Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 17 –  Tempo e modo de viver e morrer. Eclesiastes 8:1-9. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 15/07/2020.

INTRODUÇÃO

Helmuth von Moltke foi recrutado pela Alemanha nazista para trabalhar na contraespionagem; sua fé cristã, porém, fez dele um oponente determinado de Adolf Hitler.

Apesar de acreditar que seria errado recorrer à violência contra os nazistas, von Moltke usou sua elevada posição para resgatar muitos prisioneiros da morte certa. Não surpreendentemente, no fim, ele foi acusado de traição, julgado e condenado à morte.

Em sua última carta à sua amada esposa Freya, Helmuth descreveu o momento dramático de seu julgamento em que o juiz iniciou um ataque contra sua fé em Cristo: “Apenas em um único aspecto o nazismo se parece com o cristianismo”, ele gritou, “ambos exigem que o homem seja homem de verdade”.

Então o juiz exigiu que o acusado declarasse a sua lealdade final: “De quem você aceita suas ordens, do outro mundo ou de Adolf Hitler? Em quem você deposita sua lealdade e sua fé?”.

Von Moltke sabia exatamente a quem ele devia a sua lealdade. Ele havia colocado toda a sua esperança e confiança em Jesus Cristo. Portanto, apresentou-se ao seu juiz terreno como cristão, e nada mais.

Sua fé, o capacitou a agir sabiamente no serviço governamental, e agora o capacitou a agir sabiamente ao encarar a sua hora final.

Como seguidor de Cristo, Moltke conhecia a diferença entre o exercício apropriado de autoridade e o abuso de poder.

Também sabia o que fazer quando se encontrava sob o controle de outra pessoa mesmo quando sua própria vida corria perigo.

A sabedoria do evangelho o ensinou que para tudo há um tempo e um modo certo de viver e morrer.

  1. TEMPO E MODO DE VIVER. (v.1)

Eclesiastes 8 nos ensina que a sabedoria nos ajudará na maneira certa de viver e morrer.

Esse tipo de sabedoria será expressado nos nossos relacionamentos mais perigos e estruturas que envolvem principalmente nossa submissão às autoridades constituídas.

Esses versículos nos oferecem uma orientação prática para lidar com toda espécie de autoridade, bem como governos terrenos, sejam bons ou maus, até mesmo em questão de vida ou morte.

O versículo de abertura dessa passagem transicional. Ele resume o que o capítulo 7 disse sobre a sabedoria, mostrando ao mesmo tempo que a sabedoria é o caminho para lidar com as coisas que estão fora de nosso controle.

Três coisas sobre a sabedoria de viver:

  1. Ela é rara (v.1a)

O pregador inicia fazendo uma pergunta retórica, depois louva o presente da sabedoria: “Quem é como o sábio? Equem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem faz reluzir o seu rosto, e muda-se a dureza da sua face“(Ec 8.1).

Qual é a resposta às perguntas do pregador? Quem é verdadeiramente sábio, e quem possui a habilidade para explicar algo que é difícil de inter­pretar? Alguns estudiosos acreditam que a resposta seja: “Ninguém”.

Essas perguntas exigem uma resposta negativa, dizem, especialmente depois da­quilo que o Pregador disse no capítulo 7 sobre quão longe está a sabedo­ria e quão difícil é chegar às profundezas em que ela se encontra (veja os v. 23-24). Não existe homem sábio; não, nenhum.

O problema com essa interpretação é que a segunda metade do versículo é positiva. Ela diz que a sabedoria verdadeira transforma o semblante de uma pessoa.

Mas por que o Pregador diria isso se ninguém fosse sábio? Devem existir pelo menos algumas pessoas que possuem sabedoria. Por isso, a per­gunta retórica do Pregador deve ter um significado um pouco diferente.

Ele não está dizendo que ninguém é sábio, mas que a sabedoria é rara e que nin­guém se compara a uma pessoa verdadeiramente sábia.

Essa é uma grande verdade; a sabedoria é algo tão difícil de se encontrar como o Pregador disse no capitulo 7, então poucos a encontrarão — apenas um em mil homens (Ec 7.28).

Grande parte das pessoas não terão a sabedoria necessária. Não conseguiremos encontrar muitas pessoas que sabem interpretar as coisas corretamente — apenas uma em mil (Ec 7.28).

