Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 21 –  Nada acontece por acaso. Eclesiastes 9:11-18. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 12/08/2020.

INTRODUÇÃO

Você nunca sabe o que acontecerá em seguida. Você não pode prever o futuro. O desastre pode vir a qualquer momento, até mesmo no momento em que você menos espera.

Veja o curioso caso de Molière, o ator e dramaturgo francês. Durante uma apresentação do protagonista de seu próprio drama O doente imaginário, Molière sofreu um violento ataque de tosse. Como se revelou, sua doença não era imaginária. Molière morreu poucas horas depois.

Ou veja o triste destino da médium mais famosa dos Estados Unidos, Jeanne Dixon. Em 2 de janeiro de 1997, Dixon predisse que uma “personalidade famosa levará a nação ao luto dentro de poucas semanas”.

Tendo a nação ficado em luto ou não, três semanas depois a própria Dixon morreu em decorrência de um ataque cardíaco. Não acredito que ela esperava por essa.

E outro exemplo. Bob Cartwright se decepcionou quando se viu incapacitado de aceitar um convite para voar a Nova York com seu amigo Tyler Stanger e o jogador profissional de baseball, Cory Lidle, para um jogo decisivo entre os Yankees e os Tigers.

Seu sentimento mudou quando recebeu a notícia de que Stanger e Lidle haviam se chocado contra um prédio de apartamentos e que agora estavam mortos. “Eu deveria estar naquele avião”, disse Cartwright.

No entanto, apenas um mês mais tarde, Cartwright morreu em outro acidente de avião, perto de sua casa de campo na Califórnia.

E há também a história de Donald Peters, que em 1º de novembro de 2008 comprou dois bilhetes da loteria de Connecticut — como fazia toda semana ao longo dos últimos 20 anos.

Como resultado, um desses bilhetes valia um prêmio de 10 milhões de dólares. Mas Peters não foi tão sortudo quanto imaginávamos, pois ele morreu de um ataque cardíaco no mesmo dia em que havia comprado seu bilhete premiado.

Nenhum desses eventos infelizes e inesperados poderia ter surpreendido o Pregador que escreveu Eclesiastes.

Para ele “O tempo e o acaso acometem a todos”, ele teria dito. “O homem não sabe a sua hora.” Mas ele não acredita que não exista um propósito para todas as coisas.

  1. A PROVIDENCIA GOVERNA O TUDO.

Mais uma vez, Eclesiastes nos confronta com uma das frustrações da vida num mundo caído.

O pregador aqui, dá mais uma prova da vaidade do mundo, e para nos convencer de que todas as nossas obras estão nas mãos de Deus, e não nas nossas próprias mãos, mostra a incerteza e contingência dos eventos futuros, e quantas vezes eles contradizem as perspectivas que temos deles.

Ele nos exortou no (v.10) a fazer o que temos que fazer com todas as nossas forças; mas aqui ele nos lembra que, quando tivermos feito tudo, devemos deixar o assunto com Deus, e não ter certeza do sucesso.

Na maioria das vezes ficamos desapontados com o bem que tínhamos grandes esperanças, quando tudo acontece ao contrario que sonhávamos.

Algumas lições que o tempo e o acaso nos ensinam:

  1. Nem tudo depende do nosso esforço.

Mais acima aprendemos, para a nossa surpresa, que as coisas boas não acontecem necessariamente a pessoas boas: “O mesmo sucede ao justo e ao perverso” (Ec 9.2).

Quando disse isso, o Pregador estava pensando em categorias morais. O mesmo acontece a todos, sejam eles bons ou maus.

O versículo 11 aplica o mesmo princípio aos diversos talentos e habilidades que as pessoas tem para serem bem sucedidas.

Normalmente, esperaríamos que as coisas corressem bem para pessoas que se esforçam, tem disciplina e foco e com grandes habilidades.

Muitas vezes, este é o caso, mas ser rápido, forte ou inteligente nem sempre garante sucesso.

Não podemos confiar nossos próprios esforços, devemos usa-los com um meio, e não como garantia de sucesso.

Os resultados finais é sempre obra da PROVIDÊNCIA DIVINA e não mero esforço humano. Os resultados esperados não devem nos frustrados; mesmo assim devemos ser gratos.

