Série de sermões expositivos sobre o livro de Eclesiastes. Sermão Nº 03 – Sempre a mesma coisa. Eclesiastes 1:12-18. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 08/04/2020.

A BUSCA DA HUMANIDADE POR SENTIDO

Referência: Eclesiastes 1.12-18.

INTRODUÇÃO:A editora arqueiro lançou em 2009 o best seller mundial: O guia do mochileiro das galáxias, Douglas Adams escreve sobre Deep Thought, o poderoso supercomputador que tem atarefa de determinar a resposta à vida, ao universo e a tudo.

O supercomputador leva muito tempo para verificar e reverificar seus cálculos –sete milhões e meio de anos, para ser exato; mas eventualmente produz uma resposta simples e inequívoca: o sentido da vida é 42.

“Quarenta e dois?”, exclama alguém. “Isso é tudo que você conseguiu produzir em sete milhões e meio de anos de trabalho?”.

“Eu conferi tudo minuciosamente”, responde o supercomputador, “e esta é definitivamente a resposta.

Creio que o problema, para ser honesto, é que na verdade vocês nunca souberam qual é, realmente, a pergunta”.

Todos querem conhecer o sentido da vida, mas a fim de obter a resposta certa precisamos fazer a pergunta certa.

Esta é a nossa busca em Eclesiastes – alcançar uma compreensão verdadeira e correta da vida,do universo e de tudo.

Quando acompanharmos o Pregador em sua jornada espiritual, que felizmente dura um pouco menos do que sete milhões e meio de anos, descobriremos para nós mesmos o sentido da vida.

  1. A BUSCA DAQUELE QUE PROCURA

O livro abriu com uma apresentação do autor (Ec 1.1), do tema (Ec 1.2) e com um resumo poético (Ec 1.3-11), no qual uma série de exemplos da natureza e da experiência humana demonstra que o mundo é “infinitamente ocupado e perdidamente inconclusivo”.Agora, a busca começa de verdade. Vejamos:

  1. O buscador.

Os 11 primeiros versículos resumem a mensagem do livro. O pregador, revela-nos quem ele é: “Eu, o Pregador, venho sido rei de Israel, em Jerusalém”.

Ele é um rei de idade avançada,que escreve sobre suas experiências de vida para dar conselhos aos seus filhos e principalmente a Roboão o seu sucessor.

O escritor fala em termos autobiográficos. Ele está descrevendo suas experiências para o benefício moral de seus leitores.

Obviamente, nesse caso, o homem idoso pretende ser Salomão. Isso já era evidente no versículo 1, em que Kohelet se descreveu como “filho de Davi, rei de Jerusalém”.

Aqui, no versículo 12, ele, além disso, identifica-se como “rei de Israel, em Jerusalém”.

Essa descrição corresponde apenas à vida de Salomão, pois apesar de Roboão e outros descendentes de Davi terem reinado em Jerusalém, nenhum deles reinou sobre Israel.

Depois de Salomão, o reino foi dividido entre o norte e o sul, e o rei em Jerusalém reinava apenas sobre o reino sul de Judá, não sobre o reino norte de Israel.

Então, esse rei é, necessariamente, Salomão. Embora alguns estudiosos adotam uma perspectiva um pouco diferente.

Mas seja como for, a vida desse rei famoso fornece o contexto bíblico de Eclesiastes. Aqui, ele se apresenta como Kohelet, que significa “o Coletor” ou “o Convocador”; “o pregador da Eclésia”.

Ele usa esse título porque uma das obrigações de seu oficio real é reunir seus súditos e instruí-los na sabedoria espiritual, como Salomão fez em 1 Reis 8, quando reuniu Israel para consagrar o templo sagrado em Jerusalém.

Ele é o “Eclesiastes”, aquele que prega na Eclésia. Assim, o rei é também o Pregador da congregação do povo de Deus.

O fato de ele falar no tempo verbal do passado (“Eu… fui rei”) nos diz que ele está escrevendo já no fim de seu reinado, após ter sido rei durante algum tempo.

