Sermão Nº 5 – Referência: João 3.1-21

INTRODUÇÃO:

Wiersbe conta uma história de Benjamim Franklin, grande estadista e inventor que recebia carta de pessoas famosas do mundo todo.

Um dia recebeu uma correspondência do conhecido pregador inglês George Whitefield dizendo:

“Vejo que está cada vez mais famoso no mundo erudito. Assim como fizeste tamanho progresso na investigação dos mistérios da eletricidade, venho instar com toda humildade que atentes diligentemente para o mistério do novo nascimento. Trata-se de um estudo de suma importância e interesse que quando dominado, o recompensará ricamente por seus esforços”.

Aquele que conhecia todos e não precisava que lhe dessem testemunho sobre o homem (2.24,25), agora numa conversa com Nicodemos ele chega instantaneamente ao seu coração com suas necessidades.

O encontro de Nicodemos com Jesus está logicamente conectado ao texto anterior (2.23-25). Isso significa que Jesus não aceita uma fé superficial como suficiente para a salvação.

Embora Nicodemos tivesse reconhecido Jesus como um mestre vindo da parte de Deus, com capacidade de operar grandes sinais, sua fé era deficiente, pois se baseava apenas no testemunho dos milagres (3.2).

Jesus, porém, destacou a necessidade da fé salvadora que produz a transformação da vida.

Nicodemos vai a Jesus de noite (3.2). Talvez por que queria se beneficiar da cobertura da escuridão? Talvez por temer a opinião pública? Ou por não querer se associar ao mestre operador de sinais. Ou por querer ser um discípulo anônimo.

Por outro lado, conforme destaca Matthew Henry, quando houve oportunidade, posteriormente, Nicodemos reconheceu Cristo publicamente (7.50; 19.39).

A graça, que a princípio é apenas um grão de mostarda, pode crescer e se tornar urna árvore frondosa.

O novo nascimento é a mais importante e a mais urgente necessidade de sua vida: você precisa nascer de novo.

Sem o novo nascimento, sua vida é vã, sua esperança é vã e sua religião é vã. Sem o novo nascimento, Deus estará contra você no dia do juízo.

Sem o novo nascimento, a palavra de Deus condenará você no dia final. Sem o novo nascimento, o céu estará de portas fechadas para você.

Jesus disse que, se alguém não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus (3.3).

Se alguém não nascer da água e do Espirito, não poderá entrar no reino de Deus (3.5). Jesus é enfático: Necessário vos é nascer de novo (3.7).

Você pode ser uma pessoa rica, culta, respeitável e religiosa como Nicodemos, mas, se não nascer de novo, estará perdido.

Você pode ser uma pessoa zelosa, conservadora e observadora dos preceitos religiosos como Nicodemos, mas, se não nascer de novo, não haverá esperança para sua alma.

Você pode praticar muitas boas obras, dar esmolas, ter uma vida bonita e até fazer orações que são ouvidas no céu como Cornélio fazia, mas, se não nascer de novo, não poderá entrar no reino de Deus.

É notório que Jesus não falou a respeito do novo nascimento para Zaqueu, um homem que enriquecera ilicitamente.

Ele não falou a respeito nem para a mulher samaritana, que já havia passado por cinco divórcios e agora vivia com um homem que não era seu marido.

E não falou a respeito nem mesmo para o ladrão na cruz, um homem que vivera à margem da lei.

Mas falou a respeito do novo nascimento para um homem religioso, um rabino, um mestre, um líder religioso, um dos principais dos judeus.

  1. A MAIOR NECESSIDADE.

O que realmente importa na vida? Porque você precisa nascer de novo?

  1. Por causa da nossa natureza caída. Você jamais desejará conhecer a Deus se o próprio Deus não tocar o seu coração. Você jamais terá sede de Deus se o próprio Deus não provocar essa sede em você.

A inclinação da nossa carne é inimizade contra Deus. Nossa natureza é pecaminosa e totalmente caída. Os maus desígnios vêm do seu coração, mas não o desejo de ser salvo.

