Sermão Nº 2 – Amargura: uma rota de fuga. Referência: Jonas 1:1-3. Pregação do Pastor Jairo Carvalho em 23/01/2019

INTRODUÇÃO

Alguém dividiu o livro de Jonas de forma muito criativa: Cap. 1 – “Eu não vou”; Cap. 2 – “OK, eu vou”; Cap. 3 – “Aqui estou”; Cap. 4 – “Eu sabia que não deveria ter vindo”. Um dos livros mais fascinantes que os cristãos já leram foi o peregrino de Bunyan. Quando o Peregrino de Bunyan abandonou a Estrada do Rei, ele está prestes a cair nas mãos do grande gigante que possuía o Castelo da Dúvida, quando olhou para trás e percebeu como era difícil voltar para a estrada real.  Depois que ele saiu, ele disse: “Então eu pensei que é mais fácil sair do caminho, quando estamos dentro, do que voltar quando estamos fora.”  Que tremenda verdade é encontrada nesta declaração: “É mais fácil sair do caminho, quando estamos nele, do que voltar quando estamos fora”. Agora, com esse sentimento doloroso, mas sábio e penetrante, Jonas, o Profeta, de Gath-heifer, perto de Nazaré, na Galiléia, concordaria, pois ele teve uma experiência semelhante. Ele saiu da Estrada do Rei. Ele se desviou. Ele descobriu que estava fora da vontade de Deus. E como foi difícil voltar ao caminho depois que ele saiu. Como representante do povo de Israel, Jonas nutria certa repugnância e desdém para com outras nações que não servia ao Senhor. Esse sentimento foi uma armadilha que o levou a sair do caminho.Os tempos mudam e as situações variam, mas todo o povo de Deus se encontra na posição de Jonas diante de Deus, chamado pelo Senhor para levar seu evangelho ao mundo. E muitos de nós descobrimos que nossos pés estão seguindo o caminho da rebelião de Jonas, em parte porque não entendemos ou estamos ressentidos de alguma forma com a graça de Deus. O nome Jonas, significa pomba, mas um erudito disse que ele não é uma pomba de modo nenhum ele é um falcão, desejando vingar sua presa. O que levou Jonas a muda sua rota, e sair do caminho? 

1) UM CHAMADO IMPERATIVO.

O chamado de Deus a Jonas para que ele pregasse em Nínive manifesta sua graça para o mundo inteiro. Como é o chamado de Deus a nós.

1) Um chamado soberano. O chamado revela principalmente a soberania de Deus sobre seu povo. Quando pensamos em Deus como soberano, pensamos normalmente em seu controle sobre todos os assuntos do céu e da terra. Jesus disse que nenhum pardal cai no chão sem a vontade do Pai. Mas queremos expressar também que Deus exerce seu reinado soberano sobre seu reino. Soberanos comandam. Reis e rainhas emitem decretos e exigem obediência. Deus é tão soberano quanto eles. É, assim como Deus glorifica sua graça enviando seu evangelho até os mais remotos confins do mundo, ele também glorifica sua soberania exercendo seu reinado sobre suas criaturas.

2) Um chamado direto. Como muitos outros livros da Bíblia, Jonas começa afirmando sua mensagem como Palavra de Deus: “Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai” (Jn 1.1). Quando lemos declarações como esta, deveríamos nos lembrar de como estamos lidando quando se trata da Escritura Sagrada. Não são palavras inspiradas de homens espirituais, mas a própria Palavra de Deus revelada por meio de agentes humanos. O apóstolo Pedro descreveu o processo da inspiração, dizendo: “… homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21). Mas a Bíblia não nos oferece apenas o ensinamento do próprio Deus, por mais importante que este reconhecimento seja. A Bíblia é a Palavra soberana de Deus para as suas criaturas. Assim como a palavra do Senhor veio a Jonas, a palavra do Senhor vem a nós quando lemos a Bíblia. A maneira correta de nos aproximar da Escritura Sagrada é com humildade, prostrando-nos espiritualmente diante do nosso Soberano, prontos para aprender e fazer tudo o que ele ordena. Segundo o relato bíblico, o chamado soberano de Deus a Jonas foi breve, direto e imperativo. Deus não veio com uma explicação. Hoje em dia, muitas pessoas concordam em obedecer à Palavra de Deus apenas se ela fizer sentido para elas. Mas o Deus soberano não faz concessão.