Ao escrever do ponto de vista da idade e experiência, ele está nos contando a história daquilo que ele tem aprendido sobre a vida.

  1. A busca.

O Salomão de Eclesiastes era um BUSCADOR; ele se encontrava numa BUSCA pessoal de SABEDORIA E CONHECIMENTO.

Ele diz: “Apliquei o coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu” (Ec 1.13).

O Rei-Pregador estava fazendo as perguntas fundamentais. Ele queria descobrir o sentido da vida.

Essa busca se encaixa perfeitamente em tudo o que sabemos sobre o rei Salomão de outras passagens na Bíblia.

Quando Salomão se tornou rei, Deus lhe ofereceu uma oportunidade única: podia pedir o que quisesse. Salomão escolheu com inteligência.

Em vez de pedir dinheiro ou fama, pediu sabedoria para governar o povo de Deus. O Senhor se agradou tanto com o pedido de Salomão que disse:

Dou-te coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá” (1Rs 3.12).

Essa dádiva preciosa de sabedoria não significava que o rei compreendeu instantaneamente tudo.

Ele ainda precisava se dedicar à busca de conhecimento, e foi exatamente isso que Salomão fez: DEDICOU SUA VIDA AO APRENDIZADO.

A busca de Salomão foi sincera. Quando diz: “APLIQUEI O CORAÇÃO“, ele está dizendo que sua busca de conhecimento vinha da essência de seu ser.

O Rei-Pregador concentrou sua mente e disciplinou seu coração para conhecer a verdade com toda diligencia.

Sua BUSCA era também abrangente. As palavras “ESQUADRINHAR” e “INFORMAR” indicam a seriedade de seus esforços de como ele se dedicou as suas PESQUISAS.

Ele queria compreender a vida – não apenas uma parte da vida, mas a vida como um todo. Sua busca era tão extensa quanto era intensa.

O Pregador era um homem do RENASCIMENTO DA ANTIGUIDADE. Ele queria saber o máximo possível sobre o máximo de coisas possíveis.

Queria investigar cada área do empreendimento humano “tudo quanto sucede debaixo do céu” ( Ec I .13).Ou seja, queria saber tudo sobre tudo debaixo do sol.

Isso era uma missão louvável. Em vez de buscar o prazer, ou a popularidade ou de encontrar sentido em realizações pessoais.

O Pregador usou sua sabedoria primeiro para encontrar o sentido da vida. Em vez de viver em função de prazeres inferiores, ele queria a VIDA DA MENTE.

O tipo de sabedoria que o Pregador tinha em mente não era a sabedoria divina, mas a sabedoria humana.

Apesar de, normalmente, a sabedoria apresentar conotações muito positivas na Bíblia, a palavra nem sempre se refere à sabedoria espiritual vinda de Deus.

A palavra hebraica para sabedoria (hochma) é um termo amplo. Aqui, ela se refere ao que um ser humano pode aprender sobre o mundo sem qualquer revelação especial de Deus.

Buscar esse tipo de sabedoria é uma busca válida, a despeito de suas limitações. Pois toda verdade é verdade de Deus, seja onde quer que a encontremos.

Se aprendermos qualquer coisa que seja verdade para o mundo como realmente é; essa verdade vem como uma dádiva de Deus.

Até mesmo falsas religiões contêm algumas palavras verdadeiras. Até mesmo pessoas que não conhecem Deus possuem uma sabedoria prática para o dia a dia.

Pela “GRAÇA COMUM” de Deus, até mesmo livros da seção “Religião e autoajuda” numa livraria secular podem oferecer às pessoas algum conhecimento que elas procuram.

Daí as perguntas: Até onde essa sabedoria nos leva? Ela nos ajuda a conhecer e adorar Jesus Cristo como Filho de Deus? Ela nos guia no caminho da vida eterna? Ela nos ajuda a entender por que tudo importa?

  1. O RESULTADO DA BUSCA.

Uma boa maneira de responder a essas perguntas é contemplar o resultado da busca do Pregador. O que ele descobriu?

E o que nós aprenderíamos se dedicássemos a nossa vida a uma busca semelhante de conhecimento?