A primeira razão disso é uma questão do coração não do intelecto; a sabedoria anda com a os humildade e não com a altivez. Você nunca verá uma pessoa sabia que não seja humilde.

Outra razão é a perseverança na busca da sabedoria, o pregador está aplicando toda a sua vida a um único objetivo, encontrar a saberia, e este esforço é algo que apenas um e mil (Ec 7.28), estará disposto a fazer.

Pense em quanto é difícil, entender as coisas mais simples e as complexas. Pense em como pode ser difícil entender ensinamentos complexos da Bíblia(incluindo aqui alguns dos versículos dessa passagem).

Ou, em termos mais amplos, pense em como é difícil explicar a providência misteriosa de Deus, a forma como ele faz algumas coisas tortas ou retas no mundo.

Pense como é difícil entender se o meu sofrimento é um sinal do julgamento de Deus e, por isso, um chamado para o arrependimento uma oportunidade para a graça de Deus e, por isso, um teste da minha fé?

  1. Ela é intérprete da realidade(Ec 8.1b).

O pregador faz a segunda pergunta: “E quem sabe a interpretação das coisas? (Ec 8.1).

A sabedoria é uma interprete da realidade. Ela ajudará o sábio a fazer a leitura exata da realidade. Ele interpreta os fatos no v.5 ele dirá que o sábio, sabe o tempo e modo das coisas.

Muitos dos nossos problemas, devem-se ao fato de não sabermos interpretar corretamente a realidade. Um coração errado fará a leitura errada dos fatos e chegará a conclusões falsas sobre a realidade.

Embora a realidade é a mesma para todos, mas são poucos o que conseguem ver o que realmente ela significa.

O homem que possui a sabedoria para solucionar esses tipos de problema complexo é realmente raro. No entanto, alguns indivíduos possuem esse dom da interpretação.

Para mencionar apenas um exemplo notável, lembro da vida e do ministério do profeta Daniel. Quando era jovem, Daniel levado em cativeiro para a Babilônia, onde recebeu treinamento na corte de Nabucodonosor.

Só Daniel (em companhia de alguns amigos) foi sábio bastante para não comer da carne que os babilônios ofereciam aos seus deuses.

A Bíblia diz também que “em toda matéria de sabedoria e de inteligência” Daniel sabia dez vezes mais do que qualquer um dos estudiosos ou mágicos da Babilônia (Dn 1.20).

Mais tarde, revelou ser o único homem em todo o reino que era sábio o bastante para interpretar o sonho do rei (Dn 2).

Poucas pessoas têm a sabedoria para discernir as coisas como Daniel. Ele é um exemplo tão brilhante que corresponde à descrição na segunda metade de Eclesiastes 8.1.

Paulo chama esse dom dado a Daniel, em 1 Coríntios 12, sobre o “dom de sabedoria” e dom de conhecimento”. Precisamos orar pedindo a Deus este tipo de sabedoria, como Tiago (1.5) nos ensina, pois Deus dá liberalmente.

  1. Ela faz a diferença(Ec 8.1c).

No caso de Daniel, até os babilônios conseguiam enxergar que sua aparência era melhor do que a aparência de seus próprios jovens (Dn 1.15).

É estranho, mas é verdade: a sabedoria divina muda a aparência das pessoas.

As pessoas que vivem sem Deus no mundo demonstram muitas vezes a postura orgulhosa ou a expressão rígida que resulta de um coração endurecido pelo pecado — aquilo que o Pregador chamou de “dureza da (…) face”.

Mas a sabedoria do evangelho transforma a expressão rígida do pecado em sorriso da graça.

Assim, o Pregador contrasta a face do pecador endurecido com “o homem sábio que é visivelmente gracioso em sua postura e cuja gentileza se evidencia em sua expressão facial”.

Ao dizer isso, ele não quer apenas que andemos com um sorriso estampado em nosso rosto.

O que ele está dizendo é o que o salmista disse: aqueles que olham para o Senhor são “iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame“.(Sl 34.5; cf. Êx 34.29-35; Pv 15.13).

Isso é mais do que uma metáfora. A sabedoria verdadeira traz uma alegria para a vida que muda tudo, inclusive a aparência das pessoas.