3) Um chamado repentino. O chamado de Deus a Jonas foi repentino, da mesma forma que comandantes militares costumam receber instruções inesperadas baseadas em preocupações conhecidas apenas a seus superiores. Nós também recebemos uma ordem repentina da Palavra de Deus, e a nossa obrigação diante de Deus é OBEDECER IMEDIATA E SUBMISSAMENTE. Assim como Isaías respondeu quando Deus lhe revelou sua vontade, também devemos responder: “… eis-me aqui! Envia-me a mim” (Is 6.8). Jonas foi o primeiro homem chamado para pregar aos gentios, e o primeiro a desobedecer esse chamado.

4) Um chamado difícil. A ordem dada a Jonas por Deus não foi só soberana e repentina, era também difícil. Nínive se encontrava longe dali, no centro de um império violento. Era uma das maiores e mais importantes cidades do mundo da Antiguidade, razão pela qual Deus se refere a ela como “A GRANDE CIDADE DE NÍNIVE”. O capítulo 3 nos conta que “… Nínive era cidade mui importante diante de Deus e de três dias para percorrê-la” (Jn 3.3). Era também distante, ficava mais ou menos 900 QUILÔMETROS AO NORDESTE DE ISRAEL, perto da cidade atual de Mosul, no Iraque. E Deus estava enviando Jonas a sós, ordenando-lhe proclamar uma mensagem de destruição: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida!” (Jn 3.4). Imagine você receber um chamado desse tipo! Imagine as dificuldades que passariam pela sua mente e os obstáculos que se oporiam a qualquer tipo de êxito! Mas Deus tem e exerce o direito de dar ao seu povo as mais DIFÍCEIS MISSÕES. Deus chamou Abraão para que ele deixasse a terra de seu pai e viajasse para uma terra distante. Deus instruiu Moisés a ficar diante do Faraó e exclamar: “Deixa ir o meu povo” (Êx 5.1). Moisés respondeu como nós também costumamos responder: “Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim” (Êx 4.13). Mas Deus rejeitou esse conselho; era sua vontade escolher Moisés. Certa vez, Deus instruiu o profeta Isaías a andar nu e descalço durante três anos, pregando o juízo contra o Egito e a Etiópia (Is 20.2-3). Deus orientou uma ADOLESCENTE chamada Maria a carregar em seu ventre o Filho do Altíssimo, ameaçando sua reputação e seu noivado. Por que Deus dá ordens tão difíceis? Por causa de seus próprios propósitos soberanos, mas também pelo propósito de sua graça.

Quando Deus dá suas ordens mais difíceis, ele normalmente pretende realizar seus atos mais maravilhosos de libertação e salvação. Abraão foi enviado para Canaã para se tornar pai do povo da fé (Gl 3.7). Moisés foi enviado para o Egito para liderar o êxodo. A virgem Maria deu à luz o Messias para o mundo. Sempre que achamos que Deus nos chamou para uma tarefa que parece mais dificil do que conseguimos dar conta, nossa esperança deve ser que Deus pretende fazer algo grande e maravilhoso. Evidentemente, a mais difícil de todas as ordens foi dada por Deus Pai ao Deus Filho. O Senhor Jesus Cristo se submeteu à vontade do Pai com alegria, mesmo quando isso significou a morte cruel na cruz romana. Jesus conhecia a profecia que dizia sobre ele: “… ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado” (Is 53.10). Mas Jesus respondeu: “Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10.7). Por que Jesus obedeceu a uma ordem que levaria à sua morte na cruz? Ele obedeceu porque conhecia e confiava em Deus Pai, assim como também devemos fazer. Ele sabia que Deus é fiel e que todos os seus propósitos são bons e santos. Jesus amava o Pai e se alegrava ao cumprir sua vontade e manifestar sua glória. Essa deveria ser a nossa atitude também. Jesus sabia que os propósitos de Deus — por mais severos que sejam — são os propósitos da glória e da graça. Após predizer a cruz, Isaías acrescentou: “[Ele] verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos” (Is 53.10). Então Jesus sabia que, além da cruz, esperava a coroa da glória da ressurreição. Nossas cruzes são parecidas nesse sentido: por meio da obediência a chamados difíceis, podemos ter a esperança da provisão divina de poder e da recompensa da glória eterna.

