Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 18–  Tudo vai acabar bem. Eclesiastes 8:10-15. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 22/07/2020.

INTRODUÇÃO

A condição fundamental de todo ser humano é que morreremos. Uma verdade quase igualmente básica é que parecemos incapazes de acreditar nisso.

Fazemos de tudo para evitar pensar sobre a angustia de uma morte iminente. Mesmo sabendo que algum dia todos nós morreremos, temos dificuldade de acreditar na nossa própria morte.

No entanto, existem momentos em que a morte nos confronta de forma tão pessoal e direta que não conseguimos mais negá-la.

Ouvimos que alguma pessoa famosa morreu. A maioria aqui perdeu alguém próximo; nesse tempo de pandemia, onde o número de mortos já ultrapassa mais de meio milhão; e não para de chegar a toda hora noticias da morte de alguém conhecido.

Nesse tempo; muitos de nós participamos de um funeral de um ente querido. Visitamos um túmulo. Ou talvez, por causa do pânico geral; simplesmente sonhamos sobre fim da nossa própria existência.

Nesse momento de clareza cristalina, de tantos funerais; de repente nos lembramos de que a vida termina na morte, e isso muda tudo.

Como tudo vai acabar? O que fazer com nossas dores, duvidas, tristezas e perdas? Como tudo vai acabar para mim? Esse texto nos ensina como tudo pode acabar bem.

  1. TUDO ACABA.

O pregador lida aqui com três grandes dilemas da injustiça.

  1. Tudo acaba no túmulo.

O Pregador tem um momento de clareza referente às grandes questões da vida e da morte. Ele está refletindo sobre essas coisas porque quer descobrir o modo sábio de viver.

De repente, ele tem uma experiência que mudou toda a sua perspectiva sobre a vida e a morte. “Vi os perversos receberem sepultura“, ele diz. “Também isto é vaidade” (Ec 8.10).

Talvez o Pregador tenha assistido a um funeral, ou talvez tenha visto uma procissão fúnebre passar pela rua. Em todo caso, ele testemunhou o sepultamento de um homem perverso, o que lhe deu uma sabedoria maior.

A morte tem um jeito de trazer perspectiva para a vida. “A visão de um funeral”, disse Charles Spurgeon, “é uma coisa muito saudável para a alma”

A consciência da mortalidade exerce um poder único sobre nós; para concentrar a nossa mente e o nosso coração no essencial.

É fácil distrair-se com os prazeres e problemas do dia a dia a ponto de não refletir sobre o futuro ou o fim dos nossos dias.

Mas quando ficamos ao lado de um túmulo, lembramos de algo que a maioria tenta esquecer: a morte vem mais rápido do que pensamos. O fim está chegando, tudo vai acabar!

Essa realidade sóbria e triste ajudou o Pregador entender e aceitar os dilemas da injustiça que estava perturbando sua alma.

  1. Tudo parece injusto (v.10).

Pelo que ele observava, as pessoas más estavam tendo uma vida boa. Se Deus é justo, ele deveria julgar os perversos.

No entanto, olhando em volta o Pregador via exatamente o oposto. Ele era como Asafe, que reconheceu que “invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos” (SI 73.3).

Asafe faz essa queixa no salmo 73, em que escreve também: “Para eles não há preocupações, o seu corpo é saudável e forte. Estão livres dos fardos de todos; não são atingidos por doenças como os outros homens”. (v. 4-5).

Em outras palavras, os inimigos de Deus parecem estar recebendo todas as bênçãos. Parecem viver mais. Tem mais saúde; Ganham mais dinheiro, têm mais poder e experimentam mais prazeres do que as pessoas que tentam fazer o que Deus diz.

Foi isso que Asafe viu, e o Pregador viu a mesma coisa. E este era seu dilema para os perversos: “Eles costumavam entrar e sair do lugar santo e eram elogiados na cidade em que haviam feito estas coisas” (Ec 8.10).

O “lugar santo” que o Pregador tinha em mente. Pode está se referindo a Jerusalém, a cidade santa de Deus. Ou talvez estivesse se referindo mais especificamente ao templo em Jerusalém.