Encontramos um exemplo surpreendente disso num ensaio de 2008 de um ateu famoso sobre um fenômeno estranho que ele observou na África.

O jornalista Matthew Parris escreveu um artigo para The Times intitulado de “Why Africa Needs God” [Por que a África precisa de Deus].

Apesar de Parris deixar bem claro que não acredita em Deus, ele reconheceu que o cristianismo fazia uma diferença palpável nas vidas das pessoas que ele conheceu em Malawi, no país de sua infância e em outros países da África.

Ele não só admirou o bom trabalho que os cristãos estavam fazendo cuidando dos pobres e enfermos, mas gostou também de sua aparência: “Os cristãos eram diferentes”, escreveu.

“Sua fé parecia tê-los libertado e deixado mais à vontade.Havia uma vivacidade, uma curiosidade, um compromisso com o mundo…

Sempre que entrávamos em um território com um missionário, tínhamos de reconhecer que algo havia mudado nos rostos das pessoas que encontrávamos e com as quais conversávamos: algo em seus olhos”.

A sabedoria bíblica traz transformação pessoal. Ela faz uma diferença em nosso testemunho, mostrando às pessoas a alegria de conhecer Cristo. Faz também uma diferença em nossos relacionamentos.

Em vez de viverem mal humoradas o tempo todo e reclamando de tudo, o que de fato é uma tentação para todos nós, as pessoas sábias têm uma alegria interior que irradia e alcança outras pessoas.

Você já viu esse tipo de alegria no rosto de um cristão mais velho, mais sábio? Deus faz seu rosto brilhar?

Quando orarmos pelo nosso progresso espiritual, devemos pedir a Deus uma sabedoria maior para trazer uma alegria crescente para nossa vida em nosso testemunho de Jesus Cristo.

Quando sua face brilhar sobre nós (veja Nm 6.25), nossos próprios rostos brilharão com a sabedoria da sua graça radiante (veja 2Co 3.18).

  1. TEMPO E MODO DE OBEDECER. ((Ec 8.2-4).

Após nos informar sobre a aparência da sabedoria, o Pregador mostra o que a sabedoria faz quando lidamos com pessoas exercem autoridade:

“Eu te digo: observa o mandamento do rei, e isso por causa do teu Juramento feito a Deus. Não te apresses em deixar a presença dele, nem te Obstines em coisa má porque ele faz o que bem entende. Porque a palavra do rei tem autoridade suprema; e quem lhe dirá: Que fazes?” (Ec 8.2-4).

A sabedoria nos ajuda nos relacionamentos mais complexos e nucleares da existência humana, que são aqueles que envolvem a submissão.

Uma pessoa sabia compreende que um dos principais agentes divinos de justiça, atualmente disponíveis é a instituição do governo humano.

A doutrina aqui apresentada é exatamente a mesma ensinada em toda a Escritura. As “autoridades que existem” são o meio ordenado por Deus para corrigir muitas das atuais desordens nesta vida.

No contexto original, esses versículos se aplicavam especificamente sobre o direito divino dos reis que reinavam sobre Israel na Antiguidade.

Esses princípios, porém, podem ser aplicados também a outras formas de governo ou, num sentido mais geral, a qualquer situação em que somos chamados para submeter-nos a uma autoridade conferida por Deus.

Seja na família, na igreja, no trabalho ou no governo. Há dicas em toda a passagem de as autoridades em questão podem ou não exercerem seu governo de forma piedosa.

Na verdade, o versículo 9 sugere que muitas vezes ocorre um abuso de autoridade terrena:

“Tudo isto vi quando me apliquei a toda obra que se faz debaixo do sol: há tempo em que um homem tem domínio sobre outro homem, para arruiná-lo”.

Essa passagem fala não só sobre o uso de poder, mas também sobre seu abuso. Com base naquilo que o Pregador tinha visto, sempre que uma pessoa abusa do poder que tem sobre outra.

Há sempre uma grande probabilidade devido nossa natureza pecaminosa de usarmos o poder de forma destrutiva.

O pregador expressa essa ambivalência na postura diante de uma autoridade política; que por um lado, ele recomenda obediência e submissão em razão da prudência, por outro, porém, não oculta o fato de que as vezes isso pode ser brutal e tirânico.