Você não pode mudar a si mesmo. Você está cego para as coisas de Deus, insensível como um morto à voz do Espírito. Se você for deixado à própria sorte, perecerá.

Da mesma forma que um ser humano jamais é o autor da sua existência, assim também nenhum ser humano pode dar vida à própria alma.

Para você ser salvo, é preciso que um poder do alto lhe dê vida, assim como Deus chamou à existência as coisas que não existiam.

Você pode fazer muitas coisas, mas não pode dar vida a si mesmo nem a qualquer outro indivíduo. Dar vida é uma prerrogativa divina.

Sem o novo nascimento, você não pode chegar ao céu nem se encantar com o céu.

Você pode entrar no céu sem dinheiro, sem fama, sem cultura e até sem religião, mas jamais sem o novo nascimento.

  1. Porque sem o novo nascimento não se pode entrar no reino de Deus. (3.3,5). A não ser que Deus mude as disposições íntimas da sua alma, que transplante seu coração de pedra e que lhe dê um coração de carne.

A não ser que você receba o toque regenerador do Espírito Santo, jamais poderá entrar no reino de Deus, nem mesmo vê-lo.

O homem natural não compreende as coisas de Deus. Ele as considera como loucura. As coisas que Deus proíbe são aquelas que lhe dão prazer. As coisas de Deus lhe são canseira e enfado.

Devemos perceber a insistência de Jesus sobre o novo nascimento como pré-requisito para a entrada no reino de Deus, e isto é demonstrado no fato de que essa verdade se aplica a um homem do calibre de Nicodemos.

Se Nicodemos, com seus conhecimentos, talentos, entendimento, posição e integridade, não podia entrar no reino prometido em virtude de sua posição e obras, que esperança há para alguém que procura salvação por essas vias?

Mesmo para um Nicodemos deve haver uma transformação radical, a geração de uma nova vida. Não se trata do conserto de uma parte, mas da renovação de toda a natureza.

“Ver o reino” é a mesma coisa que a “vida eterna”, Ser nascido de cima ou de novo no sentido que estas palavras têm aqui é “ser nascido de Deus”.

Não há diferença entre ver o reino de Deus e entrar nele; assim como não há distinção entre ver a vida (3.36) e entrar nela (Mt 19.17). Também não há diferença entre nascer de novo e nascer da água e do Espírito.

  1. Porque uma fé intelectual ou emocional é insuficiente para salvar. Algumas pessoas, ao verem os milagres de Jesus, creram nele (123- 25). Nicodemos foi a Jesus admirado pelos milagres que o mestre praticava (3.2).

Ainda hoje as pessoas procuram Jesus por causa de milagres. Contudo, para ser salvo, você deve olhar não para os milagres, mas para aquele que foi levantado na cruz (3.14,15).

Muitos foram atraídos a Jesus com uma fé apenas intelectual ou emocional ao observarem seus prodígios.

Nicodemos também ficou impressionado com os sinais que Jesus fazia. Isso o levou a reconhecer que Jesus era vindo de Deus e que Deus estava com ele.

Mas essa fé não é suficiente para salvar sua alma. Crer e receber os milagres não é o bastante para levar você para o céu.

Quando Nicodemos se aproximou de Jesus tecendo-lhe os mais altos elogios, Jesus desviou o assunto para a necessidade urgente de Nicodemos nascer de novo.

Jesus não estava interessado em discutir seus milagres, para evitar que seus objetivos fossem “distorcidos” e assim produza uma fé superficial.

Pelo contrário, ele foi direto ao ponto, mostrando a Nicodemos a necessidade da transformação de seu coração por intermédio do novo nascimento.

  1. O novo nascimento é uma ordem expressa de Jesus (3.7). Jesus é categórico: Necessário vos é nascer de novo (3.7). Lá no céu, você não entrará por ser assembleiano, batista, metodista, presbiteriano ou católico.

Lá no céu, só entrarão aqueles que nasceram de novo, aqueles que foram remidos e lavados no sangue do Cordeiro.