Se estamos frustrados com os resultados ruins, significa que estavam confiados em nossas habilidades e não em Deus.

Assim, o Pregador disse: “Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso” (Ec 9.11).

O Pregador menciona cinco tipos de pessoa que esperaríamos serem vencedores, mas, ás vezes, eles perdem.

Normalmente, a pessoa mais rápida ganha a corrida, mas nem sempre. Pense na história da tartaruga e da lebre.

Ou, para citar um exemplo pouco conhecido, mas convincente das Escrituras, pense em Asael e Abner. Asael era rápido como uma gazela.

Quando perseguiu Abner durante uma batalha, Abner não tinha como fugir dele. Mas Abner tinha uma arma, e ele sabia como usá-la.

Então, quando Asael o alcançou, Abner perfurou o homem mais rápido com uma lança (2Sm 2.17-23).

Falando em batalhas, normalmente, o homem mais forte vence a luta, mas, às vezes, quem vence é o mais fraco.

O exemplo mais famoso é, evidentemente, Davi e Golias a história que dá esperanças a qualquer adversário inferior.

O lema olímpico é citius, altius, fortius –  mais rápido, mais alto, mais forte.

Mas a corrida nem sempre é vencida pelo mais rápido: e a batalha, nem sempre pelo mais forte.

Então o Pregador amplia a sua lista de características físicas mencionando varias habilidades intelectuais.

Normalmente, esperaríamos que uma pessoa com uma mente superior valesse uma fortuna ou que pelo menos conseguisse ganhar um bom salário.

Mas quando ocorre uma queda nos mercados, até mesmo o consultor financeiro mais esperto percebe, de repente, que ele não é tão inteligente quanto acreditava ser.

Ao mesmo tempo, algumas pessoas que vivem em um abrigo para sem tetos podem ser mais inteligentes que a maioria dos bem sucedidos.

O que o Pregador diz é verdade: os sábios nem sempre têm pão, inteligência não garante um bom salário e muitos conhecimentos não nos favorecem necessariamente.

Ou seja, o esforço, foco e habilidades humanas não são uma garantia final de sucesso na vida. E isto é assim, para que sejamos humildes e aprendamos a confiar unicamente em Deus.

  1. Tudo depende do tempo e da ocasião.

O sucesso ou o desastre pode recair sobre toda pessoa. Como diz o Pregador, “tudo depende do tempo e do acaso”.

Essa expressão não nega a soberania de Deus. Sabemos que Deus “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).

Tudo está sob sua sábia providência e seu soberano controle. O que acontece na vida não é arbitrário, não é obra do destino cego, mas sujeito à autoridade de Deus.

Do nosso ponto de vista, porém, ainda há um problema: nem sempre sabemos o que Deus está fazendo.

Não importa quão forte sejamos ou quão inteligentes coisas ruins ou coisas boas nos acontecem na vida, e não há como prevermos quando elas acontecerão.

Tudo depende do tempo, do momento em Deus, vai nos oportunizar para que as coisas aconteçam.

Para cada coisa há um tempo definido, e uma oportunidade que precisamos desfrutar no tempo certo.

Se você olhar para sua própria vida, verá que tudo o que aconteceu houve um tempo e uma ocasião/oportunidade/sorte.

Veja por exemplo como foi que você se casou com sua esposa. Ou porque qualquer outra coisa lhe aconteceu, que você jamais previu.

Eu conhecia a minha esposa Jaciana desde quando ela era criança, embora eu a admirasse, foi somente quando ela tinha 27 anos, num dia a tarde, em que estava de férias, então fui fazer um tempo de esteira na academia, então tive a primeira oportunidade de conversar com ela.

  1. Não aproveitamos todas as oportunidades.

O pregador já nos disse que há um tempo para tudo (Ec 3.1-8). Aqui ele nos diz que não sabemos quando esse tempo será: “O homem não sabe a sua hora” (Ec 9.12).

Normalmente não estamos preparados para aproveitar as oportunidades. Perdemos a maioria das oportunidades que aparecem e que se perdem para sempre.

Todos nós, hoje mesmo, desperdiçamos grandes oportunidades e que talvez nunca mais teremos, de fazer ou dizer alguma coisa necessária; seja ela o simples fato de expressar gratidão e ou dizer que ama alguém especial, seja amigos, esposa, filhos ou irmãos na fé.