Mas não podemos usar isso como desculpara para desprezar e desobedecer às autoridades constituídas. Então ele considera algumas questões:

  1. Ouvir é obedecer (v.2)

Todos nós vivemos debaixo de autoridade. Qual é a maneira sábia e santa de viver sob autoridade? Essa pergunta não diz respeito apenas aos membros da corte.

É relevante para cada cidadão, cada funcionário, cada filho, cada membro de igreja e cada pessoa chamada a se submeter a qualquer autoridade que Deus instituiu.

A maneira como honramos a Deus diz muito como honraremos o rei ou qualquer outra autoridade sobre a nossa vida?

Nossa primeira obrigação com a autoridade é a obediência. Assim, o Pregador começa instruindo-nos a “observar o mandamento do rei” (Ec 8.2).

O servo sábio fará o que o rei lhe diz, evitando o questionamento imprudente.

O princípio geral aqui é submissão às autoridades do governo — algo que a Bíblia ensina também em outras passagens. Jesus disse aos discípulos que deviam “dar a César o que é de César” (Lc 20.25).

Paulo instruiu a cada pessoa a estar “sujeito às autoridades superiores” — ao que Willian Tyndale chamou de “poderes que são” (Rm 13.1). Martinho Lutero chamou essa obrigação de “obediência política“.

Todo cristão é chamado para ser um cidadão obediente à lei e para responder a qualquer PEDIDO PIEDOSO de ajuda que o governo faça.

Isso inclui tudo, desde pagar todos os impostos a responder ao apelo do presidente de prestar serviços voluntários.

Há várias boas razões para obedecer ao rei. A mais importante é de natureza teológica: “observa o mandamento do rei, e isso por causa do teu jura­mento feito a Deus” (Ec 8.2).

O que as Escrituras dizem literalmente é: “por causa do teu juramento feito a Deus”. Nossa obediência a autoridade está baseada no juramento (promessa) que fizemos de lealdade a Deus.

O Pregador está lembrando aos seus ouvintes que eles prometeram obedecer a Deus e ao rei.

No entanto, há outra maneira de ler esse versículo. O “juramento de Deus” pode ser uma promessa divina, e não humana — a promessa que Deus fez quando colocou seu rei no trono.

Lembre-se que os reis justos de Israel eram recebedores de uma promessa real. Deus havia jurado ao rei Davi que um de seus filhos se sentaria no trono de Israel para sempre.

Essa é a aliança que Deus fez com Davi em 2Samuel 7 e que o próprio Davi repetiu no salmo 110:

“Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” (v. 1).

O povo de Deus era obrigado a obedecer ao seu rei terreno porque ele havia sido ungido pelo Deus Todo-poderoso. Obedecer ao rei significava dar honra a Deus.

Nós honramos Deus da mesma forma. É verdade, nossos governantes não receberam a aliança que Deus prometera a Davi.

Aquele juramento solene se cumpriu com a vinda de Cristo, que reinará para sempre como o Rei ungido de Deus.

Mas no exercício de sua autoridade real e universal, Jesus apontou líderes para o nosso governo:

“Não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Rm 13.1-2).

Nossa submissão à autoridade na terra é parte importante da nossa submissão a Cristo no céu.

As pessoas muitas vezes se perguntam se essa obediência tem seus limi­tes. Preciso sempre me submeter às autoridades governantes, ou há, tempos em que, como cristão, preciso desobedecer?

A resposta simples é aquela que Pedro deu quando os governantes de Jerusalém ordenaram que ele pa­rasse de pregar o evangelho: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).

Quando se trata de um conflito entre Deus e os homens, precisamos obedecer a autoridade superior.

O que o Pregador nos oferece em Eclesiastes 8 é sabedoria prática para situações em que nos encontramos sob urna autoridade terrena que não é completamente justa e que pode nos deixar incertos em relação ao que fa­zer.

  1. Insubordinação (v.3)

O versículo 3 parece supor uma situação em que um oficial público discorda da ordem de seu rei. Aqui o Pregador oferece uma palavra de cautela:

“Não te apresses em deixar a presença dele, nem te obstines em coisa má, porque ele faz oque bem entende” (Ec 8.3).

Quando diz que não devemos nos apressar, o Pregador não está informando a velocidade com que devemos andar quando sairmos do Palácio do Planalto.

