.

Depois entregue a ele os resultados, sabendo que ele usará seu trabalho como achar melhor. O trabalho é nosso, os frutos são de Deus.

  1. Semeie a Palavra (v.6, Mc 4.14).

A exortação prática do Pregador de semear a boa semente não vale apenas para os fazendeiros, é claro, ela se aplica a muitas áreas da vida.

Mas a Bíblia usa com frequência a imagem de semear e colher para falar sobre aquilo que fazemos com a Palavra de Deus.

Jesus contou uma parábola famosa sobre um fazendeiro que semeou suas sementes sobre quatro tipos de solo diferentes.

Quando explicou essa parábola aos discípulos, ele lhes disse que “o semeador semeia a palavra” (Mc 4.14). De todas as coisas que precisamos semear a mais importante é, portanto, a Palavra viva de Deus.

Semeamos a Palavra quando a lemos, estudamos e memorizamos para nós mesmos, ouvindo a voz de Deus.

Semeamos a Palavra quando a ensinamos aos nossos filhos na hora de dormir ou no momento de uma refeição.

Semeamos a Palavra quando damos uma Bíblia a alguém ou quando usamos um versículo simples da Bíblia com um amigo que precisa conhecer a Jesus.

Semeamos a Palavra quando a levamos para a prisão, para a casa de repouso ou para o campus da faculdade ou da universidade.

Semeamos a Palavra quando apoiamos a sã pregação bíblica em nossa própria congregação e também por meio de missões e ministérios que propagam o evangelho pelo mundo afora.

Não há um único meio de compartilhar o evangelho: a melhor maneira é fazê-lo de todas as maneiras possíveis.

De vez em quando podemos nos perguntar se qualquer ministério do evangelho jamais consegue realizar qualquer coisa.

Mas a Bíblia nos encoraja com muitas promessas maravilhosas sobre a obra que o Espírito Santo fará com a Palavra de Deus:

Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei (Is 55.10-11).

Aquele que semeia pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará (2Co 9.6).

E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos (Gl 6.9).

Jesus Cristo é o Senhor da ceifa, que virá em seu devido tempo. Isso era assim em sua própria vida e ministério.

Jesus disse: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto.” (Jo 12.24).

Jesus estava falando sobre a sua própria morte na cruz e seu sepultamento na terra, e também da ressurreição que se seguiu.

Jesus não semeou apenas palavras, mas a sua própria vida quando ofereceu seu sangue na cruz pelos nossos pecados.

A ceifa de sua obra salvífica é perdão e vida eterna para todos que crerem nele. Jesus não reparte sua graça com sete ou até mesmo oito, mas com milhões e milhões de pecadores que se voltam para ele em fé e arrependimento.

Agora Jesus nos enviou para que nós também semeemos um pouco. Ele é o Senhor da ceifa.

CONCLUSÃO:

Nem sempre sabemos o que Deus fará com aquilo que semeamos. Mas se continuarmos semeando, virá o dia em que Deus ceifará uma safra de salvação.

Um dos meus exemplos favoritos da ceifa surpreendente de Deus é a conversão de Luke Short aos tenros 103 anos de idade.

Short estava sentado sob uma cerca na Virgínia quando se lembrou de um sermão que havia ouvido do famoso puritano John Flavel.

Ao lembrar-se do sermão, Luke Short pediu que Deus lhe perdoasse seus pecados naquele instante, por meio da morte e da ressurreição de Jesus Cristo.

Ele viveu por mais três anos, e quando morreu, as seguintes palavras foram gravadas em sua lápide: “Aqui jaz um bebê na graça, de três anos de idade, que morreu segundo a natureza aos 106 anos de idade”.

Mas a parte mais notável da história é esta: o sermão que o Sr.luke Short lembrou havia sido pregado 85 anos atrás, na Inglaterra! Passou-se quase um século entre o sermão de Flavel e a conversão de Short, um século entre semear e colher!

Portanto, lance seu pão sobre as águas. Reparta com sete ou até mesmo oito. De manhã, semeie a semente e, à noite, não retires a sua mão. Nunca se sabe o que Deus fará; mas você nunca colherá se nunca semear.

Acesse os sermões na categoria: Sermões Expositivos.