O Pregador ilustra essa verdade com um par de imagens vividas, emprestadas da natureza:

“Como os peixes que se apanham com a rede traiçoeira e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enredam também os filhos dos homens no tempo da calamidade, quando cai de repente sobre eles” (Ec 9.12).

Os peixes e os pássaros vivem tão “desapercebidos” que são capturados antes mesmo de se darem conta.

Se tivessem percebido que estavam nadando em direção a uma REDE ou voando para uma ARMADILHA, eles teriam seguido na direção oposta. Mas uma vez que estavam presos, era tarde demais para fugir.

O mesmo acontece com os filhos dos homens. “Tempo” e “acaso/oportunidade/sorte” acontecem a todos nós.

A palavra “tempo” é melhor entendida como uma referência geral aos acontecimentos e circunstancias da vida.

Nas palavras de Martinho Lutero: “Deveríamos entender tempo aqui como referencias apenas ao fim da vida, mas a cada tempo e resultado determinado”.

A palavra pode ser usada também de modo mais especifico como referência a um “tempo determinado”em algum evento especifico que nos alcançarão.

Antes de nos darmos conta, podemos ficar presos numa situação ruim no no relacionamento, trabalho, ou seremos acometidos por uma doença fatal, ou surpreendidos por um prejuízo financeiro.

No fim, é claro, virá o tempo em que morreremos e seremos levados a julgamento — tempo este que Deus conhece, mas nós não.

E se o “tempo” não nos alcançar, o “acaso” certamente o fará. Essa palavra não significa algo como “destino”, antes se refere a uma ocorrência – algo que nos acontece na vida e que não temos controle.

A partir do restante do versículo 12, que fala sobre uma “rede traiçoeira” e sobre um “tempo da calamidade”, fica evidente que, quando o Pregador fala sobre “acaso”, ele não está falando sobre algo bom que acontece, mas especificamente sobre algo ruim.

Num mundo caído acontecem muitas coisas infelizes todos os dias, desde desastres naturais e catástrofes ecológicas até conflitos militares e crises econômicas.

A vida é imprevisível. Seus infortúnios são inevitáveis e muitas vezes não há como escapar deles. Em sua misericórdia, Deus nos diz que devemos esperar o inesperado.

Quando as dificuldades vierem, até mesmo quando vierem repentinamente, não devemos nos surpreender.

E quando a vida é boa, não devemos acreditar que nossas próprias habilidades naturais nos pouparão de tempos Maus.

Não importa quão talentosos sejamos, ou quão bem estejamos preparados ou quantas vantagens tenhamos na vida, não conseguiremos desfrutar de todas as oportunidades e que nós também podemos sofrer um dia mau.

  1. AS DEFESAS DA SABEDORIA.

Como devemos reagir quando o dia mau vier? E como devemos viver com a incerteza que provém do conhecimento de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento?

O que fazer, já que mesmo os nossos esforços, por mais corretos e bem intencionados que sejam, pode não nos garantir os resultados esperados.

A essa altura, algumas pessoas são tentadas a desistir e apensar que não há nada que possamos fazer senão aceitar nosso destino cego.

Se não é o mais rápido que vence a corrida, então por que correr? Se não é o mais forte que vence a batalha, então por que se preparar para aguerra?

Se a sabedoria não lhe rende mais dinheiro, por que se importar com o desenvolvimento da mente e com os estudos?

Já que tudo depende do acaso, o fatalismo parece ser a única opção honesta.

O Pregador dá uma resposta diferente. Ele mostra que nem tudo é o que parece ser. De que Deus, sempre dará um escape, uma chance, uma oportunidade para tudo o que nos acontece.

Há uma maneira de viver, que nos prepara para todas as coisas, principalmente as coisas do ACASO, que não temos o controle e nem prevemos o resultado.

Ele recomenda o valor da sabedoria,instruindo-nos a viver sabiamente e para isso ele nos conta um exemplo vivido de como acontece.

O Pregador dando-nos o exemplo de uma pessoa sabia que enfrentou o tempo e o acaso(Ec 9.13-15) e depois compara a sabedoria com as variadas alternativas que usamos e nunca funcionam (Ec 9.16-18).