5) Um chamado justo. Por fim, o chamado de Deus a Jonas foi justo: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim” (Jn 1.2). O Senhor conhecia a maldade de Nínive. Portanto, agiu corretamente ao enviar um representante e declarar seu desagrado contra a cidade. Jonas pode não ter gostado de ir até Nínive, mas como profeta do Altíssimo não havia nada de errado em ser enviado para lá com essa mensagem de advertência. Além do mais, Deus agiu de forma justa ao dar a essa cidade ímpia a oportunidade de se arrepender. Seus habitantes eram criaturas dele e, independentemente de eles saberem disso ou não, Deus era também o rei soberano deles. O que poderia ser mais justo para o Senhor soberano do que enviar seu profeta para levantar sua voz contra Nínive? O caráter dessa ordem a Jonas — seu caráter soberano, repentino, dificil e justo — se repete em nossa vida. Devemos nos queixar? Devemos nos revoltar? Devemos arrastar nossos pés e revidar? Não se a ordem vier de Deus. Ele tem o direito e ele conquistou a confiança para que lhe obedeçamos ao pé da letra. Os cristãos que conhecem o Senhor e compreendem os seus caminhos receberão, portanto, a palavra do Senhor em obediência humilde, submissa e com alegria.

6) A FUGA PECAMINOSA DE JONAS

No entanto, não foi isso que Jonas fez. Deus ordenou a Jonas que se levantasse, e Jonas se levantou. Mas ele não foi para Nínive. Foi na direção oposta. A nossa fuga é sempre pecaminosa. Veja como pecamos quando fugimos de Deus.

1) Pecamos contra a vontade de Deus. Podemos ver isso de duas maneiras.

Primeira, “Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis” (Jn 1.3). Existem debates sobre a localização de Társis, mas tudo indica que a cidade se encontrava a oeste do Mar Mediterrâneo, atravessando o Estreito de Gibraltar, em algum lugar na costa oeste da Espanha atual. O que interessa aqui é que a cidade se encontrava na direção oposta a Nínive. Podemos imaginar como Jonas recebe a ordem de Deus, levanta-se, mas, ao invés de ir para a direita, vai para a esquerda, afastando-se o mais rápido possível do lugar para onde deveria ir. Seu propósito era “fugir da presença do Senhor“. Társis parecia a cidade perfeita para recomeçar. Uma cidade muito próspera (Jr 10.9; Ez 27.12).Fundada pelos fenícios, e reconhecida como a cidade mais rica em fontes de pratas, ouro, estanho e chumbo do mundo antigo, desde o ano 1000 A.C. Ela ficava no fim do mundo, era o lugar mais longe que os navios fenícios conseguiriam levar Jonas. Essa viagem durava cerca de um ano. Era o fim da linha, era o fim do mundo. Társis era um lugar tão distantes em que nunca se ouvia o nome do Senhor. O profeta Isaías diz”… que jamais ouviram falar de mim, nem viram a minha glória” (Is 66.19). Jonas não queria apenas fugir, mas ir para o mais longe possível. Ele queria não apenas fugir da missão, mas do Deus da missão. Jonas, um crente com um caráter extraordinário, mas tentou então fugir para um lugar onde não encontraria irmãos na fé, esperando que isso impedisse que a palavra de Deus o alcançasse novamente. Se ele permanecesse em Israel, poderia ouvir mais de Yahweh; mas, se partisse, poderia não ouvir dele novamente. Então, Jonas procurou um navio no porto de Jope: “… tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis” (Jn 1.3). Ninive ficava a cerca de 500 milhas. Contudo, em sua tentativa de fugir ele estava disposto a viajar de Jope até Társis, que ficar cerca de 2.400 milhas. Ele pagou uma passagem 5 vezes mais cara e para mais longe possível. Isso é um aviso solene: “O pecado levará você mais longe do que gostaria de ir; reterá você mais tempo do que gostaria de ficar e, custará a você um preço mais do alto do que gostaria de pagar”. Jope não era um porto israelita, de forma que Jonas não precisava temer as perguntas desagradáveis. E nem dar satisfação a nenhum outro crente israelita. Seu plano de fugir de Deus sem ser importunado. Neste ponto, ele é igual aos cristãos que escolhem seguir um caminho pecaminoso e evitam outros cristãos deixando de ir à igreja. Eles justificam o que estão fazendo e inventam desculpas para suas escolhas. Se questionados, negariam a natureza pecaminosa de seu desejo. E desenvolvem uma teologia perfeita para justificar sua conduta. Mas, como no caso de Jonas, o fato de eles evitarem a “companhia santa dos crentes” demonstra o estado verdadeiro de seu coração.  A fuga de Jonas era extremamente pecaminosa.