Sem o novo nascimento, o céu não apenas seria impossível para você, mas também não seria um lugar desejável para sua alma.

Aqueles que nunca nasceram de novo amam mais as trevas do que a luz; por isso, o destino deles é de trevas eternas.

Pelo nascimento natural, as pessoas tornam-se membros de uma família terrena; para que elas se tornem membros da família de Deus, para receberem a natureza espiritual, que é o único meio de ser admitido em seu reino, faz-se necessário um nascimento “do alto”.

Quem não nasceu de novo não se deleita nos banquetes de Deus. O que lhes dá prazer não são as coisas de Deus.

Sem o novo nascimento, o ser humano ama o mundo e as coisas que há no mundo. Sem o novo nascimento, o ser humano é amigo do mundo e inimigo de Deus.

Sem o novo nascimento, o ser humano se conforma com o mundo e vive segundo o seu curso.

  1. O QUE NÃO É O NOVO NASCIMENTO.

Antes de tratar da natureza do novo nascimento, é importante deixar claro o que não é novo nascimento. Muitas pessoas confundem a verdadeira natureza do novo nascimento.

Vejamos a seguir o que ele não é.

  1. O novo nascimento não equivale a ser bem-sucedido financeiramente (19.39). Nicodemos era um homem rico, mas o dinheiro não satisfazia a sua alma. Seu dinheiro não garantia a segurança da sua alma.

Quando você morrer, o máximo que o seu dinheiro lhe dará é um belo funeral. Seu dinheiro pode lhe dar uma casa, mas não um lar. Pode lhe dar remédios, mas não saúde.

Pode lhe dar conforto na terra, mas não um lugar no céu. Nicodemos era rico, mas não era salvo. Ele tinha muito dinheiro, mas não tinha paz em seu coração nem salvação em sua alma.

  1. O novo nascimento não é ter um profundo conhecimento da Bíblia (3.10). Nicodemos era mestre em Israel. Era um rabi, um doutor em Bíblia. Mas ele não estava salvo.

Há muitas pessoas que LEEM A BÍBLIA TODOS OS DIAS, que conhecem a verdade, mas nunca foram transformadas por essa verdade.

Há muitas pessoas que pregam, expulsam demônios e profetizam, mas nunca entrarão no céu.

Talvez você seja um intelectual. Você conhece muitas coisas e tem muitos diplomas. Mas todo esse conhecimento não pode salvar a sua alma.

Talvez você tenha escrito centenas de livros sobre diversos temas teológicos, tenha pregado centenas de sermões, mas ainda não nasceu de novo.

Nicodemos era mestre, mas estava perdido.

  1. O novo nascimento não é ser profundamente religioso (3.1). Nicodemos era um fariseu. Ele era membro do grupo mais radical e conservador da religião judaica.

Os fariseus se levantaram fortemente contra a helenização ou mundanização da religião judaica.

Eram separatistas que consideravam indignos do reino de Deus aqueles que deles discordavam.

Os fariseus, contudo, deram mais atenção às “observações externas da lei” do que à transformação interior do coração.

A obediência externa era tudo para eles e esse era alvo de sua existência. Eles tinham regras e mais regras. Na verdade, eles construíram um sistema de salvação pelas obras.

Jesus denunciou os Fariseus por causa de seu EXIBICIONISMO e PSEUDOSANTIDADE (Mt 5.20; 16.6,11,12; 23.1-39; Lc 18.9-14). Nicodemos era um fariseu zeloso da sua religião como era Paulo.

Ele jejuava duas vezes por semana. Frequentava a sinagoga regularmente. Dava o dízimo de tudo quanto ganhava. Ele mantinha uma vida moralmente irrepreensível, mas não estava salvo.

  1. O novo nascimento não é ser influente na igreja (3.1). Nicodemos era um dos principais dos judeus. A palavra grega archon, usada aqui, demonstra que ele era um membro do Sinédrio.