No mundo antigo, uma audiência com o rei era uma questão de vida ou morte. Quando Ester, por exemplo, entrou na sala do trono do rei, ela estava colocando sua vida em suas mãos (“Se perecer, pereci”; Et 4.16).

Nesse contexto cultural, uma saída apressada da sala do trono era um sinal de desonra e deslealdade é uma maneira de expressar seu desrespeito pela autoridade.

Hoje isso é parecido com a atitude, de alguém se levantar e sair de um auditório, em oposição e rejeição à autoridade, enquanto a pessoa está discursando ou ensinado.

O Pregador não está dizendo que nunca temos o dever de desobedecer ao governo para cumprir nossa obrigação maior com Deus.

Mas está dizendo que não devemos ser apressados em desrespeitar a qualquer autoridade instituída por Deus.

Ele também nos instrui a sermos cautelosos pois poderemos estar enganados e defendendo uma “coisa má” (Ec 8.3).

Isso seria um bom conselho em qualquer situação, mas nesse contexto o Pregador tem algo específico em mente.

Ele está se referindo a atitude de insubordinação que desrespeita e desconsidera a autoridade dada por Deus aos homens.

Mesmo quando as pessoas se encontram sob o governo de uma autoridade ímpia, é tentador rebelar-se de forma injusta.

O Pregador nos instrui a combater o mal com santidade. Não se opor a tirania com a rebelião injusta.

Um bom exemplo é a postura assumida por Daniel e seus amigos, quando o rei Nabucodonosor ordenou que deveriam comer das iguarias da mesa oferecida aos ídolos.

E mesmo no caso de Hananias, Misael e Azarias que reverentemente e pacificamente se recusaram a adorar qualquer pessoa além de Deus (Dn 3).

O texto é muito especifico, dizendo que não devemos nos apressar. Devemos ter muita sabedoria e cautela para saber como reagir e especificamente se autoridade está agindo injustamente.

Eclesiastes nos aconselha a não responder ao mal com o mal. As nações aplicam esse princípio seguindo os princípios bíblicos para a prática justa de guerra, incluindo o tratamento humano de prisioneiros.

Mas podemos aplicar esse princípio também pessoalmente sempre que sentirmos o ímpeto de lutar contra o abuso de autoridade.

Quando sofrer opressão em casa, no emprego ou na sociedade, não permita que o desejo de vingança volte seu coração para a iniquidade.

  1. Resistência (v.4)

A razão mais importante para obedecer ao rei é de natureza teológica. Mas o Pregador nos dá também uma boa razão prática para cumprir a nossa obrigação real, ou seja, porque isso nos protegerá de prejuízos.

Lembre-se de que a palavra do rei é lei, que a autoridade terrena do governo é absoluta:

Porque a palavra do rei tem autoridade suprema; e quem lhe dirá: Que fazes?”(Ec 8.4).

Portanto, se formos tolos aponto de desafiar a autoridade instituída por Deus, sofreremos os danos dessa insubordinação. Se a nossa resistência for má então sofreremos a condenação.

Romanos 13:4 diz “Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal.

A autoridade tem poder para impor aquilo que ela ordena. E se alguém desobedece deverá sofrer sanção prevista em lei.

Em um governo absolutista o rei faz o que bem entende e isto pode ser um tanto imprevisível, até mesmo perigoso.

Sendo este o caso ou não, é bom ser cauteloso na presença de uma autoridade. Se desobedecemos a autoridade constituída, estaremos provocando a sua ira (veja Pv 14.35; 16.14; 20.2).

Existem tempos em que a sabedoria precisa dobrar suas asas e assumir uma forma discreta, contentando-se a manter seu dono longe do perigo.

No entanto, o Pregador nos oferece este encorajamento: “Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo” (Ec 8.5).

Isso uma promessa absoluta, é um princípio válido. A obediência sempre tem a bênção de Deus. Submeter­-nos ao domínio da lei nos protegerá de infortúnios.

Essa é uma das bênçãos da sabedoria: ela nos ajuda a reconhecer o modo certo de viver, que inclui a submissão ao nosso governo como cidadão leal e todas as demais autoridades.

Tudo que dissemos até agora é perfeitamente resumido em um dos pro­vérbios bíblicos: “Teme ao SENHOR, filho meu, e ao rei e não te associes com os revoltosos” (Pv 24.21).