2) Pecamos contra nossa confissão de fé. Jonas era um israelita professo, um adorador de Yahweh, do único e altíssimo Deus. Ele faz essa declaração no navio a caminho de Társis: “Donde vens? Qual a tua terra? E de que povo és tu? Ele lhes respondeu: Sou hebreu e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra” (Jn 1.8-9). Seus atos, porém, zombavam dessas palavras e agravaram seu pecado. O mesmo vale para os cristãos que desobedecem descaradamente à Palavra de Deus. Uma coisa é um ateu professo andar no pecado, e outra um cristão fazer o mesmo. Quando um cristão opta pelo pecado, é muito pior. Nossa profissão de fé exige uma vida entregue a Deus. Todos aqueles que não se dispõe a obedecer voluntariamente aos mandamentos de Deus fogem de sua presença. Um dos grandes problemas da atualidade é que muitas pessoas professam ser cristãs — pesquisas mostram que uma maioria dos cristãos alega ter nascido de novo —, mas poucas dão evidencias dessa profissão de fé com vidas cristãs autênticas. Contudo, é a santidade prática que valida a profissão de fé. Mesmo que Jonas dissesse que tinha se arrependido de não ter ido pregado a Nínive; e que passasse o resto da vida em Társis, pregando a Palavra de Deus, abrindo igreja, discipulando novos convertidos em Társis. Ele poderia dizer, eu vou fazer tudo o que Deus quer eu faça em Nínive; aqui em Társis; qual o problema que tem nisso; não é na verdade tudo a obra de Deus? Ele nunca teria paz em sua consciência, de que sua profissão de fé era verdadeira, ou que amava ao Senhor. Pois o novo nascimento, produz uma obediência completa e não parcial à vontade de Deus. A ordem de Deus era Nínive e não Társis. Deus não aceita uma obediência parcial. O mesmo vale para os crentes modernos, não basta simplesmente fazer a obra de Deus. Tem que fazer a vontade de Deus revelada nas Escrituras. O mesmo vale para as multidões de hoje que fazem ou não a “oração do pecador” ou que sobem ao altar num evento de reavivamento, mas nunca produzem o fruto de uma vida transformada. O mesmo vale para muitos crentes que tem uma doutrina correta, mas que vivem uma vida errada. Que tem ortodoxia, mas não ortodopraxia.

3) Pecamos contra os privilégios divinos. Afinal de contas, ele era um profeta do Senhor. Ele se beneficiava de um conhecimento pessoal de Deus e da revelação direta do céu. De certa forma, todos os israelitas viviam na presença de Deus. Eles viviam na terra de Deus e tinham acesso a Deus em seu templo. Mas um profeta desfrutava ainda mais desses privilégios. Poderíamos compará-lo com crianças criadas em lares cristãos e com cristãos que recebem o ensinamento da Bíblia. A Palavra de Deus nos traz a presença de Deus, e por meio do nosso privilégio da oração temos acesso ao trono da graça. Como são grandes os nossos pecados, especialmente o tipo de rebelião aberta demonstrada aqui por Jonas, à luz desses privilégios. O privilégio traz consigo obrigações e agrava o pecado dos cristãos que decidem desobedecer.

4) Pecamos contra a lógica. Ele acreditava que podia “fugir da presença do Senhor”. Mas sua própria profissão de fé revelava como isso era impossível. Diferentemente dos pagãos, Jonas sabia que ele não servia a uma deidade local ou limitada de qualquer outra forma: “Temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra” (Jn 1.9). Sendo este o caso, não havia lugar para onde pudesse fugir da presença de Deus. O salmo 139 serve como comentário para sua tolice: “Para onde me ausentarei do teu Espirito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras” (Sl 139.7-12).