  1. Um mau empreendimento.

A verdade é que o Pregador acabou com as mãos completamente vazias. Em vez de 42, como o supercomputador do guia do mochileiro das galáxias; o Pregador descobriu que o SENTIDO DA VIDA ERA NADA.

Assim, nos versículos 13-15 ele descreve a infelicidade, o vazio e a futilidade de seus esforços de compreender o universo.

O teor desses versículos é inconfundivelmente sombrio. O pregador diz: “este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens, para nele os afligir” (Ec 1.13).

Mais cedo ou mais tarde, a maioria das pessoas acaba se sentindo assim. Muitas coisas nos deixam infelizes.

O relacionamento ruim dos nossos pais, comentários rudes que as pessoas fazem sobre nós, coisas que não temos, mas gostaríamos de ter.

O reconhecimento que acreditamos merecer, mas nunca recebemos; até mesmo as frustrações ordinárias da vida diária. Todas essas circunstâncias nos deixam infelizes.

Mas Eclesiastes diz algo ainda mais deprimente. Sua palavra para “infelicidade” (ra’ em hebraico) é mais negativa.

Refere-se a algo ruim ou mau. Assim, ela descreve antes uma categoria moral do que um estado emocional.

O problema não é simplesmente que a vida nos deixa infelizes, mas que ela é má em si. Não é apenas um trabalho infeliz,é um trabalho mau.

Existem pelo menos duas maneiras diferentes de interpretar essa declaração.

Quando o Pregador fala sobre “trabalho”, ele pode estar se referindo a tudo que as pessoas fazem, ou seja, a atividade humana como um todo.

Se assim for, o que ele diz sobre esse negócio é certamente verdade.

Desde o pecado dos nossos primeiros pais, o trabalho tem sido uma experiência ruim.

Leonard Woolf, o publicista e teórico político britânico que ajudou a fundar o BloomsburyGroup (e também marido de Virginia Woolf), disse o seguinte sobre sua vida e seu trabalho:

“Vejo de modo claro que alcancei praticamente nada. O mundo de hoje e a história do formigueiro humano dos últimos cinco a sete anos seriam exatamente os mesmos se eu tivesse jogado pingue-pongue em vez de participar de comitês e escrever livros e memorandos.

Portanto, vejo-me obrigado a fazer uma confissão um tanto ignominiosa de que, numa longa vida, tenho acumulado entre 150 e 200 mil horas de trabalho perfeitamente inútil”.

Essas são as palavras de um homem que escreveu mais de 20 livros sobre Literatura, Política e Economia. No fim das contas, porém, tudo lhe parece inútil, uma total perda de tempo.

Se pensarmos em todo o nosso próprio trabalho duro — seja em casa, na escola, no emprego ou no ministério —, é grande a tentação de sentirmos o mesmo: a vida é um mau empreendimento.

  1. A busca de significado.

No entanto, existe outra maneira de ver esse versículo. O “trabalho infeliz” que o Pregador menciona pode ser, na verdade, sua busca de compreender o sentido da vida.

É a própria busca do conhecimento em si que acaba se revelando um mau empreendimento.

Quanto mais ele procurou por respostas e quanto mais se esforçou para entender a vida, maior ficou o peso que carregava.

As vezes, quanto mais tentamos compreender, mais frustrados ficamos com a vida e suas perguntas sem respostas.

O Pregador acreditava que a busca pelo conhecimento era a tarefa que Deus lhe dera.

Como pessoa feita à imagem de Deus, ele tinha de fazer as perguntas fundamentais, precisava tentar entender o sentido da vida.

Essa é parte do trabalho espiritual que Deus deu à humanidade. Como escreveu Francis Schaeffer certa vez:

“Todos os homens… desejam profundamente algum significado, anseiam sentido…

Nenhum homem, independentemente de seu SISTEMA TEÓRICO, contenta-se em se ver como uma máquina despida de sentido que pode e será descartada totalmente e para sempre”

Até mesmo aqueles que negam a existência de Deus buscam um sentido para sua existência.