III. TEMPO E MODO DE MORRER(Ec 8.5-8).

O pregador diz que para tudo na vida tem um tempo e um modo certo de fazer e por isso precisamos de um coração sábio. Duas coisas nesses versos:

  1. Discernimento (v.5,6)

Após dizer-nos que uma pessoa sábia “conhece o tempo e o modo”, o Pregador nos assegura de que “para todo propósito há um tempo e um modo” (Ec 8.5-6).

Em outras palavras, a pessoa sábia conhece a coisa certa a fazer e o tempo certo para fazê-la.

E isto é um grande desafio, ele chama de fardo e diz que esse “é o grande o mal que pesa sobre o homem.

Como posso saber o tempo certo e modo certo de fazer as coisas. Pois para todas as coisas, há um modo de fazer e um tempo especifico para fazer, que não podemos adiar e nem adiantar.

E temos um grande dilema a enfrentar ‘Porque este não sabe o que há de suceder; e, como há de ser, ninguém há que lho declare” (Ec 8.6-7).

Mais uma vez nos encontramos contra os limites da sabedoria terrena. Precisamos da sabedoria que vem do alto.

A Pessoa sábia tem um sentido do tempo de Deus. Ela sabe o tempo para todo proposito debaixo do céu (Ec. 3.1).

O exemplo pratico dado pelo pregador é a maneira como lidamos com as autoridades.

Há um tempo de obedecer às autoridades e um tempo certo para deixar a sua presença, ou mesmo um tempo certo desobedecer, quando a autoridade nos ínsita a desonrar a Deus.

Podemos aplicar o mesmo princípio em todas as outras situações que envolvem relacionamento com a autoridade. Há um tempo para submeter-se e um tempo para ficar contra a opressão.

Para dar apenas um exemplo, há um tempo para ficar e fazer um casamento funcionar, mas há também um tempo para deixar um cônjuge abusivo, violento e adúltero contumaz.

O problema é que é difícil identificar o tempo, o que torna difícil saber qual é a coisa certa a fazer.

Os problemas e as frustrações da vida são numerosos, como o Pregador não se cansa de nos lembrar.

Não sabemos O que o futuro trará. Tampouco ninguém pode nos dizer exatamente o que acontecera no amanhã.

Eu conseguirei realizar minhas ambições?Deus me abençoará com a situação que desejo para a minha vida? Quais nações se erguerão e cairão? A economia será boa ou ruim?

Qual igreja florescerá ou apenas sobreviverá? Essas são apenas algumas das muitas incertezas que temos em relação ao futuro.

Precisamos da sabedoria para saber o tempo e modo certo de lidar com todas as situações da vida.

  1. Coragem (v.8)

A sabedoria nos ajuda a lidar com A MAIOR INCERTEZA DE TODAS, que é o momento da morte. Isso também está fora do nosso controle.

O Pregador diz: “Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte” (Ec 8.8).

A palavra “espírito” significa, às vezes. “vento”, “sopro” (p. ex., Ec 1.6), mas seu vínculo aqui como “o dia da morte” deixa claro que o Pregador está pensando no “espírito” como sopro da vida (cf. Ec 3.19: 12.7).

Nenhum ser humano tem poder sobre a vida e a morte. Em breve, respiraremos pela última vez, e quando este dia vier, não haverá absolutamente nada que possamos fazer para estendê-lo.

As Escrituras dizem: “aos homens está ordenado morrerem uma só vez-(1-1b 9.27), mas essa data está marcada na agenda de Deus, não na nossa.

A Bíblia diz também que existe um “tempo de morrer” (Ec 3.2), mas esse tempo não se encontra em nossa agenda. Nosso último suspiro é o último que teremos, e não há como respirarmos mais uma vez depois disso.

O pregador nos dá um exemplo de como lidamos com a morte. Ele usa a figura de um soldado em tempos de guerra.

Devemos lidar com as incertezas da vida e da morte com a coragem de um soldado.

nem há tréguas nesta peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega” (Ec 8.8).

Normalmente, a bíblia considera o serviço militar um chamado nobre. João Batista, disse aos soldados do exército romano a não abandonarem sua posição, mas a honrarem a Deus na maneira de cumprir sua obrigação (Lc 3.14).