Este é o exemplo do Pregador:

Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que foi para mim grande. Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; veio contra ela um grande rei, sitiou-a e levantou contra ela grandes baluartes. Encontrou-se nela um homem pobre, porém sábio, que a livrou pela sua sabedoria” (Ec 9.13-15).

Alguns comentaristas têm tratado essa história como parábola, mas a maioria a vê como relato de um evento histórico.

Era algo que o Pregador havia visto com os seus próprios olhos, não algo que ele inventou: um homem pobre e sábio o bastante para salvar toda a sua cidade.

Alguns estudiosos têm até tentado identificar o exato contexto histórico. Certamente conhecemos histórias parecidas da Bíblia.

Em 2 Samuel lemos sobre uma mulher sábia que salvou a cidade de Abel sacrificando a vida de um homem mau (20.14-22).

O sábio rei Ezequias salvou Jerusalém de outra forma – orando e pedindo libertação a Deus (2Rs 19).

Temos também exemplos da história da Antiguidade, como Arquimedes, que salvou Siracusa afundando os navios dos romanos.

Às vezes, um único homem é sábio o bastante para salvar uma família, uma cidade ou uma metrópole.

Nesse caso específico, o Pregador não nos conta como ele o fez.Tampouco creio que conseguiremos descobri-lo, pois, segundo o versículo 15, “ninguém se lembrou mais daquele pobre”.

Ele nunca se tomou famoso e nem virou herói. Porque as pessoas querem Heróis imaginários que podem fazer aquilo que elas deveriam fazer e não fazem.

No entanto, permanece o fato de que alguém fez o que precisava ser feito e ele salvou uma cidade, mas não se tornou um herói.

O Pregador considerou a libertação da cidade algo “grande”, no sentido de que foi algo significativo ou de que lhe ensinou uma lição importante.

A cidade não tinha praticamente nenhuma chance de sobreviver. Seus defensores estavam em minoria absoluta.

Seus inimigos eram liderados por um rei poderoso com tecnologia militar de última geração.

Em termos humanos, a cidade já estava perdida. Mas nem sempre os fortes vencem a batalha. Louvados seja Deus! Nesse caso específico, um homem soube exatamente o que fazer.

Para o Pregador, isso era um exemplo daquilo que a sabedoria pode fazer. Feliz a cidade, a família, a igreja, que tem umapessoa que seja sábia o suficiente para resgatar todos os seus membros.

III. A SUPERIORIDADE DA SABEDORIA.

Sim, o homem que salvou a cidade foi rapidamente esquecido!’ Aqui vemos mais uma vez o realismo — para não dizer o pessimismo – de Eclesiastes.

A despeito de sua boa ação, “ninguém se lembrou mais daquele pobre (Ec 9.15). as pessoas não estão dispostas a admirar alguém simples que vive próxima a elas e que fazem o que deve ser feito de forma sabia.

Há exemplos disso na Bíblia também. Pense em José, que ajudou o mordomo do faraó quando ambos estavam na prisão.

José tinha todos os motivos para esperar que o mordomo lhe ajudasse a sair da prisão também, mas assim que foi libertado, O mordomo se esqueceu dele (Gn 40).

Ou pense em Mordecai, que descobriu uma trama contra o rei Assuero, mas não recebeu nenhuma recompensa naquele momento (Et 2.21-23; 6.1-13).

Não importa o bem que as pessoas fazem uma as outras, elas vão se esquecer. Isso não vai contar, quando elas precisarem abandona-las, ou retribuir o favor, elas vão se opor a você, elas farão, mesmo que te devam a vida.

As pessoas valorizam aqueles que “ostentam sua vaidade”, não aqueles que realmente se importam com elas.

As pessoas são assim; e a vida também é assim: até mesmo uma sabedoria salvadora de vidas é rapidamente esquecida e odiada.

Como a sabedoria lida com isso?

  1. A sabedoria é simples.

A sabedoria mora com gente humilde. A sabedoria tem as suas vantagens. Sim, a sabedoria humana tem as suas limitações. Ela pode não nos trazer fama, e nem nos garante riquezas, ou reconhecimento.