Isso levou Maninho Lutero a acreditar que as pessoas que “entram e saem do lugar santo” eram os sacerdotes que lideravam a adoração na casa de Deus, caso em que o Pregador estaria falando sobre os líderes religiosos de Israel.

Mas independentemente de quem eram e do lugar que frequentavam, eles entravam e saíam em liberdade.

A maioria das traduções passa a impressão de que essas pessoas perversas eram populares, “famosos”, “bem-sucedidos” e que eram “elogiadas na cidade” (Ec 8.10).

Seguindo essa tradução podemos interpretar que quando esses homens maus morrem; e recebem grandes elogios em seus funerais, enquanto suas más ações são ignoradas e nunca mencionadas.

Era costume naquele tempo, como é hoje, elogiar os homens durante seus funerais, não importando quão indignamente eles tivessem vivido ou quão severamente eles haviam prejudicado outros.

Isso faz com que suas famílias se sintam bem e alivia a tristeza que alguns sentiram por suas mortes. No entanto, os elogios eram frequentemente desonestos e enganosos.

Mas podemos interpretar melhor esse texto e ver mais algo mais claro. E muito mais provável que devamos ler o versículo na forma como se apresenta na maioria dos manuscritos bíblicos, os perversos “eram esquecidos na cidade” (v.10 ACF).  No hebraico o beth e kaph são semelhantes.

Salomão disse algo parecido no livro de Provérbios: “A memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em podridão” (10.7).

Isso faz parte da perspectiva que a morte traz. As pessoas perversas podem ser preeminentes na cidade e, às vezes, até na igreja, mas quando morrem, são esquecidas.

3.Tudo parece invertido (v.14).

Mas no que diz respeito a esta vida, os perversos muitas vezes parecem receber o que eles não merecem.

O pregador escreve sobre essa injustiça em Eclesiastes 8.14: “Ainda há outra vaidade sobre a terra: justos a quem sucede segundo as obras dos perversos, e perversos a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade”. 

Tudo isso parece muito injusto! Se Deus é justo, então esperaríamos que ele recompensasse os justos e punisse os perversos. No entanto, muitas vezes ele parece fazer exatamente o oposto.

Pessoas boas enfrentam dificuldades que apenas pessoas más merecem, enquanto as pessoas más recebem o que apenas pessoas boas merecem.

Ditadores cruéis expulsam governos livres. A corrupção enriquece absurdamente alguns políticos, enquanto pessoas trabalhadoras perdem seu emprego e sua casa.

Pastores são jogados na prisão, enquanto os perseguidores da igreja se fortalecem em seu poder cruel.

Ou para trazer tudo isso para um nível mais pessoal: o estudante que trapaceou numa prova difícil recebe a nota máxima, mas você que não colou; fica de recuperação.

O funcionário que traiu você é promovido, enquanto você permanece preso na mesma faixa salarial.

Você moça assume um compromisso de pureza e castidade e ainda continua solteira e sozinha; enquanto as garotas que se entregam a impureza e a sensualidade, e se jogam nos braços dos homens recebem uma aliança e um longo vestido branco de casamento.

O Pregador está nos dizendo que, nesta vida, há uma inversão de retribuição e recompensa. As coisas não só parecem ser assim, mas é assim que elas realmente são.

Qual então o sentido de ser justo? Se as pessoas más têm uma vida boa, o que ganhamos com a santidade?

O Pregador chamou isso de “vaidade”. O teólogo Theodoro Beza chamou isso de algo “repugnante à razão”. Eu chamaria isso de injustiça absurda e desonesta.

  1. TUDO FICA PIOR.

Para piorar ainda mais as coisas, além de lidarmos com a aparente injustiça entre a recompensa dos justos e dos injustos, vemos que isso levam as pessoas preferirem à prática do mal.

Porque tudo piora?  Há duas razoes no texto pra isso:

  1. O atraso que leva à depravação (v.11).

Observe o que acontece quando a injustiça e os “pecados dos perversos” não são punidos: “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra. o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mar (Ec 8.11).

Aqui se abre uma janela que nos oferece uma visão desagradável da depravação total do coração humano.

Somos levados a pensar: se talvez os atos maus fossem punidos imediatamente, as pessoas seriam impedidas de praticar a perversão e causar danos maiores aos outros.