O famoso astrofísico Stephen Hawking estava aludindo a essa verdade quando disse:

“Somos apenas urna raça avançada de macacos num planeta pequeno de uma estrela muito mediana.

Mas nós podemos compreender o universo”. Pelo menos podemos tentar compreender o universo. Mas o trabalho dessa busca leva à infelicidade.

III.CORRENDO ATRÁS DO VENTO

Ele também leva ao vazio, como o Pregador também descobriu. Após ir a todos os lugares para realizar uma investigação minuciosa de tudo aquilo que as pessoas fazem, ele chegou a esta conclusão:

“Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento” (Ec 1.14). ou “aflição de espirito” (ACF).

Mais uma vez, o Pregador recorre a uma de suas expressões preferidas. Ele diz que observou “debaixo do sol”. Em outras palavras, ele vê oque as pessoas fazem de um ponto de vista terreno.

  1. Uma busca fútil.

Ele repete também a palavra “vaidade”, que significa literalmente “fumaça” ou “vapor”, e se refere a um sentido mais amplo à falta de sentido da vida.

Então ele introduz uma nova expressão, outra metáfora para a sua FILOSOFIA DE VIDA. A vida debaixo do sol é “CORRER ATRÁS DO VENTO”.

A palavra “eis” torna essa declaração enfática. Poderíamos traduzir o versículo desta forma: “Observei tudo que se faz debaixo do sol. E na verdade, nada tem sentido e tudo é correr atrás do vento“.

Háuma incerteza em relação à melhor tradução da palavra “correr”(re ‘ut- em hebraico). Pode significar “perseguir”. Pode também significar coisas como “alimentarou “pastorear”, ou “agonizar”.

Mas qualquer que seja a tradução que escolhermos, nenhuma dessas atividades tem qualquer chance de dominar o vento.

Não importa se o perseguirmos, alimentarmos ou corrermos atrás dele, não há nada que possamos fazer para capturar o vento.

Hoje, quando as pessoas falam como é difícil fazer com que outros façam algo, elas dizem que é como ARREBANHAR GATOS. Mas se você acha que arrebanhar gatos é difícil, tente pastorear o vento!

Isso se aplica à vida e a todos os nossos esforços humanos de compreendê-la.

Em um dos muitos provérbios famosos de Salomão, ouvimos a sabedoria dizer: “Porque o que me acha;acha a vida; e alcança favor do SENHOR” (Pv 8.35).

Mas aqui em Eclesiastes, essa busca parece fútil. Pelo que o Pregador tem visto, baseado puramente em sua experiência, sem o benefício da revelação divina, tentar descobrir o sentido da vida é tão impossível quanto correr atrás do vento.

Muitas mentes boas chegaram à mesma conclusão. Antes de morrer, o poeta modernista Ezra Pound disse:

“Durante toda minha vida acreditei que sabia algo. Mas então veio um dia estranho em que percebi que eu nada sabia, sim, eu nada sabia. E assim, as palavras se tornaram sem sentido”.

Semelhantemente, o infame ateu e evolucionista Richard Dawkins concluiu que a existência humana é:

“nem boa nem má, nem gentil nem cruel, mas simplesmente indiferente: indiferente a todo o sofrimento, sem qualquer propósito”.

 

  1. Uma busca vazia.

O Pregador concluiu sua própria busca vazia e infeliz pelo sentido da vida com um provérbio.

Sabemos que esse anúncio é um provérbio por causa de sua estrutura gramatical paralela e também porque expressa uma verdade de forma enigmática que exige uma reflexão cuidadosa para ser entendida.

O que o provérbio diz é isto: “Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular” (Ec 1.15).

Mesmo se não conseguirmos entender o sentido da vida, precisamos enfrentar as duras realidades dela.

Algumas coisas na vida são TORTAS não no sentido de que envolvam atividades criminosas ou imorais, mas no sentido; de que estão tão DISTORCIDAS; que elas resistem a todos os nossos esforços de endireita-las;

Tem muitas coisas na vida que gostaríamos de endireitar, mas não conseguimos.

Temos discursões em casa, conflitos na igreja, dificuldades financeiras, deficiências físicas; enfermidades, a lista é infinita.