O Sinédrio era composto por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. Era formado por saduceus e fariseus, escribas e anciãos.

Sob o governo de Roma, o Sinédrio exercia um importante trabalho na área civil, criminal e religiosa.

Tinha autoridade para prender e julgar. Apenas não tinha autoridade para executar os criminosos sentenciados.

O Sinédrio velava pela vida espiritual, moral e familiar de toda a nação de Israel. Nicodemos era um homem influente na sociedade, um líder destacado de sua religião.

Mas ocupar um cargo de liderança na igreja não é suficiente para levar você ao céu.

Ninguém entra no céu por ser teólogo, Escritor, pregador, pastor, presbítero, diácono, missionário ou líder na igreja. Somente aqueles que nascem de novo podem entrar no reino de Deus.

  1. O novo nascimento não é ter uma teologia correta. (3.2). Nicodemos reconheceu que Jesus era mestre. Reconheceu que Jesus tinha poder para fazer milagres.

E reconheceu que Jesus tinha vindo da parte de Deus. Ele desejou profundamente conhecer Jesus.

Rompendo barreiras e preconceitos de seus pares, foi ter com Jesus, ainda que de noite. Mas saber quem Jesus é e ir até ele não é o bastante para levar você para o céu.

O jovem rico também se prostrou aos pés de Jesus, mas saiu sem se entregar a ele.

Nenhuma pessoa entra no céu apenas por ter abraçado a teologia ortodoxa, embora isso seja fundamental. Somente aqueles que nascem de novo podem entrar no reino de Deus.

  1. O novo nascimento não é uma reforma moral (3.6). O que é nascido da carne é carne, e carne aqui tem o sentido da natureza do ser humano separado de Deus.

O novo nascimento, portanto, não é uma reforma do velho homem, não é apenas uma fina camada de verniz religioso. Não é algo que o ser humano possa fazer.

Há muitas pessoas decentes que nunca nasceram de novo. Há muitas pessoas honradas da sociedade, como Nicodemos, que nunca se entregaram aos vícios, mas nunca viram o reino de Deus e jamais nele entraram.

III. O QUE É O NOVO NASCIMENTO.

  1. O novo nascimento é algo radicalmente novo (3.3).

Nicodemos queria saber que saber que tipo de boas obras deveria praticar a fim de entrar no reino do céu.

Jesus respondeu a Nicodemos que, se alguém não nascesse de novo, não poderia ver o reino de Deus.

A palavra grega anothen, significa “absolutamente novo, inédito, que nunca existiu”. É uma espécie de ressurreição do que estava morto.

É passar da morte para a vida. A Bíblia diz que, se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram e tudo se fez novo (2Co 5.17).

Ocorre uma transformação de dentro para fora, que implica ter um novo coração, uma nova mente, um novo nome, uma nova família, uma nova pátria, novos desejos, novos gostos, novas preferências, novos temores.

Jesus deixa claro para Nicodemos que uma pessoa só pode ver o reino de Deus, ou seja, ter a vida eterna, se o Espirito Santo implantar em seu coração a vida que tem sua origem não na terra, mas no céu. A salvação implica uma mudança radical.

  1. O novo nascimento é uma obra exclusiva de Deus (3.3). É nascer do céu, de Deus. A palavra anothen traz a ideia de cima, do alto (3.31; 19.11). O céu não é apenas o nosso destino, mas também a nossa origem.

Nascemos não do sangue, não da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (1.12).

Nenhum ser vivo pode operar em si mesmo esse novo nascimento, como nenhum ser morto pode dar a vida a si mesmo.

O ser humano pode muitas coisas, mas não pode dar vida a si mesmo. Só Deus pode dar vida.

Nascemos de cima, do alto, de Deus, do Espirito. Concordo com Charles Spurgeon quando ele diz que “é mais fácil ensinar um leão a ser vegetariano do que converter uma alma pelo esforço humano”.

Da mesma forma que um etíope não pode mudar sua pele nem o leopardo suas manchas, assim também não podemos produzir esse nascimento de cima. Só o Espirito de Deus pode dar vida ao que está morto.