Mesmo assim, é valiosa. As pessoas podem se esquecer de quem lhes deu um conselho sábio e que as ajudou a mudar de vida.

Podem até recusarem-se a ouvir um conselho sábio que poderíamos dar. Mas a sabedoria ainda é a melhor alternativa.

O Pregador demonstra isso por meio de várias comparações. Nos versículos 13-15, a sabedoria era exemplificada; nos versículos 16-18, ela é priorizada.

O pregador adorava demonstrar o valor relativo de alguma coisa afirmando que uma coisa era melhor do que outra.

Aqui, ele diz que a sabedoria é “melhor”, ou mais valiosa, do que a força física ou militar:

“Então, disse eu: melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas” (Ec 9.16).

O exagerado aparato militar contra uma cidade desarmada, revela que eles tinham feito “algo terrível” que deixou esse grande rei muito enfurecido

Felizmente, esse sábio que era um homem muito pobre salvou a cidade, ele foi capaz de fazer com que um rei e seu exército, completamente enfurecido com aquela pequena cidade, e determinado a reduzi-la a pó, dessem ouvidos ao que ele tinha a dizer.

Infelizmente o pobre sábio, não foi ouvido, quando tentou ajudar a sua própria e pequena cidade. Seus conselhos foram desprezados, por causa de sua pobreza.

Entrementes é sempre assim que as coisas acontecem. Às vezes, as pessoas se recusam a ouvir as palavras da sabedoria na boca dos simples, por causa do preconceito e da inveja.

  1. A sabedoria tem ouvidos abertos.

Nós não conhecemos o tempo e o acaso, desperdiçamos as oportunidades, não tempo controle sobre o resultado final, por mais que nos esforcemos.

Mas podemos fazer uma coisa que pode nos livrar das redes e armadilhas do tempo e do acaso.

Há uma conexão entre as coisas que nos acontece e como reagimos quando somos exortados.

Isso vale ainda mais quando as palavras dos sábios são ouvidas. Essa é uma das mensagens principais de toda a Escritura: se formos sábios, daremos ouvidos ao conselho sábio, “quem tem ouvidos ouça”.

Essa é a situação vantajosa descrita no versículo 17-18: “As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa entre tolos.

Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói muitas coisas boas”.

O versículo 17 descreve como gostamos de valorizar o que parece estar por cima, “em destaque”, o que é a “última sensação”, e que faz alarde e é visto por todos.

Isso é completamente oposto do que é sábio e justo. A sabedoria é discreta e não busca as luzes da ribalta. Ela não busca seus próprios interesses.

Uma tradução mais livre diria que; ouvir o conselho do sábio, que não é popular, é melhor do que o barulho dos festejos dos famosos que os tolos gostam de ouvir.

Essa pessoa sabia não tenta impor sua vontade calando todos os outros, por não ter capacidade de acompanhar a evolução.

Não que esses conselheiros estejam falando “coisas verdadeiras”, mas o que acontecia que estavam cercados de tolos.

Isso acontece o tempo todo: um homem tenta dominar sua família, administrar sua empresa ou assumir o controle na igreja, fazendo valer a sua influência, seus dons, frequentemente não ouvindo ninguém ao longo do processo.

Como é fácil para um homem orgulhoso, que acha que sabe tudo, que normalmente se torna irritado, destruir um casamento ou dividir uma igreja.

Existe, porém, uma maneira melhor de viver e o Pregador a recomenda a nós.

Uma pessoa sabia não sente a necessidade de ser ouvido sempre e não fica chateado quando seus conselhos não são aceitos.

A sábio pobre não se ressente de não ser recompensado, ou porque não lhe deram uma medalha de honra, ou porque não fizeram uma grande festa, para festejar o grande livramento.

Ele continuou a viver do mesmo jeito, pobre e no anonimato.Sua sabedoria era para o bem público e não para seus prazeres e realizações pessoais.

Assim, permite que a sabedoria daquilo que diz fale por si mesma, e em decorrência disso sempre vale a pena ouvir seu conselho; mesmo que nem sempre seja seguido.

O Pregador diz: “As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa entre tolos”) (Ec 9.17).

Isso se aplica principalmente quando estamos em tempos de conflito. O Pregador não está negando que haja um tempo para a guerra.