Há sempre algo na nossa vida que gostaríamos de endireitar, recuperar sua forma original, mas não conseguimos.

Mas o Pregador aprendeu que “aquilo que é torto não se pode endireitar” (especialmente quando se trata de algo que Deus quer que permaneça torto; veja Ec 7.13).

Algumas das nossas circunstâncias não podem ser corrigidas. Não importa quanto nos esforcemos, não podemos endireitá-las ou torcê-las em outra direção.

Tampouco somos capazes de fazer com que a vida FAÇA SENTIDO, que é o tema da segunda linha do provérbio: “o que falta não se pode calcular”.

  1. Uma conta que não fecha.

Isso pode significar simplesmente que não podemos contar o que não temos.Você não pode endireitar o que é torto; você não pode contar as coisas que não existem.

No entanto, o problema pode ser mais profundo. O Pregador pode estar dizendo que nem mesmo sabemos o que realmente nos falta.

E o que nos falta na vida transcende qualquer medida de busca de satisfação, ou seja, somos seres infinitamente insatisfeitos.

Mas independentemente de como interpretarmos esse versículo, a essência é que a CONTA DA VIDA NÃO FECHA.

Nas palavras de um famoso romancista: “a vida parece “inacabada”, e de alguma forma deixa a desejar”.

Considerando essa verdade a vida é o que é, e não há nada que possamos fazer para consertá-la. Jesus disse que não podemos acrescentar um côvado a nossa altura.

Há tantas coisas que não temos como mudar: pessoas que não podemos administrar, problemas que não conseguimos resolver, desejos que não podemos satisfazer, sonhos que não podemos realizar…

Sem dúvida não conseguimos forçar a vida a se adequar à nossa vontade simplesmente exercendo sabedoria humana. Ou, em outras palavras: A VIDA É COMO UMA CONTA QUE SE RECUSA A FECHAR.

Sabemos que algo falta, mas não conseguimos descobrir o que é, e mesmo quando fazemos um ajuste para que a conta feche, lá no fundo sabemos que estamos manipulando os números.

Essa foi a experiência do Pregador. Sua busca fracassou. A sabedoria humana não pôde lhe dar a resposta para o sentido da vida.

  1. A BUSCA DESESPERADA CONTINUA.

Todavia, isso não significa que ele estava disposto a desistir. Nos versículos 16 a 18, o Pregador descreve sua busca continuada e desesperada por sentido.

Quando sua primeira tentativa terminou em fracasso, ele teve uma conversa intima com sua alma, um diálogo interno sobre o que havia descoberto até então.

Ele disse a si mesmo: “Eis que me engrandeci e sobrepujei em sabedoria a todos os que antes de mim existiam em Jerusalém; com efeito, o meu coração tem tido larga experiência da sabedoria e do conhecimento” (Ec1.16).

Quem já havia adquirido mais sabedoria ou um conhecimento maior do que o rei mais sábio de Israel? Isso não eram palavras vazias, mas uma afirmação de um fato bíblico.

Salomão era o homem mais sábio que já viveu, e ele havia levado sua busca o mais longe possível, que fez dele mesmo; o perfeito ESTUDO DE CASO.

Se Salomão era incapaz dedescobrir o sentido da vida, então ninguém eracapaz.

(a) a busca da moralidade.

Salomão não havia ainda considerado as alegações de moralidade, por isso, sua busca ainda não estava completa.

Ele havia tentado aprender tudo que podia sobre a vida, como alguém que frequenta as melhores universidades e lê todos os livros que alegam revelar os mistérios da experiência humana.

Mas ele não havia ainda investigado, a diferença entre o certo e o errado; ou tentado encontrar o sentido e o propósito da vida tornando-se uma pessoa melhor.

Então, ele disse: “Apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a saber o que é loucura e o que é estultícia” (Ec 1.17).

Anteriormente, o Pregador havia buscado e procurado sabedoria, mas agora usaria uma abordagem comparativa, contrastando a SABEDORIA com a LOUCURA.