E o pior, parece que a justiça é tão lenta que algumas pessoas acreditam poder matar, roubar, mentir e sair impunes. Sensação de impunidade parece promover ainda mais a perversão.

As pessoas tem a falsa sensação de como Deus não as julga no ato do pecado, de que elas jamais serão punidas pelos seus erros.

Para dar um exemplo do mundo dos esportes, uma das razões pelas quais atletas famosos continuaram usando esteroides, mesmo após o banimento dessas drogas do baseball profissional é porque os usuários de esteroides não eram punidos.

Conforme dados oficiais da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública[1], somente 6% dos homicídios dolosos (com intenção de matar) são solucionados no país. O assassino tem a certeza de que ficará impune.

Alguém diz que as leis são como teias de aranha, pega as moscas e deixam os falcoes escaparem. As vezes uma absolvição, não significa inocência, mas sim conseguir escapar do castigo.

O poeta [2] Robert frost, de maneira cínica, definiu um júri como 12 pessoas que decidem quem tem o melhor advogado.

Se não há consequências por que não continuar e pecar? Se não experimento o castigo divino a tanto tempo, ele jamais virá sobre mim, mesmo que continue com essa pratica pecaminosa.

  1. Tirando vantagem da paciência.

Quando as pessoas agem de forma injusta, elas estão tirando vantagem da misericórdia de Deus. A razão pela qual Deus não lança raios do céu é porque ele é muito paciente.

Deus disse a Adão que no dia que ele comesse do fruto, “certamente morrerás” (Gn 2:17) No entanto, Adão comeu, e Adão não morreu.

É verdade que a morte moral e espiritual se seguiu de uma só vez, em cumprimento estrito – mas a morte física ainda estava atrasada. Ano após ano, e idade após idade – mas Adão não morreu.

Nove séculos se passaram – ainda Adão viveu! Quão devagar o julgamento veio! Adão, no entanto, morreu finalmente com 930 anos (Gênesis 5: 5). Para Deus, foi apenas um dia. Para Ele, mil anos é apenas um dia.

Por 120 anos, o dilúvio não desceu; por 120 anos o mundo desafiou a sentença; por 120 anos a paciência de Deus esperou, enquanto a arca era feita; no entanto, o julgamento finalmente chegou (Gn 6:3; 1Pd 3:20).

Ele é “longânimo e grande em misericórdia” (Éx 34.6). O julgamento está vindo — talvez mais rápido do que imaginamos (SI 55.23).  Mas Deus está nos dando mais tempo para nos arrependermos.

A maneira de reagir a esse paciente atraso é pedir-lhe misericórdia por nossos pecados. As Escrituras dizem: “A bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento” (Rm 2.4).

Mas por que Deus é tão paciente? Porque ele não lança sua ira sobre os homens? A razão é clara – Mostrar as riquezas de Sua glória nos vasos de Sua graça! ( Rm 9:22,23 ).

O Livro da Vida revela o mistério. Nele foram escritos na eternidade passada; o nome de todos os que serão salvos. Deus lê os nomes escolhidos. O tempo é anotado para o nascimento e o chamado para conversão.

O mundo deve durar, e o julgamento demora, até que o nome de todos sejam chamados – até que toda a família de Deus esteja completa – até que todo o rebanho redimido esteja concluído. E aí então o juízo final virá.

No entanto, muitas pessoas abusam da paciência de Deus usando-a como desculpa para a sua IMORALIDADE.

Se existir algum juízo final, acreditam que ele está longe, e que eu ainda terei tempo para se arrepender.

É, porém, mais provável que riem da ideia de que Deus as julgará em algum momento e isto tem sido pregado em muitas igrejas.

São como os zombadores dos quais Pedro nos advertiu, que seguem as suas próprias regras e dizem: “Onde está a promessa da sua vinda?

Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (2Pe 3.4).

O professor William Provine, da universidade de Cornell em nova York, usa esse argumento em seu livro sobre o DARWINISMO: “Quando você morrer”, ele diz, “você não ficará surpreso, pois estará completamente morto.

Agora, se eu tiver consciência de mim mesmo após a minha morte, eu realmente ficarei surpreso! Mas pelo menos estarei indo para o inferno, onde não terei de aturar todos esses pregadores da bíblia.