Aqui o Pregador diz a mesma coisa aos soldados, mas ele o faz reconhecendo que a guerra é uma ocupação perigosa. Um bom soldado não pode fugir do perigo.

A lei de Moisés previa que os homens covardes pudessem ser liberados do serviço militar (veja Dt 20.8). No reino de Deus, não há espaço para covardes.

Na hora da luta, os soldados na ativa eram proibidos de fugir.Esse é o costume universal de todo exército respeitável.

Um soldado não pode enganar o sistema, fugir do serviço ou se afastar sem licença. Nem mesmo a “iniquidade dele” no campo de batalha pode tirar dele a responsabilidade de lutar.

A situação do soldado reúne os temas principais dessa passagem bíblica.

Entre todas as coisas que um governo ordena às pessoas a fazer, esta é a mais exigente: a de defender seu país.

E também a obrigação que traz o maior perigo e, com esse perigo, a maior incerteza em relação ao futuro.

Em tempos de guerra, um soldado enfrenta a possibilidade real da morte em qualquer momento.

Ele, mais do que qualquer outra pessoa, sabe que não tem conhecimento do futuro ou poder sobre o dia da morte.

Mesmo assim, o soldado precisa ser valoroso e obedecer às ordens e continuar na peleja.

Essa é também a nossa situação, todos os dias encaramos questões de vida ou morte. Em especial nesse tempo de pandemia.

To­dos nós nos encontramos debaixo da autoridade de alguém. Todos nós encaramos um futuro incerto.

Não controlamos nosso destino nem determinamos os dias da nossa vida. Nem sabemos como interpretar tudo que acontece em nossa vida. Qual, então, é o modo sábio de viver?

O modo sábio de viver é submeter-se à soberania de Deus e confiar nossas vidas — corpo e alma — ao senhorio de Jesus Cristo.

Ele é a sabedo­ria de Deus (1Co 1.30); portanto, se quisermos conhecer o modo sábio de viver, precisamos ir até ele.

Jesus Cristo é o Rei dos reis (Ap 19.16); assim, quando nos submetemos a qualquer governo terreno, estamos na verdade honrando seu reinado eterno.

Jesus Cristo éo Salvador que morreu em seu tempo, pacientemente submetendo seu espírito ao Pai (veja Lc 23.46) ao oferecer sua vida na cruz pelos nossos pecados.

Jesus Cristo é o Senhor da vida eterna. (Jo 6.68); por isso ele é capaz de nos libertar da morte e de nos dar a plenitude da alegria na presença eterna de Deus.

Entregue a sua vida a Cristo e ele o salvará para sempre. Seu futuro estará seguro, a despeito de todos os problemas e incertezas da vida.

CONCLUSÃO

Nos últimos dias de sua vida na terra, Moltke experimentou o conforto de conhecer Cristo.

Apesar de ser inocente de todas acusações, ao ser condenado pelos nazistas, Moltke sabia que ele era um homem morto.

Qualquer dia podia ser o seu ultimo. Mesmo assim, em sua ultima carta à esposa, ele se mostrou repleto de alegria e confiança na bondade de Deus.

Von Moltke estava sofrendo o mal descrito em Eclesiastes 8.9 que diz que um homem tem o Poder de ferir o outro.

No entanto, ao mesmo tempo, ele teve a sabedoria que vem do conhecimento de Cristo.

Assim ele foi capaz de dizer à sua amada esposa que “a agonia da partida, o terror da morte e o medo do inferno” não tinham poder sobre ele.

Em vez disso, estava tomado de fé, esperança e caridade. “Sei que vivo apenas em sua graça”. disse ele. Citou também um verso de seu hino favorito: “Está pronto para a morte aquele que está firmado em ti”.

Se formos sábios, também nos firmaremos em Cristo, vivendo apenas em sua graça, e assim estaremos preparados para a morte e tudo o mais que vier a acontecer na vida.

Existe um tempo e um modo certo de viver e morrer.  O apostolo Paulo diz:

Se vivemos, para o Senhor vivemos; e, se morremos, é para o Senhor que morremos.

Sendo assim, quer vivamos ou morramos, pertencemos ao Senhor.

Porquanto foi por este motivo que Cristo morreu e voltou a viver, para ser Senhor tanto de vivos quanto de mortos. (Rm 14. 8-9).

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