Tampouco está negando a utilidade de armas na hora da luta. Mas ele diz que a sabedoria é superior a qualquer armamento.

Podemos aplicar esse princípio em casa, onde um DIÁLOGO com algumas palavras calmas e sabias costumam honrar mais a Deus e quase sempre são mais eficientes especialmente a longo prazo do que muita irritação e gritaria.

Podemos aplicar esse princípio também à igreja, onde uma conversa honesta e uma comunicação autêntica costumam evitar grandes conflitos.

E podemos aplicar esse princípio também à administração de cidades e nações.

Existe um tempo para a guerra, como o Pregador nos disse já em 3.8, mas até mesmo as armas de guerra são usadas de forma mais eficaz por alguém que ouve um conselho sábio.

A sabedoria sempre e melhor, por meio do diálogo ela sempre tem uma saída.

  1. A destruição irreparável.

(v.18) Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói muitas coisas boas”.

A última declaração é um lembrete sóbrio dos danos que uma pessoa pecaminosa que não sabe ouvir; pode causar, especialmente numa posição de destaque e influencia.

Mesmo que a sabedoria tenha as suas vantagens, “não é preciso muito para estragar o bem que ela pode produzir”.

O desfeche dessa história ainda é mais dramático. A sabedoria daquele pobre homem sábio, foi mais eficiente que todo o armamento do poderoso exército do rei.

Esse rei poderoso se tornou ainda mais nobre e temido, porque teve a HUMILDADE de ouvir um homem sábio e muito pobre.

Mas os seus compatriotas, destinados, a morte e a escravidão, que foram salvos de tamanha destruição, foram ORGULHOSOS, para não ouvir os conselhos do sábio pobre.

A sentença do texto é forte, pois se apenas uma pessoa da cidade, tivesse pecado contra o sábio, não ouvindo seu conselho, já teria sido mais razoável, se toda a cidade tivesse sido destruída.

Porque apenas um pecador destrói muitos bens. Um pecador destrói a sua própria alma.

Nesse caso a tragédia seria ainda maior,pois a toda a cidade desprezou seus conselhos porque ele era pobre.

Apesar da cidade experimentar um “grande livramento”, ela enfrentaria um mal maior por causa de sua impenitência. Isso explica porque aquele rei estava tão irado com essa cidade.

Wiersbe defende outra interpretação, que a cidade foi destruída, porque não quiseram ouvir o conselho do sábio.

As pessoas são muitas vezes assim. Elas preferem a ruína, do que se humilhar e reconhecer que estão erradas e que precisam mudar.

Esse é um exemplo perfeito de uma “decisão simples” poderia ter mudado o curso da história daquela cidade.

Um simples detalhe, como “ouvir humildemente”, pode mudar sua historia e moldar o mundo como ele.

  1. CONHECEMOS O SÁBIO.

Como, então, devemos viver, especialmente em um mundo onde todos dependem “do tempo e do acaso”? A vida é incerta. Podemos sofrer perdas ou dificuldades a qualquer momento.

A qualquer momento nossa família, nossa vida podem ser cercadas por um iminente perigo de destruição.

Mesmo sendo rápidos, podemos perder uma corrida. Mesmo sendo fortes, podemos ser derrotados na batalha. E mesmo sendo espertos, podemos sofrer pobreza.

Tampouco sabemos quanto tempo nos resta. Qual, então, é a maneira mais sábia de usar o tempo que nos resta?

Então devemos fazer o que o texto diz: vamos procurar o homem sábio, que pode nos ajudar.

  1. O maior sábio.

A primeira coisa que precisamos fazer é entregar nossas vidas a Jesus Cristo. isso significa pedir que ele seja o nosso Salvador, orar para que ele perdoe os nossos pecados por meio do sangue que ele derramou na cruz.

Significa também submeter-se a ele como o nosso Senhor, oferecendo-lhe a nossa vida para o seu serviço. Essa é a coisa mais sábia que toda pessoa pode fazer.

Eclesiastes contempla as coisas principalmente do ponto de vista da sabedoria humana, que é valiosa até certo ponto. Mas existe também uma sabedoria divina, e apenas ela pode nos salvar.