Então esse professor ateu apresenta um resumo de sua própria visão do mundo, que não deixa espaço para Deus ou um juízo final, ele diz:

“Não há deuses, não há propósitos, não há forças dirigidas a objetivos de qualquer tipo. Não há vida após a morte. Quando eu morrer, tenho certeza absoluta de que estarei morto”.

“Este será o meu fim. Não há fundamento perfeito para a ética, não existe sentido supremo da vida… Já que sabemos que não viveremos após a nossa morte, não há recompensa por sofrer neste mundo. Você vive e você morre”.

Mas observe quanto essa visão do mundo se parece com aquela da qual Eclesiastes nos adverte.

Quando as Pessoas não acreditam em Deus, elas não entendem por que a vida importa e perdem seu fundamento para uma vida justa, voltando assim seus corações para o mal. E aí o mundo fica pior e tudo piora.

III. TUDO SERÁ JULGADO.

Outra verdade da qual nós não podemos nos esquecer, é que vamos prestar contas de todas as coisas, seja bem ou mal.

  1. Depois disso, o julgamento

Uma das melhores maneiras de reconquistar a perspectiva de Deus sobre o bem e o mal é fazer o que o Pregador fez e visitar o túmulo de alguém, especialmente o túmulo de uma pessoa má.

Em seu conflito ao testemunhar a injustiça, o Pregador precisava ver também o FIM DA HISTÓRIA. E nós precisamos fazer o mesmo, se quisermos preservar a nossa sanidade espiritual num mundo caído.

Em suas memórias, Svetlana Alliluyeva descreve a morte de um tirano cruel, que assassinou milhões de pessoas. Tratava-se de seu pai, Josef Stalin, o patrono do comunismo.

Se houve algum homem que dedicou seu coração à prática do mal, este homem foi Stalin. Sua filha mais jovem descreve seu último respiro desta forma:

No que parecia ser seu último momento, ele de repente abriu seus olhos e olhou para todos que estavam na sala.

Foi um olhar terrível, insano e talvez irritado, cheio de medo da morte e dos rostos desconhecidos dos médicos debruçados sobre ele. Seu olhar passou por todos dentro de um segundo.

Então aconteceu algo incompreensível e assustador, algo que não consigo esquecer nem entender até hoje. De repente, levantou sua mão esquerda, como que para amaldiçoar todos nós.

O gesto era incompreensível e cheio de ameaça, e ninguém soube dizer a quem ou ao quê ele se dirigia. No momento seguinte, após um último esforço de respirar ele morre atormentado.

O que aconteceu depois disso? Esta é a pergunta final. O que acontece após a nossa morte? Eclesiastes diz que ele foi prestar conta de todos os seus males.

Eclesiastes está incomodado com as injustiças comuns da vida num mundo caído. Mas tem também a certeza de que Deus endireitará todas as coisas no final.

  1. A justiça final (8.12-13).

“Ainda que o pecador faça o mal cem vezes e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus. Mas o perverso não irá bem, nem prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que não teme diante de Deus” (Ec 8.12-13).

Vistos isoladamente, esses versículos poderiam se referir à nossa existência atual. Se as coisas vão bem ou não para nós depende se honramos Deus ou não, embora isso também seja verdade.

Mas em vista dos versículos que os antecedem (em que Pregador fala sobre a morte; veja Ec 8.10-11) e o versículo que os sucede (em que ele descreve a vaidade da injustiça terrena; veja Ec 8.14), parece mais provável que ele está antecipando o futuro.

Mesmo que não explique exatamente o que acontece após a morte, Eclesiastes sabe que a justiça será feita.

Mesmo sabendo que o mundo é repleto de injustiça, ele acredita também na justiça final de Deus.

As coisas não terminarão bem para os perversos, que sofrerão um final ruim. Não importa se pequem cem ou mil vezes, não haverá bênção para eles além do túmulo.

Algum dia, morrerão e serão enterrados, pois, como o Pregador nos lembra no versículo 10, os perversos não viverão para sempre.

E então eles morrem. O funeral é até bonito: damos ao sujeito o que lhe é devido; seus entes queridos choram: todos os seus amigos dizem que sentirão sua falta; depois o enterram e o perdem de vista, e todos o esquecem.