Quando diz “LOUCURA E ESTULTÍCIA”, ele não está falando sobre insanidade mental, mas sobre IMORALIDADE.

Em outraspalavras: o pregador estava usando “loucura e estultícia” como normalmente são usadas no Antigo Testamento — para se referir à tola loucura de viver em desobediência a Deus.

Salomão não estava tentando descobrir seperder a cabeça lhe ajudaria a compreender o sentido da vida. Estava, antes, tentando entender a diferença entre o certo e o errado.

Muitas pessoas se aproximam da vida da mesma forma hoje em dia. Mesmo não sabendo exatamente comoDeus se encaixa; ou se Deus existe ou não;

mesmo assim elas acreditam que exista uma diferençaentre o certo e o errado. E elas pretendem levar uma vida moralmente correta.

O Pregador que escreveu Eclesiastes também queria ser uma boa pessoa, por isso, pro­curou entender tanto a SABEDORIA quanto a LOUCURA.

Quando contemplamos a vida de Salomão, é difícil não chegar à conclusão de que ele estudou a LOUCURA um pouco a fundo demais.

Parte do pano de fundo histórico de Eclesiastes é 1 Reis 11, em que o rei Salomão caiu tragicamente na LOUCURA DO PECADO.

Ele se casou com muitas mulheres e adorou muitos ídolos. Ao longo desse processo, o homem que possuía tanta SABEDORIA aprendeu mais sobre a LOUCURA do que ninguém jamais deveria.

Qual foi o resultado dessa nova busca? Conhecer a diferença entre o certo e o errado o ajudou a encontrar um sentido e propósito na vida? De forma alguma!

As exigências da moralidade convencional não satisfizeram a sua alma. Era tudo um desperdício.

(b) a busca da ciência.

Então, ele disse: “Vim a saber que também isto é correr atrás do vento” (Ec 1.17). ou “tudo era aflição de espirito” (ACF)

Mais uma vez, o Pregador citou um provérbio que resumia a conclusão de sua busca.

A sabedoria humana falhou porque não conseguia endireitar as coisas ou fazer com que a conta da vida fechasse (Ec 1.15).

Mas conhe­cer a diferença entre o certo e o errado fracassou por um motivo adicional:

“Porque na muita sabedoria há muito enfado, e o que aumenta em conhecimento, au­menta em dor (sofrimento, tristeza)” (Ec 1.18).

Como a maioria dos provérbios, essa declaração deixa a conclusão em aberto. Ela se aplica a tantas situações na vida que é difícil saber exata­mente o que ela significa aqui.

O Pregador fala sobre “ENFADO”, que é uma irritação, uma frustração da alma que beira a raiva.

Ele diz que, em vez de ajudar a entender a vida, mais conhecimento na verdade aumenta esse tipo de VEXAME.

A aquisição de sabedoria leva o homem a descobrir muitas coisas perturbadoras que podem impedir forte­mente sua paz de espírito.

Talvez isso se deva ao fato de nós aprendermos tantas coisas que prefe­ríamos não saber.

Por exemplo; coisas sobre a fragilidade de outros seres humanos, ou sobre o número de problemas que existem no mundo.

Mui­tas vezes, as crianças desejam saber mais sobre as coisas sobre as quais os pais conversam.

Afinal, envelhecemos e supostamente ficamos mais sábios, mas quando isso acontece, desejamos voltar para a inocência da infância.

O mesmo acontece no ministério: quanto maior é nosso conhe­cimento sobre as fraquezas espirituais das pessoas, sobre a ganância dos homens, e sobre os problemas da igreja, mais tristeza e vergonha isso nos traz.

E por isso que as pessoas dizem que a ignorância é uma benção. Quanto mais sabemos sobre as coisas, mais problemas isso nos traz.

  1. UMA CONCLUSÃO ESPERANÇOSA

Mais uma vez o Pregador conseguiu fazer nos sentir ainda mais piores sobre a vida do que antes.

No iníciosua sinceridade parece refrescante, mas quanto mais estudamos esse livro, mais convencidos ficamos de que tudo é vaidade; e isso é uma conclusão deprimente.