Conheço homens cristãos confessos que abandonaram suas esposas por outras mulheres, mas mesmo assim garantem aos amigos: “Isso é para o bem de todos nós. Deus entende que eu preciso sentir-me mais amado e feliz. E tudo acabará dando certo para os nossos filhos”. Mas isso é uma grande ilusão. Eles estão fugindo da vontade de Deus claramente revelada na Bíblia. Ao adquirirem uma nova esposa e um novo círculo de amigos, e ao encontrarem talvez uma igreja “MAIS TOLERANTE”, onde as pessoas não julguem, eles não conseguirão escapar de Deus. Não há lugar onde Deus não esteja, e não existe caminho que possamos seguir para escapar de sua presença e do seu julgamento. O comentário da Bíblia sobre as ações de Jonas é claro. Deus ordenou a Jonas que se levantasse, mas, em vez disso, ele “DESCEU” para Jope. Quando nos revoltamos contra as ordens de Deus, sempre fazemos um movimento “PARA BAIXO”. Não há dúvida de que Jonas teria justificado o porque não estava viajando numa empresa de navios israelita. Dizendo que os israelitas são mesquinhos e legalistas, ou que os navios de Jope, eram mais confortáveis ou mais baratos, mas na verdade ele estava tentando escapar da presença de Deus. Uma das grandes lições dessa história é que podemos fugir do nosso lar, da comunhão cristã e da igreja, mas nunca conseguimos fugir de Deus. A fuga de Jonas estava condenada pela tolice desde o início.

5) Pecamos contra a bondade de Deus.

Devemos aprender essa lição de Jonas. Nossa profissão de fé exige uma vida entregue a Deus em obediência. Nossos privilégios trazem uma responsabilidade, de forma que nosso pecado é agravado segundo a medi-da de graça e conhecimento que recebemos.  E nosso pecado é sempre insensato. O pecado sempre nega algo sobre Deus. Ou nega Deus como Provedor, ou como Pai, ou como Salvador, ou como Juiz. Ele nega os atributos divinos da bondade, do poder, da santidade e do amor. O pecado sempre nos leva na direção que Jonas tomou: para baixo. Deus ordenou que ele se levantasse, mas na amargura de seu coração ele “desceu a Jope”, “ao porão do navio” (Jn 1.3,5), e finalmente desceu para as profundezas do mar. No fim das contas, o pecado nos arrastará para as profundezas eternas do inferno, para longe da presença da misericórdia e da graça de Deus — mas não de sua ira.

III. A ROTA DE FUGA DE JONAS

Como explicar as ações de.Jonas? Como explicar essa rota de fuga tola de um profeta do Senhor?  Porque ele fugiu? As rotas de fuga são saídas emergências, usadas para evitar o pânico e o desespero. O que motivou Jonas a tomar essa rota de fuga?

1) O medo egoísta. De acordo com Flavo Josefo[1] (37-100); Jonas havia sido enviado ao reino de Ninive; mas ele não foi por medo. Talvez Jonas estivesse com medo. Afinal de contas, Nínive não era apenas uma cidade grande, era também uma cidade perversa e violenta. A Bíblia a retrata claramente dessa forma. Naum profetizou contra Nínive: “Ai da cidade sanguinária, toda cheia de mentiras e de roubo e que não solta a sua presa! […] os cavaleiros que esporeiam, a espada flamejante, o relampejar da lança e multidão de traspassados, massa de cadáveres, mortos sem fim; tropeça gente sobre os mortos” (Na 3.1,3). Frank Page escreve: “A arqueologia confirma o testemunho bíblico sobre a perversão dos assírios. No mundo da Antiguidade, eles eram famosos por sua brutalidade e crueldade. Assurbanípal, neto de Senaqueribe, costumava arrancar os lábios e as mãos de suas vítimas. Tiglate-Pileser esfolava suas vítimas ainda vivas e fazia montes com seus crânios. A relutância de Jonas de viajar para Nínive pode ter sido causada por essa violência infame.” Muitos pecam por medo. Temos medo de confrontar os pecados de outros crentes. Temos medo de confrontar os pecados do mundo. Temos medo de perseguição ou do fracasso mundano. Tememos aquilo que os outros possam pensar de nós ou fazer conosco. O pecado é o autoengano, por isso pecamos como forma de nos proteger. Mas isso provavelmente não explica o comportamento de Jonas, já que nenhuma palavra no livro indica que ele tenha fugido de Deus porque temia pela sua segurança.