Só o Espírito pode soprar em um vale de ossos secos. Só o Espírito pode abrir nosso coração, convencer-nos do pecado, regenerar-nos, batizar-nos no corpo de Cristo e selar-nos para o dia da redenção.

  1. C. Ryle quando ele diz que, sem o novo nascimento, não podemos entrar no céu nem poderíamos nos deleitar nele caso fôssemos para lá.
  2. O novo nascimento é uma transformação Interior. (3.5).

Alguns teólogos entendem que “água”, aqui, refere-se ao batismo de João e aos ritos similares com os quais Nicodemos estava familiarizado.

Embora o batismo seja uma purificação cerimonial, que representa a lavar renovador do Espirito Santo na Conversão do pecador.

Embora seja verdade que deve haver arrependimento, confissão, perdão e purificação do pecado para alguém capacitar-se a entrar no reino.

Deve, porém, haver mais que isso: é preciso que o poder renovador e transformador do Espírito de Deus intervenha.

Jesus está usando uma figura conhecida por Nicodemos. Jesus tinha falado a respeito das talhas de água para a purificação e do batismo de arrependimento pregado por João.

Nascer da água, portanto, é arrepender-se do pecado e ser purificado. Ninguém pode ser salvo a menos que seja interiormente purificado, assim como a água nos lava externamente.

Portanto, o significado evidente pelo contexto desses primeiros capítulos é este: não é suficiente só ser batizado com água.

O batismo é de fato de grande valor; pois é uma figura do verdadeiro nascimento.

O batismo como um sinal e como um selo, deve ser acompanhado pela coisa que ele representa, ou seja: a obra purificadora do Espirito Santo.

Agua e Espirito são termos que o Antigo Testamento usa para falar sobre a transformação interior (Is 32.15; 44.3; Ez 36.24-27; Jl 2.28,29).

Sem a purificação da alma, operada pelo Espirito Santo (Tt 3.5), mediante a palavra de Deus (Ef 5.26), ninguém pode entrar no reino de Deus.

A passagem mais esclarecedora para explicar João 3.5 é Ezequiel 36.25-27, em que água e Espírito aparecem ligados muito estreitamente, a água significando purificação da impureza, e o Espírito retratando a transformação do coração que capacitará as pessoas a seguir Deus integralmente” (D. A. Carson)

Nascer do Espírito é nascer de cima, do alto, de Deus. É ser transformado pelo Espírito Santo (Ez 36.25-27; Is 44.3). É ser nova criatura. O novo nascimento não é algo superficial. Não é uma mera reforma moral.

É uma mudança completa do coração, do caráter e da vontade. E uma ressurreição, uma nova criação. E passar da morte para a vida.

É uma mudança tão radical que você passa a ter uma nova natureza, novos hábitos, novos gostos, novos desejos, novos apetites, novos julgamentos, novas opiniões, nova esperança, novos temores.

  1. O novo nascimento é uma obra misteriosa do Espírito Santo (3.8). A comparação com o vento é especialmente plausível porque os termos ruach no hebraico e pneuma no grego significam vento ou espírito.

O vento sopra onde quer. Não sabemos de onde vem nem para onde vai. Assim é todo o que é nascido do Espirito. O vento é livre, soberano e misterioso.

O Espírito também sopra onde quer e em quem quer. Ninguém segura o vento nem pode detê-lo ou domesticá-lo. A obra do Espírito é soberana e eficaz.

Não podemos explicar o vento, mas podemos senti-lo e ouvir sua voz. Assim é a obra do Espírito Santo no novo nascimento.

O Espírito Santo sopra onde jamais sopraríamos. Ele sopra em quem jamais sopraríamos.

Ele sopra na rua, na boate, no campo de futebol, no botequim, no lar, na igreja.

A comparação que Jesus faz da obra do Espirito com o vento nos ensina, outrossim, que muitas vezes não conseguimos entender essa obra, mas podemos ver seus efeitos.