A Bíblia diz que a loucura de Deus, por assim dizer, é mais sábia do que a sabedoria dos homens (1Co 1.25).

A questão não é que Deus seja louco, é claro, mas que até mesmo a sua loucura seria ainda mais sábia do que toda a nossa sabedoria.

Portanto, se quisermos ser sábios, precisamos da sabedoria de Deus. E a maneira de obter essa sabedoria é simplesmente pedindo-a a Deus.

“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria”, diz a Bíblia, “peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida(Tg 1.5).

A principal maneira como Deus responde a nossa oração por sabedoria é dando-nos seu Filho Jesus Cristo, a quem a Bíblia identifica como sabedoria de Deus(1 Co 1.30).

Uma maneira de reconhecer a sabedoria de Jesus é reconhecer a perfeição com que ele ilustra a história que o Pregador contou sobre a cidade salva pela sabedoria.

A história não é uma profecia direta de Jesus Cristo, mas é uma boa analogia de sua obra salvífica.

Jesus era pobre como qualquer um. Ele não tinha lar nem riquezas, por isso, dependia completamente de Deus, o Pai, para que este lhe providenciasse o pão de cada dia.

Jesus era o sábio que os Nobres e ricos rejeitaram porque era pobre, disseram com desdém: “não é esse o carpinteiro?

Jesus era também mais sábio do que qualquer um, como demonstram todas as coisas sábias que ele disse.

Por meio de sua sabedoria, Jesus libertou a cidade perdida da humanidade caída.

O diabo estava atacando cidade com todas as forças do inferno. Mas Jesus nos libertou – sozinho. Como ele fez isso?

Ele o fez por meio de algo que parecia loucura na época, mas que acabou se revelando como sábio para a salvação. Jesus salvou nossa cidade morrendo na cruz e ressuscitando mais tarde.

Entregar a nossa vida a Jesus Cristo em toda a sua sabedoria é a decisão mais sábia que podemos tomar.

Agora, nosso futuro está totalmente seguro. Sabemos com certeza que, quando morrermos, iremos ao céu.

Sabemos também que não importa o que aconteça na vida, temos um Senhor e Salvador que nos ama e que estará conosco para nos ajudar e cuidar de nós.

Todos podem depender do tempo e do acaso, mas tempo e acaso estão sob o controle de Deus.

Quando confiamos nele, sabemos que as nossas vidas estão seguras nas mãos do nosso Salvador, de longe o lugar mais sábio onde podemos estar.

  1. Vivendo como sábios.

Uma vez que entregamos nossa vida a Cristo, existem muitas outras coisas sábias que podemos fazer, especialmente em tempos incertos.

Mesmo que os nossos dias estejam contados e mesmo que todos nós dependamos do tempo e do acaso, há ainda uma longa lista de coisas sábias que podemos fazer que pode salvar nossa cidade ameaçada.

Não só em termos humanos e práticos, mas também em termos sobrenaturais e espirituais.

Como ferramenta de exame próprio, veja quais dos itens da lista abaixo precisam ser ouvidos e obedecidos:

É sábio sermos agradecidos. Quando as dificuldades nos dominam – quando perdemos a corrida que acreditávamos poder vencer com nossa rapidez ou a batalha que acreditávamos poder travar com nossas forças – é fácil ficarmos desencorajados.

As coisas podem não estar indo bem em casa, na escola ou no trabalho. Mas se formos sábios, lembraremos de celebrar as bênçãos de Deus a cada dia.

Agradeceremos a Deus com alegria pela providência básica do nosso pão de cada dia, pela bênção dos nossos irmãos e irmãs em Cristo, pelo mundo maravilhoso que ele criou e pelos benefícios que ternos em Jesus.

Ao mesmo tempo, nos contentamos. Quando a vida parece ser uma grande decepção e nosso futuro parece ser incerto, é fácil se queixar de que Deus não está nos dando o que queremos ou não está nos dizendo o que precisamos saber.

Mas a sabedoria se contenta com o que Deus nos dá e com o que Deus não nos dá (inclusive informações muito restritas sobre O nosso futuro).

Podemos passar pela vida resmungando (o que não muda nada e só aumenta a nossa infelicidade) ou podemos aceitar o que quer que Deus decida fazer (ou não).