  1. Nada acaba bem (v.12-13).

Os versículos 12-13 nos contam mais. O versículo 12 nos diz que os perversos querem prolongar seus dias.

Visto que não têm a certeza do céu, eles se agarram à vida, tentando desesperadamente viver o máximo que podem.

Mas o versículo 13 nos diz que eles não receberão um único dia a mais do que Deus lhes dá. Ao justo Deus pode prolongar a vida, mas ao ímpio nem um dia  a mais lhe será dado.

O Pregador diz, de forma um tanto ameaçadora, que “o perverso não irá bem” (Ec 8.13; cf. Is 3.11).

Se ele estiver pensando em o que acontece depois da morte, ele está absolutamente correto. Quando morrerem, os perversos enfrentarão o juízo sem misericórdia (Hb 9.27).

Seus pecados serão contados contra eles, suas almas serão condenadas ao inferno e eles serão banidos da presença de Deus para sempre. Não inveje o perverso, mesmo que ele aparente prosperar.

A prosperidade dos ímpios não é sinal que tudo vai bem. Ele não se dará bem no dia do julgamento. Eles não têm galardão!

Não mesmo, pois a Bíblia diz que eles serão “lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8.12). Essa é a morte eterna, serão banidos da presença de Deus. Nada acaba bem para os perversos.

  1. IV. TUDO MELHORA.
  2. Tudo fica bem quando termina bem.

O Pregador tem uma perspectiva muito melhor para as pessoas que levam uma vida santa. “Eu sei com certeza”, diz ele, “que bem sucede aos que temem a Deus” (Ec 8.12).

Normalmente, o Pregador nos diz o que ele “viu”, mas dessa vez ele opta por um verbo diferente e nos comunica algo que ele “sabe” com certeza.

Não se trata de algo que ele viu a distância, mas algo que ele compreendeu com a convicção racional de sua própria mente e por experiencia própria.

Sua resposta”não é uma observação, mas uma resposta com toda certeza de fé”. Ele acredita naquilo que não se pode ver — que um dia tudo ficará bem para todos aqueles que vivem sob o temor de Deus.

Quando a Bíblia fala do “temor de Deus”, ela não diz simplesmente que as pessoas têm medo de Deus, mesmo que este conceito esteja incluído.

O temor de Deus é aquele sentimento santo, cheio de amor e reverencia, provocado pela percepção da grandeza de Deus.

Nesse caso, a percepção da grandeza de Deus vem acompanhada também da percepção de sua proximidade.

Aqueles que temem a Deus “temem diante dele” (Ec 8.12 ACF), o que significa que eles sabem que estão em sua presença.

A maioria das pessoas, incluindo muitos cristãos, passa pela vida sem se dar conta de que está constantemente na presença de Deus. Mas a pessoa que teme a Deus sabe que ele está sempre por perto.

Ele está conosco quando estamos em nossa cama à noite, preocupando-nos com o nosso amanhã.

Ele está conosco quando temos uma oportunidade de testemunho e não sabemos o que dizer.

Ele está conosco quando sofremos uma emergência repentina e precisamos de ajuda sobrenatural.

Viver uma vida temente a Deus significa viver em consciência constante da presença dele.

Ele está conosco no quarto e na cozinha, no carro e no ônibus, no supermercado ou navegando na internet. Ele está onde quer que estejamos.

O temor de Deus apropriado é um tema importante em todo o livro de Eclesiastes, mas especialmente no fim.

O Pregador nos instruiu a temer a Deus porque ele é soberano sobre as estações da vida (Ec 3.14).

Devemos temer a Deus também quando entramos em sua casa para adorá-lo (Ec 5.1,7).

Mais tarde, ele nos instruirá a temer a Deus observando os seus mandamentos (Ec 12.13).

Aqui, ele diz que, se temermos a Deus, tudo ficará bem para nós aqui e nos dias vindouros.

Essa promessa se cumprirá completamente no juízo final. Lembre-se das palavras do ladrão na cruz ao lado de Cristo. Naquele dia, dois ladrões foram crucificados, um de cada lado de Jesus.