Embora algumas vezes não consigamos entender como o Espírito Santo trabalha, podemos ver seu efeito na vida dos convertidos.

Da mesma maneira, poucas pessoas sabem como funciona a eletricidade, o rádio e o televisor, e nem por isso negam sua existência.

Muitos de nós dirigimos um carro com um mínimo de conhecimento do que se passa debaixo do capô.

Mas, nossa falta de conhecimento não nos impede de desfrutar os benefícios que o automóvel nos proporciona.

Podemos, assim, não compreender como trabalha o Espirito Santo e, ainda assim, comprovar o efeito do Espirito Santo na vida das pessoas.

III. A CONDIÇÃO PARA O NOVO NASCIMENTO.

Nicodemos não duvida da necessidade do novo nascimento, mas questiona sua possibilidade.

Ele não compreende como alguém pode ser totalmente transformado, a ponto de ter um novo coração.

E imaginou que teria de nascer novamente do ventre de sua mãe. Jesus corrige sua confusão, explicando que aquele que é nascido da carne é carne.

O novo nascimento não é obra humana, mas divina, não é obra terrena, mas celestial.

Jesus, então, usa a comparação do vento para evidenciar o aspecto misterioso do novo nascimento.

Nicodemos, porém, continuou não entendendo. Jesus passou a explica-lo da condição para alguém nascer de novo.

  1. Olhar para a cruz (v.14).

Jesus deixa de falar da natureza do novo nascimento como nascer da “água” e “Espirito”. E Passa a falar da passagem do relato da serpente de bronze no deserto (Nm 21.4-9).

Assim o mestre traz à memória de Nicodemos a história de Israel no deserto. A Bíblia diz que o povo de Israel se insurgiu contra Deus e o provocou à ira, desprezando o maná como se fosse um pão vil.

Então, Deus castigou o povo com serpentes abrasadoras e venenosas que o mordiam. Desesperado, o povo rogou a Moisés, que intercedeu por ele.

Deus deu uma ordem a Moisés para fazer uma serpente de bronze; todo aquele que fosse picado pela serpente abrasadora e olhasse para a serpente de bronze pendurada “na haste” seria curado imediatamente.

A narrativa de Números 21 é um tipo profético da futura crucificação do Filho do homem.

No caso da serpente de bronze, a libertação da morte física; mas, no caso da cruz de Cristo, a libertação é da morte eterna.

Jesus, então, diz: Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, também é necessário que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna (3.14,15).

O ponto de conexão mais profundo entre a serpente de bronze e Jesus estava no ato de ser “levantado”.

Warren Wiersbe acrescenta que o verbo “levantar” possui duplo sentido: ser crucificado (8.28; 12.32-34) e ser glorificado e exaltado.

Quando Nicodemos pergunta como uma pessoa pode alcançar o novo nascimento, a nova vida, aqui é citado o passo decisivo: olhar para o carregador de pecados levantado na cruz que traz a vida.

Assim como os israelitas foram salvos da praga das serpentes quando contemplaram a serpente de bronze levantada por Moisés (Nm 21.6-9).

Assim todas as pessoas são salvas da morte, da separação de Deus e do tormento eterno ao contemplar com seus olhos espirituais a pessoa, Jesus Cristo, levantada na cruz.

A humanidade, como aqueles israelitas do passado, foi mordida por uma serpente, mas o veneno mortal que ela lhe instilou nas veias é o ferrão do pecado.

Deus providenciou um remédio na pessoa de seu Filho; na crucificação deste, vemos o aniquilamento do pecado, pois a serpente levantada na haste figurava a morte do destruidor.

Mas, como a serpente levantada não era cobra de verdade, e sim de metal, assim Cristo não era de fato pecador, senão somente feito “em semelhança de carne pecaminosa.

Como foi necessário que os israelitas moribundos aceitassem a provisão de Deus e, com submissão e fé, olhassem para a serpente de cobre.

Também é necessário que atentemos, arrependidos e cheios de fé, para o Salvador crucificado.