É sábio vivermos com uma postura de oração. Isso é sábio porque Deus adora responder a uma oração santa. Portanto, se houver coisas que você realmente necessita, vai até Deus e peça a ele.

A oração é sabia porque ela nos ajuda a lembrar quem está no controle. Deus está no controle, por isso, nos aproximamos dele para pedir e não para ordenar.

A oração nos diz também o que fazer com as nossas preocupações. Deus não quer que sejamos ansiosos em relação a qualquer coisa, masque confiemos nele em tudo (veja Fp 4.6).

A oração nos ensina lambem a sermos humildes, que é outra parte importante da sabedoria.

Em vez de confiar em nossas próprias habilidades sejam das físicas ou intelectuais, as incertezas do tempo e do acaso deveriam nos ensinar a não superestimar a nós mesmos, mas permitir que Deus use os nossos dons da maneira que lhe agrada.

É sábio, ser generoso. Em tempos difíceis, é grande a tentação de nos agarrarmos a tudo que temos. Mas Deus prometeu abençoar aquele que doa com alegria (2Co 9.7).

Se nos sentirmos inseguros em relação ao futuro, devemos doar mais das nossas coisas e mais de nós mesmos à obra do reino, porque apenas o que é feito para Jesus durará.

É sábio, ser fiel. Se o mais rápido e o mais forte não vencem sempre, é tentador pensar que nada importa. Mas a sabedoria nos ensina exatamente o contrário.

Se o futuro é imprevisível, então precisamos confiar os resultados daquilo que fazemos a Deus.

Mesmo assim, precisamos ‘ fazer o que Deus nos chamou a fazer e então confiar que ele use aquilo que fazemos da forma que lhe agrada.

Se fazemos tudo isso, de todas as pessoas, deveríamos ser os mais esperançosos.

Longe de nos tornar fatalistas, saber que “todos dependemos do tempo e do acaso… para tudo” deveria nos ensinar a depositar a nossa esperança em Deus.

A despeito dos nossos melhores esforços, não podemos controlar o que acontece.

Mas se formos sábios, depositaremos nossa confiança em Deus,que conhece o futuro. Não nos cansaremos de lembrar que Jesus virá em breve.

Podemos não conhecer nosso tempo, mas conhecemos Jesus, o que significa também que sabemos o que acontecerá conosco no fim do mundo: nosso sábio Salvador nos libertará de todas as nossas dificuldades.

CONCLUSÃO

Tudo isso nos ajuda a saber como lidar com as reviravoltas e como viver com as incertezas da vida.

Um exemplo prático vem de uma parceira missionária que trabalha no Oriente Médio muçulmano.

Sua família estava passando por dificuldades, mas ela soube lidar com elas sabiamente. Numa carta a seus mantenedores, ela citou algumas das dificuldades.

Mas, logo ao lado dessas dificuldades, informou também uma maneira melhor e mais sábia de contemplar cada circunstância:

Profunda opressão e assédio espiritual // privilegiada por brilhar como estrelas nessa noite escura

Extravio de cartas, pacotes e carteira, telefone grampeado// Grandes cartas lembretes de que a vida não nos pertence

Não temos mais a conveniência de um carro // Não temos mais as despesas com o carro

Condições de trânsito muito perigosas // Temos um bom sistema de transporte público à nossa disposição

Enfrentamos tempos difíceis e desafiadores // Muitas oportunidades de confiar nele em oração

Água lamacenta sai das nossas torneiras em casa // Água cristalina e viva flui das nossas vidas

Muitos vírus agressivos e doenças que se prolongam // Espíritos verdadeiramente agradecidos por seu toque de cura

Uma casa fria e constantemente gripada // Bebidas quentes, cobertores, massagens e orações para nos aquecer

Se formos sábios, pediremos a Deus a graça de viver da mesma forma – com gratidão pelas muitas bênçãos, satisfeitos com o que temos, orando em qualquer dificuldade, fiéis na obra de Deus e esperançosos em relação ao futuro.

Mesmo não sabendo o tempo que nos resta, usaremos o nosso tempo de forma sábia, aproveitando cada oportunidade que tivermos para confiar em Jesus e viver para ele. Pois nada acontece por acaso.

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