Um deles zombou do nosso Senhor, mas o outro ladrão o repreendeu, dizendo: “Nem ao menos temes a Deus? (Lc 23.40). Então demonstrou seu próprio temor de Deus pedindo que o Cristo crucificado fosse seu Salvador.

Então o ladrão disse, “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lc 24.42). Este é o caminho para todos, a fim de que comecem a viver em temor de Deus: peça que Jesus o salve!

Todos que pedirem o perdão receberão a mesma promessa de vida eterna que o ladrão recebeu quando estava morrendo ao lado de Jesus. Jesus nos dirá o que disse ao ladrão: “Estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43).

É por isso, e somente por isso, que tudo “ficará bem” para o homem, para a mulher ou para a criança que teme a Deus. É somente porque Jesus morreu pelos nossos pecados na cruz.

Não use o “atraso do julgamento” como desculpa para não se arrepender dos seus pecados ou para não confiar em Jesus.

Segundo Eclesiastes 8 — e segundo tudo que lemos em toda a Bíblia — existem apenas dois tipos de pessoas: aquelas que temem a Deus e aquelas que não o temem.

A Bíblia é igualmente clara ao dizer que as coisas ficarão bem apenas para aquelas que temem a Deus. Nem sempre os acontecimentos da vida parecem nos passar essa impressão.

Na verdade, às vezes as coisas parecem ser exatamente o oposto, como Eclesiastes nos diz. Mas haverá uma justiça final. Os perversos serão enterrados, e depois disso eles serão punidos por seus pecados.

No que diz respeito aos justos, eles são vingados pela graça de Deus na cruz de Cristo Jesus. A justiça está vindo; é apenas uma questão de tempo.

  1. TUDO ACABA BEM.

Um dia tudo estará bem para o povo que teme a Deus. Entrementes, o Pregador tem conselhos práticos sobre a forma como devemos viver. Viver bem é a garantia para acabar bem.

  1. Não há nada melhor (v.15).

O mesmo temor de Deus que nos levará para a vida eterna nos ajuda também a encontrar alegria no aqui e no agora:

“Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol” (Ec 8.15).

O que o Pregador diz aqui é semelhante ao que já dissera nas passagens sobre a alegria em Eclesiastes (veja 2.24-26; 3.12-13,22; 5.18-20).

A despeito de toda vaidade “debaixo do sol”, é possível encontrarmos alegria autêntica nas coisas comuns do dia a dia. Na verdade, essa é uma das principais mensagens de Eclesiastes.

Agostinho diz que Salomão escreve o livro de Eclesiastes para sugerir, de modo que julgava adequado, que a vaidade desta vida tem o objetivo final de fazer-nos ansiar por outro tipo de vida, que não seja uma sombra sem substancia debaixo do sol; mas que seja a realidade substancial da vida eterna.

Alguns estudiosos oferecem uma interpretação bem diferente de Eclesiastes 8.15. Dizem que o Pregador estaria simplesmente tentando tirar o melhor de uma situação ruim. Está sendo cínico, tentando fazer uma limonada do limão.

Se todos nós morremos de qualquer jeito, por que, então, não aproveitar o dia? Eles compreendem esse versículo, como uma expressão de resignação. Comamos, bebamos e sejamos alegres, pois amanhã morreremos.

O problema com essa visão é que ela não faz jus ao que o Pregador diz. Tampouco reconhece a “alegria genuína” a “plena satisfação”; que podemos experimentar enquanto aguardamos a justiça final.

Observe que o Pregador está nos apresentando uma perspectiva centrada em Deus e que, no versículo 15, ele fala sobre os dias da nossa vida como DÁDIVA DE DEUS.

Observe também que ele menciona a alegria duas vezes nesse versículo e a descreve como algo que podemos experimentar durante toda a nossa vida.

Se Deus está sempre ao nosso lado, então sempre temos a PROFUNDA SATISFAÇÃO de saber que ele está perto, mesmo em nossas provações mais escuras.

Além do mais, o Pregador está se tornando cada vez mais confiante em relação a essa alegria.

Antes, ele nos disse que não encontrou “NADA MELHOR” do que a alegria ( [Ec2.24) e que havia “visto” alegria ( Ec 5.18), mas aqui ele nos incentiva a experimentar a alegria de Deus.