E nos entreguemos a Deus como se revela graciosamente em Jesus Cristo. Se recusarmos aceitar a Cristo, pereceremos; mas a fé nele resulta em vida eterna.

Tal provisão é feita por Deus em seu amor, e é oferecida livremente a todo aquele que crer.

  1. É preciso reconhecer seus pecados. Somente aqueles que reconhecem a malignidade do veneno da antiga serpente.

Somente aqueles que sabem que foram infectados por um veneno mortal, chamado pecado, é que correm desesperadamente para Deus clamando por misericórdia.

O pecado é maligníssimo. O pecado adoece, escraviza e mata. O salário do pecado é a morte.

Primeiro você reconhece que é pecador, depois você olha para Jesus. Antes da fé, vem o arrependimento.

Antes do arrependimento, vem a convicção de pecado. Antes da convicção de pecado, vem a consciência de que o pecado é maligníssimo.

O pecado é pior que a pobreza, que a doença, que a morte. Pois o pecado nos afasta de Deus agora e eternamente.

Somente os que se reconhecem pecadores olharão para Jesus como Salvador.

Voltando a atenção para Nicodemos, a sua descrença tinha dois lados.

INTELECTUALMENTE, enquanto confessa que Jesus era um mestre vindo da parte de Deus, Nicodemos não estava pronto a aceitá-lo como Deus.

ESPIRITUALMENTE, o homem relutava em admitir-se como pecador, uma vez que era quase impensável que um orgulhoso fariseu, cheio de justiça própria, admitisse tal realidade.

Assim também, muitos ainda hoje, mesmo impressionados com os milagres de Jesus, se recusam a confiar nele como seu Senhor e Salvador.

  1. É preciso crer que Jesus levou sobre si os seus pecados na cruz. O propósito de Jesus ser levantado fica agora mais explícito: para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna (3.15).

Cristo precisou ser levantado na cruz para ser o nosso redentor. Ele assumiu o nosso lugar, como nosso representante, fiador e substituto. Quando Jesus estava na cruz, Deus lançou sobre ele todos os nossos pecados.

Ele foi ferido e traspassado pelas nossas transgressões. Cristo se fez maldição por nós. Ele se fez pecado por nós.

Ele foi cuspido pelo Sinédrio. Foi escarnecido pela multidão e açoitado pelos soldados.

Cruelmente, os soldados arrancaram sua barba e esbordoaram sua cabeça. Naquele momento, não havia beleza em Jesus. Todo o veneno que nos matava foi lançado sobre ele.

O sol escondeu seu rosto. O Pai não pôde ampará-lo. Ele morreu em nosso lugar. Mas, antes de morrer, deu um brado de vitória.

Rasgou o escrito de dívida que era contra nós, esmagou a cabeça da serpente e, com seu sangue, nos remiu para Deus.

Quando olhamos para Cristo, quando cremos nele e confiamos no que ele fez por nós, então somos salvos e recebemos a vida eterna. Aí acontece o novo nascimento.

Aqui está a resposta mais franca à pergunta de Nicodemos: COMO PODE SER ISSO? (3.9).

O reino de Deus pode ser visto ou adentrado por intermédio da obra salvadora de Cristo na cruz, recebida pela fé; assim, experimenta-se o novo nascimento, e a vida se inicia.

Essa é a primeira ocasião nesse evangelho em que ocorre a expressão frequente, zoe aionios, “vida eterna”.

Significa vida da era vindoura, vida da ressurreição, que os crentes em Cristo desfrutam em antecipação por causa de sua união com alguém que já ressuscitou.

A vida eterna aqui é a própria vida de Deus que está no Verbo eterno (A vida estava nele) e por ele é transmitida a todos os crentes.

A vida eterna é a vida da era vindoura que é recebida pela fé e que não pode ser destruída; é uma possessão presente daquele que crê.”

III. OS RESULTADOS DO NOVO NASCIMENTO

Três resultados são destacados por Jesus no texto em tela.