  1. Qual o propósito?

Se tudo isso parece desesperançoso, isso significa que o autor está alcançando seu propósito.

Lembre-se de que ele está nos mostrando o mundo de uma perspectiva terrena, considerando o melhor entendimento que o homem pode produzir por conta própria.

O Pregador acredita em Deus, é claro, e até menciona seu nome (Ec 1.13), mas ele fez sua busca espiritual sem a ajuda de Deus.

Certa vez. Salomão disse que “o temor do SENHOR é o princípio da sabedoria” ( Pv 1.7).

Mas qual foi o papel do temor de Deus aqui em Eclesiastes? O Pregador não orou. Ele não consultou as Escrituras.

Em vez disso, partiu em sua busca pelo conhecimento sem jamais parar para contemplar a majestade de Deus.

Ele estava investigando a profundeza das questões com sua RAZÃO NATURAL, sem assistência e a iluminação, sem levar em conta qualquer REVELAÇÃO da verdade que Deus concedeu ao homem.

Se assumirmos essa mesma PERSPECTIVA SECULAR, se tentarmos entender o mundo sob nossos termos e não sob os termos de Deus, nunca passaremos de Eclesiastes 1.

Estude toda a filosofia, pesquise todas as religiões, faça todos os cursos de aprimoramento pessoal, e mesmo assim você acabará em frustração e vergonha.

A RAZÃO HUMANA só pode nos levar até certo ponto, e é por isso que Deus diz que não devemos nos gloriar da nossa própria sabedoria, mas apenas do conhecimento que temos dele:

“Não se glorie o sábio na sua sabedoria (…) o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saberque eu sou o SENHOR” (Jr 9.23-24).

No Novo Testamento, Deus vai ainda mais longe e diz: “Destruirei a sabedoria dos sábios”(1Co 1.19; cf. Is 29.14).

Um dos objetivos de Eclesiastes é demonstrar como Deus destrói as pretensões da sabedoria humana, mostrando-nosquão vazio é todo o nosso conhecimento sem ele.

CONCLUSÃO: Mas Deus não nos entrega ao DESESPERO. No fim de nossa busca, ele vem ao nosso encontro na pessoa de seu próprio Filho, Jesus Cristo, o qual a Bíblia descreve como “a sabedoria de Deus”(1Co 1.24).

Jesus entrou na VERGONHA desta vida, neste mundo caído, a fim de nos mostrar amaneira sábia de viver.

Seu caminho e o caminho da fé, no qual confiamos que Deus é fielà sua palavra.

É o caminho da esperança, no qual olhamos para frente para aquilo que Deus preparou para nós no futuro.

É o caminho do amor, no qual encontramos sentido na vida vivendo para os outros e não para nós mesmos.

Se seguirmos Jesus e sua sabedoria, não continuaremos tentando endireitar aquilo que é torto para que se adapte aos nossos próprios propósitos.

Mas humildemente nos submeteremos a como Deus quer que as coisas sejam, assim como Jesus fez quando ele foi para a cruz e morreu pelos nossos pecados(veja 1Pe 2.21-24).

Se seguirmos a sua sabedoria, A CONTA DA VIDA FECHARÁ. Ela jamais resultará numa soma tão simples quanto 42; do supercomputador do livro: O guia do mochileiro das galáxias.

Também é claro e verdadeiro que a conta nunca vai fechar deste lado de cá da eternidade.

Portanto, precisamos nos contentar em deixar os últimos cálculos para Deus.

Jesus garantirá que todo o BALANCETE DOS LIVROS DE DEUS FECHE NO FINAL, inclusive a nossa própria conta, e ele considerará paga com o seu próprio sangue.

Assim, a nossa aflição atual não durará para sempre, inclusive as nossas lutas, tentando entender o sentido da vida. Logo os nossos sofrimentos terão passado.

Para a nossa alegria eterna, estaremos com Jesus para sempre, e encontraremos nele a resposta para todas as nossas perguntas.[i]

[i] Sermão adaptado do livro: Estudo bíblicos expositivos em Eclesiastes, de Philip Graham Ryken, Editora cultura cristã; pg 38-49.

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