2) Desespero incrédulo. Talvez, então, Jonas tenha ficado alarmado diante da dificuldade da ordem divina. A ordem divina soou; como se o mundo estava desabando sobre sua cabeça. Deus realmente queria que Jonas fosse sozinho para o centro da cidade mais ímpia do mundo e lá proclamasse uma mensagem de condenação? Não era sensato nem justo. Talvez deve ter passado pela cabeça de Jonas: Ele deve ter imaginado que seria impossível não ser desdenhado e ridicularizado como fanático e louco, ou algo bem pior. Então a sua única opção é tirar as rédeas das mãos de Deus e tomá-las em suas próprias mãos. Os cristãos costumam pecar com frequência dessa forma, recusando as ordens de Deus simplesmente porque não gostam delas ou porque acreditam que assim as coisas não darão certo. Mas ir para Társis também não foi tarefa fácil, portanto, isso não parece ter sido a razão verdadeira de Jonas. Por que, então, Jonas se rebelou contra a ordem de Deus?

3) A inveja ressentida. A melhor explicação é que Jonas havia desenvolvido um ódio tão profundo contra Nínive que não estava disposto a obedecer à ordem de Deus e ir para lá e pregar. Jerônimo (347-420) comentando esse texto diz que Jonas fugiu por causa do seu AMOR CIUMENTO POR ISRAEL. Ele invejava a ideia da salvação ser oferecida ao povo que era inimigo de Israel. Por causa de puro CIÚME INVEJOSO, Jonas temia que por meio da sua pregação, os assírios fossem convertidos e assim Israel fosse abandonado por Deus. Ele simplesmente não gostou da ordem de Deus. Jonas acreditava no poder de Deus e reconhecia a graça de Deus para os pecadores. Ele vai dizer no capitulo 4 e verso 2, que é exatamente por isso que ele se recusou a pregar a mensagem de Deus a esse povo. Os habitantes de Nínive eram inimigos do povo dele, de forma que, Jonas preferia ser amaldiçoado (literalmente) antes de ver a bênção de Deus sendo derramada sobre esses inimigos. Para entendermos a situação de Jonas, imaginemos a palavra do Senhor vindo a um judeu de Nova York durante a Segunda Guerra Mundial, ordenando-lhe que fosse a Berlim e pregasse para a Alemanha nazista. Não nos surpreenderia, então, se esse judeu fosse para São Francisco e lá embarcasse em um navio a caminho de Hong Kong, da mesma forma que Jonas fugiu para Társis.

4)A amargura teológica. Jonas fugiu porque recusou a rever sua teologia. Até agora em todo o antigo testamento, Deus jamais enviara sequer um profeta especificamente aos gentios. Eram os gentios que vinham a Israel para serem salvos e não o inverso. O coração amargurado de Jonas, o impediu de revisar sua teologia. De ver mais longe, de ter um discernimento mais abrangente da obra de Deus. A amargura distorceu o seu entendimento dos atributos divinos, principalmente sua compaixão. O coração cheio de amargura, ressentimento não deseja que a graça de Deus, seja derramada sobre os outros. Vejam o perigo de alguém desenvolver um sistema teológica como pura manifestação de ressentimento, como foi o caso de Jonas.