Exaltei eu a alegria, ele diz (Ec 8.15), e a palavra para “exaltar” é uma palavra hebraico para louvor (shabach).

Sim, existe vaidade debaixo do sol. Sim, vemos uma injustiça difícil de aceitar ou compreender. As pessoas estão cada vez mais piorando moralmente.

Sim, temos muito trabalho duro a fazer. Nem tudo dá certo, encontramos muitos contratempos. Muitos obstáculos.

Mesmo assim, há alegria para nós nas coisas comuns da vida; comer, beber e compartilhar comunhão com o povo de Deus.

Essas alegrias representam as coisas básicas da vida sem as quais a vida é impossível: “comer”; “beber”; “alegrar-se”. E se sou satisfeito com as coisas básicas da vida, estarei satisfeito com tudo mais.

A nossa vida não é apenas muita dificuldade e trabalho duro; é também DESCANSO E ALEGRIA NA BONDADE DE DEUS.

Trabalhamos, mas Deus nos alimenta e sustenta. Existe muita razão para celebrarmos. Deus está nos chamando para regozijar, celebrando que ele nos dá por meio do nosso trabalho.

Sem o conhecimento salvífico e pessoal de Jesus Cristo e sem a certeza da vida eterna, é difícil ter qualquer alegria.

Até mesmo os melhores momentos da vida estão impregnados de tristeza porque sabemos que a vida não durará para sempre.

Teremos de morrer um dia, e se não conhecermos Cristo, viveremos na angustiante expectativa do julgamento. Mas se conhecemos a Cristo, independentes das circunstancias acabaremos bem.

CONCLUSÃO

A humanista e romancista inglesa; Marghanita Laski foi brutalmente honesta em relação a isso quando resumiu a condição humana para um público de rádio na Inglaterra: “Estamos sozinhos, somos culpados e morreremos”.

Compare o desespero de Laski com a fé e a alegria de Lewis de Marolles, um protestante francês idoso que foi preso em 1685 por causa de sua fé em Jesus Cristo (isso aconteceu após a revogação infame do EDITO DE NANTES).

Apesar de ser muito idoso; Marolles sofreu muitas provações desumanas. Durante muitos anos ele foi acorrentado, levado de cárcere para cárcere e forçado a servir como remador nos porões dos navios.

Seus capturadores tentaram constantemente convencê-lo a renunciar à sua confissão de fé. Na verdade, tentaram destruir a sua confiança em Deus e a sua esperança na vida eterna.

Mas Marolles não se desesperou. Ele continuou a chamar Deus de seu “querido e verdadeiro amigo”. Ele se entregou completamente à vontade de Deus.

Ele escreveu: “Tenho certeza de que em todas as circunstancias e todas as condições em que ele se agrada em me colocar são os estados em que ele julga que eu o glorificarei melhor do que em qualquer número infinito de outros que ele poderia atribuir a mim”.

Isso não quer dizer que ele nunca relutou com a injustiça de tudo isso. Na verdade, no último ano de sua vida, ele passou por um período de profundo desânimo espiritual.

Durante o qual a solidão constante e a escuridão perpétua confrontaram sua alma com “ideias assustadoras e aterrorizantes” que causavam “impressões fatais” em sua mente e o lançaram “num profundo abismo de aflição”.

Mas Marolles havia orado pela graça de continuar fiel até a morte. Sempre que surgiam dúvidas sobre a bondade de Deus, como às vezes fazia, ele se consolava com a mesma verdade que lemos em Eclesiastes 8.12. Ele dizia a si mesmo: “Tudo está — e ficará — bem”.

Este é o testemunho de todos que acreditam em Jesus Cristo e na graça que vem de sua cruz e de seu túmulo vazio.

A despeito de nossos sofrimentos atuais, e toda injustiça; tudo está bem, pois Deus está próximo. E tudo ficará bem, pois o Deus da justiça e misericórdia nos salvará no dia final. Então tudo acabará bem!

[1]Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-a-porcentagem-de-crimes-solucionados-pela-policia-no-brasil/

[2] Warren W. wiersbe, comentário bíblico expositivo – Poéticos – Geografica; pg 494.

Acesse os sermões na categoria: Sermões Expositivos.