  1. O livramento da condenação (3.16). Há uma condenação inexorável para todos aqueles que permanecem em seus pecados. O salário do pecado é a morte. A alma que pecar, essa morrerá.

Contudo, quando você olha para Jesus e o recebe como seu Salvador, essa condenação é cancelada, porque o Justo morreu pelo injusto.

Como seu substituto, ele sofreu a penalidade que você deveria sofrer. Ele morreu em seu lugar, e agora você está livre de condenação.

  1. C. Ryle diz que Deus amou o mundo não para que toda a humanidade fosse finalmente salva; ele amou o mundo e deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.

Seu amor é oferecido a todas as pessoas livremente, plenamente, honestamente, sem reservas, mas unicamente através da redenção que há em Cristo.

O mesmo autor afirma que a morte de Cristo é a nossa vida e a fé em Cristo é o nosso único passaporte para o céu.

Portanto, se a oferta da salvação é a maior das misericórdias, a rejeição da salvação é a maior das culpas!

  1. A garantia da vida eterna (3.16-18). Crer no Filho de Deus é semelhante a olhar para a serpente de bronze.

Aqueles que foram amados por Deus e creem no seu Filho, em vez de condenação, recebem vida eterna.

  1. C. Ryle diz que sem fé não há salvação, mas pela fé em Cristo o mais vil pecador pode ser salvo. Este jamais perecerá eternamente.

Assim como a morte era afastada daqueles que olhavam para a serpente de bronze, os pecados são perdoados daqueles que creem no Filho de Deus.

Quem não quer aceitar o ato redentor de Deus na entrega do Filho está Forçosamente sujeito ao juízo e, consequentemente, já está julgado.

A expressão “já está condenado” indica que a pessoa entrou num estado continuo de condenação porque se recusou a entrar num estado continuo de fé.

Quando Jesus diz que “já está condenado”, está ressaltando que ninguém precisa aguardar o dia da grande consumação para receber sua sentença.

Certamente, naquele grande dia, algo muito importante acontecerá: o veredito será publicamente proclamado (5.25-29).

Mas a decisão em si, que é básica para essa proclamação pública, já foi tomada há muito tempo quando a pregação do evangelho foi rejeitada.

  1. Uma vida de santidade (3.18-21). Essa é a única evidencia visível do verdadeiro nascimento. Essa é “condição sine quanon”, sem a qual não existe o novo nascimento.

Aqueles que nascem de novo e creem no Filho de Deus têm mudado não apenas seu destino, mas também seu estilo de vida.

A prova final de que o destino eterno foi mudado é a mudança no estilo de vida.

Agora eles não amam mais as trevas. Seu prazer está em Deus. Seu deleite está em fazer a vontade Deus.

Eles agora têm uma nova mente, um novo coração, uma nova vida, novos gostos, novas preferências, novos desejos.

Passaram das trevas para a luz. Elas não amam o pecado, elas odeiam o pecado. Deus é santo, e tudo que pertence a Deus é santo. Sem a santidade ninguém verá a Deus.

A primeira obra do Espirito Santo, no coração do homem é convence-lo do pecado.

O pecado consiste em dizer, pensar, fazer, ou deixar de fazer qualquer coisa que não esteja em perfeita conformidade com a lei de Deus. (1joao3.4)

A santidade consiste em dizer, pensar, fazer, ou deixar de fazer qualquer coisa que esteja em perfeita conformidade com a lei de DEUS.

CONCLUSÃO: Exorto a você, em nome dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos, dos mártires, clama à sua alma em nome do Deus vivo, em nome da igreja, que você nasça de novo.

Nada é mais urgente do que sua salvação. Não basta que seus pais sejam crentes. Não basta que seu nome esteja no rol de membros da igreja.

Você precisa nascer de novo. Não desista até ter a certeza de que você nasceu verdadeiramente de novo.

Deus é a favor da sua salvação. Cada batida do seu coração significa Deus lhe dando mais uma oportunidade de voltar-se para ele. Hoje é o dia. Agora é o tempo!