1) CORRIGINDO A ROTA: CUIDANDO DO CORAÇÃO

Salomão escreveu palavras que se aplicam bem à situação de Jonas: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). Jonas era, muito provavelmente, um homem CARÁTER EXTRAORDINÁRIO de e de SANTIDADE EXTERIOR, mas ele deixou de cuidar dos assuntos do coração. Havia amargura, raiva, ódio e ressentimento nele. Tudo isso estava voltado contra Nínive, e com razões muito boas. Mas nada disso causou qualquer dano a Nínive — apenas a Jonas. O mesmo vale para os cristãos que se recusam a perdoar ofensas cometidas contra eles. Eles cultivam amargura e ressentimento com muito carinho, como um jardineiro que cuida de sua árvore favorita. Mas acabam prejudicam apenas a si mesmos, e a todos os que amam. Existem mulheres que foram traídas e abandonadas por seus maridos, e, amarguradas com um homem, elas se tornam incapazes de amar qualquer outro homem. Existem crianças que sofreram abusos por parte dos pais e, em decorrência de sua devoção à sua dor, elas se recusam a confiar em alguém novamente, até mesmo em Deus. Existem crentes que foram traídos por outros irmãos, e nutrem uma espécie “teologia da amargura”, para esconder a real motivação do coração. Mas a amargura é um ácido que corrói apenas o seu próprio recipiente, e acaba entornando atingindo os mais próximos. A boa notícia é que, quando Jesus nos libertou do pecado, ele incluiu nisso também os pecados cometidos por outros contra nós. O perdão e a graça são dádivas de Deus não só para nós, mas também por nós. As palavras do apóstolo Paulo — “Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3.13) — é o evangelho, não a lei! Na verdade, se nos conscientizarmos de quanta misericórdia nós recebemos ao sermos perdoados por meio da cruz de Jesus Cristo, ofereceremos nosso perdão a outros como um sacrificio de louvor ao trono da graça de Deus. Jonas pecou por causa da AMARGURA de seu coração. Por isso, quero concluir aconselhando como podemos cuidar do nosso coração e proteger-nos de rotas de fugas tolas como a de Jonas.

  1. Jonas demonstra para nós o valor da comunhão cristã.

O pecado o havia enganado, assim como também nos engana com frequência. O pecado dele produziu sua própria justificação e racionalização, e Jonas estava absolutamente convencido. É por isso que o escritor de Hebreus nos adverte: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb 3.12-13). Um dos remédios de Deus contra o engano do pecado é a comunhão cristã. Em vez de ir para Jope, Jonas deveria ter procurado o local de reunião de outros profetas. Ele deveria ter lhes explicado como se sentia em relação à ordem de Deus, e é provável que a ajuda dos outros o tivesse levado a mudar de opinião. Essa é uma das maneiras como a participação regular em cultos públicos ajuda a nos proteger contra a tolice pecaminosa. O escritor do Salmo 73 lutava com RESSENTIMENTOS que sentia pela felicidade das pessoas ímpias que conhecia: “Quanto a mim, porém”, ele escreve, “quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos” (Sl 73.2–3). O que o restaurou? “… entrei no santuário de Deus e entendi o fim deles” (Sl 73.17). O mesmo vale para nós. Na adoração na igreja, nossa mente é lembrada das realidades do céu e do inferno, da justiça de Deus e da graça para os pecadores como nós que foram salvos.

  1. Outra coisa que teria sido uma grande ajuda para Jonas é a oração.

A amargura não nos motiva a uma vida de oração. Pelo contrário ela é uma barreira para a oração. Em momento algum durante sua fuga nós o vemos conversando com Deus. Em momento algum ele apresenta sua queixa diretamente a Deus, como o fez Jeremias e então recebeu ajuda (veja Jr 12.1-17). Quando os sentimentos de Jonas começaram a dominá-lo, “qual poderia ter sido o remédio? A interação com Deus sobre eles; uma declaração plena em segredo ao seu Pai, que, nesse caso, o teria recompensado abertamente com uma vitória triunfante sobre a maldade de seu coração incrédulo.

CONCLUSÃO

Nós entendemos a importância de cuidar de nosso coração? Então deixemos que Jonas nos sirva como advertência. Se esse profeta, assim como nós; foi capaz de fugir da ordem soberana e justa de Deus, de quais pecados nós seríamos capazes cometer? Façamos pleno uso de todos os recursos que Deus nos deu: sua Palavra poderosa, principalmente através da nossa leitura devocional diária (McCheyne). Desfrutemos da bênção da comunhão cristã e do aconselhamento cristão, a participação regular na adoração com o povo de Deus e o maravilhoso recurso que temos na oração. Muitas vidas naufragadas poderiam ter sido poupadas por esse tipo de ação. Isso acontecerá com você? É possível. O livro de Jonas foi escrito não para condena-lo, mas para nos servir como advertência. Sua tolice não precisa ser nossa se reconhecermos a facilidade com que nosso coração pode cair no pecado e humildemente dependermos dos preciosos meios da graça de Deus.  Devemos ouvir a conselho de Bunnyan: É mais fácil sair do caminho, quando estamos nele, do que voltar quando estamos fora”.

[1] Antiguidades judaicas, Livro IX, capitulo 10 parágrafo 2.